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FACULDADE DIOCESANA SÃO JOSÉ

PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS

PAULO HENRIQUE DA SILVA SANTIAGO

A Escola como lócus privilegiado de formação em Direitos Humanos

Trabalho apresentado ao Curso Filosofia dos


Direitos Humanos da Fadisi – Faculdade
Diocesana São José, para a disciplina Educação e
Direitos Humanos.

Prof. Me. Mário Roberto Torres

Rio Branco - Acre


Novembro de 2018
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A Escola como lócus privilegiado de formação em Direitos Humanos

Paulo Henrique da Silva Santiago¹

Em tempos de extremismo político-partidário e discursos de ódio, os Direitos


Humanos (DHs) ganharam destaque em todos os âmbitos da sociedade, fosse por
debates acadêmicos, exposição midiática, locuções políticas ou nas conversas informais.
No campo da educação não poderia deixar de ser diferente, já que a formação para a
cidadania plena e autônoma passa por um intrínseco conhecimento dos direitos
individuais e coletivos adquiridos ao longo da história dos povos no mundo.

O tema do acesso à educação como direito básico de um ser humano é debatido


desde a formulação da carta magna que rége o convívio social e fraterno no mundo, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Criada após a Segunda Guerra
Mundial (1939 - 1945), o documento é a convenção mundial mais importante
protocolada no século XX, tendo por finalidade impedir a volta das atrocidades
cometidas nas grandes guerras, entre elas o holocausto nazista contra judeus.

Mais à frente os olhares são voltados não apenas para a educação básica como
princípio da dignidade humana, mas uma educação focada nas primícias dos Direitos
Humanos, logo, sendo ela inclusiva, voltada à igualdade entre os grupos e gerações, de
ordem global e permanente. Esse segmento fica mais claro com a Declaração das
Nações Unidas sobre a Educação e Formação em Direitos Humanos (2011) que, no
Brasil, resulta nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos
(EDH/2012), composta por treze artigos.

A carta nacional é baseada em sete princípios, sendo eles: dignidade humana;


igualdade de direitos; reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades;
laicidade do Estado; democracia na educação; transversalidade, vivência e globalidade;
e sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2012, p.1). Estes pilares fundamentam a
ação da resolução na educação básica e na educação superior.

¹Paulo Henrique da Silva Santiago, acadêmico da especialização em Filosofia dos Direitos Humanos pela Faculdade
Diocesana São José (Fadise).
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O dispositivo serve como importante instrumento para o fomento de projetos


político-pedagógicos voltados à implementação da educação em DHs nas escolas. Para
além do caráter estatutário, outros documentos como o Programa Nacional de Direitos
Humanos (PNDH/2009) e o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
(PNEDH/2006) levantam imprescindíveis elementos que contribuem na formação
humanista do cidadão, como assinalam as professoras Angela Fernandes e Melina
Paludeto (2010).

A educação ganha, portanto, mais importância quando direcionada ao pleno


desenvolvimento humano e às suas potencialidades, valorizando o respeito
aos grupos socialmente excluídos. Essa concepção de educação busca
efetivar a cidadania plena para a construção de conhecimentos, o
desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos, além da defesa
socioambiental e da justiça social (FERNANDES; PALUDETO, 2010, p.
241).

As autoras exploram a essência da educação voltada aos direitos fundamentais,


convergida num mecanismo de promoção dos ideais que nortearam a Revolução
Francesa (1789 - 1799) e os pensadores iluministas: liberdade, igualdade e solidariedade
(fraternidade). A partir desses pilares os Direitos Humanos são erguidos e, logo, a
expansão de suas convicções por meio das estruturas formais e informais de educação.

A escola, enquanto espaço formal de educação continuada, é o ambiente mais


propício para o engajamento na formação em Direitos Humanos, sobretudo por fazer
parte da construção de caráter do cidadão. Todavia, a construção histórica desse espaço
não foi igualitária, logo, a escola precisa de transformações que lhe permita acolher os
diferentes grupos sociais sem distinções culturais ou econômicas.

O professor José Carlos Libâneo (2012) aponta dois modelos de escola que, por
suas conjunturas, dificultam o cumprimento dos ideais humanistas: a escola do
conhecimento, voltada para os ricos; e a escola do acolhimento social, voltada para os
pobres. De um lado Libâneo introduz uma escola fincada no conhecimento, na
tecnologia, que estabelece relações superficiais entre os profissionais da educação, os
alunos e seus responsáveis. No outro extremo está a escola voltada aos pobres, com o
papel, intrínseco, de prestar assistência social às crianças/adolescentes em
vulnerabilidade e suas famílias, além de integrar organismos social em prol do
desenvolvimento de seu público.
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As diferenças entre os dois modelos de escola reflete que “o modo de produção


capitalista tornou a educação um instrumento de reprodução das desigualdades inerentes
ao sistema de classes” (FERNANDES; PALUDETO, 2010, p. 240). Esse prognóstico
desmonstra o descaso com a educação e aqueles a quem ela deveria beneficiar de forma
libertadora. O capital comanda o que devia ser assegurado como direito básico e
universal da humanidade, uma educação integral e sem privilegiados.

Educar em Direitos Humanos vai além do seguimento cronológico de uma grade


curricular recheada de conteúdos, também passa pelo acompanhamento integral da
escola com a família e a comunidade, num processo de formar para a mudança social. O
alinhamento dos segmentos citados, ao qual o aluno convive diariamente, é a junção
adequada para o pleno desenvolvimento das práticas de formação humanista.

A convergência entre escola-família-comunidade é um princípio de gestão


democrática, pilar fundamental do modelo de educação em Direitos Humanos. Por meio
do trabalho conjunto e compartilhado, os atores sociais da educação de uma criança ou
de um jovem obtém resultados mais concretos e permanentes.

De modo geral, a educação em Direitos Humanos tem o objetivo de propiciar


reflexões e experiências, ambas voltadas à construção de cidadãos defensores da vida
em seus mais variados aspectos. Nesse sentido a escola, enquanto lócus privilegiado,
tem o papel de criar ferramentas para o engajamento de pautas humanistas em suas
turmas, apoiada pelo Estado enquanto agente que dá condições para o pleno
desenvolvimento desse modelo.

É sabido que ainda falta muito para universalizar a educação em Direitos


Humanos e, principalmente, da forma adequada, com profissionais capacitados,
integração extra escolar e espaços confortáveis, porém, a militância de profissionais da
educação, gestores, alunos, pais e outros atores sociais é essencial para que esta pauta
não seja esquecida pelos estados e pela união, e avance, mesmo que a passos lentos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Resolução nº 1, de 30 de maio de 2012. Diretrizes Nacionais para a


Educação em Direitos Humanos. Diário Oficial da União, Brasília, 30 de mai. 2012.
FERNANDES, Angela Viana Machado; PALUDETO, Melina Casari. Educação e
Direitos Humanos: Desafios para a Escola Contemporânea. Cad. Cedes, Campinas,
vol. 30, n.81, p. 233-249, mai. – ago. 2010.

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