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PROJETO “EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: POR UMA CULTURA DE


PAZ NAS ESCOLAS”

1. RESPONSÁVEIS

Projeto resultante da parceria entre a Defensoria Pública do Paraná – sede de


Ponta Grossa (representado pelo Defensor Público Dr. Júlio César Duailibe Salem
Filho); o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e anexos da
comarca de Ponta Grossa (representado pela Juíza de Direito Dra. Alessandra
Pimentel Munhoz do Amaral); e o Núcleo de Educação para a Paz da Universidade
Estadual de Ponta Grossa (representado pelo Professor Dr. Nei Alberto Salles Filho).

2. EQUIPE EXECUTORA

- Assistentes Sociais Ana Letícia de França e Evelyn Paula Soares Matioski de


Lima; Psicóloga Patrícia Regina Olbermann Duda (Centro de Atendimento
Multidisciplinar da Defensoria Pública do Paraná – sede de Ponta Grossa);
- Assistente Social Bruna Woinorvski de Miranda (Juizado de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher e anexos da comarca de Ponta Grossa);
- Professor Nei Alberto Salles Filho (Núcleo Estudos e Formação de
Professores em de Educação para a Paz e Convivências da Universidade Estadual
de Ponta Grossa);
- Professora Carmem Eliandra de Nazareth (Pedagoga e aluna especial do
Mestrado em Linguagem e Subjetividade da Universidade Estadual de Ponta Grossa,
assessora pedagógica atuante em Ponta Grossa); e
- Trabalhadoras voluntárias Fernanda Gomes da Luz (acadêmica de Direito e
bacharel em Turismo), Marisa Andrade Ribeiro (assistente social), Taciana Moreira
Cassimiro (assistente social) e Carolina da Silva Zelinski Rosa (bacharel em Direito).

3. PERÍODO DE EXECUÇÃO

Início: outubro de 2016. Sem prazo de encerramento, por tratar-se de projeto


contínuo.
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4. LOCAIS DE REALIZAÇÃO DO PROJETO

Colégio Estadual Professor Becker e Silva (localizado no bairro Ronda),


Colégio Estadual Professora Elzira Correia de Sá (localizado no bairro Santa Paula) e
Instituto de Educação Professor César Prieto Martinez (situado na Vila Estrela). Tais
estabelecimentos de ensino foram selecionados por estarem inseridos em regiões de
grande vulnerabilidade socioeconômica e apresentar altos índices de crimes contra a
mulher, conforme levantamento realizado pelo Juizado e pela Defensoria Pública de
Ponta Grossa.

5. INTRODUÇÃO

A Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu em uma época em que o


mundo enfrentava muitas guerras e atos de violência entre as pessoas. Começou-se
a perceber que o senso de respeito pela humanidade estava se perdendo e algo
precisava ser feito para enfrentar isso (BUTTURE, 2012 apud BRASIL, 2013). Como
o próprio nome já diz, a intenção foi elaborar um documento universal, que abrangesse
todas as nações e culturas do mundo e principalmente todas as pessoas, em especial
os grupos mais fragilizados, que necessitam de um tipo especial de proteção.
No Brasil, a temática passou a ser mais discutida a partir das décadas de 1960
e 1970 – período em que as questões sociais sofreram diversas violações,
principalmente a partir do militarismo, que retirava a visibilidade da população
vulnerável. A partir dos anos 80 e 90, a relevância do tema e as discussões na
sociedade civil organizada ganharam destaque e passaram a ser propostas ações por
parte do Estado, que tiveram como o marco principal a Constituição Federal de 1988,
legitimando a dignidade e os direitos dos cidadãos. O Brasil passou a ser uma nação
que se preocupa e atua na garantia dos direitos humanos (BRASIL, 2013).
É fundamental refletir, por conseguinte, que a luta pela garantia dos direitos
humanos surgiu em contextos de guerra, altamente devastadores. Atualmente, apesar
desses contextos ainda estarem sendo vivenciados por muitas nações, percebe-se
um movimento contrário de grande parte dos países em relação a deflagrações de
guerras. Contudo, isso não garante que as barbáries contra a dignidade humana
sejam extintas. Atualmente ainda se luta contra a violação de direitos e consequente
desumanização de mulheres, pobres, negros, população carcerária e LGBT, só para
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citar alguns exemplos. Apesar das pessoas chocarem-se mais com a violência, a
coisificação das relações - ou seja, o fato de dar mais valor às coisas do que às
pessoas (BUTTURE, 2012 apud BRASIL, 2013) - ainda existe, e o fundamentalismo
de crenças e opiniões ainda produz muita violência.
Ao pensar nas estratégias para lidar com isso e efetivar as ações no âmbito dos
direitos humanos, ressalta-se que a Declaração Universal dos Direitos Humanos
prevê que os países trabalhem na educação do seu povo para a afirmação e
consolidação desses direitos. Destaca-se que, para tanto, é necessário que os valores
morais sejam trabalhados desde cedo nas crianças.
O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) explica que
atualmente, ao se falar em direitos humanos, fala-se em conceitos como os de
cidadania democrática, ativa e planetária:

O processo de construção da concepção de uma cidadania planetária e do exercício


da cidadania ativa requer, necessariamente, a formação de cidadãos(ãs) conscientes
de seus direitos e deveres, protagonistas da materialidade das normas e pactos que
os(as) protegem, reconhecendo o princípio normativo da dignidade humana,
englobando a solidariedade internacional e o compromisso com outros povos e
nações. Além disso, propõe a formação de cada cidadão(ã) como sujeito de direitos,
capaz de exercitar o controle democrático das ações do Estado (BRASIL, 2013, p.
15).

Destaca-se, acerca disso, que a educação para o exercício da cidadania é de


competência de diversos órgãos e entidades, mas o sistema educacional tem papel
fundamental ao estabelecer práticas voltadas nos princípios de liberdade e dignidade
humanas. Trata-se do conceito de educação para uma cultura democrática, que deve
ser baseada no pleno desenvolvimento humano e suas potencialidades, pautando-se
em valores de solidariedade, tolerância e justiça social, compreendendo a educação
“como um direito em si mesmo e um meio indispensável para o acesso a outros
direitos” (BRASIL, 2013, p. 17).
Ao Estado, através das suas diversas instituições e poderes, cabe o papel
fundamental da garantia desses direitos individuais e coletivos, bem como a função
de trabalhar na educação dos direitos humanos, conforme preconiza o Art. 134 da
Constituição Federal de 1988.

6. JUSTIFICATIVA
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Falar em direitos humanos tem se mostrado como uma necessidade cada vez
mais eminente em nossa sociedade, pois constantemente é possível se deparar com
situações graves que infringem esses direitos. Essas situações ocorrem em todos os
contextos sociais, econômicos e geográficos, o que indica a importância da ampliação
do debate sobre o tema, em especial, com as crianças e adolescentes: a geração que
tem o poder de produzir mudanças daqui para frente.
Falar em direitos humanos é falar em justiça social, em senso de humanidade,
em respeito ao próximo, em convivência em comunidade. Significa identificar nossos
próprios direitos, mas também reconhecer em que ponto eles se chocam com os
direitos do outro e estabelecer os limites. Denota saber onde deve-se buscá-los e
onde é possível reivindicá-los quando não forem atendidos.
Contudo, sabe-se que nem todas as informações são acessíveis para todos os
cidadãos. A mídia e as redes sociais bombardeiam a população diariamente com
informações contrárias, distorcidas, imparciais e muitas vezes preconceituosas,
propiciando enxurradas de debates entre grupos opostos com opiniões antagônicas
que frequentemente terminam em ofensas e quase nunca em consensos. Em meio a
tudo isso, muitas pessoas se perdem: não sabem em quem acreditar, não sabem que
posição assumir (nem mesmo sabem se é preciso ou não assumir uma posição), não
sabem como agir e não sabem quem respeitar. E quem perde somos todos nós.
Em meio a tudo isso, faz-se necessário falar. É preciso promover a discussão,
a reflexão, a flexibilização de pensamentos, num processo de transformação de uma
cultura de violência para uma verdadeira Cultura de Paz. As pessoas precisam
aprender a diferenciar a liberdade de expressão do direito de ofender, o direito de ir e
vir com o de ocupar espaços alheios por direito e, principalmente, a
complementaridade entre respeitar e (para) ser respeitado. Por isso, este projeto tem
a pretensão de levar os direitos humanos para serem pensados no local em que o
conhecimento e as opiniões de formam e se aprimoram rotineiramente: nas escolas.
Nesse sentido é que foi pensado o projeto “Educação em Direitos Humanos:
por uma cultura de paz nas escolas”. Resultante do projeto piloto “Defensoria Pública
e Direitos Humanos nas Escolas”, que iniciou as atividades em 2016 com duas turmas
de 9º anos do ensino fundamental, o projeto uniu trabalhos semelhantes
desenvolvidos pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e
anexos de Ponta Grossa (através do Projeto “Maria nos Bairros”) e pelo Núcleo de
Estudos e Formação de Professores em Educação para a Paz e Convivências da
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Universidade Estadual de Ponta Grossa numa única proposta, visando a articulação


de saberes, bem como a atuação intersetorial e transdisciplinar na comunidade
escolar.

7. EIXOS DE ATUAÇÃO E PÚBLICO ALVO:

i. Intervenção com alunos de 8º anos do ensino fundamental a 1° anos do


ensino médio dos colégios selecionados, promovida pela equipe de
profissionais da Defensoria Pública;
ii. Intervenção com alunos de 6° anos a 8º anos do ensino fundamental dos
colégios selecionados, promovida pela equipe de trabalhadoras voluntárias;
iii. Capacitação de professores dos colégios selecionados, promovido pela
equipe do Núcleo de Educação para a Paz;
iv. Abordagem de pais de alunos dos colégios selecionados, promovido pelo
Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Núcleo de
Educação para a Paz e a pedagoga Carmem.

8. OBJETIVOS:

8.1. Geral
Propiciar educação em direitos humanos.

8.2. Específicos
i. Estimular a reflexão sobre direitos e deveres;
ii. Reconhecer e efetivar a cidadania;
iii. Refletir sobre suas ações na convivência social;
iv. Respeitar as diferenças em suas diferentes dimensões;
v. Comprometer-se com a construção da cultura de paz na comunidade.

9. METODOLOGIA

Para o trabalho com os adolescentes será utilizada a metodologia dos Círculos


de Construção de Paz. Conforme apresentado por Kay Pranis (2010), os Círculos de
Construção de Paz reúnem pessoas com interesses comuns em um espaço onde
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todos são tratados igualmente, oferecendo a possibilidade de dialogar sobre suas


experiências pessoais mais difíceis, de modo que possam ser de fato ouvidas e
respeitadas plenamente.
A ideia central da filosofia que norteia esse trabalho é a de que todos os
participantes possuem sabedoria para transmitir aos demais e, por isso, todos os
participantes podem aprender com a experiência do outro. Também é de fundamental
importância considerar que todos precisam de ajuda e que, quando ajudamos o outro,
estamos também ajudando a nós mesmos. A partir dessa preciosa troca, abre-se a
possibilidade para uma ressignificação dos próprios problemas e para se chegar a
novas soluções.
Utilizar-se-á do trabalho com círculos de diálogo, nos quais, segundo Pranis:
[...] os participantes exploram determinada questão ou assunto a partir de
vários pontos de vista. Não procuram consenso sobre o assunto. Ao contrário,
permitem que todas as vozes sejam ouvidas respeitosamente e oferecem aos
participantes perspectivas diferentes que estimulam suas reflexões (2010, p.
29).

Com as turmas de 8° anos do ensino fundamental a 1° anos do ensino médio


serão realizados quatro encontros com duração aproximada de duas horas e trinta
minutos cada, com periodicidade semanal e datas definidas conforme disponibilidade
da agenda escolar. Os temas discutidos nos encontros são: direitos e deveres,
liberdade consciente, igualdade de gênero e violência doméstica e respeito às
diferenças.
Para os alunos de 6° a 8° anos do ensino fundamental, adotou-se a
metodologia de oficinas expositivas com a realização de dinâmicas sobre assuntos
relacionados a direitos humanos e cultura de paz, como: bullying, violência doméstica,
gênero, respeito às deficiências e direitos e deveres. Cada oficina tem duração
aproximada de uma hora e trinta minutos. Cada tema será abordado em um encontro
com cada turma das escolas parceiras.
Para a capacitação dos professores, serão disponibilizadas de 20 a 30 vagas
por colégio para a participação em curso semi-presencial em Educação em Direitos
Humanos/Educação para a Paz, com carga horária de 40 horas, promovido e
certificado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, através do Núcleo de
Educação para Paz. Os conteúdos desta formação tratam da articulação dos Direitos
Humanos com os sub-campos dos valores humanos, conflitologia, prevenção das
violências e conivências escolares pacíficas. Os encontros presenciais ocorrerão na
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forma de grupos de estudo – metodologia que foi aprovada pelo Núcleo Regional de
Educação por possibilitar compatibilização com as atividades dos professores e
equipe pedagógica.
Quanto a intervenção com os pais, serão aproveitados os espaços de reunião
escolar bimestral para, na forma de palestra, realizar exposição com a temática de
direitos humanos, com duração máxima de uma hora. Fundamentalmente, a intenção
é mobilizar as famílias para o entendimento dos Direitos Humanos e a Cultura de Paz
como estratégias cotidianas que podem ser aplicadas para favorecer a qualidade das
relações no ambiente familiar.
Enfatiza-se que a qualidade das convivências familiares é fundamental para a
prevenção e minimização de atitudes violentas e para a promoção de uma cultura de
não-violência. Assim, as palestras serão tratadas da forma de “rodas de conversa”,
com diálogo aberto entre os palestrantes e as famílias, versando temas do cotidiano
com foco mais relacionado à direitos e deveres infanto-juvenis e o papel dos
pais/responsáveis e da escola, bem como sobre a Rede de Proteção e os respectivos
serviços disponibilizados pelas instituições que a compõem, numa perspectiva de
informação e garantia de direitos.

9.1 Etapas
i. Apresentação do projeto para a direção dos colégios selecionados, para
discussão da proposta e sugestões;
ii. Análise dos temas propostos e definição de abordagens relacionadas ao
tema “direitos humanos”;
iii. Articulação em reuniões com os estabelecimentos parceiros para a
construção da metodologia de trabalho;
iv. Exposição da proposta para autorização junto ao Núcleo Regional de
Educação;
v. Planejamento das ações nos três eixos de atuação (alunos, pais e
professores);
vi. Organização do cronograma de acordo com a disponibilidade da escola;
vii. Seleção e capacitação de trabalhadores voluntários;
viii. Execução das atividades;
ix. Avaliação das intervenções realizadas.
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10. CRONOGRAMA

2016
M J J A S O N D
ATIVIDADES A U U G E U O E
I N L O T T V Z
Apresentação do projeto para a direção do Colégio Becker e
x
Silva.
Análise dos temas e definição de abordagens. x
Execução das atividades x x
Avaliação. x

2017
F M A M J J A S O N D
ATIVIDADES E A B A U U G E U O E
V R R I N L O T T V Z
Reuniões de planejamento entre a equipe executora. x x x
Apresentação do projeto para a direção dos colégios. x
Reuniões com os estabelecimentos parceiros. x x x
Autorização junto ao Núcleo Regional de Educação. x
Planejamento das ações nos três eixos de atuação. x x
Execução das atividades x x x x x x x x x
Avaliação. x

2018
J F M A M J J A S O N D
ATIVIDADES A E A B A U U G E U O E
N V R R I N L O T T V Z
Reuniões de planejamento entre a equipe executora. x x
Reuniões com os estabelecimentos parceiros. x
Seleção e capacitação de trabalhadores voluntários x x
Execução das atividades x x x x x x x x x
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Avaliação. x
11. RECURSOS

11.1 Humanos
i. Equipe técnica da Defensoria Pública (assistentes sociais e psicóloga);
ii. Equipe técnica do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher e anexos de Ponta Grossa (assistente social e estagiários de
Serviço Social);
iii. Professores (Universidade Estadual de Ponta Grossa e profissional
autônomo);
iv. Trabalhadores voluntários.

11.2 Materiais
500 folhas A4, 20 canetas coloridas, 20 canetas esferográficas (tinta azul ou
preta), 10 cartolinas, barbante, bola de isopor, tesouras, dentre outros, custeados pelo
Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e anexos de Ponta Grossa
e pela Defensoria Pública, além de recursos audiovisuais (multimídia para a
transmissão de vídeo e apresentação em slides) disponibilizados pelos colégios
parceiros.

11.3 Físicos
Sala de aula com capacidade para 30 pessoas nos colégios parceiros.

12. REFERÊNCIAS

BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de


Educação em Direitos Humanos: 2013. Brasília: Secretaria dos Direitos Humanos,
2013.

PRANIS, Kay. Processos Circulares. Tradução de Tônia Van Acker - São Paulo:
Palas Athena, 2010. Título original: “The little book of circle”.

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