2005/2006
A SOCIEDADE DA COMUNICAÇÃO
MÁRIO MATOS
Nº 18672 CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
A sociedade da comunicação pág. 2/8
ÍNDICE
I. Introdução
Os mass media nem sempre surtiram tanto efeito na sociedade como aquele que
provocam actualmente. Prova disso era a importância minoritária dos meios de comunicação
antes da chamada Revolução da Imprensa que veio, acima de tudo, permitir o acesso de um
número maior de pessoas à leitura, aos livros a um baixo preço (conseguido pela impressão
em massa dos textos).
A tipografia clássica baseava-se em pequenas peças de madeira ou metal com relevos de
letras e símbolos – os tipos móveis. Havia já tipos rudimentares, inventados inicialmente
pelos chineses. Mas, no século XV, foram redescobertos, por Johann Gutenberg, com a
invenção da prensa mecânica. A diferença entre os tipos chineses e os de Gutenberg é que os
primeiros não eram reutilizáveis. A reutilização dos mesmos tipos para compor diferentes
textos mostrou-se eficaz e é utilizada até aos dias de hoje, constituindo a base da imprensa
durante muitos séculos. Essa revolução que deu início à comunicação em massa intitulada de
era do “homem tipográfico”1 por Marshall McLuhan, uma era que prima pela impressão
massiva de textos, baixando inevitavelmente os custos e tornando a leitura acessível a um
campo mais amplo da sociedade e não a restringido a uma elite.
1
“The Gutenberg Galaxy: The Making of Typographic Man”, McLuhan,Marshall, University of Toronto Press,
1962
A sociedade da comunicação pág. 4/8
Esta revolução veio modificar o rumo da sociedade que, consequentemente, tem vindo a
atribuir cada vez mais importância aos mass media à medida que estes se vão desenvolvendo,
adaptando-se aos tempos e constituindo, simultaneamente, um modelo de adaptação.
2
“A integração e os meios de comunicação social”, Oliveira, J.M.P., Lisboa, Análise Social, ICS 1992
3
“A sociedade da informação”,Lyon, D., Oeiras, Celta, 1998, 2ª Edição
A sociedade da comunicação pág. 5/8
mundo Ocidental a percentagem de famílias com acesso a estas novas tecnologias é tão
elevada que constituem um importante meio de veiculação.
A confluência de interesses entre o sector industrial, do poder, da informação, dos
serviços e redes de comunicação levou à conversão de empresas multinacionais de
informática em empresas de informática e comunicação. Confluência de interesses essa que
leva a que a produção dos mass media se oriente mais para o economicamente viável do que
para uma produção qualitativamente satisfatória. Os meios de comunicação, tal como as
fábricas, desenvolvem-se em sectores que visam o maior volume de compradores possível
para alargarem/criarem as suas redes gigantescas. A concentração e internacionalização
caracterizam os media contemporâneos tal como a maioria das indústrias, mas “o mundo da
informação é singular, na medida em que, ao contrário das outras indústrias, o seu principal
objectivo não é fazer dinheiro”4 mas sim reproduzir a cultura, divulgar, informar, tornar
público. A relação entre os mass media e o poder é resultante desta confluência de interesses.
A posse de um meio de comunicação traz fama, reconhecimento público, credibilidade ao seu
possuidor e, em sociedades caracterizadas pela inconstância do poder, na contínua competição
por este, o controlo de um meio de comunicação representa uma mais valia, uma fonte de
influência.
A sociedade contemporânea é caracterizada pela chamada cultura de massas, isto é, por
“um conjunto de bens culturais produzidos e consumidos em escala industrial no seu interior e
articulado num sistema próprio”5 em que emergem duas dimensões: o sujeito e a forma de
produção de bens culturais e o sujeito e forma do seu consumo. Pertencendo a estas
dimensões, o homem social contemporâneo vive em constante anonimato, anulação do seu
“eu”, descaracterizado, guiado pela relação que mantém com a cultura de massas, uma relação
em que, mesmo pensando que não, ele é um mero peão controlado pelo jogador de xadrez que
o move consoante quer, apresentando-lhe não escolhas do que possa ser, mas o que deve ser
consumido. O homem da cultura de massas é um ser moldável e moldado ao que se pretende
vender, divulgar. Mas, curiosamente, esta cultura de massas não é criada pela massa da
sociedade (a força do trabalho, o povo), mas antes pelos meios de comunicação que
transmitem os modelos que as classes superiores praticam, tentando veicular um sistema de
valores de certa forma homogéneo e genericamente praticados. Uma transmissão de valores
que assenta no apoio de instituições sociais (como a escola, nos mais jovens). Esta é mais uma
das funções dos meios de comunicação social, a juntar à sua tarefa igualmente crucial de
4
“Mass Media”, Sorlin, P. Oeiras, Celta, 1997, 1ª Edição
5
“Comunicação e Culturas do Quotidiano”, Ferin, Isabel, Editora Quimera, 2002
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manter a sociedade informada e acordada para o que a rodeia e para os acontecimentos que
sucedem um pouco por toda a parte, uma função de “anular a narcose”6 em que a sociedade
está num determinado momento, manter o “actor social” desperto e atento ao mundo que o
rodeia e o estimula.
Nos nossos dias o poder de evolução e constante adaptação a novas realidades é uma das
características que os mass media devem ter para perdurarem e prosperarem no tempo e na
economia na sociedade capitalista moderna. Actualmente só as grandes companhias
internacionais dispõem dos recursos necessários à promoção “comercial” e só com os lucros
de contratos comerciais se consegue produzir comunicação, daí que muitos meios de
comunicação optem pelo que mais atrai mesmo não tendo qualidade. Se vender produz-se,
transmite-se: é uma das máximas dos mass media modernos.
A comunicação obedece, à escala mundial, a estratégias e modelos que, à medida que a
comunicação evolui, vão transformando a escolha progressivamente num campo mais restrito,
vão sendo cada vez menos as opções de escolha do homem comum e tudo isto “em prol da
vitória no feroz campo de batalha que é a competição comercial (…) favorecendo a
rentabilidade”7.
Um dos pontos mais nevrálgicos dos mass media é a “ilusão da proximidade”8 criada
nas pessoas menos atentas, isto é, a sensação de que o que nos é contado aconteceu dessa
forma e não de outra, de que os mass media nos transmitem a verdade, mas existe já uma
clara consciência de que há uma grande discrepância entre o que acontece todos os dias e o
que é contado. O que não retira credibilidade aos meios de comunicação que verdadeiramente
o são, mas leva-nos a ter mais cuidado na selecção dos assuntos a que atribuímos
credibilidade. Sem os media ignoraríamos de forma mais imediata o que está a acontecer à
nossa volta, embora nos forcem a apercebermo-nos das coisas através dos seus
“preconceitos”, que cada vez mais frequentemente provocam reacções hostis contra o
sensacionismo da imprensa ou da televisão devido às suas representações enganadoras do
real.
Hoje em dia, tal como qualquer produto, os itens vendidos pelos mass media estão
condicionados pela evolução tecnológica, pelo grau de estandardização e aumento da procura,
mas aqueles que detêm o poder dos mass media usam-no para fortalecer o seu domínio
6
, “Understanding Media: The extensions of man”, McLuhan, Marshall, 1964, Londres, Sphere Books
7
Ibidem 3, pág. 3
8
Ibidem, 4, pág. 3
A sociedade da comunicação pág. 7/8
9
Veja-se o caso do (ex) primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi (2001-2006) dono de uma cadeia de
comunicação e negócios (a segunda maior da Itália, depois da Fiat, com três canais televisivos e publicações
escritas) e presidente do ACMilan (desde 1986) que utilizou em todas as suas campanhas ploíticas os meios de
comunicação que detém para publicitar a sua imagem. Actualmente é o homem mais rico de Itália, o número 25
mundial
10
Ibidem, 6, pág. 4
11
Crespi, Franco, citado em Rodrigues, Donizete, “Introdução à Sociologia da Comunicação”, Universidade da
Beira Interior, 2004
A sociedade da comunicação pág. 8/8
Bibliografia Activa
(ordenada alfabeticamente por título)
ICS 1992;
Interior, 2004
“The Gutenberg Galaxy: The Making of Typographic Man”, McLuhan, Marshall, University
“Understanding Media: The extensions of man”, McLuhan, Marshall, Sphere Books, 1964,
Londres
Bibliografia Passiva
(ordenada alfabeticamente por referência)
participações abaixo dos 40 por cento”, M.F., Agência Lusa, Maio de 2006,