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SOCIAIS
RESUMO
Esta proposta tem como objetivo central a realização de uma análise histórico-
comparativa entre a constituição das multidões e o seu desenvolvimento sob influência
dos meios de comunicação. O fenômeno de aumento do aglomerado de pessoas nos
centros urbanos ocorre no século XIX, simultâneo ao surgimento dos meios de
comunicação de massa. Ao longo do século XX o cinema desenvolve sua própria
linguagem e, muito além de entretenimento, nos permite compreender historicamente as
relações sociais. Devido às transformações da sociedade contemporânea, não é possível
compreendê-la sem levar em consideração a atuação midiática e o culto à imagem. Na
sociedade atual, sofremos um processo de inflação de imagem na qual ela está em foco,
em diversos níveis e em constante exposição. Desse modo, pretende-se analisar a
importância deste fenômeno no âmbito social, com ênfase na compreensão da
constituição da multidão atual em meio a popularidade da internet e das redes sociais.
É na alma das multidões que o destino das nações se preparam [...] pouco
aptas ao raciocínio, as multidões mostram-se, ao contrário, muito aptas a
ação. A atual organização torna a força delas imensa. Os dogmas que vemos
nascer rapidamente adquirirão o poder dos velhos dogmas. (LE BON, 2008,
p. 20, 21)
Logo, não são os fatos em si que afetam a imaginação popular, mas o modo
como se apresentam. [...] esses fatos devem produzir uma imagem impactante
que preencha e atormente o espírito. Conhecer a arte de impressionar a
imaginação das multidões é conhecer a arte de governa-las. (LE BON, 2008,
p.70)
Esse fenômeno deixa evidente que, ao passo que a consciência evolui, aqueles que
acessam a psicologia das multidões, tornam-se capazes de governá-las. Por isso, os
meios de comunicação tornaram-se necessários para a compreensão do sujeito atual, sua
percepção, em meio as inúmeras modificações sociais. Mas, é importante ressaltar que
essa compreensão não é determinante e rígida, o espectador não é totalmente alienado,
já que possui escolha e decide sobre ao que quer estar exposto ou não (MARTIN-
BARBERO, 2013).
Antônio Negri e Michael Hardt (2005) vão além das conclusões de Le Bon, pois,
ao longo do século XX, com o avanço da tecnologia, as multidões e os indivíduos que
as compõem vão adquirindo características mais complexas. Na modernidade, devido ao
discurso burguês, os indivíduos buscam discussões acerca da identidade. Além disso,
não só se colocam como sujeitos, tornando-se agentes transformadores da sociedade na
qual estão inseridos, como também afirmam suas singularidades. Vale destacar os
pontos de encontro entre os conceitos de povo e massa, já que ambos compreendem a
relação de poder na qual o subordinado não possui voz e se relacionam com a ideia de
passividade homogênea. No que diz respeito ao conceito de massa, Baudrillard defende
que só é possível compreendê-la inserida em uma sociedade informacional, sendo
assim, pode ser relacionada com a multidão que é própria de um contexto midiático.
Enquanto a massa é silenciosa e os meios de comunicação utiliza essa característica ao
seu favor, uma vez que se objetiva propagar ideias para essas maiorias silenciosas. De
acordo com os estudos de Negri, povo e massa se distinguem do conceito de multidão,
pois, ela tem potência de criação. O conceito de povo compreendida pela perspectiva do
romantismo sofre uma decomposição ao longo do século XIX (MARTIN-BARBERO,
2013). De modo que, a esquerda adota o uso do conceito de classe, por compreendê-lo
como sendo mais coerente, e em contrapartida, a orientação política de direita admite o
uso de classe.
Ao defender o cinema enquanto uma forma de reprodução técnica, Walter
Benjamin (2012) questiona as ressignificações que a arte sofreu após a influência da
constituição da sociedade de massa. Uma vez que o processo industrial influencia
também a produção artística, com o novo fenômeno da reprodutibilidade técnica, toda e
qualquer produção artística pode ser facilmente reproduzida. Sabe-se que a reprodução
manual já ocorria, mas ainda exigia conhecimento acerca da arte que buscava-se
reproduzir, além disso, era caracterizada como falsificação de algo, uma vez que se
valoriza a originalidade das obras. A reprodução técnica é a cópia fiel da obra,
captando-a plenamente, sem excluir os detalhes, não é considerada falsificação e o autor
da obra original deve ser nomeado. Além disso, permite que essas reproduções sejam
utilizadas de maneira que a original impossibilita. Apesar disso, Benjamin ainda
questiona a legitimidade dessa cópia realizada através da reprodução técnica, pois ele
acredita ter uma desvalorização do aqui-e-agora, tempo investido pelo artista, que ele
chama de aura da obra de arte.
De acordo com Ortega y Gasset, esse sujeito experimenta a existência com o foco
em meras experiências externas, sem explorar seu conhecimento crítico. Os indivíduos
na atualidade, apesar de compor as multidões, também são esvaziados de sua própria
história, com a consciência arrogante de que o mundo deva servi-los de alguma forma.
Foca-se em excesso nos direitos e negligencia-se os deveres, sem conseguir concluir
que uma sociedade baseada nessa fórmula está fadada ao fracasso. Ao passo que esses
indivíduos se tornam arrogantes e individualistas, resultam em vidas medíocres,
destituídas de sentido em um homem com a crença de que “viver é não ter limite algum;
é abandonar-se tranquilamente de si mesmo. Praticamente nada é impossível, nada é
perigoso” (ORTEGA Y GASSET, 2007, p. 94).
A constituição das multidões no contexto da democratização da internet e
popularização das redes sociais refletem a forma como as relações sociais são
estabelecidas na atualidade, agravada em um contexto mundial de pandemia de covid-
19, por exemplo. Momento em que há a destruição entre o espaço público e privado,
além da inexistência de um isolamento social, apesar do isolamento físico. Fenômeno
resultante da democratização da internet e das redes sociais, tais como Instagram,
Facebook, Twitter. O homem-massa é inerte, apesar de negar sua condição, mergulhado
em uma bolha de frustração devido à ausência de autoconhecimento, opta por se
insensibilizar com a satisfação imediata que o uso de internet e redes sociais pode
proporcionar. É um sujeito que se esconde atrás de imagens e ilusões a fim de
anestesiar-se, e fica submerso em uma vida que não vale a pena ser vivida. Deseja
conquistar segurança, mas ela é falsa, porque viver é perigoso, a morte pode estar lhe
esperando em qualquer lugar, ela é imprevisível.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS