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Gerência de Pesquisa e Pós-Graduação


Curso de Pós-Graduação Lato Sensu
DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADES

Acadêmico(a): Maria Elisabete Marchi Pereira

Educar sobre, para e por meio dos Direitos Humanos na escola plural:
desafios e possíveis caminhos.

Itajaí, 25 de setembro de 2020.


Qual o maior desafio de introduzir os Direitos Humanos na Educação da escola plural e
qual o caminho mais assertivo para isso?

Os Direitos Humanos vivem em constante mudança trazendo evoluções em seus


dizeres, a falta de introdução deste assunto no ensino do cidadão, compromete seu poder
para cobrar seus direitos de maneira eficiente. A necessidade de educandos com essa
formação para ensino se torna essencial na escola moderna, tendo como base os
fundamentos da pluralidade para atingir toda a sociedade.

Para entendimento desse assunto é necessário reforçar que a Educação é direito


universal e indispensável para exercício da cidadania, conforme é afirmado na
Resolução nº 4, de 13 de julho de 2010, artigo 5º:

A Educação Básica é direito universal e alicerce indispensável para o exercício da


cidadania em plenitude, da qual depende a possibilidade de conquistar todos os
demais direitos, definidos na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), na legislação ordinária e nas demais disposições que consagram
as prerrogativas do cidadão (2010, p. 2 grifos do autor).

Seguindo esse princípio se vê a necessidade de incluir os Direitos Humanos na


educação para que todos tenham ciência de seu papel na sociedade e saibam cobrar a
sua base essencial de desenvolvimento.

Com esse desafio levanta-se a questão se as escolas básicas brasileiras estão apropriadas
para passar essa educação de maneira diversificada atingindo todos os públicos,
independente de gênero e raça. A escola tem que facilitar a ação de capacitar às pessoas
seguindo seus direitos e desenvolve-las com base em inovação, inserindo-as em uma
vivência democrática e preparando-as para um diálogo assertivo.

Muito mais de educar pessoas para que tenham condições de decidir, em situações
concretas, como melhor agir. Em outras palavras, trata‐se de educar os sujeitos não
para se adaptarem passivamente a normas preestabelecidas, mas para assumir a
responsabilidade da decisão correta, vale dizer, para a responsabilidade do pensar
(GOERGEN, 2013. p. 12).

Para esse atendimento a escola precisa transformar seu quadro de professores para que
além de serem cidadãos cientes de seus direitos por completo, consigam exercer e

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oferecer a educação de maneira democrática, com foco nos princípios e conceitos do
Direito Humano.

Com o direcionamento da educação voltada para diversidade à escola contemporânea


traz uma metodologia que não apresenta a eficácia necessária para formação com toda a
plenitude necessária em cidadania, então a inserção de uma escola plural fortalece o
educador transmitir todos os fundamentos.

De acordo com GOERGEN apud GARCIA (2014), a escola plural não é algo que surgiu
nos dias atuais, pelo contrário, sua afirmação demonstra que suas características estão
enraizadas na “globalização, multiculturalismo e cosmopolitismo”, sendo assuntos
envolvidos na cultura humana:

Olhando para o passado, deve‐se admitir que já houve cenários plurais em que
sociedades distintas quanto à estrutura social, visões de mundo e expectativas éticas
se encontravam e confrontavam. No mundo grego, no Império Romano, no
Renascimento e na Modernidade ocorreram confluências e, não raro, choques entre
culturas com diferentes tradições, valores e estruturas sociais (GOERGEN, 2013. p.
1).

Seguindo as ideias de BIESTA (2013), a importância dessa transformação de uma


escola contemporânea para a pluralidade, é atrelada ao compromisso de resgatar valores
para as gerações futuras:

A escola plural e complexa precisa resgatar o seu compromisso de passar para as


novas gerações valores indispensáveis ao convívio humano, à construção da
cidadania e à vivência democrática. Valores capazes de atribuir um novo fim à
educação e às escolas, focado "no cultivo da pessoa humana, ou em outras
palavras, no cultivo da humanidade do indivíduo”.

Essa mudança na cultura à educação de contemporânea para moderna traz impactos


significativos nas três instituições que serviram como base para história do ensino,
conforme essas instituições eram fixas e inquestionáveis:

• Família – onde o pai tinha o papel de cuidar da ordem e funcionamento da


família, inseria desde cedo o filho no trabalho e o enviava para a escola, o
catecismo e a igreja;
• Padre ou Religioso – era a representação da cultura existente, através dele
recebia as informações, era sua responsabilidade introduzir a comunidade em
um mundo mais culto;
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• Escola – o professor era responsável pela tarefa de introduzir os alunos no
mundo letrado, ensinava a leitura, escrita e cálculos.

Uma cultura que se seguiu por anos de maneira sólida, foi desconstruída pela sociedade
plural e complexa, hoje se convive com diversos arranjos familiares, as informações
chegam por vários meios de comunicação, com os avanços tecnológicos a igreja deixou
de ser a principal fonte de informações. E com isso a escola se torna uma instituição que
abrange a todos e ganha maior responsabilidades além da introdução do aluno no
mundo letrado.

GOERGEN (2013) ainda reforça que:

“Antigamente, existia uma pluralidade de sociedades e culturas, cujos contatos eram


restritos a limites temporais e geográficos. A confluência e a imbricação cultural,
resultado dos recentes mecanismos de mobilidade e comunicação, representam um
cenário ao mesmo tempo essencialmente novo e de alta pregnância em termos de
formação das pessoas.”

Seguindo ainda as ideias de GOERGEN (2013), a escola plural traz a mescla entre
costumes, valores, tradições, ideais, visões de mundo e convicções religiosas. E com
toda essa bagagem diversa que já se encontra com o aluno, como um educando deve se
basear para alinhar tanta diversidade de pensamentos e crenças e desenvolver cidadãos
democráticos e prontos para lutar por seu espaço?

Daí surge o maior desafio o processo formativo dos professores, prepara-los para
exercer a cidadania de maneira plena, desmistificando tradições e crenças passadas e
criando um ambiente como citado por GOERGEN (2013 p.18) “de escola como espaço
para as diferenças, um espaço para a vivência democrática, para o diálogo”.

Ainda seguindo os pensamentos de GOERGEN (2013 p.18) “Neste sentido, a escola


deveria ser um espaço para a sensibilidade e imaginação, um espaço para “pensar, ouvir
e argumentar”, pois essas “talvez sejam as maiores virtudes do nosso tempo e a mais
importante tarefa da formação”“.

Outro desafio que se faz presente e este para os professores é saber alinhar todas as
informações tendo a ciência do multiculturalismo e junto a isso a diversificação
ideológica política que os alunos já trazem por seus exemplos externos.

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Toda essa transformação viria para capacitar cidadãos para assumirem sua
responsabilidade de decisão e de pensar de maneira correta e não mais de aceitarem de
maneira passiva as normas estabelecidas.

É possível comprovar essa visão com a afirmativa apresentada por BIESTA (2013.
p.16),

“A educação seja a educação de crianças, a educação de adultos, seja a educação de


outros "recém‐chegados", é afinal sempre uma intervenção na vida de alguém; uma
intervenção motivada pela ideia de que tornará essa vida, de certo modo, melhor:
mais completa, mais harmoniosa, mais perfeita – e talvez até mais humana”.

E tendo o conceito que a escola plural transforma as pessoas em cidadãos democráticos


não podemos pensar apenas no reflexo na educação e sim em todas as áreas que irá
impactar, como citado por KOZEN o exercício da democracia sendo integrado nos
discursos da Política, do Direito, da Filosofia, da Religião e na educação como já
explanado neste trabalho.

O investimento nessa educação tão integrativa se faz presente de maneira mundial, mas
hoje em dia tem o seu destaque maior no Brasil, principalmente após o Lançamento do
Plano Nacional da Educação em Direitos Humanos, o qual foi elaborado pelo Comitê
Nacional de Educação em Direitos Humanos, que tem seu vinculo direto a Presidência
da República.

Conforme apresentado por SILVA (2016 p.10):

A implantação desse Plano visa promover uma cultura de educação em direitos


humanos nas instituições educativas e, sobretudo, nas escolas, visto que elas são
palco de diferentes relações sociais e reflete a multiplicidade da sociedade. Portanto,
é importante que seja trabalhada na escola a superação das diferentes formas de
preconceitos, discriminação e violência, presentes em nosso cenário social.

E esse programa só reforça a importância de investir nos profissionais que tem como
responsabilidade essa formação, se livrar de todas as crenças limitantes e opiniões
próprias e formar cidadãos que consigam seguir suas próprias decisões e que se tornem
formadores de ideais.

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O Plano Nacional da Educação dos Direitos Humanos vem para inserir nos espaços
educativos diversas discussões com objetivo de destacar conforme citado por BRASIL
(2007 p. 26-27) apud SILVA (2016 p.11):

• O papel estratégico da educação em direitos humanos;


• Enfatizar o papel dos direitos humanos na construção de uma sociedade justa,
equitativa e democrática;
• Encorajar o desenvolvimento de ações de educação em direitos humanos pelo
poder público e a sociedade civil por meio de ações conjuntas;
• Contribuir para a efetivação dos compromissos internacionais e nacionais com a
educação em direitos humanos;
• Estimular a cooperação nacional e internacional na implementação de ações de
educação em direitos humanos;
• Propor a transversalidade da educação em direitos humanos nas políticas
públicas;
• Avançar nas ações e propostas do Programa Nacional de Direitos Humanos no
que se refere às questões da educação em direitos humanos;
• Orientar políticas educacionais direcionadas para a constituição de uma cultura
de direitos humanos;
• Estabelecer objetivos, diretrizes e linhas de ações para a elaboração de
programas e projetos na área da educação em direitos humanos;
• Estimular a reflexão, o estudo e a pesquisa voltados para a educação em direitos
humanos;
• Incentivar a criação e o fortalecimento de instituições e organizações nacionais,
estaduais e municipais na perspectiva da educação em direitos humanos;
• Balizar a elaboração, implementação, monitoramento, avaliação e atualização
dos Planos de Educação em Direitos Humanos dos estados e municípios; e
• Incentivar formas de acesso às ações de educação em direitos humanos a pessoas
com deficiência.

O documento ainda trás várias ações programadas sendo efetuadas em todos os níveis
de ensino, trazendo a proximidade entre as instituições educativas e a comunidade em
geral. Sendo caminhos que despende de atenção e investimento para os grandes desafios
que advém da educação plural.

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Como já apresentado neste trabalho à responsabilidade dos profissionais da educação é
grandiosa, pois precisam integrar práticas pedagógicas que incorporem no cotidiano
todas as dimensões dos direitos humanos, sendo uma delas o “educar para o nunca
mais”.

Por fim é possível concluir que, o investimento na formação dos profissionais é


essencial e imprescindível, é o caminho base para sanar as dificuldades da introdução
dos Direitos Humanos na Educação básica e elementar, pois se tornam o exemplo
direcionador de formação de um cidadão democrático e pronto para interagir com seus
direitos.

Sendo assim possível trabalhar com o grande foco de desigualdade e minimizar crenças
limitantes dando a sociedade estratégias para desenvolver seu projeto de vida e lutarem
por sua cidadania com liberdade. O que só será capaz, com o entendimento que os
Direitos Humanos são direitos universais.

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REFERÊNCIAS

BIESTA, Gert. Para além da aprendizagem: educação democrática para um futuro


humano; tradução de Rosaura Eichenberg. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

GOERGEN, Pedro. A educação como direito de cidadania e responsabilidade do


Estado. Educ. Soc. Vol. 34 – Campinas 2013.

KOZEN, Maria Beatriz. Educar para os Direitos Humanos - Fundação Escola Técnica
Liberato Salzano Vieira da Cunha - EdUECE- Livro 1

SILVA, Priscila Torres Trajano. Educação em Direitos Humanos: Alternativa Contra a


Violência no Cotidiano Escolar - Universidade Federal do Rio Grande do Norte –
Parnamirin 2016.

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