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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE DIREITO
GRADUAÇÃO EM DIREITO
DISCIPLINA: PESQUISA JURÍDICA
DOCENTE: JOSÉ GERALDO DE SOUSA JUNIOR
DISCENTE: ALESSANDRA OLIVEIRA BARBOSA

CORREIA, Ludmila Cerqueira; ESCRIVÃO FILHO, Antônio; SOUSA JÚNIOR, José


Geraldo de. A expansão semântica do acesso à justiça e o Direito Achado na Assessoria
Jurídica Popular. In: REBOUÇAS, Gabriela M.; SOUSA JÚNIOR, José Geraldo;
CARVALHO NETO, Ernani R. de (org.). Experiências compartilhadas de acesso à
justiça: Reflexões teóricas e práticas. Santa Cruz do Sul: Essere nel Mondo. 2016. p.
81-98.
O texto “A expansão semântica do acesso à justiça e o Direito Achado na
Assessoria Jurídica Popular”, de Ludmila Cerqueira Correia, Antônio Escrivão Filho e
José Geraldo de Sousa Júnior, traz uma reflexão a respeito do acesso à justiça dentro da
sociedade brasileira, buscando entender os atores a quem ele se destina e o direito a ele
associado, que desencarcerado do esgotamento de leis, encontra-se apoiado nos
movimentos sociais e numa legítima organização social da liberdade, ideal ferrenhamente
defendido pelo projeto O Direito Achado na Rua (DAnR).

O artigo, compilado em doze páginas, está organizado em seis tópicos, a saber:


Introdução; O Direito na concepção de O Direito Achado na Rua; Deslocamentos
analíticos para a compreensão do acesso ao Direito e à Justiça; Reflexões a partir da
Assessoria Jurídica Popular; e O Direito Achado na Rua e a Assessoria Jurídica Popular:
realização política do Direito e da Justiça. Entretanto, podemos entender a obra a partir
de três grandes pontos interligados e dispostos dentro do texto: O Direito Achado na Rua,
a Assessoria Jurídica Popular e como estes são capazes de permitir uma efetiva
transformação social através do acesso à justiça.

Logo na introdução, os autores iniciam o debate discorrendo a respeito do projeto


idealizado por Roberto Lyra Filho, o Direito Achado na Rua, que em constante
comunicação com os movimentos sociais, preocupa-se com “o diálogo entre a justiça
social e o conhecimento necessário à sua realização” (CORREIA; ESCRIVÃO FILHO;
SOUSA JÚNIOR, 2016, p. 81). O projeto, fruto da Nova Escola Jurídica Brasileira
(NAIR), volta-se para o espaço público, lugar onde a verdadeira concepção de Direito é
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proposta, dotada de liberdade e conscientização, que ao olhar para os espoliados e


oprimidos, insere-se na constante luta pela transformação social, por uma sociedade
alternativa em que o âmbito dos direitos humanos seja reconhecido.

A partir disto, o segundo tópico aprofunda-se na análise do Direito a que se deve


buscar, visto que o projeto O Direito Achado na Rua torna-se principal militante na luta
contra o distanciamento do Direito da realidade social, buscando “identificar as categorias
analíticas que se expressam na realidade do ser do direito” (CORREIA et al, 2016, p. 83),
realidade esta, que erigida entre as normas estatais e uma perspectiva pluralista,
desenvolve-se entendendo a sociedade como dotada de uma organização social voltada
para uma “perspectiva [...] multicultural” (CORREIA et al, 2016, p. 83).

Dessa forma, percebe-se o engajamento do DAnR com a luta social, posto que ao
analisar “a própria realidade do ser social do direito” (CORREIA et al, 2016, p. 84),
resgata a justiça do emaranhado de leis e códigos, para devolvê-la ao povo, “sujeito
histórico dotado de capacidade criativa, criadora e instituinte de direitos” (CORREIA et
al, 2016, p. 84). A rua, portanto, torna-se “espaço político da participação popular na
construção e realização do direito” (CORREIA et al, 2016, p. 85), onde “os processos
sociais de lutas por libertação e dignidade” (CORREIA et al, 2016, p. 85) tornam-se cada
vez mais fortes e engajados.

Imbuídos da necessidade de perceber a justiça além dos muros que a cercam, os


autores discutem no terceiro tópico o direito ao acesso à justiça, que como direito
fundamental, garantido na Constituição Brasileira de 1988, não deve ser entendido como
dependente do Poder Judiciário, posto que “representa uma determinada ordem de valores
e direitos fundamentais para o ser humano” (CORREIA et al, 2016, p. 85). A justiça,
portanto, vai além do “simples ajuizamento de ações” (CORREIA et al, 2016, p. 85), pois,
segundo os autores, há uma grande necessidade de questionar o âmbito em que este direito
está inserido, visto que o direito positivo não contempla os setores desfavorecidos, o que
gera uma “marginalização jurídica, subproduto da marginalização social e econômica”
(FARIA & CAMPILONGO, 1991, p. 21).

Além destes fatores, “a concepção de direito engessado no âmbito da cultura


judicial institucionalizada” (CORREIA et al, 2016, p. 86) desempenha papel
preponderante no problema de acesso à justiça das camadas subalternizadas, visto que,
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como reiteram Faria e Campilongo, a positivação do direito está preparada apenas para
contemplar e resolver as questões interindividuais e não as coletivas.

Após o giro epistemológico advindo d’O Direito Achado na Rua, as três


dimensões clássicas do enfoque do acesso à justiça, “instituições de justiça,
procedimentos judiciais e categorias litigantes” (CORREIA et al, 2016, p. 86-87),
propostas por Cappelletti e Garth, assumem novas facetas e passam a situar o debate nos
âmbitos da “dialética social do Direito, na transformação institucional da Justiça e na
práxis instituinte dos movimentos sociais” (CORREIA et al, 2016, p. 87). Dessa forma,
objetiva-se

inserir a análise “no processo de conhecimento do Direito enquanto


exigência de identificar parâmetros para a compreensão da legitimidade
epistemológica de novos conceitos e de ampliação crítica de novas
categorias” em condições de organizar uma outra prática de
investigação sobre o acesso à justiça no Brasil (SOUSA JÚNIOR, 2002,
p. 68, apud CORREIA et al, 2016, p. 88).
Posto isto, O Direito Achado na Rua encontra-se em constante discussão no que
diz respeito a forma como produz-se o Direito, uma vez que se este encontra-se
fundamentado na positivação, propõe obstáculos às lutas sociais, impossibilitando que o
ser social do direito adquira acesso à justiça, o qual deve ser estudado e analisado a partir
da rua, espaço político dotado de importância para a construção de uma “prática de
investigação” (CORREIA et al, 2016, p. 88) sobre a Justiça.

A partir destas constatações, os autores introduzem na discussão, no tópico 4, o


próximo grande âmbito que serve de base para o desenvolvimento do tema: a assessoria
jurídica popular, que como uma espécie de “subcampo político-jurídico da advocacia
brasileira” (CORREIA et al, 2016, p. 90), orienta-se por “princípios humanitários,
pedagógicos e políticos [...] de diálogo com comunidades e movimentos [...] em torno da
luta por direitos” (CORREIA et al, 2016, p. 90). Como uma “síntese histórica entre as
estratégias de luta social e a opacidade da institucionalidade de justiça” (CORREIA et al,
2016, p. 90), a assessoria jurídica popular nasce nos anos 1970, diante de um contexto de
intensa repressão, objetivando combater o caráter repressivo da ditadura civil-militar a
partir de uma abertura democrática e libertadora.

Os assessores e advogados populares voltam-se para os sujeitos coletivos,


buscando garantir a eles o acesso à justiça “em torno da luta por direitos, mesclando
assistência jurídica e atividades de educação popular” (CORREIA et al, 2016, p. 90).
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Desde o ano de 1995, estão organizados na Rede Nacional de Advogados e Advogadas


Populares (RENAP), que em compromisso com a luta social baseia-se em quatro
pressupostos:

a compreensão do direito como um instrumento de transformação


social; a noção ampliada sobre o direito de acesso à justiça; a defesa da
existência de um pluralismo jurídico comunitário-participativo; e a
educação jurídica emancipatória (MAIA et al, 2013, apud CORREIA
et al, 2016, p. 91).
A assessoria jurídica popular busca, dentre outras coisas, socializar o saber
jurídico a partir de seu caráter “dinâmico e multiplicador de educação jurídica popular”
(CORREIA et al, 2016, p. 91), aproximando o povo da consciência de que possui direitos
e a partir do exercício da cidadania adquire autonomia, inserindo-se em uma constante
luta por direitos.

Por conseguinte, a assessoria jurídica popular entende a necessidade de um


“direito ‘de igual para igual’” (CORREIA et al, 2016, p. 92), inserindo a população no
Direito e na Justiça, num contínuo processo de politização.

Por fim, como uma síntese dos tópicos principais do texto, o tópico 5 ratifica a
necessidade de entender a conexão estabelecida entre a concepção de Direito d’O Direito
Achado na Rua e a proposta da assessoria jurídica popular de levar a noção de Justiça
àqueles que pela sociedade são espoliados e oprimidos. A partir dessa união é possível
que o Direito se aproxime da realidade social, que o acesso à justiça chegue de fato e de
maneira efetiva às camadas mais marginalizadas. Através dos pressupostos d’O Direito
Achado na Rua, a assessoria jurídica popular firma-se no combate a subalternização dos
indivíduos, superando “obstáculos econômicos, sociais e culturais” (CORREIA, 2016, p.
93).

Consoante a isso, entende-se que o papel d’O Direito Achado na Rua juntamente
com a assessoria jurídica popular gera uma conscientização requerida pela realidade
social, visto a necessidade de levar a justiça aos ambientes marginalizados e oprimidos.
Os autores utilizaram-se de pensadores e elementos preponderantes a fim de atestar as
informações por eles prestadas, o que permitiu que o tema atingisse grande abrangência,
uma vez que para se acessar determinados direitos, faz-se necessária a presença de
projetos e associações capazes de colaborar na integração de elementos que se fazem
primordiais na esfera jurídica, tais como os atores sociais e a própria realidade social.
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Referências bibliográficas

1. CORREIA, Ludmila Cerqueira; ESCRIVÃO FILHO, Antônio; SOUSA JÚNIOR, José


Geraldo de. A expansão semântica do acesso à justiça e o Direito Achado na Assessoria
Jurídica Popular. In: REBOUÇAS, Gabriela M.; SOUSA JÚNIOR, José Geraldo;
CARVALHO NETO, Ernani R. de (org.). Experiências compartilhadas de acesso à
justiça: Reflexões teóricas e práticas. Rio Grande do Sul: Essere nel Mondo. 2016. p.
81-98.
2. FARIA, José Eduardo; CAMPILONGO, Celso Fernandes. A Sociologia Jurídica no
Brasil. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1991.

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