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As noções de comunicação pública, espaço público e opinião pública são noções basilares características
das sociedades modernas onde nos planos da vida política, cultural e social faz-se referência a um espaço
público de ordenamento da vida colectiva e da evocação de uma opinião pública representativa traduzida
numa comunicação pública, constituindo-se como problemáticas relevantes para o estudo da Sociologia.
A comunicação pública é a comunicação constituída a nível do espaço público e veiculada pela opinião
pública, exercendo um efeito estruturante sobre a generalidade das práticas comunicacionais e simbólicas.
O fenómeno da comunicação em termos sociológicos e a nível do espaço público e opinião pública tem em
vista o cumprimento de dois objectivos principais que são o contributo para o conhecimento mais
sistemático destas instâncias do público nas suas diferentes dimensões e a compreensão do seu papel na
constituição da modernidade bem como a abordagem do fenómeno da comunicação a partir da sua
dimensão pública, ou seja, é a comunicação pública numa perspectiva abrangente que procura dar conta
da enorme variedade de recursos e práticas comunicacionais que se apresentam no quotidiano, não
esquecendo o seu papel na formação das nossas sociedades e na estruturação da vida social.
Desta forma, importa estudar a comunicação que é feita no quotidiano, nomeadamente relativa aos
modernos processos de mediação simbólica, as suas repercussões na emergência e desenvolvimento das
sociedades modernas, as principais conexões com a dinâmica e os processos fundamentais das sociedades
tais como o capitalismo, a democracia e a cultura de massa.
O espaço público e a opinião pública enquanto temas de estudo centrais vão ser abordados dentro de uma
perspectiva integrada que permite observar as suas diferentes dimensões tais como a publicidade, a crítica
e o debate, servindo este percurso para a explicação da emergência de uma nova forma de sociabilidade,
os públicos, bem como a consagração do espaço público e da opinião pública em termos institucionais.
Público vs. Multidão – características, evoluções e divergências; Públicos e Modernidade
A multidão enquanto grupo colectivo e atraente dos seus espectadores exerce uma ligação
prestigiada sobre o leitor contemporâneo, sabendo que alguns autores são levados a designar por
este termo ambíguo todas as espécies de agrupamentos humanos.
Apesar de poder suscitar confusão, a verdade é que não podemos confundir multidão com público
visto que são vocábulos susceptíveis de diversas acepções.
A própria Idade Moderna marca a invenção da imprensa e motiva o aparecimento de um público
totalmente diferente que não cessa de aumentar e cuja indefinida extensão acaba por caracterizar
a dada época. Pretendemos saber a origem do público: como nasce e se desenvolve bem como as
suas variedades, não esquecendo as relações com os seus líderes e com a multidão, corporações,
estados e ainda o seu poder para o bem e para o mal aliado às suas maneiras de agir.
A multidão apresenta algo de animal na sua consistência dado que nas sociedades animais
inferiores, a associação consiste sobretudo num agregado material, sabendo que à medida que
subimos na árvore da vida, a relação social torna-se mais espiritual, o que não acontece se os
indivíduos se afastarem, deixando de se encontrar associados.
Mas nem todas as comunicações espírito a espírito exigem necessariamente uma proximidade
física que acaba por ser uma condição cada vez menos preenchida quando nas nossas sociedades
civilizadas desenham-se correntes de opinião edificadas sobre rios sociais.
Enquanto indivíduos sofremos inconscientemente um contágio invisível do público que fazemos
parte devido à actualidade e à nossa capacidade de identificação devido à proximidade desses
factos, progredindo a actualidade com a sociabilidade.
Esta impressão na proximidade é um factor facilitador da impressão à distância bem como os
hábitos de vida social, uma vez que ainda mesmo em criança começamos por nos aperceber do
olhar dos outros (e do público), exprimindo-se nas nossas ideias, atitudes, juízos e acções.
A adesão de um grande número de pessoas aos nossos juízos pressupõe que o julguemos no
mesmo sentido, pelo que a formação de um público supõe uma evolução mental e social muito
mais elaborada do que a formação de uma multidão.
A questionabilidade ideal desta multidão espiritualizada e o contágio sem contágio supostos por
este ajustamento abstracto e no entanto real enformou-se através de muitos séculos de vida social
mais artesanal e rudimentar.
Enquanto na Idade Média não existia um público propriamente dito, a invenção da imprensa no
século XVI contribuiu para a implantação do público, onde a própria leitura da Bíblia assumiu
grandes repercussões sociais no quotidiano, traduzidas numa sensação de formação de um novo
corpo social separado da igreja.
O público no reinado de Luís XIV era composto por uma elite esclarecida e restrita que lia
sobretudo um conjunto restrito de livros escritos para um pequeno número de leitores
concentrados maioritariamente na corte em Paris.
Já no século XVIII assiste-se a um crescimento e fragmentação desse público enquanto na 2ª
metade deste século dá-se o nascimento do público político que absorve o público literário,
filosófico e científico, adquirindo o público uma importância pela vida da multidão e pela animação
extrema dos salões e cafés que estimulavam o convívio social.
A Revolução Francesa em 1789 é aquela que marca o nascimento do jornalismo (e a consecutiva
proliferação e difusão dos jornais) e principalmente do público que a tornou célebre pela
capacidade efusiva, imbatível e atormentadora que possuía.
A própria vida nos clubes e cafés desempenhava um importante papel durante o período
revolucionário.
Nesta altura, a inexistência de comunicações rápidas constituía um obstáculo inseparável à
intensidade e à larga propagação da vida do público afectando a sensação de actualidade e a
consciência de uma unanimidade simultânea visto que o público não se encontrava uniformemente
actualizado e esclarecido relativamente aos temas da vida social.
Apesar de podermos pertencer a vários públicos simultaneamente, podemos pertencer apenas a
uma multidão. A multidão era entendida como o mais antigo dos grupos sociais assente na
intolerância, cepticismo, e no facto de estar mais sujeita às forças da natureza e propensa a
similitudes étnicas bem como no esbatimento dos ângulos de individualidade e no facto do
indivíduo ser tomado na sua totalidade, não esquecendo o dado de ser menos homogénea e por
isso, expandir-se continuamente.
O público é o grupo social do futuro e indefinidamente extensível pressupondo não só uma vida
social cada vez mais intensa devido a três grandes invenções (que são a imprensa, os caminhos-de-
ferro e o telégrafo) como também confundindo aquilo a que chamamos mundo com o mundo das
letras e o mundo político onde os indivíduos trocam ideias e pontos de vista. É também objecto de
uma homogeneização dos gostos e costumes reflectidos relativos à compra dos mesmos jornais e
produtos, estabelecendo entre os indivíduos uma relação social que supõe certas afinidades.
Existem dois tipos de públicos: o público estável e consolidado e o público flutuante e instável.
Falamos no agrupamento social em públicos quando oferece aos indivíduos as maiores facilidades
de se imporem e às opiniões individuais as maiores felicidades de se expandirem, dado que a
divisão de uma sociedade em públicos corresponde a diversos estados de espírito, exprimindo-se
por um desejo crescente de sociabilidade que torna necessária a comunicação regular entre os
associados através de informações e incitamentos comuns.
Apesar das divergências e multiplicidade dos públicos, eles parecem formar conjuntamente um só
público que pelo seu acordo parcial em alguns aspectos, conduz-se àquilo que chamamos de
"opinião".
Se por um lado observamos a diminuição das multidões, por outro assistimos ao crescimento dos
públicos. Apesar das suas diferenças, têm em comum que a relação estabelecida entre os
indivíduos consiste na reflexão recíproca, na co-fusão das suas similitudes inatas ou adquiridas,
resultando um potente uníssono e detentor de uma força extraordinariamente maior no público
que na multidão, dado que se organizam uma comunhão de ideias e de paixões que abre um
caminho para as diferenças individuais de cada um.
Considerando o factor sexual, podemos classificar os públicos tal como as multidões sob pontos de
vista diversos sendo que temos os públicos masculinos e femininos assim como multidões
femininas e masculinas.
Os públicos femininos são compostos por leitoras de romances ou temas de mosa, tendo uma
importância numérica diferente e uma natureza mais inofensiva, apesar de na história enquanto
grupo terem apresentado também uma natureza mais revolucionária e protestante.
As multidões mais jovens têm mais importância que os públicos mais jovens enquanto os públicos
mais idosos reagem ao mundo dos negócios onde as multidões idosas não têm lugar, visto que são
extremamente raras. A tendência para nos agruparmos cresce da infância até à plena juventude,
decrescendo depois dessa idade até à velhice.
A própria acção dos agentes físicos sobre a formação e o desenvolvimento de um público é quase
nula enquanto é soberana sobre o nascimento e progresso das multidões, não excluindo a
influência da raça na formação destes grupos.
Contudo, a diferença mais importante entre os vários públicos e multidões resume-se na natureza
do seu fim e da sua fé. Por exemplo, as pessoas que passam numa rua tratando cada uma dos seus
assuntos podem formar uma massa completa mas não passam de uma turba confusa até ao
momento em que uma fé os revolte ou os solidarize, ou seja, limitam-se a agrupar pacificamente
como uma multidão. Do mesmo modo, quando os leitores habituais de um jornal cingem-se apenas
aos anúncios e às informações práticas que dizem respeito aos seus assuntos particulares não
formam público. É a partir do momento em que os leitores de uma mesma publicação convencem-
se pela ideia ou paixão que a motivou que passam efectivamente a fazer parte de um público.
Assim, podemos definir as multidões crentes e desejosas que diferem pela natureza da corporação
a que estão ligadas enquanto os públicos crentes e desejosos são agudos, déspotas, dogmáticos,
agudos, menos excedidos, procedendo inclusive de grupos sociais organizados (transformação
inorgânica).
Podemos elucidar um conjunto de características sobre as multidões tais como o facto de ser
amotinada num seio de um grupo social mais vasto de onde sai um membro que faz mover essa
mesma multidão; têm uma prodigiosa intolerância e orgulho grotesco bem como uma
susceptibilidade nascida da ilusão da omnipotência aliado a uma perda total de sentimento
mutualmente exaltado e um desejo de imortalidade divina alicerçado numa comunhão de crenças e
vontade.
Existem 4 maneiras de ser das multidões: expectantes, abertas, manifestantes e actuantes.
Enquanto as multidões expectantes partilham uma curiosidade colectiva e são mais pacientes
devido ao contágio mútuo de sentimentos, os públicos expectantes dependem mais do veredicto e
do decreto, sendo menos pacientes.
As multidões atentas comprimem-se à volta da cátedra de um pregador ou professor, sabendo que
a atenção é mais forte e perseverante do que seria se cada um dos indivíduos que as compõem
estivesse só, confirmando-se este poder de atracção da multidão traduzido num simbolismo
expressivo.
Os públicos tornam-se manifestantes pela influência absorvente que exercem sobre os que os
puseram em movimento e que já não conseguem reter.
Os públicos actuantes representam a opinião dos seus condutores que preservam essa opinião em
movimento, mas uma vez revolto esse poder, são os condutores que por ele são conduzidos por
caminhos imprevistos.
Assim, a acção dos públicos é uma acção completamente espiritual que, quando inspirado no amor
tem uma eficácia produtiva directa porque é mais ponderada e calculada. O próprio bem que ela
opera suscitou algumas boas leis de assistência mútua e piedade (ao contrário das multidões),
traduzindo-se num apaziguamento das lutas e numa construção social mais pacífica e tolerante.
3ª LIÇÃO – O Carácter Simbólico dos Públicos
6ª LIÇÃO - Função Política e Dimensão Ética e Moral do Espaço Público e Opinião Pública
Habermas em a Transformação da Esfera Pública dedica uma especial atenção ao facto do espaço
público ter decorrido de múltiplas transformações, nomeadamente pela sua transformação nas
sociedades modernas, sabendo que a sociedade de massas vai servir para pensar essa mudança
estrutural.
Transformação estrutural do Espaço Público moderno – o quadro socio-político
desta alteração (capitalismo, democracia de massa e reticulação social)
Podemos falar de duas mudanças sociais principais com maior incidência no espaço público:
Mudanças políticas: consolidação de um modelo democrático das sociedades modernas sob o
termo "democracia de massas" que permitiu não só o sufrágio universal bem como o grande
alargamento da base eleitoral como também o direito de participação política aos indivíduos.
Mudanças económicas: economia capitalista que se fez numa transição física (sociedades
ocidentais do século XX são diferentes das do século XVIII) alicerçada na importância da lógica das
redes na forma como organiza o social e o público, estimulando a circulação de produtos, pessoas e
redes de comunicação como também gestão dos interesses que foi um movimento tendente à
reticulação da sociedade, devido ao crescimento da rede e da vida social.
Com o desenvolvimento de uma comunicação cada vez mais dependente destas redes de
reticulação, falamos também de um desenvolvimento de dispositivos tecnológicos de mediação
simbólica que transcrevem uma lógica dos media e de um estímulo à globalização tendo tudo isto
contribuído para uma estreita ligação com a mudança da estrutura do espaço público.
Dois vectores de mudança: a expansão do Espaço Público e o seu enfraquecimento
(enquanto força política autónoma)
Como é que estas mudanças repercutem a nível do espaço público?
1) Extraordinária agudização dos conflitos sociais onde o espaço público deixa de ser homogéneo.
2) Pulverização do espaço público (espaço público burguês vs. espaço público plebeu).
3) Expansão do espaço público com grupos sociais (cada vez maiores) implicados na vida do público.
4) Perca de força no sentido do espaço público edificado numa tendência contraditória, uma vez
que já não existe sob a mesma égide do esclarecimento e da verdade, encontrando-se
desarticulado e instrumentalizado.
5) Opinião pública instrumentalizada e o seu consecutivo enfraquecimento.
As sociedades mudaram no que toca à construção de um espaço público tendo por base uma
disparidade de organizarem as suas funções básicas de uma maneira diferente, pelo que os
públicos surgem como uma condição de existência para a formação dos espaços públicos.
A Massa como uma forma de sociabilidade emergente – dimensão física
(morfologia) e dimensão simbólica (socio-psicológica)
Neste contexto e perante o desenvolvimento de uma nova forma de sociabilidade contígua e
confundível com os públicos origina-se não uma sociabilidade de públicos mas sim, uma
originalidade de massas que confirmou a atrapalhação na explicação de Gabriel Tarde, se bem que
ao contrário deste, Mills já apresenta o conceito como fundador na sociedade de massas.
O conceito de massa surge para nos ajudar a perceber como é que as sociedades ocidentais criaram
condições básicas de vida para a mudança estrutural do espaço público, sabendo que sem uma
sociabilização de massa não conseguiríamos pensar uma forma de sociabilidade moderna.
A base de sustentação do espaço público alterou-se para a sociedade de massas através de
alterações morfológicas nas sociedades modernas (industrialização, crescimento e concentração
populacional, fenómenos migratórios, constituição de grandes urbes) que promovem uma
concentração de grandes massas de indivíduos circundantes nas cidades, mas bastante
desenraizados física e culturalmente.
Existe também uma dimensão simbólica na medida que os grandes aglomerados populacionais são
constituídos através de estados físicos, psíquicos e fragilidade, de modo que “a massa é como que o
resultado de uma certa desfiguração do público” que deixou de garantir os seus critérios de
funcionamento, constituindo-se assim uma massa de sujeitos isolados, sem ligações sociais e uma
afinidade simbólica bem como sem uma mediação da comunicação entre si, contrastando com os
públicos onde existia uma motivação individual essencial para a formação dos públicos enquanto
indivíduos dotados por uma singularidade autónoma (públicos vs. massas).
Os processos dos Públicos e da Massa: critérios de diferenciação e antagonismos
O comportamento do indivíduo é instintivo coexistindo com um consumo controlado que nos torna
como objectos, uma opacificação das normas que regem as relações sociais ao contrário da decisão
consciente dos públicos, sabendo que a maior parte das pessoas não as compreende e tem
interpretações fantasiosas como também é uma forma de sociabilidade exigente no que toca às
necessidades adaptativas e de integração dos seus próprios números, pelo que o sujeito de massas
foi reprogramado no que toca à sua função social, não controlando as normas e regras, mas sim
sujeito a adaptar-se aos valores.
Gabriel Tarde tem uma dificuldade em explicar este novo fenómeno do ponto de vista da análise
social dado que ele é dotado de uma complexidade especial, ou seja, as massas constituíram-se
empiricamente a partir do interior dos públicos, concedendo-lhes uma escala e dimensão que os
tornou e transformou em massas.
A sobreposição entre massas e públicos tornou mais difícil o discernimento na constituição de uma
nova forma de sociabilidade, se bem que os públicos ainda não desapareceram, coexistindo.
Dinâmica de formação das massas (finais dos séculos XIX-XX): Esta dinâmica de formação está
profundamente entrelaçada com a dinâmica dos públicos, resultando esta confusão de uma
dinâmica de afirmação do número de públicos de tal modo que atingindo um certo nível, já não é
possível preservar a força dessa dinâmica.
Para Wright Mills em A Sociedade de Massa, nos públicos havia uma harmonia de interesses
enquanto nas massas os interesses são devotados a uma lógica de interesses.
Na sociedade dos públicos havia uma discussão racional entre os indivíduos, enquanto nas massas
era necessário um perito para validar as questões, a descoberta da racionalidade e da socialidade
condicionada.
Também na sociedade de massas, as decisões tomadas não passam essencialmente pelos públicos,
que se tomam conhecimento das mesmas quando estas já foram tomadas de modo que a
transformação do público na massa foi uma das tendências das sociedades modernas e uma das
causas do colapso do optimismo liberal (individualismo) substituído pelas formas colectivas da vida
económica e política.
No público, a mesma quantidade dá e recebe opiniões, sabendo que a comunicação pública é
organizada de modo que haja possibilidade imediata de responder à opinião do público,
encontrando-se uma forma de se manifestar na acção pública, como também as instituições não
penetram no público, que é autónomo.
Já na massa, o número de pessoas que expressam opiniões é menor, sabendo que o indivíduo tem
dificuldade em responder imediatamente às questões levantadas dado que a colocação da opinião
é organizada pelas autoridades, pelo que a massa não tem autonomia em relação às instituições.
Massa Vs. Público: as elites e a alteração dos laços sociais, a forma da acção e os
dispositivos de poder associados
No público as diferenças eram reconhecidas, mas existia um esforço para a superação das mesmas,
enquanto na massa as diferenças são iludidas, o que as perpetua e as torna processos de
massificação elitistas.
A base de funcionamento dos públicos é igualitária ao contrário da massa que funciona na base da
elitização, ou seja, a nível do consumo, que significa a existência de casos de massificação que
envolvem a participação de uma certa elite que comandava e orientava as massas num certo
sentido, ao contrário do que se sucedia com os públicos.
As massas têm decisões mais centralizadas ao contrário dos públicos onde ela é mais
descentralizada, relacionando-se com a própria fenomenologia dos públicos e com o grau de
consciência dos participantes.
O grau de consciência nas massas é bastante baixo, por vezes inexistente, o que divide ainda mais a
elite do resto dos indivíduos, sabendo que na massa não existe comunicação, mas sim processos de
informação, como que palavras-de-ordem, pois as práticas comunicacionais apenas são utilizadas
pela elite.
Surgiram dois planos da vida social, a massificação do consumo e a massificação de âmbito político,
de modo que o sucesso da massa é operado pela elite, que tem de planificar e agir, utilizar o seu
poder em função dos seus objectivos, e indexar os indivíduos que não passam de estatística.
A obliteração do indivíduo na Massa: mecanismos de anonimato e isolamento, fragilização dos
estados mentais, sentimentos de indiferença e apatia (atenção Vs. interesses)
As massas são geridas de um ponto de vista estratégico tendo em vista uma questão do poder,
onde o estatuto do indivíduo na massa e o contraste que esse público tem nas formas de
sociabilidade e na sua estrutura conduziram à refuncionalização do espaço público.
Enquanto no público a individualidade tinha valor, nas massas o indivíduo é obliterado,
predominando a apatia e a indiferença, estados que traduzem-se em posições reactivas e
meramente binárias (sim/não, favor/contra).
O indivíduo já não é sujeito de acção uma vez que a massa gera o anonimato e isolamento,
assumindo-se um carácter radical de igualitarização, “uma cabeça é uma cabeça, um braço é um
braço, as diferenças entre elas carecem de pouca importância” (Canetti) que pode ter efeitos
diferentes de sujeito para sujeito. Apesar de todos agirem da mesma forma, a massa pode conduzir
ao totalitarismo.
Para Mills A democracia de massas é a luta de grandes grupos de interesse e associações que se
colocam entre o Estado e a vontade do público. Por essas associações se encontrarem entre os dois
elementos têm grande importância para o indivíduo poder exercer o poder de que disponha.
O público é alvo de tentativas de controlo, orientação, manipulação e intimidação, pela sua
influência (pelo menos numérica) nas decisões democráticas, sendo uma forma de legitimar o
poder económico, militar e político onde o eleitorado minoritário (das classes informadas e
educadas) é substituído pelo sufrágio universal.
A elite que está no poder ou deseja estar possui assim instrumentos ímpares de controlo e
manipulação psíquicos como os meios de comunicação em massa e a educação universal
compulsória.
Wright Mills - Apagamento da individualidade - "Ao mesmo que as associações voluntárias se
criavam tornavam-se inacessíveis ao indivíduo. Há medida que novas pessoas são atraídas à nova
política, estas associações (...) tornavam-se menos acessíveis (...)"