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SUMÁRIO
1. Introdução ........................................................................................................................................3
1.1 Breve Contextualização da História entre Direitos Humanos e Políticas Sociais ....................6
2. O Capitalismo Dependente Latino-Americano e Tensões da Formação Social no Brasil ................15
2.1 As Políticas Sociais como Instrumentos de Promoção da Igualdade ...........................................19
3. Ditadura, Modernização Conservadora e Expansão da Política Social ..........................................24
3.1 Direitos e Particularidades da Cidadania no Brasil ......................................................................32
3.1.1 Idas e Voltas, Avanços e Retrocessos ...................................................................................33
4. Direitos e Políticas Sociais na Constituição Federal de 1988 ............................................................37
4.1 O princípio da gestão democrática e os Conselhos na Seguridade Socia.....................................40
5. O Direito a Participação na Gestão da Saúde .....................................................................................41
5.1 Papel do Conselho Nacional de Saúde .........................................................................................43
5.2 O direito à participação na gestão da previdência social ..........................................................44
5.3 O Direito à Participação na Gestão da Assistência Social .......................................................48
5.4 O Conselho Nacional de Assistência Social.............................................................................49
6. Participação Social nas Políticas Públicas: Avanços e Desafio .........................................................51
7. Referências Bibliográficas .............................................................................................................57
1. INTRODUÇÃO
Os direitos civis e políticos, além do processo democrático são, por sua vez, a
base sobre a qual se tornam possíveis as conquistas sociais. São as lutas dos
trabalhadores, possíveis apenas em função de que os mesmos são cidadãos com
direitos civis e políticos, isto é, sujeitos de direitos, que caminharam no sentido de
construção de uma igualdade mais substantiva, palpável, permitindo-lhes melhor
usufruir das riquezas produzidas pela civilização. Mauro Iasi faz o seguinte comentário
crítico acerca desta concepção de Marshall:
“...o autor acaba prisioneiro de uma visão segundo a qual a evolução desses
patamares de direito são o resultado de uma espécie de autoaperfeiçoamento
do próprio Estado, isto é, na medida em que o Estado torna possível um
código civil, um conjunto de instituições de acesso à justiça, como tribunais,
juízes, advogados, garante as condições de exercício dos direitos civil;
quando desenvolve instituições políticas e jurídicas como partidos, eleições
tribunais eleitorais, parlamentos, cria os quadros institucionais que permitem
os direitos políticos, da mesma forma, espera ele, que o desenvolvimento de
legislações sociais e instituições de acesso a bens e serviços às camadas
mais pobres, o desenvolvimento de políticas públicas e legislações protetivas
em relação ao trabalho, acompanhado de instituições como tribunais e o
direito do trabalho, seriam suficientes para fornecer o quadro institucional que
permitirá o florescer dos direitos sociais.” (IASI, 2012, 184).
Quer dizer, a “natureza humana” foi justificativa para coisas distintas em cada
tempo, em cada sociedade, conforme os interesses dos homens: o que pode parecer
essencial em uma época histórica não é em outra época, em outra sociedade, com
outra cultura. Ele reconhece assim, que os direitos do homem são historicamente
relativos, e esse relativismo é considerado como uma expressão do pluralismo, da
existência das várias formas de pensamento, da convivência entre concepções tão
antagônicas como a defesa da liberdade de religião e da liberdade científica, por
exemplo. Sobre isto o autor afirma:
Esta é a forma própria de existência do homem desde que ele evoluiu de outras
espécies na natureza. Dentre as formas de organização da sociedade ao longo da
história, no desenvolvimento das relações que o homem estabeleceu com a natureza
para garantir o seu sustento e preservação, estão as sociedades que se dividiram em
classes sociais, cujos interesses são antagônicos, contrários. Nesta perspectiva, o
Estado não é nem neutro, nem mecanismo de conciliação de interesses de classes,
constitui-se em instrumento para administrar a luta de classes em favor da classe
economicamente dominante.
Como reforça Kashiura Junior “A igualdade jurídica não é simples ilusão que
encobre a desigualdade real dos homens – há, na própria ‘ilusão’ da igualdade, algo
de essencial à ‘realidade’ da desigualdade.” (2009, 29). As lutas pelo sufrágio
universal, contra as ditaduras e governos totalitários, pelo direito de expressão e
organização dos trabalhadores, contra a discriminação racial, pelos direitos das
mulheres, foram sempre lutas sangrentas protagonizadas pelas massas de
trabalhadores ao longo dos tempos, mesmo sendo estas reivindicações clássicas da
própria burguesia. E vêm, desde a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789, refletindo a correlação de forças entre as classes sociais. Para Mauro Iasi:
Diante do fato de que, mesmo as classes de Direitos Humanos que são uteis
ao capitalismo, somente se efetivam plenamente pelas lutas dos trabalhadores, o que
não dizer das lutas pelos direitos trabalhistas, por salário, por melhores condições de
vida, de trabalho, de saúde, assim como as lutas por educação, habitação e
saneamento, tipicamente direitos socias. Sobre os direitos sociais Trindade afirma:
‘O Brasil participou dessa transição histórica de uma forma sui generis. E aqui
é mais do que necessária a prudência indicada por Décio Freitas, tendo em vista que
existe uma enorme controvérsia (ainda em aberto) sobre o caráter do modo de
produção existente na América Latina antes da emergência do capitalismo
dependente e quando teria começado e terminado essa transição histórica. ’
O fim da escravidão não pode ser reduzido ao ato formal de assinatura da Lei
Áurea em 1888. Visto como uma concessão da monarquia, perde-se a dimensão das
lutas geopolíticas entre o Império Britânico e o Brasil independente e das rebeliões
quilombolas e populares. Na verdade, a extinção do escravismo no nosso país deve
ser estudada como um longo processo de determinações externas e internas.
Em 1831, criou-se, sob pressão da diplomacia inglesa, uma lei que proibiu o
tráfico negreiro. Essa lei, contudo, pertenceu ao rol das leis “para inglês ver”. Os
latifundiários brasileiros e traficantes portugueses de escravos pressionaram o Estado
brasileiro a não adotar medidas efetivas para colocar em prática a lei promulgada.
Somente em 1850, já com o Bill Aberdeen plenamente ativo, é que o Brasil começou
a combater o tráfico negreiro e promulgou-se a lei Eusébio de Queirós.
➢ apenas dois anos depois, em 1852, esse percentual caiu para 15%; em
1887, às vésperas da Abolição, o percentual era de somente 5% (Moura, [1959] 1988,
p. 67).
http://www.usp.br/aun/antigo/exibir.php?id=6237
Alguns autores consideram que seu surgimento das políticas sociais remonta
às primeiras leis que regulavam o transito de trabalhadores e definiam os preços da
mão de obra decretadas na Inglaterra e na França no século XIV, passando pela Lei
dos Pobres Inglesa, de 1601, que diferenciava os pobres válidos (capazes para o
trabalho) dos inválidos, até a radical e violenta reforma das Leis dos Pobres, de 1834,
que limitada a ajuda aos pobres a ser menor que o menor salário pago e determinava
a internação nas workhouses, com trabalhos forçados a todos que solicitassem
assistência e fossem capazes de trabalhar.
https://www.algosobre.com.br/images/stories/historia/golpe-de-1964-fora-ditadura.jpg
• direitos civis,
• como liberdade pessoal,
• de palavra,
• de associação,
• de reunião,
• de pensamento,
• de fé,
• de propriedade,
• de acesso à justiça,
• de realizar contratos etc., como também direitos políticos, como de votar
e ser votado, direito ao voto secreto e direito ao acesso a cargo público. Por fim, os
direitos sociais, que vão ao direito de bem-estar econômico, como, por exemplo,
educação, direito a segurança, direito de participar na herança social e de viver a vida
de um ser civilizado de acordo com os padrões da sociedade civilizada.
Por sua vez, Moore Junior (1975, p. 13) salientou que existiram “[...] três
caminhos históricos principais, desde o mundo pré-industrial ao contemporâneo.”
Por sua vez, Moore Junior (1975, p. 495) destacou alguns indicadores para
compreender a estrutura social, econômica e política daquelas sociedades que
seguiram o caminho do capitalismo democrático.
Em relação à força dos proprietários rurais, esta manteve forte, criando, assim,
um processo de modernização impulsionando o avanço destas economias no
capitalismo industrial, entretanto aferradas em uma sociedade política marcada
profundamente pelos interesses dos grandes proprietários rurais, os quais criaram
obstáculos ao acesso democrático das demais classes sociais ao mercado de terras.
Contudo, Rangel (2000) destaca que a via prussiana foi marcada pela
transformação capitalista da grande propriedade rural sem que haja uma
fragmentação da estrutura fundiária. Deste modo, o camponês que não conseguiu
adotar um padrão tipicamente capitalista com o uso de tecnologias e de técnicas
modernas, foi desapropriado e lançado, pela concorrência intercapital, para fora de
sua unidade de exploração agrícola, não mais como proprietário dos meios de
produção, mas como proprietário da força de trabalho, constituindo, assim, relações
de trabalho tipicamente capitalistas.
Por sua vez, entender como o termo modernização conservador foi adotado
pelos pensadores econômicos e sociais nacionais. Não obstante, é importante
destacar que este termo foi cunhado para refletir as bases objetivas históricas, sociais
e estruturais específicas das economias da Alemanha e do Japão que, desde a II
Guerra Mundial, são considerados países desenvolvidos. Desta maneira, há de se
fazerem as mediações históricas e teóricas necessárias para compreender as
especificidades dos países subdesenvolvidos como é o caso do Brasil, uma vez que
a formação econômica e social nacional é diferente daquela encontrada nos países
da Europa Ocidental, Japão e Alemanha. Isto se deu porque o progresso técnico
penetrou a estrutura econômica brasileira de forma diferenciada, constituindo, assim,
uma sociedade crivada pela existência, no mesmo espaço e tempo, de uma economia
moderna e uma economia arcaica.
Por tudo isto, Graziano da Silva (2000 apud RANGEL, 2000); não refletiu sobre
o pacto político conservador urdido entre a burguesia nacional e os terratenentes no
interior do Estado que determinou o rumo e o ritmo do desenvolvimento capitalista da
sociedade nacional. Neste sentido, este teórico não conseguiu perceber que o pacto
tecido pela elite dominante criou fortes obstáculos para o acesso democrático das
demais classes sociais aos mercados de terras, de capital, de trabalho, democracia e
à cidadania.
3.1 Direitos e Particularidades da Cidadania no Brasil
José Murilo de Carvalho adota em sua obra a teoria criada pelo sociólogo
britânico Thomas Humphrey Marshall. Segundo este, a cidadania é uma condição na
qual o indivíduo tem a posse de três tipos de direitos.
Segundo Marshall, existe uma ordem lógica na conquista desses três tipos de
direitos. Os civis são os mais básicos, que possibilitam mais à frente a conquista dos
políticos e, por meio da participação política, os sociais. Essa sequência aconteceu
na Inglaterra, de forma gradual, com a implantação dos direitos civis no século XVIII,
dos políticos no século XIX e dos sociais no XX. No Brasil, a história foi bem mais
complicada.
https://gulbenkian.pt/cidadaos-ativos/2019/08/28/a-importancia-de-ensinar-cidadania-para-a-vida-em-
comunidade/
O período Vargas
O golpe que levou Getúlio Vargas ao poder em 1930 mudou bastante esse
cenário. Os direitos civis e políticos tiveram alguns avanços entre 1934 e 1937,
principalmente com a expansão do voto às mulheres no começo da década. Depois
disso, a ditadura do Estado Novo imprimiu muitos retrocessos, com repressão política
e restrições de liberdades.
Por outro lado, os direitos sociais tiveram grande destaque. O governo passou
a focar nos benefícios aos trabalhadores urbanos, concedendo a eles a possibilidade
de se organizar em sindicatos, reivindicar melhores condições, usufruir de
aposentadorias e pensões. O Ministério do Trabalho foi criado em 1930 e a Justiça do
Trabalho, em 1939.
Regime Militar
Nova República
Por fim, o último período analisado por José Murilo de Carvalho começa em
1985 e termina em 2013, data da última atualização do livro.
Como a provisão vem do poder Executivo, este também passou a ter mais
destaque e visibilidade que o Legislativo e o Judiciário. A figura do presidente é
extremamente poderosa no imaginário popular, o que aumenta a busca por um
salvador que resolva todos os problemas rapidamente.
Tudo isso gerou, segundo José Murilo de Carvalho, uma cultura política de
pouca organização civil e de busca por privilégios, ou seja, a demanda por benefícios
apenas para determinados grupos. É um cenário que atrapalha a consolidação
universal dos direitos e causa essa enorme frustração entre a população.
Por isso, o autor argumenta que é necessária a participação ativa do povo para
conquistar a cidadania plena e resolver a “incapacidade do sistema representativo de
produzir resultados que impliquem a redução da desigualdade e o fim da divisão dos
brasileiros em castas separadas pela educação, pela renda, pela cor.”
https://www.redebrasilatual.com.br/wp-content/uploads/2021/10/cf5.jpeg
O artigo 198 trata das ações e dos serviços públicos de saúde; a diretriz geral
é “participação da comunidade”.
https://www.cfn.org.br/index.php/noticias/cns-divulga-manual-para-realizacao-de-conferencias-de-
saude/
Tal esforço resultou na famosa Emenda Constitucional nº. 20, bem como em
outras medidas que visaram a restringir a cobertura previdenciária, destacando-se a
criação do chamado fator previdenciário. Em 2003, o país continuou apresentando
baixo crescimento econômico, sendo que a proposta governamental no período
defendia a reforma constitucional no regime previdenciário do setor público, que
resultou em alterações que restringiram o seu alcance.
https://www.direito2.com.br/loas-direito/
CNAS foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS - como
órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da
Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de
Assistência Social, que atualmente é o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome.
• sindicatos,
• associações e federações empresariais,
• organizações não-governamentais,
• movimentos populares e instituições religiosas e científicas.
(http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=835)
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