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EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS E SUA

APLICABILIDADE NA ESCOLA PÚBLICA: DESAFIOS DA


PRÁTICA EDUCACIONAL

ZILDA PEREIRA DOS SANTOS NETA VITAL1

Eixo Temático: Movimentos Sociais, Lutas de Classes, Trabalho e Educação.

Resumo:

Neste estudo apresentam-se resultados da pesquisa sobre a aplicabilidade da Educação


em Direitos Humanos na escola pública e teve como objetivo principal, investigar se e
de que forma a escola apresenta, valoriza e desenvolve uma Educação em Direitos
Humanos em seu espaço educativo, além de favorecer a reflexão sobre o papel do
professor frente a este processo. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de caráter
exploratório e descritivo, de abordagem qualitativa com base na pesquisa bibliográfica
que dá o embasamento teórico necessário para o assunto e coletas de dados empíricos
por meio de questionários aplicados aos profissionais da educação de um colégio
estadual do município de Foz do Iguaçu/PR. O colégio conta com um grande número de
alunos trabalhadores, muitos oriundos do Paraguai e de diversos bairros da cidade,
diversidade que oportuniza a realização de trabalhos pluriculturais. Os dados da
pesquisa foram organizados em dois eixos analíticos para melhor apresentar a
discussão: Educação em Direitos Humanos na Escola e Práticas Escolares. Os
resultados da pesquisa desvelaram fatores que dificultam o trabalho de concretização da
Educação em Direitos Humanos no ambiente escolar. Evidenciou-se que os professores
ainda precisam de uma maior aproximação, tanto na formação inicial como na
continuada das discussões no âmbito desta temática, para que possam fazer um trabalho
efetivo de formação de sujeitos de direitos e conscientes da sua realidade complexa e
contraditória. Considerando os limites que a própria sociedade coloca, torna-se
necessário que a escola como espaço privilegiado para tratar das questões relativas às
desigualdades, as diferenças e o respeito ao ser humano, tenha um comprometimento
mediante um trabalho coletivo, onde todos os envolvidos possam contribuir de maneira
efetiva para o alcance dos objetivos propostos.

Palavras-Chave: Educação; Direitos Humanos; Escola pública.


1
Formada em Pedagogia, com licenciatura Plena, atualmente é Discente do Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Educação UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Cascavel, turma
2016-2017. E-mail: zilda.vital12@gmail.com

ANAIS DA XIV JORNADA DO HISTEDBR: Pedagogia Histórico-Crítica, Educação e Revolução: 100


anos da Revolução Russa. UNIOESTE – FOZ DO IGUAÇU-PR. ISSN: 2177-8892

1
INTRODUÇÃO

A Escola tem um papel importante na construção de uma cultura de promoção e


garantia dos direitos humanos numa perspectiva de formação do aluno para que possa
exercer sua cidadania e respeito às diferenças. Diante deste cenário, não podemos deixar
de perguntar: se e de que forma a escola pública apresenta, valoriza e desenvolve uma
Educação em Direitos Humanos em seu espaço educativo.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH foi aprovada pela
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU e promulgada em 1948
com o objetivo de estabelecer um padrão ético quando se refere aos direitos
fundamentais do ser humano em qualquer lugar do mundo. Com a Declaração o
conceito cidadania tornou-se universal, mas o seu exercício permanece até hoje
sofrendo restrições. A falta de respeito à dignidade humana, a exclusão e as
desigualdades generalizadas são uma realidade que dificultam o pleno exercício da
cidadania. Fazer com que a Declaração Universal dos Direitos Humanos saia do papel
para se tornar realidade, tem sido um desafio até os dias atuais.
O Brasil é signatário da Declaração Universal e também de acordos, pactos, leis
e programas que nos fizeram andar em direção à efetivação dos direitos humanos. Nesta
direção, foi criado em 2006 o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos –
PNEDH que dentre outros objetivos visa promover o conhecimento e a consolidação
dos direitos humanos no ambiente escolar, baseado nos princípios da democracia,
cidadania e justiça social.
O objetivo principal deste estudo é Investigar se e de que forma a escola pública
apresenta, valoriza e desenvolve uma Educação em Direitos Humanos em seu espaço
educativo. Além disso, pretendemos contribuir para a reflexão sobre a importância da
efetiva aplicabilidade da Educação em Direitos Humanos no espaço educativo da escola
pública numa perspectiva de formação cidadã.
Este artigo está estruturado em quatro partes. A primeira traz um breve histórico
dos Direitos Humanos segundo alguns estudiosos do tema. Uma proposta de formação
cidadã baseada na Educação em Direitos Humanos será discutida na segunda parte,

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numa tentativa de favorecer a reflexão sobre o papel da escola na construção da
cidadania. A terceira apresenta os contornos da pesquisa e a metodologia utilizada para
coleta de dados. E por fim, a quarta parte deste trabalho traz as análises dos dados
coletados através dos relatos dos professores e gestores que responderam aos
questionários sobre a temática dos Direitos Humanos.
Os dados da pesquisa foram organizados em dois eixos analíticos para melhor
apresentar a discussão, quais sejam: Educação em Direitos Humanos na Escola e
Práticas Escolares em Direitos Humanos. O estudo apontou que na escola em pesquisa
os professores reconhecem a importância de discutir e desenvolver com seus alunos,
ações referentes aos direitos humanos, numa perspectiva de formação cidadã, mas
admitem que não estão preparados para assumir esta prática educativa, justificado pela
falta de conhecimento e de um trabalho coletivo concreto. Na mesma linha de
raciocínio, a diretora e a pedagoga da escola acreditam que é possível desenvolver um
trabalho educativo em direitos humanos na escola, contudo é preciso um diálogo entre
os sujeitos envolvidos (estudantes, professores, gestão e comunidade escolar), dando
assim um sentido e significado para o processo, pois somente assim é possível a
efetivação da Educação em Direitos Humanos no espaço escolar e fora dele.

1. DIREITOS HUMANOS E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

A grande conquista em direção a constitucionalização dos Direitos Humanos se


dá após o término da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), onde segundo Sheila Stolz (2013,
p.29) esta grande Guerra “revelou ao mundo a capacidade inimaginável, até então, de
destruição massiva do outro considerado diferente ou inferior”. A destruição massiva de
pessoas fez com que se reconhecesse a necessidade de se criar mecanismos que
acabassem ou minimizasse com as atrocidades geradas pela falta de respeito com a
pessoa humana. Em 1948 acontece a Assembleia Geral das Nações Unidas e é
proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que enumera em seus
artigos os direitos humanos de todo o mundo. A partir desta Declaração, o ser humano
pode ser visto como sujeito de direitos, e estes por sua vez deveriam ser respeitados e
garantidos em sua forma universal.

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A referida Declaração considera essencial que os direitos humanos sejam
protegidos pelo Estado de Direito, garantindo assim a sua efetivação sem distinção. Em
seu artigo II, parágrafo 1, consta que:
Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer
espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição. (UNESCO, 1998)

Por sua vez os direitos humanos historicamente sofrem com a resistência de


alguns países no que concerne a sua universalização e que precarizam a igualdade, a
liberdade, a fraternidade e a dignidade humana, bases essenciais defendidas na
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Para Fábio Konder Comparato (2001, p.1)
este é um fato marcado por profundas contradições o qual denomina, parafraseando a
Eric Hobsbawm2 “era dos extremos”, pois se de um lado se deseja a universalização dos
direitos, do outro, no entanto, a uma defesa contrária aos princípios defendidos pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Como se vê diante da realidade vivida, a concretização dos ideais de paz,
igualdade, liberdade, respeito às diferenças, fraternidade e dignidade humana, ainda
enfrentam grandes desafios. Os direitos humanos exigem certas atitudes e repelem
outras, onde o discurso deverá estar sempre ligado à prática, embasados na realidade
social onde está inserido.
A ideia de Direitos Humanos envolve garantias de direitos individuais e
coletivos. Entendemos que tais direitos são inerentes ao ser humano, ou seja, nascem
com ele e fazem parte da sua natureza e sem os mesmos, do ponto de vista de Clovis
Gorczevski (2009, p.20) “O homem não é capaz de existir, de se desenvolver e
participar plenamente da vida”, desse modo os direitos humanos são condições
necessárias para que se tenha uma vida digna.
Consideramos importante tentar esclarecer o que significa uma vida com
dignidade. É comum ouvirmos algumas pessoas dizendo que estão indignadas com
algum comportamento que consideram errado dentro da sociedade, tem-se, como
exemplos, a falta de emprego, a fome, a exploração sexual, maus tratos de crianças e
2
Autor do livro “Era dos Extremos: o Breve Século XX: 1914 – 1991” onde o historiador inglês
discorre sobre o século XX.
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idosos, dentre outros. A ideia de dignidade pode ser sintetizada no artigo 1º da
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, onde a mesma declara que,
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade” (UNESCO, 1998). Do mesmo modo a nossa Constituição federal de 1988,
tem como um dos seus fundamentos (art.1º-III) “a dignidade da pessoa humana” como
um dos valores supremos de uma sociedade comprometida em promover o bem de
todos. Por se tratar de um dos princípios fundamentais dos direitos humanos cabe a
todos a garantia deste direito, necessitando um trabalho de cooperação e solidariedade
humana, na busca da liberdade, igualdade e respeito entre todas as pessoas.
Para Comparato (2001, p.17) “A substância da natureza humana é histórica, isto
é, vive em perpétua transformação, pela memória do passado e o projeto do futuro”,
dessa forma, sempre que nos referirmos a direitos humanos devemos imaginar que não
são apenas um conjunto de exigências, ou meras concessões da sociedade, mas sim que
os mesmos são uma construção histórica. Estes ditos direitos:

Não são frutos de uma invenção pontual ou a construção de um gênio


do direito. Também não devem sua origem a algo fortuito na história
da humanidade, nem mesmo à autoridade política de um partido, que
os impôs pela força do poder. Também não são um mero fato, mera
ocorrência sociológica; Trata-se sim, de um conjunto de exigências
muito diferente entre si, com uma história distinta em cada caso e em
diferentes períodos. (GOREZEVSKI, 2009, p.21)

Assim, podemos afirmar que os direitos humanos se modificam de acordo com o


seu contexto histórico trazendo melhor consigo uma carga ideológica muito grande.
Durante a história sócio-política da humanidade, de acordo com Gorczevski (2009,
p.22-23) os direitos humanos receberam várias denominações: direitos naturais; direitos
do homem; direitos do homem e do cidadão; direitos individuais; liberdades públicas;
direitos da pessoa humana; direitos do povo trabalhador; mas a expressão mais utilizada
no contexto da Revolução Francesa é direitos fundamentais do homem. Embora possam
perceber que existe uma variação terminológica em relação à denominação do nome a
ser conceituado , é importante entender que esta variação decorre de um conteúdo

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cultural e do momento histórico, não sendo assim, um fator que prejudique o
reconhecimento e a promoção dos direitos inerentes a todos os seres humanos.
Efetivamente este é um assunto que requer um profundo estudo e não é nossa
proposta a busca para a chave destas contradições. Afinal, o que queremos discutir aqui
é algo que vai além de definições sobre como denominar os “direitos humanos”. Por
isso, por tratar-se de um processo ainda em desenvolvimento e como caracteriza bem
Gorczevski (2009, p.131) “São frutos que se sedimentam na evolução e nas
contradições da sociedade”, os direitos humanos afirmam-se nas suas lutas e conquistas,
sendo importante destacar a sua grande relevância para a humanidade.
Sendo assim podemos entender que:
Direitos Humanos são naturais e universais porque vinculados à
natureza humana, mas são históricos no sentido de que mudaram ao
longo do tempo, de que mudaram num mesmo país e é diferente o seu
reconhecimento em países diferentes, num mesmo tempo.
(BENEVIDES, 2007, p.07)

Dessa feita, para acompanhar as mudanças ao longo do tempo, vários foram os


acordos, tratados, convenções, pactos e planos nacionais e internacionais entre os
países, que contribuíram para a promoção, a valorização e a proteção desses direitos,
considerados por muitos autores como indispensáveis à pessoa humana.

2. EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO BRASIL UMA PROPOSTA DE


FORMAÇÃO CIDADÃ

No Brasil os direitos humanos começaram a ter grande expressão a partir da


Constituição Federal de 1988, onde podemos encontrar em seus artigos 5º ao 17º
direitos e garantias fundamentais aos brasileiros e também estrangeiros residentes no
país, tais como: inviolabilidade do direito à vida, igualdade entre homens e mulheres,
direitos a educação, a saúde, voto direto e secreto e tantas outras garantias que
favorecem a construção de um Estado de Direito democrático na perspectiva de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceito ou discriminação. De fato:
Os direitos já reconhecidos e proclamados oficialmente – em nossa
Constituição e em todas as convenções e pactos internacionais dos
quais o Brasil é signatário – não podem ser revogados por emendas
constitucionais, leis ou tratados internacionais posteriores. Isso
significa que, além de naturais, universais e históricos, os direitos
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humanos são, também, indivisíveis e irreversíveis. São irreversíveis
porque à medida que são proclamados, tornando-se direitos positivos
fundamentais, não podem mais ser revogados. (BENEVIDES, 2007,
p.339)
Consideramos que Direitos Humanos estão atrelados ao exercício da cidadania,
assim, a construção de uma cultura de direitos humanos é de especial importância em
todos os espaços sociais e a escola tem um papel fundamental na construção dessa
cultura. Benevides (2004, p.03) é categórica quando afirma que, necessário
reconhecer, defender e promover os direitos humanos em nosso país, com uma vigorosa
campanha de esclarecimento, com um compromisso com a educação para a cidadania
democrática, desde muito cedo.
É neste sentido que a Educação em Direitos Humanos se situa sobretudo no
âmbito escolar. Para Lúcia Afonso (2011, p.8) “A escola tem um papel extremamente
importante na construção de uma cultura de promoção e garantia dos direitos humanos”,
diante desta premissa entendemos que, a Educação em Direitos Humanos deve ser
concebida de forma articulada ao combate do racismo, discriminação social e de gênero,
cultural, religiosa e outras formas de discriminação presentes na sociedade brasileira.
Devido a tudo isto, em dezembro de 2003, a partir da reunião de especialistas da
área foi criado o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – PNEDH com o
intuito de concretização e efetivação de uma cultura em direitos humanos e a construção
de uma sociedade democrática, justa e cidadã. Na prática, o Plano Nacional de
Educação em Direitos Humanos, possibilitou uma nova visão em relação a promoção
dos direitos humanos:
A partir desse plano ficou mais fácil visualizar como a sociedade civil,
ONGs, organizações governamentais, organismos internacionais,
universidades, escola de educação infantil, do ensino fundamental e
médio, mídia e instituições do sistema de segurança e justiça podem
contribuir para a construção de uma cultura voltada para respeito aos
direitos fundamentais da pessoa humana. (MIRANDA, 2006, p.55)

Ainda na opinião de Miranda “O quadro de grave violação dos Direitos


Humanos só será alterado se conseguirmos formar cidadãos mais conscientes de seus
direitos, conhecedores dos meios para sua proteção” (2006, p.56). Esses são alguns dos
objetivos pretendidos pela Educação em Direitos Humanos. Afinal, “Educar para os
Direitos Humanos é quebrar a cultura do silêncio e da impunidade” (Miranda, 2007,

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p.61). Na verdade, a escola como espaço formal de educação, não é a única responsável
por essa formação, no entanto, este espaço educativo tem uma responsabilidade
específica, tem como missão, formar sujeitos de direitos que priorizem o respeito pelo
outro, numa tentativa de rupturas com a discriminação e exclusão.
Efetivamente do ponto de vista social e educacional:
A Educação em Direitos Humanos parte de três pontos: primeiro, é
uma educação permanente, continuada e global. Segundo, está voltada
para a mudança cultural. Terceiro, é educação em valores, para atingir
corações e mentes e não apenas instrução, ou seja, não se trata de
mera transmissão de conhecimentos. Deve abranger, igualmente,
educadores e educandos. (BENEVIDES, 2007, p. 346)

De fato, para que aconteça uma educação de qualidade e voltada para uma
mudança cultural é necessário o envolvimento de todos os sujeitos ( educadores, alunos,
família). A articulação entre educação e cidadania favorece a superação das
desigualdades e respeito às diferenças, numa perspectiva mais ampla de efetivação dos
direitos humanos.

3. CONTORNOS DA PESQUISA

O estudo foi realizado no colégio estadual CEEFMP3 da cidade de Foz do


Iguaçu/PR4. É um colégio de Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional que
funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno, com aproximadamente 1600 alunos,
133 professores, 32 agentes educacionais e 13 pessoas fazendo parte da equipe diretiva5.
O público alvo da pesquisa será a equipe gestora e professores da instituição.
O Colégio Estadual conta com um grande número de alunos trabalhadores,
muitos oriundos do Paraguai e de diversos bairros da cidade. Essa diversidade

3
Optou-se por utilizar pseudônimo para o colégio, a fim de preservar a identidade do mesmo.
4
Município do estado Paraná, do qual é o sétimo mais populoso, com 263 647 habitantes.Cidade tríplice
fronteira fazendo fronteira com Ciudad del Este no Paraguai , e Puerto Iguazú, na Argentina. É
considerada um dos municípios mais multiculturais do Brasil, onde estão presentes mais de 72 grupos
étnicos, provenientes de diversas partes do mundo. Em 2011, a cidade também contou com a melhor
média do IDEB para o ensino fundamental do Brasil e recentemente recebeu a Universidade Federal da
Integração Latino-Americana- UNILA, como pólo de integração entre os países latinos americanos.
5
Fonte projeto político pedagógico (CEEFMP, 2011).

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oportuniza a realização de trabalhos pluriculturais proporcionando o desenvolvimento
de projetos de cunho social.

No Projeto Político Pedagógico consta que o Colégio tem a finalidade de formar


um homem livre, capaz de analisar criticamente e exercitar sua cidadania assumindo seu
papel de elemento propulsor de uma nova sociedade apoiada no respeito e na dignidade
humana. O documento ainda pontua no que se refere à concepção de Homem e
Cidadania que esta “só é possível a partir da vigência do regime democrático pautado na
liberdade, na garantia de igualdade de direitos para todos, direitos estes conquistados
historicamente” (2011, p.17). Também enfatiza que para a construção da escola
democrática “é necessário operar uma mudança radical no modelo de formação do
educador e, consequentemente, da escola” (2011, p.18). Desta forma, se faz primordial
que todo profissional da educação compreenda a realidade de seu trabalho, seus limites
e a importância da sua ação no espaço escolar enquanto movimento dialético de luta
pela transformação social. (CEEFMP, PPP, 2011, p.21).
A pesquisa de caráter exploratório e descritivo e de abordagem qualitativa teve
como base a pesquisa bibliográfica que dá o embasamento teórico necessário para o
assunto.
Para alcance dos objetivos propostos nesta pesquisa foram usados como
instrumento de coleta de dados o questionário, a ser respondido pelo público
participante. O exercício analítico irá considerar os dados oriundos dos questionários,
que serão descritos e analisados à luz do referencial teórico do presente estudo.
Participaram 10 professores que foram citados com pseudônimos através de letras do
alfabeto, a saber: professor A, B, C, D e E (Ensino Fundamental) e Professor F, G, H, I
e J (Ensino Médio). Para a pedagoga e diretora auxiliar6 não foram utilizados
pseudônimos mantendo a referência da função por elas exercida no colégio.

6
É válido esclarecer que, a diretora do colégio não demonstrou interesse em participar da pesquisa,
dessa forma, a pedagoga nos orientou a fazer o convite a diretora auxiliar, já que a mesma atua com a
equipe multidisciplinar desenvolvendo temáticas sobre cidadania e Direitos Humanos, ela prontamente
aceitou e participou da pesquisa.
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Em relação à experiência docente, área de atuação e idade, o quadro dos
participantes é o seguinte:

Número de Professores Tempo de serviço


05 De um a nove anos
03 De dez a vinte anos
02 Mais de 20 anos
Quadro do tempo de serviço dos participantes. Fonte: dados da pesquisa.
Número de Professores Área de atuação
05 Ensino Fundamental
05 Ensino Médio
Quadro da área de atuação dos participantes. Fonte: dados da pesquisa.
Número de Professores Idade
05 Dezoito a quarenta anos
05 Quarenta e um a sessenta anos
Quadro de idade dos participantes. Fonte: dados da pesquisa.
Gestão Escolar Função desempenhada
01 Diretora auxiliar
01 Pedagoga e coordenadora de estágio
Quadro da equipe diretiva participantes. Fonte: dados da pesquisa.

4. REFLETINDO SOBRE A REALIDADE DA PESQUISA


Os dados foram organizados em dois eixos analíticos, apenas para fins didáticos,
pois relacionam- se entre si e estão discutidos na sequência.

4.1. Educação em Direitos Humanos na Escola


A educação é responsável por profundas transformações em todos os âmbitos:
sociais, culturais, políticos e econômico e como proposta de caráter transformador surge
também uma educação voltada aos Direitos Humanos.

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Para Gorczevski “Educar para os direitos humanos é criar uma cultura
preventiva, fundamental para erradicar a violação dos mesmos” (2009, p.221).
Obviamente a educação não resolverá todos os problemas atuais, pode, contudo, ajudar
a entender as suas causas e nas tomadas de atitudes e comportamentos.
Pensando nisto, iniciamos nosso estudo perguntando aos professores
pesquisados se eles consideram importante a participação das alunas e dos alunos nas
escolhas dos assuntos a serem discutidos e desenvolvidos na escola sobre os direitos
humanos; cem por cento dos professore consideram importante esta participação. O
professor A assim se manifestou “como estão na escola para serem cidadãos de bem,
caráter e questionadores, devem participar das escolhas e das discussões que interferem
em suas vidas”; já o professor C declara que “este procedimento é para melhorar a vida
deles”. Temos que conhecer a realidade dos alunos; para o professor D “quando a
opinião dos alunos é levada em consideração, existe um interesse maior em participar
por parte dos estudantes”. Acreditando no trabalho de conscientização o professor G
justifica que “se pretendo formar um estudante e futuro cidadão ativo socialmente não
posso estabelecer uma relação passiva do aluno com as temáticas sociais abordadas”,
estes e os demais professores apresentaram um grau elevado de consciência sobre a
importância da participação ativa dos estudantes neste processo. Do mesmo modo
Miranda afirma que “O quadro de grave violação dos Direitos Humanos só será alterado
se conseguirmos formar cidadãos mais conscientes de seus direitos, conhecedores dos
meios para sua proteção” (2006, p.56).
Em outras palavras, é importante que o indivíduo conheça os seus direitos e
aprenda a respeitá-los e como afirma o professor H “quando os alunos participam na
escola do tema o interesse é bem maior”; somando-se a isso, o professor I nos alerta
para a importância das escolhas dos temas partindo da “realidade na qual o aluno esta
inserido, pois só assim terão condições de avaliar os mais relevantes”. Para que a EDH
seja realmente efetiva é necessário que os alunos não somente conheçam os problemas
relacionados aos direitos humanos e as suas violações, mais que isto, os alunos precisam
sentir o desejo de atuar diante de tais situações, pois conforme Gorczevski o verdadeiro
objetivo da Educação em Direitos humanos “é o de criar cidadãos ativos, participativos,

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defensores e seguidores dos direitos humanos” (2010, p.231). De fato, é preciso criar
uma consciência sobre o papel educativo da EDH na construção da cidadania.
Do ponto de vista da diretora auxiliar é possível desenvolver um processo
educativo voltado para os direitos humanos, “mas para isto a comunidade escolar,
alunos, professores, funcionários, gestores e família precisam compreender dessa
temática para que a relação entre os pares sejam mais coerentes nas relações individuais
e coletivas”. E acrescenta ainda como necessário ”o respeito mútuo e o diálogo entre os
sujeitos envolvidos no processo educativo”, por sua vez, Benevides (2007, p.346)
afirma que a Educação em Direitos Humanos: “não é apenas instrução, ou seja, não se
trata de mera transmissão de conhecimentos. Deve abranger, igualmente, educadores e
educandos”. Do mesmo modo Gonczevski declara que “somente com o envolvimento
de todos será possível consolidar-se uma cultura de respeito e de valorização dos
direitos de todos os homens” (2010, p.235). De fato, para que aconteça uma educação
de qualidade e voltada para uma mudança cultural é necessário o envolvimento de todos
os sujeitos numa perspectiva mais ampla de efetivação dos direitos humanos.
No dizer da pedagoga o desenvolvimento de um processo educativo em direitos
humanos tem como pontos principais “a valorização da vida e solidariedade, além do
conhecimento do contexto escolar para identificar as questões imediatas e mais
significativas”. Podemos observar que os professores, diretora e a pedagoga foram
unânimes nesta questão, todos concordam que é preciso um trabalho coletivo e que
tenha como base a realidade do contexto onde vivem numa perspectiva de ações
positivas na promoção dos direitos humanos.
Quando perguntado à equipe diretiva se a escola apoia e incentiva a inserção das
questões relativas aos direito humanos no currículo escolar, como defende Clovis
Gorczevski (2009) quando fala que “o tema deveria estar presente em todos os
conteúdos das mais diferentes disciplinas” a diretora respondeu que “sim, por entender
que currículo e direitos humanos precisam ser trabalhados de modo que os conteúdos
pedagógicos façam sentido, tenham significado para nossos estudantes”; já a pedagoga
não respondeu a esta pergunta, podendo ser interpretado como ações ainda não pontuais
e fragilizadas no espaço educativo.

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Perguntamos ainda, se as práticas educativas sobre direitos humanos são
discutidas nos processos de formação continuada dos educadores e gestão escolar,
recebemos como resposta da diretora um simples “sim” e do ponto de vista da pedagoga
“ainda está na fase das trocas de informações, é preciso a efetivação”. Para o educador
Paulo Freire (1996), é na formação permanente que se constrói uma reflexão critica
sobre a prática, para que se melhore a próxima prática, todavia, foi possível observar
nas respostas que o discurso ainda se encontra bem distante da prática.
Em se tratando ainda de formação inicial, noventa e nove por cento dos
professores concordam que Educação em Direitos humanos deveria ser uma disciplina
obrigatória no currículo da formação inicial, pois “assim estaríamos melhor preparados
para expor as ideias e os direitos de todo ser humano” declara o professor A. Para o
professor G esta disciplina seria importante “porque ainda existe pessoas que carregam
preconceitos que influenciam na sua prática educativa, prejudicando ou podendo
prejudicar o olhar crítico e desmitificado à respeito do tema”. De acordo com o
professor H “muitas vezes se deixa de abordar o tema durante as aulas por falta de
conhecimento” e para o professor J deveria ser componente curricular “para não
precisarmos trabalhar mais tarde com dificuldades no tema”. Candau (2012) enfatiza
que é fundamental que se inclua a temática nos processos de formação inicial e
continuada dos educadores. Do mesmo modo Miranda (2006) reconhece que para uma
verdadeira consolidação dos direitos humanos é preciso um trabalho de valorização e
melhor qualidade da formação dos professores.
Somente um professor não vê a necessidade de uma nova disciplina, pois para
ele “é um assunto que precisa estar relacionado com todos os outros conteúdos. A
fragmentação não dará conta de formação alguma”. Todavia, o que se observa na
maioria das respostas é que, os professores precisam de uma maior aproximação, tanto
na formação inicial como na continuada das discussões no âmbito da educação em
direitos humanos, para que possam trabalhar de maneira segura esta temática em suas
aulas.
Outro tema salientado na pesquisa foi o relativo às políticas públicas e
programas governamentais voltados à promoção e defesa da educação em direitos
humanos no país. Este tema parece carecer de acordo com as respostas dos professores

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de pouco conhecimento. Dos dez professores pesquisados sete declararam não conhecer
alguma política ou programa sobre EDH, os demais citaram como políticas, apenas
projetos desenvolvidos na escola, tais como: menor aprendiz; proteção da criança e do
adolescente; acessibilidade; intérprete de libras e sala de apoio; mais educação; ensino
médio inovador e sala de recursos.
A falta de conhecimento da maioria dos professores e a pouca clareza sobre o
que são políticas/programas e projetos, só vem a reforçar o que já foi dito anteriormente,
que os professores ainda não estão sendo formados e capacitados para exerceram de
forma efetiva a cultura dos direitos humanos no espaço escolar. Daí a relevância de se
incluir esta temática no currículo de formação inicial e continuada destes profissionais,
para que possam trabalhar de forma consciente e com o compromisso de promover uma
educação em direitos humanos com qualidade.

4.2. Práticas escolares em Direitos Humanos

A Educação em Direitos Humanos é uma educação que se realiza com uma


perspectiva de esperança e luta por mudanças efetivas frente à realidade social, na
direção da democracia e da justiça social. Segundo Benevides “Trata-se de uma
educação permanente e global, complexa e difícil, mas não impossível” (2007, p. 348).
Entendemos que, a escola como espaço formal de educação, não é a única responsável
por essa formação, no entanto, este espaço do ponto de vista de Afonso “tem um papel
extremamente importante na construção de uma cultura de promoção e garantia dos
direitos humanos” (2011, p.8). No entanto, para que as mudanças aconteçam,
precisamos trabalhar no coletivo. A escola, os professores, o poder público e a
sociedade em geral precisam trabalhar de forma articulada buscando as estratégias mais
adequadas ao combate de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão
existentes em nosso meio. De fato, a escola é um espaço onde convivem diferentes
sujeitos sociais. As relações nem sempre são de consenso e as atitudes e
comportamentos de preconceitos e discriminações estão presentes no cotidiano escolar.
Desse modo, é importante que a escola promova desde cedo, a reflexão critica
sobre o respeito e valorização das diferenças, encontradas em seu contexto e fora dele.

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As práticas escolares é que vão evidenciar se, a escola está fazendo um trabalho de
promoção e garantia dos direitos de todos. Pensando nisto, consideramos importante
saber dos professores pesquisados quais ações são desenvolvidas na escola no que diz
respeito aos direitos humanos.
Quatro dos professores pesquisados não responderam à pergunta formulada no
questionário; somando-se a isto, o professor J declarou que ainda não fez projetos. Os
que não responderam à pergunta e mais o que declarou que não fez nenhuma ação em
relação aos direitos humanos com seus alunos, representam 50% (cinqüenta) por cento
do quadro de professores pesquisados, este dado é preocupante, pois como bem nos
alerta o educador Paulo Freire “ às vezes, mal se imagina o que pode passar a
representar na vida de um aluno um simples gesto do professor” (1996, p.42).
Acreditamos que, eles não imaginam o quanto um gesto aparentemente insignificante
pode valer como força formadora inclusiva ou contribuir para reforçar a exclusão. Para
o professor A embora não tenha executado nenhum projeto ele considera o diálogo uma
forma da intervenção “não trabalhei nenhum projeto, porém converso e discuto com
meus alunos muito a respeito do direito principalmente no respeito individual e do
bullying”; o professor B relatou que trabalhou “o Direito do idoso através da” colcha de
retalhos” e após a leitura do livro, conversou sobre a identidade de cada um
(ação/prática) na sequência a professora de ciências trabalhou sobre o ciclo da vida.
Alunos trouxeram seus avós para a sala, onde realizaram atividades em conjunto e na
sequência uma confraternização (duração da atividade=1 bimestre)”; o professor C
também relatou que procura “trabalhar várias atividades através da arte, no dia a dia,
não em projetos específicos. Uma releitura as datas comemorativas”; do mesmo modo o
professor F realizou “uma enquete com seus alunos do ensino médio sobre o bullying na
escola, já que o tema estava em evidência, a finalização foi a construção de um gráfico
mostrando o resultado” e por fim o professor I respondeu que no dia internacional da
mulher promoveu debates sobre as questões de gêneros e violência contra a mulher para
ele “não se tratou de um projeto, mas de uma ação pedagógica isolada”.
Foi constatado diante das atividades desenvolvidas pelos professores que,
alguns possuem uma visão simplificada sobre a temática, pois além de executarem
ações isoladas, consideram alguns trabalhos referentes a datas comemorativas como

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sendo ações efetivas sobre os direitos humanos. Do ponto de vista de Vera Maria
Candau é preciso a superação de ações puramente frontais e expositivas, por certo:
Não é difícil promover eventos, situações esporádicas ou introduzir
alguns temas relacionados com os Direitos Humanos. O difícil é
promover processos de formação que trabalhem em profundidade e
favoreçam a constituição de sujeitos e atores sociais, no nível pessoal
e coletivo. (CANDAU, 2012, p.78)

A partir do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos um conjunto de


ações no ensino formal foi desenvolvido para possibilitar à rede pública de ensino a
inserção de uma perspectiva de educação centrada no respeito aos direitos humanos de
modo a favorecer a formação da cidadania. Para a realização de ações no contexto
escolar sobre a temática direitos humanos a diretora auxiliar e a pedagoga declaram que
existe uma “Equipe Multidisciplinar atuando no espaço escolar, desenvolvendo
temáticas como: cultura - afro; educação indígena; cultura cigana; educação; gênero e
sexualidade, entre outros”. Relata ainda que durante o ano letivo é realizado “uma
semana cultural envolvendo todos da comunidade escolar com atividades de danças,
teatros, musicais, apresentações de recitais entre outras atividades que expressam
cultura, arte e talentos”. Para alguns especialistas da área, toda esta diversificação de
atividades, pode não representar uma riqueza, correndo risco de fragmentação e
superficialidade do processo educativo. Em Candau vamos encontrar o seguinte
esclarecimento:
Um aspecto de especial importância nos processos de educação em
direitos humanos é a consciência de que essa expressão admite
diferentes leituras, e, por conseguinte, exige que sejam feitas opções
conscientes. È possível assinalar ainda algumas perspectivas presentes
nas experiências realizadas e/ou em realização. Uma primeira é a que
concebe a educação em direitos humanos como referida a
determinados momentos e a atividades específicas, como as
relacionadas a datas comemorativas, como o dia dos Índios, da
Consciência Negra, da Mulher, da criança, da Tolerância, do Meio
Ambiente, dos Direitos Humanos, entre outras. Na prática, a educação
em direitos humanos, reduz-se a determinados momentos de
sensibilização. Em geral, o trabalho que vêm realizando os
especialistas na área, nos últimos anos, procura superar essa
perspectiva, reconhecendo que ela ainda está presente de modo
significativo nas nossas escolas. ( CANDAU, 2012, p.78-79)

De fato, constatamos que a educação voltada aos direitos humanos ainda não faz
parte da prática escolar como deveria. Os dados levantados reforçam a literatura sobre o
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tema, que afirma que a escola não aborda objetivamente o tema direitos humano em seu
espaço educativo. Educar para os direitos humanos trata-se de um processo complexo e
que exige um trabalho participativo e coletivo, viabilizando a articulação entre o
discurso e a prática educativa com o objetivo de promoção de ações efetivas rumo a
construção de uma sociedade justa, democrática , inclusiva e que respeite os direitos
humanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendemos que, a Educação em Direitos Humanos é um processo sistemático,


que articula várias dimensões, como o contexto histórico, os valores e as práticas sociais
que expressam a cultura dos direitos humanos na sociedade. Portanto, é importante que
se assegure nos espaços escolares condições para o acolhimento e manifestação dos
direitos humanos, isto se dá através da formação de pessoas capazes de incorporar,
disseminar e praticar os direitos humanos na escola, espaço privilegiado para se tratar
das questões da desigualdade e das diferenças e do respeito aos direitos humanos tanto
de forma individual quanto coletiva.
A escola como formadora do indivíduo na sociedade poderá contribuir para a
Educação em Direitos Humanos e Cidadania, mas não devemos desconsiderar os seus
limites que a própria sociedade coloca. A proposta de formação cidadã e respeito aos
direitos humanos só será concretizada mediante um trabalho coletivo onde todos os
envolvidos possam contribuir de forma efetiva para o alcance dos objetivos pretendidos:
respeito às diferenças, tolerância, solidariedade e inclusão social.
Os resultados desta pesquisa mostram que a escola é uma organização complexa,
onde existem diferentes visões de mundo e culturas diferentes, desse modo muitos são
os fatores que dificultam que a mesma realize um trabalho efetivo voltado ao
conhecimento, respeito e ao exercício dos direitos humanos. Podemos considerar um
dos principais entraves, a formação inicial e a capacitação dos profissionais envolvidos
no processo.
Sem a pretensão de respostas definitivas, esperamos provocar reflexões e a
sensibilização sobre a importância da Educação em Direitos Humanos no espaço

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escolar, numa tentativa de incentivar a gestão escolar, os professores, os alunos e toda a
comunidade a trabalhar de maneira comprometida para a promoção e valorização dos
direitos humanos, no entendimento que, este é um dos caminhos necessários para a
construção de uma sociedade mais justa, humana, inclusiva e que respeite as diferenças.

REFERÊNCIAS

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Educação em Direitos Humanos. Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério
da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO. Brasília: 2007.
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MIRANDA, Nilmário. Por que Direitos humanos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
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