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POLÍTICAS SOCIAIS E

AMBIENTAIS
AULA 01
EDUCAÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS:
DIGNIDADE HUMANA

Prezado (a) aluno (a),

Uma das características marcantes da nossa vida social e política é


que estamos sempre a falar sobre direitos. De fato, raros são os dias em que
não dizemos ou ouvimos alguém dizer frases do tipo: “Você não tem o direito
de fazer isso comigo!”; “Eu tenho o direito de ser feliz!”; “Temos o direito de ir
e vir livremente”, e assim por diante.
Durante séculos, milhões de seres humanos, foram reduzidos à
condição de escravos e submetidos aos tratamentos mais cruéis e
degradantes que podemos imaginar. Até pouco tempo, a violência contra a
mulher e o abuso sexual de crianças despertavam apenas indignação moral,
hoje, acarretam punições jurídicas. O mundo continua sendo profundamente
perverso e injusto, sobretudo com relação aos mais vulneráveis. No Brasil,
parte significativa da população sofre com a falta de emprego, saúde,
alimentação, água potável etc. Mas ao menos diante destes absurdos, hoje
podemos dizer: isso não está direito!
A liberdade religiosa também é um direito fundamental do ser humano.
Seguir uma religião consiste em uma das maneiras de autorrealização do
indivíduo. A Constituição Federal assegura a inviolabilidade da liberdade
religiosa, além de garantir que ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa.

Bons Estudos!
Nesta aula, você vai conferir os contextos sobre direitos humanos,
Estado laico e religião. Para alcançar esses conhecimentos, são objetivos
desta aula:

 Discutir o percurso em que os direitos humanos foram desenvolvidos


com relação aos momentos sociopolíticos e econômicos.
 Analisar os desafios dos direitos humanos no atual contexto brasileiro.
 Compreender as relações entre Estado Laico e religião.
1 EDUCAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: DIGNIDADE HUMANA.

Os direitos humanos são os princípios ou valores éticos e políticos que


permitem a cada ser humano afirmar seu lugar e dignidade como ser humano.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 foi responsável por garantir esses
direitos.
Após o término da Segunda Guerra Mundial (1945), os países se uniram
para restabelecer a paz entre os povos. No mesmo ano, surgiu a Organização
das Nações Unidas (ONU) com o mesmo intuito e para evitar uma nova guerra
mundial. Essas nações assinaram a Declaração Universal de Direitos Humanos
- DUDH em 10 de dezembro, durante a Guerra Fria. Nesta época, estava
acontecendo a disputa mundial por duas potências, Estados Unidos e União
Soviética.
Segundo Rabenhorst (2008), a palavra "direito" originalmente se refere ao
que é reto, justo, correto. Foi no fim da Idade Média que os estudiosos
começaram a usar a palavra "direito", cuja terminologia deriva do latim rectum e
directum, que significa "reto" e "em linha reta". Nesse sentido, o autor argumenta:
Falar de direitos significa, expressar o desejo e a necessidade de viver em um
mundo justo (RABENHORST, 2008).
Percebe-se surgimento dos direitos por meio das revoluções burguesas dos
séculos XVII e XVIII, que foram discutidas e reivindicadas as liberdades
individuais. Nesse sentido, o liberalismo político reunia debate acerca do direito
civil e político (SCARAN, 2018).
Em um primeiro momento de geração de direitos, tratou da efetivação de
direitos em um combate da sociedade civil contra o Estado absolutista quando
violador dos direitos, em um segundo momento, outras gerações posicionaram
o Estado como o garantidor dos direitos, sendo composta pelos chamados
direitos sociais, econômicos e culturais. São entendidos como direitos à saúde,
à educação, direito ao trabalho e sociais.
Nos séculos XIX e XX foi nítida as lutas populares, onde o pensamento
marxista influenciou na efetivação dos direitos, até então defendidos pelo sujeito
individual, que, entretanto, a partir daí, passou a ser discutido como direitos
sociais. Os direitos de segunda geração — que visam à garantia social realizada
pelo Estado em relação a trabalho e salário dignos, assistência social, educação,
saúde, moradia, cultura, livre associação sindical, greve, saneamento básico,
lazer, entre outros — ainda estão alicerçados ao direito individual.
No século XXI, aprovou-se a terceira geração dos direitos, visando defender
os grupos humanos: povos, nações e grupos étnicos. Referem-se também à paz,
aos cuidados com os recursos naturais, solidariedade entre os povos, à
dignidade das diferentes culturas e às relações mais justas, igualitárias e
pacíficas entre os povos.
Este novo cenário tem algumas consequências em relação aos direitos
conquistados em tempos anteriores. Os direitos oferecidos pelo estado-social
(por exemplo, o direito ao trabalho, educação, saúde) são ameaçados por
políticas de privatização que colocam o ganho monetário como fator primordial.
Neste caso, os direitos sociais foram os mais afetados. Essas ameaças estão
relacionadas à privatização dos serviços públicos e são consistentes com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, como educação, direitos
trabalhistas e direito à saúde.

1.1 DIREITOS HUMANOS NA SOCIEDADE BRASILEIRA

No Brasil, os direitos humanos são garantidos na Constituição Federal


promulgada em 1988. No contexto brasileiro, os direitos humanos foram um
importante avanço jurídico para uma sociedade que foi marcada por cerca de 20
anos de Ditadura Civil-Militar (1964–1985).
A história dos direitos humanos no Brasil pode ser vista como obra de todos
aqueles que lutaram por meio de levantes, rebeliões e revoltas contra uma
estrutura secular de dominação em nosso País que em muitos aspectos ainda
existe, principalmente em termos de desigualdades sociais (RABENHORST,
2008).
Por isso, a ideia de direitos humanos continua sendo vista como algo
subversivo e transgressor em nosso País. Nas últimas décadas, camadas
populares e movimentos sociais têm utilizado intensamente os direitos humanos
como ferramenta de transformação da ordem vigente, o que explica a vigorosa
atuação de certos grupos conservadores no sentido de tentar vincular a causa
dos direitos humanos à mera defesa das pessoas delituosas, daí falsas
acusações como: "Os direitos humanos são uma questão criminal" ou "onde
estão os direitos das vítimas?"

Se os direitos humanos não são um dado, mas um construído,


enfatiza-se que as violações a estes direitos também o são. Isto
é, as exclusões, as discriminações, as desigualdades, as
intolerâncias e as injustiças são um construído histórico, a ser
urgentemente desconstruído (FLORES, 2009, p. 15).

Os direitos humanos servem, assim, para garantir ao ser humano o


exercício da liberdade, a preservação da dignidade e a proteção da sua
existência. Trata-se, portanto, daqueles direitos considerados fundamentais, que
tornam os homens iguais, independentemente do sexo, nacionalidade, etnia,
sala social, profissão, liberdade política, credulidade religiosa ou crença moral,
eles são essenciais à conquista de uma vida digna.
Os direitos humanos ultrapassam largamente a esfera penal. Muitas
organizações, como a Anistia Internacional, lutam pelos direitos das pessoas
encarceradas. Mas outras entidades, como o Greenpeace, por exemplo, existem
para a defesa do meio ambiente. O mesmo ocorre com relação às vítimas de
delitos. O Grupo de Apoio Jurídico às Organizações Populares - GAJOPE, por
exemplo, é uma entidade brasileira que presta assistência deste tipo. Contudo,
sempre é bom lembrar que, mesmo as pessoas que cometeram delitos graves,
têm direitos básicos que devem ser respeitados. Quem comete um delito, pode
perder sua liberdade (em alguns países até a vida), mas nunca sua dignidade .
(RABENHORST,2008).
Assim como a amizade e o amor, os direitos devem ser cultivados,
pois não há garantias de que esse importante patrimônio moral da humanidade
permanecerá intacto. Todos os dias recebemos notícias de diferentes partes do
mundo sobre graves violações e ameaças aos direitos humanos, daí
a importância da educação, abordando conteúdos temáticos sobre tais direitos
nos programas escolares ou universitários, sendo um meio essencial capaz
de promover a construção de uma cidadania ativa em nosso país. Esse é o
desafio da sociedade brasileira como um todo, principalmente dos jovens.
1.2 Igualdade de direitos

A tradição liberal dos direitos humanos que dominou o período do século


XVII a meados do século XIX, quando terminou a era das revoluções burguesas,
aboliu os privilégios do antigo regime, mas criou novas desigualdades. Foi nessa
época que o socialismo irrompeu na cena política e encontrou suas raízes nos
movimentos mais radicais da Revolução Francesa, que buscavam liberdade e
também a igualdade (HOBSBAWM, 1982).
Os socialistas, a partir dos movimentos revolucionários de 1848,
reivindicaram vários e novos direitos da tradição liberal. A igualdade dos
cidadãos da Revolução Francesa era somente frente a Lei, pois o capitalismo
estava criando novas e grandes desigualdades econômicas e sociais.
Com relação aos os direitos humanos, o movimento socialista se dividiu
em: corrente da crítica radical de Marx aos direitos humanos como direitos civis,
econômicos e sociais privilegiados em detrimento dos direitos civis e políticos.
Outra corrente doutrinária é o socialismo reformista ou social-democrata, que se
esforça para conciliar liberdade com direitos de igualdade, permanecendo no
quadro do sistema capitalista e do estado de direito liberal, e aprofundando-se
no democrático.
O verdadeiro movimento histórico da classe trabalhadora dos séculos XIX
e XX exigia a universalização dos direitos "burgueses" através da luta pela
extensão dos direitos civis e políticos a todos os cidadãos. Uma luta travada ao
longo do século XIX e grande parte do século XX pelos “excluídos” do sistema
capitalista e inspirados por doutrinas socialistas “reformistas” que aceitavam os
princípios do estado de direito. Tais movimentos desempenharam um papel
fundamental na expansão dos direitos civis e políticos, particularmente o sufrágio
universal, que trouxe as massas populares para o jogo político, um fenômeno
absolutamente novo na história da humanidade (TOSI, 2008).
Os movimentos socialistas e social-democrata não só reivindicaram a
expansão da cidadania, como também introduziram um novo conjunto de direitos
desconhecidos e alheios ao liberalismo: a igualdade, ou direitos econômicos e
sociais, distintamente coletivos. Enquanto os direitos de liberdade eram
eminentemente individuais, ou seja, uma democracia que não era apenas
política, mas também social.
Em sua luta contra o absolutismo, o liberalismo via o Estado como um mal
necessário e cultivava uma relação de desconfiança interna: o tema central era
a garantia das liberdades individuais diante da interferência estatal nos assuntos
privados. Pelo contrário, tratava-se agora de obrigar o Estado a prestar um
determinado nível de serviços para reduzir as desigualdades econômicas e
sociais e permitir a todos os cidadãos uma participação efetiva na vida e no
"bem-estar" social. Também podemos ler esse processo como o predomínio da
concepção “democrática” e republicana do Estado de Direito sobre uma
concepção estritamente liberal.
Este movimento, que caracterizou as lutas operárias e populares dos
séculos XIX e XX, ganhou força com as revoluções socialistas. Mesmo antes da
Revolução Soviética, a Revolução Mexicana de 1915/17, trouxe claramente à
tona a necessidade de garantir os direitos econômicos e sociais. Nos países que
permaneceram capitalistas, os governos foram obrigados a implementar
extensos programas de socialização e distribuição de renda, usando as
experiências europeias de social-democratas, laboristas e democratas-cristãos
para satisfazer os movimentos sociais internos e afastar a ameaça externa do
comunismo (TOSI, 2008).
Entre as duas guerras mundiais existiu outra "alternativa" ao Estado
Constitucional Liberal, promovida por movimentos conservadores e reacionários
antimodernos e antiliberais, criando sistemas totalitários, regimes como o
fascismo, nazismo e comunismo soviético. Nos regimes totalitários, cabia ao
Estado defender um conjunto de valores coletivos, em nome dos quais se
legitimava o desrespeito pelos direitos civis e políticos dos cidadãos. O nazismo
implantou um regime no seio da Europa civilizada que, em nome do total
desprezo pela ideia de igualdade entre homens, provocou uma política de
genocídio e extermínio raramente vista na história da humanidade. O
comunismo, ideologia que se diferenciava muito do nazismo por sua concepção
universalista e fazia da igualdade econômica e social dos povos sua principal
bandeira de luta, promovia uma ampla garantia dos direitos econômicos e
sociais, mas acompanhada da eliminação dos direitos civis e políticos
individuais.
1.3 Laicidade do Estado

O Brasil é um País laico, que adota o princípio republicano da laicidade, ou


seja, a entidade política é separada da inter-religiosa, não possui religião
reconhecida oficialmente, embora a maioria populacional brasileira professe
religiões de origem cristã (católicos e evangélicos). Portanto, não pode impor
normas religiosas, mas deve garantir a liberdade de todas as pessoas, inclusive
daquelas que não acreditam na existência de uma ou mais divindades (SANTOS,
2014).
A liberdade religiosa está protegida pela Constituição Federal de 1988 e
tem grande relevância no ordenamento jurídico pátrio. Ela foi conquistada pelos
indivíduos ao longo dos anos, assim, devendo ser exercida de maneira plena,
não podendo haver violação ou mitigação desse direito fundamental universal e
imodificável. Todos são iguais perante a lei, mas é possível que existam
diferenças de tratamento entre pessoas de uma mesma sociedade.
A Constituição da República Federativa do Brasil assegura a opção
religiosa, determina a laicidade do Estado e permite o ensino religioso, como
matéria facultativa, nos horários normais das escolas públicas do ensino
fundamental. É interessante também observar que a Lei 7.716/1989 impõe a
reclusão de dois a cinco anos apenas aos servidores ou prepostos dos entes da
Administração Pública Direta e Indireta, bem como das concessionárias de
serviço público, que discriminem os trabalhadores no acesso a cargos ou
empregos, em razão da religião. Para o empregador privado em geral, esta
conduta, ainda que ilícita, não configura crime (ARAUJO, 2016).
E ainda, determina que a União se mantenha neutra em relação às
diferentes concepções religiosas presentes na sociedade, sendo-lhe vedado
tomar partido em questões de fé, estabelecer preferências, privilegiar uns ou
ignorar outros, bem como buscar o favorecimento ou o embaraço de qualquer
crença.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, A.R. A liberdade religiosa do professor de religião na Espanha:


análise da empresa de tendência. Revista do Ministério Público do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, n.60, p.30-31, 2016.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
18 nov 2022.

FLORES, H. J. A reinvenção dos direitos humanos. Florianópolis: Fundação


Boiteux, 2009

HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções, 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 1982.

MARX, K. ENGELS, F. O manifesto comunista. Organização e introdução de


Osvaldo Coggiola. São Paulo: Boitempo, 1991.

MIRANDA, Jorge. Estado, Liberdade Religiosa e Laicidade. Revista do


Ministério Público do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.60, p.187-192, 2016.

RABENHORST, E. R. O que são Direitos Humanos: capacitação de


educadores. Joao Pessoa. 2008.Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_%20docman&view=download&
alias=2186-dirhumanos-volume1-pdf&Itemid=30192.Acesso em: 16 nov 2022.

SCARANO, Renan Costa. Direitos humanos e diversidade. Porto Alegre.


2018.
SANTOS, M.S.in: Os Sabatistas e os Concursos Públicos: a Liberdade
Religiosa em Face da Igualdade. Conselho Nacional do Ministério Público.
Ministério Público em Defesa do Estado Laico. Brasília: CNMP, 2014.
TOSI, Giuseppe. Liberdade, igualdade e fraternidade na construção dos
direitos humanos. Revista Direitos Humanos: capacitação de educadores,
MEC/UFPB. Joao Pessoa. P.44-46, 2008.

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