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PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

UNIDADE III: Psicologia e Política Públicas - alguns


desafios contemporâneos

Me. Lucivaldo José Castellani

Objetivos de Aprendizagem

● Apresentar a Psicologia como ciência e profissão, e como agente de


transformações individuais e coletivas;
● Contribuir para a ampliação, aprimoramento e fortalecimento da inserção
da psicologia e do psicólogo no campo das políticas públicas;
● Compreender a inserção do psicólogo nas Políticas Públicas
contemporâneas.

● Identificar as políticas públicas frente à violência e aos direitos humanos


no Brasil.
● Identificar as políticas públicas voltadas ao uso abusivo de álcool e
drogas.
● Compreender as políticas públicas direcionadas para a saúde mental.
● Identificar as políticas públicas frente à educação.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

● A psicologia e os direitos humanos


● Psicologia e políticas públicas voltadas ao uso do álcool e drogas
● Psicologia e políticas públicas voltadas à Saúde Mental
● Psicologia e políticas públicas educacionais
INTRODUÇÃO

Compreender as políticas públicas no contexto brasileiro é fundamental


para a atuação do profissional da psicologia. As políticas públicas fazem parte
do cotidiano do psicólogo, independente do seu campo de trabalho. Elas são
sempre um conjunto de programas, ações que o poder público desenvolve de
forma direta ou indireta. Baseiam-se em diretrizes, princípios de ação, regras e
procedimentos para relações entre poder público e sociedade, mediações entre
diversos atores sociais com objetivo de responder a demandas de setores
marginalizados da sociedade, considerados como vulneráveis.
Nesta unidade, você terá oportunidade de estudar sobre quatro temas
importantes relativos às políticas públicas. Na primeira aula você estudará as
políticas públicas e os direitos humanos, compreendendo que a dignidade é o
eixo fundamental dos direitos humanos, onde também a psicologia contribui
essencialmente para o desenvolvimento e melhoria do ser humano e suas
condições de vida nas mais diversas etapas do desenvolvimento.
Na segunda aula, você estudará os problemas enfrentados pelo Estado
a respeito do crescimento e uso de substâncias do álcool e das drogas. Você
entenderá que esta realidade configura-se como um problema de saúde
pública global devido suas consequências, entre elas, a dependência
decorrente de seu uso e a gravidade de seus efeitos, que ultrapassa o limite do
biológico/individual, refletindo na sociedade.
Na terceira aula, você terá oportunidade de refletir sobre as políticas
públicas de saúde mental. O Brasil é o país com maior prevalência de
depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas
Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de
depressivos. O país é recordista mundial em prevalência de transtornos de
ansiedade: 9,3% da população sofre com o problema. Ao todo, são 18,6
milhões de pessoas. Nesse sentido, foram elaboradas muitas iniciativas e
programas de políticas voltadas à saúde mental da população. Tais iniciativas
contribuíram para a qualidade de vida da população, impactando na redução
do adoecimento/sofrimento psíquico e no desenvolvimento de condições
existenciais mais favoráveis às pessoas.
E, na quarta aula, você conhecerá as políticas públicas dirigidas à
educação, ou seja, as políticas educacionais fazem parte do grupo de políticas
públicas do país. Tais iniciativas constituem um elemento de normatização do
Estado, guiado pela sociedade civil, que visa garantir o direito universal à
educação de qualidade e o pleno desenvolvimento da pessoa.
Desejamos a você sucesso e excelentes momentos de estudo e reflexão
sobre os problemas e desafios contemporâneos a respeito das políticas
públicas, bem como, a atuação do profissional da psicologia junto a esses
desafios e práticas, com vistas à cidadania.
Bons estudos!
Aula 1: Psicologia e direitos humanos no Brasil.

Fonte: Disponível em:


https://thumbs.jusbr.com/imgs.jusbr.com/publications/images/227c9948503dd14d4711d82acd0
964a7

Articular o encontro entre a Psicologia e os Direitos Humanos no Brasil


pode parecer algo dispensável, visto que a convergência entre a Psicologia e
os Direitos Humanos pode sinalizar uma obviedade. Paralelamente a isso,
poderíamos pensar também o contrário, ou seja, propor um diálogo entre
Psicologia e Direitos Humanos pode significar uma sobreposição de áreas, já
que o campo dos Direitos Humanos tradicionalmente sempre foi algo
relacionado ao Direito (ROSATO, 2011).

De qualquer maneira, sabemos que os Direitos Humanos (DH)


constituem a categoria mais básica de direitos de qualquer ser humano, em
qualquer parte do mundo. Por essa compreensão, entendemos que não há
distinção de classe social, cor, gênero, nacionalidade, religião, orientação
sexual ou de qualquer outro tipo que anule os direitos fundamentais de uma
pessoa.

Os DH constituem-se como o conjunto de conquistas resultante de uma


luta coletiva de diversos atores sociais por uma cultura de respeito aos direitos
civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Os principais fundamentos dos
Direitos Humanos dizem respeito à igualdade e à dignidade humana, a partir de
uma perspectiva sócio-histórica, não naturalista e enquanto uma construção
em determinado período da história mundial, não sendo atributos naturais e
inerentes ao ser humano.
Segundo Rabenhorst (2005, p. 205):

A teoria dos Direitos Humanos é uma invenção da modernidade. Afinal,


até o fim da Idade Média o direito foi pensado praticamente em termos
de deveres ou obrigações e não com pretensões ou interesse
subjetivos. Obviamente, isso não significa dizer que as culturas antigas
não tenham defendido uma certa concepção de justiça ou do respeito
devido aos seres humanos. Contudo, a pressuposição contemporânea
de que todos os homens possuem o mesmo valor e que, por tal razão,
são titulares de um idêntico conjunto de direitos inalienáveis, era
absolutamente estranha aos antigos.

A Segunda Guerra Mundial, com o saldo de aproximadamente 501


milhões de pessoas brutalmente assassinadas, impôs às nações a
necessidade de se pensar estratégias internacionais que inibissem novos
genocídios dessa proporção. É possível que esta inspirasse a gênese para
que, no ocidente, se pudesse nomear uma categoria de Direitos Humanos.

Quando pensamos em DH, essa é uma ideia moderna na história da


sociedade, trazendo como perspectiva principal a universalidade,
indivisibilidade e interdependência dos DH. Piovesan (2002) afirma que a
concepção de DH deriva do pós Segunda Guerra Mundial, momento em que o
mundo se confrontou com inúmeras atrocidades oriundas dos regimes
totalitários, mobilizando a comunidade internacional a criar um dispositivo
normativo para frear estas violações.

Nesse sentido, houve um entendimento da necessidade de haver um


instrumento de porte internacional para garantir a proteção dos DH de qualquer
pessoa, independente de seu país de origem. Tal necessidade fez despontar,
em 1945, a ONU (Organizações das Nações Unidas), a maior e mais
importante organização internacional com objetivo de proteção aos DH, bem
como, a manutenção e segurança da paz e segurança em âmbito mundial. Na
sequência das iniciativas de garantir os DH, surge logo após, em 1948, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).

Com esses instrumentos internacionais reconhece-se avanços, incluindo


adoção de outras Declarações, Tratados e Pactos Internacionais sobre a
proteção e respeito aos DH, tais como, Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos (1966); Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais (1966), Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Racial (1968), Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979), Convenção sobre
os Direitos da Criança (1989), dentre outros (ROSATO, 2011).

Mondaini (2006, p. 12) afirma o lugar dos DH na contemporaneidade.


Para ele, na atualidade, não obstante as inúmeras conquistas obtidas em torno
da afirmação dos direitos humanos, tanto no campo jurídico-legal como no
plano cultural-ideal, continuam a se fazer presentes críticas que parecem
ignorar o fato de que o único instrumento capaz de medir o nível de civilidade
alcançado por uma sociedade – e seu progressivo distanciamento da barbárie
– localiza-se exatamente na capacidade que esta tem de fazer com que os
seus concidadãos sejam protegidos pelo generoso guarda-chuva dos direitos
humanos.

Reconhece-se que os Direitos Humanos funcionam como termômetro ou


bússola norteadora que indica o grau de civilidade de uma sociedade. Isso não
se refere apenas ao respeito formal, mediante legislações, por exemplo, mas
trata-se da construção de uma cultura que respeite os Direitos Humanos
efetivamente para todas as pessoas (ROSATO, 2011).

Na linha da construção de uma cultura de proteção aos DH, Bobbio


(2004) afirma que o campo dos DH é uma arena política, ou seja, o problema
fundamental em relação aos direitos dos homens, hoje, não é tanto o de
justificá-los, mas o de protegê-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas
político (p. 43). É o caso, por exemplo, no Brasil das lutas dos movimentos
sociais pelos direitos humanos, nas décadas de 60 e 70, período conhecido
como „anos de chumbo‟ (ROSATO, 2011).

De acordo com Sader (1988), frente a um Estado repressor e autoritário,


novos atores sociais surgem enquanto estratégia de resistência, principalmente
a partir de movimentos ligados à Igreja, à esquerda e ao sindicalismo,
apoiando-se valores de justiça contra as desigualdades imperantes na
sociedade; da solidariedade entre os dominados, os trabalhadores, os pobres;
da dignidade constituída na própria luta em que fazem reconhecer seu valor;
fizeram da afirmação da própria identidade um valor que antecede cálculos
racionais para a obtenção de novos objetivos concretos (p. 312).

1 - PSICOLOGIA E DIREITOS HUMANOS

Fonte: Disponível em: https://crp03.org.br/midia/livreto-psicologia-e-direitos-humanos-2/

Elegendo a dignidade humana como eixo fundante dos Direitos


Humanos, torna-se possível pensar nessa meta também para a Psicologia, na
medida em que esta trabalha para o desenvolvimento e a melhoria do ser
humano e suas condições de vida nas mais diversas esferas.

A este respeito, cabe lembrar que corre-se o risco de ver o trabalho da


psicologia distante do campo das ações políticas. Entretanto, todo profissional
da psicologia é político, visto que a prática do psicólogo é atravessada por
todas as forças econômicas, sociais e culturais. E, ao mesmo tempo, o
psicólogo também está intervindo nesses mesmos campos que compõem a
produção das subjetividades. Assim, o campo dos DH não é uma área, uma
especialidade do psicólogo (a), senão, uma maneira de ver o mundo, de agir e
produzir sua intervenção.

Os DH estão presentes em todo o campo de atuação profissional do


psicólogo. Os valores que estão presentes nas declarações de direitos
humanos, bem como em todo Sistema de Garantias, pautam, inclusive, o
nosso código de ética profissional: o respeito, a promoção da liberdade, da
dignidade, da igualdade, da integridade etc. Todos esses são valores e
bandeiras de luta do campo dos direitos humanos, mas isso pode acontecer
em qualquer espaço: no consultório particular, em uma instituição, em um
espaço de atuação profissional.

A constatação de que, tanto os DH quanto a Psicologia buscam a


dignidade humana, reforça a proximidade entre ambos. O pensar teórico e a
práxis cotidiana de ambos os campos possibilitam uma aproximação
fundamental. Os Direitos Humanos não seriam uma questão externa à
Psicologia, mas algo que se coloca diariamente em nossa prática profissional e
acadêmica. Nossa prática, nossa ciência tem a ver diretamente com a
construção dos Direitos Humanos (ROSATO, 2011).

Não só existe a interlocução entre Psicologia e Direitos Humanos, como


também se torna importante ressaltar que a prática profissional da Psicologia
tem relação direta com a construção dos Direitos Humanos. Isso permite
avançar nessa análise e compreender que, do ponto de vista teórico-prático,
uma intervenção psicológica pode contribuir para construir ou não os Direitos
Humanos de uma determinada sociedade.

O agir profissional pode incorrer na construção dos Direitos Humanos ou


no seu contrário. A Psicologia tem ferramentas para o trabalho de redução de
conflitos, comunicação não violenta, habilidades sociais e emocionais, de forma
a garantir a segurança social e a paz. A profissão possui arcabouço para atuar
na mitigação dos efeitos das violações de direitos humanos, desde o trauma
psicológico até o trabalho com a memória coletiva em situações de
emergências e desastres (NASCIMENTO, 2014).

#SAIBA MAIS#

★ A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um documento oficial


elaborado e aprovado pela Comissão de Direitos Humanos da ONU em
1948, composto por um preâmbulo e 30 artigos. O documento
reconhece os direitos fundamentais de qualquer ser humano e garante
que esses direitos sejam aplicados para o bem e pela dignidade da
humanidade. Os direitos apresentados nos artigos vão dos mais
básicos, como o direito à vida, à liberdade, à integridade física e à
saúde, até os direitos políticos, jurídicos, a liberdade de expressão e o
direito à educação. O documento em língua portuguesa pode ser
acessado pelos portais da ONU ou da Unicef no Brasil. Acesse:
https://brasil.un.org/pt-br/91601-declaracao-universal-dos-direitos-
humanos.

★ A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de


Psicologia pretende manter-se fiel ao seu objetivo de contribuir para a
elucidação dos nexos existentes entre Psicologia e Direitos Humanos.
Para mais informações, você pode acessar: https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2004/05/cartilha_dh.pdf

#SAIBA MAIS#

#PARA REFLETIR#

★ Discursos que podem matar, discursos de verdade e discursos que


fazem rir. E os discursos de verdade que fazem rir e que têm o poder
institucional de matar são, no fim das contas, numa sociedade como a
nossa, discursos que merecem um pouco de atenção” (Foucault, 2001).

★ Conheça alguns casos de violação dos DH no Brasil -


https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2004-12-10/conheca-
alguns-casos-de-violacao-aos-direitos-humanos-no-brasil.
Aula 2: Psicologia e políticas públicas voltadas ao uso do álcool e drogas

Fonte: Disponível em: https://blog.cenatcursos.com.br/saude-mental-alcool-e-drogas/

A realidade contemporânea tem colocado novos desafios no modo como


certos temas têm sido habitualmente abordados, especialmente no campo da
saúde. Isso se dá pelo fato de que certas realidades sobre as quais intervimos
apresentam-se complexas evitando tratamentos simplificados. Aliados a esses
desafios encontram-se as políticas públicas, que se referem ao conjunto de
ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um
compromisso público que visa dar conta de determinada demanda, em
diversas áreas.

As políticas públicas, no estado moderno, converteram-se em um


instrumento importante na organização da sociedade, pois codificam normas e
valores sociais, influenciam a conduta das pessoas e contém modelos de
sociedade. Por tais razões, elas são importantes processos na construção da
sociedade e têm importantes implicações culturais, legais, morais e
econômicas (SOUZA, 2003).

As políticas públicas adquirem uma missão específica à medida que


buscam solucionar fenômenos distintos, tais como, à política de educação,
proteção ambiental e defesa nacional (SOUZA, 2003). A sequência de ações
que precede a criação de uma política pública inicia após a identificação dos
problemas, a partir do qual surge a necessidade de apresentar alternativas
viáveis à sua resolução. Tais alternativas são hierarquizadas segundo uma
ordem de preferências, evidenciando-se, em simultâneo, a ordem dos
problemas e a importância dos instrumentos a utilizar (PEREIRA, 2005).

Dentre os problemas enfrentados pelo Estado, o crescimento da


circulação e uso de substâncias psicoativas ganham destaque, principalmente
a partir do início do século XX. Tal realidade configura-se um problema de
saúde pública global devido suas consequências, entre elas, a dependência
decorrente de seu uso, à gravidade de seus efeitos, que ultrapassa o limite do
biológico, refletindo na sociedade, à severidade dos efeitos produzidos pelo
seu uso crônico, e o aumento vertiginoso da prevalência do uso na população
mundial (LORENZO, 2006).

Historicamente, a regulação do uso destas substâncias se estabeleceu


em contextos sócio-culturais específicos, que condicionaram o seu consumo
mediante normas e convenções socialmente compartilhadas. Porém, o
isolamento de princípios ativos de substâncias psicoativas e sua
industrialização no início do século XIX, somado a popularização crescente do
consumo e ao próprio contexto histórico brasileiro, marcado por intensa
urbanização, pauperização e aumento das desigualdades sociais, contribuíram
para a concretização de uma emergente demanda social (ALVES, 2009).

1 - Políticas públicas brasileiras e o enfrentamento do consumo do álcool


e drogas

A questão do abuso de álcool e outras drogas foram alvos de políticas


públicas, que inicialmente construíram seus discursos em dispositivos de
criminalização e medicalização, onde o usuário de droga é de responsabilidade
do sistema judiciário ou é alvo de internações compulsórias, por meio da
psiquiatrização do abuso (SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

Esse posicionamento repressivo ao enfrentamento das drogas,


assumido inicialmente pelo Estado Brasileiro, foi fortemente influenciado por
movimentos e decisões internacionais. As ações dos Estados Unidos da
América (EUA) e o posicionamento proibicionista, devido ao exponencial
crescimento da industrialização de bebidas alcoólicas no país, constituíram-se
no alicerce ideológico para as políticas públicas sobre drogas ao redor do
mundo, o qual desencadeou uma série de outros eventos que culminaram com
a discussão da questão do ópio no Encontro de Xangai, em 1906 e 1911, e nas
Conferências de Haia em 1912 e 1914.

Dada essas influências internacionais e frente a essa emergente


demanda social, houve em 1924, a inclusão no Código Penal Brasileiro, do
decreto 4.294, que propôs pena de prisão para aqueles que vendessem ópio,
seus derivados e cocaína, e do decreto 14.969, que criou o “sanatório para
toxicômanos”.

Nesta época, as oligarquias mantinham a exclusão social da população


mais pobre, em especial dos ex-escravos, e o país passava então por
momento de alta tensão social e criminalidade crescente, fato que pode ter
catalisado o alastramento do consumo de drogas na população brasileira
(ALVES, 2009).

Aquém das medidas repressivas ao consumo de drogas, registros


históricos relatam que a primeira lei proibicionista no Brasil data de 1830, cuja
responsável – Câmara Municipal do Rio de Janeiro - aplicava penalidades aos
negros vadios que fossem pegos fumando maconha. Mas foi o Código Penal
Republicano, de 1890, o primeiro diploma penal brasileiro incriminador, que
expressamente dispôs, no artigo 159, sobre a proibição a algumas substâncias
tidas como venenosas (FORTES, 2010).

Apesar da criação do Ministério da Saúde em 1953, em nenhum


momento o consumo abusivo de drogas foi alvo de intervenções setoriais
desse órgão, que desde sua criação até meados do século XX manteve seu
foco na vigilância sanitária e no controle das epidemias que assolavam o
território brasileiro (LIMA, 2003).

Até os anos de 1950 as drogas não eram vistas como hoje porque não
tinham a mesma importância econômica e política da atualidade, nem o seu
consumo havia atingido proporções tão elevadas. Era mais um universo
misterioso devido ao destacado uso de opiáceos, como a morfina e a heroína,
próprio de grupos marginais da sociedade, desde integrantes da aristocracia
européia, médicos, intelectuais, músicos, delinquentes e até mesmo grupos da
elite da América Latina (SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

A ONU realizou três grandes convenções internacionais - Nova Iorque,


1961; Viena, 1971 e 1988, reafirmando a concepção internacional repressiva
de combate ao uso e tráfico de drogas, bem expresso pelo termo: “war of drug”.
O Brasil, enquanto participante dessas convenções, propôs no ano de 1971, no
âmbito da justiça penal, a Lei 5726, que dispõe sobre medidas preventivas e
repressivas ao tráfico e uso de substâncias entorpecentes ou que determinem
dependência física ou psíquica (SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

A Lei 5726 foi substituída pela Lei 6.368 de 1976, que dispõe sobre
medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de
substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica.
A nova lei apresentou certo avanço, principalmente por ampliar o leque de
ações preventivas, destinando ações para os dependentes de entorpecentes e
não apenas para os infratores viciados (BRASIL, 1976).

O conteúdo de ambas as leis deixa transparecer a forte influência da


concepção médico-psiquiátrica, na qual o usuário de drogas passou a ser
considerado um doente e os hospitais psiquiátricos tornaram-se os dispositivos
assistenciais privilegiados de atenção, sendo importante ressaltar que tais
portas assistenciais foram abertas aos consumidores de drogas, inicialmente,
sob a alçada do Ministério da Justiça (SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

A partir de 1980, o Conselho Federal de Entorpecentes (COFEN), foi o


responsável pela formulação de políticas públicas para o enfrentamento das
drogas. A partir de 1998, foi substituído pelo Conselho Nacional Antidrogas
(CONAD), vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República, outro órgão governamental responsável pelas diretrizes relativas ao
controle do impacto das drogas na sociedade brasileira (ALVES, 2009).

O CONAD iniciou uma violenta guerra contra as drogas, retratando-as


como ameaça à humanidade e à vida em sociedade e, buscando,
incessantemente atingir o ideal de construção de uma sociedade livre do uso
de drogas ilícitas e uso indevido de drogas lícitas (BRASIL, 2002).

Em 2002 foi instituída a Lei 10.409, afirmando que o tratamento do


dependente ou usuário seria feito de forma multiprofissional e, sempre que
possível, com a assistência de sua família. Foi a primeira menção na legislação
brasileira sobre redução de danos, onde o Ministério da Saúde foi o incumbido
desta regulação. Entretanto, com vários de seus artigos vetados, essa lei não
revogou por completo a lei Lei 6.368/19765 (SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

Essa importante mudança ocorridas no cenário político da época,


somada a experiências adquiridas na implementação de programas de redução
de danos na atenção à saúde de usuários de drogas injetáveis e a formulação
da Política do Ministério da Saúde Para Atenção Integral a Usuários de Álcool e
Outras Drogas, contribuíram para o realinhamento discursivo na política do
CONAD, a começar pelo nome, que mudou de „Antidrogas‟ para “Políticas
sobre Drogas” (ALVES, 2009).

Em 2005, o CONAD aprovou a Política Nacional sobre Drogas, que


admite a importância de incluir a questão do uso abusivo de drogas como um
problema se saúde pública, e admite a necessidade do tratamento,
recuperação e reinserção social do usuário de álcool e outras drogas (SANTOS
e OLIVEIRA, 2012).

Assim, a Política Nacional sobre Drogas tem como principais diretrizes:


atingir o ideal de construção de uma sociedade protegida do uso de drogas;
reconhecer o direito de toda pessoa receber tratamento para drogadição;
reconhecer as diferenças entre o usuário, a pessoa em uso indevido, o
dependente e o traficante; priorizar ações de prevenção; incentivar ações
integradas aos setores de educação, saúde e segurança pública; promover
ações de redução de danos; garantir ações para reduzir a oferta de drogas no
país, entre outras orientações (BRASIL,Gabinete de segurança institucional,
2005).

Apesar da lentidão em considerar os usuários de álcool e outras drogas


como um assunto de saúde pública, em 2003, o Ministério da Saúde publicou o
documento „A Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários
de Álcool e Outras Drogas‟, diretriz principal na área da saúde pública
(BRASIL, 2004).

Essa política tem nos princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica seus


eixos centrais, a partir dos quais trabalha as especificidades de seu público-
alvo. Suas principais orientações visam o estabelecimento e fortalecimento de
um trabalho em rede, para proporcionar atenção integral, acesso facilitado aos
serviços, participação do usuário no tratamento e a criação de serviços de
atenção diária como alternativa ao hospital psiquiátrico -os Centros de Apoio
Psicossocial (CAPS) e os Centros de Apoio Psicossocial álcool e drogas
(CAPSad) (SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

Esses CAPS e sua modalidade para atendimento exclusivo para usuário


de álcool e drogas – CAPS AD, é a expressão prática da Reforma Psiquiátrica,
pois trata-se de uma modalidade de atenção à saúde centrada na comunidade,
caracterizada por atendimento ambulatorial realizado por uma equipe
multiprofissional especializada, articulando ações de redução de danos,
prevenção, recuperação, tratamento e reinserção social dos usuários de drogas
de abuso (SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

Promover essa reflexão sobre a evolução do pensamento político sobre


o enfrentamento do consumo abusivo de álcool e outras drogas na sociedade
brasileira é extremamente importante, à medida que mostra o amadurecimento
ideológico que serviu de alicerce metodológico para fundamentar as políticas
públicas no último século direcionadas para esse parcela populacional excluída
(SANTOS e OLIVEIRA, 2012).

#SAIBA MAIS#

★ CAPS - Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ou Núcleo de Atenção


Psicossocial é um serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema
Único de Saúde (SUS). Ele é um lugar de referência e tratamento para
pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses
graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem
sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário,
personalizado e promotor de vida.
★ O objetivo dos CAPS é oferecer atendimento à população de sua área
de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção
social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos
civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É um serviço
de atendimento de saúde mental criado para ser substitutivo às
internações em hospitais psiquiátricos.
★ Para ser atendido em um CAPS pode-se procurar diretamente esse
serviço ou ser encaminhado pelo Programa de Saúde da Família ou
por qualquer serviço de saúde. A pessoa pode ir sozinha ou
acompanhada, devendo procurar, preferencialmente, o CAPS que
atende à região onde mora.

★ Acesse a Plataforma Brasileira de Política de Drogas -


https://pbpd.org.br/. Esta plataforma é uma rede nacional que busca
debater e promover políticas de drogas fundamentadas na garantia dos
direitos humanos e em evidências científicas, na redução dos danos
produzidos pelo uso problemático de drogas e pela violência associada
à ilegalidade de sua circulação, bem como na promoção da educação e
da saúde pública.

★ https://www.gov.br/saude/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-
programas/caps

#SAIBA MAIS#

#PARA REFLETIR#

★ FONTE:
★ Sesi e Você na Prevenção das Drogas. / Marilia de Souza (org); Sidarta Ruthes (org); Raquel Valença (org);
Caroline Rosaneli ... [et al.]. – Curitiba: Sesi/PR, 2013. Disponível em: https://www.sesipr.org.br/cuide-se-
mais/alcool-e-outras-drogas/uploadAddress/caderno_adolescentes_online[42936].pdf


Aula 3: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS À SAÚDE
MENTAL

Fonte: Disponível em: https://agendapositiva.org.br/artigo/cuidando-da-saude-mental

Nesta aula você terá acesso ao estudo das Políticas Públicas nas
perspectivas da Saúde Mental. Este tema vem ao encontro da necessidade de
conhecimento, elaboração e necessidade de se buscar e incentivar cada vez
mais políticas públicas voltadas para a saúde mental.

Esta necessidade não é nova, e os questionamentos acerca do que


possa ser doença mental, loucura ou outros tipos de comportamentos
“desviados” do homem, sempre fizeram parte da preocupação da humanidade
e, recentemente, acompanhamos mudanças referentes à compreensão do
sofrimento psíquico e assistencial.

Desde os anos 90 no Brasil tem se buscado organizar dentro do Sistema


Único de Saúde (SUS), serviços de saúde mental que substituam o hospital
psiquiátrico, acolham e cuidem das pessoas o mais próximo possível do seu
contexto de vida, incluindo família e comunidade.

De acordo com os dados divulgados pela Organização Mundial da


Saúde (OMS) em 2015, o número de pessoas que vivem com depressão
aumentou 18% entre 2005 e 2015. A depressão afeta 322 milhões de pessoas
no mundo. A prevalência do transtorno na população mundial é de 4,4%. Já no
Brasil, 5,8% da população sofre com esse problema, que afeta um total de 11,5
milhões de brasileiros.

Segundo os dados da OMS, o Brasil é o país com maior prevalência de


depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas
Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de
depressivos. O Brasil é recordista mundial em prevalência de transtornos de
ansiedade: 9,3% da população sofre com o problema. Ao todo, são 18,6
milhões de pessoas.

Nesse sentido, desde a aprovação da Constituição Federal de 1988,


foram elaboradas muitas iniciativas e programas de políticas voltadas à saúde
mental da população. Tais iniciativas contribuíram para a qualidade de vida da
população, impactando na redução do adoecimento/sofrimento psíquico e no
desenvolvimento de condições existenciais mais favoráveis às pessoas.

1 - O QUE É SAÚDE MENTAL

Saúde é vida, e quando nos sentimos em perfeito estado de bem-estar,


podemos dizer também que temos saúde mental. No entanto, a condição de
estar saudável não é algo tão simples.

Por muito tempo pensava-se que bastava não ter uma doença orgânica
para ser considerado saudável. No entanto, tal compreensão de saúde como
um estado de perfeito bem-estar, segundo a OMS, nos leva a perceber que
para se compreender o conceito de saúde é preciso entender as muitas
situações que poderão desencadear sofrimentos/adoecimentos ou potencializar
a vida.

Com uma compreensão mais ampliada do conceito de saúde, passou-se


a levar em conta uma série de fatores relacionados às condições de moradia,
alimentação, condições de saneamento, trabalho e renda, acesso a bens e
serviços que contribuem para a condição de estar saudável.

Se a definição de saúde da OMS, em 1946, assim definiu saúde como


sendo um „estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste
apenas na ausência de doenças ou de enfermidade‟, tal definição foi audaciosa
e inovadora, oferecendo um conceito inapropriado de saúde que expandiu sua
noção, incluindo os aspectos físicos, mentais e sociais.

Decorrentes das críticas ao conceito da OMS e somadas aos vários


eventos políticos e econômicos, surgiram as discussões sobre um novo
paradigma, a saúde como produção social. Essa nova visão constitui-se da
combinação das abordagens da medicina preventiva e da saúde integrativa, da
expansão do conceito de educação em saúde e da rejeição da abordagem
higienista (KIND, 2013).

Seguindo propostas de reforma do sistema de saúde brasileiro, o


conceito de saúde foi formalmente revisitado e influenciado por experiências
internacionais envolvendo políticas de saúde, como discutido principalmente na
8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986. Naquela ocasião foi sugerido que
a saúde incluísse fatores como dieta, educação, trabalho, situação de moradia,
renda e acesso a serviços de saúde (FERTONANI, 2015).

Dessa forma, o conceito brasileiro de saúde começou a ser entendido de


forma mais complexa, considerando os princípios de universalidade,
integralidade e equidade no cuidado à saúde. Esses princípios, contudo,
coexistem com abordagens claramente ligadas à antiga visão (FERTONANI,
2015).

O termo „bem-estar‟, presente na definição da OMS, é um componente


tanto do conceito de saúde, quanto de saúde mental, é entendido como um
constructo de natureza subjetiva, fortemente influenciado pela cultura
(GATRELL, 2013).

A OMS define saúde mental como “um estado de bem-estar no qual um


indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses
cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua
comunidade (WHO, 2014).

No entanto, tal compreensão de saúde como um estado de perfeito


bem-estar, segundo a OMS, nos leva a perceber que para se compreender o
conceito de saúde é preciso entender as muitas situações que poderão
desencadear sofrimentos/adoecimentos ou potencializar a vida.

Com uma compreensão mais ampliada do conceito de saúde, passou-se


a levar em conta uma série de fatores relacionados às condições de moradia,
alimentação, condições de saneamento, trabalho e renda, acesso a bens e
serviços que contribuem para a condição de estar saudável.

Assim, será necessário olhar para o sujeito como um ser integral, em


que a dimensão de seu corpo, sua mente e o ambiente precisam dialogar,
tendo em vista suas necessidades. A saúde integral perpassa pelas condições
de saúde mental, equilíbrio social e condições adequadas de vida.

2 - SOFRIMENTO MENTAL

No contexto da saúde mental, encontra-se o sofrimento mental. Este,


por sua vez, é uma experiência humana universal, de modo que, todos nós já
experimentamos diferentes formas de sofrimento mental.

Muitas pessoas, em algum momento, já se perceberam inseguras em


relação a um evento futuro, apreensivo, tenso e inquieto. Em outros momentos,
diante de uma escolha, é possível haver uma dúvida, indecisão, de modo a
paralisar e desanimar a pessoa. Aqui, os exemplos poderiam se multiplicar,
manifestando a ambiguidade e variedade do sofrimento mental na experiência
humana.

Tais exemplos descrevem sintomas que podem ser leves e passageiros,


sem comprometer o desempenho da pessoa, nem causar-lhe transtornos na
vida. Entretanto, em algumas situações, podem comprometer a qualidade de
vida e requerer auxílio de um profissional especializado. E, somente o
profissional habilitado é que irá identificar e distinguir o sofrimento mental e o
transtorno mental.

A incapacitação e o sofrimento não são iguais para todos. Eles


dependem da dinâmica interna da pessoa e de seu contexto no ambiente
escolar, familiar e social que se integra, de modo que quando o sofrimento
mental se intensifica e se prolonga de modo a interferir em nosso
funcionamento e comprometendo nosso desempenho, temos aí o que
chamamos de transtornos mentais.

3 - POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL

Para entendermos as políticas públicas de saúde mental, lembramos


que a partir da década de 1970 houve uma reorganização do modelo de
atenção à saúde mental no país, resultante do processo de reforma
psiquiátrica. Tal processo reorientou não só os saberes e práticas a respeito do
sofrimento psíquico, como também culminou na necessidade de uma revisão
legislativa do país, a fim de solidificar essas transformações (PONTES et al.,
2014).

A reforma psiquiátrica acompanhou outra proposta reformista em curso


no país, a saber, o movimento sanitarista, responsável por questionar o modelo
médico privatista de assistência nacional à saúde. Dentro dos movimentos
reformistas no período da redemocratização do país, a implantação do Sistema
Único de Saúde (SUS) ocupa lugar de destaque no que tange ao processo de
descentralização da saúde.

A Lei 8080/90 que versa sobre o direito universal à saúde, além de


promover a descentralização político administrativa do SUS, proporcionou um
novo paradigma da assistência à saúde e, consequentemente, a elaboração de
políticas públicas de saúde mental que visam romper com o modelo
"hospitalocêntrico". O processo de descentralização da saúde, proporcionado
pelo SUS, configura-se, atualmente, como um norteador da reforma do Estado
no Brasil (ANDRADE, PONTES e MARTINS JUNIOR, 2000).

A política de saúde mental no Brasil evoluiu de um modelo


"hospitalocêntrico" para um modelo de assistência comunitária em direção a
um acompanhamento psicossocial (PACHECO, 2005). A ideia de uma rede de
atenção à saúde mental, acompanhada da reabilitação psicossocial, é um dos
pilares da nova política de saúde mental brasileira.

A proposta da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que integra o


SUS, estabelece os pontos de atenção para o atendimento de pessoas com
problemas mentais, incluindo os efeitos nocivos do uso de crack, álcool e
outras drogas. Quando se fala da RAPs, lembramos que ela surgiu a partir da
Lei da Reforma Psiquiátrica nº 10.216, de 06 de abril de 2001, também
conhecida como Lei Paulo Delgado, que instituiu um novo modelo de
tratamento para as pessoas com transtornos mentais, incentivando o
tratamento em serviços abertos e de bases comunitárias.

Seu primeiro artigo estende a atenção em saúde mental a todos os


cidadãos, sem discriminação de qualquer espécie. Esta norma determina a
criação de serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos por meio de uma
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), tornando o cuidado em liberdade um
direito inalienável, assegurado pela legislação vigente.

A Rede é composta por serviços e equipamentos variados, tais como: os


Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviços Residenciais
Terapêuticos (SRT); os Centros de Convivência e Cultura, as Unidade de
Acolhimento (UAs) e os leitos de atenção integral (em Hospitais Gerais, nos
CAPS III). Faz parte dessa política o programa de Volta para Casa, que oferece
bolsas para pacientes egressos de longas internações em hospitais
psiquiátricos.

Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dentro da atual Política de


Saúde Mental do Ministério da Saúde, são considerados dispositivos
estratégicos para a organização da rede de atenção em saúde mental. Eles
devem ser territorializados, ou seja, devem estar circunscritos no espaço de
convívio social (família, escola, trabalho etc.) daqueles usuários que os
frequentam.

Os CAPS devem ser um serviço que resgate as potencialidades dos


recursos comunitários à sua volta, pois todos esses recursos devem ser
incluídos nos cuidados em saúde mental. A reinserção social pode se dar a
partir do CAPS, mas sempre em direção à comunidade.

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) tem como finalidade a criação,


ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com
sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de
álcool e outras drogas, no âmbito do SUS. Dentre as principais diretrizes da
RAPS, é importante destacar (BRASIL, 2011):

❖ Respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a


liberdade das pessoas;
❖ Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais
da saúde;
❖ Combate a estigmas e preconceitos;
❖ Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando
cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica
interdisciplinar;
❖ Atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas;
❖ Desenvolvimento de atividades no território, que favoreça a
inclusão social com vistas à promoção de autonomia e ao
exercício da cidadania;
❖ Desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos;
❖ Ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com
participação e controle social dos usuários e de seus familiares;
❖ Desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com
sofrimento ou com transtorno mental, incluindo aquelas com
necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas,
tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico
singular.

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) passa a ser formada pelos


seguintes pontos de atenção ou Componentes da Rede (Serviços):

❖ CAPS (Centro de atenção Psicossocial), em suas diferentes


modalidades.
❖ Serviço Residencial Terapêutico (SRT).
❖ Unidade de Acolhimento (adulto e infanto-juvenil).
❖ Enfermarias Especializadas em Hospital Geral.
❖ Hospital Psiquiátrico.
❖ Hospital-Dia.
❖ Atenção Básica.
❖ Urgência e Emergência.
❖ Comunidades Terapêuticas.
❖ Ambulatório Multiprofissional de Saúde Mental.

Compreender a dinâmica de equipamentos e serviços destinados ao


atendimento à Saúde Mental torna-se importante enquanto construção coletiva
potente em torno de objetivos comuns para aprimorar e realizar um dos
objetivos da Constituição Federal (BRASIL, 1988): “promover o bem de todos,
sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas,
de discriminação”.

A saúde mental é uma construção coletiva feita de intervenções e


procedimentos, mas também de atenção e cuidado. Cuidar das pessoas que
cuidam da saúde mental, seja na formação, seja na sustentação de suas
condições de trabalho, é um desafio crucial se queremos realmente tratar o que
pode ser tratado, mitigar o sofrimento que pode ser tratado e, sobretudo, não
desejar curar o que não pode ser curado.

#SAIBA MAIS#

★ O USO DE REMÉDIOS CONTROLADOS - Há muito preconceito acerca


da utilização de medicamentos de uso controlado, devido a ideia de que
seu uso pode causar dependência. É importante compreender que nem
todo medicamento é capaz de provocar dependência e, por isso, é
essencial buscar orientação médica. Os remédios, quando bem
utilizados, podem ajudar no controle de crises agudas, bem como no
controle de sintomas e na efetividade do tratamento de casos mais
severos.

Fonte: Disponível em: https://cejam.org.br/noticias/janeiro-branco-alerta-para-o-


cuidado-com-a-saude-mental

❖ CAMPANHA JANEIRO BRANCO: A


campanha iniciou em 2014 com um
grupo de psicólogos em Minas Gerais. O idealizador da
campanha é o psicólogo Leonardo Abrahão. Do mesmo estilo da
Campanha Outubro Rosa e da Campanha Novembro Azul,
campanhas geram conscientização, combatem tabus, mudam
paradigmas, orientam os indivíduos e inspiram autoridades a
respeito de importantes questões relacionadas às vidas de todo
mundo.

❖ OBJETIVO DA CAMPANHA: chamar a atenção para as questões


e necessidades relacionadas à Saúde Mental e Emocional das
pessoas. Outros objetivos da campanha são:

➢ Promover mais informações sobre os cuidados com a


saúde mental;

➢ Validar as nossas emoções;

➢ Quebrar preconceitos e resistências;

➢ Mostrar para os governantes que todo o cidadão tem


direito à saúde e deve ter acesso a cuidados com a saúde
mental, com isso, faz-se necessário investir mais recursos
humanos e financeiros para a área e criar políticas públicas
para diminuir o adoecimento psíquico.

❖ PORQUE „JANEIRO‟: Foi escolhido o mês de janeiro, porque


representa o início de um novo ciclo. Período em que as pessoas
estão mais propensas a pensarem em suas vidas, em suas
relações sociais e fazer novos planos e metas.

❖ PORQUE „BRANCO‟: Como em uma “folha ou em uma tela em


branco”, todas as pessoas podem ser inspiradas a escreverem ou
a reescreverem as suas próprias histórias de vida.

❖ Acesse e tenha mais informações: ABRAHÃO, L. Janeiro Branco.


Disponível em https://janeirobranco.com.br/.
#PARA REFLETIR#

★ TRANSTORNOS MENTAIS: A Lei Federal nº 10.216/2001, conhecida


como a Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira, dispõe sobre a proteção
das pessoas com transtornos mentais e redireciona todo o modelo
assistencial, reconhecendo como direitos:
○ Ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, de acordo
com suas necessidades;
○ Ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo
de beneficiar sua saúde, para alcançar sua recuperação pela
inclusão na família, no trabalho e na comunidade;
○ Ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
○ Ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
○ Ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para
esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização sem sua
concordância;
○ Ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
○ Receber o maior número de informações a respeito de sua
doença e de seu tratamento;
○ Ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos
invasivos possíveis;
○ Ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de
saúde mental.
Aula 4: PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS

Fonte: Disponível em:


https://professor.escoladigital.pr.gov.br/sites/professores/arquivos_restritos/files/styles/escala_e
_corta_300x250_/public/imagem/2021-11/educacao_campo_parana_st.png?itok=Jdl5Wk4b

Você já percebeu que ao longo desse estudo, temos refletido muito


sobre Políticas Públicas, caracterizando-a como diretrizes, princípios
norteadores de ação do poder público, regras e procedimentos para relações
entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e
Estado.

A sistematização das políticas públicas são evidenciadas, explicitadas,


sistematizadas ou formuladas em documentos legais (leis), programas, linhas
de financiamentos que orientam ações que normalmente envolvem aplicações
de recursos públicos.

As políticas públicas traduzem, no seu processo de elaboração e


implantação e resultados, formas de exercício do poder político, envolvendo a
distribuição e redistribuição de poder, o papel do conflito social nos processos
de decisão, a repartição de custos e benefícios sociais.

Nesse sentido, pensando objetivamente, as políticas públicas visam


responder a demandas, principalmente de setores marginalizados da
sociedade, considerados como vulneráveis. Essas demandas são interpretadas
por aqueles que ocupam o poder, mas também influenciadas por uma agenda
da sociedade civil através da pressão e mobilização social (FALEIROS, 1991).

Sendo assim, existem políticas públicas dirigidas à educação, ou seja,


as políticas educacionais fazem parte do grupo de políticas públicas do país.
Elas constituem um elemento de normatização do Estado, guiado pela
sociedade civil, que visa garantir o direito universal à educação de qualidade e
o pleno desenvolvimento da pessoa.

Nesta aula, você terá contato com alguns conceitos relacionados às


políticas públicas referentes à Educação.

CONCEITO E IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Fonte: Disponível em: https://www.cursosabeline.com.br/webroot/cur_cache/curso-


com-certificado-de-comunicacao-e-educacao-1566929221-700-983e5cd7.jpg

As políticas públicas em Educação referem-se a programas ou ações


elaboradas pelos representantes do governo que auxiliam na efetivação dos
direitos previstos na Constituição Federal. Um dos seus objetivos é colocar em
prática medidas que garantam o acesso à Educação para todos os cidadãos do
Brasil.

Nas Políticas Públicas educacionais estão contidos dispositivos que


garantem a Educação a todos, bem como a avaliação e ajuda na melhoria da
qualidade do ensino no país. Nas políticas públicas educacionais temos um
conjunto de decisões governamentais tomadas na forma de programas, de
planos, de ações ou de projetos para garantir os direitos estabelecidos pela
Constituição Federal.
Destaca-se a importância das políticas públicas educacionais pelo fato
de que o Brasil é um país de dimensões continentais e com altas
desigualdades sociais e, sendo assim, as políticas públicas educacionais
atuam no sentido de trabalhar para corrigir as distorções sociais,
principalmente no sentido de que mais pessoas possam ter acesso à
educação.

De acordo com o Banco Mundial, o Brasil ocupa a 9º posição no ranking


de desigualdade do mundo. Em 2020, a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (Pnad) registrou que a taxa de analfabetismo no Brasil é de 6,8%,
equivalente a 11,8 milhões de pessoas (IBGE, 2020).

A mesma pesquisa mostra que um em cada quatro brasileiros não tem


internet, o que representa 46 milhões de pessoas (IBGE, 2020). Dado que foi
particularmente significativo para a implementação do ensino híbrido ou à
distância durante a transição emergencial da pandemia mundial. Esses dados
são alguns dos elementos utilizados pelo poder público para guiar as políticas
educacionais vigentes no país.

Atualmente, os programas do governo apresentam como objetivo


ampliar o acesso à escola; garantir educação de qualidade; permitir a
alfabetização de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos; combater a
evasão escolar; reduzir a subnutrição e a miséria; ampliar a digitalização do
ensino e repasse de recursos públicos para instituições de ensino.

A implementação das políticas públicas educacionais se dá a partir de


leis federais, estaduais e municipais, criadas pelo poder Legislativo e enviadas
ao poder Executivo. A criação de leis federais conta com o apoio de
representantes da sociedade civil e de classes da educação, através de
conselhos e outras formas de organização. É um modelo garantido pela
democracia participativa. A iniciativa popular contribui para que as demandas
de toda a população ou parte delas, possam ser ouvidas e efetivadas.

Da mesma forma que contribui para a formação das leis, a força da


sociedade civil pode atuar também para impedir medidas autoritárias que
atentem ao direito universal constitucional. Com o apoio do Ministério Público
os cidadãos podem fiscalizar a gestão dos recursos e acompanhar a gestão
das políticas educacionais, inclusive exercendo pressão sobre o governo.

Assim, para ter suas demandas atendidas, é fundamental que a


população conheça as normas e os regimentos que fundamentam as políticas
públicas de educação no país.

1 - BASES LEGAIS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

O direito à educação e o dever do Estado em preservá-la estão


presentes na Constituição Federal de 1988. No artigo 205, a Constituição
afirma que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”.

As responsabilidades da condução das políticas públicas de educação


são do Ministério da Educação (MEC), das Secretarias Estaduais e Municipais
da educação. O principal instrumento que garante a educação no país é a Lei
de Diretrizes Básicas da Educação Nacional (LDB 9394/96), responsável por
todo o sistema educacional nacional no Brasil. A LDB abrange a educação no
país como um todo, definindo como a União, Estados e Municípios devem
articular suas ações na formação do ensino público, de forma a reduzir as
desigualdades e garantir a qualidade dos sistemas educacionais.

Um dos principais pontos levantados pela LDB é a criação de uma base


comum que deverá nortear a elaboração dos currículos da educação básica,
atualmente este norte está fundamentado na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC). A BNCC apresenta os conhecimentos que todo aluno da educação
básica tem direito de aprender, considerando um ensino através de
competências e habilidades que o estudante deverá desenvolver na escola.

A LDB também estabelece o plano nacional de educação (PNE), com


diretrizes e metas para as políticas educacionais por um período de dez anos.
Através dos dados levantados em todo país, o PNE permite identificar as
demandas mais urgentes e traçar planos de ação para garantir a qualidade no
aprendizado tanto na educação infantil quanto no ensino superior.

2 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS

Além da PNE e da LDB, existem diversas políticas educacionais em


atuação no Brasil, em caráter federal, estadual e municipal. Vejamos alguns
dos principais projetos vigentes:

a) ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) - O ECA surgiu


em 1990. Até essa data, os direitos das crianças e adolescentes não
eram reconhecidos do ponto de vista legal. Foi a partir da publicação do
ECA que os direitos das crianças à saúde, lazer e à educação passaram
a ter peso de lei. O Estatuto estabelece quais direitos e deveres de toda
criança e adolescente, sem distinção de raça, classe, sexo ou religião.
Além disso, o documento protege contra abusos físicos, sexuais ou de
negligência contra violência, contra trabalho infantil e dá ao Estado a
tutela caso a família não consiga garantir seus direitos.
b) FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (FNDE)
- O FNDE é uma autarquia federal responsável pela execução de
políticas educacionais do Ministério da Educação. Cabe a ele prestar
assistência técnica e financeira aos estados e aos municípios, entre
outras atribuições, mediante o repasse de recursos federais. Por isso,
fazem parte do FNDE o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE); Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); Programa
Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo): Programa Nacional
Biblioteca na Escola (PNBE).
c) FUNDO DE MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO
BÁSICA E DE VALORIZAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
(Fundeb): O Fundeb é uma das políticas públicas educacionais muito
comentadas nos últimos anos. Reúne fundos de 26 Estados e do Distrito
Federal e redistribui os recursos para atender a educação básica em
todo país, desde creches, as diversas etapas do ensino fundamental, até
programas de educação de jovens e adultos.
d) Programa Caminho da Escola: este programa, que faz parte das
políticas públicas educacionais, foi criado em 2007, com o objetivo de
renovar, padronizar e ampliar a frota de veículos escolares das redes
municipal e estadual da educação pública, visando diminuir as distâncias
entre as escolas e as famílias, no interior do país. O programa destina-
se à população que vive prioritariamente, em áreas rurais e ribeirinhas,
oferecendo ônibus, lanchas e bicicletas fabricados especialmente para o
tráfego nestas regiões, visando sempre à segurança e a qualidade do
transporte. Segundo IBGE, 15,65% da população brasileira vive em
áreas rurais. Ou seja, são pessoas que moram distantes da escola e que
precisam se deslocar muitos quilômetros para estudar. Assim, o
Programa Caminho da Escola, está voltado para renovar a frota de
veículos escolares das redes municipal e estadual de educação básica.
e) PROGRAMA BRASIL ALFABETIZADO (PBA) - é um programa
destinado a alfabetizar jovens e adultos a partir de 15 anos. O Programa
é realizado desde 2003 pelo MEC. É uma porta de acesso à cidadania e
o despertar do interesse pela elevação da escolaridade. É realizado em
todo o território nacional, com atendimento prioritário a municípios que
apresentam altas taxas de analfabetismo, sendo que a maioria destes
localizam-se na região Nordeste. A ação deste Projeto reconhece a
educação como direito humano e a oferta pública da alfabetização como
porta de entrada para a educação e escolarização das pessoas ao longo
da vida. As secretarias de educação dos estados, municípios e Distrito
Federal poderão acessar o Programa por meio do Sistema Brasil
Alfabetizado.
f) PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA
TODOS (PROUNI) - O PROUNI é um
Programa do Ministério da Educação criado
pela Lei n. 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Tem como objetivo
oferecer bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior.
Por meio da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),
os estudantes concorrem a vagas em cursos de graduação e
sequenciais de formação específica. O ProUni oferece dois tipos de
bolsas de estudo, conforme a renda: a) Bolsas integrais: estudantes
que têm renda bruta familiar inferior a um salário-mínimo e meio por
pessoa e que comprovem essa condição; b) Bolsas parciais (50%):
pessoas que têm renda bruta familiar inferior a três salários-mínimos por
pessoa e que comprovem essa condição.
g) SISTEMA DE COTAS - as cotas são políticas que tem objetivo de
reduzir as desigualdades sócioeconômicas enfrentadas pela população
brasileira, com ênfase na comunidade negra e indígena. O sistema de
cotas foi garantido pela Lei 12,711, de 2012, porém, já existe desde o
ano 2000, quando a Universidade de Brasília (UnB) decidiu fazer
reserva de vagas para alguns candidatos em seu processo seletivo. A
Lei de Cotas prevê a destinação de vagas para estudantes de escolas
públicas e, dentro dessa reserva, algumas vagas são para
autodeclarados pretos, pardos ou indígenas, ou seja, temos assim, dois
tipos de reserva: Cotas Sociais e Cotas Raciais. As Cotas Sociais dizem
respeito a instituições federais de ensino superior que são obrigadas a
destinarem reserva de 50% das vagas para estudantes que cursaram o
ensino médio em escolas públicas. Deste percentual, metade deve ser
destinada a candidatos que possuam renda mensal per capita igual ou
menor a 1,5 salário-mínimo e a outra metade para os estudantes com
renda maior que 1,5 salário-mínimo. Atualmente, as universidades
federais realizam a seleção de novos alunos através do Sistema de
Seleção Unificada (SiSU), no entanto as universidades estaduais e
outras instituições de ensino estão adotando ações afirmativas que
beneficiem os estudantes de baixa renda. No ato da inscrição o
candidato autodeclara a renda e origem escolar, mas caso seja
aprovado dentro da reserva de vagas é necessário comprovar as
informações prestadas. Já as cotas raciais, caracterizam-se como outra
forma de concorrer a uma vaga em instituições de ensino superior.
Estudantes pretos, pardos ou indígenas de escolas públicas têm
assegurado por lei carteiras nas universidades federais. Para chegar ao
número de vagas que devem ser reservadas, as entidades devem levar
em consideração os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) sobre o estado no qual a instituição está
localizada. Tais ações visam reparar as diferenças sociais deixadas pelo
longo período de escravidão no Brasil, que deixou boa parcela da
população em condições sociais precárias e o acesso à educação
diminuido.

Assim, as políticas públicas voltadas à educação possibilitam além do


acesso à educação no Brasil, a garantia de que toda pessoa tenha direito a um
ensino de qualidade. Em um país como o Brasil, de dimensões continentais, as
políticas educacionais visam contribuir para minimizar as desigualdades,
permitindo que mais e mais pessoas conquistem espaço no mercado de
trabalho com melhores condições de vida digna e de qualidade.

#SAIBA MAIS#

★ ENADE - Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes - avaliação


do Ministério da educação com o objetivo de medir a qualidade do
ensino superior no Brasil. Saiba mais em:
https://blog.saraivaeducacao.com.br/enade/
★ ENADE - áreas de conhecimento e eixos tecnológicos -
https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-
educacionais/enade

★ Conheça a história da educação brasileira a partir da criação do


Ministério da Educação. Acesse:
http://portal.mec.gov.br/institucional/apresentacao-historia

#SAIBA MAIS#

#PARA REFLETIR#

★ A educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas.


Pessoas transformam o mundo” (Paulo Freire).

REFERÊNCIAS
ALVES, V. S. Modelos de atenção à saúde de usuários de álcool e outras
drogas: discurso político, saberes e práticas. Cad Saúde Pública, v. 25, n. 11,
p. 2309-19, 2009.

ANDRADE, L.; PONTES, R.; MARTINS JUNIOR, T. A descentralização no


marco da Reforma Sanitária no Brasil. Revista Panamericana de Salud
Pública, v. 8, n. 1-2, p. 85-91, 2000.

BOBBIO, N. A era dos direitos. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do


Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 113, de 20 de abril de


2010. Disponível em: http//www..cnj.jus.br/busca-atos-adm documento=2596.

BRASIL. Decreto Nº 4.345, de 26 de agosto de 2002. Institui a Política


Nacional Antidrogas e dá outras providências. Disponível em:
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/99710/decreto-4345- 02.

BRASIL. Gabinete de segurança institucional (BR). Conselho nacional


antidrogas. Política nacional sobre drogas. Brasília: 2005
http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Legislacao/3
26979.pdf.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9394/1996.


1996.

BRASIL. Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os


direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental.

BRASIL. Lei Nº 6.368, de 21 de outubro de 1976. Dispõe sobre medidas de


prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias
entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, e dá outras
providências. Disponível em:
http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Legislacao/3
27012.pdf.

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da


Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil: Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm.
BRASIL. Ministério da Saúde. A política do Ministério da Saúde para
atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília: CN-
DST/AIDS; 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Reforma psiquiátrica e manicômio judiciário:


relatório final do seminário nacional para a reorientação dos hospitais de
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http://bvsms.saude.gov.br//bvs/publicações/Real_Sem_Hosp_Custodia.pdf.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPES.


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Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS.
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FALEIROS, Vicente de Paula. O que é política social. 5. ed. São Paulo:


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Questões para estudo pessoal

Unidade III

1) Assinale a alternativa que apresenta as principais diretrizes sobre a


Política Nacional sobre Drogas:

a) Atingir o ideal de construção de uma sociedade protegida do uso de drogas;

b) Reconhecer o direito de todo usuário a manter-se em sua liberdade de vício;

c) Identificar o usuário, o dependente e o traficante para fins legais;

d) Promover e intensificar a oferta de drogas para insulinodependentes;

2) Assinale os componentes que integram a Rede de Atenção


Psicossocial:

a) CAPS; Serviço Residencial Terapêutico; Subdivisão Policial; Conselho


Tutelar;

b) CRAS; Unidade de Acolhimento adulto e infanto-juvenil; Hospital


Psiquiátrico;

c) Hospital Psiquiátrico; enfermarias especializadas; CAPS; Urgência e


Emergência;

d) CAPS, Serviço Residencial Terapêutico, CRAS;

e) CRAS, CAPS, Serviço Residencial Terapêutico; Atenção Especializada;

3) A respeito da Lei Federal nº 10.216/2001, conhecida como a Lei da Reforma


Psiquiátrica Brasileira, assinale a alternativa correta que dispõe sobre a
proteção das pessoas com transtornos mentais e redireciona todo o modelo
assistencial, reconhecendo como direitos:

I) Ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, de acordo com suas


necessidades;
II) Ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de
beneficiar sua saúde, para alcançar sua recuperação pela inclusão na família,
no trabalho e na comunidade;
III) Ter direito à
presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não
de sua
hospitalização sem sua concordância;
IV) Receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu
tratamento;
a) Somente a alternativa I está correta;
b) I, II, III, estão corretas;
c) II, II, IV estão corretas;
d) I, IV estão corretas;
e) Todas as alternativas estão corretas

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