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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Centro de Filosofia e Ciências Humanas - CFCH


Escola de Serviço Social
Disciplina: Direitos Humanos/2023.1
Docente: Ricardo Rezende
Discentes: Klarice Manhães Pereira
Rayane Ribeiro dos Santos Gomes

AVALIAÇÃO 1

Os direitos humanos são um tema fundamental na área do Serviço Social, envolvendo


questões de dignidade humana, justiça e equidade. Neste trabalho, vamos relacionar a
contribuição de quatro importantes autores para a compreensão e reflexão sobre os direitos
humanos: Lesbaupin, Bobbio, Santos e Adorno. Cada um desses autores traz análises
relevantes que nos auxiliam a examinar sobre os direitos humanos em diferentes contextos e
seus desafios. Eles compartilham interesse e preocupações comuns em questões relacionadas
aos direitos humanos, à sociedade e à política. Embora se distinguem teoricamente em
relação a suas abordagens e perspectivas.

De modo geral, pode-se pontuar algo que perpassa os distintos textos, que é a
compreensão da complexidade dos desafios contemporâneos: Os autores reconhecem a
complexidade dos desafios enfrentados na promoção dos direitos humanos na
contemporaneidade. Eles discutem temas como diversidade cultural, políticas públicas,
desigualdades sociais e limitações do sistema social, destacando a necessidade de análises
aprofundadas e busca por soluções que levem em conta essas complexidades.

Ademais, assinala-se uma ênfase na responsabilidade dos atores sociais: Os autores


ressaltam a importância da responsabilidade dos diferentes atores sociais na promoção e
garantia dos direitos humanos. Isso inclui os Estados, as instituições, as organizações da
sociedade civil e os próprios indivíduos, destacando a necessidade de uma participação ativa
e engajada de todos na defesa dos direitos humanos.

Inicialmente, o trabalho de Lesbaupin, a partir do texto “Os direitos humanos e a


ideologia liberal” que está presente na obra “As Classes Populares e os Direitos Humanos”,
apresenta-nos uma perspectiva histórica dos direitos humanos. Sua obra nos permite
compreender o desenvolvimento dos direitos humanos ao longo do tempo e como esses
direitos afetam, ou não, as classes populares. A partir de análise de matriz marxista, o autor
aponta como os direitos registrados pelas declarações americanas e francesa possuem caráter
individualista e são de teor liberal, acabando por assim ser não direito de cidadãos, mas
direitos do membro da sociedade burguesa. E do modo como estão dispostos na Declaração
Universal, os direitos humanos permitem a existência de democracias formais, sendo os
direitos reconhecidos em abstrato e não concretizados para muitos. Além disso, o autor
enfatiza a importância da proteção dos direitos humanos no âmbito internacional e a
responsabilidade dos Estados em cumprir seus compromissos nesse campo.

Assim como Lesbaupin, Bobbio, em sua obra intitulada “A Era dos Direitos”, também
compreende os direitos como fruto de construção social, logo, são históricos, de modo que
estão suscetíveis a transformações, ampliações ou até reduções. No entanto, ao contrário do
autor anterior citado, que entende que os direitos humanos permitem a existência de
democracias formais, ainda que estes direitos não se concretizem para muitos, Bobbio
defende que não há democracia se estes não forem reconhecidos e protegidos. O autor ainda
discute que o desafio da contemporaneidade está não em fundamentar os direitos e distinguir
que direitos são esses, se são naturais ou históricos, mas que o que convém primordialmente é
garanti-los, protegê-los, impedindo assim que sejam violados. De tal modo, não critica a
questão da universalidade dos Direitos Humanos. Ademais, através de sua análise sobre os
direitos universais, individuais e coletivos, Bobbio nos proporciona um arcabouço teórico
para compreender a importância da igualdade, liberdade e participação política no contexto
dos direitos humanos.

Enquanto que Boaventura de Sousa Santos, em seu texto “Direitos Humanos - o


desafio da interculturalidade”, desafia-nos a pensar os direitos humanos sob a perspectiva da
multiculturalidade, trazendo uma perspectiva crítica que destaca a importância de reconhecer
e valorizar os conhecimentos e as perspectivas das diferentes culturas e grupos, pois, ao
contrário de Bobbio, Santos defende que é necessário discutir os direitos humanos diante da
perspectiva universalista que lhe é imposta pela cultura ocidental, visto que tais direitos não
podem ser universais, bem como eles não são universais em sua aplicação. Os direitos
humanos, compreende o autor, devem partir de um diálogo intercultural, reconhecendo a
multiculturalidade global. Suas reflexões podem contribuir para uma análise mais ampla e
inclusiva dos direitos humanos, considerando a diversidade cultural e social.
A análise de Adorno, cujo texto nos conduz à reflexão sobre o Programa Nacional de
Direitos Humanos, apresenta uma perspectiva crítica que nos permite compreender as
contradições e limitações do sistema sociopolítico na promoção dos direitos humanos. Suas
reflexões são essenciais para uma análise do desenvolvimento das políticas públicas a partir
da compreensão de direitos humanos pós regime ditatorial e dos enfrentamentos políticos de
correlação de forças, que terão rebatimento também sobre o exercício profissional do Serviço
Social. Além disso, permite-nos compreender a necessidade da diversidade dos direitos para
os diferentes segmentos sociais de uma sociedade, como discute Santos em seu texto ainda
que em contexto global, ao demonstrar o avanço e a ampliação dos direitos a cada novo
Programa Nacional, o que aponta também para o caráter histórico-social, discutido por outros
autores supracitados, dos direitos humanos.

Esses autores certamente auxiliam a pensar a realidade brasileira e contribuem para o


enriquecimento da reflexão acadêmica de diferentes maneiras. Lesbaupin pode fornecer uma
compreensão sobre a importância dos compromissos internacionais na proteção dos direitos
humanos no Brasil e como essas responsabilidades podem ser aplicadas no contexto nacional,
além de possibilitar uma análise crítica do modo como esses direitos foram escritos no
decorrer do processo sócio histórico da sociedade, na evolução desses direitos, entendida na
forma de gerações ou dimensões, sendo fruto material através da luta de classes. Também
Bobbio, ajuda a refletir sobre as bases teóricas dos direitos humanos e sua relação com a
democracia, contribuindo para a análise das políticas sociais e dos direitos sociais no país,
levando-nos hoje a questionar se realmente se pode falar de Estado Democrático de Direito
diante, por exemplo, das enormes violações dos direitos nos últimos anos a partir do ideário
neoliberal. Já Adorno pode fornecer ferramentas para analisar a emergência dos direitos
humanos na sociedade brasileira a partir da Constituição Federal de 1988, num período de
redemocratização e denúncias de atentado aos direitos assumidos pelas nações,
permitindo-nos compreender as dinâmicas que são particulares ao nosso contexto - nossa
estrutura social, cultural, política, e como isso dimensiona a correlação de forças entre os
atores sociopolíticos desta sociedade -. Por fim, a perspectiva crítica de Santos é
fundamentalmente relevante para pensarmos no perigo de se pensar os direitos humanos a
partir da perspectiva universal, sem considerar o multiculturalismo, as diferentes formas de
sociabilidades nos diferentes espaços nacionais do globo, de modo a perpetuar as
desigualdades sociais, a discriminação, exclusão e injustiças.
Entendemos a imprescindibilidade de nos debruçarmos sobre o desenvolvimento dos
direitos humanos no decorrer da história humana e as discussões que os envolvem, visto que
se constituem como uma espécie de base para o exercício profissional do assistente social,
dado que este exercício se concretiza a partir da busca pela garantia e da aplicabilidade dos
diversos direitos constituídos, sejam eles sociais, políticos, civis etc, nos mais diversos
espaços sócio-ocupacionais em que podemos atuar. Assim como explicita alguns dos
princípios fundamentais, inseridos no nosso Código de Ética, o profissional tem o
compromisso com a defesa ferrenha dos direitos humanos, com posicionamento em favor da
equidade e justiça social, além do empenho na eliminação de todas as formas de preconceito,
incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à
discussão das diferenças, possível de ser relacionada com reflexão tratada por Santos.

Destarte, a/o assistente social precisa estar munido de compreensão teórica, histórica,
política e crítica sobre os direitos humanos, de modo a possuir subsídios não apenas para sua
própria atuação profissional, mas também para as discussões que competem aos direitos de
sua própria categoria enquanto parte da classe trabalhadora. Em vista disso, a apreensão desta
discussão ainda no âmbito acadêmico, a partir de variadas concepções, nos provoca desde
então a práxis, atividade necessária no cotidiano profissional. Logo, o diálogo com os textos e
autores abordados, permite o aprimoramento da reflexão acadêmica tanto para produção de
conhecimento futuros, como o desenvolvimento de novas abordagens teóricas, quanto para
nossa futura atuação, seja nas áreas de ponta da atuação, executando políticas sociais, seja nas
áreas de planejamento e gestão.
Referências Bibliográficas

LESBAUPIN, Ivo. “Os direitos humanos e a sua história”. In As Classes Populares e os


Direitos Humanos. Petrópolis, Vozes, 1984: 35-77;

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 1992;

SANTOS, Boaventura de Sousa. “Direitos Humanos: o desafio da interculturalidade” in


Revista Direitos Humanos. Junho 2009, Nº 02: 10-18;

ADORNO, Sérgio. “História e desventura: o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos”. In


Novos estud. – CEBRAP, no.86, São Paulo, Mar.2010.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de ética profissional do


Assistente Social. Brasília, 1993.

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