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A Comunicação

Paulo Henrique da Silva Santiago


Bacharel em Comunicação Social com habilitação
Comunitária em vista
em Jornalismo pela Ufac; especialista em Filosofia
dos Direitos Humanos pela Fadisi.
da defesa dos Direitos
Humanos: um estudo de
caso da Rádio
Comunitária Gameleira
Francisco Raimundo Alves Neto
Doutor em Educação pela UFMG; professor adjunto 87,9 FM
do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas
da Ufac.
Este artigo objetiva analisar a
importância desse veículo na
construção identitária dos
moradores do bairro 6 de
Agosto, e a sua contribuição
para o fortalecimento da
defesa dos Direitos Humanos
na cidade de Rio Branco
Objetivo
OUTRAS VIAS DE COMUNICAÇÃO:
POPULAR, ALTERNATIVA E
COMUNITÁRIA

A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA
COMO MECANISMO DE DEFESA DOS
DIREITOS HUMANOS E DA CIDADANIA

AS RÁDIOS COMUNITÁRIAS: UM
MODELO CONTRA-HEGEMÔNICO DE
Tópicos COMUNICAÇÃO NA AMAZÔNIA
COMUNICAÇÃO
HEGEMÔNICA
X
COMUNICAÇÃO
CONTRA-HEGEMÔNICA
O duelo
Com objetivos reivindicatórios, esse
modelo procura burlar a censura
imposta por regimes opressores, em via
de transmitir a mensagem de um grupo
ao maior número de pessoas e atrair o
público receptor para a causa
reivindicada.

COMUNICAÇÃO
ALTERNATIVA
O conceito alternativo parece apontar
para uma contraposição à comunicação
massiva, enquanto que o conceito
popular diz respeito à inserção num
contexto alternativo de luta que visa
estabelecer uma nova sociedade a partir
da ótica das classes populares (GOMES,
1990 apud VOLPATO, 2014, p. 225).

COMUNICAÇÃO
ALTERNATIVA
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2015/12/dom-helder-cama
poderia-ter-vencido-nobel-da-paz-revela-dossie.html
Dentro das próprias CEBs nasce uma rede de
comunicação popular identificada por Frei Betto
(1986, p. 106) como uma “multiplicidade de
boletins diocesanos, folhetos litúrgicos, literatura
de cordel, cadernos de formação, elaborados
pelos próprios militantes do meio popular”.
Preparada pelos próprios agentes pastorais, em
mimeógrafos ou off-set, e com certa participação
da “comunidade” na sugestão de temas, textos,
ou mesmo com críticas, essa rede de
comunicação serviu como incentivadora de
COMUNICAÇÃO alguns movimentos que reuniam integrantes das
POPULAR classes subalternas em torno de algumas
reivindicações de cunho social (VOLPATO, 2014,
p. 226).
Esse modelo de comunicação expande como
válvula de escape pós-ditadura militar, no
intuito de dar mais atenção aos anseios das
comunidades em relação a falta de políticas
voltadas aos mais pobres, à multiplicação de
agentes, à veiculação de informações além
do interesse estatal, e até para a efetivação
de direitos básicos como à educação através
de círculos de estudo e programas
radiofônicos de alfabetização.
COMUNICAÇÃO
POPULAR
Já a comunicação comunitária tem
como característica fundante o espaço,
a região em que se estabelece e a
participação popular em sua construção
e administração. Para esse modelo o
importante não é atingir a massa, mas
abranger de forma ativa o território ao
qual se destina, em geral um bairro,
assentamento, conjunto habitacional e
COMUNICAÇÃO outras formas de organização social.
COMUNITÁRIA
Considera-se que a comunicação comunitária, neste
início de século, baseia-se em princípios público-
democráticos, de pluralidade, originados de
motivações diferentes em relação às da mídia
comercial – que tem suas motivações instituídas no
lucro, promoção de interesses particulares, promoção
política, etc. – pois possui proposta social, de
mobilizar para mudar, está antenada à realidade local,
preocupada em fomentar a cidadania, a educação e o
desenvolvimento local, cultural, social e humano.
Pode romper com o sistema clássico de comunicação
(emissor → receptor) porque viabiliza canais de
COMUNICAÇÃO participação, propiciando ao receptor a atuação como
emissor e vice-versa, tornando possível o acesso e a
COMUNITÁRIA livre expressão dos cidadãos por meio de veículos de
comunicação (VOLPATO, 2014, p. 226).
Na Declaração Universal dos Direitos
Humanos (2009, p. 10) – promulgada
em 1948 -, em seu 19º artigo,
subscreve-se o seguinte: “Todo ser
humano tem direito à liberdade de
opinião e expressão; este direito inclui
Comunicação a liberdade de, sem interferência, ter
Comunitária e opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por
Direitos quaisquer meios e independentemente
Humanos de fronteiras”.
A presença de instrumentos de
comunicação forjados pela própria
população ganham significado singular
e fortalecem a identidade do povo
residente, porque o princípio que os
baliza não é o desejo por lucro, mas as
Comunicação experiências que geram cidadãos
Comunitária e críticos, autônomos e
sociopoliticamente ativos.
Direitos
Humanos
Podem facilitar a valorização das identidades
e raízes culturais. Exemplo: dar espaço para
manifestações dos saberes e da cultura da
população: da história dos antepassados, das
lendas às ervas naturais que curam doenças.
Podem servir de canal de expressão dos

Comunicação artistas do lugar que dificilmente conseguem


penetrar na grande mídia regional e nacional.
Comunitária e Podem informar sobre como prevenir
doenças, sobre os direitos do consumidor,
Direitos acesso a serviços públicos gratuitos (registro

Humanos de nascimento) e tantos outros assuntos de


interesse social (PERUZZO, 2000, p. 661).
A grande mídia, especialmente em
suas filiais, passou a exibir mais
conteúdos de interesse das
macrorregiões, numa tentativa de criar
familiaridade com o espaço. “Explora o
local enquanto nicho de mercado, ou
Comunicação seja, os temas e as problemáticas
Comunitária e específicas da localidade interessam
enquanto estratégia para se conseguir
Direitos aumentar a credibilidade e a audiência,
Humanos e consequentemente obter retorno
financeiro” (PERUZZO, 2003, p. 11).
No ano de 1998 o Centro de Defesa dos
Direitos Humanos e Educação Popular
do Acre (CDDHEP), cediado no bairro 6
de Agosto, pleiteou a concessão de
uma rádio comunitária para a
localidade. A Coordenação do Centro
reuniu cerca de 20 entidades da
sociedade civil. Participaram
Rádio conselheiros de escolas, lideranças das
igrejas católica, evangélica e espírita,
Comunitária associações de moradores, ONGs e
sindicatos.
Gameleira
A rádio iniciou a operação no ano
seguinte, 1999, mas de forma irregular,
popularmente conhecida como “rádio
pirata”, modelo em expansão na
época.

A concessão só foi conquistada em 25


de maio de 2009, onze anos após o
Rádio pedido de licença, por meio do
Departamento de Outorga e Serviços
Comunitária de Comunicação Eletrônica do
Ministério das Comunicações.
Gameleira 18
A participação e contribuição de
estudantes também foi de grande
importância na história da Rádio
Gameleira, praticamente eram eles quem
conduziam a programação. A Escola João
Mariano, do bairro Taquari, se destacou
como uma das principais parceiras da
rádio. Vários alunos contribuíam com a
programação, tanto na construção de
Rádio roteiros para os programas quanto na
apresentação e sonoplastia. Essa
Comunitária interação, segundo Peruzzo (2000),
propicia aos jovens outro olhar.
Gameleira
Da condição de receptores os
moradores passam a emissores,
responsáveis diretos pela mensagem e
administração da rádio, tarefas que
exigem dedicação e compromisso
social. Todas as fases para a construção
de um material de cunho jornalístico
ou de entretenimento são realizadas
Rádio pelos próprios voluntários, e muitas
vezes sem qualquer ajuda profissional,
Comunitária apesar desta ser importante na
capacitação dos comunicadores
Gameleira comunitários.
O capital e as igrejas evangélicas se
tornaram os vilões da autonomia prevista às
rádios comunitárias.

Apesar das igrejas fazerem parte das


comunidades e, em muitos casos,
colaborarem para o desenvolvimento social
de espaços periféricos, o uso de uma rádio
comunitária para fins de “catequese” é

Rádio vedado pela lei que regulamenta o serviço


(nº 9.612/98). No artigo 4º, inciso IV,
Comunitária parágrafo 1º, diz: “É vedado o proselitismo
de qualquer natureza na programação das
Gameleira emissoras de radiodifusão comunitária”
(BRASIL, 1998, online).
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A Rádio Gameleira, veículo que já faz
parte da história do bairro 6 de Agosto e
demais bairros do 2º distrito da cidade,
contribuiu ao longo de sua existência
para o fortalecimento de políticas sociais
voltadas às comunidades em que ela
alcança. Infelizmente as dificuldades
financeiras e de estrutura a fizeram se
render à mercantilização de sua grade

CONCLUSÃO para igrejas evangélicas e radialistas que


não tinham mais espaço em rádios
comerciais.
Não só no Acre, mas em todo o país as
rádios comunitárias e outras ferramentas
de mesma ordem sofrem com falta de
incentivos, por isso a adoção de políticas
públicas voltadas a estes veículos é um
passo urgente e imprescindível. O diálogo
com as ONGs, associações, sindicatos,
escolas e outros grupos também é
essencial para organizar o Conselho

CONCLUSÃO Comunitário, instrumento exigido pela Lei


9.612/98, responsável pela gerência de
uma rádio que siga o modelo em questão.
Por fim, as iniciativas de
comunicações alternativas
desvinculadas do sistema comercial
continuam indispensáveis. Espaços
assim são necessários para uma
releitura do status quo de vida em
sociedade, e enquanto eles existirem e
CONCLUSÃO resistirem haverá sentido na luta pela
democratização da comunicação.
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