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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

MESTRADO EM DIREITO
CONCREÇÃO DOS DIREITOS COLETIVOS E CIDADANIA

DIREITOS DAS MINORIAS E DOS GRUPOS VULNERÁVEIS


Prof. Dra. Maria Cristina Vidotte Blanco Tarrega

YASMMIN BUSSOLETTI NEVES


Cód. 310156

01/2020
FICHAMENTO TEXTUAL

1. DIREITO DA ANTIDISCRIMINAÇÃO E DIREITOS DE MINORIAS:


PERSPECTIVAS E MODELOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E
COLETIVO

Como intuito principal da referida pesquisa, os autores Roger Raupp Rios, Paulo
Gilberto Cogo Leivas e Gilberto Schafer buscaram tratar do direito da antidiscriminação
e do direito das minorias, sobre a égide dos direitos humanos, observando a abrangência
subjetiva da proteção antidiscriminatória, as perspectivas universalista e particularista e
as respostas jurídicas sugeridas pelos instrumentos internacionais de direitos humanos.
Assim, ao decorrer do artigo tem-se a comparação entre técnicas e perspectivas trazidas
por estas esferas jurídicas. Restando claro que tanto em nosso ordenamento
constitucional pátrio como no direito internacional dos direitos humanos há o zelo pelo
direito de igualdade como preceito de proibição de discriminação com intuito de inibir
posturas injustas e preconceituosas contra determinadas pessoas e grupos historicamente
desfavorecidos e injustiçados. Para a efetividade da referida pesquisa, fez-se necessário
abordar acerca de uma proteção jurídica eficaz para estes indivíduos e grupos
discriminados, expondo a distinção entre modelos de proteção antidiscriminatória
individual e grupal, para isso foi primordial compreender os conceitos de direito
coletivo e individual para atingir o direito antidiscriminatório.

Apesar do Estado por intermédio da lei e tratados internacionais exigir posturas


antidiscriminatórias e prever punição ao agente que venha a atentar contra a dignidade
de alguém sobre pretexto preconceituoso, ainda sim existem vários impasses,
dificuldades e ineficácia para sua concreção. Tratamos então da dualidade de
perspectivas trazidas pelo Direito de Minorias e o Direito de Antidiscriminação.

O Direito de Minorias trata resumidamente das normas, conceitos, princípios com


previsão no direito internacional dos Direitos Humanos para a proteção de minorias
contra a discriminação, já o Direito da Antidiscriminação pode ser compreendido como
área do conhecimento e da prática jurídica realtiva as normas, conceitos e princípios que
regem o direito de igualdade como ordem proibitiva de discriminação em âmbito
nacional e internacional. Uma observação interessante é que internamente à proteção
dos direitos humanos provida pelas Nações Unidas tratam de instrumentos que
identificam e protegem propriamente os indivíduos em razão de sua ligação a certos
grupos, falamos então dos “direitos das minorias”, ao passo que, no sistema
internacional, outros instrumentos normativos detém previsão da proteção
antidiscriminatória, no entanto prezam por proteger os seres humanos de maneira geral,
e não grupos específicos como o que acontece quando tratamos das minorias, assim,
podemos compreender o direito da antidiscriminação como um fenômeno não tão
direcionado e de abrangência a todos os seres humanos que venham a sofrer alguma
discriminação.

Em conclusão tem-se dois pontos de vista importantes a se levar em conta, já que a


comparação do direito das minorias e do direito da antidiscriminação promovem uma
colaboração mutua entre sí, já que o direito das minorias pode fortalecer o direito da
antidiscriminação ao inserir grupos minoritários dentre o rol dos titulares do direito à
não-discriminação sem trata-los como indivíduos vinculados a eles, ao passo que o
direito da antidiscriminação pode contribuir para o aperfeiçoamento do direito das
minorias, fornecendo estratégias de proteção antidiscriminatórias que não estão
contempladas nos instrumentos normativos de direito das minorias.1

1
Direito da antidiscriminação e direitos de minorias: perspectivas e modelos de proteção individual e
coletivo – Raupp Rios, Roger; Cogo Leivas, Paulo Gilberto; Schafer, Gilberto.
2. DESIGUALDADES E DEMOCRACIA – O DEBATE DA TEORIA
POLÍTICA
(Igualdade e democracia no pensamento político)

Na pesquisa em questão tratamos de observar o liame entre a democracia e a justiça, já


que o autor Luis Felipe Miguel trata das mesmas como ponte a uma reflexão na teoria
política, explanando as possibilidades e os limites da democracia e as dimensões de uma
ordem justa. Ao expor sobre os valores democráticos ele compartilha o entendimento
que cada cidadão ou cidadã deva receber a mesma consideração, com dignidade e
capacidade potencial, podendo intervir no que tange aos interesses comum de forma
igualitária. Podemos observar que a reflexão acerca da democracia e justiça necessita
previamente de uma análise sobre os ideais igualitários. É possível notar um histórico
sobre a evolução da democracia desde os primórdios na democracia grega até a
democracia nos moldes atuais, correlacionando as suas limitações ao acesso na esfera
política, como por exemplo a não participação das mulheres, negros, analfabetos, etc.
Há que observar que posteriormente as democracias contemporâneas se valem de
cidadanias revestidas de “maior inclusão”, sendo que o poder econômico passa a ser
detentor de uma força nos regimes democráticos, oriundas do desenvolvimento do
capitalismo que quanto mais se promove mais fomenta desigualdade.

Esta desigualdade em questão não diz respeito somente de desigualdade material, mas
sim uma desigualdade de classes, obviamente os trabalhadores são detentores de uma
parcela menor de proventos, no entanto a assimetria entre as classes sociais não se
limita à diferença econômica, mas as desvantagens também estão inseridas nos
ensinamentos a que estes são submetidos, nos tratamentos direcionados a eles, os
conduzindo a raciocínios e posicionamentos diversos à aqueles que detém participação
política, desta forma os trabalhadores são alocados em distanciamento ao convívio de
proprietários e líderes políticos, assim o capitalismo acaba por colocar as decisões de
investimento econômico condicionando o Estado a uma dependência estrutural.

Falamos também da desigualdade de gênero, as mulheres como detentoras de subsídios


inferiores aos homens, ocupando diferentes posições nas estruturas de classes, e
sofrendo abusos, tais como violência e discriminação, desta forma foram reduzidas a
uma posição insignificante na sociedade, as afastando de qualquer possibilidade
democrática e posicionamento político. A desigualdade racial também se fez presente
com relação discrepante às demais classes favorecidas democraticamente e
politicamente, já que o racismo foi fator determinante a afastar as pessoas dessas
esferas, ao meu ponto de vista, vejo a questão racial na política e na democracia como
institucional, ou seja, identifico então nesse aspecto, o racismo institucional, pois o
afastamento por cor ou etnia nestas condições demonstra claramente a necessidade de se
impor uma hierarquia entre os mais favorecidos e os menos favorecidos. É necessário
alinharmos o raciocínio de que as desigualdades sociais, dentre elas a desigualdade
política se consolidou ao decorrer da história além de condições econômicas, classe,
gênero, etnia, mas também demarcou outros aspectos como distantes, tais como a
sexualidade, deficiência etc. que criam padrões complexos de desigualdade na esfera
política, de forma a comprometer a própria existência da democracia. Hoje, mesmo com
a evolução e políticas de maiores inclusões entendo a política ainda sim muito
manipulável aos menos favorecidos, o que nos causa estranheza já que fica impossível
se ter democracia agindo desta forma.2

2.1 O LIBERALISMO E O DESAFIO DAS DESIGUALDADES

Luiz Felipe Miguel também direcionou seu estudo às concepções do liberalismo,


indicando como ele concomitantemente promove e contém o ideal de igualdade,
tratando do liberalismo clássico, após isso, ele passou a entender as teorias liberais
da democracia as quais enfrentam o problema das desigualdades e simultaneamente
abordam a questão da democracia, o liberalismo sob essa ótica torna-se referência
central a partir da qual as outras correntes teóricas estabelecem suas divergências. O
liberalismo passou a delimitar o que trata-se de público e privado, ao explanar sobre
o que consistiria a ordem social trouxe um confronto entre a autonomia individual e
a igualdade, já que o discurso liberal inicialmente apresentou-se como um discurso
igualitário, afirmando uma igualdade abstrata entre todos os seres humanos.

Essa situação conflitante se dá pelo fato da existência de assimetria social e também


pela afirmação da necessidade de introdução da desigualdade na política. De
maneira interessante podemos verificar os entendimentos de Ronald Dworkin e
outros grandes explanadores do liberalismo como John Rawls, Robert Nozick e
Pierre Rosanvallon. Dworkin leciona possíveis compreensões de igualdade, e traça
2
Desigualdades e democracia: o debate da teoria política/organização Luis Felipe Miguel. – 1 ed. São
Paulo: Editora UNESP, 2016
de um lado a igualdade de bem-estar e de outro a igualdade de recursos e cada
seguimento a partir destes, ao passo que Rosanvallon entende que a relação entre
democracia e desigualdade está ancorada histórica e sociologicamente, observando o
esfumaçamento das clivagens sociais como fenômeno material, diferentemente de
outros autores, como efeito do surgimento de padrões de identidade sobrepostos,
que tornam menos evidentes os padrões de pertencimento.

Por fim compreendemos que os projetos de transformação social ancorados nas


assimetrias estruturais perderiam validade, sendo que a desigualdade se manifesta
como exclusão, no entanto os excluídos não caracterizam um grupo, o que ocorre é
que a exclusão na verdade trata-se de um fenômeno individual onde os excluídos
não tem condições de se expressarem politicamente. 3

3
Desigualdades e democracia: o debate da teoria política/organização Luis Felipe Miguel. – 1 ed. São
Paulo: Editora UNESP, 2016
3. DIREITOS EM CONFLITO – MOVIMENTOS SOCIAIS, RESISTÊNCIA
E CASOS JUDICIALIZADOS

Promovido por José Antônio Gediel, Adriana Espíndola, Anderson Marcos dos Santos e
Eduardo Faria Silva, temos os estudos direcionados a tratar da constitucionalidade do
Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, que regulamentou o procedimento para
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas
por remanescentes das comunidades dos quilombos, para compreendermos o que
ensejou essa identificação e estipulação se fez necessário entender as circunstâncias
históricas e jurídicas em que os quilombos surgiram no Brasil, e a maneira a que os seus
direitos foram resguardados pela nossa Constituição Federal de 1988. Quando passamos
a compreender o quilombo nos deparamos com confrontantes significados, já que muito
se fez entender que o quilombo se trata de um esconderijo de escravos, constituído por
negros fugidos, já que estes não poderiam se ver andando livremente pelas ruas, assim o
quilombo representaria então um local para este grupo de perseguidos e foragidos se
esconderem da “ordem”. Mas a realidade se distancia desta definição em que trata o
quilombo como espécie de abrigo ao negro irregular, ilegal ou foragido, já que ele na
verdade é um espaço em que se concentram pessoas livres que encontram um
acolhimento e proteção dos constrangimentos legais, dos preconceitos e do trabalho
explorado e forçado.

Quem readquiria a liberdade “formalmente” ou quem fugia necessitava de um lugar


para proceder com as atividades naturais de qualquer ser humano, no entanto na época
do Brasil escravista era quase impossível que um negro fosse inserido livremente na
sociedade desempenhando papel de trabalhador e vivendo livremente. No direito
positivo temos que o silêncio da lei é lei, no âmbito de certas minorias o silêncio da lei
contribuiu fielmente para prejudicar as noções de liberdade e direitos, já que as
previsões em nosso ordenamento tratavam de maneira genérica da liberdade sem a
necessária regulamentação desta, a título de exemplo podemos dizer que o direito à
liberdade é de todos os cidadãos segundo nossa Constituição, no entanto vejamos como
a lacuna por ausência de regulamentação nos traz essa problemática, os escravos não
são conhecidos como cidadãos, logo não são detentores de liberdade, já que inclusive
são reconhecidos como coisa.

O conceito de escravidão não era diretamente relacionado ao trabalho, a Convenção


para a Supressão do Tráfico de Escravos e da Escravidão editada pela Liga das Nações
no ano de 1926 definiu a escravidão como “O status ou condição de pessoas sobre as
quais se exerce, no todo ou em parte, o direito de propriedade”. As leis europeias
iniciais regulamentadoras do trabalho “livre”, de maneira contraditória tornavam o
trabalho compulsório e obrigatório, por conta própria ou por conta de outro sob
remuneração, o que ocorre é que a lei penal neste sentido passou a prever punições
severas em tratando-se da “vadiagem”.

Já que os escravos durante a colônia estavam entregues à própria sorte, de alguma forma
passaram a aprender sobre a terra e assim consecutivamente a sobreviver através dela,
diferentemente do escravo doméstico, o produtivo não estava em condição que
ensejasse uma fuga emergencial, em contrapartida o escravo liberto, alforriado ou
manumitido, não tinha porque trabalhar como assalariado na cidade ou no campo, pois
poderia muito bem viver a vida como camponês, com mais sossego, porém lhe faltava
“apenas” a terra que, infelizmente como sempre no Brasil nunca foi reconhecida aos
negros. Assim então nasce o quilombo, um local bem afastado e isolado, onde as
pessoas que não estavam inseridas na lógica colonial refugiavam-se bem distante, bem
como produziam o necessário para sua sobrevivência e gozavam de liberdade, assim a
única ilegalidade neste contexto era somente utilizar uma terra que não lhe era
concedida. Com a abolição da escravatura em 1888, muito indagou-se sobre a postura
das pessoas que habitavam o quilombo, já que acreditava-se que estas finalmente se
veriam “livres”, já que muitos reconheciam a figura do quilombo como um ambiente
que somente remetesse a um local de fuga e isolamento, no entanto, mesmo com a
abolição da escravatura as pessoas não optaram por sair de lá, já que estabeleceram com
suas famílias vínculos agradáveis e liberdade no quilombo, produzindo e sobrevivendo
dos proventos da terra.

Por fim, após compreendermos o processo histórico vivido pelos quilombolas e a sua
persistente invisibilidade posterior à abolição temos sob a perspectiva do autor o
entendimento que o Decreto 4.887 é notadamente constitucional.4

4
Direitos em conflito: movimentos sociais, resistência e casos judicializados – Gediel, José Antônio Peres
4. OS DIREITOS TERRITORIAIS QUILOMBOLAS – ALÉM DO MARCO
TEMPORAL

O estudo em questão tratou de promover uma discussão muito interessante acerca da


perspectiva jurídico-temporal e histórica contida no voto proferido pela Ministra Rosa
Weber na ADI-3239/DF ajuizada pelo então Partido da Frente Liberal, (Democratas) em
face do Decreto 4.887, de 20 de novembro de 2003. Este regulamenta o procedimento
administrativo para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação
das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. No mesmo
sentido o objeto do art. 68 do ADCT é o direito dos remanescentes das comunidades
dos quilombos de ver reconhecida pelo Estado a sua propriedade sobre as terras por eles
histórica e tradicionalmente ocupadas.

Como requisito essencial à proteção do referido artigo do ADCT, ao direito quilombola,


adveio então a efetiva posse das terras em 05 de outubro de 1988. A Ministra Rosa
Weber em seu voto, explanou pontos de vista favoráveis e contrários aos direitos dos
quilombolas, evidenciando importantes referências conceituais e históricas.

A nobre autora Dra. Maria Cristina Vidotte, afirma que estes preceitos hão de ser
examinados para o aprimoramento da necessária correção do que em história se busca
como “verdade real” e das “terras por eles ocupadas”. O direito posto em discussão
envolve circunstâncias muito delicadas que tratam de elementos históricos peculiares
que necessitam segundo a autora de uma “inflexão teórica verticalizada”, sob a pena de
se incorrer em graves injustiças e afrontar nossa Constituição Federal já que por
envolver matéria histórica busca a possibilidade de promover uma revisão ética da
história brasileira e de resgate da dívida que tem o Brasil com os afrodescendentes pelo
tempo a que tiverem seus direitos negados. Uma observação que se faz necessária é que
o direito peca ao traçar um liame obrigatoriamente entre categorias em construção a
outras já consolidadas, as enclausurando num marco temporal, essa questão segundo a
autora tem serventia para demonstrar que os conceitos e as categorias jurídicas, no
campo dos direitos constitucionais quilombolas, necessitam de uma abertura temporal
que, em qualquer sentido, não pode ser definida em nenhum tempo passado, já que o
texto constitucional não encerrou a categoria num tempo definido.

Por fim, ao observarmos todo contexto a que se fez necessário para a compreensão no
âmbito dos quilombolas podemos perceber que o texto constitucional não expressa
literalmente a ideia de garantia de propriedade definitiva, como visto no próprio voto, a
reflexão histórica mostra-nos que, quando da elaboração do texto constitucional não era
reconhecida a materialidade objeto do dispositivo. Assim podemos concluir que de fato
o marco temporal é realmente erro jurídico, consequência de escolha política, social e
econômica, tratando de promover uma interpretação histórica equivocada.5

5
Os direitos territoriais quilombolas – além do marco temporal – PUC/PR
5. INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE NO ESPAÇO
SOCIOJURÍDICO: DILEMAS E PERSPECTIVAS PARA O TEMPO
PRESENTE

A autora Dra. Neide Aparecida de Souza Lehfeld, da início às suas observações acerca
da infância, adolescência e juventude sobre uma perspectiva atual, cita como exemplo
crucial a questão dos “rolezinhos”, muito comuns no ano de 2013 os quais consistem no
encontro de jovens em locais como shoppings, para “paquerar”, ostentar e se divertir.
Tudo era organizado através das redes sociais, e esse fenômeno passou a atrair grandes
críticas e pontos de vista diferentes já que ganharam diversos formatos, desde políticos à
empíricos.

Posto isso, a imagem do jovem e dos adolescentes amparada por cuidados legais e
preceitos constitucionais foi passível de uma análise mais profunda já que a
adolescência traz em seu processo de construção a necessidade de socialização,
descobrir-se no mundo e sentir intensamente. Atualmente, a juventude está inserida nos
debates acadêmicos não apenas no tocante ao desenvolvimento biopsicossocial, mas
também os percebendo como sujeitos de direitos, que merecem cuidados das políticas
públicas.

Como visto, o jovem por natureza tem uma intensidade nos sentidos, e uma necessidade
de destacar-se de alguma forma ou talvez mais facilidade de se sentir inferior, o que
muito reflete na esfera dos adolescentes é também a questão do capitalismo, que induz
as crianças e adolescentes a serem adeptos em consumir e utilizar coisas que os revistam
como seres modernos, que estão “na moda”. Essa questão também tem uma ligação
direta com os aspectos sociais da juventude subalterna, já que este público está
subordinado à uma hegemonia econômica dominante que é o sistema capitalista e o
Estado que falha na implantação de políticas públicas e conscientização para que não
exista essa ilusão de que existe uma hierarquia ou competição entre os jovens.

A questão econômica e a desigualdade social refletem imensamente nas vertentes em


questão, já que o acesso e aumento da renda não são fatores exclusivos para nivelar a
igualdade social, pois os valores de renda, formas de obtenção, produção e acumulação
de riqueza favorecem e intensificam ainda mais as desigualdades. Por outro lado, alguns
pesquisadores, afirmam que certos jovens, desejam contribuir com as mudanças da
sociedade moderna, em busca de melhorar as condições e relações sociais, ao passo que
outros já frustrados pela situação a que se encontram e os conflitos sociais
rotineiramente os limitam cada vez mais nas relações sociais se afastando e descartando
pessoas e afetos.

Por fim, temos a conclusão que o Brasil vive uma contradição social, já que engloba os
mais diversificados grupos étnicos, raciais e socioculturais e ainda sim promove um
preconceito e uma desigualdade exorbitante, deve-se então exigir do Estado uma
postura ativa, de maneira a educar nossas crianças e reeducar a população em geral, com
maiores políticas de inclusão para que se faça valer nosso ordenamento jurídico e o que
se entende no literal de liberdade e igualdade.6

6
Lehfeld, Neide Aparecida de Souza. Infância, adolescência e juventude no espaço sociojurídico: dilemas
e perspectivas para o tempo presente.
6. DESIGUALDADES E DEMOCRACIA – O DEBATE DA TEIORIA
POLÍTICA
(Democracia, diversidade e desigualdades no multiculturalismo)

Ao tratar de multiculturalismo, temos a definição de que este trata-se de uma corrente


teórica de preocupação com a diversidade cultural e étnica das sociedades
contemporâneas, tendo como questão central os limites da democracia e os mecanismos
que ensejam nas desigualdades. A ótica multiculturalista ampliou o destaque ao
problema da convivência entre os grupos culturalmente distintos no debate
contemporâneo, sobre os limites das democracias. As minorias ganharam projeção nos
embates políticos sobre tudo no hemisfério norte, no Brasil as questões relacionadas aos
direitos das etnias indígenas são aquelas que mais se aproximam do leque de problemas
discutidos no multiculturalismo, as podendo tratar de “culturas societais diferenciadas”
ou grupos nacionais, nos quais a língua e território desempenham um papel fundamental
na preservação de um estilo de vida.

A resistência multiculturalista teve forte expressão em posições conservadoras


contrárias ao reconhecimento de direitos, para imigrantes e pouco sensíveis à ideia de
tratar de maneira não hierárquica as diferenças entre estilos de vida, porém foi possível
também se valer a partir de um debate mais abrangente, que trouxe preocupações
intelectuais de esquerda com o que foi tomado como uma espécie de refluxo no modo
com as relações entre a democracia e a desigualdade. A questão é que essa
diferenciação teria correspondido a um deslocamento e enfraquecimento, de uma
agenda que priorizasse as desigualdades ou fosse capaz de compreender como formas
simbólicas e culturais da marginalização estão conectadas a aspectos materiais.

As abordagens que tem como compreensão que a democracia e a justiça dependem não
apenas de tolerância à diferença, mas da construção de direitos que as reconheçam em
vez de suspendê-las ou ocultá-las, colocam em questão o “comum” e a neutralidade do
liberalismo. Quando tratamos da autonomia individual e pertencimento ao grupo temos
que a autonomia individual se mantém como referencial normativo importante, em
conjunto com a defesa de formas de reconhecimento e mecanismos institucionais que
permitem a construção de democracias sensíveis às diferenças entre grupos nas
sociedades contemporâneas, desta forma, fica estabelecida uma relação entre
democracia, reconhecimento das identidades de grupo e respeito às escolhas individuais.
Por fim, temos que o sentido da identidade do indivíduo na sociedade e as suas
possibilidades relativamente às de outros indivíduos, pode ser fortemente condicionada
pela etnia, raça e pela cultura. O multiculturalismo preza por mostrar que negar essa
realidade não significa tratar os indivíduos como iguais, mas para reconhece-la por
outro lado, ter que ser um avanço em direção à construção de condições mais
igualitárias para a participação dos indivíduos nas sociedades que vivem.7

7. OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL – DESAFIOS NO


SÉCULO XXI

7
Desigualdades e democracia: o debate da teoria política/organização Luis Felipe Miguel. – 1 ed. São
Paulo: Editora UNESP, 2016
Os povos indígenas constituem uma parcela muito pequena, em torno de 0,2% da
população nacional. A população tem aumentado nos últimos anos e há um número
crescente de comunidades emergentes que passaram a reivindicar a condição de
indígenas, possivelmente em função de contextos mais favoráveis à retomada de suas
identidades coletivas, após longa história de violência e discriminação e ainda sim, há
também no país alguns povos ameaçados de extinção. Os direitos dos povos indígenas
foram sendo conquistados ao longo de uma história injusta e árdua, por muito tempo, os
índios foram negligenciados e até escravizados. Partindo dessa premissa, com a
evolução, a Constituição Federal/88 foi um marco para esse aspecto, já que pouco a
pouco passou a reconhecer os direitos indígenas, a partir disso “muito” se avançou,
principalmente no reconhecimento formal dos direitos territoriais dos povos indígenas.

Os índios passaram a criar novas articulações para defender seus direitos e interesses
junto às instâncias de governo, assim, os indígenas cada vez mais preenchem espaços
políticos para discussão de assuntos de seu interesse. Muitos dos problemas enfrentados
atualmente pelos povos indígenas no Brasil estão relacionados às práticas sistemáticas
de violação dos seus direitos territoriais, que ainda exige políticas consistentes que
permitam consolidar na prática o que está formalmente reconhecido, criando-se formas
sustentáveis para que os povos indígenas exerçam os seus direitos plenos e
permanentes, isso delineia uma vertente de atuação que demanda ações específicas dos
Estado, com intuito de proporcionar aos índios os mecanismos adequados á gestão
territorial de suas terras.

Conforme visto, o governo federal, a quem compete a gestão da política indígena no


Brasil, muitas vezes não consegue traçar programas de assistência aos índios em
determinadas situações, tais como os índios que se encontram habitando bairros, já que
todo o desenho de suas atividades está voltado ao atendimento dos índios que vivem em
aldeias, mormente os que habitam as regiões mais afastadas dos grandes centros. Do
mais, os índios vivendo em cidades encontram-se numa espécie de empasse jurídico,
tendo dificuldades para fazer valer qualquer direito na medida que também a legislação
está construída para proteger os índios que vivem em seus territórios tradicionais.

8. LA GUERRA CONTRA LAS MUJERES


Rita Laura Segato, promoveu um estudo muito interessante voltado às questões de
gênero nas esferas nacionais e internacionais, a mesma trata de compartilhar que se
surpreendeu com as manobras dadas através do discurso conservador e moral como
ponto principal das políticas antidemocráticas. A autora citou como exemplo de seu
inconformismo as posturas do governo Temer no Brasil e também do Macri na
Argentina, que acabaram por demonstrar de forma irrefutável a relevância do
prevalecimento da família tradicional e patriarcal de maneira a tratar de forma
negativa e punível aos que concordam em representar a ideologia de gênero.

A autora foi mais além nas suas críticas ao reconhecer que o Brasil adota posturas
conservadoras e retrógadas, tratando de expor um questionamento pessoal,
explanando sua dúvida em querer compreender por qual motivo e a partir de quais
fundamentos os “think-tanks” do Norte geopolítico parecem ter concluído que a fase
atual é passível de mudar o rumo da década anterior, de forma que apoiaram um
multiculturalismo destinado a originar elites minoritárias (negros, mulheres, LGBTs
etc.) Em específico, a autora trata do gênero feminino como vulnerável e passível de
incontáveis abusos, e considera que a violência contra as mulheres da maneira como
pode ser observada na Argentina tem relação com o momento mundial em que "há
donos do poder" em um período de possessão, de forma em que os homens que
obedecem a um mandato de masculinidade, que é um mandato de poder, provam o
seu poder através dos corpos das mulheres, as usando e as idealizando como objeto.
Temos neste estudo que as relações de gênero são um campo de poder os quais
tratar de crimes sexuais é equivocado, a autora entende que estes deveriam ser
considerados "crimes de poder, da dominação, da punição".

Por fim, após uma intensa crítica acerca de políticas estatais e posicionamentos
preconceituosos sociais em especial contra as mulheres a autora termina dizendo
que de alguma forma torce para que mudanças venham positivamente de maneira a
introduzir um pensamento com mais empatia e com menos opressão, devemos
afastar a imagem defasada de pensamentos conservadores e ultrapassados a fim de
se fazer valer o real significado de democracia. 8

8
Segato, Rita – La guerra contra las mujeres/Rita Segato. 2ª ed. Ciudad Autonoma de Buenos Aires:
Prometeo Libros, 2018

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