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Imprensa e controle da opinião pública

(informação e representação popular no


mundo globalizado)

Roberto Amaral

Sumário
Introdução. 1. Opinião pública: do iluminis-
mo ao autoritarismo. 1.1. A morte da opinião
pública. 2. Nossa sociedade autoritária. 3. A des-
politização da pólis e a atrofia da ágora. 4. Tec-
nologia e exclusão. 5. Novas tecnologias comu-
nicativas, velhos modelos de dominação. 6. Al-
tos investimentos e grande concentração na te-
levisão das elites. 7. Internet: a comunidade tec-
nológica dos iniciados. 8. Globalização: a uni-
versalização da propriedade em cruz.

“(…) e, dopo, tutto sarà lo stesso mentre


tutto sarà cambiato.’”
Il gattopardo
Tomasi di Lampedusa

Introdução
O tema, analisado do ponto de vista da
representação popular, requer desdobra-
mento metodológico, a saber: opinião pú-
blica, meios de comunicação de massas e
sufrágio, donde eleger-se como questão cen-
tral a identificação dos condicionantes da
representação popular legítima. Tem-se,
consensualmente, como pré-requisito da
democracia representativa, a existência de
uma opinião pública autônoma servida por
meios de comunicação de massas antes de
tudo livres, isentos, ou plurideológicos ou
não-uniformes, ou não-unilaterais. Admite-
se, finalmente, como pressupostos indispen-
Roberto Amaral é Advogado, jornalista e sáveis, o exercício do direito à informação
escritor, ensaísta e ficcionista, Professor da PUC concomitantemente ao usufruto da informa-
– Rio. ção livre, isto é, não-contaminada. Outra
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questão – igualmente estratégica mas alheia modernidade sem, todavia, apartar-se de
às presentes considerações – é a possibili- seus valores; daí uma sociedade industrial
dade, de logo posta em dúvida, de uma in- avançada, tecnologicamente, mas atrasada
formação livre na sociedade de massas, do ponto-de-vista social; concentracionista,
mercê do papel inafastável de mediação mas eletrônica, informatizada, apetrechada
exercido pelos meios de comunicação. para criar a opinião pública como uma ma-
O simples enunciado desses pressupos- nufatura (um automóvel, um quilo de pão,
tos declara a tese: as noções correntes de um sabonete, um refrigerante), transforman-
opinião pública e representação são incom- do-a em produto pronto para o consumo,
patíveis (i) com a convergência de um siste- cuja demanda, por sua vez, estimula. A opi-
ma de comunicação de massas unilateral, nião pública é manipulada de acordo com a
sob o prisma ideológico, e monopolizado, demanda estimulada, e essa opinião públi-
seja como propriedade, seja como emissor ca construída, operada, cinzelada, é servi-
de conteúdos, seja pela audiência que atin- da à sociedade, às instituições, ao sabor dos
ge; e (ii) com uma sociedade concentracio- interesses dominantes, no Estado, e nos
nista, fundada, por conseqüência, na exclu- anéis burocráticos2 que cercam o Estado, na
são econômica, na exclusão política, social sua acepção mais ampla, rompendo as bar-
e cultural. Isto é, em sociedade na qual a reiras dos limites políticos stricto sensu, com-
cidadania é exercida segundo os padrões preendendo coerção (ou monopólio da vio-
econômicos: assimetricamente. Uma vez lência) e hegemonia (de um grupo social
mais a vida imaterial é a produção e repro- sobre a sociedade nacional)3. Assim, a opi-
dução da vida material, implicando a pro- nião pública não é, seja espontânea, seja
dução e reprodução das relações econômi- racional (postulados do liberalismo), para
cas e sociais globais. ser artificial e irracional. E, acima de tudo,
A própria essência do sufrágio popular, produzível e manipulada.
e, dele derivada, da representação, e, por- Se os meios de comunicação de massas
tanto, da democracia representativa, entra não têm o monopólio da formulação ideoló-
em crise quando a imprensa – cuja função gica, têm a hegemonia de sua difusão.
cívica é orientar a opinião do cidadão – A consciência de que a opinião pública é
transforma-se em objeto de monopólio e de um produto manufaturado deve ser assu-
mercantilização. mida em todas as conseqüências, pois im-
Essas as questões que estudaremos, como plica a afirmação de que sua matéria-pri-
se segue. ma, a informação, também é produto de con-
sumo. Ou seja, a informação, ademais de
1. Opinião pública: do iluminismo ao mediatizada, é consumida segundo os pa-
autoritarismo drões da sociedade de classes que professa
a concentração de renda, isto é, que distri-
O binômio concentração-exclusão é ca- bui a riqueza desigualmente. Daí constituir-
racterística do autoritarismo brasileiro, as- se hipótese de difícil demonstração a possi-
sim percorrendo, entranhadamente, toda a bilidade de opinião pública em país no qual
história nacional, donde o agrafismo, a de- 50% dos mais pobres consomem 11,6% da
sorganização social e a desinformação, atin- renda nacional e os 20% mais ricos conso-
gindo as grandes massas, subalternizadas, mem cerca de 63,3%4. País em que a renda
dominadas, mantidas fora da cidadania 1. dos 10% mais ricos da população é sete ve-
O Estado moderno consolida os padrões da zes maior do que a renda dos 40% mais po-
sociedade colonial. bres5.
A civilização autoritária logrou construir Esta a primeira tese: se a informação é
uma sociedade de massas e ingressar na um bem de consumo (e, antes, uma manufa-

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tura), é também um produto consumido de- opiniões que vêm a público, isto é, que
sigualmente, como o sabonete, o pão, a casa querem se fazer ouvir, através de car-
própria, o emprego, o salário. Como a saú- tas aos jornais, passeatas, abaixo-as-
de, a educação, a cultura, a política. sinados, greves, pressões sobre parla-
Em outras palavras, estamos afirmando mentares”7.
– é a segunda tese – constituir mera fantasia A grande vítima das ‘sondagens’, porém,
liberal a existência de opinião pública em é a vida política. Elaboradas antes de de-
sociedade ágrafa, manipulada por um sis- sencadeados os processos político-eleitorais,
tema de comunicação de massas que transi- as pesquisas condicionam a escolha dos
ta do oligopólio para o monopólio, fazendo candidatos pelos partidos e a aceitação dos
com que interesses particulares e comuns a candidatos pelo eleitorado, transformando
uma só classe se imponham como o interes- o processo eleitoral, de processo político, em
se geral da sociedade. Caso brasileiro. processo que mede a aceitação ou a rejeição,
Finalmente: se, na sociedade moderna, induzida, dos candidatos pelo eleitorado.
mediática, o contato do cidadão com a reali- Com isso, a imprensa, que promove essas
dade depende dos meios de comunicação sondagens – e ela mesma possui institutos
de massas, são eles que constroem seus va- de pesquisa ou a eles se associa –, no que
lores e constroem antes de tudo a política, e alimenta e divulga essas pesquisas, afasta
o discurso político, modificando a política. do processo político as discussões em torno
de programas, de plataformas, de partidos
1.1. A morte da opinião pública ou mesmo em torno dos candidatos, pois a
A opinião pública não existe mais e não cobertura da imprensa se reduz à cobertura
pode mais existir. Não existe mais reduzida pura e simples do resultado das sondagens.
que foi a um agregado estatístico de opini- As sondagens também condicionam a co-
ões individuais privadas, dissimulada pelo bertura pela imprensa dos candidatos, que
tratamento jornalístico que insinua distan- têm suas campanhas ‘cobertas’ (tempo e
ciamento. espaço) segundo a colocação nas pesquisas
As sondagens, com seu aparato científi- de intenção de voto. Em todas as hipóteses,
co, são instrumento de contrafação, pois, a imprensa manipula a vontade eleitoral,
mais do que revelar uma opinião, constro- exagerando a importância dessas sonda-
em a opinião; mais do que dar sustentação gens como previsão do comportamento elei-
ao noticiário, são o noticiário. Luis Felipe toral8.
Miguel – apoiando-se em Bourdier6 – desta- Escolhido o candidato, sua preocupação
ca a abordagem marcadamente mercadoló- deixa de ser defender uma plataforma polí-
gica das sondagens, para observar que as tica, um programa de governo, as propostas
pesquisas partidárias, mas tão-só conhecer o que as
“promovem a adulteração do sentido sondagens dizem que é a opinião do eleito-
de ‘opinião pública’, transformada no rado, para veiculá-la, para expressá-la, para
simples somatório das opiniões par- reproduzi-la (na pretensão de bem situar-se
ticulares. Os pressupostos, de caráter nas pesquisas) e assim simplesmente re-
plebiscitário, são de que as questões nuncia ao seu papel de liderança e de pio-
colocadas pelos entrevistadores inte- neirismo, de modificação e transformação,
ressam igualmente a todos, que todos e de fato, sem talvez ter consciência desse
têm iguais condições de responder e suicídio, renuncia à política, enquanto o
que todas as opiniões têm o mesmo debate público, suprimido, é substituído
peso social. Nada disso efetivamente pela pasmaceira, a gelatina de programas
acontece. Por isso, o sentido original repetidos da direita à esquerda, porque a
de ‘opinião pública’ é o conjunto das fonte comum não é a diversidade progra-

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mática, mas a interpretação comum da su- mônio público, ao cabo das quais seu insti-
posta opinião pública. O político deixa de tuto de pesquisa, o Data Folha, em campo,
ser líder e se auto-exila como prisioneiro sem indaga do cidadão se ele é favorável às in-
sursis da parcela mais instável da multidão vasões, para, com base em números e esta-
detectada pelas sondagens. Buscando agra- tísticas e gráficos e análises, concluir o ób-
dar à opinião pública das sondagens, as vio, agora apresentado com foros de revela-
campanhas renunciam às propostas ideo- ção: ‘a opinião pública paulistana é contra
lógicas, e, na ausência do debate ideológi- as invasões’. E, a seguir, uma outra série de
co, todos se confundem, direita, esquerda e matérias é publicada, já agora comentando
centro. A imprensa conclui a despolitização, a resposta dos cidadãos à pergunta do Data
porque não há mais cobertura das campa- Folha. A temática já não é o fato (as inva-
nhas políticas, mas tão-só do festival das sões), mas a resposta aferida pela pesquisa
sondagens, e cada órgão de imprensa, cada do jornal em seqüência à reação provocada
canal de tevê e cada jornal tem a sua sonda- pelo noticiário, ou seja, a matéria é a ‘pes-
gem e sobre sua sondagem particular sobre quisa’ inventada pelo jornal. Depois de ha-
a opinião pública cada jornal, cada tevê, ver feito o cidadão salivar como o cão pa-
cada rádio pauta a cobertura de uma cam- vloviano diante de um naco de carne, pede-
panha eleitoral que deixa de existir. se sua opinião, e sua opinião é festejada
As ‘sondagens’ e a pauta da imprensa, porque inevitavelmente vem confirmar a
em interação, disciplinam o que deve ser a tese do jornal. A grande maioria dos paulis-
campanha e o candidato que desejar benefi- tanos é contra a invasão de prédios públi-
ciar-se com um mínimo de espaço e tempo cos (e quem não o é?). E a partir dessa res-
terá de entregar-se a essa pauta, e assim fi- posta ‘surpreendente’, são desenvolvidas,
cam todos dizendo a mesma coisa, fazendo desdobramento do mesmo tema, outras ma-
programas similares, aparições similares, térias. Assim, é dada ao cidadão a ilusão
programas eleitorais similares no rádio e na democrática de que existe opinião pública e
televisão, pois todos perseguem o mesmo que sua opinião é levada em conta, porque
padrão estético e o mesmo padrão político. não há nada melhor para dominar a opi-
E todos, ao final da campanha, denunciam nião do que dominar o ‘real’ sobre o qual se
a despolitização do eleitorado, ou desco- faz com que ela reaja10.
brem que o eleitorado não persegue mais Essa metodologia da manipulação, que
partidos ou ideologias, sem compreenderem induz o leitor a formular como sua a opi-
que as diferenças político-ideológicas tor- nião do veículo (e ainda sugere a sensação
naram-se irrelevantes para o eleitorado por- de que está ‘opinando’, de que está influen-
que antes essas diferenças haviam sucum- ciando o curso dos acontecimentos – afinal,
bido à vitória da dupla sondagens de opi- para quê se apura a ‘opinião pública’ ?), é
nião/marketing eleitoral. levada aos extremos no jornal, nas emisso-
Examinemos um modelo de manipula- ras de rádio e na televisão. O mais famoso
ção. Freqüentemente, o meio levanta uma canal de televisão do Brasil, ao final de seu
tese e discorre seguidamente sobre ela, para, programa-revista da noite de domingo11
após essa reiteração, promover uma ‘pes- (campeão de audiência), convida seus teles-
quisa de opinião’. Assim, por exemplo, no pectadores a escolher o tema da reportagem
início do ano de 2000, após um ciclo de da próxima semana, elegendo, por telefone,
manifestações do MST, aFolha de São Paulo9 uma de três alternativas que oferece. Ocorre
estampou uma série de reportagens sobre que um dos temas propostos é a temática da
as invasões de prédios públicos pelos mili- reportagem sensacionalista daquela noite,
tantes da reforma agrária, arguindo irregu- enquanto os dois outros são temas neutros
laridades, ilegalidades e prejuízos ao patri- e frios, ali incluídos para compor a tríade e

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induzir a escolha. O telespectador escolhe o sencial do meio já não é mais transmitir in-
tema inevitável (ou pré-escolhido pela pro- formação, é formar opinião, não só opinião
dução) e o programa termina dizendo que pública mas opinião comercial: no altar do
ele (o público) escolheu a reportagem da meio de comunicação reina a Deusa audi-
próxima semana: “Você escolheu”. Essa ência-circulação, a que tudo o mais está sub-
mesma ‘interação’ é posta em prática para a metido. Carmen Gómez Mont, alimentando-
eleição dos filmes a serem exibidos no cor- se em Régis Debray14, assinala:
rer da semana. “El motor de la obediência parte
A questão, porém, se coloca para além de la opinión; el estatuto del indiví-
da manipulação, porque opinião apurada duo se torna un consumidor a sedu-
não significa, necessariamente, mesmo cir; el mito de la identificación parte
quando apurada corretamente, opinião pú- de la creación de estrellas; el dictado
blica. Lendo Bourdier, o professor Lima, da de autoridade de la televisión; el régi-
UnB, observa que men de autoridade simbólica no es
“(…) a opinião pública, ao contrário sino lo visible, es decir, el acontecimi-
de sua origem histórica, pode hoje re- ento o lo creíble, y la unidad de direc-
ferir-se a resposta dada a uma ques- ción social está constituída por lo uno
tão proposta ao público pelo pesqui- aritmético, es decir, el líder de todo este
sador mas que, de fato, não se refira a cuadro es el princípio estadístico, el
uma questão de interesse do público, sondeo y la audiencia. Es así como
mas apenas ao interesse do pesquisa- también se forman las nuevas corri-
dor. Na sua concepção inicial, a opi- entes de opinión, tendencias que a fi-
nião pública referia-se a questões do nal de cuentas llegan a influir en la
público, no público e a questões for- toma de decisiones”15.
muladas pelo próprio público, em si- Não mais existe opinião pública por to-
tuações também públicas”12. dos os motivos expostos por Bourdier e por
Isso não ocorre mais porque, como assi- todas as razões por ele não nomeadas, a
nala o pesquisador da École des Hautes Étu- saber, o caráter das sociedades de massas, o
des en Sciences Sociales, “o que existe é a esti- caráter e o papel desempenhado pelos mei-
mulação de respostas a perguntas que, não os de comunicação de massas que se trans-
necessariamente, brotaram do público, mas formam em agentes, atores, construtores e
foram formuladas por aqueles que estão in- manipuladores da realidade, cada vez mais
teressados em conhecer, para seus próprios ideológica.
fins, a resposta do público sobre determina- E real não é o que ocorre: é o que é narra-
do assunto”13. No fundamental, a opinião do pelos meios de comunicação de massa, e
pública apurada é um reforço, pois simples- como é narrado16. A revelação é que torna o
mente apura a eficiência da manipulação fato real.
pelos meios de comunicação de massa. Não Desde o iluminismo, a opinião pública
há alternativa: opinião pública, na socieda- vinha ou vem sendo pensada como a “orga-
de moderna, é a opinião publicada, uma vez nização do público sobre algo ou sobre ques-
que a pesquisa tem por finalidade sancio- tões que são públicas”, ou seja, uma opi-
nar, com ritual científico, a opinião que o nião pública que é também uma opinião
meio vem veiculando, fazendo-a, assim, de política, ou uma opinião pública que trans-
tão reiterada, pública. cendeu ao privado, sem ser o somatório de
O círculo vicioso pesquisa-opinião é o cada uma e de todas, resultado do intercâm-
centro da política, que, ao tempo em que bio, do conflito, do diálogo, entre opiniões
persegue a ‘opinião pública’, forma a opi- diferentes. O que, para ser correto, requere-
nião e por ela é conduzida. Mas o objeto es- ria cidadania, ou seja, cidadãos aptos a ter

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opinião. Cidadãos aptos a ter opinião são Não se diz que falta liberdade (em face
aqueles que, tendo acesso à mercadoria cha- do Estado) à imprensa; afirma-se que lhe
mada informação, estão habilitados a pro- falta o desejo de possuí-la, de exercê-la, pois
cessar essa informação, ou seja, a proceder não lhe interessa o dissídio ideológico.
a um juízo de valor. Opinião pública exige um mínimo de
Mas o que é opinião pública hoje senão autonomia, portanto, um mínimo de infor-
um agregado estatístico de opiniões indivi- mação, ou seja, o acesso à informação lim-
duais privadas? Que está nas mãos dos pa, o que requer a existência de veículos in-
meios de comunicação de massas senão o dependentes e isentos, de juízo crítico, e de
monopólio da difusão do conhecimento? uma classe média educada, autônoma e,
Opinião pública é o que o meio nos diz portanto, exercendo a cidadania, ao invés
que é, ao mesmo tempo em que usa a pes- de sociedade de classes. Ao invés de prole-
quisa de opinião para legitimar sua pauta, tários com possibilidade de acesso à pro-
para legitimar suas afirmações. Ademais, é priedade, temos a divisão da sociedade en-
muito difícil considerar a possibilidade de tre possuidores e excluídos. Firma-se nes-
difusão de informações se a mediação é le- sas relações de poder, a começar pela disjun-
vada a cabo por uma imprensa que recusa o tiva proprietários versus assalariados. Pro-
contraditório e professa a unilateralidade prietários da informação (porque proprie-
ideológica. Imprensa que, historicamente, tários de outros bens econômicos) e assala-
enfrentou e contestou o poder político, mais riados (ou seja, não-proprietários). Faltam
e mais se identifica com ele, e essa identifi- ao cidadão comum os pressupostos sociais
cação é tanto mais perfeita quanto se desen- para a igualdade de oportunidades, para
volve o capitalismo, e nele os meios de co- que qualquer um com pertinência e sorte
municação são empresas comerciais-indus- possa conseguir o status de proprietário, e
triais, ou propriedade de grupos econômi- com isso as qualificações de um homem pri-
cos: vado, admitido à esfera pública: formação
“Há muito tempo as relações de cultural e propriedade (capacidade de ad-
poder entre a mídia e o Estado estão quirir bens, inclusive bens simbólicos).
de cabeça para baixo, ou melhor, fo- Mas no Brasil o meio de comunicação, a
ram colocadas de cabeça para cima imprensa, é um partido político.
pela celebrada ‘revolução das comu-
nicações’. Os partidos, os governos e 2. Nossa sociedade autoritária
os fatos políticos só existem pela via
dos meios de comunicação. O poder Qual é, porém, nossa sociedade? Trata-
real há muito migrou para os cérebros se de sociedade, desde suas origens, autori-
e as mãos dos donos da informação, tária, segregacionista e excludente, um es-
que se entregam ao trabalho de ‘ori- tado privatizado pelos interesses das clas-
entação’ das massas desarvoradas. O ses dominantes, um estado corporativo que
eleitor pode mudar de partido, o es- processa a exclusão e que exerce a mais ele-
pectador de canal, e tudo continua na vada concentração de renda do mundo. So-
mesma. Os amigos dos reis costumam ciedade assim organizada desde suas raí-
contra-atacar, argumentando que é ri- zes coloniais produz os excluídos econômi-
dículo supor uma conspiração entre cos, os excluídos sociais e políticos, os sem-
a mídia, os governos e os negócios. escola, os sem-informação, os sem-sem. So-
Têm toda a razão: o pior é que não há mos sociedade ágrafa, de analfabetos18 e de
mesmo nenhuma maquinação. São alfabetizados que são analfabetos funcio-
apenas consensos produzidos pelo nais, porque não lêem. A informação dispo-
andamento normal dos negócios”17. nível é audiovisual. E a informação audio-

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visual é, por definição, por essência, por informam, formam opinião; não noticiam,
necessidade, uniforme. Uniformizada. Uni- opinam. São o novo espaço da pólis, com
lateral e, principalmente, fragmentada. E, pensamento próprio, com projeto próprio.
assim, não enseja, nem a reflexão, nem o ju- Em resumo, a comunicação de massas,
ízo crítico. Não possibilita a visão de con- como a política, é um bem de consumo, ma-
junto19, descontextualiza, desenraíza, desis- tizado pelo neoliberalismo, isto é, pela apro-
toriciza, autonomiza os fatos, rompe com o priação desigual dos bens de consumo, de
nexo causal, dilacera a realidade, destrói o bens materiais, de bens simbólicos e de ci-
pensamento político e a possibilidade de dadania.
opinião. A ideologia do consumo, a prima-dona,
Na era da televisão, a imagem – que es- rege a sociedade mediatizada, porque o con-
tava presa na imprensa gráfica e escondi- sumismo depende da sociedade da comu-
da, para ser imaginada, no rádio – passa a nicação. E desde que foi ensinado ao teles-
ser o fato, a notícia, o acontecimento, a reve- pectador que o mundo é consumível – e não
lação. A percepção da realidade é modifica- transformável – as grandes representações
da tanto pela quantidade de informação – que dele são oferecidas serão selecionadas,
uma sucessão de imagens-informação, uma condicionadas e dimensionadas como pro-
sequência de imagens-ícones-fotogramas- dutos, porque ‘a felicidade é uma soma de
frames-quadros-dados emitidos em grande felicidades, e essas pequenas felicidades
velocidade que o cidadão não consegue di- são, precisamente, as pequenas compras’20.
gerir – quanto pelo tratamento da imagem, Na nova era da comunicação, assinalada
pela trucagem, pelo movimento, pelo enqua- pela reunião contemporânea dos avanços
dramento, pelos métodos modernos e sofis- tecnológicos da informática e da comunica-
ticados de edição, pela apresentação e pela ção de massas com o desenvolvimento ca-
velocidade da seqüência. Por isso, o discur- pitalista, e a concentração-exclusão nos pa-
so ideal da televisão é o videoclip. A imagem íses periféricos, a informação se reduz a uma
não é mais, como no tempo da imprensa grá- simples mercadoria cujo valor varia de acor-
fica, uma coadjuvante da notícia, uma peça do com a relação do binômio oferta e procura.
de convencimento. É agora protagonista
absoluta. Em regra, mostrando, esconde. 3. A despolitização da pólis e a
O homo sapiens cede lugar aohomoocular. atrofia da ágora
Personagem inteiramente dependente das
imagens, e, portanto, com muito menos ca- Os meios de comunicação de massas re-
pacidade de crítica ou reflexão. Informação, produzem a sociedade em que atuam – e
assim, passa a ser o que é ou pode ser visí- que ajudaram a moldar – e, por isso, no Bra-
vel, ou seja, apenas aquilo que pode ser sil, caracterizam-se pela concentração de
mostrado rapidamente através de uma ima- veículos e pela exclusão das grandes mas-
gem, e, necessariamente, de forma fragmen- sas. A modernização aqui operada nas últi-
tada. mas décadas é servidora desse modelo con-
É a educação para a passividade, que centracionista: nela, as mudanças se fize-
desarma os indivíduos e compromete a ci- ram para que não ocorressem mudanças
dadania. políticas. Quando dizemos que reproduzem
Os meios de comunicação de massas não a sociedade, não estamos dizendo que atu-
procedem mais à intermediação entre a so- am passivamente, pois, entre nós, os meios
ciedade e o Estado. Entre a política e a cul- de comunicação de massa são agentes polí-
tura. Deixam de reportar, para interferir no ticos, interferem na ordem política, têm voz
fato e passam a ser o fato; não narram, inva- ativa no processo eleitoral, tomam partido e
dem o andamento do fato em narração; não são um partido. Servem à manutenção do

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statu quo. Porque há coerência entre os inte- balhar e consumir, a distonia material/eco-
resses instalados no Estado e os interesses nômica, cultural e política entre e interclas-
representados pelos meios. Nesse sentido ses, intrapaíses, sociedades e nações é re-
eles não são meros reprodutores passivos forçada pelo controle metropolitano das
da sociedade, mas, principalmente, defen- novas tecnologias, alienando as sociedades
dem esse modelo de sociedade. nacionais do processo produtivo, no primei-
O processo de concentração/exclusão – ro plano, e, a seguir, do consumo, de bens
que da economia transborda para a políti- materiais, de bens políticos e do exercício
ca, nela atingindo os meios de comunica- da cidadania. Este é desviado da pólis para
ção de massas — tem fundamentos ideoló- a sociedade civil, em que as formas de inte-
gicos e está na lógica de um projeto de do- gração se operam menos por princípios ou
minação centro-periferia. Mas não é tudo. A direitos da cidadania e mais pela inserção
concentração é já um imperativo da essên- frágil e periférica, desnivelada e desigual no
cia do próprio desenvolvimento capitalista consumo.
e do caráter da apropriação/acumulação As novas formas de organização social
condicionante/condicionada pela globali- têm como substrato e projeto o esgotamento
zação/monopolização, que anula tanto a da política.
(‘livre’) concorrência quanto o pluralismo Como “crise da política”, no geral, tem-
ideológico. Esse mesmo processo é, por seu se identificado o esvaziamento da vida pú-
turno, estimulado pelo desenvolvimento tec- blica e da vida política, mediante o gradual
nológico, caracterizado, também ele, pela processo de privatização do público e do
concentração e alto emprego de capital, num Estado. É a outra face da falência das insti-
círculo permanente e crescente de substitui- tuições clássicas, quando organismos extra-
ção de mão-de-obra por novas tecnologias – estatais – o grande empresariado, as gran-
a informática e a robótica – e a busca de mão- des corporações, as multinacionais, os con-
de-obra mais barata, o que leva à sobre-ex- glomerados dos meios de comunicação de
ploração dos assalariados dos países peri- massas, os bancos e as agências internacio-
féricos, sobre-exploração facilitada pela nais, os FMIs etc. – passam a exercer fun-
ação das elites locais, que, em contraparti- ções públicas, desempenhando, sem limi-
da à carência de capital, oferecem às multi- tes de fronteiras, papéis antes reservados ao
nacionais, como atrativo compensatório aos Estado e à política, ocupando mesmo o pa-
seus investimentos, os baixos salários que pel de agentes das relações internacionais.
impõem aos seus trabalhadores. Assim, uma das características das velhas e
Dessa conjunção deriva uma apropria- modernas democracias representativas, fun-
ção assimétrica dos bens econômicos e, daí, dadas nominalmente na soberania do voto
culturais e políticos. O esvaziamento da popular, passa a ser o governo de institui-
política e do Estado se dá tanto no âmbito ções constituídas à margem do sufrágio...
interno/nacional, quanto no âmbito inter- É nesse quadro que surge a “nova” fase
nacional, na relação política nacional/po- da organização da sociedade civil21 (‘civil’,
lítica internacional, Estado periférico/Esta- aí, em oposição à ‘política’), cujo objetivo é
do central. Donde, nos planos nacionais superar as mediações, quaisquer, entre a
internos e internacional, uma economia su- população (a cidadania, digamos) e o Esta-
balternizada, uma cultura subalternizada, do, stricto sensu, abolindo, no primeiro pla-
uma informação subalternizada e uma po- no, a mediação dos partidos políticos (para
lítica (cidadania) subalternizada. o que teoricamente eles se destinam), e, no
Exatamente quando o acesso a procedi- segundo momento, superando a própria
mentos simbólicos (e informação) sofistica- mediação da representação (mandatária)
dos é (seria) um imperativo atual para tra- popular.

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Assim, a esses novos atores de uma globalizada, o que de resto importa o fim do
‘nova’ política (sem ‘politica’ e sem parti- interesse público, social e nacional. A audi-
dos) tem cabido a direção dos movimentos ência e, por seu intermédio, a receita publi-
populares, das mobilizações coletivas e de citária e o lucro são os deuses que reinam
massas, resguardando-se aos partidos po- no altar da nova religião comunicacional.
líticos ou o papel puramente referendador Mesmo quando o Estado nacional preserva
(ou de legitimação institucional) ou as fun- seu poder regulamentar, seus efeitos se re-
ções de retaguarda das ações. No mais das velam secundários, em face da mundializa-
vezes, é pedido aos partidos que se conser- ção da comunicação, via transmissão por
vem alheios, para ‘não estreitar’o movimen- satélite, via tevê por assinatura, via rede
to. Ora, o que se devia cobrar desses parti- mundial de computadores.
dos seria justamente resgatar o espaço da
política, sem o que não há nem democracia, 4. Tecnologia e exclusão
nem representação popular, nem politiza-
ção da sociedade. A primeira característica do sistema bra-
O papel essencial dos partidos é, dessa sileiro de comunicação de massa é a con-
forma, freqüentemente transferido para ou- centração, tanto de meios quanto de empre-
tras instituições, e a mobilização popular sas. No Brasil, o sistema de televisão aberta
passa a ser uma dependência do monopó- (UHF/VHF) é controlado (ideológica e eco-
lio da comunicação de massas, que passa a nomicamente) por três redes nacionais, uma
estabelecer, autonomamente, isto é, a partir das quais, o maior conglomerado de comu-
de seus próprios interesses, a pauta da soci- nicação do país e da América Latina, e um
edade. dos maiores do mundo, atua em todos os
Os meios de comunicação de massas, campos da indústria cultural. A mesma con-
escrevendo a pauta da política, não apenas centração no plano da televisão (tanto aber-
se revelam independentes das demandas e ta quanto por assinatura) se repete relativa-
necessidades da sociedade: no mais das mente às emissoras de rádio e à imprensa
vezes, ditam essas demandas e criam essas gráfica. A televisão por assinatura está con-
necessidades. Alimentado pelos efeitos com- trolada por duas grandes redes, NET e Di-
binados da desregulamentação e da priva- rectv-TVA, a primeira dasOrganizaçõesGlo-
tização com o desenvolvimento e prolifera- bo, e a segunda do Grupo Abril, maior con-
ção de novas tecnologias, foi acelerado em glomerado de imprensa gráfica do país, o
todo o mundo – principalmente a partir dos que se repete com a rede de computadores,
anos 80 – o processo de mundialização da no Brasil dominada pelos portais da Globo e
comunicação, que também é servidor do pela associaçãoAbril-FolhadeSãoPaulo-FSP
neoliberalismo e da globalização. E à medi- (UOL). A mesma FSP, que na Internet está
da que mais se transnacionalizam e se glo- associada ao Grupo Abril, lançou, em par-
balizam, mais se livram de qualquer contro- ceria com o grupo Globo, o jornal nacional
le das sociedades sobre as quais atuam e Valor Econômico. Esse sistema de exploração
livres se encontram diante da inexistência reflete o processo nacional de concentração
de uma regulamentação externa eficaz, pro- acentuado pelo neoliberalismo, a concentra-
duto da fragilidade do Estado-nação e da ção política (a concentração dos poderes na
decadência da soberania clássica, acentua- União em prejuízo dos Estados e Municípi-
das pela globalização neoliberal que mini- os; no Executivo em prejuízo dos demais
miza a capacidade regulatória dos Estados. poderes), a concentração econômica (regio-
Desregulamentação e privatização cami- nal e oligopolística, via conglomerados) e a
nham de mãos dadas, e juntas também sig- concentração de renda, per capita (a maior
nificam a vitória da comunicação comercial do mundo) e intraregional. É o que denomi-

Brasília a. 37 n. 148 out./dez. 2000 205


namos demacrocefalia, um sistema monopo- cada cidade, fractalmente, incontrolavel-
lístico que incorporou ao seu poder, como mente.
se legítimo fora, a capacidade de, narrando Nesse quadro é politicamente de impor-
ou omitindo a revelação do fato, interferir tância secundária a disribuição de canais
no seu andamento porque, no Brasil, o meio regionais de rádio e de televisão com políti-
de comunicação é um partido político, e, sem cos de segunda classe, pois, esses canais,
os riscos da arena eleitoral, é agente do pro- meros repetidores, serão sempre reproduto-
cesso histórico. res dos conteúdos das grandes redes.
Uma derivação da macrocefalia é o mo- O fenômeno da concentração, todavia, é
nopólio em cruz, com o que estamos desig- mundial, como mundial é o modelo capita-
nando o processo mediante o qual o mesmo lista.
sistema de comunicação, já macrocefálico, Apenas nove empresas dominam a co-
atuando em todos os campos da indústria municação no mundo; 50% da receita des-
cultural, o rádio e a imprensa gráfica (jor- sas grandes corporações decorrem de ope-
nais, revistas, livros, fascículos etc.), a in- rações fora de suas respectivas sedes22. Me-
dústria fonográfica, a indústria de vídeo, a nos de cinqüenta empresas são responsá-
indústria cinematográfica, de shows, a pro- veis pela imensa maioria da produção mun-
dução de eventos etc., verticaliza sua pró- dial de filmes e de programas de tevê, além
pria criação, produção, comercialização e de serem as donas de canais de transmis-
distribuição, inviabilizando o desenvolvi- são por cabo e de sistemas de cabo e satélite,
mento de uma indústria e produção nacio- publicação de livros, revistas e do mercado
nal independente. fonográfico23. Já no início dos anos 80, um
O mesmo sistema (modelo:Organizações terço das horas de transmissão de televisão
Globo) que, nacionalmente, monopoliza a em todo o mundo era preenchido com pro-
comunicação e a informação, liderando as gramação importada, a maioria norte-ame-
emissões de televisão e rádio, liderando o ricana24.
jornalismo impresso (a maior rede nacional Se, na era da informação, os meios de
de televisão e rádio é também proprietária comunicação de massas conhecem a mais
do maior jornal do país), reproduz-se, tal significativa expansão econômica de sua
qual, em cada Estado, como um subsistema, história (embora, e talvez conseqüentemen-
que, à imagem e semelhança do sistema cen- te, decaiam o número de jornais e as tira-
tral, controla, à sua vez, a televisão local, a gens dos periódicos, em todo o mundo), cres-
radiofonia local, a imprensa gráfica local (em ce a concentração, seja dos meios, seja das
cada Estado, a liderança da televisão regio- empresas, dos grupos econômicos contro-
nal é ocupada pelo canal reprodutor do si- ladores da informação e dos meios de co-
nal da rede Globo; a esse canal, propriedade municação de massa. Há a concentração
do grupo ou de grupo a ele associado, está internacional em dois ou três canais, há a
sempre ligado um jornal, sempre o de maior concentração geográfica, em canais norte-
circulação local, e o jornal de maior circula- americanos e há a concentração em cada
ção local – e não há mais de dois periódicos país. E há, finalmente, a concentração nas fon-
dignos deste nome por Estado – é sempre tes internacionais de notícias e de cultura.
ligado a um canal de televisão, sempre o É a versão econômico-comunicacional
canal reprodutor do sinal da rede Globo). É da nova ordem econômico-política interna-
o que denominamos de dominação fractal, cional.
pela qual o sistema local repete o modelo de No modelo neoliberal – que compreende
dominação nacional, ou, dito por outros a globalização e a crise do Estado-nação –,
meios, o sistema central, macrocefálico, re- verifica-se a superposição, em cada espaço
pete-se, miniaturizado, em cada Estado, em nacional, de dois sistemas de comunicação:

206 RevistadeInformaçãoLegislativa
o nacional e o estrangeiro, ou transnacio- compressão das culturas nacionais — e co-
nal, ou internacional, cujo símbolo é indis- loca as redes de informação internacional
cutivelmente a CNN, a mais importante rede entre os vetores que traçam esse modelo para
mundial de televisão25. Os Estados periféri- conquistar o mundo 29. Nesse processo de
cos, ademais de abrirem suas fronteiras ao dominação, desempenha papel fundamen-
fluxo internacional de informação, alinham tal a ideologia de um mundo livre das sobe-
suas práticas internas ao modelo neolibe- ranias estatais, porque o que se convencio-
ral, vale dizer, transformam seus próprios nou chamar de ideologia do neoliberalismo
sistemas em aparelhos reprodutores do tem por principal adversário o Estado-na-
modelo central, norte-americano, cujos va- ção naquilo que ele pode representar
lores, padrões e interesses, os interesses tu- como espaço de resistência da cultura
telados pelo Departamento de Estado, pas- nacional30.
sam a reproduzir, sem consideração com os O modelo econômico – a concentração e
interesses culturais, éticos e políticos nacio- a exclusão como resultados da liberdade de
nais. Nossa visão de mundo, nossos valo- mercado e da globalização – transborda
res, os valores veiculados nos países perifé- para a comunicação e para a política, desde
ricos, passam a ser os valores dos canais- os meios clássicos – jornais gráficos e televi-
matriz. Assim, nos definimos sobre a paz e são aberta – aos meios ‘alternativos’ – a te-
a guerra, e assim nos definimos sobre nós levisão por assinatura, paga, por exemplo,
próprios. e as redes fechadas.
No Brasil, a presença da televisão mun- No Brasil, existem, hoje, 32 milhões de
dial, a CNN, opera (1) por meio do acesso residências com aparelhos de televisão 31, ou,
direto aos seus canais (cabo) em espanhol e noutros termos, 87% dos domicílios possu-
inglês; (2) pelo fornecimento de imagem aos em um ou mais aparelhos 32. A audiência
canais nacionais que, em decorrência, em nacional é estimada em 100 milhões de es-
seus noticiários internacionais, transfor- pectadores. São números da televisão ‘aber-
mam-se em meros repetidores do canal nor- ta’. Em contrapartida, apenas 3%, ou 2,7
te-americano; e (3) mediante a assimilação milhões33, têm tevê paga seja MMDS (10%),
de seus padrões de produção, formais, esté- seja satélite (32%), seja cabo (58%), que che-
ticos e ideológicos. ga a apenas 7% dos lares brasileiros34. Ora,
O fluxo informativo, dominante, Norte- isso não pode configurar surpresa, se con-
Sul, centro-periferia, não é, todavia, fenôme- siderarmos que a adesão ao sistema de tevê
no recente e vem sendo dissecado desde os por assinatura custa cerca de 94 dólares, e
estudos (anos 70) da Comissão MacBride sua mensalidade, 39 dólares, numa demo-
(UNESCO) e, deles resultante, pela luta dos cracia liberal cujo salário mínimo é de 84
países do Terceiro Mundo visando à cons- dólares, o menor do MERCOSUL, e um dos
trução de uma Nova Ordem Mundial da menores do mundo... Eis por que 97% dos
Informação (NOMIC), pois uma das formas usuários dessa televisão ‘alternativa’ estão
de controle da imprensa nacional é o con- entre os 1% mais ricos, 42% têm renda supe-
trole das fontes da informação, as agências rior a 5.600 dólares, isto é, quase 67 vezes o
noticiosas internacionais, com sede nos Es- salário mínimo35.
tados Unidos 26, na França27 e na Inglater- A informação gradualmente se transfere
ra28. É pelos olhos dessas agências que o dos canais abertos para os canais de televi-
noticiário de todo o mundo vê o mundo. são por assinatura, paga, oferecendo à mi-
A promoção do capitalismo financeiro é noria que a ela pode ter acesso a informação
o objetivo central do modelo anglo-america- abundante e refinada – negada ao telespec-
no de informação – baseado no ‘livre’-fluxo tador tradicional, que se conformará com a
da informação (matizado como vimos) e na ‘antiga’ televisão aberta –, que vai desde a

Brasília a. 37 n. 148 out./dez. 2000 207


possibilidade de ter acesso a um universo gramação aberta da Rede Globo), o canal
de 151 canais36, até mesmo ao noticiário in- Futura (canal educativo da Rede Globo) e o
ternacional, em inglês, preferentemente. Canal Brasil (filmes nacionais, videoclips e
Para isso mesmo está aí a CNN (em inglês e reportagens)37. Há, ainda, os canais da Câ-
espanhol). Mas, não só ela. Se quiser, o te- mara dos Deputados e do Senado Federal.
lespectador brasileiro disporá de outros ca- Mas o telespectador brasileiro pode op-
nais, embora não tenha aumentado seu le- tar pela TVA. Nessa hipótese, a quais ca-
que de opções. Senão, vejamos. Se for assi- nais terá acesso? CNN International (inglês),
nante da NET, por exemplo, poderá preferir Cartoon Network, E! Entretaiment Television,
o canal MTV-Music Television (videoclips Discovery Kids, Fox, Fox Kids, Nikelodeon,
americanos), ou oDeutsche Welle(programas People+art, TNT(todos esses transmitidos ao
jornalísticos e variedades em alemão, inglês vivo, via satélite, de seus países), RTPi (tele-
e espanhol), ou o TV5 (canal público, man- jornal cultural europeu), AXN, ESPN inter-
tido por consórcio constituído pelos gover- national, ESPN Brasil38, Eurochannel, F&A,
nos da França, Canadá, Bélgica e Suíça; pro- HBO/HBO2 (filmes), Sony(filmes) e Warner
gramas jornalísticos e culturais e filmes em Bros (filmes).
francês), o Cartoon Network (desenhos ani- O assinante brasileiro da TVA teve à sua
mados americanos), ou o Fox Kids (seriados escolha, no mês de outubro de 2000, nada
infantis e videoclips, da Fox…), ou oNikelo- menos de 800 filmes. Eram 614 películas
deon (desenhos animados e programas in- norte-americanas, 63 inglesas, 43 francesas,
fantis), ou o BBCWorld (notícias e comentá- 26 italianas, 15 espanholas, nove australia-
rios em inglês), ou o MGM (filmes e seriados nas, oito canadenses, seis alemãs, cinco su-
da MGM), ou o RAI (italiano), ou o Animal íças, duas dinamarquesas, duas argentinas,
Planet, ou o GNT (documentários, entrevis- uma polonesa, uma portuguesa, uma rus-
tas), ou o Multishow, ou o People+Arts, ou o sa, uma chinesa, uma coreana, uma irlan-
AXN (filmes e esportes radicais), ou o USA desa e, finalmente, uma brasileira39. A expo-
(filmes norte-americanos), ou oTNT (filmes sição é puramente estatística. Não estamos
e esportes), ou o Warner (filmes e desenhos discutindo o conteúdo das películas.
da Warner Bros.), ou oDiscovery Channel,ou Mas, como dissemos, o sistema de televi-
o The Superstation(shows e programas jorna- são por assinaturas tem duas redes, e as-
lísticos), ou o Fox (filmes, desenhos adultos, sim, o telespectador brasileiro tem escolha.
da Fox), ou o Bloomberg Television (indica- Pode optar pelos serviços da NET. Nessa
dores econômicos em inglês e português), hipótese, o que lhe seria oferecido no mes-
ou o ESPN (rede americana de esportes), ou mo mês? O assinante da NET teve à sua dis-
o TVE (televisão espanhola), ou um dos cin- posição, no mês de outubro de 2000, nada
co Telecines (filmes). Pode ainda clicar nos menos de 788 filmes: 494 películas norte-
canais da Playboy ou do SexyHot e assistir a americanas, 121 brasileiras, 66 inglesas, 48
filmes eróticos… Para que não se diga que francesas, 17 italianas, 17 canadenses, oito
ao público brasileiro não se oferece qualquer alemãs, sete espanholas, duas australianas,
alternativa de uma programação ligada à duas novazelandesas, uma de Israel, uma
sua cultura, uma vez que mudando de ca- chinesa, uma islandesa, uma argentina,
nal não muda de programação, pois não há uma dinamarquesa40.
variação no bombardeio ideológico, cabe De novo a exclusão; o continente, que já
assinalar também a existência de canais havia construído os cidadãos de primeira,
nacionais na rede por assinatura, como a segunda e terceira classes, constrói agora
Rede SENAC (Serviço Nacional de Apren- telespectadores de primeira, de segunda e
dizagem Comercial), o Canal Rural (da Rede terceira classes... Mas todos desinformados,
Globo), aGlobo News(uma mixagem da pro- ou ilusoriamente informados. Pois, crescen-

208 RevistadeInformaçãoLegislativa
do a possibilidade de troca de canais, não nos linhas telefônicas em toda a África ne-
cresce a possibilidade de acesso a conteú- gra que na cidade de Tóquio, e nos países
dos diferenciados. Mas fica o sonho de um africanos a conexão e o uso mensal custam
contato mais próximo com o resto do mun- em média 100 dólares norte-americanos, dez
do41. vezes mais do que nos Estados Unidos 44.
Não é distinto no plano da rede mundi- Depois da África, o continente menos servi-
al de computadores. do é a América Latina, e aqui a maioria das
Se um extraterrestre desembarcasse hoje conexões está na Argentina, Brasil e México.
em qualquer país da América Latina e fosse Estão nos Estados Unidos nada menos
conhecer esse país e o planeta pelas vias da que 50% das 70 mil redes que compõem a
Internet, teria diante de si um mundo angló- lnternet45, que não pode ser ‘navegada’ se o
fono, ocidentalizado, branco e consumista. usuário brasileiro não dispuser de um com-
Ora, a grande promessa de democratização putador, de uma placa modem, de softwares
da informação é hoje – e por quanto tempo adequados para ingressar na rede, de uma
ainda? – um instrumento de afirmação de boa linha telefônica, de acesso a um prove-
uma nação, de uma cultura, de uma língua, dor, de um certo padrão educacional, um
forâneas, agindo na direção centro-perife- certo adestramento para manipular o com-
ria, em que uma vez mais é veículo de elitiza- putador e conhecimentos razoáveis de in-
ção da cultura, da informação e da política. glês, que não é, apenas, o meio de interco-
O prometido mundo da liberdade – a rede municação da rede, mas, igualmente, uma
mundial de computadores – é, em nossos maneira de pensar. Na medida em que mais
dias, refém de uma empresa monopolística acumula informação, em que mais concen-
norte-americana, a poderosa Microsoft, fa- tra informação e oferece ao plugado um nú-
bricante dos programas DOS/Windows, mero elevado de portas de acesso a essas
que equipam algo como 90% dos computa- informações, via webs, a Rede condiciona o
dores domésticos e cerca de 85% dos com- acesso ao site ao domínio de uma senha que,
putadores corporativos de todo o mundo. à sua vez, depende de uma assinatura,
Atualmente está sendo processada pela jus- paga... E a que terá acesso? Nada menos de
tiça de seu país, acusada de dumping e mo- 93% da informação que circula nos sites da
nopólio, por tentar esmagar os concorren- Internet são escritos ou falados na língua
tes de seu Explorer, o programa de ligação inglesa, 4% em francês, 3% em todas as de-
com a Internet. mais línguas46. O internauta que não conhe-
A concentração é globalizada. cer inglês navegará muito pouco fora dos
Os países ricos — com apenas 15% da sites brasileiros47.
população mundial — concentram 80 % dos A promessa do novo sistema, de realizar
usuários da Internet. Na América do Norte, o ideal da democratização da informação,
com menos de 5% da população, encon- rompendo com as barreiras que afligem ain-
tram-se mais de 50% dos usuários mundi- da hoje os meios de comunicação de mas-
ais42. sas, a começar pela vigilância estatal, ainda
Dos 269 milhões de usuários da Internet está por objetivar-se. Antes, reconstruiu a
em todo o mundo, nada menos de 137 mi- nova Idade Média (que seja breve), transfor-
lhões estão nos Estados Unidos e 26 milhões mando a informação em mercadoria para
no Japão. Na Europa, são 82 milhões. Desse iniciados. Num mundo de pouco mais de 6
total, 56% residem no Reino Unido, Alema- bilhões de habitantes (algo como 9 bilhões
nha e Itália43. no ano 2030), apenas 200 milhões são usu-
A promessa de liberdade dos novos mei- ários de computadores pessoais, donde o
os guarda simetria com a desigualdade do público da Internet estar limitado a menos
desenvolvimento mundial. Assim, há me- de 4% da população do planeta48. Menos de

Brasília a. 37 n. 148 out./dez. 2000 209


10% dos possuidores de computadores no social, que é, aliás, a característica mais per-
mundo têm acesso direto à lnternet; menos manente e mais notável da América Latina.
de 5% dos lares do mundo têm computado- Em 1999, quase 57 milhões de brasileiros –
res domésticos; menos de 4% da população o equivalente a 35% da população – viviam
americana tem acesso em tempo real à Inter- em condições de pobreza com renda inferi-
net49. or à de seus pares no México ou na Argenti-
Não estamos questionando a potencia- na52. Décima, ou nona, ou oitava potência
lidade da rede mundial de computadores. econômica do mundo, o Brasil ostenta, po-
Estamos denunciando a concentração de rém, a mais perversa concentração de ren-
renda (donde concentração de informação). da! Neste país, uma população com pa-
Por enquanto, ela aumentou sim o círculo drões de consumo conspícuos similares ao
da informação, mas entre os que já possuí- Primeiro Mundo, mais ou menos um terço
am a informação, por serem portadores da de seus habitantes, divide seu habitat com
cultura dominante. Classe média, pequena outra população miserável ou que está no
burguesia, intelectualidade, aprofundando, limiar da miséria e da exclusão social, eco-
dessa maneira, o fosso informativo (e por- nômica e política quase absolutas53. Carac-
tanto o acesso à cidadania) entre povo e eli- terística atávica das nossas sociedades lati-
te econômica. Estamos afirmando que, em no-americanas, hoje exacerbada num cená-
um país com mais de 150 milhões de habi- rio em que a globalização e suas conseqü-
tantes50, o Brasil, dispomos, no ano 2000, de ências desfavoráveis são tidas, pelos gover-
2,5 milhões de usuários de Internet, ou seja, nos nacionais, como inevitáveis, e cujas
pouco mais de 2 % da população, nesse perspectivas são de salários cada vez mais
montante agregadas ligações privadas, pú- raros e menores e da falta de empregos, as-
blicas, governamentais, empresariais, todas sociadas à ineficiência, insuficiência ou
enfim51. ausência de políticas sociais, gradualmen-
A disponibilidade de informação em te reduzidas com a provocada diminuição
abundância e a possibilidade de sua circu- do tamanho e da importância e competên-
lação ultra-rápida não têm significado mais cia do Estado-social, de quem se procura
e melhor informação, nem têm contribuído retirar, em nome da livre concorrência, até!,
para maior liberdade de informação. Ao con- o papel de mero regulador adamsmithiano
trário, estamos assistindo à construção de do mercado... Essa iniqüidade social tem,
uma nova forma de desigualdade entre os historicamente, definido os traços principais
povos; o mundo, já dividido entre nações de uma cultura política de exclusão, apro-
ricas e pobres, poderosas e exploradas, cons- fundando o fosso entre as cidadanias de
trói agora a divisão entre cidadãos ricos em primeira, segunda e terceira classes, sabido
informação e cidadãos pobres em informa- que, se há mais de uma cidadania, não há
ção. cidadania alguma. Essa cultura política da
exclusão dispõe, num mesmo espectro, ati-
5. Novas tecnologias comunicativas, tudes das mais arcaicas às mais modernas
velhos modelos de dominação e define modos próprios de as sociedades
latino-americanas viverem a cidadania e de
Num quadro de características comuns se integrarem nesta rede de produção-con-
da América Latina, o caso brasileiro pode sumo cultural majoritariamente orientada
oferecer alguns exemplos que se repetem pelos meios de comunicação de massa. A
com peculiaridades próprias. O ingresso do introdução das novas tecnologias comuni-
Brasil nos padrões contemporâneos da pro- cativas ocorre nesse quadro político-cultu-
dução e consumo cultural tem como pano ral marcado pela desigualdade. Seus usos e
de fundo uma escandalosa desigualdade apropriações, reduzidos os meios de comu-

210 RevistadeInformaçãoLegislativa
nicação de massa a simplesmente um negó- matizada que isola o operário e tende a es-
cio lucrativo, apartado de qualquer princí- vaziar o proletariado, seu ser coletivo.
pio ou deontologia, reduzem a nada o pro- O uso intensivo das tecnologias comu-
metido papel de panacéia democrática, fa- nicativas transforma não só o consumo cul-
zendo ressaltar, ao contrário, sua função tural em um negócio, mas também o mundo
potencializadora das desigualdades e das da política. Os meios de comunicação de
distâncias sociais, entre os países, e de suas massa – um negócio – cumprem o papel de
populações no interior de cada um deles. ator político por excelência, influindo não
Ou seja, à alta inovação tecnológica neces- só na escolha dos candidatos, mas mesmo
sariamente não corresponde uma proporci- na condução de processos políticos notá-
onal inovação social. Apesar de suas po- veis. O narrador se transforma em constru-
tencialidades técnicas, notadamente intera- tor, criador da realidade, e assim os desti-
tivas e democratizantes, as novas tecnolo- nos da política – vale dizer, a condução his-
gias passam a ser vítimas das velhas regras tórica – têm seus contornos traçados pela
de mercado e das limitações políticas, no intensa cobertura (ou ausência de) dos mei-
caso, elitistas, das sociedades em que se ins- os de comunicação de massa, transforma-
talam. E essas políticas são i) aquelas con- dos em tribuna pública, embora concentra-
centracionistas e regulatórias da proprieda- da nas mãos de pouquíssimos e poderosos
de e do uso de tais canais, hoje conduzidas grupos privados, seus controladores54.
por Estados nacionais cuja opção preferen- Um dos novos papéis dos modernos
cial é pelo neoliberalismo e pelas regras do meios de comunicação de massa, uniforme-
mercado; e ii) aquelas derivadas de uma mente orientados ideologicamente, é pau-
política econômica concentradora de renda tar as ações do Estado.
e de uma política educacional incapaz de
oferecer habilitação e competência cultural 6. Altos investimentos e grande
necessárias aos potenciais usuários dessas concentração na televisão das elites
novas tecnologias, estabelecendo o círculo
vicioso: o pobre será cada vez menos infor- O modo como, no Brasil, foi implantada
mado e, porque desinformado, excluído das a televisão por assinatura e o uso ainda res-
novas relações de produção e trabalho e do trito da rede de computadores – a Internet –
consumo, de bens materiais e culturais e apontam para o crescente processo de redu-
políticos. A exclusão perfeita. ção das margens democráticas, mesmo for-
Com o uso intensivo das novas tecnolo- mais, e para o predomínio da cultura da
gias informatizadas, aos problemas de um excludência, como política. Não se trata mais
analfabetismo letrado aliam-se os do anal- de mera (se bem que relevante) conseqüên-
fabetismo tecnológico, num mundo no qual cia da disfunção econômica; é já um projeto
a importância do trabalho material cede político.
cada vez mais terreno ao trabalho imaterial A implantação da tevê por assinatura no
e gera uma divisão de trabalho sem prece- Brasil tem início oficial em 199155. Repre-
dentes ao impor a separação espacial dos senta já hoje um mercado em acelerada ex-
trabalhadores e inviabilizar a construção da pansão, cujo modelo de desenvolvimento
identidade no/pelo trabalho. Não mais a não difere da tradicional tendência nativa
fábrica, com sua linha de montagem locali- da manutenção dos monopólios dos meios
zada num mesmo espaço e organizando o de comunicação de massa que prevalece no
proletariado, mas uma rede bastante disper- sistema de televisão aberta, um mercado
sa e fragmentada de fornecedores de peças desigualmente partilhado por três redes.
desarticuladas de um produto que não está O crescimento da tevê por assinatura, por
à vista, coordenada pela inteligência infor- outro lado, afina-se com o modelo interna-

Brasília a. 37 n. 148 out./dez. 2000 211


cional da formação dos grandes oligopóli- meios de comunicação de massa tornam
os dos meios de comunicação de massa de- explícitos os aportes, antes velados, dos ca-
tentores de numerosos meios de comunica- pitais estrangeiros aos meios de comunica-
ção, estendendo-se por vários países, em ção nacionais, embora a legislação da tevê a
associações as mais diversas com os em- cabo brasileira, por exemplo, tenha assegu-
presários locais-nacionais. Essas relações, an- rado o controle majoritário, de 51%, aos
tes veladas, são agora explícitas, legais e legi- empresários nacionais58. Não existe, porém,
timadas pelo discurso neoliberal. Nesse con- no cenário da globalização, qualquer meca-
texto concentracionista é que cresce o merca- nismo regulatório que faça restrição à pro-
do de TV por assinatura, hoje liderado por priedade cruzada dos meios de comunica-
duas operadoras: a NET (associada à SKY), ção de massa em termos nacionais ou inter-
das Organizações Globo, com 64% do merca- nacionais. Assim, a concentração da pro-
do, e a TVA (associada à DirecTV), do grupo priedade ultrapassa, em escala até agora
Abril, com 25% de participação. Empresas desconhecida, as fronteiras nacionais e, na
independentes reúnem 7% do mercado56. ausência de Estados-nacionais reguladores
Esses grupos receberam suas concessões fortes, ou de qualquer mecanismo suprana-
em 1989, quatro meses após a aprovação da cional de regulamentação, os monopólios
Constituição de 1988 (em permanente refor- internos dos meios de comunicação de mas-
ma, desde então), e começaram a operar em sa ficam ainda mais fortalecidos pelo ingres-
1991. A regulamentação só ocorreria em so de capital internacional, tornando debi-
1995, depois de essas operadoras terem ad- líssimas quaisquer iniciativas societárias,
quirido grandes vantagens técnicas e o con- empresariais ou não-governamentais locais,
trole do mercado de assinantes das princi- ante a concorrência financeira e a compe-
pais cidades do país. A lei que viria regula- tência técnica já acumulada por esses gru-
mentar a tevê a cabo absteve-se de qualquer pos, processo de fragilização nacional e de
proteção do mercado contra a formação de desproteção do cidadão/usuário que tam-
monopólios, oligopólios e a concentração bém se observaria na política de privatiza-
em cruz da produção e da propriedade; não ção e desnacionalização do sistema nacio-
cogitou ainda menos de proteger o cidadão nal de telecomunicações59.
contra o monopólio da informação. Com a implantação da tevê de assinatu-
Para explorar a tevê de assinatura por ra por satélite, repete-se o mesmo percurso
satélite, que entrou em operação em 1996, o da tevê a cabo. As empresas Globo e Abril
grupo Globo, do empresário Roberto Mari- implantam-na, e depois de as melhores fati-
nho, e aNews Corporation, do megaempresá- as do mercado haverem sido entre elas dis-
rio Rupert Murdoch, formalizaram acordo tribuídas, em acordo, e acumulados conhe-
para a expansão, na América Latina, do cimentos técnicos e mercadológicos para a
Direct Home TV, o sistema de transmissão exploração do novo veículo, o Estado cuida
direta de TV por assinatura via satélite, pos- da regulamentação legal. É o último ato, san-
sível de ser captada por miniantenas para- cionador do fato consumado, homologador
bólicas57. Enquanto isso, o Grupo Abril as- de uma ocupação de mercado que não pode
sociou-se àHughesCommunications para lan- mais ser alterada, pois qualquer tentativa
çar o serviço em toda a América Latina, com de concorrência, daí em diante, revela-se
transmissão de 144 canais em espanhol e impensável.
português, além de 60 canais de música para O processo de implantação dessas duas
a região por meio do satélite norte-america- inovações da tecnologia televisiva não só
no Galaxy Latin American(GLA). tem apontado para a notória monopoliza-
Tais associações dos oligopólios nacio- ção da propriedade e do controle desse meio
nais com os grandes grupos estrangeiros dos massivo – anunciado como a ‘tecnologia’

212 RevistadeInformaçãoLegislativa
da democratização... – como está dificultan- sível que a televisão paga, o acesso à rede de
do o acesso à tevê das multidões que não computadores, como vimos, requer mais re-
dispõem de renda suficiente para tornarem- cursos financeiros dos usuários, o que, pre-
se telespectadores desse sistema pago de sentemente, torna-a restrita a um número
televisão. Ao elitizar o mercado, cobrando relativamente reduzido de consumidores,
taxas de ingresso e mensalidades, as tevês tomada a população em termos absolutos60.
por assinatura vedam o acesso a grandes O ideal de exclusão não é atingido pela
parcelas da população que ficarão relega- televisão aberta, mas pela Internet, o novo
das ao consumo da programação das emis- altar do saber, do conhecimento e da infor-
soras abertas, nas quais os complexos em- mação. Para os seus eleitos.
presariais deverão investir cada vez menos, Um cultuado sentimento de aparente
posto que seus canais estarão dirigidos ao igualdade de que desfrutam os usuários da
público de menor renda, e, portanto, de me- rede, é real... se pensado nos limites da pró-
nor poder de compra, determinando, já no pria rede, ou seja, se desconsiderarmos to-
médio prazo, a migração da publicidade dos aqueles não-usuários, não-partícipes
para os canais segmentados da televisão por dessa comunidade tecnológica transnacio-
assinatura. nal elitizada.
Por outro lado, a expansão dessas tec- Contrapondo-se à possibilidade teórica
nologias televisivas não implica um ingres- de um fluxo livre e irrestrito de informações
so importante de recursos na produção de no interior das redes, a realidade objetiva
programas; há pouco jornalismo, em quais- aponta para seu crescente e amplo uso co-
quer de suas formas. No geral, trata-se de mercial. A Rede é, assim, mais um negócio
repetição ou mixagem dos programas do no grande mercado. A tendência a olhos vis-
canal líder da rede de tevê aberta a que per- tos é sua apropriação pelos mesmos con-
tence o canal por assinatura. Em outras pa- glomerados dos meios de comunicação de
lavras, é quase zero o estímulo econômico/ massa, notáveis tentáculos que sucessiva-
cultural à produção televisiva ou cinemato- mente passam a abarrotar a rede com uma
gráfica nacional. Os noticiários são essen- quantidade quase ilimitada de informações,
cialmente norte-americanos e europeus, e os noticiosas e outras, geradas em seus outros
filmes, em sua maioria esmagadora, norte- meios. Por esses fornecedores de informa-
americanos. ções 24 horas, a Rede será apropriada como
Na tevê por assinatura, a língua predo- mais um canal comunicativo e lucrativo. É
minante dos canais internacionais é o in- a conquista do ‘novo’ meio pelos ‘velhos’
glês e o padrão cultural, político e estético é meios... Em outras palavras, a nova tecnolo-
essencialmente norte-americano. Uma tele- gia é absorvida pela velha tecnologia, o con-
visão que conjuga outra língua, outra cultu- teúdo da nova tecnologia é partilhado com
ra e outra estética. O fato de ser uma televi- os conteúdos da antiga tecnologia e, final-
são por assinatura, paga, serve, assim, ao mente, a promessa de democratização é subs-
projeto segmentante/elitizante/excludente. tituída pelo aprofundamento da concentra-
ção e do monopólio.
7. Internet: a comunidade No caso brasileiro, por exemplo, em que
tecnológica dos iniciados o uso da Internet está mais avançado do que
nos demais países latino-americanos, pra-
A nova tecnologia da rede de computa- ticamente todos os jornais, não só os gran-
dores – Internet –, apesar de seu potencial des jornais nacionais mas também os jor-
ampliador do fluxo de informações, não nais de província, as revistas e os magazi-
pode ser referida como um meio de comuni- nes, todos os canais de televisão e mesmo
cação de massa. Ainda mais cara e inaces- canais de rádio, estão disponíveis na Inter-

Brasília a. 37 n. 148 out./dez. 2000 213


net, como estão disponíveis a CNN e seus meio de comunicação de massa tem um pa-
diversos canais, inclusive sua rádio, inclu- pel para além de mero aparelho reprodutor
sive em uma versão em português, em tem- do Estado. Afirma-se que é agente no pro-
po real. Embora possa haver outros jornais cesso político-ideológico, com interesses
alternativos, hoje editados na própria rede, próprios (como grupo econômico que é) na
a força noticiosa pertence a esses consoli- mesa de composição dos interesses domi-
dados meios que descobrem na Internet mais nantes no seio da hegemonia de classe que
um espaço de expansão de seus respectivos controla o Estado.
impérios e de suas visões de mundo. O mai- De outra parte, esses mesmos grupos eco-
or portal brasileiro é o Universo on line nômico-financeiros, nacionais e internacio-
(UOL), resultado da fusão do web site Brasil nais, que controlam as empresas produto-
on line (BOL), do grupoAbril, com o Univer- ras e comercializadoras de informação, são
so on line (do grupo FSP), e seu projeto é atu- eles também responsáveis pelos grandes
ar em toda a América Latina. Possuiria 500 empreendimentos e pelas receitas de publi-
mil assinantes no Brasil. Mais recentemen- cidade de que depende diretamente a sobre-
te, o grupo O Globo lançou seus serviços on- vivência dos meios. A busca desenfreada
line inspirando-se nosAmerica On-line, Com- pela publicidade põe numerosos veículos
puserve e Prodigy. O crescimento desse tipo em situação de dependência em face dos
de serviço está a depender, tão-só, do au- anunciantes que chegam a ser, em inumerá-
mento do número de provedores no País e veis oportunidades, os proprietários clan-
da expansão das linhas telefônicas. destinos de muitos veículos63. Os meios de
O uso da Rede também está sendo ope- comunicação de massa são, conscientemen-
rado, de forma diferenciada e ainda tímida, te, instrumentos de expressão dos interes-
pelas emissoras de televisão aberta, para, ses dominantes, dos interesses econômicos
por meio da linguagem específica da Inter- e dos interesses políticos, e, assim, reforçam o
net, divulgar e oferecer arquivos de sua pro- reacionarismo, o conservadorismo e o discur-
gramação e noticiosos61. so único. Estão a serviço do sistema de domi-
nação no qual têm assento como agentes.
8. Globalização: a universalização da Na maioria das vezes, a globalização tem
propriedade em cruz representado a intensificação dos processos
privatistas e oligopolistas neoliberais, justi-
Crescentemente menos independente e ficados, sob novos discursos, em escala
livre, porque crescentemente integrada no mundial. Enquanto os países do Norte – o
sistema de poder, no qual ocupa espaço pró- caso europeu nos parece notório – procu-
prio, com interesses muitas vezes autôno- ram integrar desenvolvendo uma crítica
mos, a imprensa se vê ligada a poderosos política que tenta manter fortalecidas as
grupos econômico-financeiros, os quais per- identidades culturais e políticas regionais/
seguem projetos próprios, projetos econômi- nacionais, os países do Sul respondem de
cos e projetos políticos. Ela não está apenas modo enfraquecido aos requisitos dessa
a serviço do poder, como aparelho ideológi- nova ordem. Suas políticas não resultam das
co do Estado, para usar a expressão cunha- necessidades internas de suas sociedades,
da por Althusser62. Ela atua na constituição e seus acordos econômicos emergem como
do poder, ela tem assento no Olimpo, senta- subtratados a serviço de uma nova ordem
se ao lado do Príncipe, como um par. A im- mundial operada pelos países do Norte,
prensa não tem contradições com o sistema notadamente os Estados Unidos, em sua
e quando entra em conflito com o governan- política de expansão extraterritorial de so-
te é porque, antes, este entrou em contradi- berania. Mais do que uma ruptura natural
ção com o poder. Não se diz apenas que o com o mundo moderno, os novos meios,

214 RevistadeInformaçãoLegislativa
nessas realidades latino-americanas, inten- mitiu que os marxistas oficiais, ou positi-
sificam as relações históricas de subalterni- vistas, antevissem as possibilidades de em-
dade. prego desses recursos de dominação na Ale-
A informação irrelevante, a informação manha nazista e na União Soviética. E faz
fragmentada, a informação de terceiro ní- com que, hoje, uma sociologia ligeira se en-
vel, será oferecida à população brasileira, cante com os recursos da tecnotrônica, como
àquele brasileiro que puder ter o televisor entidade autônoma, e assim também sem
ligado à sua frente; mas a grande informa- olhos para ver seu papel real na sociedade
ção, instrumento de poder, será reduzida real dos homens.
àqueles que neste país puderem ter acesso Há uma tese final: o desenvolvimento
às redes de televisão por assinatura ou à tecnológico (que, aliás, sempre esteve liga-
Internet. do a estratégias políticas e militares) não é
Não sei se é possível neste país, com tais suficiente, em si, para garantir o uso dos
características, falar em opinião pública e meios em benefício do livre-fluxo da infor-
falar em democracia e democracia represen- mação, da liberdade e dos interesses das
tativa. grandes massas. Se a democratização dos
Satélites, informática, sistemas de comu- meios de comunicação é ponto de partida
nicação digitais, a promessa de interativi- para a democratização da sociedade brasi-
dade e a rede mundial de computadores e a leira (o que implica descentralização), é im-
interação Internet-televisão, a rede em tem- possível pensar em meios democráticos em
po real, mais do que a descentralização pro- sociedade autoritária. Não é a tecnologia que
metida e a interação, mais do que a liberta- define o uso, mas a política. Mas a mudan-
ção da informação dos limites dos meios, a ça no plano político depende do papel de-
realidade parece conduzir para o aprofun- sempenhado pelos meios de comunicação
damento da dominação e do controle, ali- que, no Brasil, têm locus próprio, no qual
mentando a ameaça do big-brother orwelia- desempenham papel próprio. Aqui são
no. Pois o que temos é uma comunicação agentes.
crescentemente concentradora e dirigida no
sentido Norte-Sul, centro-periferia, países
desenvolvidos-países em desenvolvimento Notas
– donde a inexistência de livre fluxo da in- 1
Tratamos da temática do autoritarismo em
formação internacional – crescentemente diversos ensaios, particularmente em Intervencio-
mundializada e antinacional, com a coarc- nismo e autoritarismo no Brasil. São Paulo : Difel,
tação do local aprofundada pelo caráter 1974, e nos artigos ‘Notas visando à fixação de um
antinacional do sistema brasileiro, depen- conceito de autoritarismo’. In: Comunicação&política,
vol. 1, n. 1, mar./mai. 1983. p. 43-52 e ‘O exílio do
dente em suas fontes ideológicas e depen- povo: alienação da história (segundas notas sobre
dente de tecnologias desenvolvidas no cen- o autoritarismo)’, ibidem, n. 8, p. 119-130.
tro do poder, reinando sobre sociedade de- 2
A noção de ‘anéis burocráticos’ está em CAR-
sigualmente desenvolvida e desigualmente DOSO, Fernando Henrique. In Autoritarismo e de-
conectada com os novos meios. mocratização. Rio : Paz e Terra, 1974, p. 208: “(…)
círculos de informação e pressão (portanto, de po-
Em mais uma experiência histórica, fica der) que se constituem como mecanismo para per-
evidente que a dominação é também um atri- mitir a articulação entre setores do Estado (inclusi-
buto da modernidade, tanto quanto o de- ve das forças armadas) e setores das classes soci-
senvolvimento tecnológico pode constituir- ais”.
se em mais um elemento de sotoposição da
3
Evidentemente, estamos citando Gramsci, para
quem a concepção de Estado comporta duas esfe-
subjetividade humana. A crença, quase reli- ras principais: “a sociedade política (que o autor
giosa, no absolutismo do potencial emanci- dos Quaderni também chama de ‘Estado em senti-
patório da ciência e da tecnologia não per- do estrito’ ou de ‘Estado-coerção’), que é formada

Brasília a. 37 n. 148 out./dez. 2000 215


pelo conjunto dos mecanismos através dos quais a toral no rádio e na tevê: a comunicalização da polí-
classe dominante detém o monopólio legal da re- tica e a carnavalização do processo eleitoral, virtu-
pressão e da violência e que se identifica com os almente extinguindo o debate e substituindo-o pela
aparelhos de coerção sob o controle das burocraci- informação fragmentada por meio de spots, que são
as executiva e policial-militar; e a sociedade civil, tanto mais perfeitos quanto mais se aproximam de
formada precisamente pelo conjunto das organiza- comerciais, de guaraná ou de cerveja, por exemplo.
ções responsáveis pela elaboração e/ou difusão de 20
BRUNE, François. Op. cit.
ideologias, compreendendo o sistema escolar, as 21
Aqui empregada no sentido corrente, de co-
igrejas, os partidos políticos, os sindicatos, as or- munidade, organizações leigas, organizações não-
ganizações profissionais, a organização material da governamentais, associações profissionais e de ca-
cultura (revistas, jornais, editoras, meios de comu- ráter corporativo, associações estudantis, sindicais
nicação de massa), etc.”. COUTINHO, Carlos Nel- e gremiais em geral.
son. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento políti- 22
McCHESNEY, R. W. ‘The global media giants:
co. Ed. amp. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, the nine firms that dominate the World’. Extra!New
1999. p. 127. York, N.Y., v. 10. n. 6, 1997. p. 12-13 apud BIER-
4
Fonte: IPEA, do Ministério do Planejamento. NAZKI, Willians E. Globalização da comunicação.
5
Fonte: Banco Mundial In: Comunicação & educação, [S.l. : s.n.], a. 7, set/
6
‘L’opinion publique n’existe pas’. In: Questions dez. 2000, p. 49.
de sociologie. p. 222-235. 23
Idem.
7
MIGUEL, Luis Felipe Miguel. Mito e discurso 24
GERSHON, R.A. The transational media corpo-
político. Campinas : Imprensa Oficial-Editora da ration: Global messages and free market competition.
Unicamp, 2000. p. 82. Mahwah, N.J.: Lawrence Erlbaum Associates, 1997,
8
Estudamos essas questões em AMARAL, apud BIERNAZKI, Willians E., cit. p. 55. SINCLA-
Roberto. Controle das eleições e informação: o pa- IR, JACK e CUNNIGHAM (eds). New patterrns in
pel dos meios de comunicação de massa. In: global television: Peripheral vision. Oxford : Oxford
Comunicação&política. [S.l. : s.n.], n. 2, mai./ago. University Press, 1999, trabalham sobre o papel da
2000. p. 146-159. televisão influenciando mudanças e mudando pa-
9
A referência ao jornal paulista é puramente íses e povos.
aleatória e não procura acentuar qualquer particu- 25
Cf. WINSECK, D. Gulf War in the Global Vi-
laridade. Trata-se, o modelo de conduta em exame, llage: CNN, Democracy, and the Information Age.
de prática comum a toda a imprensa brasileira. p. 60-74 citado por DEMERS, François. Crisis del
10
BRUNE, François. A era da passividade. Le Estado nación y comunicación politica interna. In:
Monde Diplomatique. Ed. bras. Ano 1, n. 3. MOUCHON, Jean et alli. Comunicación y política.
11
Referimo-nos evidentemente, ao ‘Fantástico’, Barcelona : Gedisa Editorial, 1998. p. 297.
da Rede Globo de Televisão. 26
Associated Press (AP) e United Press Internati-
12
LIMA, Venício A. de. Cobertura jornalística, onal (UPI).
opinião pública e democracia (versão xerográfica). 27
Agence France Presse (AFP).
13
BOURDIER, Pierre. A opinião pública não 28
Reuters.
existe. In: THIOLLENT, Michel, (org). Crítica meto- 29
ALBERT, M. Capitalisme contre capitalisme.
dológica, investigação social e enquete operária. São Paris Editions Seuil, 1991.
Paulo : Polis, 1980. 30
Neste sentido observa DEMERS, François.
14
Manifestes Médialogiques. Paris : Gallimard, Crisis del Estado nación y comunicación politica
1994. interna, apud GAUTHIER, GOSSELIN e MOU-
15
Comunicación y sociedad. [S.l. : s.n.], n. 30, mai./ CHON (organizadores) Comunicación y politica. Bar-
ago. 1997. p. 303-316. celona : Gedisa Editorial, 1998. p. 302: “Los objeti-
16
Desenvolvemos esse tema em A contradição vos nacionales que siguen [os Estados], por ejem-
público versus privado e a construção da realidade plo em matéria de idioma y cultura, entran aí, sal-
pelos meios de comunicação de massa. In: vo en el caso de los países dominantes, en contra-
Comunicação&política. [S.l. : s.n.], n. 1,2, mai./jun. dicción con las tecnologías supranacionales y los
1984. p. 53-62. mercados globales, y por lo tanto con los intereses
17
BELUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. Demo- de las grandes corporaciones. Por otra parte, a lo
cracia na América. In Folha de São Paulo. 02.09.2000. largo de las últimas décadas las redes de comuni-
18
O analfabetismo atinge 15,8 milhões de pes- cación internacional de estas grandes empresas han
soas no Brasil (dados de 1997), o que corresponde estado realizando un trabajo de zapa constante de
a 14,7% de sua população (Fonte: Almanaque Abril las fronteras nacionales”.
2000. 26. ed. São Paulo : Abril, 2000). 31
Fonte: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia
19
Outra coisa é a aplicação dessas técnicas à e Estatística.
campanha eleitoral, basicamente à campanha elei- 32
Fonte: Almanaque Abril, op. cit.

216 RevistadeInformaçãoLegislativa
33
Ibidem. cada – IPEA. O órgão governamental brasileiro con-
34
Cf. FSP, 15.10.2000, suplemento TVFolha, p. sidera pobres aqueles que possuem uma renda fa-
6. Segundo a mesma fonte, reportando-se a pes- miliar per capita inferior a meio salário mínimo. Em
quisa da empresa PTS – Pay-TV Survey, o Brasil 2000, esse salário mínimo correspondia a 83 dólares.
possuiria 3.164.853 assinantes. 53
Esses dados foram retirados do ‘Relatório
35
Cf. Grupo Abril inaugura TV digital. InJornal sobre Desenvolvimento Humano’, divulgado no
do Brasil. Ed. 21.06.96. p. 19 e Pesquisa traça perfil Brasil pela ONU e pelo Instituto de Pesquisa Eco-
de quem assiste à NET. O Globo. Idem, p. 25. nômica Aplicada – IPEA, do Governo Federal.
36
Fonte: Direct TV. 54
Um estudo sobre o papel da televisão mol-
37
Cf. Guia de Programação Net. Ano 7. n. 8, out. dando o fato político: GUIMARÃES, Roberto;
2000. AMARAL, Roberto. ‘La televisión brasileña: una
38
A Globosat anunciou a compra de 25% do rápida conversión al nuevo orden’. In FOX, Elizabe-
Canal ESPN Brasil de que resultou a criação do th. Medios de comunicación y política en América Lati-
canal de esportes ESPN Fox Sports, numa parceria na. Ediciones C. Gili. S.A.: México, 1989. É vasta a
com a ESPN e a Fox. Cf. FSP, 19.10.2000, p. E10. literatura nesse sentido. Ver, entre outros muitos,
39
Cf. TVA. 2000/Ano 9, n. 107 e www.tva.com.br BOURDIER, Pierre. Sobre la televisión e Contrafuegos
40
Cf. Guia de Programação Net. Ano 7. n. 80, out. (edis. cits), RAMONET, Ignacio. La Tyrannie de la
2000. communication (cit), PAOLOZZI, Vitor. Murro na cara-
41
LANDO, Vivien. Regalos da tevê a cabo. Ga- o jeito americano de vencer eleições. Ed. Objetiva. S.
zeta Mercantil. 1º.10.2000, p. 17. Paulo.1996, AMARAL, Roberto (Coord). FHC: os
42
Fonte: Almanaque Abril, op. cit. paulistas no poder. Casa Jorge Editora. Rio. 1995,
43
Fonte: Nielsen/NetRatings. In: Gazeta Mer- MIGUEL, Luis Felipe. Mito e discurso político. Edito-
cantil. Ed. do Rio, 18.9.2000, p. 6. ra da Unicamp. Campinas. 2000.
44
Fonte: Almanaque Abril, op. cit. 55
O Brasil foi um dos últimos países da Améri-
45
Cf. CHARLAB, Sérgio. Entidade infalível e ca Latina a instalar serviços de tevê por assinatura,
indomável. In: Jornal do Brasil. Ed. 12.05.96. p. 18. após a Argentina, a Colômbia, a Bolívia e a Vene-
46
Cf. ZAPPA, Regina. A vez da inteligência na zuela.
Internet. In: Jornal do Brasil, 15.5.96, p. 18. 56
In Relatório, op. cit.
47
A Media Metrix, empresa norte-americana es- 57
A associação da Globo (54%) com a News
pecializada em medição de audiência na Internet, Corporation, de Murdoch (36%), e a PCI, maior em-
divulgou a lista dos 25 domínios mais visitados no presa de tevê a cabo paga dos EUA (10%), visa a
Brasil: quinze são norte-americanos, seis brasileiros controlar o mercado latino-americano, estimado em
(entre eles o Ministério da Fazenda), dois espanhóis 30 milhões de usuários.
e dois portugueses. Cf. Gazeta Mercantil. Op. cit. 58
As autoridades do Ministério das Comunica-
Apenas um terço dos internautas brasileiros que ções, no entanto, reconhecem que a principal difi-
têm acesso à Internet em suas residências visitam a culdade do governo está em analisar e identificar a
Web. Cf. FSP, 19.10.2000, p. B4. composição acionária de cada empresa: ‘São gru-
48
Cf. RAMONET, Ignacio. La Tyrannie de la com- pos empresariais que formam estruturas muito
munication. Paris : Galilée, 1999. p. 109. complexas’.
49
Fonte: Morgan Santley & Co. In Jornal do Bra- 59
Tramita no Congresso Nacional projeto de
sil. 12. 05.96. p. 18. emenda constitucional permissiva da presença de
50
O Censo Demográfico de 2000, ainda não capital estrangeiro no controle acionário de empre-
divulgado oficialmente, estima a população brasi- sas nacionais de comunicação, vedada pela Cons-
leira em 167 milhões de habitantes. tituição de 1988.
51
Relatório de Desenvolvimento da Humanidade. 60
A própria rede encarrega-se de interrogar-se
ONU. 1999 (Fonte: O Globo, 11.7.1999). Há diver- sobre o perfil de seus usuários por meio de formu-
gências quanto a esse número. Segundo o IBOPE lários eletrônicos na WWW. Há duas pesquisas di-
(Fonte: www.ibope.com.br/digital/produtos/internet), vulgadas no site da Survey Net, cujos resultados
os usuários brasileiros somariam, em outubro de foram obtidos a partir da resposta a 5.098 questio-
2000, 4,8 milhões, a saber, pouco mais de 3% da nários respondidos através da própria rede, e uma
população. Ou seja: ainda um quase nada. Segun- outra do Instituto de Pesquisa Nielsen, que entre-
do Rafael Tonelli, da Apek Telecom, “cerca de 58% vistou mil usuários nos Estados Unidos e no Cana-
das pessoas que acessam a Internet ainda não pos- dá. Embora as pesquisas possuam diferenças de
suem computador em casa. E as que possuem re- abrangência e rigor, permitem traçar um perfil do
presentam a ínfima porcentagem de 3% da popu- usuário dominante da Internet: possui de 26 a 30
lação brasileira” (Cf. ‘Orelhão.com’, Ícaro Brasil, n. anos; pertence ao sexo masculino; tem formação
194, out. 2000, p. 22). superior e trabalha; utiliza em primeiro lugar o
52
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Apli- WWW e em segundo o e-mail; utiliza a Internet

Brasília a. 37 n. 148 out./dez. 2000 217


para aquisição de informação. Em resumo: usuári- 62
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos do
os com qualificação cultural e financeira. Estado: posições 2. Rio de Janeiro : GRAAL, 1980.
61
SINCLAIR et alli, op. cit., p. 6, observam que p. 62.
a televisão foi reforçada pela introdução das novas 63
ROMANET, Ignacio. Médias en danger. Le
tecnologias que pareciam suas concorrentes. Monde Diplomatique. [S.l. : s.n.], fev. 1996.

218 RevistadeInformaçãoLegislativa

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