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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE DIREITO

GRADUAÇÃO EM DIREITO

DISCIPLINA: PESQUISA JURÍDICA

DOCENTE: JOSÉ GERALDO DE SOUSA JUNIOR

DISCENTE: EVERSON PEREIRA DUARTE

SOUSA JUNIOR, José Geraldo. O Direito Achado na Rua: concepção e prática. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2015.

O Direito Achado na Rua é um projeto coordenado pelo Professor José Geraldo de


Sousa Junior, atuante na pesquisa jurídica relacionada aos Direitos Humanos. Contando com a
colaboração de mais de 40 pesquisadores e da turma de Direito da UNB de 2014, conseguiu-
se elaborar o livro que ora é objeto desta resenha.
Tendo como amparo basilar, os pensamentos de Roberto Lyra Filho, o projeto procura
conceder o pensamento crítico e libertador, num viés um tanto quanto filosófico, na prática do
Direito. Sendo assim, tem como característica mais evidente o estudo das ciências jurídicas de
modo independente e libertador, referentes às novas necessidades sociais impostas
atualmente, abordando o tema sob uma dialética metodológica baseada no desenvolvimento
social e cultural e principalmente fugindo dos dogmas comumente utilizados no Ensino e na
Pesquisa acadêmica atual.
Inicialmente, o livro aborda sobre a origem do projeto apresentando a forte influência
do pensamento de Lyra Filho e as ideias da Nova Escola Jurídica Brasileira, também chamada
de NAIR, no qual pôs em prática o estudo da atuação jurídica nos movimentos sociais com a
finalidade de: determinar o espaço político dessa atuação decorrente das demandas sociais e
os Direitos Humanos; definir a natureza jurídica do sujeito coletivo capaz de transformar a
sociedade; elaborar propostas de relações sociais alternativas com base na liberdade legítima e
sem o poder coercitivo do Estado aprisionador. A influência de diversas áreas das ciências é
percebida durante a obra ao citar passagens de diversos autores, tanto no sentido de
enaltecimento quanto de crítica, sendo debatidas e justificadas suas ideias, dando assim, um
repertório teórico ao projeto bastante significativo e coerente com os objetivos propostos,
pautados na práxis transformadora do espaço público, representado pelo termo “rua”, como
forma de explicitar que, dentro do próprio meio social, existe uma luta pela sua emancipação
libertadora por meio do pluralismo jurídico e em busca da legítima justiça por meio dos
Direitos Humanos. 
Enfim, é apresentado no projeto características de critica ao jus positivismo e sua
contrariedade ao jusnaturalismo, pois segundo Lyra Filho, o Direito deve ser inspirado nos
anseios advindo do clamor popular das ruas, devendo pautar-se em questões sociais e políticas
cujo próprio homem seja o causador dessas condições, para que se possa alcançar a legítima
justiça libertadora. Cabe ressaltar que o projeto não se limita somente ao entendimento teórico
do saber jurídico, mas também busca a forma de aplicação deste saber.
No desenvolvimento, em sua primeira parte, é feita uma aprofundamento dos ideias da
NAIR, e sua importância na discussão e produção de ideias no período conturbado dos anos
60 e 70, quando se passavam por diversos problemas como greves operárias, a Lei de
Segurança Nacional e violência policial originada de um autoritarismo estatal. Para divulgar
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os pensamentos da Escola, eram publicados os “Boletins Direito e Avesso”, como forma de


materializar este pensamento, em publicações semestrais e onde se debatia o Direito sob uma
perspectiva dialética social e humanista, e ao mesmo tempo fugindo das contradições do
jusnaturalismo e do positivismo, com foco em dilemas reais do Direito, desde do penal até nas
questões sociais. Dessa forma, Lyra Filho trouxe transcendeu a pesquisa do Direito
convencional, que ele mesmo chamou de Aufhebung, não adotando nenhum método ou
estudo, mas incorporando pensamentos filosóficos de antigos pensadores, numa dialética
humanista, focada nos Direitos Humanos, e no combate ao Direito opressor, tendo como
meta: o resgate da dignidade política, apoiar movimentos progressistas de libertação, reagir a
relativistas e reacionários e defender um socialismo democrático. (LYRA FILHO, 1986).
O Boletim Direito e Avesso foi encerrado antes mesmo da morte de Lyra Filho, porém
naquela época ele já fomentava a ideia do Direito Achado na Rua concretizando o projeto de
intervenção jurídica ligado à práxis social dos movimentos apoiados pela NAIR. O projeto
permaneceu sob a égide do professor José Geraldo Sousa Junior, defendendo um Direito
libertário, que aproxime o Direito da realidade social. 
Numa percepção que contraria a visão metafísica e abstrata, reexamina o Direito com
um caráter móvel e multifacetado, que acompanha a realidade social como um todo,
principalmente no que se referem aos seus conflitos, suas lutas e suas reinvindicações perante
o sistema jurídico.
No segundo capítulo é abordada a evolução do Direito Achado na Rua com ideias
alternativas ao direito positivista preponderante na década de 80, na procura de uma ordem
jurídica mais plural e justa, que nega que o Estado seja o único possuidor de poder e de base
para a produção do Direito.
A separação entre teoria e prática sustenta essa visão alternativa, e impõe uma análise
de outras fontes de direito, o historicismo e a própria sociedade em si, além dos locais onde
ocorrem as relações sociais, ou seja, se pautando com maior ênfase na realidade social que o
direito deve tratar. A partir disso, o autor conduz o pensamento de que o direito seria vivo e
dinâmico, em constante processo de evolução e luta.
Na parte final desse capítulo é expresso qual deve ser o comportamento do cidadão,
sendo este, elemento social, ativo e coletivo, baseado na ideia de uma cidadania ativa, em que
o próprio cidadão, integrante de determinada esfera social, deve buscar a luta emancipatória
de seus direitos.
A terceira parte do desenvolvimento se inicia apresentando sobre como é importante a
pesquisa ser realizada em parceria com a reflexão, para que possa atuar de forma justa na
esfera pública, buscando a libertação das ideologias vigentes de caráter dominante. O autor
mostra como o direito está e como está sendo utilizado como forma de dominação, além de
como é mostrado o que deve mudar, para que deixe de ser uma forma de desigualdade e
espoliação. 
Nesta parte, mostra-se a importância da pesquisa e reflexão para a construção de uma
tese como a do Direito Achado na Rua, particularmente no ambiente universitário. São
utilizados os métodos de crítica, pesquisa, ensino e extensão, pois por meio desses, realizam-
se transformações sociais e o alcance de uma liberdade no Direito. Essa atividade seria, então,
uma forma de realização da emancipação do direito, contribuindo como aparato de promoção
de justiça, valorizando o relacionamento da universidade com a própria realidade da
sociedade, a importância da troca de saberes entre os diversos campos do conhecimento e o
processo de interdisciplinaridade. Ali se destaca que o saber popular se iguala na importância
do científico.
A finalização do capítulo fala sobre a participação da sociedade, independente do
período de eleições, na cobrança que devem fazer aos seus representantes, e trata de uma
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grande conquista em liberdade social. É abordada sobre a crescente criminalização dos


movimentos sociais.
A última parte da obra traz uma síntese do que é o projeto Direito Achado na Rua,
“projeto libertário e transformador, que tem o objetivo de unir prática e teoria para fundar
novas e criativas possibilidades de pensar o Direito. Trata-se, por sua própria natureza, de um
projeto em constante renovação, e por isso os desafios colocados são permanentemente
atualizados de acordo com as transformações do conjunto da sociedade e de suas novas
aspirações.” (p.214). Prossegue num caminho metodológico coletivo, dialético e participativo.
A fim de estabelecer um diálogo com os grupos anteriores, e promover uma leitura crítica da
conjuntura política contemporânea e apontar possíveis encaminhamentos para aprimorar a
práxis de O Direito Achado na Rua.
O pluralismo jurídico é apresentado como uma reação ao legalismo e estatal do Direito
que prevalece no meio acadêmico como o ordenamento jurídico positivado, de preceitos
universais e conteúdo unidimensional, que tem sofrido constantes críticas por seu
reducionismo e contribuição para a manutenção de interesses de uma classe hegemônica. A
partir da legitimação de novas fontes de conhecimento, afasta-se do dogmatismo científico e
promove o direito espontâneo.
A obra conclui-se com a discussão, contextualizada, acerca da criminalização dos
movimentos sociais e desarmamento da polícia, sendo expresso o pensamento de que os
agentes participantes tem sim que desenvolver-se na luta de seus direitos, e que essa constante
criminalização dos movimentos de luta não parte dos participantes, e sim do apoio dos
conservadores e dominadores, que buscam, através desse artifício, suprimir a luta por uma
sociedade mais justa e ética para todos. 
A nova escola jurídica, a NAIR, supera o positivismo e problematiza o jusnaturalismo,
para a construção de um projeto sob égide do pluralismo jurídico, apresentada pelo O Direito
Achado na Rua sob perspectivas amplas e plurais que atuam dentro e fora da academia.
O Direito Achado na Rua é um projeto transformador e libertador, que une a prática e
a teoria para trazer novos pensamentos sobre o Direito. Além disso, está em constante
renovação, devido à sua proposta de redirecionamento, mudança de perspectiva e abrangência
analítica.

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