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Direito dos Seguros

CESSAÇÃO DO CONTRATO. PRÁTICAS COMERCIAIS


2013
Francisco Luís F. Ribeiro Alves
Mestre em Direito
Doutorando em Direito dos Seguros
Diretor de Departamento no Instituto de Seguros de Portugal
DIREITO DOS SEGUROS
cessação do contrato. práticas comerciais
AUTOR
Francisco Luís F. Ribeiro Alves
EDITOR
EDIÇÕES ALMEDINA, S.A.
Rua Fernandes Tomás, nºs 76-80
3000-167 Coimbra
Tel.: 239 851 904 · Fax: 239 851 901
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FBA.

Junho, 2013

Apesar do cuidado e rigor colocados na elaboração da presente obra, devem os diplomas legais dela
constantes ser sempre objeto de confirmação com as publicações oficiais.
Toda a reprodução desta obra, por fotocópia ou outro qualquer processo, sem prévia autorização escrita do
Editor, é ilícita e passível de procedimento judicial contra o infrator.

__________________________________________________
BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL – CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
ALVES, Francisco Luís
Direito dos seguros : cessação do contrato,
práticas comerciais. – (Monografias)
ISBN 978-972-40-5211-3
CDU 347
368
Em memória do meu pai
Francisco Ribeiro Alves
NOTA PRÉVIA

Os estudos que se dão a conhecer na presente publicação foram elaborados no


âmbito das investigações que o autor se encontra a realizar no âmbito da
preparação da tese de doutoramento a apresentar na Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa (Clássica).
Atendendo a que as matérias de direito dos seguros são cada vez mais
estudadas, mas ainda não existem muitas publicações, optou-se por divulgar
desde de já os estudos elaborados sobre a cessação do contrato de seguro e sobre
a incidência do regime jurídico das práticas comerciais desleais nos seguros.
Estes temas não foram muito desenvolvidos de forma autónoma no direito
comparado. Assim, pretende-se que os mesmos possam contribuir para o
aprofundamento e desenvolvimento do direito dos seguros e auxiliar aqueles que
no dia-a-dia lidam com questões de cariz prático.
Uma palavra ainda de agradecimento ao Professor Doutor Pedro Romano
Martinez por aceitar fazer o prefácio e orientar a minha tese, bem como a todos
aqueles que contribuíram, de uma forma direta ou indireta, para a publicação da
presente obra.

Lisboa, 2 de abril de 2013


PREFÁCIO

Em Portugal, a investigação na área dos seguros foi diminuta, comparando


nomeadamente com o que ocorreu noutros países onde este ramo do Direito não
tem, por tradição, um peso significativo. Com efeito, descurando os
desenvolvidos estudos de seguros feitos na Grã-Bretanha ou na Alemanha,
mesmo em França, Itália ou Espanha, proporcionalmente, a ciência jurídica
encontrou nos seguros um ramo de particular relevo.
A situação alterou-se com a entrada em vigor do novo regime (aprovado pelo
Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 Abril de 2008) – que podemos designar de Lei do
Contrato de Seguro –, não só por via do debate que este regime suscitou, mas
particularmente pela necessidade de discutir as soluções plasmadas no novo
regime, mesmo quando estas seguiram a tradição vigente no Código Comercial.
Tal como noutras áreas do Direito, o surgimento de um novo regime jurídico
desperta a crítica, com inerentes vantagens para a investigação científica.
Antes do debate relacionado com a aprovação da Lei do Contrato de Seguro,
mesmo nas faculdades de direito, com raras excepções, não se dinamizaram os
estudos de seguros e pode dizer-se que a investigação nesta área esteve a cargo
do Instituto de Seguros de Portugal e da Associação Portuguesa de Seguradores;
no fundo, a investigação era feita, quase em exclusivo, por entidades – públicas e
privadas – directamente ligadas ao sector.
O estudo que agora se divulga integra-se nesta nova era de expansão
científica do Direito dos Seguros, mas com a sua origem tradicional de análise
por parte de quem, por via profissional, se encontra ligado ao sector. De facto, o
Senhor Dr. Francisco Luís Alves definiu o seu percurso de investigação com o
especial apoio do Instituto de Seguros de Portugal; apoio que decorre não só do
incentivo que esta instituição tem dado em especial aos seus colaboradores,
como igualmente decorrente da sua actividade como jurista do ISP. A esta mais
valia – de jurista do ISP com amplo conhecimento de vários sectores – o Dr.
Francisco Luís Alves tem investido no estudo dos seguros, com especial
incidência na preparação da tese de doutoramento nesta área.
Na preparação da tese de doutoramento, além de outros estudos já
publicados, surgem agora dois textos com particular interesse teórico e prático.
O primeiro estudo, intitulado «A cessação do contrato de seguro», aborda um
tema clássico, começando por analisar o regime comum da cessação de vínculos
jurídicos e concretizando com a análise do novo regime, constante dos arts. 105º
e ss. da Lei do Contrato de Seguro, explicando muitas das soluções consagradas
na lei. O segundo estudo, que tem por título «O regime jurídico das práticas
comerciais desleais e os seguros», analisa a directriz comunitária transposta pelo
Decreto-Lei nº 57/2008, explicando os problemas suscitados por práticas
comerciais desleais que surgem no âmbito dos seguros, apontando para as
soluções legislativas.
Os dois estudos que integram este livro Direito dos Seguros, pelos motivos
apontados, justificam a sua divulgação e, naturalmente, o seu estudo para
qualquer investigação nesta área dos seguros.

Lisboa, Abril de 2013

Pedro Romano Martinez


(Professor Catedrático
da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa)
ABREVIATURAS MAIS UTILIZADAS
CC Código Civil
DL 57/2008 Decreto-Lei nº 57/2008, de 26 de março
ISP Instituto de Seguros de Portugal
LCCG Lei das Cláusulas Contratuais Gerais aprovada pelo Decreto-Lei nº
446/85, de 25 de outubro, com as alterações subsequentes
LDC Lei de Defesa do Consumidor aprovada pela Lei nº 24/96, de 31 de
julho
Ob. Cit. Obra citada
RJCS Regime Jurídico do Contrato de Seguro aprovado pelo Decreto-Lei nº
72/2008, de 16 de abril
RGAS ou DL 94-B/98 Decreto-Lei nº 94-B/98, de 17 de abril (republicado
pelo Decreto-Lei nº 2/2009, de 5 de janeiro e alterado pela Lei nº 28/2009, de 19
de junho; Decreto-Lei nº 52/2010, de 26 de maio e pela Lei nº 46/2011, de 24 de
junho)
STJ Supremo Tribunal de Justiça
A cessação do contrato de seguro
Parte I

1. Formas de cessação dos contratos em geral – Breve referência


1.1. Enunciação geral
A vinculação das partes aos contratos através da liberdade que dispõem não é
eterna e conhece várias vicissitudes que levam à modificação ou extinção das
obrigações. CUNHA GONÇALVES, a propósito da liberdade contratual e das
convenções entre as partes refere que «não podendo intervir, a cada passo, na
infinita variedade das relações jurídicas, a lei empresta a força às convenções,
transformando estas em leis secundárias, por serem um factor valiosamente
adjuvante da ordem pública, incentivo da prosperidade geral e instrumento de
solidariedade social»1.
Apesar da liberdade das partes, a cessação dos contratos, devido à sua
importância, tem regras e é uma matéria que aparece relacionada com a extinção
das obrigações ou dos negócios jurídicos, sendo tratada pela generalidade da
doutrina.
Colocamos a ênfase no tratamento autónomo2 que é feito por PEDRO ROMANO
MARTINEZ e que constitui uma referência imprescindível para o seu estudo.
A doutrina faz um tratamento díspare ao nível dos conceitos, mas aborda, na
análise do Código Civil de uma forma ou de outra, as quatro figuras típicas para
a extinção do negócio jurídico que também constam no RJCS: a revogação, a
resolução, a denúncia e a caducidade. Enquanto as três primeiras dependem de
um ato de alguma das partes ou das duas quando resulte de um acordo, a
caducidade decorre de um facto alheio à vontade das partes.
Existem ainda outras figuras como a inexistência, a nulidade e a
anulabilidade3, bem como a ineficácia, que fazem com que o contrato não
produza, por regra, efeitos4. O RJCS faz referência às mesmas, mas como são
figuras que colocam em causa a própria validade do negócio jurídico, fazendo
com que não se cesse aquilo que juridicamente não se iniciou, faremos apenas
menções breves para contextualização5. Não trataremos o regime do
cumprimento que a doutrina identifica como sendo a causa natural de cessação
por via da extinção das prestações das partes que se encontram realizadas6.
Assim, interessa-nos em particular as quatro figuras identificadas no RJCS que
podem levar a colocar um fim ao contrato antes do seu tempo previsível de
duração7.ANTUNES VARELA engloba na extinção das obrigações, com base nos
artigos 837º e seguintes do CC, para além do próprio cumprimento da obrigação,
a dação em cumprimento, a consignação em depósito, a compensação, a
novação, a remissão e a confusão8. A resolução, revogação e denúncia do
contrato considera-as enquanto extinção de relações obrigacionais complexas9.
Como o cumprimento da obrigação não levanta problemas a debater, quando o
contrato tenha cumprido o seu fim, não se justifica a sua análise e quando tenha
ocorrido alguma incidência relacionada com o contrato como falta de
pagamentos de prémios ou sinistros o RJCS menciona-os e repercutem-se nas
formas gerais de cessação, pelo que serão alvo de estudo. Quanto às restantes
figuras, por serem de reduzida aplicabilidade consideramos não se justificar a
sua análise.
LUÍS MENEZES LEITÃO, na linha do que é referindo pela generalidade da
doutrina, faz uma divisão, em termos genéricos, referindo que «quando as
obrigações resultam da autonomia privada, a sua extinção verifica-se sempre
que o negócio que lhes serve de fonte vem a ser posteriormente destruído, ou
por um negócio jurídico posterior (a revogação, resolução e a denúncia) ou
através de um facto jurídico stricto sensu (a caducidade) ou ainda por um efeito
conjugado dos dois (a oposição à renovação)»10.
Teremos oportunidade de verificar que estas figuras jurídicas têm contornos
próprios no RJCS e nem sempre a mesma designação mas para as destrinçar
faremos uma breve referência aos seus aspetos gerais decorrentes do Código
Civil para posteriormente, com maior detalhe, analisar o que resulta do RJCS.

1.2. Revogação
1.2.1. Tendo por base o artigo 406º, nº 1, do Código Civil, retiramos a definição
de revogação ou distrate11 como sendo a extinção total ou parcial do negócio
jurídico através do uso pelas partes da liberdade contratual que lhes permitiu
criar a relação jurídica. Esta pode ser unilateral ou bilateral dependendo das
partes que levaram à vinculação. Caracterizando a revogação, atendendo à
autonomia privada, o seu exercício é livre e os efeitos em termos temporais,
apesar de por regra se referir que se projetam «apenas para o futuro»12, estão na
disponibilidade das partes13, já que por acordo as partes são livres de ajustar o
que pretenderem desde que não afetem direitos de terceiros. Como bem refere
LUÍS MENEZES LEITÃO «a revogação retroactiva deixa, no entanto, de ser
possível sempre que se tenha criado uma situação em benefício de terceiro»14.
Em termos teóricos nas relações derivadas de contratos de seguro apenas será
possível a revogação com efeito retroativo quando não haja um terceiro lesado
num sinistro ou um beneficiário que já tenha adquirido determinados direitos.

1.2.2. No entanto existem limitações próprias da natureza dos seguros que


levantam outras complicações, a saber:
a) se o objeto do seguro é a cobertura de um risco, como é a regra15, o
período decorrido do contrato corresponde a um cumprimento do mesmo em que
houve cobertura de risco, pelo que não se justifica que o segurador revogue um
contrato com efeitos retroativos, sob pena de estar a proceder a uma liberalidade;
b)caso estejamos perante um seguro obrigatório, sendo fiscalizado pelas
autoridades, retroagir os efeitos da revogação com devolução do prémio poderá
potenciar situações de fraude, o que poderá contrariar a ordem pública ou ser
ofensivo aos bons costumes (artigos 280º, nº 2, e 281º do Código Civil)16;
c) quando o beneficiário tenha uma designação irrevogável será necessário o
assentimento do mesmo para a revogação.

1.2.3. Quanto à forma exigida para a revogação, como bem refere ROMANO
MARTINEZ «pode resultar de declarações de vontade que possam ser
interpretadas no sentido de o vínculo ser distratado»17. Atendendo à segurança
jurídica será sempre conveniente para as partes que o façam por escrito ou que
pelo menos exista posteriormente um documento que materialize essas vontades.
O RJCS prevê para a formalização do contrato no seu artigo 32º, nº 1, que «a
validade do seguro não depende da observância de forma especial», mas de
acordo com o nº 2 «o segurador é obrigado a formalizar o contrato num
instrumento escrito…».
Revogar o contrato verbalmente poderá trazer incerteza às partes caso uma
delas se arrependa e a interpretação de declarações de vontades das partes deve-
se basear em elementos dos quais fique registo se já tiver existido algum ato de
formalização.
Assim, se uma apólice ainda não tiver sido emitida e as partes apenas tinham
contratado verbalmente, sem existir qualquer suporte duradouro com as
declarações de vontade, será suficiente o distrate verbal18.

1.2.4. Uma última nota para a possibilidade de revogações unilaterais de


negócios bilaterais, matéria abordada por ROMANO MARTINEZ19 e que tem todo o
interesse atendendo à análise que faremos do artigo 118º do RJCS quanto à
«livre resolução».
Refere o autor que a revogação unilateral é possível «quando, com base legal
ou convencional, se admita uma desvinculação sem acordo», que é o que
acontece nas situações previstas no artigo 118º e em outros preceitos dispersos
que permitem a desvinculação unilateral com base normalmente em
incumprimentos do segurador, mas tratados como resolução20.
Precisamente por isso refere o mesmo autor que pode questionar-se se esta
forma de revogação não deveria identificar-se «com outras formas de cessação
do vínculo, em particular a denúncia e a resolução»21, concluindo optar pela
resolução. Atendendo à opção tomada no RJCS somos forçados a concordar,
pelo que na revogação unilateral de negócio bilateral estaremos na verdade ao
nível segurador, como o artigo 118º e outros o demonstram, perante a figura da
resolução22.

1.3. Resolução
1.3.1. Os artigos 432º e seguintes do Código Civil estabelecem o regime para a
resolução do contrato23, desencadeando-se a sua efetivação através de
declaração unilateral enviada à outra parte24. ANTUNES VARELA refere que «a
resolução é a destruição total da relação contratual, operada por um dos
contraentes, com base num facto posterior à celebração do contrato»25. No
entanto, em termos de RJCS, em particular do artigo 118º quanto à livre
resolução, não é necessário que exista um fundamento enquanto facto jurídico
novo. Pode simplesmente corresponder a uma reflexão mais ponderada quanto à
necessidade de contratação que leve a um arrependimento26.
Como assinala a doutrina, por exemplo LUÍS MENEZES LEITÃO, «a resolução
caracteriza-se ainda por ser normalmente de exercício vinculado (e não
discricionário)»27, apoiando-se no artigo 432º, nº 1, do Código Civil, o qual
refere que a resolução se funda na lei ou em convenção28. Assim, em termos
civilistas é sempre necessário um fundamento, sendo que o mais corrente e
pacífico é o incumprimento de uma das partes com base no artigo 801º, nº 2, do
CC29. Podem ainda as partes ajustar livremente cláusulas que permitam a
resolução do contrato tanto tendo por base incumprimentos das partes como
condições que permitam a uma das partes desvincular-se por ser contrato
associado a outros nos quais deixou de ter interesse3031.
ROMANO MARTINEZ refere também com base no artigo 432º do CC que há
duas modalidades de resolução: a legal e a convencional32. Dentro da primeira
distingue a resolução fundamentada, enquanto regra geral, da resolução
imotivada, por exceção, onde entendemos de acordo com a explicação dada33
que se integra o direito ao arrependimento configurado no RJCS como livre
resolução. Autonomiza ainda a resolução baseada em alteração das
circunstâncias34.

1.3.2. Relativamente a condicionantes35 da resolução e devolução das quantias


recebidas entre as partes36, o que em termos seguradores significará o valor dos
prémios ou quantias relativas ao pagamento de sinistros, há que analisar os
artigos 432º, nº 2; 433º; 434º e 435º, em confronto com as particularidades do
RJCS.
Este primeiro preceito limita a possibilidade de uma das partes resolver o
contrato ao facto de restituir o que tenha recebido. Isto percebe-se devido ao
facto de, sem prejuízo dos efeitos da nulidade e anulabilidade37 consequentes da
previsão do artigo 433º, por regra, a resolução tem efeito retroativo (artigo 434º,
nº 1, 1ª parte, do CC), embora haja casos em que não tem esse efeito38. No
entanto, o contrato de seguro, por regra, pode ser encarado como um contrato de
execução continuada ou periódica39 enquanto contrato pelo qual o segurador
cobre um risco durante um determinado tempo40.
Para esses casos refere o artigo 434º, nº 2, que a resolução não abrange as
prestações já efetuadas, exceto se entre estas e a causa da resolução existir um
vínculo que legitime a resolução de todas elas. Tal pode ser o caso da não
regularização de um sinistro pelo segurador, coberto pelo contrato, que faça
considerar que ainda que o sinistro tivesse ocorrido antes também não haveria
pagamento de indemnização.
Referindo o artigo 116º do RJCS que «o contrato de seguro pode ser
resolvido por qualquer das partes a todo o tempo, havendo justa causa, nos
termos gerais» e não fazendo qualquer previsão especial quanto aos efeitos
dessa resolução, tal como o faz para a livre resolução prevista no artigo 118º,
então deveremos atender às presentes regras gerais do CC e ao conteúdo das
regras contidas no RJCS que possam ter aplicação, nomeadamente os artigos
106º a 108º aos quais daremos um tratamento detalhado mais adiante.

1.3.3. Em resumo, e sobre esta matéria há que fazer a destrinça entre o regime
geral (Código Civil) e o regime especial (RJCS), a saber:
a) o CC exige fundamento para a resolução mas o RJCS pelo seu artigo 118º
permite a livre resolução;
b) o CC, por regra, condiciona o exercício da resolução à restituição do que
uma parte tiver recebido da outra (artigo 432º, nº 2), mas em contratos de
execução continuada ou periódica, como é o caso dos seguros, a resolução não
abrange as prestações já efetuadas, embora haja particularidades que obrigam a
uma análise casuística (artigo 434º);
c) tanto no CC como no RJCS são acautelados os direitos adquiridos por
terceiros de boa fé, por via do artigo 435º e 108º, respetivamente; d)é comum a
forma de tornar efetiva a resolução, ou seja, através de mera declaração enviada
à outra parte (artigo 436º do CC41) não tendo o RJCS disposição específica para
a resolução com justa causa, embora para a resolução após sucessão de sinistros
e na livre resolução (artigos 117º, nº 4, e 118º, nº 5, respetivamente) refira que
deve ser exercida por declaração escrita e o artigo 120º refira enquanto regra
geral que todas as comunicações devem revestir forma escrita ou serem
prestadas por meio de que fique registo duradouro.

1.3.4. Uma última nota para a possibilidade apontada pela doutrina, por exemplo
por VAZ SERRA e ANTUNES VARELA, de resolução por alteração das
circunstâncias42, tomando por base o artigo 437º do Código Civil, as quais
podem derivar até de alterações legislativas que tornem a relação contratual
desequilibrada43 e em que poder-se-ia admitir uma resolução meramente parcial
quando tendo um contrato de seguro várias coberturas cessassem apenas
algumas delas ou em que o prémio de seguro fosse alterado.
Com interesse para o setor segurador, por poder estar sujeito ao mesmo tipo
de problemas, é de salientar que a jurisprudência já admite que a crise financeira
justifique a alteração do contrato com fundamento em alteração das
circunstâncias. A este propósito um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa,
de 14-06-2012, refere no seu sumário que:
«I. É possível a modificação do contrato por alteração das circunstancias
sempre que se verificar uma alteração anormal das circunstancias em que as
partes fundaram a decisão de contratar, a manutenção do conteúdo
contratual afecte gravemente os princípios da boa fé e não esteja abrangida
pela álea própria do contrato e o cumprimento das obrigações impostas ao
lesado não esteja coberto pelos riscos próprios do contrato.
II. A grave, inesperada e incontornável crise económica que se vem
verificando desde 2008 alterou as circunstâncias em que as partes
convencionaram o contrato de abertura de crédito, em termos que ferem a
boa fé, não sendo normal o correspondente risco. Em tal caso justifica-se a
modificação do contrato segundo juízos de equidade, nos termos do artº
437/1, Código Civil» 44 .

1.4. Denúncia
1.4.1. A denúncia caracteriza-se por ser uma decisão unilateral comunicada à
outra parte, sendo de exercício livre pelas partes, ou seja, não precisa de
fundamento45. Por regra, o seu campo de aplicação é limitado aos contratos de
execução continuada ou duradoura como forma de possibilitar o fim do contrato
quando as partes não o tenham estipulado contratualmente. Deste modo a
denúncia não afeta os efeitos do contrato retroativamente46 e destina-se, sob
comunicação prévia e normalmente com uma determinada antecedência, a dar
previsibilidade para o futuro salvaguardando o passado47.
Aplicando-se o referido aos seguros há que notar que estes por regra têm um
prazo estabelecido e caso não tenham entende-se que é de um ano
sucessivamente prorrogado, pelo que passam a existir sucessivamente outros
prazos fixados para o fim do contrato. Por essa razão, os contratos renováveis
não terminam por caducidade e é necessário que uma das partes proceda à
denúncia para evitar a prorrogação do contrato48.
PINTO MONTEIRO sobre a necessidade de os contratos terem um fim refere que
«o art. 406º do Código Civil não prejudica o direito de livre denúncia de
contratos não regulados por lei, porque aquela norma não pode isolar-se das
demais, do art. 280º, desde logo, sendo contrário à ordem pública um contrato
que estabelecesse vínculos perpétuos, pela intolerável restrição à liberdade dos
sujeitos que isso acarretaria»49.

1.4.2. A doutrina divide-se ainda na caracterização da denúncia quando esteja em


causa a oposição à renovação. LUÍS MENEZES LEITÃO50 e MENEZES CORDEIRO51
entendem que será uma figura hibrida que conjuga a caducidade e a denúncia
enquanto ALMEIDA COSTA52 e PEDRO ROMANO MARTINEZ53 entendem que se
deve enquadrar numa noção ampla de denúncia.
Por nós, ainda que ambas as posições sejam defensáveis, parece-nos que será
mais coerente integrar a oposição à renovação na denúncia, já que a caducidade
como veremos não pressupõe qualquer ato das partes. Um contrato
sucessivamente prorrogável torna-se num contrato que pode perdurar
indefinidamente, pelo que para evitar esse efeito terá que existir denúncia.
Destes casos decorre simplesmente que a denúncia já tem a sua data de efeito
previamente fixada e deverá, por regra, ser efetuada dentro de determinados
prazos, mas ainda assim trata-se de uma denúncia que é exercida de forma
livre54.

1.5. Caducidade
A caducidade de um contrato consiste na verificação de um facto que determina
a extinção de um vínculo sem necessidade de qualquer ato das partes para o seu
exercício em específico. Podemos apontar, em termos genéricos, diversas
situações55 que materializam a caducidade, a saber:
a) a simples decorrência do tempo56;
b)a verificação de condição resolutiva5758;
c) a morte ou extinção de uma das partes; d)a extinção do objeto do
contrato59.

O regime da caducidade está previsto no CC nos artigos 328º a 333º


estabelecendo o mesmo que a caducidade pode decorrer da lei ou ser
convencional. Caso seja convencional há que ter atenção quanto às matérias em
que a mesma é estabelecida devido às limitações impostas pelos artigos 12º e 13º
do RJCS quanto às disposições imperativas.
MENEZES CORDEIRO60 a propósito desta matéria faz menção à caducidade em
dois planos, em sentido lato e em sentido estrito, no seguinte sentido:
a) em sentido lato, corresponde a um esquema geral de cessação de situações
jurídicas resultantes de um facto que a lei ou outras fontes atribuam esse efeito;
b)em sentido estrito, está relacionado com o tempo.

Assim, as várias situações inicialmente referidas também se integram nestas


duas visões da caducidade. De um lado temos factos que produzem efeitos,
como a extinção do objeto seguro, e do outro lado a decorrência do tempo.
-
1 Cfr. CUNHA GONÇALVES, Tratado de Direito Civil em comentário ao Código Civil Português,
Vol. IV, Coimbra Editora, Coimbra, 1932, págs. 483 e 484.
2 V. Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina Coimbra, 2006.

3 V. a este propósito ROMANO MARTINEZ, Da cessação…, Ob. Cit., pág. 25, em que a propósito da
invalidade refere que «em sentido técnico, a extinção dos efeitos de um contrato pressupõe a sua validade,
pelo que a declaração de invalidade não se inclui entre os meios de cessação do contrato. Tal como a
invalidade, a inexistência e a ineficácia, pondo em causa o próprio negócio jurídico ab initio, não
conduzem à cessação do vínculo. Em suma, a cessação do contrato relaciona-se com situações
supervenientes surgidas após a celebração de um negócio jurídico válido e eficaz».
4 Por exemplo, a comercialização de um seguro por entidade não autorizada embora tenha como
consequência a nulidade ainda assim produz efeitos, devendo essa entidade cobrir os riscos para os quais
recebeu prémio (artigo 16º, nº 2, do RJCS).
5 V. sobre este assunto ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª Edição, Almedina, Coimbra,
2009, pág. 318 e com maior detalhe INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Manual dos Contratos em Geral,
4ª edição, Coimbra Editora, 2002, págs. 355 a 380.
6 V., por todos, PEDRO ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina
Coimbra, 2006, pág. 21.
7 Ainda que a caducidade, como veremos, tenha contornos um pouco diferentes.

8 Cfr. JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral, Vol. II, 5ª edição,
Almedina, Coimbra, 1992, págs. 167 a 270. Sobre estas figuras jurídicas e a sua aplicação aos seguros V.
JOSÉ VASQUES, Contrato de Seguro, Coimbra Editora, 1999, págs. 375 a 377. Sobre a novação, remissão
e confusão V. igualmente PESSOA JORGE, Lições de Direito das Obrigações, 1º Volume, AAFDL,
Lisboa, 1976, págs. 681 a 690.
9 Cfr. Ob. Cit., págs. 271 a 281. Refere o autor na primeira das páginas indicadas que as relações
obrigacionais complexas ou múltiplas são compostas «de dois ou mais deveres principais de prestação e
dos correlativos direitos de crédito e de toda a corte de deveres secundários de prestação e de deveres
acessórios de conduta, que amiudadas vezes seguem aqueles».
10 Cfr. LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações, volume II, 7ª edição, Almedina, Coimbra,
2010, pág. 103. A figura da «oposição à renovação» será tratada com maior detalhe a propósito da
denúncia.
11 Como refere DIAS MARQUES, a revogação plurilateral é «conhecida por distrate. Dos autores de
um contrato que posteriormente o revogam diz-se que o distratam». Cfr. DIAS MARQUES, Introdução ao
Estudo do Direito, I Parte, AAFDL, Lisboa, 1967, pág. 102.
12 V. JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações em geral, Vol. II, 5ª edição, Almedina,
Coimbra, 1992, pág. 277. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e
PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora,
Coimbra, 2012, pág. 629, referem as duas possibilidades (a retroativa e para o futuro).
13 Sobre a revogação retroativa V. DIAS MARQUES, Introdução ao Estudo do Direito, I Parte,
AAFDL, Lisboa, 1967, pág. 103.
14 Cfr. Ob. Cit., pág. 104.

15 Existem seguros do ramo vida com caráter financeiro onde a componente risco não tem os mesmos
contornos que estamos a abordar.
16 Sobre o que se entende por ordem pública e bons costumes V., por todos, ANTÓNIO MENEZES
CORDEIRO, Da boa fé no direito civil, Almedina, Coimbra, 2007, págs. 1197 a 1224.
17 Cfr. do autor, Da cessação…, Ob. Cit., pá. 52.

18 Refere PAIS DE VASCONCELOS que «a forma da revogação é também, em regra, a mesma do


acto revogado». Cfr. do autor, Teoria Geral do Direito Civil, 6ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 772.
19 Cfr. Da cessação…, Ob. Cit., págs. 52 a 57.

20 V., por exemplo, artigo 34º, nº 6, do RJCS.

21 Cfr. Da cessação…, Ob. Cit., pág. 52. Acrescenta o autor na pág. 53 da sua obra que «a revogação
unilateral pode ter por fundamento a necessidade de um dos contraentes ponderar os termos do acordo
ajustado. A possibilidade de uma das partes revogar o contrato num período breve após a sua celebração,
porque se arrepende, é conferida para protecção de quem se considera mais fraco numa relação
contratual, nomeadamente o consumidor». Esta é precisamente a previsão do artigo 118º do RJCS que
possibilita um período de reflexão ao tomador do seguro.
22 Nestas situações de desvinculação unilateral estamos perante o direito de arrependimento típico na
proteção do consumidor. V. artigo 8º, nº 4, da Lei nº 24/96, de 31 de julho (Lei de Defesa do Consumidor).
23 PAIS DE VASCONCELOS, em Teoria Geral do Direito Civil, Ob. Cit., pág. 772, define resolução
referindo que «é uma declaração unilateral recipienda ou receptícia pela qual uma das partes, dirigindo-se
à outra, põe termo ao negócio retroactivamente, destruindo assim a relação contratual». Sobre os conceitos
de rescisão e resolução, que se equiparam, V. também ANA PRATA, Dicionário Jurídico, I Vol., 5ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2008, págs. 1292, 1293 (para a rescisão), 1198 e 1299 (para a resolução). Sobre a
resolução V. também VAZ SERRA, Resolução do contrato, BMJ, nº 68, Lisboa, 1957, págs. 153 a 289 e
JOSÉ CARLOS BRANDÃO PROENÇA, A resolução do contrato no direito civil, reimpressão, Coimbra
Editora, Coimbra, 2006.
24 Cfr. artigo 436º do Código Civil.

25 Cfr. JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações …, Ob. Cit., pág. 273.

26 JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES define o direito de arrependimento ou desistência como «a faculdade


que a lei atribui a uma das partes de um contrato mercantil já celebrado de, durante um determinado prazo
e através de mera declaração unilateral e discricionária, se desvincular desse mesmo contrato». Cfr. do
autor, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, Coimbra, 2009, pág. 325. Sobre o arrependimento V.
também o estudo bastante detalhado e interessante de JOSÉ CARLOS BRANDÃO PROENÇA, A
desvinculação não motivada nos contratos de consumo, in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 70,
Lisboa, Jan. / Dez. 2010, págs. 219 a 270 e ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição,
Almedina Coimbra, 2006, págs. 160 a 167, onde faz menção aos seguros na pág. 165.
27 Cfr. do autor, Ob. Cit., pág. 105.

28 Como assinala Dias Marques quando distingue revogação de rescisão (entendida como resolução), «o
critério que serve para as diferenciar liga-se à liberdade de que, eventualmente dispõe o respectivo autor
ou autores. Se o acto é tal que os seus efeitos podem ser eliminados sem dependência da invocação de
quaisquer motivos, fala-se de revogação; se, pelo contrário, essa eliminação se encontra dependente da
prévia ocorrência de um certo condicionalismo justificativo, fala-se de rescisão. O acto revogatório é, pois,
um acto livre, ao passo que o acto rescisório é vinculado». Cfr. DIAS MARQUES, Introdução ao Estudo
do Direito, Vol. I, Lisboa, 1963, pág. 369.
29 Refere este último preceito que «tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral, o credor,
independentemente do direito à indemnização, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a sua
prestação, exigir a restituição dela por inteiro».
30 Cfr. artigo 270º do Código Civil, o qual refere que «as partes podem subordinar a um acontecimento
futuro e incerto a produção dos efeitos do negócio jurídico ou a sua resolução: no primeiro caso diz-se
suspensiva a condição; no segundo, resolutiva».
31 Estas cláusulas podem ou não ter efeito automático, ou seja, não necessitar de uma manifestação de
uma das partes que faça operar o efeito da condição. Como refere ANTUNES VARELA, Ob. Cit., pág. 276,
«a cláusula resolutiva distingue-se da condição resolutiva, porque arrasta consigo a imediata destruição
da relação contratual, logo que o facto futuro e incerto se verifica. Ao passo que a cláusula resolutiva, uma
vez verificado o facto, apenas concede ao beneficiário o poder de resolver o contrato». Sobre esta matéria
V. também JOÃO CALVÃO DA SILVA, Cumprimento e Sanção Pecuniária Compulsória, 4ª edição,
Almedina, Coimbra, 2007, págs. 321 a 328 e Vaz Serra, Resolução do contrato, BMJ, nº 68, Lisboa, 1957,
págs. 249 a 251.
32 A convencional corresponde ao mero acordo ao abrigo da liberdade contratual através de cláusulas
pré-fixadas. Sobre a resolução convencional V. ROMANO MARTINEZ, Da Cessação…, Ob. Cit.,
págs.170 a 174.
33 V. Da cessação…, Ob. Cit., pág. 67, nota de rodapé 118.

34 V. para maiores pormenores do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 67.

35 Quanto aos efeitos da resolução V., por exemplo, NUNO MANUEL PINTO OLIVEIRA, Princípios
de Direito dos Contratos, Coimbra Editora, 2011, págs. 879 a 897.
36 ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição, Livraria
Petrony, Lisboa, 1980, pág. 210, em crítica à solução legislativa defende que é «doutrinária e
cientificamente errado o recurso a um instituto tipicamente retroactivo para enquadrar situações, por
natureza não retroactivas, quando o instituto da dissolução, mediante a rescisão ou revogação seria o
adequado à respectiva subsunção».
37 A ratio genérica do legislador do CC terá sido a de reconstituir a situação anterior à contratação, daí
os efeitos fixados nos artigos 289º e 290º do CC.
38 O artigo 434º, nº 1, 2ª parte, refere que não será retroativo se contrariar a vontade das partes ou a
finalidade da resolução.
39 Cfr. PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Vol. I, Coimbra Editora,
1987, pág. 411, em que os autores utilizam o contrato de seguro como exemplo de um contrato de execução
continuada ou periódica.
40 Se as partes nada estipularem quanto ao tempo do contrato entende que é por um ano com
prorrogações sucessivas. Cfr. artigos 40º e 41º do RJCS.
41 Sobre este preceito V. NUNO MANUEL PINTO OLIVEIRA, Princípios de Direito dos Contratos,
Coimbra Editora, 2011, págs. 879 a 897.
42 V. MENEZES CORDEIRO, Da alteração das circunstâncias, in Separata dos Estudos em Memória
do Prof. Doutor Paulo Cunha, Lisboa, 1987; CARVALHO FERNANDES, A Teoria da imprevisão no
Direito Civil português, reimpressão, Lisboa, 2001, VAZ SERRA, Resolução ou modificação do contrato
por alteração das circunstâncias, BMJ, nº 68, 1957, págs. 293 a 384; ANTUNES VARELA, Das
Obrigações em geral, Vol. II, 5ª Ed., Almedina, Coimbra, 1992, págs.279 a 281; PEDRO ROMANO
MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2006, págs. 157 a 159 e CARLOS
ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral
do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, págs. 608 a 613.
43 No direito italiano V., por exemplo, ENRICO GABRIELLI, Contratto e Contratti, UTET, Torino,
2011, págs. 230 a 267, que trata a alteração de circunstâncias através da designação «resolução por
excessiva onerosidade» em comentário aos artigos 1467º e seguintes do Codice Civile; MARIO
BARCELLONA, Clausole generali e giustizia contrattuale, G. Giappichelli Editore, Torino, 2006, págs.
201 a 208 e Francesco Camilletti, Profili del problema dell’eequilibrio contrattuale, Giuffrè Editore,
Milano, 2004, págs. 66 a 83.
44 Cfr. em www.dgsi.pt o Proc. 187/10.4TVLSB.L2-2, com o relator Sérgio Almeida.

45 Como referem CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO
MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012,
pág. 631, «o fundamento material desta denunciabilidade ad nutum é a tutela da liberdade dos sujeitos, que
seria comprometida por um vínculo demasiadamente duradouro». Sobre o conceito de denúncia com a
súmula de extensa doutrina V. RUI PINTO DUARTE, A denunciabilidade das obrigações contratuais
duradouras propter rem, in Revista da Ordem dos Advogados, ano 70, vols. I a IV (Janeiro-Dezembro de
2010), 2010, págs. 273 a 297.
46Sobre este assunto V., por exemplo, o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 19-03-2009, Proc.
09A0334, relator Fonseca Ramos, em www.dgsi.pt, o qual refere que:
«V) – Se a Seguradora/ré comunica ao segurado que “face às presentes circunstâncias do mercado
segurador, não procederemos à renovação automática da vigência da apólice”, tal declaração negocial
deveráser entendida – segundo as regras da hermenêutica negocial – como denúncia do contrato,
impedindo a renovação automática.
VI) – A denúncia é um direito potestativo, assente numa declaração unilateral recipienda, que produz o
efeito extintivo de uma relação jurídica, em regra duradoura, tendo eficácia apenas em relação ao futuro, e
não efeito retroactivo, como sucede com a resolução».
47 Como veremos também se integra na denúncia a proposta de alteração do contrato. Refere ROMANO
MARTINEZ que «por vezes, a denúncia resulta de uma proposta de alteração do contrato; se uma das
partes envia à outra uma declaração, afirmando que o contrato só pode manter-se se for alterado
determinado aspecto, por exemplo o valor da contraprestação, a recusa do destinatário quanto a tal
modificação leva a concluir que a proposta de alteração contratual vale como denúncia». Cfr. do autor, Da
Cessação..., Ob. Cit., pág. 117.
48 Cfr. artigos 40º, 41º, nº 1, e 112º do RJCS.
49 Cfr. PINTO MONTEIRO, Anotação ao Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 27 de junho
de 1995, in Revista de Legislação e de Jurisprudência, Ano 130, nº 3877, pág. 123. Com apoio em extensa
doutrina PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES também considera que a admissibilidade de
denúncia em relações contratuais de duração indeterminada constitui um princípio geral do nosso direito.
Para maiores pormenores V., do autor, A desvinculação unilateral Ad Nutum nos contratos civis de
sociedade e de mandato, nº 54, Studia Iuridica, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, págs. 210 e 211. Com
algumas particularidades, admitindo vinculações perpétuas, V. RUI PINTO DUARTE, A denunciabilidade
das obrigações contratuais propter rem, Revista da Ordem dos Advogados, Ano 70, Jan. / Dez. 2010, pág.
285, onde refere que o Direito não repele «toda e qualquer vinculação perpétua, mas a vinculação perpétua
sem contrapartida ou com uma contrapartida perdida no tempo. Quando essa vinculação surge associada a
um direito – pelo menos, a um direito real, mormente ao de propriedade – o Direito admite-a». Assim,
podemos concluir que o contrato de seguro não preenche esta exceção, sendo suposto que tenha um fim,
ainda que o contrato de seguro possa ser transmitido por morte do tomador, como veremos, já que tendo o
contrato duração indeterminada o RJCS prevê expressamente a possibilidade de denúncia.
50 Cfr. LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das Obrigações, Ob. Cit., pág. 109 e 110.

51 Cfr. MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, II, Tomo IV, Almedina, Coimbra,
2010, pág. 342, onde refere que «a denúncia deve distinguir-se da oposição à renovação, instituto pelo qual
as partes, em contratos a prazo de renovação automática, podem obstar unilateralmente a que tal suceda.
Na oposição não se verifica, logicamente, a supressão de um contrato com a consequente extinção de
obrigações, mas tão só a não continuação de idênticas situações obrigacionais».
52V. ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12.ª ed., Almedina, Coimbra, 2009, pág. 322.

53 V. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2006,


págs. 45 e 116 a 125, onde refere que a oposição à renovação é uma modalidade da denúncia.
54 Acompanhamos, deste modo, PEDRO ROMANO MARTINEZ quando refere que «sendo a denúncia
um meio para evitar que a vinculação dos contraentes se protele indefinidamente, vale nos mesmos moldes,
tanto para relações duradouras sem limite temporal estabelecido, como para aquelas em que exista uma
renovação automática. A diferença reside no facto de, por um lado, nas primeiras, a denúncia não estar
sujeita a prazos, enquanto, nas segundas, é para se exercer no fim da vigência ou da renovação do
contrato, e, por outro lado, porque nos contratos celebrados por tempo indeterminado a denúncia é o meio
autónomo (directo) de cessação do negócio jurídico, ao passo que, nos contratos de renovação automática,
a denúncia conduz à cessação do vínculo conjugada com a caducidade, ou seja, é um meio indirecto de
extinção do contrato». Cfr. do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 63 e 64.
55 ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição, Livraria
Petrony, Lisboa, 1980, págs. 227 a 241, identifica várias situações de caducidade para além da decorrência
do tempo, nomeadamente o falecimento anterior; a incapacidade superveniente; a falência ou insolvência; o
repúdio, aceitação da herança, renúncia e retratação; a perda de objeto; e a falta ou ausência de causa.
56 MENEZES CORDEIRO refere-se ao efeito do tempo como a caducidade em sentido estrito enquanto
a verificação de um facto superveniente com eficácia extintiva corresponderá a uma caducidade em sentido
amplo. V. do autor, Tratado de Direito Civil Português, II, Tomo IV, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 342.
ROMANO MARTINEZ faz a mesma divisão referindo que «a caducidade pode ser entendida em sentidos
estrito e amplo. No sentido estrito, há caducidade se decorreu o prazo pelo qual o contrato foi celebrado.
Em sentido amplo (por vezes dito impróprio), alude-se igualmente à caducidade como forma de extinção
dos contratos em caso de impossibilidade não imputável a uma das partes de efetuar a sua prestação; de
facto, num contrato sinalagmático, se uma das partes não pode realizar a sua prestação, a contraparte fica
desobrigada da contraprestação (art. 795º, nº 1, do CC)».
57 Será a única situação que pode ter efeitos retroativos sem decorrer da convenção das partes. V. artigo
276º do Código Civil.
58 Incluindo esta situação na caducidade com algumas particularidades V. ROMANO MARTINEZ, Da
cessação…, Ob. Cit., págs. 46 e 49. Refere o autor na pág. 48 que se «as partes podem ajustar variadas
condições, nomeadamente relacionadas com o cumprimento (ou incumprimento) de prestações contratuais,
caso em que a cláusula pode corresponder a uma resolução convencional». Acrescenta ainda, quanto a esta
situação de resolução convencional que «como o contrato cessa pela verificação de um facto jurídico
stricto sensu estar-se-á perante uma hipótese de caducidade; contudo, no que respeita à condição
resolutiva, diferentemente do termo final ou resolutivo, o legislador remete para o regime da resolução
(arts. 274º, nº 2, 276º e 277º, nº 1, do CC). Assim sendo, a condição resolutiva aponta para uma solução
híbrida, em que estruturalmente a cessação do vínculo corresponde à caducidade, não obstante o regime
ser de resolução». No sentido de incluir a condição resolutiva na figura da caducidade V. igualmente
ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição, Livraria
Petrony, Lisboa, 1980, pág. 208. Sobre a cláusula resolutiva expressa V. ainda JOSÉ CARLOS BRANDÃO
PROENÇA, Lições de cumprimento e não cumprimento das obrigações, Coimbra Editora, 2011, págs. 362
a 374; e BAPTISTA MACHADO, Pressupostos da resolução por incumprimento, in «Obra Dispersa»,
vol. I, Scientia Iuridica, Braga, 1991, págs. 184 a 187.
59 V. artigo 795º do CC.

60 Cfr. para maiores detalhes do autor, Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra, 2013, págs. 714 e 715.
Parte II

2. As formas de extinção do contrato de seguro no RJCS – Breve enunciação


2.1. Considerações gerais
O RJCS tem um capítulo próprio para a cessação do contrato (artigos 105º a
118º), mas as formas aí previstas (caducidade, revogação, denúncia e resolução)
não são as únicas que levam à extinção das obrigações decorrentes do contrato,
razão pela qual cabe analisar essas outras figuras jurídicas e a forma como
produzem efeitos61. O artigo 84º para os seguros de grupo também prevê que o
tomador do seguro pode fazer cessar o contrato por revogação, denúncia ou
resolução. Não é referida a caducidade pois não pressupõe um ato do tomador e
o preceito centra-se nas formas que podem ser utilizadas pelo mesmo.
Primeiramente, abordaremos as situações que levam à nulidade e
anulabilidade do contrato e que tem as suas regras gerais nos artigos 285º a 294º
do CC, mas que o RJCS faz menção prevendo também os seus efeitos. O artigo
285º é claro ao referir que «na falta de regime especial, são aplicáveis à
nulidade e à anulabilidade do negócio jurídico as disposições dos artigos
subsequentes». Este regime especial existe quando o RJCS estipula prazos e
efeitos para cada uma das figuras jurídicas embora possam ocorrer situações
genéricas, não reguladas pelo RJCS, em que se deva aplicar o CC62.
Seguidamente veremos as situações que não podem no futuro originar efeitos,
para desse modo serem suscetíveis de cessação, como é o caso da ineficácia63.
Finalmente, em capítulo próprio, serão analisadas as quatro figuras gerais de
cessação do contrato de seguro, já identificadas.

2.2. A invalidade – nulidade e anulabilidade


2.2.1. Existe um conjunto de preceitos no RJCS em que o legislador menciona a
anulabilidade e a nulidade64 fixando os respetivos efeitos. O artigo 16º, nº 2,
prevê a situação da nulidade por falta de autorização legal do segurador, embora
tal não resulte em perda de efeitos em relação ao que foi contratado65. O
legislador não pretende reconhecer legitimidade a quem não tem autorização
para exercer uma atividade, mas, como sanção66 e para proteção de contraentes
de boa fé, não retira eficácia às garantias contratadas. Atendendo a estas
consequências não pode o suposto segurador alegar nulidade para se desvincular
das suas obrigações.
Nos ensinamentos de DIAS MARQUES poderíamos, na verdade, aproximar esta
figura da nulidade prevista no artigo 16º à da irregularidade, já que refere aquele
que quando existem atos jurídicos que não respeitam a lei, com ofensa das
normas que proíbem em dadas circunstâncias a sua celebração, «mas uma vez
celebrados, o Direito entende conveniente não os ferir de invalidade, a fim de
não prejudicar certos interesses particularmente dignos de protecção. E então
aplica aos seus autores uma sanção de outra ordem: v.g., uma multa, uma pena
disciplinar, etc…». Acrescenta o autor que «este regime jurídico tem o nome de
irregularidade»67.
Também Carlos ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e
PAULO MOTA PINTO referem que «enquanto a invalidade importa a destruição
dos efeitos negociais, a irregularidade, embora provenha de um vício interno
negocial, tem consequências menos graves, não afectando a eficácia do negócio,
mas dando apenas lugar a sanções especiais»68.
Deste modo, através do artigo 16º do RJCS o contrato produz efeitos e o
autor da infração é punido. A falta de autorização legal é punível com coima
através de contraordenação nos termos do artigo 214º, alínea a), do RGAS.

2.2.2. Com bastante relevância temos também a sanção para o caso de existirem
omissões por parte do tomador. O artigo 25º, nº 1, do RJCS, refere que as
omissões dolosas tornam o contrato anulável69, pelo que está dependente de uma
ação do segurador a exercer em três meses a contar do conhecimento do
incumprimento do dever de informar do tomador.
O contrato com esse incumprimento pode ou não produzir efeitos
dependendo do exercício do direito de anulação pelo segurador, sendo certo que
enquanto não decorra esse prazo não terá que cobrir nenhum sinistro nos termos
do artigo 25º, nº 3. Em termos práticos o contrato apenas começa a produzir
efeitos após o decurso do prazo de três meses, caso o segurador não remeta
declaração ao tomador considerando o contrato anulado.
O artigo 26º, nº 1, alínea b), faz menção de que o segurador nas omissões
negligentes70 pode fazer cessar o contrato, demonstrando que, em caso algum,
celebra contratos para a cobertura de riscos relacionados com o facto omitido ou
declarado inexatamente.
Se houver sinistro antes de o segurador conhecer a omissão ou cessar o
contrato, prevê o nº 4 sobre as opções de que dispõe, a saber:
a) cobre o sinistro na proporção da diferença entre o prémio pago e o prémio
que seria devido como se na celebração do contrato tivesse conhecido o facto
omitido ou declarado inexatamente [alínea a)];
b)não cobre o sinistro demonstrando que em caso algum teria celebrado o
contrato se tivesse conhecido a omissão ou inexatidão.

Assim, enquanto na primeira situação o contrato continuou a produzir efeitos,


ainda que reduzidos proporcionalmente ao prémio recebido e risco assumido, na
segunda os efeitos extinguem-se ab initio71.
Quando o vício se relaciona com a própria coisa segura, o artigo 124º
também remete para os efeitos dos artigos 24º a 26º e 94º, o que determina a
possibilidade de anulação do contrato ou cobertura de sinistro na proporção do
risco existente.

2.2.3. Para a falta de interesse ou de risco o RJCS prevê como consequência a


nulidade. O artigo 43º prevê a nulidade se não existir um interesse digno de
proteção legal relativamente ao risco coberto.
O artigo 44º prevê igualmente a nulidade se o risco cessou ou se também não
chegar a existir risco no futuro. Assim, sempre que cesse o risco cessa o contrato
por desaparecer o fundamento que permite segurar.
Para estas situações, quando se esteja perante uma contratação inicial o
contrato nem chega a produzir efeitos, pois é nulo desde o seu início, mas caso a
nulidade se verifique já na vigência pela superveniência de um facto, então já
estaremos perante uma caducidade. É o que decorre da análise que fazemos à
caducidade no presente artigo e em particular do artigo 110º do RJCS, que
analisaremos com maior detalhe.
Quanto a forma de a nulidade ou anulabilidade produzirem efeitos há a referir
que ambas podem ser invocadas ou arguidas (artigos 286º e 287º do CC), sendo
que a nulidade pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal. Assim, a nulidade
opera ipso jure distinguindo-se da anulabilidade, já que regra geral o negócio
anulável é válido enquanto não for anulado72. O RJCS, em particular no regime
da anulação, como vimos, fixa os seus efeitos de forma díspare a propósito do
artigo 25º e 26º, pelo que será a este que deveremos atender enquanto regime
especial.
2.2.4. Relativamente à nulidade pretendemos ainda deixar uma breve nota
para a possibilidade de redução ou extinção de cobertura devido a cláusulas
abusivas. O artigo 3º do RJCS abre a porta para a receção do regime relativo a
cláusulas contratuais gerais e defesa do consumidor, pelo que ganha especial
relevância o Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de outubro (Lei das Cláusulas
Contratuais Gerais)73, o qual constitui um limite a ser observado nos contratos
de seguros74. Dispõe aquele diploma, no seu artigo 15º, que «são proibidas as
cláusulas contratuais gerais contrárias à boa fé», constituindo este um aspeto
decisivo para extinguir ou reduzir um contrato se o mesmo não servir os
interesses do consumidor75, fornecendo ainda a lei elencos de cláusulas
relativamente e absolutamente proibidas que são por essa via abusivas76.
Os artigos 9º e 13º da LCCG dispõem sobre a regra de subsistência dos
contratos depois de excluídas as cláusulas que não devam constar dos mesmos,
mas se um contrato não puder subsistir sem essas cláusulas expurgadas haverá
nulidade de todas as obrigações a que as partes se vincularam. O artigo 12º
reafirma a nulidade para as cláusulas contratuais gerais proibidas, mas tem
presente que se deve aproveitar sempre que possível o negócio jurídico através
da figura da redução, conforme prevê o artigo 14º.
Atendendo a que o regime do Código Civil também é acolhido nos termos do
artigo 4º do RJCS, é de atender aos artigos 292º e 293º do CC que determinam a
redução ou conversão do negócio jurídico.

2.2.5. Por último, cabe fazer referência à faculdade de cessar o contrato nos
termos referidos pelo regime das práticas comerciais desleais77, constante do
Decreto-Lei nº 57/2008, de 26 de março, que no seu artigo 14º, nº 1, prevê que
«os contratos celebrados sob a influência de alguma prática comercial desleal
são anuláveis a pedido do consumidor, nos termos do artigo 287º do Código
Civil».
Esta é uma faculdade à disposição do consumidor entre outras, as quais não
obedecem a qualquer hierarquia. A escolha é livre, pelo que pode o mesmo ainda
«requerer a modificação do contrato segundo juízos de equidade» (nº 2) ou
reduzir o contrato ao seu conteúdo válido anulando-se as restantes cláusulas (nº
3).

2.3 Ineficácia
Há algumas situações que o RJCS apenas dispõe sobre os efeitos, referindo que
o contrato não tem eficácia78 embora possa ter sido celebrado. Nestas situações
pode o contrato produzir efeitos relativamente a algumas pessoas e não
relativamente a outras. Para as que não chega a produzir efeitos não se pode
chegar a falar em cessação do contrato porque a condição para um efeito findar é
o de se ter iniciado.
No que se refere à representação do tomador o artigo 17º, nº 2, menciona que
a falta de ratificação do contrato de seguro leva à falta de eficácia para o
tomador, mas nos termos do nº 3 pode produzir efeitos para o representante. Não
existindo ratificação o contrato inicia-se, mas não retroage os seus efeitos nem
vincula o potencial representado.
Para a representação do segurador dispõe o artigo 30º mencionando a
possibilidade de o contrato ser celebrado por mediador de seguros agindo em
nome do segurador. No entanto, não existindo poderes específicos para tal, o
contrato é ineficaz originariamente79 em relação ao representado até que o
ratifique.
Três situações:
i. segurador nunca chega a conhecer o contrato e não fica vinculado;
ii. segurador conhece o contrato e não manifesta oposição no prazo de cinco
dias a contar do conhecimento, o que o vincula (art. 30º, nº 2);
iii. existem razões ponderosas que justificam a confiança do tomador do
seguro de boa fé na existência e validade do contrato devido ao facto de o
próprio segurador ter contribuído para gerar a confiança.

Assim, quando não chega a existir formalmente contrato por falta de poderes
de representação ou ratificação, o mesmo não chega a cessar. Se ocorrer a última
situação já existe vinculação e efeitos jurídicos.

3. Os preceitos de natureza imperativa absoluta e relativa na cessação do


contrato
O RJCS nos seus artigos 12º e 13º elenca determinadas situações que não
admitem convenção em sentido diverso e outras em que se admite um regime
mais favorável ao tomador do seguro, ao segurado ou ao beneficiário da
prestação de seguro80.
O capítulo referente à cessação do contrato, que abarca os artigos 105º a 118º,
está na sua maioria classificado como regime de caráter imperativo relativo,
estando apenas o artigo 117º, nº 3, classificado como sendo imperativo
absoluto81.
Existem ainda alguns preceitos dispersos que têm relevância para
classificarmos como imperativos e que se refere à cessação do contrato ou
extinção de obrigações, pelo que sem prejuízo de existirem outros, identificamos
os seguintes:
a) imperativos absolutos – artigos 16º, 34º, 43º, 44º, 61º, 80º, 86º;
b)imperativos relativos – artigos 17º a 26º, 86º, 88º, 92º, nº 1, 93º e 101º.

Atendendo a que a maioria do regime relativo à cessação do contrato tem


índole imperativa relativa haverá sempre alguma margem de liberdade para que
as partes estabeleçam soluções mais vantajosas para os consumidores82.
No entanto, como nos seguros de grandes riscos não estará em causa a
relação com consumidores, o artigo 12º, nº 2, permite que o conteúdo dos artigos
59º e 61º, quanto ao pagamento prévio do prémio e a resolução automática por
falta de pagamento, seja contrariado através de convenção em sentido diverso.
Do mesmo modo, aquilo que se entende como disposições imperativas
relativas, identificadas no artigo 13º, nº 1, não são aplicáveis aos seguros de
grandes riscos, pelo que rege a liberdade contratual conforme prevista no artigo
11º.
Assim, torna-se importante, antes de mais, fazer uma breve destrinça sobre as
situações e ramos de seguro em que poderemos estar perante riscos de massa e
grandes riscos.

4. Seguros de massa e de grandes riscos


4.1. Atendendo a que a distinção entre seguros de massa e seguros de grandes
riscos tem relevância para apuramento das situações em que o regime é
imperativo ou em que existe liberdade contratual máxima para as partes
estipularem as soluções que entendam, nomeadamente para o regime da
cessação do contrato, que é o regime de que nos ocupamos no presente estudo,
faremos uma breve distinção dos ramos que cabem em cada tipologia83.
Os riscos de massa são aqueles em que atendendo à sua generalização se
configura uma maior proteção ao tomador do seguro84 ou segurado enquanto nos
grandes riscos é suposto que haja maior igualdade entre as partes, as quais
atendendo aos seguros em causa ou valores de prémios envolvidos terão
capacidade ou conhecimentos específicos para analisar com maior detalhe as
condições contratuais ajustadas.
Nos seguros de massa os segurados estarão protegidos por regimes
imperativos que pretendem tornar a relação contratual mais equilibrada, situação
que não se justificará nos grandes riscos.
A propósito da proteção do segurado consumidor, no sentido exposto,
também referem GERALDINE IFRÁN e ANDREA SIGNORINO BARBAT que no seguro
de grandes riscos há uma flexibilização dessa proteção, que pode até ser afastada
no caso de relações com impérios empresariais que têm um potencial económico
que faz com que não precisem de ser protegidos, já que se relacionam com os
seguradores num plano de igualdade85. Têm os segurados de grandes riscos,
como menciona TAPIA HERMIDA, uma capacidade de autoproteção86.

4.2. A delimitação no regime português87 do que se entende por grandes riscos


consta do artigo 2º, nº 3, do RGAS, estando abrangidos:
a) os riscos que respeitem aos ramos de seguro referidos nos nºs 4), 5), 6), 7),
11) e 12) do artigo 123º, ou seja, os ramos «veículos ferroviários», «aeronaves»,
«embarcações marítimas, lacustres e fluviais», «mercadorias transportadas»,
«responsabilidade civil de aeronaves» e «responsabilidade civil de embarcações
marítimas, lacustres e fluviais», respetivamente;
b)os riscos que respeitem aos ramos de seguro referidos nos nºs 14) e 15) do
artigo 123º, ou seja, os ramos de «crédito» e «caução», sempre que o tomador
exerça a título profissional uma atividade industrial, comercial ou liberal e o
risco, se reporte a essa atividade;
c) os riscos que respeitem aos ramos de seguro referidos nos nºs 3), 8), 9),
10), 13) e 16) do artigo 123º, ou seja, «veículos terrestres», «incêndio e
elementos da natureza» , «outros danos em coisas», «responsabilidade civil de
veículos terrestres a motor», «responsabilidade civil geral» e «perdas
pecuniárias diversas» desde que, relativamente ao tomador, sejam excedidos
dois dos seguintes valores, referidos no artigo 2º, nº 4, a saber:
i. total do balanço – 6,2 milhões de euros [alínea a)];
ii. montante líquido do volume de negócios – 12,8 milhões de euros [alínea
b)];
iii. número médio de empregados durante o último exercício – 250 [alínea
c)].

Os não mencionados são entendidos como riscos de massa, como seja o ramo
«acidentes» ou «doença», os quais merecem tipicamente uma preocupação
superior do legislador para proteção dos tomadores, segurados, beneficiários e
lesados.
5. Tipos de classificação
5.1. Formas originárias e supervenientes
5.1.1. No RJCS tal como no Código Civil podemos verificar que existem
impossibilidades originárias e supervenientes88, que como veremos se
relacionam com a invalidade a que já fizemos menção. Enquanto a primeira é
anterior ao contrato já existindo no momento da celebração do contrato a
impossibilidade superveniente surge após o vínculo das partes perante certos
pressupostos que se alteram.
A impossibilidade pode ser total ou parcial e, colocando em causa a
subsistência da relação contratual no futuro, deverá ser absoluta e definitiva.
O Código Civil distingue a impossibilidade originária da superveniente,
através dos seguintes preceitos:
a) impossibilidade originária – artigos 280º, 286º e 289º a 294º;
b)impossibilidade superveniente – artigos 790º e seguintes e 801º e seguintes.

Na impossibilidade originária constam as situações em que o objeto do


negócio é impossível, física ou legalmente, enquanto as supervenientes89 são
posteriores à celebração tornando a prestação também impossível.
No RJCS poderemos também identificar esta divisão, da seguinte forma:
a) impossibilidade originária – artigos 25º; 26º; 43º e 44º;
b)impossibilidade superveniente – 43º; 61º, nº 4; 91º a 94º e 96º.

5.1.2. No que se refere às impossibilidades originárias, as omissões de


declaração do risco dolosas ou negligentes por parte do tomador ou segurador
tornam o contrato anulável, pelo que no caso das omissões serem dolosas não
está obrigado a cobrir o sinistro que entretanto ocorra (artigo 25º, nº 3) e no caso
de serem negligentes teremos que distinguir duas situações:
i. impossibilidade originária parcial – o segurador cobre o sinistro na
proporção da diferença entre o prémio pago e o que seria devido caso não
houvesse omissão [artigo 26º, nº 4, alínea a)]90;
ii. impossibilidade originária total – o segurador não cobre o sinistro
demonstrando que em caso algum teria celebrado o contrato se tivesse conhecido
o facto omitido.

Embora estas impossibilidades originárias sejam verificadas a posteriori,


reportam-se ao momento da contratação fazendo com que o contrato nem se
tivesse concretizado ou fosse celebrado em moldes diferentes.
Do mesmo modo, a referência aos artigos 43º e 44º deriva da consequência
prevista de nulidade que faria com que o contrato nem fosse celebrado não
existindo interesse do tomador ou segurado, bem como risco a cobrir pelo
segurador. Exemplo desta situação é o de alguém que faz um seguro com a
cobertura de desemprego estando já desempregado e não sendo possível usufruir
de qualquer cobertura.

5.1.3. Quanto à impossibilidade superveniente, aplica-se o artigo 43º quando


tenha deixado de existir interesse durante a execução do contrato. Poderemos
referir como exemplo o desaparecimento do objeto seguro.
O artigo 61º, nº 4, faz menção à alteração superveniente à celebração do
contrato que gere o pagamento de um prémio adicional, pelo que não existindo
esse pagamento o contrato só subsiste reduzido se tal não se revelar impossível.
No mesmo raciocínio quando exista um agravamento do risco o segurador,
nos termos do artigo 93º, nº 2, tem duas possibilidades, a saber:
i. apresentar ao tomador do seguro proposta de modificação do contrato, que
se entende tacitamente aceite pelo tomador ou segurado se nada disser em 30
dias [alínea a)];
ii. resolver o contrato, demonstrando que, em caso algum, celebra contratos
que cubram riscos com as características resultantes do agravamento [alínea b)].

Deste regime resulta que na execução do contrato de seguro podem existir


alterações que levam à cessação do contrato por se tornar impossível para o
segurador a cobertura dos riscos. Ainda que consideremos que em absoluto não é
impossível ao segurador cobrir esses riscos o legislador faz equivaler o facto de
o segurador não ter como prática a cobertura de determinados riscos como uma
impossibilidade que leva à resolução do contrato.
Numa situação em que a alteração do risco se materializa para um ramo
diferente em que o segurador não tenha autorização legal91 para o seu exercício
será natural essa impossibilidade. Pensemos num caso em que uma empresa
altera o objeto da sua atividade e que por essa via passa a ter riscos, pelo menos
em parte, diferentes.
Poderemos ainda apontar outros exemplos, não exaustivos, de
impossibilidades supervenientes, embora muitos tenham raiz na falta de interesse
do artigo 43º, a saber:
i. o desaparecimento do objeto seguro92;
ii. a morte do tomador do seguro, a não ser o contrato preveja e seja possível
de transmitir ao segurado ou terceiro interessado (artigo 96º)93;
iii. a cessação de contrato associado do qual o contrato de seguro estava
dependente em união de contratos.

5.2. Formas voluntárias e involuntárias


O contrato de seguro pode cessar como veremos através de várias formas, mas
há umas que dependem de um ato de vontade de uma ou ambas as partes e outras
que são alheias às mesmas.
Temos, então nesta matéria a extinção ipso iure94, resultante de um facto
jurídico a que lei atribui efeitos, e a extinção ex voluntate, que advém de
declarações de vontade de uma ou ambas as partes que permitem a
desvinculação das mesmas às obrigações assumidas.
A resultante de um facto corresponde à caducidade, onde tem superior
relevância o decurso do tempo ou a extinção do objeto seguro. A resultante da
vontade encaixa na revogação, denúncia e resolução.
Na revogação de um contrato terão que existir declarações de vontade de
todas as partes que deram origem ao vínculo95, mas em todas as formas que
sejam unilaterais, como é o caso da resolução e da denúncia96, a declaração
partindo apenas de uma das partes torna a cessação voluntária para essa e
involuntária para a parte que se desvincula sem ter tido qualquer
comportamento, ainda que tácito, que levasse à conclusão da pretensão de se
desligar do contrato.
Para os beneficiários que constam do contrato temos duas situações. Se a
designação for irrevogável é necessário um ato voluntário do beneficiário
permitindo a cessação do contrato97. Se não for esse o caso o contrato cessa sem
a sua intervenção.
No que diz respeito ao seguro de vida o artigo 199º, nº 1, do RJCS prescreve
que «a pessoa que designa o beneficiário pode a qualquer momento revogar ou
alterar a designação, excepto quando tenha expressamente renunciado a esse
direito ou, no seguro de sobrevivência, tenha havido adesão do beneficiário».
Por esta ordem de ideias também a cessação do contrato pode vincular
involuntariamente ou voluntariamente o beneficiário conforme seja ou não
necessário o seu assentimento.

5.3.Formas diretas e indiretas


Dentro das formas que designamos de voluntárias encontramos ainda aquelas em
que uma das partes ou ambas tomaram atitudes que levaram diretamente ao fim
do contrato e outras situações em que embora o pensamento final não fosse o
contrato de seguro, o efeito jurídico dos seus atos teve repercussão no mesmo,
como seja a venda do veículo automóvel que tem os efeitos descritos no artigo
21º do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto98.
A propósito da distinção entre resolução direta e indireta refere ROMANO
MARTINEZ que na direta a dissolução do vínculo é consequência imediata de uma
declaração de vontade, enquanto a indireta implica «a dissolução de outro
vínculo como consequência do facto extintivo. Assim, havendo coligação
negocial, a resolução de um contrato pode ter como efeito a extinção de outro
vínculo»99.
Está em causa a matéria da união de contratos100 sobre a qual a
jurisprudência se tem debruçado, por ser matéria que provoca alguma litigância.
Assim, por exemplo, refere um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
que:
« 1 – A recíproca dependência entre o contrato de financiamento e o
respeitante à aquisição financiada, corresponde à figura da união de
contratos, repercutindo-se as vicissitudes de um no outro, arrastando a
invalidade de um deles a destruição do outro, mostrando-se a ligação
funcional entre venda e mútuo, mostrando-se a união desses contratos, a
nulidade ou anulabilidade do contrato de compra e venda incidirá também
sobre o contrato de mútuo.
2 – Os actos praticados à sombra de um negócio nulo, nulos são também,
e, portanto, os negócios praticados à sombra de um negócio anulável,
anuláveis são também»101.

O Decreto-Lei nº 222/2009, de 11 de setembro, que estabelece medidas de


proteção do consumidor na celebração de contratos de seguro de vida associados
ao crédito à habitação, dispõe no artigo 3º, nº 1, a propósito da união de
contratos102 que «(...) sempre que exista uma união entre o contrato de seguro
de vida e o contrato de crédito à habitação, a validade e a eficácia daquele
contrato depende da validade e eficácia deste».
Assim, a extinção dos efeitos de um contrato de crédito pode levar
indiretamente à cessação do contrato de seguro por desaparecimento do contrato
principal ao qual o seguro se destinava a dar garantia. Se houver uma
correspondência num contrato de crédito entre o capital em dívida e o capital
seguro, desaparecendo o contrato de crédito deixa de existir capital seguro
levando à inexistência de risco, o que determina a nulidade nos termos do artigo
43º do RJCS.
-
61 Sobre a enumeração das formas de cessação do contrato de seguro V., por exemplo, JOSÉ
ENGRÁCIA ANTUNES, Direito dos Contratos Comerciais, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 723 e 724.
62 MARCEL FONTAINE assinala que existem causas comuns de nulidade e outras causas específicas
dos seguros. Nas comuns o autor integra, por exemplo, a falta ou vício de consentimento, incapacidade ou
ilicitude. Nas específicas integra a falta de interesse no seguro, ausência de risco, omissões e inexatidões de
má fé, contratos por menores ou contratos celebrados por segurador não habilitado a exercer a atividade.
Para maior detalhe V. MARCEL FONTAINE, Droit des Assurances, Quatrième édition, Larcier, Bruxelles,
2010, págs. 302 a 304.
63 Fazendo a distinção de forma detalhada entre as figuras da inexistência, invalidade e ineficácia V.
INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Manual dos Contratos em Geral, 4ª Edição, Coimbra Editora, 2002,
págs. 355 a 383 e António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Português, I Parte Geral, Tomo I, 3ª
Edição, Almedina, Coimbra, 2011, págs. 853 a 888.
64 Sobre a matéria da anulabilidade e nulidade em geral V., por exemplo, CARLOS ALBERTO DA
MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil,
4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, págs. 617 a 632 e JEAN-CLAUDE
MONTANIER, Le contrat, 4e édition, PUG, Grenoble, 2005, págs. 185 a 202.
65 Quanto à questão da essencialidade da empresa para que exista contrato de seguro existe intensa
discussão doutrinária V., por todos, MARIA ELISABETE GOMES RAMOS, O Seguro de
Responsabilidade Civil dos Administradores, Almedina, Coimbra, 2010, págs. 411 a 414, em particular a
nota de rodapé 1596 nas págs. 412 e 413. Por nós, atendendo a que a escolha do legislador do RJCS recaiu
sobre penalizar aquele que não tem autorização para segurar os riscos mas protegendo o tomador,
conferindo-lhe direitos como se o contrato tivesse sido validamente celebrado entre partes legítimas,
tendemos a considerar que a autorização do segurador não é um elemento imprescindível ainda que seja
obrigatório.
66 Sobre a nulidade como sanção V., por exemplo, HERBERT HART, O conceito de direito, tradução
de Armindo Ribeiro Mendes, 5ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2007, págs. 41 a 43.
Entendendo que o legislador estabeleceu uma forma de sanção civil para prevenir e penalizar o exercício
ilícito da atividade seguradora V. MARIA EDUARDA RIBEIRO, em anotação ao artigo 16º, AAVV, Lei do
Contrato de Seguro Anotada, Ob. Cit., pág. 94. Na mesma obra PEDRO ROMANO MARTINEZ conclui
em apreciação ao artigo 16º, nº 2, que «a nulidade (atípica) (…) manifesta-se nas faculdades que o tomador
tem de a todo o momento passar a desconsiderar o contrato com o segurador não autorizado e de exigir
reaver o montante do prémio pago que exceda aquilo que se possa determinar como o valor de mercado da
cobertura» (pág. 96).
67 Cfr. DIAS MARQUES, Introdução ao Estudo do Direito, Volume I, Lisboa, 1963, pág. 353.

68 Cfr. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA
PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, pág.
627.
69 MENEZES CORDEIRO, com base no regime alemão, aborda a possibilidade de a lei ter optado pela
resolução do contrato. Cfr. Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra, 2013, pág. 584. Refere ainda o autor
na pág. 586 que em termos de cessação de contrato estamos perante uma «anulação sui generis, total ou
parcial».
70 A omissão negligente pressupõe a não conformidade com a diligência e deveres de cuidado que
seriam exigíveis.
71 Caso não ocorra sinistro os prazos a respeitar para a cessação ou proposta de alteração constam do
artigo 26º, nº 2.
72 Neste sentido V. PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Vol. I, Coimbra
Editora, 1987, pág. 263.
73 Sobre a importância das cláusulas contratuais gerais refere-se JOÃO CALVÃO DA SILVA no sentido
em que «permitem a racionalização da contratação em massa com milhares de pessoas, ganhando tempo e
poupando incomodidades aos clientes que desejam ser atendidos depressa e bem». Cfr. Do autor, Banca
Bolsa e Seguros, Tomo I, 2ª Ed., Almedina, Coimbra, 2007, págs.162 e 163. Para maior detalhe sobre o
tema V. também do mesmo autor págs. 159 e segs.; ALMENO DE SÁ, Cláusulas contratuais gerais e
Directiva sobre cláusulas abusivas, 2ª ed. Revista e aumentada, Almedina, Coimbra, 2005; MENEZES
CORDEIRO, Manual de DireitoBancário, 3ª ed., Almedina, Coimbra, 2006, págs. 363 a 403; MENEZES
CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, Parte Geral, Tomo I, Almedina, Coimbra, 2005, págs.
613 a 652; OLIVEIRA ASCENSÃO, Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e boa fé, in Revista
da Ordem dos Advogados, ano 60, II, Lisboa, 2000, págs. 573 e segs.; OLIVEIRA ASCENSÃO, Cláusulas
contratuais gerais, cláusulas abusivas e o novo Código Civil, 2003, em http://
www.fd.ul.pt/Portals/0/Docs/Institutos/ICJ/LusCommune/AscensaoJoseOliveira6.pdf (acedido em
novembro de 2012); CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, Contratos I, 4ª Ed., Almedina, Coimbra, 2008,
págs. 175 a 200; JOAQUIM DE SOUSA RIBEIRO, O Problema do Contrato– As Cláusulas Contratuais
Gerais e o Princípio da Liberdade Contratual, Almedina, Coimbra, 1999; JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES,
Contratos Comerciais – Noções fundamentais, in Direito e Justiça – Revista da Faculdade de Direito da
Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2007, págs. 131 a 152; ANA PRATA, Contratos de adesão e
cláusulas contratuais gerais : anotação ao Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de Outubro, Almedina, Coimbra,
2010, JOÃO BOTELHO, Cláusulas contratuais gerais – notas de jurisprudência, Livraria Petrony,
Lisboa, 2010; JOSÉ MANUEL DE ARAÚJO BARROS, Cláusulas Contratuais Gerais, Coimbra Editora,
Coimbra, 2010.
74 Sobre as cláusulas contratuais em específico no contrato de seguro, V. ANTÓNIO MENEZES
CORDEIRO, Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra, 2013, págs. 587 a 639; MOITINHO DE
ALMEIDA, Contrato de Seguro – Estudos, Coimbra Editora, 2009, págs. 77 a 113; MOITINHO DE
ALMEIDA, O regime comunitário das cláusulas abusivas e o contrato de seguro, in Congresso Luso-
Hispano de Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 193 a 222; PEDRO PAIS DE
VASCONCELOS, Cláusulas iníquas ou abusivas no contrato de seguro, in Congresso Luso-Hispano de
Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 159 a 172; ARNALDO OLIVEIRA, Contratos de
seguro face ao regime das cláusulas contratuais gerais, in BMJ, nº 448, 1995, págs. 69 a 85 e ARNALDO
OLIVEIRA, Cláusulas abusivas e o contrato de seguro, in Congresso Luso-Hispano de Direito dos
Seguros, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 223 a 242.
75 O artigo 16º da LCCG refere que para apreciação das cláusulas que sejam contrárias à boa fé «devem
ponderar-se os valores fundamentais do direito, relevantes em face da situação considerada, e,
especialmente: a) A confiança suscitada, nas partes, pelo sentido global das cláusulas contratuais em
causa, pelo processo de formação do contrato singular celebrado, pelo teor deste e ainda por quaisquer
outros elementos atendíveis; b) O objectivo que as partes visam atingir negocialmente, procurando-se a sua
efectivação à luz do tipo de contrato utilizado».
76 V. arts. 17º a 22º.

77 Sobre a forma de cessar o contrato afetado por uma prática comercial desleal e o regime jurídico em
geral aplicável aos seguros V. o segundo estudo na presente obra.
78 Sobre a eficácia V., por exemplo, Dias Marques, Introdução ao Estudo do Direito, I Parte, AAFDL,
Lisboa, 1967, págs. 99 a 101.
79 V. a distinção entre ineficácia originária e superveniente em ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade
na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição, Livraria Petrony, Lisboa, 1980, pág. 206.
80 Para maior facilidade de compreensão procede-se à transcrição.
«Artigo 12º
Imperatividade absoluta
1 – São absolutamente imperativas, não admitindo convenção em sentido diverso, as disposições constantes
da presente secção e dos artigos 16º, 32º, 34º, 36º, 43º, 44º, 54º, nº 1, 59º, 61º, 80º, n.os 2 e 3, 117º, nº 3, e
119º.
2 – Nos seguros de grandes riscos admite-se convenção em sentido diverso relativamente às disposições
constantes dos artigos 59º e 61º.
Artigo 13º
Imperatividade relativa
1 – São imperativas, podendo ser estabelecido um regime mais favorável ao tomador do seguro, ao
segurado ou ao beneficiário da prestação de seguro, as disposições constantes dos artigos 17º a 26º, 27º,
33º, 35º, 37º, 46º, 60º, 78º, 79º, 86º, 87º a 90º, 91º, 92º, nº 1, 93º, 94º, 100º a 104º, 107º nºs 1, 4 e 5, 111º, nº
2, 112º, 114º, 115º, 118º, 126º, 127º, 132º, 133º, 139º, nº 3,146º, 147º, 170º, 178º, 185º, 186º, 188º, nº 1,
189º, 202º e 217º.
2 – Nos seguros de grandes riscos não são imperativas as disposições referidas no número anterior.».
81 Sobre o fundamento da imperatividade V. as anotações de PEDRO ROMANO MARTINEZ aos
artigos 12º e 13º em AAVV, Lei do Contrato de Seguro Anotada, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2011,
págs. 66 a 70 e com bastante detalhe, no direito espanhol, FERNANDO SÁNCHEZ CALERO, Ley de
Contrato de Seguro – Comentarios à la Ley 50/1980, de 8 de octubre, y sus modificaciones, Cuarta
Edición, Aranzadi, Cizur Menor, 2010, págs. 79 a 104.
82 Sobre a imperatividade relativa V. em especifico as págs. 90 a 95 da obra dirigida por FERNANDO
SÁNCHEZ CALERO, Idem.
83 Tendo presente que a divisão já provem das diretivas comunitárias (por exemplo, a Segunda Diretiva
do Conselho de 22 de junho de 1988, a 88/357/CEE), V. FRANCESCO SEATZU, Insurance in Private
International Law, Hart Publishing, Portland, 2003, págs. 12, 13, 131 e 132. No direito belga na divisão
entre seguros de grandes riscos e riscos de massa V. JEAN-LUC FAGNART, Traité Pratique de Droit
Commercial, Tome 3 (2e édition), Kluwer, Waterloo, 2011, págs. 32 a 34; HÉLÈNE DE RODE, Le contrat
d’assurance en général, Larcier, Bruxelles, 2012, pág. 51 e MARCEL FONTAINE, Droit des Assurances,
Quatrième édition, Larcier, Bruxelles, 2010, págs. 65 e 66.
84 Sobre a necessidade de tutela do tomador de seguro nos seguros de massa versus os de grandes riscos
V. também MARIA ELISABETE GOMES RAMOS, O Seguro de Responsabilidade Civil dos
Administradores, Almedina, Coimbra, 2010, págs. 389 a 391.
85 V. com maior detalhe GERALDINE IFRÁN e ANDREA SIGNORINO BARBAT, El Seguro de
Grandes Riesgos, in Temas Relevantes del Derecho de Seguros Contemporáneo, Fundación Mapfre,
Madrid, 2008, págs. 412 e 413.
86 V. ALBERTO JAVIER TAPIA HERMIDA, El Seguro de Grandes Riesgos, in Temas Relevantes del
Derecho de Seguros Contemporáneo, Fundación Mapfre, Madrid, 2008, pág. 438. Sobre o regime
imperativo e os seguros de grandes riscos pode-se consultar também do mesmo autor, Manual de Derecho
de Seguros y Fondos de Pensiones, Thomson, Cizur Menor, 2006, págs. 159 e 160 e com maiores
desenvolvimentos PEIRANGELO CELLE, I Contratti di Assicurazione Grandi Rischi nel Diritto
Internazionale Privato, CEDAM, Padova, 2000.
87 Ainda que derivado da legislação comunitária.

88 CASTRO MENDES faz menção a várias classificações partindo da impossibilidade do objeto


negocial, nomeadamente as seguintes: física e legal; original e superveniente; total e parcial; e temporária e
definitiva. Para maior detalhe V. JOÃO DE CASTRO MENDES, Direito Civil – Teoria Geral, II volume
(reimpressão das lições de 1978-1979 revistas em 1985), AAFDL, Lisboa, 1993, págs. 265 a 270. Sobre as
formas de impossibilidade V. também PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito das Obrigações –
Programa 2010/2011 – Apontamentos, 3ª Ed., AAFDL, Lisboa, 2011, págs. 297 a 302.
89 Sobre as causas supervenientes V. no direito francês JEAN-CLAUDE MONTANIER, Le contrat, 4e
édition, PUG, Grenoble, 2005, págs. 203 a 212.
90 Atende-se à redução do negócio resultante do artigo 292º do CC.

91 V. artigos 123º e 124º do Decreto-Lei nº 94-B/98, de 17 de abril (com as correspondentes alterações).

92 Sobre a caducidade por perda do objeto V. PAUL ALAIN FORIERS, La caducité des obligations
contrattueles par disparation d’un élément essentiel à leur formation, Bruylant, Bruxelles, 1998, págs. 53
a 69.
93 Este preceito prevê a situação da morte do tomador do seguro, podendo o contrato prever que a
posição contratual se transmite para o segurado ou para terceiro interessado. Sendo esta uma disposição
supletiva e remetendo o próprio preceito para o contrato entendemos que caso nada esteja previsto a este
propósito, genericamente, o contrato cessa com a morte, salvo se os herdeiros ou beneficiários tenham
interesse na manutenção do mesmo não estando o seguro ligado à própria pessoa falecida, sendo, por isso,
indiferente o nome do tomador, nem tão pouco sendo relevante para a apreciação do risco.
Assim, quando o risco seja independente das características do tomador ou segurado pode o mesmo manter-
se. Num seguro de incêndio pode o mesmo transferir-se para os herdeiros que adquirem o imóvel por
sucessão.
94 Tipica da nulidade, já que até de conhecimento oficioso de um juiz.

95 Corresponde à dissolução do vínculo por acordo (revogação consensual). Cfr. ROMANO


MARTINEZ, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 92.
96 Poderíamos também mencionar a revogação unilateral, mas tem pouca relevância ao nível segurador.

97 Recorde-se que nos termos do artigo 55º do RJCS o terceiro interessado pode proceder ao pagamento
do prémio em contrato que tenha interesse. V. também o artigo 199º, nº 4, do RJCS.
98 Diploma que aprova o regime do sistema do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel.

99 Cfr. do autor, Da Cessação…, Ob. Cit, pág. 72.

100 V. por todos ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, II, Tomo II,
Almedina, Coimbra, 2010, págs. 273 a 280 e ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2009, págs. 377 a 379.
101 Cfr. acórdão de 09-06-2009, Proc. 9818/2008-1, com o relator JOSÉ AUGUSTO RAMOS. V. Cfr.
acórdão de 09-06-2009, Proc. 9818/2008-1, com o relator José Augusto Ramos. V. 01-2008, com o relator
TÁVORA VITOR, em que é referido que «Estamos em presença da figura da “união de contratos”
quando se reúnem dois ou mais mantendo cada negócio maior ou menor autonomia. Tal união pode ser
extrínseca, extrínseca com dependência e alternativa».
102 O artigo 3º, nº 2, fornece também a definição de união de contratos nos seguintes termos:
«Considera-se que existe união de contratos se ambos os contratos constituírem objectivamente uma
unidade económica, designadamente se o contrato de seguro de vida for proposto pela instituição de
crédito ou, no caso de o contrato de seguro de vida ser proposto por terceiro, se a seguradora tiver
recorrido à instituição de crédito para preparar ou celebrar o contrato de seguro de vida ou se o contrato
de seguro de vida estiver expressamente mencionado no contrato de concessão de crédito à habitação ou,
ainda, se a instituição de crédito fizer depender a celebração do contrato de crédito à habitação da
celebração de um contrato de seguro de vida».
Parte III

6. Modos de cessação em especial


O artigo 105º determina que o contrato de seguro cessa nos termos gerais e
especifica as formas através das quais se materializa, ou seja, caducidade,
revogação, denúncia e resolução103.
Sem prejuízo de existirem outras formas de cessação, conforme já fizemos
menção, estas correspondem às formas de cessação mais comuns que também se
encontram previstas no Código Civil104. PEDRO ROMANO MARTINEZ esclarece
que se pretendeu «elucidar dúvidas e, principalmente tornar mais acessível o
conhecimento das soluções jurídicas pelos destinatários das regras»105.
As formas de cessação do contrato de seguro não se esgotam nas quatro
referidas pelo que se deve atender à expressão «nos termos gerais» para
acolhermos outras formas de extinção dos contratos de seguro. A indicação das
quatro formas de cessação tem um teor enunciativo de esclarecer as que
apresentam maior relevância em termos clássicos e genéricos106.

7. Efeitos da cessação
O artigo 106º prevê genericamente quais os efeitos que podem decorrer da
cessação do contrato, distinguindo o nº 1 dois tipos de situações.
a) Regra: a cessação do contrato determina a extinção das obrigações do
segurador e do tomador do seguro enunciadas no artigo 1º;
b)Exceção: a existência de disposições que estatuam a eficácia de deveres
contratuais depois do termo do vínculo, casos em que se deverá atender ao
conteúdo dessas disposições.

O nº 2 do mesmo artigo contém uma previsão que poderia considerar-se


desnecessária e que apenas compreendemos por poder ter efeitos esclarecedores.
Dispõe aquele que «a cessação do contrato não prejudica a obrigação do
segurador de efectuar a prestação decorrente da cobertura do risco, desde que o
sinistro seja anterior ou concomitante com a cessação e ainda que este tenha
sido a causa da cessação do contrato».
A ocorrência de um sinistro no final do contrato não pode impedir a
participação do mesmo já após a sua cessação, caso contrário haveria tipologias
de seguro ou vários casos em que não teria ocorrido a cobertura de risco para um
determinado período.
Deve-se conciliar este preceito com a matéria da participação de sinistro.
Pode o contrato prever um prazo para participação extenso ou nada referindo
aplica-se o artigo 100º, nº 1, o qual prevê um prazo de oito dias a partir do
conhecimento do tomador. Haverá situações em que pode o tomador ou segurado
apenas tomar conhecimento do sinistro após a cessação do contrato, como seja
nos seguros de responsabilidade civil profissional em que um lesado comunica a
ocorrência do sinistro em data, por vezes, bastante distante da data de
cessação107.
De todo o modo, a falta de participação de sinistro no prazo contratual ou nos
oito dias previstos no artigo 100º, nº 1, não é oponível aos lesados em caso de
seguro obrigatório de responsabilidade civil108.
O artigo 106º, nº 3, faz menção à especificidade dos seguros com provisões
matemáticas em que o resgate seja permitido. Refere esta norma que «a
cessação do contrato que não dê lugar à realização da prestação determina a
obrigação de o segurador prestar o montante dessa provisão, deduzindo os
custos de aquisição ainda não amortizados, adicionando-se, se a ela houver
lugar, o montante da participação nos resultados calculado ”pro rata
temporis”».
Embora se trate de preceito novo identificamos alguma base no revogado
artigo 183º, nºs 2 e 3 do RGA, e no artigo 116º, nº 6, do RJCS.

8. Estorno do prémio por cessação antecipada


Por regra quando o contrato cessa antes do período de vigência estipulado há
lugar ao estorno do prémio.
No entanto, admitem-se exceções conforme previsão do artigo 107º, nº 1, que
identificamos em seguida, a saber:
a) disposição legal em contrário;
b)pagamento de prestação decorrente de sinistro;
c) situações previstas no artigo 106º, nº 3, quanto aos seguros com previsões
matemáticas.

Na situação referida na presente alínea b) o segurador já cumpriu a obrigação


que tinha assumido no caso de se verificar o risco que aceitou cobrir, pelo que o
prémio foi a contrapartida para esse risco que derivou em sinistro. No entanto,
atendendo ao princípio subjacente a esta exceção entendemos que se o
pagamento da indemnização for inferior ao valor recebido a título de prémio
haverá lugar a estorno descontando-se o valor pago a título de sinistro.
O artigo 107º, nº 5, exclui ainda a aplicação do presente preceito aos seguros
de vida, às operações de capitalização e aos seguros de doença de longa duração,
os quais têm regras próprias baseadas na natureza dos contratos e das condições
ajustadas.
Como refere o artigo 107º, nº 2, «o estorno do prémio é calculado “pro rata
temporis”», ou seja, proporcionalmente ao tempo decorrido. Esta regra pode ser
afastada através de acordo entre as partes desde que tal acordo tenha uma razão
atendível. O nº 3 dá o exemplo desta situação como seja «a garantia de
separação técnica entre a tarifação dos seguros anuais e a dos seguros
temporários».
Assim, enquadram-se nas situações em que pode ser acordada solução
diversa os seguros que, por exemplo, devido ao facto de terem o risco
concentrado num determinado período já cumpriram o seu propósito. Um seguro
para uma atividade sazonal agrícola ou de caça pode ter esse âmbito.
Uma última nota para a previsão do artigo 107º, nº 4, que tem uma função
clarificadora para evitar situações abusivas geradoras de desequilíbrio contratual.
Prevê que «salvo convenção legal em contrário, as partes não podem estipular
sanção aplicável ao tomador do seguro sempre que este exerça um direito que
determine a cessação antecipada do contrato».
Como refere PEDRO ROMANO MARTINEZ «podem ser acordadas cláusulas
penais para prevenir e sancionar situações de incumprimento contratual por
parte do tomador do seguro, mas não para obstar ao exercício de direitos
relacionados com a cessação do contrato»109.
Questão um pouco lateral, mas relevante e que poderá ser polémica, é a da
resolução automática por falta do pagamento do prémio, nomeadamente de uma
fração do mesmo (artigo 61º) em que não havendo estorno poderia colocar-se a
hipótese de em caso de sinistro o segurador ter direito ao prémio até ao final do
contrato. Na linha do que defende PEDRO ROMANO MARTINEZ110, e sem prejuízo
de se dever atender ao recorte de cada situação concreta, entendemos que não
será exigível já que a seguradora cobriu um capital para um determinado período
que, atendendo ao seu fracionamento, se tornou na prática num contrato de curta
duração.

9. Efeitos em relação a terceiros


O artigo 108º acautela os efeitos de um contrato de seguro relativamente a
terceiros, referindo o nº 1 que «a cessação do contrato de seguro não prejudica
os direitos adquiridos por terceiros durante a vigência do contrato». Tal
significa que se um sinistro ocorre durante a vigência do contrato haverá
cobertura ainda que entretanto o contrato cesse.
Protegem-se os direitos dos terceiros de boa fé na mesma linha do já previsto
no artigo 435º do CC, o qual prevê no seu nº 1 que «a resolução, ainda que
expressamente convencionada, não prejudica os direitos adquiridos por
terceiro».
Deste modo, da leitura do artigo 108º, nº 2, PEDRO ROMANO MARTINEZ retira
que «admite-se que a reclamação se efectue depois da extinção do vínculo»111
atendendo à natureza e condições do seguro. Diremos que mais do que uma
possibilidade é uma imposição quando estejam em causa seguros obrigatórios
com terceiros lesados de boa fé como no seguro automóvel de responsabilidade
civil.
Veja-se que o 99º do RJCS, pese embora tenha aplicação meramente
supletiva112, delimita o que se entende por sinistro, ou seja, a verificação, total
ou parcial, do evento que desencadeia o acionamento da cobertura do risco
prevista no contrato, pelo que a proteção do sinistro poderá manter-se enquanto
os efeitos do contrato perdurarem ainda que o mesmo tenha cessado. Refere
ainda o artigo 100º que a participação do sinistro deverá ocorrer no prazo fixado
no contrato ou, na sua falta, nos oito dias imediatos ao conhecimento.
É típico nos sinistros de responsabilidade civil só se conhecer que houve
sinistro bem mais tarde. Imagine-se um erro de um mediador de seguros, de um
técnico oficial de contas ou de um advogado que o cliente lesado apenas conhece
mais tarde quando notificado por uma outra entidade para pagar um determinado
valor, sendo esse o momento em que tem o dano, mas cujo facto gerador foi
anterior. Para os seguros de responsabilidade civil dispõe o artigo 139º do RJCS,
onde fica claro que, sem prejuízo de poder ser ajustada diferente solução, os
pedidos de indemnização podem ser apresentados após o seu termo113.
No caso de beneficiários designados no contrato com direitos ressalvados,
tipicamente denominados por beneficiários irrevogáveis, o artigo 108º, nº 3,
impõe ao segurador a obrigação de comunicação aos mesmos desde que tal seja
possível através da sua identificação na apólice. O nº 4 prevê ainda uma
extensão desta obrigação de comunicação ao segurado quando este seja distinto
do tomador. Desta forma todas as partes do contrato ficam informadas.

10. Caducidade
10.1. A figura jurídica da caducidade mencionada no artigo 109º funciona, por
regra, como nos termos gerais, ou seja, no termo do período de vigência
estipulado.
O artigo 41º, nº 2, prevê a cessação por caducidade na data de vencimento se
o contrato de seguro for celebrado por um período inicial inferior ou superior a
um ano. A regra da renovação automática prevista no artigo 41º, nº 1, leva a que
o contrato se renove automaticamente, não existindo cessação pela mera
decorrência do prazo do contrato. Esta é uma disposição supletiva que apenas
funciona em caso de ausência de previsão contratual, pelo que pode o contrato
prever que o contrato cessa na data de vencimento sem possibilidade de
renovação. Ainda assim, mesmo havendo denúncia o efeito é o da caducidade
fazendo com o que o contrato termine pela decorrência do tempo pré-fixado,
sendo que a denúncia apenas evitou a renovação automática.

10.2. No entanto, há situações que antecipam o fim do contrato, estando as


mesmas previstas no artigo 110º, a saber:
a) superveniente perda de interesse;
b)extinção do risco;
c) sempre que se verifique o pagamento da totalidade do capital seguro e sem
que se encontre prevista a reposição desse capital.
Correspondem a situações, como refere ANÍBAL DE CASTRO114, que não têm
assento na vontade bastando a constatação da sua verificação.

10.3. Quanto à perda de interesse teremos que atender ao artigo 43º, pelo que
quando desaparece esse interesse desaparece a razão para existir o contrato. A
perda de risco é definida pelo artigo 110º, nº 2, entendendo-se «que há extinção
do risco nomeadamente em caso de morte da pessoa segura, de perda total do
bem seguro e de cessação da actividade objecto do seguro»115.

10.4. Relativamente ao último aspeto do pagamento da totalidade do capital


seguro, previsto na alínea c), a caducidade deriva de não existir cobertura
contratual para o risco, já que no caso de ocorrer um sinistro o segurador nada
pagará. O risco a suportar pelo segurador equivale nesta situação ao capital
seguro remanescente116. Caso exista ainda capital, se for inferior ao valor da
franquia que possa estar estipulada então também não haverá possibilidade de
pagamento.
Uma nota ainda para a possibilidade de reposição do capital, que necessita de
estar contratualmente prevista ou ser acordada posteriormente ao sinistro.
Enquanto o capital não for reposto, de forma a permitir a cobertura de risco pelo
segurador, existe na prática caducidade do contrato, ainda que as partes possam
acordar em recolocá-lo em vigor, inclusive com efeitos retroativos desde que o
risco seja desconhecido117.

11. Revogação
O artigo 111º, nº 1, permite que o segurador e o tomador façam cessar, por
acordo, o contrato de seguro em qualquer período do mesmo118. Esta revogação
convencional é uma mera consagração do princípio da liberdade contratual.
Ajustando as partes livremente a celebração de um contrato também o podem
dissolver do mesmo modo.
Embora o RJCS limite a revogação ao acordo das partes e por essa via à
bilateralidade, poderemos também pensar em algumas situações em que o
contrato pode cessar através de revogação unilateral, nomeadamente se o ato
gerador de negócio jurídico foi também unilateral. Imagine-se o proponente que
revoga a proposta antes da aceitação pelo segurador ou vice-versa, ainda que o
contrato ainda não estivesse válido e a produzir efeitos por ser necessário que
ambas as partes dessem o seu acordo.
Como refere MENEZES CORDEIRO, « a revogação é também possível reunidas
determinadas condições, em relação aos actos unilaterais», sendo assim
«possível em relação a propostas contratuais (230º), a aceitações e rejeições de
propostas contratuais (235º) e a promessas públicas (461º/1)»119.
O nº 2 do artigo 111º faz ainda uma ressalva destinada a proteger terceiros
referindo que «com excepção do seguro de grupo e das especificidades previstas
em sede de seguro de vida, não coincidindo o tomador do seguro com o
segurado identificado na apólice, a revogação carece do consentimento deste».
Sobre esta matéria refere PEDRO ROMANO MARTINEZ que se pretende evitar
conluios em que a revogação prejudicasse terceiros beneficiários como num
seguro de obra obrigatório, mas que esse conluio será menos provável num
seguro de grupo, razão pela qual se torna necessário o consentimento do
segurado120.

12. Denúncia
12.1. O regime da denúncia é entre as formas de cessação das que apresenta
maior complexidade fixando o artigo 112º um regime comum. O nº 1 fixa a regra
geral de que o contrato deve ser denunciado por qualquer das partes para evitar a
prorrogação quando exista renovação automática. Habitualmente os contratos
têm a duração de um ano e se as partes não fixarem prazo também o artigo 40º
determina que o contrato de seguro vigora pelo prazo de um ano. Determinado a
continuidade da relação jurídica o artigo 41º, nº 1, prescreve a renovação
automática dos contratos com prazo de um ano, a não ser que haja disposição
contratual em contrário.
Deste modo, a previsão do nº 2 relativa aos contratos celebrados sem duração
determinada, em que a denúncia é permitida a todo o tempo, serão raros e com
previsível reduzida exequibilidade. Existirá contrato enquanto o mesmo seja útil
às partes, sendo certo que logo que o segurador tenha prejuízo com o contrato o
poderá fazer cessar, desde que respeitados os limites do artigo 114º.
Tal não impede, nos termos do nº 3, que seja ajustado um direito de denúncia
do tomador que lhe seja mais favorável ou que nos seguros de grandes riscos,
conforme prevê o nº 4, a liberdade de denúncia seja livremente ajustada121.

12.2. O artigo 113º rege a situação dos contratos com duração inferior a cinco
anos e com prorrogação automática, cuja liberdade de denúncia não é afetada
pelas limitações previstas no artigo 114º122.
Este último preceito trata dos seguros sem duração determinada e dos seguros
com uma vigência inicial igual ou superior a cinco anos123, não devendo existir
denúncia quando ocorra uma das seguintes situações:
a) a livre desvinculação se oponha à natureza do vínculo ou à finalidade
prosseguida (nº 1, 1ª parte);
b)exista uma atitude abusiva (nº 1, 2ª parte);
c) a natureza do vínculo imponha a manutenção do contrato, como quando o
contrato seja celebrado para perdurar até à verificação de determinado facto, ou
seja, quando haveria possibilidade de ocorrer um sinistro (nº 2)124;
d)a finalidade do contrato pelo contrato inviabilize a denúncia,
nomeadamente nos seguros em que o decurso do tempo agrave o risco (nº 3).

Relativamente às duas primeiras situações poderemos discutir se são


cumulativas por constarem da mesma alínea. Consideramos que valem por si
próprias embora seja abusiva toda a denúncia que não respeite os fins
contratuais. O seu exercício, também nos termos do artigo 334º do Código Civil,
será sempre abusivo quando leve a um desequilíbrio injustificado da posição das
partes.
O artigo 114º, nº 4, dá ainda um auxílio para a interpretação daquilo que se
pode considerar abusivo na denúncia pelo segurador presumindo-se abusiva a
denúncia feita na iminência da verificação do sinistro ou após a verificação de
um facto que possa desencadear uma ou mais situações de responsabilidade do
segurador.
Assim, é essencial que exista boa fé entre as partes evitando-se
comportamentos abusivos lesivos dos interesses presumidos da outra parte.
Refere a este propósito PEDRO PAIS DE VASCONCELOS que «como regra geral
deve entender-se que a parte que pretende denunciar deve fazê-lo de modo a
provocar na outra o menor dano possível. É o princípio geral da boa fé, com
apoio no artigo 762º, nº 2 do Código Civil»125.

12.3. A denúncia para ser feita deve ocorrer também em determinados prazos e
formalidades, prevendo o artigo 115º, nº 1, que a «denúncia deve ser feita por
declaração escrita enviada ao destinatário com uma antecedência mínima de 30
dias relativamente à data da prorrogação do contrato». Este prazo sobe para os
90 dias nos seguros sem duração determinada ou com duração igual ou superior
a cinco anos126.
O mesmo raciocínio quanto aos efeitos deve ser feito caso o segurador
pretenda retirar algumas coberturas a meio do contrato embora este permaneça
válido. Os efeitos da denúncia apenas se repercutem para a prorrogação, situação
em que estaríamos perante uma denúncia parcial, de que falaremos em seguida.
Caso ocorra uma sucessão de sinistros, aí será admissível retirar apenas algumas
coberturas dentro dos condicionalismos previstos no artigo 117º, podendo
também desaparecer as mesmas a meio do contrato por ter-se esgotado o capital
e o mesmo não ter sido reposto.

12.4. Uma nota final para o facto de a denúncia ter sido a forma de cessação com
mais impacto para o consumidor a partir da entrada em vigor do novo RJCS face
ao que estava anteriormente regulamentado127.
As apólices uniformes continham um preceito para a redução e resolução que
referia que «O tomador de seguro pode, a todo o tempo, reduzir ou resolver o
contrato, mediante correio registado, ou por outro meio do qual fique registo
escrito, com a antecedência mínima de 30 dias em relação à data em que a
redução ou resolução produz efeitos»128. Assim, era possível ao tomador, de
forma livre, finalizar o contrato antes do prazo acordado e não apenas marcar o
contrato para não ser objeto de renovação automática.
Embora esta possibilidade, que era dada apenas ao tomador, fosse
configurada como resolução parece-nos que encaixa melhor na figura da
denúncia, nos conceitos adotados pelo RJCS, já que fazendo uso do aviso prévio
fixava a data de fim do contrato tal como acontece atualmente na denúncia em
contratos sem duração determinada (artigo 112º, nº 2, e artigo 115º, nº 2, do
RJCS). Nem tão pouco poderíamos ligar esta anterior previsão com a atual livre
resolução prevista no artigo 118º, a qual tem contornos diferentes relacionados
com o direito de arrependimento a exercer no início do contrato.
Atendendo ao peso que as apólices de seguro automóvel, incêndio e acidentes
de trabalho têm no mercado segurador era natural que existisse uma
uniformização nos clausulados não uniformes com regras semelhantes. Por esta
via, teve que existir alguma adequação dos hábitos dos tomadores de modo a
estarem certos do que contratavam, devido à impossibilidade de se
desvincularem antes do fim do contrato. Há um escape na lei, que analisaremos,
para os seguros previstos no artigo 58º do RJCS ou quando as partes o
convencionem, através do não pagamento de uma fração do prémio (existindo
fracionamento), que leva à cessação antecipada do contrato.

13. A alteração de condições contratuais para a renovação


13.1. O contrato único e a denúncia parcial
A lei não previu com preceito próprio uma situação corrente na prática
seguradora, ou seja, a alteração de condições contratuais para vigorar na
prorrogação do contrato atendendo a que nos termos do artigo 41º, nº 3, do
RJCS, se considera um único contrato aquele que é objeto de prorrogação.
Nesta matéria insere-se tanto a alteração do valor prémio inicialmente
ajustado como a modificação de coberturas, franquias ou qualquer outra
alteração sobre as condições que fazem parte da apólice.
Entendemos que se deverá considerar a existência de uma denúncia parcial às
condições inicialmente contratadas129 para aplicação do regime da denúncia.
VAZ SERRA também se pronunciou sobre a denúncia parcial referindo que se
deve reconhecer «ao devedor o direito de, no caso de denúncia parcial pelo
credor, denunciar toda a obrigação» e, tomando como exemplo a lei prussiana
de 8 de fevereiro de 1811 (a qual admitia a denúncia parcial e visava evitar um
abuso de uma das partes), configura a possibilidade de a outra parte denunciar a
totalidade da obrigação130.
Um contrato de seguro reduzido nas suas coberturas poderá já não ser útil ao
tomador, podendo o mesmo no âmbito do mercado procurar um segurador que
lhe proporcione melhores garantias. Por essa razão, entendemos que quando
exista uma denúncia parcial deva o segurador deixar claro aquilo que é
denunciado, ainda que com uma chamada de atenção para as cláusulas ou
garantias alteradas. Consideramos que tal decorre da intenção do legislador, no
artigo 37º, nº 3, do RJCS, ao obrigar o segurador a colocar na apólice em
carateres destacados e de maior dimensão do que os restantes:
«a) As cláusulas que estabeleçam causas de invalidade, de prorrogação,
de suspensão ou de cessação do contrato por iniciativa de qualquer das
partes;
b) As cláusulas que estabeleçam o âmbito das coberturas,
designadamente a sua exclusão ou limitação;
c) As cláusulas que imponham ao tomador do seguro ou ao beneficiário
deveres de aviso dependentes de prazo».

Entendemos que todas estas situações devem estar destacadas nas denúncias,
mas por razões de respeito pela concorrência deveria existir uniformidade dos
seguradores nesta prática.
Desta forma, a relação entre segurador e tomador será mais transparente,
reforçando a confiança, e apesar de a denúncia ser livre caso seja utilizada
alguma fundamentação tal poderá ajudar à compreensão do tomador com a
consequente manutenção do contrato.
13.2. A denúncia e a proposta de modificação
13.2.1. Quando se altera o valor do prémio ou qualquer outro elemento
contratual está a ocorrer uma denúncia e ao mesmo tempo uma proposta de nova
inserção no contrato, nem que seja de um novo valor de prémio.
PINTO MONTEIRO refere-se a esta situação como uma «denúncia seguida ou
acompanhada de modificação» em que «o contrato só se extingue, por
denúncia, se a modificação não for aceite»131, pressupondo-se uma continuidade
do mesmo contrato e não um novo após uma denúncia que teria produzido
efeitos.
A jurisprudência também se pronuncia sobre o tema, referindo que «a figura
da denúncia-modificação ou denúncia salvo modificação ocorre quando o seu
apresentante tem o direito potestativo de propor ou determinar a alteração do
contrato, sob cláusula, expressa ou tácita, de, no caso de a mesma não ser
aceite pela outra parte, a relação contratual se extinguir»132.
Daqui resultam duas opções para o tomador do seguro ou segurado:
a) aceita a alteração, que não precisa de ser expressa, e há uma continuidade
do contrato na linha do previsto no artigo 41º, nº 3, do RJCS;
b)rejeita a continuidade do contrato com a alteração proposta e disso dá
conhecimento ao segurador, expressamente ou através de comportamento
concludente nesse sentido.

13.2.2. Aqui será também de atender à previsão do artigo 23º, nºs 2 e 3. O


incumprimento de deveres de informação pelo segurador confere o direito de
resolução ao tomador, a ser exercido no prazo de 30 dias a contar da receção da
apólice, o que também entendemos como válido para uma ata adicional com
novas condições contratuais, cujo conteúdo difere do que foi acordado.
No entanto, por uma questão de equilíbrio contratual133 e de o tomador não
dever ficar vinculado àquilo a que não tenha dado o seu acordo. A omissão de
envio de uma comunicação do tomador ao segurador referindo que não deseja a
continuidade do contrato não leva, na nossa opinião, à conclusão de que existe
vinculação. Terão, como veremos, que existir atos expressos ou comportamentos
que demonstrem a aceitação dos novos termos contratuais, pelo que o tomador
não fica vinculado simplesmente porque nada disse após receber as novas
condições. É a interpretação que mais se coaduna com a previsão da Lei nº
24/96, de 31 de julho (LDC), em particular o seu artigo 9º, nº 4, o qual refere que
«O consumidor não fica obrigado ao pagamento de bens ou serviços que não
tenha prévia e expressamente encomendado ou solicitado, ou que não constitua
cumprimento de contrato válido, não lhe cabendo, do mesmo modo, o encargo
da sua devolução ou compensação, nem a responsabilidade pelo risco de
perecimento ou deterioração da coisa».
Por esta via, da mesma forma de que não poderá o segurador considerar
alguém vinculado por simplesmente lhe ter enviado uma proposta à qual não
recebeu resposta também não existe vinculação a uma alteração do contrato sem
que haja alguma manifestação do tomador.

13.3. A alteração do valor do prémio em particular


13.3.1. O prémio é uma das informações principais na contratação do seguro e é
natural que vá tendo alterações ao longo do tempo, sendo uma decorrência,
mesmo que não esteja relacionado com qualquer agravamento134, da atualização
de todos os prémios da carteira de seguros para salvaguardar a sua
sustentabilidade face a diversos custos variáveis como o dos sinistros.
Há também que atender, em termos de relevância, que o valor do prémio é, a
mais das vezes, determinante para a decisão de contratar do tomador do seguro.
Por essa razão, na formação do contrato, o artigo 18º, alínea d) refere que o
tomador deve informar «do valor total do prémio, ou, não sendo possível, do seu
método de cálculo, assim como das modalidades de pagamento de prémio e das
consequências da falta de pagamento». No mesmo sentido, nos termos do artigo
37º, alínea h), o texto da apólice deverá incluir a menção ao prémio ou a fórmula
do respetivo cálculo.
Daí que, para se proceder à alteração de um elemento contratual como o
prémio, que vá além do acordado entre as partes135, se deva proceder a uma
denúncia do que tinha sido inicialmente acordado, que revestirá um âmbito
parcial por ser possível a manutenção do contrato136. O artigo 115º, nº 1, ao
prever que a denúncia deve ser feita com uma antecedência mínima de 30 dias
coaduna-se com o prazo previsto para o aviso de pagamento de prémio previsto
no artigo 60º, nº 1, e no artigo 202º, nº 2137, os quais preveem igualmente 30
dias138 como antecedência mínima para que o segurador avise o tomador do
valor de prémio a pagar.

13.3.2. Ao nível segurador teremos ainda outra situação com especificidades.


Poderá ocorrer uma denúncia parcial referindo que o prémio seria alterado no
seguimento de ajustamento para todos os clientes de modo a garantir a
subsistência financeira do ramo, não sendo seguida na mesma comunicação de
uma proposta com o novo valor.
Aqui surgem alguns aspetos a debater, a saber:
a) se o contrato pode subsistir sem um valor de prémio;
b)a denúncia parcial concretiza-se, ou não, por o segurador referir que o
prémio será superior mas sem o mencionar.

Quanto à primeira situação é impreterível que exista um valor de prémio, já


que nos termos dos artigos 18º, alínea d) e 37º, nº 1, alínea h), faz parte dos
deveres de informação pré-contratuais e contratuais e de acordo com o artigo
27º, nº 3, quando exista silêncio do segurador e o seguro se tenha como
celebrado aplicam-se as condições contratuais e tarifa do segurador em vigor na
data da celebração.
Relativamente à segunda situação fica subjacente uma promessa de proposta
no âmbito da continuidade do mesmo contrato, que para ter efeitos terá que ser
do conhecimento do tomador, já que não poderá pagar um prémio que
desconhece. A partir do momento em que lhe é dado conhecimento do valor do
prémio deve-lhe ser dado um prazo para ponderação. O que levanta mais
problemas é o caso do prémio só ser comunicado com menos de 30 dias
relativamente à data de prorrogação. Aqui outras duas hipóteses se colocam:
a) não sendo respeitado o prazo de 30 dias que permite também ao tomador
denunciar o contrato, este cessa na data de vencimento;
b) entende-se que o tomador não precisa de 30 dias, sendo suficiente por
aplicação analógica os 14 dias139 previstos no artigo 27º, nº 1, situação em que
se aplicaria o artigo 27º, nº 3, com aplicação da tarifa em vigor no segurador.
Entendemos que a primeira hipótese é a mais viável por ser a única que
garante o conhecimento prévio do valor do prémio, que constitui um elemento
essencial para a decisão de contratar.
Mesmo nas situações em que se aplique o artigo 27º, nº 3, já teria que ter
existido, por regra, uma informação sobre o valor do prémio que faz o
proponente entregar a proposta. Caso o valor que lhe seja apresentado seja
diferente poderá fazer uso do artigo 35º para referir que há uma
desconformidade relativamente ao acordado.
Numa renovação, não existindo essa informação prévia, não poderá haver
vinculação. A aplicação da tarifa genérica do segurador precisa antecipadamente
de ser conhecida pelo tomador, para que este possa tomar uma decisão livre e
esclarecida.
Assim, concluímos que a denúncia seguida de modificação por alteração do
prémio através da aplicação da tarifa geral do segurador, que tenha sido
genericamente aumentada, tem de ser comunicada com 30 dias de antecedência
relativamente à data de prorrogação com base no artigo 115º, nº 1.
Se o segurador denuncia totalmente o contrato o legislador dá 30 dias ao
tomador para procurar outro segurador. Por este raciocínio, quando lhe seja
comunicado o novo valor do prémio com o qual não concorda também terá que
dispor de 30 dias para procurar outro segurador. Só com a última comunicação
do segurador ficam completos os deveres de informação.
Caso o segurador não chegue a comunicar outro valor de prémio apenas
poderá vigorar o que esteja comunicado e não alterado, ou seja, o da anuidade
anterior.

13.4. O silêncio e o comportamento de aceitação do novo prémio


Como o contrato não pode, por regra, subsistir sem prémio140, por ser um dos
elementos típicos do contrato (artigo 1º do RJCS) tem que existir um novo valor
do prémio que corresponde a um valor proposto pelo segurador que o tomador
tem a liberdade de não aceitar. A aceitação desse valor passa pelo pagamento do
prémio, já que mesmo quando exista débito bancário já programado tem o
tomador a liberdade de o revogar141.
É um regime diferente do da contratação inicial aquele que se adota para a
renovação em condições diferentes, pois já não se será tão exigente com uma
aceitação inequívoca de vínculo a um contrato em que o suposto tomador
quando recebe a apólice pode declarar que nunca se vinculou ao contrato,
cabendo então ao segurador fazer essa prova142.
O regime do agravamento do risco poderia dar algum apoio nesta matéria já
que prevê o artigo 93º, nº 2, alínea a), que quando o segurador faça proposta de
modificação do contrato, atendendo à alteração do risco, o tomador do seguro
fica vinculado à modificação proposta caso não se oponha no prazo de 30 dias.
No entanto, o silêncio apenas tem efeitos no caso da alteração do risco porque a
lei expressamente o prevê, pelo que sem esse fundamento não seria possível
retirar de forma direta essa conclusão.
Assim, consideramos defensável que para a renovação haverá uma
declaração, que pode ser tácita143, através do pagamento do prémio, que não se
confunde com o silêncio144, já que para este ter valor como meio declarativo terá
que se fundar em lei, uso ou convenção145.
Há que atender, como assinala FERREIRA DE ALMEIDA, que há silêncios que
nada dizem e outros que têm significado, sendo por essa via declarações
tácitas146 que devem garantir «grau suficiente de segurança»147 para as partes.
Neste âmbito consideramos que o pagamento do prémio, seja por uma ação
expressa (por exemplo com pagamento em dinheiro ou por multibanco) ou uma
omissão (por exemplo, permitir que o débito bancário opere na data
comunicada), permite que as partes fundem a convicção de que existe
continuidade no contrato148.
Partindo da definição de «factos concludentes» fornecida por PAULO MOTA
PINTO, os mesmos são «todos aqueles nos quais se possa apoiar uma ilação para
constituir o significado do comportamento sendo este o resultado da ilação»149.
O facto concludente do qual se retira a ilação enquanto declaração de vontade é
o «pagamento de prémio», o qual concretiza e torna comuns os interesses de
ambas partes na continuidade da relação contratual150.
A situação poderia ser mais problemática nas situações em que a falta de
pagamento não leve à resolução do contrato, como habitualmente é o caso dos
seguros de vida anuais renováveis, levando a que toda a alteração do prémio que
não decorra de informação do próprio contrato não seja vinculativa para o
tomador enquanto este não proceder ao pagamento do prémio. No entanto,
quando não esteja prevista contratualmente a resolução automática como
consequência para a falta de pagamento entendemos que existe ainda cobertura
até que haja incumprimento após interpelação para pagamento151.
Deste modo, é sempre necessária, ainda que a posteriori, uma declaração
tácita ou expressa152.

14. A resolução
14.1. Resolução com justa causa
14.4.1. O artigo 116º menciona que o contrato de seguro pode ser resolvido a
todo o tempo pelas partes desde que haja justa causa. Não se concretiza este
último conceito, referindo-se apenas que se processa nos termos gerais, o que faz
com que também possa existir direito a indemnização153.
Tal remissão parece-nos que poderá, em algumas situações, trazer alguma
insegurança154 jurídica por não existir nenhum elenco, pelo menos
exemplificativo155, ou uma sistematização de situações que se enquadram na
justa causa, tal como acontece no Código do Trabalho156.
Segundo BAPTISTA MACHADO «o conceito de “justa causa” é um conceito
indeterminado cuja aplicação exige necessariamente uma apreciação valorativa
do caso concreto. Será uma “justa causa” ou um “fundamento importante”
qualquer circunstância, facto ou situação em face da qual, e segundo a boa fé,
não seja exigível a uma das partes a continuação da relação contratual; todo o
facto capaz de fazer perigar o fim do contrato ou de dificultar a obtenção desse
fim, qualquer conduta que possa fazer desaparecer pressupostos, pessoais ou
reais, essenciais ao desenvolvimento da relação, designadamente qualquer
conduta contrária ao dever de correcção e lealdade (ou ao dever de fidelidade
na relação associativa)»157.
ROMANO MARTINEZ entende que a justa causa está «associada à fundada
perda de confiança»158, devendo a relação de confiança ser apreciada segundo
um juízo de prognose quanto à justificação da subsistência do vínculo contratual,
pelo que a desconfiança terá que ser objetivada e relacionada com a situação
concreta.
Quando se remete para a situação concreta poderá estar em causa um
conjunto de incumprimentos, ou seja, terá que se observar a relação contratual
no seu todo. Nos seguros, dependendo da tipologia em causa e periodicidade de
sinistros poderemos ter duas hipóteses, a saber:
a) um incumprimento, por exemplo na regularização de um sinistro com
fraude ou excessivamente prolongada (cuja verificação é rara ou poderá até
nunca ocorrer), poderá ser determinante para afetar a confiança de uma parte
relativamente à outra;
b)vários pequenos incumprimentos, por exemplo com sinistros de reembolsos
de consultas médicas no âmbito do seguro de saúde, constituem um histórico em
que um único incumprimento se dissipa após vários cumprimentos pontuais do
contrato e que ajudaram a fundar a confiança das partes.

Assim, se estiver em causa um seguro típico de sinistros sucessivos159 a


apreciação dos incumprimentos do segurador terá que ser mais global do que
num seguro cuja sinistralidade se antevê rara ou nula.
Como refere ainda BAPTISTA MACHADO há que verificar se um
inadimplemento coloca em causa a confiança no fiel cumprimento futuro das
prestações e se poderá originar um justo receio quanto ao mesmo160.
De todo o modo, mesmo não existindo qualquer elenco de situações
exemplificativas que facilitem a identificação do que pode ser invocado como
causa para solicitar a resolução, entendemos que existe um exercício vinculado
legal ou convencional que determina a existência de alguns limites no exercício
do direito de resolução, a saber:
a) legal, através do incumprimento de alguma regra relacionada com os
deveres de informação e regularização de sinistros que constam em vários
preceitos do RJCS que levem à quebra de confiança, sendo certo que a gravidade
terá que ser apreciada caso a caso, mas há situações em que o seu preenchimento
permite a resolução imediata (v.g. artigo 34º, nº 6, do RJCS);
b) convencional, se as partes acordarem previamente que determinados
incumprimentos constituem justa causa que poderá ser invocada, enquanto mera
possibilidade por uma das partes, sem prejuízo de também acordarem cláusulas
resolutivas objetivamente verificáveis (v.g. incumprimento de um prazo
acordado para o segurador regularizar um sinistro).

Assim, poderemos considerar que embora a resolução por justa causa seja um
exercício livre, sujeito à ponderação dos factos e à confiança afetada, poderá ter
um exercício tendencialmente vinculado ao incumprimento161 de alguma das
disposições previstas na lei162 ou no contrato163.
Sobre esta matéria já nos tínhamos pronunciado referindo que «o
incumprimento das condições contratuais por parte do segurador quando
possam colocar em causa a utilidade do próprio contrato164, dependendo da
situação concreta, poderá constituir justa causa para a resolução, mas não
sendo essa uma situação aceite pelo segurador, o tomador só conseguirá o
estorno do prémio já pago através da utilização das vias judiciais ou instâncias
de resolução alternativa de litígios, como é o caso dos Julgados de Paz»165.
Tal como referimos, em termos de equilíbrio entre as partes parece-nos que o
conceito de justa causa não terá sido a área em que a lei mais pautou a proteção
do tomador, pois se a justa causa for invocada pelo segurador, este deixa de
prestar as garantias do contrato, mas se for invocada pelo tomador, como o
prémio nos seguros é em regra pago antecipadamente, apenas pode solicitar o
estorno do prémio, que será ou não processado, dependendo do juízo efetuado
pelo segurador. Assim, em situações de discordância relativamente à existência
de justa causa o tomador fica numa posição mais débil166.
No entanto, esta é uma debilidade que decorre da própria natureza dos
seguros e do princípio no premium no risk, que apenas se antevê que pudesse ser
atenuada através da previsão de critérios objetivos que são sempre de difícil
concretização devido à prova que deve ser produzida e apreciada em cada
situação concreta e que poderá gerar consenso entre as partes.
Da parte do tomador, quando estejam em causa valores de prémio pouco
elevados, não se justificará a interposição de ações judiciais ou arbitrais167 para
recuperar o estorno a que teria direito. Nestas situações, o fracionamento do
prémio nos termos do artigo 61º, nº 3, alínea a), será mais vantajoso para o
tomador, já que a falta de pagamento determina a resolução automática do
contrato.

14.4.2. Quanto à forma e prazo para exercício da resolução com justa causa, não
existindo previsão específica e mencionando o artigo 116º que o contrato pode
ser resolvido «nos termos gerais» então entendemos que será de acolher, tal
como anteriormente abordámos a propósito da resolução no Código Civil, o
regime incorporado no seu artigo 436º.
A resolução pode fazer-se mediante declaração enviada à outra parte (artigo
436º, nº 1), embora de acordo com uma interpretação atualista e adequada ao
RJCS, entendamos que poderá ser utilizado qualquer meio do qual fique registo
ou «suporte duradouro»168. Nos seguros obrigatórios regulamentados pelo
Instituto de Seguros de Portugal, que deram origem à aprovação de condições
uniformes, a solução passou por ser prevista a obrigatoriedade de ser enviada
uma carta registada à outra parte, devendo essa carta prever um prazo razoável
de dilação de eficácia da declaração de resolução do contrato169.
Não havendo prazo estabelecido no contrato, pode a outra parte fixar ao
titular do direito de resolução um prazo razoável para que o exerça170, sob pena
de caducidade (art. 436º, nº 2, do CC). Atendendo a que o artigo 117º, nº 4, fixa
o prazo de 30 dias para o seu exercício no âmbito da sucessão de sinistros, esse
poderá ser o prazo razoável que o legislador entendeu que poderá ser adequado.
Inexistindo exercício do direito de resolução da parte que tivesse fundamento
para a exercer e existindo comportamentos das partes, como o pagamento do
prémio pelo tomador e a sua aceitação pelo segurador sem colocar objeções,
então as partes podem ter a convicção de que o contrato se manteve válido e em
execução. A este propósito refere ROMANO MARTINEZ que «quando a parte que
pode resolver o contrato não exerce esse direito e a contraparte, legitimamente,
confia na manutenção do vínculo, o exercício do direito de resolver o contrato
pode constituir um «venire contra factum proprium», sendo, então, ilícito por
constituir abuso de direito»171.
14.4.3. Por fim, a lei não esclarece quais os efeitos relativamente ao prémio
quando tenha existido resolução com justa causa, admitindo-se que o estorno do
prémio pro rata temporis poderá não reconstituir o equilíbrio contratual e que tal
princípio poderá não ser aplicável aos seguros de vida, às operações de
capitalização e aos seguros de doença de longa duração172.
Estão aqui em causa duas situações, a saber:
a) o direito ao prémio total quando haja resolução por iniciativa do segurador;
b)o direito ao estorno de todo o prémio, caso não se pudesse retirar do caso
concreto a cobertura do risco em momento anterior à resolução.

O legislador tende a compensar a parte que tenha estado de boa fé quando a


outra usou de dolo para a prejudicar. É o que decorre do artigo 25º, nºs 4 e 5, do
RJCS. O nº 4 dá direito ao segurador a receber o prémio até ao final do prazo de
três meses após o conhecimento do incumprimento doloso do tomador a não ser
que tenha concorrido com dolo ou negligência grosseira. Por sua vez o nº 5 é
claro ao referir que «em caso de dolo do tomador do seguro ou do segurado com
o propósito de obter uma vantagem, o prémio é devido até ao termo do
contrato»173.
O artigo 21º do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto, a propósito da
alienação de veículo também permite ao segurador ficar com o prémio até ao
final da anuidade se o titular da apólice não informar a empresa de seguros no
prazo de 24 horas que alienou o veículo, apesar de não estar a cobrir qualquer
risco por o contrato já ter cessado.
Por esta ordem de ideias seria uma solução equilibrada, por um lado, a
resolução com justa causa fundamentar o pagamento do prémio total ao
segurador, por exemplo depois de uma tentativa de fraude do tomador, que sendo
pago em antecipação não devolverá174. Por outro lado, o tomador poderá ter
direito ao estorno do prémio total que tenha pago caso o segurador tenha tido um
comportamento equivalente. De qualquer forma, será sempre necessário fazer
uma análise de cada caso, sendo que apenas para proteção do segurador parecem
existir algumas previsões legais, de que nos poderemos socorrer por analogia,
enquanto para o tomador torna-se mais viável socorrer-se do regime geral da
responsabilidade civil para se ressarcir dos danos que tenha tido.

14.2. A resolução após sinistro


O artigo 117º trata da matéria da resolução após sinistro175, a qual corresponde a
um benefício176 para o segurador de modo a mitigar o risco de um contrato em
que já estaria a ter prejuízo177. Caso o prejuízo decorra da regularização do
próprio sinistro por participação tardia, o artigo 101º prevê a perda de cobertura,
o que pode significar uma redução do contrato, caso ainda permaneçam
coberturas, ou uma extinção do mesmo caso o segurador resolva o contrato com
justa causa devido ao dolo e danos provocados.
Pela regra de quem pode o mais pode o menos, admitimos que em vez de o
segurador proceder à resolução do contrato possa ser previamente acordada
solução diferente que leve à modificação do contrato com contrapartidas mais
ajustadas ao risco em causa, o que poderá significar um aumento do prémio ou
serem retiradas coberturas, nomeadamente as que tenham sido objeto de
sinistro178.
O nº 1 do artigo 117º enuncia a possibilidade contratual de as partes
acordarem resolver o contrato após uma sucessão de sinistros, referindo o nº 2
que existe presunção de sucessão de sinistros «quando ocorram dois sinistros
num período de 12 meses ou, sendo o contrato anual, no decurso da anuidade».
Podem ainda as partes ajustar outra regra, que a lei trata como «regime
especial», que atenda à modalidade de seguro e que seja mais adequada à
situação concreta.
Sendo uma faculdade para o segurador, nos termos do nº 4 do mesmo artigo
não tem eficácia retroativa e deve ser exercida, por declaração escrita, no prazo
de 30 dias após o pagamento ou a recusa de pagamento do sinistro.
Daqui retiramos duas conclusões, a saber:
a) através da contagem de prazo desde a recusa de sinistro retira-se que não é
necessário que tenham sido sempre acionadas as mesmas coberturas do contrato,
para as quais podem existir franquias que levem a recusas de pagamento;
b)sendo a resolução exercida e ajustada contratualmente, pode estar prevista
uma forma de produção de efeitos diferente, mas que na nossa opinião não pode
contrariar o conteúdo do referido nº 4.

Apesar do nº 4 não fazer parte do elenco de normas imperativas, absolutas ou


relativas referidas respetivamente nos artigos 12º e 13º, contém uma regra que só
faz sentido se for obrigatória. Por essa via, se houver uma alteração de prazo
para comunicar a resolução em benefício do tomador não nos parece que seja
desrespeitado o regime legal.
No entanto, das disposições absolutamente imperativas consta o nº 3, o qual
restringe o âmbito de aplicação do preceito referindo as exceções de aplicação
deste tipo de resolução. Não estão abrangidos os seguros de vida, de saúde, de
crédito e caução, bem como os seguros obrigatórios de responsabilidade civil,
como é o caso do seguro automóvel179.
Tais exclusões compreendem-se devido ao facto de existir uma superior
proteção que deve ser preservada nos seguros de vida e saúde em que o regime
do agravamento do risco não se aplica por efeitos dos artigos 190º e 215º, alínea
a), respetivamente. Assim, também não poderia ser permitida a resolução após
sucessão de sinistro sob pena de desvirtuar a uniformidade das soluções do
RJCS.
Quanto aos outros seguros estão em causa beneficiários ou terceiros lesados
que não podem ser afetados por ajustes contratuais que desvirtuem a função do
próprio seguro.
O nº 5 do artigo 117º, por exclusão de partes, vem referir que «as limitações
previstas no presente artigo não se aplicam aos seguros de grandes riscos».
Atendendo a que os seguros referidos no nº 3 não se inserem nos grandes
riscos o nº 5 aparenta ser desnecessário180, já que o artigo 117º é-lhes aplicável e
se excluirmos as limitações então este número remeterá apenas para a liberdade
contratual que o artigo 11º já fixa como regra.
Com fundamento na ocorrência de um ou mais sinistros, tem relevância a
matéria da redução de cobertura após o sinistro por ter sido consumido parte do
capital seguro, que se correspondesse à totalidade do capital seguro levaria à
caducidade nos termos do artigo 110º, nº 1, do RJCS. Passa a existir um contrato
diferente enquanto não for reposto o capital se o contrato o permitir ou se o
segurador o aceitar.

14.3. A livre resolução


14.3.1. O artigo 118º elenca um conjunto de situações para as quais não é
necessária a invocação de justa causa e que correspondem ao direito de
arrependimento que já abordámos181. Prevê igualmente alguns procedimentos,
efeitos e exclusões de aplicação que iremos analisar. Refere o nº 1 que o tomador
do seguro, sendo pessoa singular, pode resolver o contrato sem invocar justa
causa nas seguintes situações: a) nos contratos de seguro de vida, de acidentes
pessoais e de saúde com uma duração igual ou superior a seis meses, nos 30 dias
imediatos à data da receção da apólice;uros qualificados como instrumentos de
captação de aforro estruturados, nos 30 dias imediatos à data da receção da
apólice; c) nos contratos de seguro celebrados à distância, não previstos nas
alíneas anteriores, nos 14 dias imediatos à data da receção da apólice.
Faz-se, por um lado, a distinção entre tipologias de seguro e a via de
comercialização e, por outro lado, menciona-se antecipadamente que apenas se
aplica aos casos em que o tomador do seguro é uma pessoa singular e é o mesmo
a exercer o direito de resolução.
A livre resolução na sua natureza não deve nem pretende tornar a relação
contratual desequilibrada, pelo que é apenas de admitir em situações
devidamente ponderadas pelo legislador em que o consumidor esteja um pouco
mais desprotegido atendendo à complexidade dos seguros e à forma de
comercialização. Seguros em que existam clausulados uniformes, cujas práticas
sejam conhecidas e contratadas em massa, têm outro nível de proteção e
informação. Assim, perde força para no futuro, por via de alteração legislativa,
ser possibilitada a livre resolução pelo tomador para todos os tipos de seguros.
Deste modo, há uma restrição quanto aos seguros abrangidos – que
correspondem aos mencionados na alínea a) –, ou seja, os de vida, acidentes
pessoais e de saúde182, em que se exige que tenham duração superior a seis
meses, o que normalmente é a prática do mercado. Os artigos 40º e 41º têm
disposições supletivas no sentido de que, se as partes nada estipularem, o prazo
do contrato será de um ano sucessivamente prorrogável.
No caso referido na alínea b) dos seguros qualificados como instrumentos de
captação de aforro estruturados, apenas existe a particularidade de não se aplicar
a restrição da duração superior a seis meses por serem produtos tipicamente de
investimento a médio e longo prazo. De resto são seguros enquadrados no ramo
«Vida», no artigo 124º do RGAS, e não seria necessário fazer outra distinção
relativamente aos seguros de vida mencionados na alínea a).
Já o revogado183 artigo 182º do RGAS fazia referência ao direito de
renúncia184 em termos semelhantes ao agora denominado direito de livre
resolução, incluindo todos os seguros do ramo «Vida»185.
Neste sentido a regra será a abrangência para essa tipologia de seguros, mas
haverá casos, principalmente em seguros de acidentes pessoais associados a
outras aquisições, como, por exemplo, a uma viagem, em que o período de
cobertura fica normalmente reduzido e proporcional a essa deslocação.
Por essa razão, refere o nº 4 deste preceito em análise que o contrato de
seguro celebrado à distância não se aplica a seguros com prazo de duração
inferior a um mês, nem aos seguros de viagem ou de bagagem.
A lei exclui também, no seu artigo 118º, nº 3, a aplicação da alínea a) aos
segurados dos seguros de grupo, cremos apenas por razões de clareza. Referindo
o nº 1 que a faculdade de exercer a resolução do contrato aplica-se ao tomador
do seguro pessoa singular, então estarão a excluir-se duas eventuais tipologias de
partes dos contratos de seguro, a saber:
a) os tomadores pessoas coletivas;
b)os segurados, sejam singulares ou coletivos.

Conclui-se, então, que o corpo do texto do nº 1 já de si exclui os seguros de


grupo às três alíneas e não apenas à alínea a).
Quanto aos contratos de seguro comercializados à distância referidos na
alínea c) do nº 1 a sua previsão é concordante com o disposto nos artigos 19º e
20º do Decreto-Lei nº 95/2006, de 29 de maio (com as correspondentes
alterações), em que também está previsto um direito de livre resolução com o
prazo de 14 dias exceto para contratos de seguro de vida e relativos à adesão
individual a fundos de pensões abertos, em que o prazo é de 30 dias.
O artigo 23º tem ainda uma previsão cujo teor consideramos que tem uma
aplicação genérica, respeitante à «caducidade pelo não exercício» e referindo
que «o direito de livre resolução caduca quando o contrato tiver sido
integralmente cumprido, a pedido expresso do consumidor, antes de esgotado o
prazo para o respectivo exercício».
Aqui poderemos incluir o pagamento de um sinistro participado no âmbito de
um contrato de seguro celebrado à distância. O segurador com o pagamento do
capital máximo de um contrato num seguro de danos, em que seja necessário
repor o capital, cumpriu integralmente o contrato.
Haverá ainda casos, como nos seguros automóveis comercializados à
distância em que o segurador já facultou os documentos de prova do seguro para
que veículo possa circular, situação em que poderia haver um comportamento
abusivo do tomador do seguro ao alegar o direito de livre resolução
simplesmente para poupar o valor do prémio dos 14 dias.
Neste caso prevê o artigo 25º com a epígrafe «início da execução do contrato
no prazo de livre resolução» que apesar de a regra prevista no seu nº 1 ser a não
obrigação de pagamento antes do termo do prazo de livre resolução, excetuam-se
os casos em que o consumidor tenha pedido o início da execução do contrato
antes do termo do prazo de livre resolução186.
Como o prémio, por regra, é pago antecipadamente colocar-se-ia a questão se
poderia haver direito ao estorno, o que pelo exposto não seria possível por já ter
existido execução do contrato e correspondente cobertura de risco.

14.3.2. O artigo 118º, no seu nº 2, tenta ainda clarificar o momento a partir do


qual se começa a contar o prazo para o exercício da livre resolução.
Segundo esta disposição o início da contagem inicia-se a partir da «data da
celebração, desde que o tomador disponha, em papel ou noutro suporte
duradouro187, de todas as informações relevantes sobre o seguro que tenham de
constar da apólice».
A regra, frise-se, é a de que o prazo começa a contar a partir do momento em
que seja recebida a apólice (ou seja, condições gerais, particulares e especiais
que sejam aplicáveis), mas o nº 2 admite que possa existir documentação
entregue que tenha todas as informações relevantes e possa antecipar o momento
a partir do qual se começa a contar o prazo para exercício do direito de livre
resolução.
Ficam, ainda assim, em aberto alguns aspetos que importam analisar, a saber:
I. o dia preciso do início da contagem, ou seja, se o dia de início da contagem
é o dia da celebração do contrato ou o dia seguinte, o mesmo se referindo para a
entrega das informações relevantes desde que posteriores à celebração do
contrato ;
II. o conteúdo útil da expressão «informações relevantes»;
III. a hipótese do requisito das «informações relevantes» poder ficar
preenchida através da menção constante na proposta de que o segurador prestou
as informações necessárias tendo por base o
artigo 21º, nº 5;
IV. a contagem do prazo quando tenha existido silêncio do segurador.

I. O início da contagem dos prazos


Os prazos consagrados no RJCS tal como na generalidade da lei são de caráter
civil, pelo que se contam corridos e não em dias úteis, a não ser que a própria lei
o determine ou estejamos perante legislação de caráter administrativo188.
O princípio que decorre do Código Civil, nos termos do artigo 279º, alínea c),
é o de que «na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o
prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o evento começa a
correr»189.
Assim, o prazo conta-se a partir do dia seguinte ao da receção das
informações relevantes em papel ou noutro suporte duradouro,
concomitantemente ou não com a celebração do contrato.

II. A expressão «informações relevantes»


Atendendo a que não se faz menção de que o prazo se inicia com a entrega da
apólice mas sim com a entrega de informações relevantes que tenham que
constar da apólice, então as duas figuras podem ser diferentes. Possibilita-se a
existência de dois documentos diferentes, mas caso a apólice seja entregue
naturalmente que esta substitui qualquer outro documento menos completo.
Recorde-se, de todo o modo, que nos termos do artigo 34º, nº 1, «a apólice
deve ser entregue ao tomador do seguro aquando da celebração do contrato ou
ser-lhe enviada no prazo de 14 dias nos seguros de massa, salvo se houver
motivo justificado, ou no prazo que seja acordado nos seguros de grandes
riscos»190.
Assim, não estaremos perante um hiato de tempo que justifique a entrega de
outro documento que não a própria apólice. Os requisitos mínimos obrigatórios
constam no artigo 37º, nº 2, e são estes que entendemos como relevantes, já que
não podem ser dispensados.
Os elementos referentes à identificação das partes mencionados no artigo 37º,
nº 2, alínea b), constam tipicamente das condições particulares e estas
normalmente apenas são emitidas posteriormente à celebração do contrato com
base na proposta entregue. Por esta via haverá algumas dificuldades em entregar
em papel ou noutro suporte duradouro informação que vá além das condições
gerais e em alguns casos às condições especiais.
Por esta ordem de razões, é essencial que sejam sempre disponibilizados, em
papel ou noutro suporte duradouro, o conteúdo das informações previstas no
artigo 37º, nº 2, do RJCS.

III. As informações prestadas no momento da assinatura da proposta191


Cabe ainda analisar em que medida as informações prestadas ao tomador antes
da sua vinculação, previstas no artigo 21º do RJCS, podem preencher o requisito
da prestação das informações relevantes. O artigo 21º, nº 1, refere que as
informações referidas nos artigos anteriores, onde se incluem as obrigações de
informação pré-contratual previstas no artigo 18º, devem ser prestadas de forma
clara, por escrito e em língua portuguesa, antes de o tomador do seguro se
vincular. Acrescenta ainda o nº 5 do mesmo artigo que a proposta deve conter
uma menção comprovativa de que tomador recebeu as informações devidas192.
O conteúdo das informações referidas no artigo 18º, atendendo a que não é
suposto terem um nível de detalhe igual ao da apólice, é necessariamente mais
reduzido do que as obrigações de informação constante na apólice conforme
dispõe o artigo 37º.
Desta forma, conclui-se que mesmo a documentação entregue antes da
contratação, que apenas cumpra artigo 18º, poderá não ser suficiente para que se
considere que o prazo para início do exercício da livre resolução se conta a partir
da data da celebração do contrato, pois será necessário que a documentação
entregue respeite os requisitos mínimos do artigo 37º.

IV. A contagem do prazo quando tenha existido silêncio do segurador


Existe ainda mais uma situação que poderá causar algumas dúvidas e que
importa determinar o seu momento exato, ou seja, o momento a partir do qual
podemos considerar que existiu celebração do contrato.
Refere o artigo 232º do Código Civil que «o contrato não fica concluído
enquanto as partes não houverem acordado em todas as cláusulas sobre as
quais qualquer delas tenha julgado necessário o acordo»193.
O contrato de seguro tem o seu conteúdo típico mencionado no artigo 1º do
RJCS e daí se retira a necessidade das obrigações derivarem de acordo, o que
pressupõe a manifestação de vontade de ambas as partes para que de um lado
haja cobertura do risco e do outro lado haja pagamento do prémio.
Na comercialização à distância, atendendo a que prova da consensualidade do
negócio coloca maiores riscos, dispõe o artigo 10º, nº 1, do Decreto-Lei nº
95/2006, de 29 de maio, que «a prova do cumprimento da obrigação de
informação ao consumidor, assim como do consentimento deste em relação à
celebração do contrato e, sendo caso disso, à sua execução, compete ao
prestador».
Há situações em que o RJCS admite que o segurador se vincule apenas pelo
silêncio194. Resulta do artigo 27º, nº 1, que «o contrato de seguro individual em
que o tomador do seguro seja uma pessoa singular tem-se concluído nos termos
propostos em caso de silêncio do segurador durante 14 dias contados da
recepção da proposta»195196.
Assim, colocam-se as seguintes hipóteses interpretativas, a saber:
a) resulta de alguma documentação entregue que houve aceitação do negócio
da parte do segurador no final da negociação ou no próprio dia – situação em
que o primeiro dia do prazo para resolução será no dia seguinte;
b)na comercialização à distância entende-se que existe vínculo quando o
segurador recolhe a aceitação do tomador, desde que cumpridos todos os
procedimentos, atendendo a que habitualmente não existe proposta em papel e a
vinculação ocorre à distância – situação em que o contrato se completa com a
aceitação do tomador e o prazo também se inicia no dia seguinte;
c) segurador recebe a proposta mas não fornece qualquer documento que
indique ter existido uma aceitação imediata da contratação – situação em que
será de aplicar o artigo 27º, pelo que será necessário aguardar o decurso de 14
dias, desde que cumpridos os requisitos desses preceitos.

Em qualquer das situações é necessário que o tomador esteja na posse das


informações relevantes em papel ou noutro suporte duradouro. Partindo-se desse
pressuposto, as duas primeiras situações não levantam problemas atendendo a
que são imediatas, mas na última existe na prática um alongar do prazo para
resolução.
O tomador fazendo a sua reflexão pode transmitir ao segurador que pretende
a resolução do contrato ainda antes da aceitação pelo segurador e quando ocorra
a aceitação terá ainda o prazo fixado no artigo 118º.

14.3.3. Por fim, iremos abordar os procedimentos e efeitos da livre resolução.


Quanto a procedimentos, nos termos do nº 5, é necessário que o pedido seja
feito por escrito ou outro meio duradouro disponível e acessível ao segurador.
Por esta via, tendo o segurador que ficar com um meio de prova do pedido,
também o tomador se deve munir de prova do envio197, sob pena de o segurador
negar a receção e não ter forma de fazer prova do pedido dentro dos prazos. Nas
contratações à distância, nomeadamente a telefónica, será mais complicado para
o tomador ficar com prova do exercício da livre resolução a não ser que solicite
o acesso à gravação198 caso a mesma exista199.
Sendo o contacto telefónico feito com um call center deve-se atender às
disposições do Decreto-Lei nº 134/2009, de 2 de junho, dispondo o artigo 6º, no
seu nº 6, que nos serviços de atendimento relativo a serviços de execução
continuada ou periódica, como é o caso de um contrato de seguro, do menu de
opções telefónicas «deve constar uma opção relativa ao cancelamento do
serviço, que permita ao consumidor ou ao utente, consoante o caso, proceder ao
cancelamento do serviço ou obter informação quanto aos procedimentos a
adoptar para tal».
Para efeitos de prova dispõe ainda o nº 7 do mesmo preceito que «quando
ocorra um pedido de cancelamento do serviço, o profissional deve enviar ao
consumidor ou ao utente a confirmação do cancelamento, através de um suporte
durável, no prazo máximo de três dias úteis»200.
Relativamente aos efeitos da resolução dispõe o artigo 118º, nºs 6 e 7, que
analisaremos de seguida.
A resolução tem efeito retroativo, ou seja, tem efeitos desde o início da
vigência do contrato de seguro, o que não impede que o contrato tenha
produzido efeitos com a inerente cobertura de riscos e existência de despesas por
parte do segurador. Este, estando de boa fé, deve ser compensado dos gastos que
tenha tido devido à contratação.
Assim, o segurador tem direito ao prémio de forma proporcional ao risco que
tenha coberto, aplicando-se o cálculo do pro rata temporis [artigo 118º, nº 6,
alínea a)]; às despesas com exames médicos, desde que tal resulte do contrato
[alínea b), do mesmo artigo]201; e aos custos de desinvestimento que
comprovadamente tenha feito [alínea c)]202.
O artigo 118º, nº 7, exceciona o nº 6 referindo que o segurador não tem
direito às prestações em caso de livre resolução de contrato de seguro celebrado
à distância a não ser que a cobertura se tivesse iniciado a pedido do tomador do
seguro203.
Tal decorre da incorporação de texto concordante com os princípios
decorrentes da Diretiva 2002/65/CE, de 23 de setembro de 2002, relativa à
comercialização à distância de serviços financeiros prestados a consumidores,
através do seu artigo 6º, nº 2, alínea c)204, e do Decreto-Lei nº 95/2006, de 29 de
maio, no seu artigo 25º, nº 2205.
Desta forma, ficam salvaguardadas as situações como a do seguro automóvel
em que existindo comercialização à distância o tomador solicita o início para
uma determinada data, normalmente o próprio dia em caso de aquisição de
viatura, e o segurador logo disponibiliza os documentos comprovativos de
seguro206.

14.4. Resolução ou modificação dos contratos por alteração das


circunstâncias – em especial a diminuição e agravamento do risco
Como já fizemos referência, uma das formas de resolução constantes no Código
Civil é a prevista no artigo 437º207, a qual pode também determinar a
modificação do contrato segundo juízos de equidade e justifica-se pela perda de
equilíbrio contratual.
Embora o RJCS não faça menção expressa a essa figura há alterações do
contrato, com origem em eventos externos ao mesmo e não derivadas de
qualquer incumprimento contratual, que nos levam a considerar a existência de
alterações que:
• não afetam a normal relação de avaliação do risco208, como a atualização do
capital seguro para ficar conforme com o valor do bem seguro;
• afetam a estrutura do contrato devido ao desequilíbrio que se instala entre as
partes.

Sem prejuízo das situações que levam à nulidade ou caducidade do contrato,


que já abordámos a propósito dessas figuras, para esta última situação elencada o
RJCS refere-se à diminuição e ao agravamento do risco209. O artigo 92º, nº 1,
atendendo a que o prémio deve ser ajustado à diminuição de risco leva a que se a
diminuição do risco for total deixa de haver prémio e por inerência contrato. Há
uma nulidade por falta de interesse (artigo 43º, nº 1, do RJCS).
O nº 2 do artigo 92º prevê que caso ainda haja risco, na falta de acordo
relativamente ao novo prémio o tomador do seguro pode resolver o contrato.
Não é fornecido um prazo para o fazer e dependendo do tipo de contrato pode
não conseguir resolver de imediato através da falta de pagamento do prémio210.
Apenas existem prazos para o agravamento do risco (artigo 93º, nº 2).
Diremos que, por analogia com o prazo previsto nos artigos 27º e 34º, o
segurador terá 14 dias (no artigo 93º, nº 1, também se prevê um prazo de 14 dias
em caso de alteração contratual na execução do contrato) para reagir a uma nova
situação contratual em que o risco é inferior e que corresponde a uma proposta
que é feita, pelo que em caso de silêncio funcionará a tarifa geral do segurador.
O segurador enviando ata adicional com o novo prémio, como é suposto
ocorrer, entendemos que por aplicação analógica do previsto nos artigos 23º, nº
3, e 35º211 o tomador tem 30 dias para resolver o contrato. Esse é também o
prazo de aviso para pagamento que consta no artigo 60º, nº 1.
No fundo é o mesmo prazo de que o segurador se pode socorrer para resolver
o contrato quando ocorra o agravamento do risco por via do artigo 93º, nº 2,
alínea b). O segurador pode resolver o contrato se demonstrar que não celebra
contratos para os riscos agravados em causa. O raciocínio é o mesmo do artigo
26º, nº 4, alínea b).

14.5. A resolução por falta de pagamento do prémio


14.5.1. O artigo 61º relativo à falta de pagamento212 tem o seu âmbito de
aplicação delimitado no artigo 58º, não se aplicando, por regra, aos seguros de
vida, aos seguros de colheitas e pecuário, aos seguros mútuos em que o prémio
seja pago com o produto de receitas e aos seguros de cobertura de grandes
riscos213. Os seguros de grupo acolhem as mesmas regras por força do artigo
80º, nº 2.
O artigo 61º, nº 1, prevê a resolução automática214 por falta de pagamento do
prémio inicial, situação que faz com que o contrato nem chegue a produzir
efeitos e que deverá ser coordenada com a previsão do artigo 59º de que a
cobertura depende do pagamento prévio do prémio, o qual também deve por
regra ser pago na data de celebração (artigo
53º, nº 1).
A lei utiliza a expressão «resolução automática», mas a sua utilização não é
pacífica na doutrina. MARGARIDA LIMA REGO entende que a terminologia não
será a mais correta concebendo a faculdade de o tomador não pagar o prémio
como um direito potestativo. Deste modo, entende ser preferível «falar-se em
desistência ou em oposição à renovação, visto que, caso o tomador queira
desistir do contrato de seguro, ou não pretenda a sua renovação, é este o modo
que a lei estabelece para que ponha em prática, voluntariamente, a
cessação»215.
Temos um entendimento diferente sobre esta configuração. Consideramos
que a resolução automática se trata de uma figura próxima da resolução com
justa causa e não da desistência ou oposição à renovação, que como vimos se
integram no conceito de denúncia. Esta, nos termos do RJCS, exige sempre uma
declaração escrita expressa em que uma das partes informa que não pretende a
renovação.
O não pagamento do prémio, mesmo sendo livre e não comportando qualquer
sanção para o tomador, não deixa de ser um incumprimento do contrato face às
obrigações que as partes assumiram inicialmente. O que a lei faz é dispensar o
segurador de remeter comunicação referindo que considera o contrato resolvido
por falta de pagamento.
No entanto, admitimos que na prática esta solução legal seja utilizada
enquanto faculdade do tomador ou segurado para se desvincular das obrigações
assumidas durante a execução do contrato, sem que daí se retire qualquer
valoração negativa pelo comportamento adotado, o qual, aliás, já se enraizou na
prática do mercado segurador216. Transforma-se assim tal procedimento num
direito potestativo do tomador ou segurado sob as vestes da legalidade.
O artigo 61º, nº 2, prevê que o não pagamento na renovação impede a
prorrogação do contrato, não fixando o efeito como de resolução. Esta expressão
de «impede a prorrogação» equivale a dizer que o contrato se extingue por
caducidade, já que a renovação automática, para os seguros abrangidos, está
dependente do pagamento do prémio.
Por sua vez o nº 3 do mesmo preceito, prevê a resolução automática por não
pagamento de:
a) uma fração no decurso da anuidade;
b)um prémio de acerto ou parte do prémio variável;
c) um prémio adicional resultante de uma modificação do contrato.

Relativamente à última situação, o nº 4 distingue duas hipóteses em caso de


não pagamento, ou seja, a ineficácia da alteração se o contrato no seu todo puder
subsistir e a resolução na data de vencimento do prémio, caso o contrato apenas
pudesse subsistir com a alteração.
Em conclusão, as previsões de resolução automática previstas no nºs 1 e 3
derivam de o tomador ter-se vinculado a uma obrigação que não chega a
cumprir. Por sua vez, o nº 2 prevê a caducidade do contrato devido ao não
pagamento do prémio, porque era este que poderia ativar a renovação
automática, ou seja, não existe incumprimento. O legislador apenas conclui que
o tomador pretende renovar através do ato de pagamento do prémio.

14.5.2. Cabe, ainda, pela sua relevância fazer menção ao regime da falta de
pagamento nos seguros de vida217, não decorrendo do RJCS que deva existir
resolução automática por falta de pagamento nem que a validade do seguro
dependa do pagamento do prémio218.
O artigo 203º quanto à falta de pagamento do prémio nos seguros de vida,
coloca o enfoque naquilo que seja acordado entre as partes.
Refere o nº 1 deste preceito que «a falta de pagamento do prémio na data de
vencimento confere ao segurador consoante a situação e o convencionado, o
direito à resolução do contrato, com o consequente resgate obrigatório, o direito
à redução do contrato ou à transformação do seguro num contrato sem prémio».
Aqui a resolução do contrato consta como um direito cujo exercício é uma mera
possibilidade para o segurador, parecendo poder admitir-se, ainda que não seja
claro219, que apenas terá efeitos automáticos caso o contrato o preveja, o que não
é habitual.
A prática seguradora enraizou-se no revogado artigo 33º do Decreto de 1907,
de 21 de outubro, que esteve em vigor até ao final de 2008. Dispunha este
preceito que «O contrato de seguro de vidas somente poderá considerar-se
insubsistente por falta de pagamento do prémio quando o segurado, depois de
avisado por meio de carta registada, não satisfaça a quantia em dívida no prazo
de oito dias ou noutro, nunca inferior a este, que porventura se ache estipulado
na apólice»220.
Atendendo a que haveria sempre necessidade de interpelação do devedor para
resolver o contrato por incumprimento do pagamento do prémio, situação em
que existia cobertura até ao final do prazo fixado pelo segurador, referiu o
Supremo Tribunal de Justiça em processo em que existiu sinistro enquanto o
tomador do seguro estava em incumprimento que «a simples falta de pagamento
de prémio de contrato temporário de seguro de vida não confere só por si à
instituição seguradora o direito de resolução do contrato, a qual depende ainda
da conversão da mora em incumprimento definitivo, designadamente mediante
notificação admonitória nos termos do artigo 808º do Código Civil»221.
Uma última nota para o facto de que, quando exista terceiro beneficiário que
conste do contrato e exista resolução do contrato por incumprimento do tomador
no pagamento do prémio, pode o terceiro pagar o prémio no prazo de 30 dias,
originando a reposição em vigor do contrato. Se ocorrer um sinistro durante esse
período a regra é a da não cobertura222, mas as partes podem inicialmente
convencionar a cobertura para esse período223. Esta situação será mais corrente
quando o beneficiário é uma entidade de crédito que impõe a contratação do
seguro nesses termos como condição para a concessão do crédito.

14.6. O pagamento do prémio após a data limite para pagamento e a


eventual cobertura ou cessação
Após a resolução automática do contrato por falta de pagamento, ou caducidade
pelo não pagamento do prémio, que impede a prorrogação, por regra os efeitos
do contrato cessam224. É o regime previsto para os tipos de seguro abrangidos
pelo artigo 58º ou aquele em que as partes convencionem essa solução para a
cessação do contrato.
Podemos debater se o pagamento do prémio após a cessação leva à sua
continuidade ou se deverá existir novo contrato atendendo a que o anterior
cessou por força dos efeitos previstos no artigo 61º relativo à falta de pagamento,
que é um preceito imperativo. Refira-se que a regra será que este preceito seja
respeitado para que haja consequência para o aviso de pagamento previsto no
artigo 60º, que o segurador envia ao tomador avisando das consequências da
falta de pagamento.
Convém antes de mais sublinhar que:
− por regra o contrato produz efeitos para o futuro, conforme decorre do
artigo 39º e 42º do RJCS;
− o artigo 53º, nº 2, determina que as frações seguintes do prémio inicial, o
prémio de anuidades subsequentes e as sucessivas frações deste são devidos nas
datas estabelecidas no contrato;
− o artigo 42º, nº 2, permite que as partes convencionem a cobertura de riscos
anteriores, sem prejuízo do artigo 44º e da necessidade de existir interesse no
seguro, sem o qual o mesmo será nulo.

Para se defender a continuidade do anterior contrato podem-se observar três


momentos, a saber:
i. o pagamento do prémio após o fim da anuidade ou fração e o vencimento
que consta da apólice;
ii. a aceitação do segurador em receber o prémio sem que coloque objeções;
iii. a renovação após a cessação por acordo das partes.

Na sequência do espírito que se retira destes preceitos, o segurador pode


aceitar o pagamento para lá da data que consta do contrato e que normalmente
equivale ao fim da anuidade. Nesse caso a data de vencimento adapta-se à data
de pagamento do prémio, pelo que se subsume a palavra “vencimento” constante
do artigo 61º, nº 2, à data de pagamento da anuidade ou fração.
O princípio da boa fé decorrente do artigo 762º, nº 2, do CC parece-nos dever
levar a entender que a aceitação do pagamento do prémio, sem que se retire da
vontade presumida das partes intenção contrária, leva à continuidade do
contrato, tanto no âmbito do pagamento de um prémio anual como de uma
fração, e não à celebração de um novo contrato, o que originaria um período de
tempo sem cobertura entre os dois contratos se o novo apenas fixasse os efeitos
para o futuro.
O pagamento do prémio e aceitação de recebimento do mesmo pelo
segurador equivalem a um acordo das partes que tem uma determinada data.
Assim, consideramos que é de aplicar os artigos 43º e 44º, nº 2. Entendemos que
caso haja sinistro entre a data da cessação e a data de pagamento do prémio não
haverá cobertura225. A dificuldade prática será a de o segurador provar que o
sinistro ocorreu nesse hiato de tempo entre a cessação e o pagamento do prémio.
Desta forma, após a aceitação do pagamento do prémio além do prazo que
determinou a cessação do contrato, o segurador apenas poderá:
a) no momento da aceitação do prémio emitir e entregar documento ao
tomador ou segurado que afaste a presunção da renovação do contrato, tal como
a informação que dará origem a nova apólice ou aposição de um prazo de
vigência que contrarie os prazos decorrentes da renovação e que demonstram
uma continuidade;
b)condicione a aceitação do prémio à apreciação posterior do pedido de
retroatividade, impedindo a presunção, situação em que se poderá ponderar a
aplicação do artigo 27º por analogia em caso de silêncio na resposta a dar ao
tomador, cabendo a prova ao segurador que colocou sob condição a aceitação do
pagamento.

JOSÉ LUÍS BONIFÁCIO RAMOS coloca também «a seguinte questão: o tomador,


ao efectuar um pagamento do prémio, em data posterior à resolução, promove o
renascimento do contrato? Avaliando esta hipótese, entende-se que, no caso de o
segurador aceitar o pagamento sem objecção, não pode recusar a posterior
responsabilidade do sinistro, mesmo no caso de a norma violada ser imperativa,
face ao violento abuso de direito que uma recusa, naquelas circunstâncias
representaria»226.
CARLA CADILHE e MÁRIO SANTOS PINTO são da mesma opinião ao entenderem
que uma recusa do segurador após receber o prémio será abusiva, através da
figura venire contra factum proprium e que se gera na esfera jurídica do tomador
a convicção de que o contrato se mantém válido227.
Sobre esta matéria também se pronuncia ROMANO MARTINEZ referindo que
«não obstante a caducidade do contrato, em determinadas hipóteses podem as
partes continuar a executar as respectivas prestações, resultando desse facto a
subsistência do vínculo contratual ou a renovação do negócio jurídico»228,
acrescentando que ainda que a caducidade opere automaticamente, não existindo
por essa via renovação do contrato, a verdade é que «o cumprimento espontâneo
das prestações depois de o negócio jurídico ter caducado determina a sua
subsistência»229. Conclui referindo que «do cumprimento das prestações do
contrato caducado resulta uma vontade das partes no sentido de manutenção do
contrato»230.
Assim, se houver pagamento do prémio posterior à caducidade e houver
aceitação do mesmo, passa a existir cobertura, pelo que ambas as partes estão a
prestar aquilo que se espera delas num negócio validamente constituído.
Diremos que a declaração tácita231 das partes com o pagamento e aceitação
do recebimento do prémio contém duas declarações que vinculam as partes à
continuidade do contrato, que não está sujeita a forma especial para ter
validade232. Caso contrário dar-se-ia início a um novo contrato, que regra geral
tem efeitos para o futuro a não ser que as partes convencionem cobertura
retroativa, se for possível a cobertura de risco233 e existir interesse para o
tomador ou segurado234.
Consideramos que mais do que a expetativa235 do tomador de que o contrato
se mantém válido, o que não colhe totalmente por ter sido avisado dos efeitos da
falta de pagamento, está em causa um acordo de prolongamento do contrato
subsumível dos atos de ambas as partes. Uma parte paga o prémio e a outra parte
aceita-o sem objeções proporcionando um encontro de vontades que destrói a
cessação do contrato anteriormente ocorrida.
Há um ressuscitar do contrato que continua válido como se não tivesse tido
qualquer vicissitude, onde podem apenas ocorrer problemas quanto a sinistros
ocorridos antes do pagamento do prémio fora de prazo, ou seja, após a cessação
do contrato por resolução automática ou caducidade (pelo decurso do tempo).
Nesses sinistros, como vimos, não poderemos deixar de aplicar o artigo 44º, nº 2,
do RJCS, pelo que não ficam cobertos os sinistros conhecidos, apenas o risco
quanto ao que é desconhecido.
-
103 Sobre a cessação do contrato de seguro V., com atualidade face ao novo RJCS, AAVV, Lei do
Contrato de Seguro Anotada, Ob. Cit. Tendo por base o regime anterior ao RJCS V. JOSÉ VASQUES,
Contrato de Seguro, Coimbra Editora, 1999, págs. 375 a 391. Sobre a cessação de contratos comerciais V.
JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES, Contratos Comerciais – Noções fundamentais, in Direito e Justiça –
Revista da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2007, págs. 223 a 229. No
direito comparado as referências à cessação do contrato de seguro nas obras gerais de direito dos seguros
são frequentes, pelo que a título de exemplo V. MARCEL FONTAINE, Droit des Assurances, Quatrième
édition, Larcier, Bruxelles, 2010, págs. 294 a 320; JEAN BIGOT, Traité de Droit des Assurances, Tome 3,
LGDJ, Paris, 2002, págs. 536 a 553; HUBERT GROUTEL, FABRICE LEDUC, PHIPLIPPE PIERRE,
Traité du Contrat D’Assurance Terrestre, LexisNexis, Paris, 2008, págs. 567 a 673; MURIEL CHAGNY e
LOUIS PERDRIX, Droit des Assurances, LGDJ, Paris, 2009, págs. 203 a 228; JÉRÔME BONNARD,
Droit des Assurances, 3e édition, LexisNexis, Paris, 2009, págs. 95 a 100; VÉRONIQUE NICOLAS, Droit
des Contrats d’Assurance, Economica, Paris, 2012, págs 341 a 349; BERNARD BEIGNIER, Droit des
Assurances, Montchrestien, Paris, 2011, págs. 342 a 349; HUBERT GROUTEL, Droit des Assurances, 12e
édition, Dalloz, Paris, 2011, págs. 88 a 93; MALCOM CLARKE, Policies and Perceptions of Insurance
Law in the Twenty-First Century, Oxford University Press, New York, 2009, págs. 116 a 119; JOHN
BIRD, Bird’s Modern Insurance Law, Eighth Edition, Sweet & Maxwell, 2010, págs. 100 a 103; MARCO
ROSSETI, Il Diritto delle Assicurazioni, Volume I, CEDAM, Padova, 2011, págs. 1026 a 1029; MARCEL
FONTAINE, Droit des Assurances, Quatrième édition, Larcier, Bruxelles, 2010, págs. 294 a 320; HÉLÈNE
DE RODE, Le contrat d’assurance en général, Larcier, Bruxelles, 2012, págs 92 a 96; ROBERT E.
KEETON e ALAN I. WIDISS, Insurance Law – a guide to fundamental principles, legal doctrines, and
commercial pratices, West Publishing Co., St. Paulo, Minn, 1988, págs. 601 a 609; NICHOLAS LEGH-
JONES, JOHN BIRDS e DAVID OWEN, MacGillivray on Insurance Law, Tenth Edition, Sweet And
Maxwell, London, 2003, págs. 157 a 161 e ABEL VEIGA COPO, Tratado del Contrato de Seguro,
Segunda Edición, Thomson Reuters, Cizur Menor, 2012, págs. 1161 a 1170.
104 V. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Da cessação do contrato, 2ª Edição, Almedina, Coimbra,
2006, págs. 41 a 90.
105 Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ e outros em Lei do Contrato de Seguro Anotada, 2ª edição,
Almedina, Coimbra, 2011, pág. 393.
106 Também PEDRO ROMANO MARTINEZ esclarece que o contrato pode cessar por outra causa
diferente. Cfr. Lei do Contrato de Seguro Anotada, Ob. Cit., pág. 393.
107 Estamos a fazer referência a situações que não poderiam ser participadas em prazo anterior
conforme previsão do artigo 101º, nº 3, 2ª parte.
108 V. artigo 101º, nº 4, que menciona ainda o direito de regresso contra o incumpridor caso pudesse
reduzir a prestação por atraso na participação. No entanto, o lesado de boa fé fica salvaguardado.
109 Cfr. do autor, Lei do Contrato de Seguro Anotada…, pág. 396.

110Idem, pág. 397. Como assinala o autor, será intenção do legislador evitar cobranças judiciais de
prémios ou frações em mora.
111 Idem, pág. 398.
112 O que permite uma maior acomodação aos sinistros evolutivos, como sejam os de responsabilidade
civil ambiental, profissional, do produtor ou do seguro de saúde. V. para maior detalhe o comentário de
ARNALDO OLIVEIRA, em Lei do Contrato de Seguro Anotada, 2ª ed., Almedina, Coimbra, pág. 375.
113 Sobre a matéria do sinistro abrangido e a sua participação, bem como as tipicamente denominadas
claims made, action commited e loss ocurrence basis V., por exemplo, as anotações de ARNALDO
OLIVEIRA, ROMANO MARTINEZ e JOSÉ VASQUES em Lei do contrato de Seguro Anotada, 2ª ed.,
Almedina, Coimbra, 2011, págs. 373 a 385 e 478 a 480; RITA GONÇALVES FERREIRA DA SILVA, Do
Contrato de Seguro de Responsabilidade Civil Geral, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, págs. 208 a 213;
MURIEL CHAGNY e LOUIS PERDRIX, Droit des Assurances, LGDJ, Paris, 2009, págs. 228 a 238;
DANIELE DE STROBEL, La vicenda del «claims made», in Diritto ed Economia Dell’Assicurazione, nº
2, Giuffrè, 2006, pág. 531 a 547; FRANCESCO CESERANI, Anco nuvole di vaghezza attorno alla
calausola claims made: alcune necessarie puntualizzazioni, in Diritto ed Economia Dell’Assicurazione, nº
2, Giuffrè, 2011, pág.s 501 a 538; LOUIS FERNANDO REGLERO CAMPOS, Le Causole claim made nel
diritto spagnolo, in Diritto ed Economia Dell’Assicurazione, nº 1, Giuffrè, 2007, págs. 139 a 168;
CESERANI FRANCESCO, Origine e sviluppi della clausola claims made nei mercati internazionli, in
Diritto ed Economia Dell’Assicurazione, nºs 3-4, Giuffrè, 2007, págs. 799 a 838; FLAVIO PECCENINI,
Assicurazione, Zanichelli Editore, Bologna, 2011, págs. 182 a 187; CRISTINA MENICHINO, La clausola
claims made nel contrato di assicurazione, in Clausole a rischio di nulliità (a cura di Giorgio de Nova),
Cedam, Padova, 2011, págs. 5 a 19.
114 Cfr. ANÍBAL DE CASTRO, A Caducidade na Doutrina, na Lei e na Jurisprudência, 2ª edição,
Livraria Petrony, Lisboa, 1980, pág. 218.
115 PEDRO ROMANO MARTINEZ entende que este nº 2 é exemplificativo e que vicissitudes como a
morte da pessoa segura determinam a caducidade do contrato quando implique o pagamento da prestação.
Acrescenta que «como resulta do nº 2 do art. 106º a cessação do contrato pode ser concomitante com a
verificação do sinistro, por isso, com a morte da pessoa segura caduca o contrato e o segurador, se for
caso disso, paga a prestação». Cfr., do autor, Lei do Contrato de Seguro Anotada…, pág. 400.
116 Não existe, assim, uma obrigação do segurado que vá além do capital remanescente.

117 Esta possibilidade pode ser sustentada no artigo 42º.

118 A revogação produzirá efeitos imediatos, a não ser que as partes ajustem efeitos diversos. Neste
sentido V., por exemplo, PEDRO ROMANO MARTINEZ, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 113.
119 Cfr. MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Português, II, Tomo IV, Almedina, Coimbra,
2010, pág. 339.
120 Cfr. do autor Lei do Contrato de Seguro Anotada…, pág. 400. Acrescenta ainda na pág. 401 que
«exige-se o consentimento do segurado para a revogação porque se trata de uma cessação imotivada do
contrato; tal exigência já não se justifica na denúncia que impede a prorrogação do contrato, nem na
resolução que é motivada».
121 Nestes casos até pode ser mais favorável ao segurador.

122 Tal como salienta MENEZES CORDEIRO as regras do artigo 114º já resultariam dos artigos 15º e
16º da LCCG mas a clarificação ficou favorecida. V. do autor, Direito dos Seguros, Ob. Cit., pág. 718.
123 Cfr. artigo 114º, nº 5.

124 PEDRO ROMANO MARTINEZ dá o exemplo da renda vitalícia em que a livre desvinculação se
opõe à natureza do contrato. Cfr. do autor Lei do Contrato de Seguro Anotada…, pág. 404.
125 Cfr. do autor, Teoria geral do Direito Civil, 6ª edição, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 774.
Acrescenta ainda que a avaliação deve ser casuística ao referir que «a concretização do agir de boa fé deve
ser feita de acordo com a natureza das coisas. No quadro negocial e circunstancial da relação contratual
em questão, a parte que pretende denunciar o contrato deve colocar-se na posição da outra, e discernir
assim quais os danos que a denúncia lhe poderá causar e que se deve esforçar por evitar».
126 Cfr. artigo 115º, nº 2 e 3. Nestas situações o contrato cessa decorrido o prazo do aviso prévio ou no
termo do período em que se encontre pago o prémio, o que leva a que não exista estorno.
127 V. para uma visão global das apólices uniformes a republicação feita pela Norma Regulamentar
emitida pelo ISP nº 13/2005-R, de 18 de novembro, que alterou as seguintes apólices:
a) apólice uniforme seguro obrigatório de acidentes de trabalho para trabalhadores por conta de outrem;
b) apólice uniforme seguro obrigatório de acidentes de trabalho para trabalhadores independentes;
c) apólice uniforme seguro obrigatório de responsabilidade civil caçadores;
d) apólice uniforme seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel;
e) apólice uniforme seguro obrigatório de incêndio.
128 V., por exemplo, artigo 7º, nº 2, da revogada Norma Regulamentar nº 18/2000R, de 21 de dezembro,
com as alterações introduzidas pela Norma Regulamentar nº 13/2005-R, de 18 de novembro (apólice
uniforme para o seguro de incêndio obrigatório).
129 PEDRO ROMANO MARTINEZ refere ser possível uma cessação parcial dependendo da natureza
do contrato e do teor da declaração de denúncia. Cfr. do autor, Da cessação do contrato, 2ª Edição,
Almedina, Coimbra, 2006, pág. 122.
130 Cfr. VAZ SERRA, Tempo da prestação – denúncia, Boletim do Ministério da Justiça, nº 50, 1955,
Lisboa, págs. 191 e 192.
131 V. Ob. Cit., pág. 125.

132 Cfr. acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de 05-11-2002, Proc. 2218/02, relator Hélder
Roque, acessível em www.dgsi.pt. Sobre a denúncia modificação V. também os acórdãos do Supremo
Tribunal de Justiça, de 04-02-2003, Proc. 02A744, relator Silva Paixão e o acórdão de 13-05-2004, Proc.
04A381, relator Nuno Cameira, também acessíveis em www.dgsi.pt.
133 Sobre o equilíbrio contratual e as alterações que levam à necessidade de revisão do mesmo V.
GERARDO MARASCO, La rinegoziazione del contratto – Strumenti legali e convenzionali a tutela
dell’equilibrio negoziale, CEDAM, Padova, 2006, págs. 29 a 59 e JEAN BIGOT; PHILIPPE
BAILLOT, JÉRÔME KULLMANN e LUC MAYAUX, Les assurances de personnes, Tome 4, LGDJ,
Paris, 2007, págs. 909 e 910.
134 Relacionado com algum elemento concreto de apreciação do risco específico do tomador ou
segurado em causa, como a ocorrência de sinistros na anterior anuidade.
135 Note-se, no entanto, que o aumento pode decorrer do que já se encontra previsto no contrato, como
o aumento da idade da pessoa segura, de acordo com uma tabela onde seja possível perceber a percentagem
de aumento do prémio face ao aumento da idade.
136 Segue o princípio da manutenção dos negócios jurídicos abordado na jurisprudência, por exemplo,
no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 15-10-1991, Proc. 080567, com o relator Rui Brito e que tem
afloramentos no CC em artigos como o 292º e 293º.
137 Tanto o artigo 60º como o artigo 202º fazem parte do elenco de disposições imperativas relativas
mencionadas no artigo 13º.
138 Os prazos de aviso de pagamento têm sido alterados nas sucessivas leis. Por exemplo, o Decreto-Lei
nº 162/84, de 18 de maio, estabelecia 10 dias antes do prazo em que o prémio ou fração do mesmo são
devidos enquanto o Decreto-Lei nº 142/2000, de 15 de julho, com a alteração decorrente do Decreto-Lei nº
122/2005, de 29 de julho, fixava o prazo de antecedência do aviso em 60 dias.
139 Que também poderão ser 30 dias no caso previsto do artigo 88º, nº 1, do RJCS, para os seguros de
grupo.
140 Embora se admita a cobertura perante terceiros lesados de boa fé caso tenha existido a emissão de
documentação comprovativa da existência do seguro. V., por exemplo, o artigo 29º, nº 10, do Decreto-Lei nº
291/2007, de 21 de agosto.
141 Existirá, então, uma declaração de vontade do tomador ou segurado que o vincula. Sobre a distinção
entre declarações expressas e tácitas pronuncia-se CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, ANTÓNIO
PINTO MONTEIRO e PAULO MOTA PINTO, referindo que «o critério de distinção entre declaração
tácita e declaração expressa consagrada pela lei (art. 217º) é o proposto pela teoria subjectiva: a
declaração é expressa quando feita por palavras, escrito ou quaisquer outros meios directos, frontais,
imediatos de expressão da vontade e é tácita quando do seu conteúdo directo se infere um outro, isto é,
quando se destina a um certo fim, mas implica e torna cognoscível, a latere, um auto-regulamento sobre
outro ponto – em via oblíqua, imediata e lateral (“quando se deduz de factos que, com toda a
probabilidade, a revelam”)». Cfr. dos autores, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, 2ª reimpressão,
Coimbra Editora, Coimbra, 2012, pág. 422.
142 O que normalmente ocorre através da assinatura na proposta, ainda que nos termos do artigo 32º, nº
1, do RJCS não seja exigível forma especial.
143 O acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 08-11-2012, Proc. 428/11.0TVLSB.L1-2, relator
Pedro Martins, pronuncia-se sobre a declaração tácita em seguro de vida referindo que «a concludência de
uma declaração tácita “baseia-se num nexo lógico-experimental em que factores de tipicidade social e
factores jurídicos são também importantes”. “Trata-se […] de, num contexto prático de interacção,
determinar o significado de um comportamento, de acordo com os […] critérios gerais” de interpretação».
V. o acórdão em www.dgsi.pt.
144 Sobre esta matéria refere PEDRO PAIS DE VASCONCELOS que «o silêncio não deve ser
confundido com a declaração negocial tácita. Nesta última, existe um comportamento negocial que tem um
sentido que é juridicamente relevante. (…) O silêncio é a ausência de uma acção, é pura omissão». Cfr. do
autor, Teoria Geral do Direito Civil, 6ª Edição, Almedina, Coimbra, 2010, pág. 464. Sobre o valor
declarativo do silêncio V. PAULO MOTA PINTO, Declaração tácita e comportamento concludente no
negócio jurídico, Almedina, Coimbra, 1995, págs. 631 a 717 e JOSÉ ALBERTO VIEIRA, Negócio
Jurídico – Anotação aos artigos 217º a 295º do Código Civil, Coimbra Editora, 2009, págs. 18 a 21.
145 V. artigos 218º e 234º do CC, referindo este último que poderá existir dispensa de declaração de
aceitação «quando a proposta, a própria natureza ou circunstâncias do negócio, ou os usos tornem
dispensável a declaração de aceitação, tem-se o contrato por concluído logo que a conduta da outra parte
mostre a intenção de aceitar a proposta».
146 V. com maior detalhe a propósito da enunciação tácita CARLOS FERREIRA DE ALMEIDA, Texto
e Enunciado na Teoria do Negócio Jurídico, Almedina, Coimbra, 1992, págs. 714 e 715, referindo nesta
última página que «nem todo o calar é silêncio» e acrescenta que o silêncio «não deixa por isso de ser um
comportamento, ainda que passivo, negativo ou abstentivo, porque a inactividade, quando possa ser
valorada juridicamente, tem de ser comparada com a acção concreta que se omitiu».
147 Cfr. do autor, Ob. Cit., pág. 717.

148 O INSTITUTO DE SEGUROS DE PORTUGAL emitiu entendimento, publicado em Relatório de


Regulação e Supervisão da Conduta de Mercado – 2008, Lisboa, 2009, pág. 52, sobre a necessidade de
alguma ação para se considerar que existe aceitação do tomador a uma proposta enviada. Refere o
entendimento o seguinte: «não será legítimo, sem disposição legal ou convenção especial nesse sentido,
entender como aceitação duma proposta de contrato de seguro a atitude puramente silente ou omissiva do
tomador, sem que, por outro lado, seja dado cumprimento aos deveres de informação pré-contratual e da
comunicação na íntegra das condições gerais para que se torne possível o conhecimento completo e
efectivo por parte do cliente».
149 Cfr. PAULO MOTA PINTO, Declaração tácita e comportamento concludente no negócio jurídico,
Almedina, Coimbra, 1995, pág. 892. Acrescenta o autor que «a ilação não tem normalmente de ser
necessária e absolutamente inequívoca sendo bastante um elevado grau de probabilidade de uma dada
declaração, obtido a partir de uma inferência segundo uma “lógica de interacção”, de acordo com as
regras ou “usos da vida”». No mesmo sentido de que a declaração tácita se deduz dos factos concludentes
com toda a probabilidade ou com probabilidade bastante V. RUI DE ALARCÃO, Declarações expressas e
declarações tácitas – o silêncio, BMJ, nº 86, 1959, pág. 237.
150 Como refere JOSÉ ALBERTO VIEIRA, Negócio Jurídico – Anotação aos artigos 217º a 295º do
Código Civil, Coimbra Editora, 2009, pág. 13, «se um comportamento permite que o seu sentido seja
compreendido (cognoscibilidade), e tem um conteúdo de comunicação num determinado contexto, constitui
uma declaração para os efeitos do art. 217º do Código Civil português, mesmo não sendo dirigido a
ninguém». O autor acrescenta ainda um exemplo ao nível segurador referindo que «se uma seguradora
dirige uma proposta de seguro a um cliente e este, sem nada dizer à seguradora, comunica a sua
celebração a uma autoridade como prova de cumprimento de uma obrigação legal, comporta-se como
havendo aceite o contrato de seguro, ainda que não tenha dirigido à seguradora esse comportamento».
Apesar de este exemplo parecer claro a verdade é que por regra deverá ocorrer o prévio pagamento do
prémio para que o seguro produza efeitos (artigo 59º do RJCS) e não deverá o contrato vincular o tomador
sem que o mesmo tenha tido algum ato do qual se pode tirar a ilação de que existiu um encontro de
vontades para a celebração do contrato.
151 V. artigo 777º do CC.

152 Sobre a admissibilidade da aceitação da alteração do contrato de forma expressa ou tácita no direito

francês V. JÉRÔME BONNARD, Droit des Assurances, 3e édition, LexisNexis, Paris, 2009, págs. 88 e 89.
153 Sobre a possibilidade de indemnização em caso de resolução V., por exemplo, JORGE RIBEIRO
DE FARIA, A natureza da indemnização no caso de resolução do contrato – novamente a questão, in
Estudos em Comemoração dos cinco anos (1995-2000) da Faculdade de Direito da Universidade do Porto,
Coimbra Editora, 2001, págs. 11 a 62.
154 Devido à utilização de um conceito indeterminado que KARL ENGISCH define como «um conceito
cujo conteúdo e extensão são em larga medida incertos», embora o autor afirme que «os conceitos jurídicos
são predominantemente indeterminados, pelo menos em parte». Cfr. KARL ENGISCH, Introdução ao
pensamento jurídico, 9ª edição, tradução de Baptista Machado, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
2004, págs. 208 e 209.
155 Uma das situações que não poderá constituir justa causa é a de outro segurador ter um seguro com
as mesmas coberturas e prémios mais baixos. É algo que leva a alguma litigiosidade e descontentamento
dos tomadores atendendo à tradição regulamentar das apólices uniformes emitidas pelo ISP que permitiam a
resolução do contrato durante a sua execução sem justa causa. Sobre esta matéria, atendendo a que estão em
causa pequenos valores mosem justa causa. Sobre esta matéria, atendendo a que estão em causa pequenos
valores mo-2009, Proc. 81/2009-JP, Relator Filomena Santos, em que considerou que não existia justa causa
para a resolução apenas por outro segurador ter prémios inferiores.
156 Cfr. artigo 351º do Código do Trabalho.

157 Cfr. do autor Pressupostos da resolução por incumprimento, in «Obra Dispersa», vol. I, Scientia
Iuridica, Braga, 1991, pág. 143.
158 Cfr. Lei do Contrato de Seguro Anotada…, pág. 406.
Sobre o conceito de justa causa V. igualmente ANA PRATA, Ob. Cit., pág. 851, ao referir que a justa causa
é um «conceito indeterminado utilizado frequentemente pela lei, em especial como fundamento da
resolução de um contrato ou da cessação de uma função.
Quando, nos termos da lei ou de convenção, um contrato possa ser resolvido com justa causa, tal significa
qualquer facto susceptível de pôr em risco a continuação da relação contratual ou a obtenção do fim
contratual, tanto podendo consubstanciar-se numa conduta da contraparte como num facto alheio às
partes; as mais das vezes, porém, a justa causa consiste num comportamento da outra parte, violador dos
deveres contratuais, que torna intolerável e inexigível para o adimplente a manutenção da relação
contratual».
159 V. sobre a caracterização da expressão «sinistros sucessivos» FRANCISCO LUÍS ALVES, O
regime do contrato de seguro de saúde no direito português, in Revista Portuguesa de Direito do
Consumo, nº 66, 2011, pág. 36.
160 V. para maior detalhe, BAPTISTA MACHADO, Pressupostos…, Ob. Cit., pág. 139.

161 Tal como referem PETER MACDONALD EGGERS, SIMON PICKEN e PATRICK FOSS, o
incumprimento liga-se à boa fé, sendo que a quebra desta deve ter tal dimensão que dá direito à outra parte
de terminar o contrato de seguro. V. dos autores, para maiores pormenores, Good Faith and Insurance
Contracts, Third Edition, Lloyd’s List, London, 2010, págs. 484 e 485. Concordamos com JOSÉ CARLOS
BRANDÃO PROENÇA, A desvinculação não motivada nos contratos de consumo, in Revista da Ordem
dos Advogados, Ano 70, Lisboa, Jan. / Dez. 2010, pág. 222, o qual liga a resolução fundamentada ao
incumprimento referindo que «é possível conceber a resolução como o poder unilateral de pôr termo a um
contrato válido em virtude de circunstâncias posteriores à sua celebração, frustrantes do interesse de
cumprimento, desequilibradoras da relação de equivalência entre as prestações – atente-se no efeito
resolutivo da alteração anormal das circunstâncias (atinente à chamada cláusula de hardship do comércio
internacional) face à opção modificação/renegociação contratual – ou tornando inexigível a manutenção
do contrato, como sucede noutros casos legais de objectivação do fundamento resolutivo».
162 Mesmo que não seja lei que se refira diretamente a seguros mas que afete o normal desenvolvimento
da relação contratual. Imagine-se as regras de higiene e de segurança do trabalho que não sendo cumpridas
poderão afetar a relação estabelecida a propósito do seguro de acidentes de trabalho.
163 Sobre a relação da justa causa com o incumprimento refere BAPTISTA MACHADO que «”a justa
causa” representará, em regra, uma violação dos deveres contratuais (e, portanto, um ”incumprimento”):
será aquela violação contratual que dificulta, torna insuportável ou inexigível para a parte não
inadimplente a continuação da relação contratual». Cfr. BAPTISTA MACHADO, Pressupostos…, Ob.
Cit., pág. 144.
164 Por exemplo, a ausência de resposta a sucessivos pedidos de pré-autorização para uma operação
urgente abrangida pelas coberturas de contrato de seguro de saúde, bem como atos ou omissões que de uma
forma geral possam afetar de forma grave a saúde do segurado.
165 Cfr. FRANCISCO LUÍS ALVES, O regime do contrato de seguro de saúde no direito português,
Revista Fórum, nº 27, 2009, pág. 27.
166 Cfr. FRANCISCO LUÍS ALVES, O regime do contrato de seguro de saúde…, pág. 28.

167 Quanto à arbitragem o artigo 122º do RJCS, por razões didáticas, enuncia a possibilidade de dirimir
conflitos derivados do contrato de seguro através dessa via.
168 V., por exemplo, artigo 35º do RJCS.

169 V., a título exemplificativo a cláusula 16.ª da Apólice de Seguro Obrigatório de Incêndio anexa à
Norma Regulamentar nº 16/2008-R, de 18 de dezembro, sendo que as condições contratuais de cada seguro
deverão prever desde logo o prazo de dilação para eficácia da declaração de resolução.
170 Sobre esta solução V. VAZ SERRA, Resolução do contrato, BMJ, nº 68, Lisboa, 1957, pág. 256.

171 Cfr. do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 175.

172 V. artigo 107º do RJCS e em particular os nºs 1 e 5.

173 O artigo 101º menciona também a perda de cobertura em caso de incumprimento doloso pelo
tomador ou segurado.
174 Acrescente-se que também poderá dar direito, no caso de fracionamento, ao pagamento total das
frações vincendas.
175 Na verdade a expressão mais adequada seria «resolução após sucessão de sinistros».

176 Ainda que, como salienta JEAN BIGOT, o segurador não esteja interessado, do ponto de vista
comercial, em perder um cliente que até poderá ter outros seguros. V. para maiores pormenores do autor,
Traité de Droit des Assurances, Tome 3, LGDJ, Paris, 2002, pág. 542.
177 Sobre esta forma de resolução V. MOITINHO DE ALMEIDA, Contrato de Seguro – Estudos,
Coimbra Editora, Coimbra, 2009, págs. 22 e 23; CATHERINE PARIS e JEAN-LUC FAGNART,
Actualités législatives et jurisprudentielles dans les assurances en général, in Actualités en Droit des
Assurances (Sous la direction de Catherine Paris et Bernard Dubuisson), Anthemis, Liége, 2008, pág. 98.
ARNALDO OLIVEIRA considera que a faculdade de o segurador resolver o contrato após sinistro é uma
possibilidade do mesmo «sair de relações contratuais toldadas pela suspeita de fraude não comprovável,
possibilitando assim a preservação dos contornos da álea que a levaram a aceitar o contrato». Cfr. do
autor, Cláusulas abusivas e o contrato de seguro, in Congresso Luso-Hispano de Direito dos Seguros,
Almedina, Coimbra, 2009, págs. 232 e 233. MOITINHO DE ALMEIDA, Estudo sobre o contrato de
seguro, Parte I, Grémio dos Seguradores, 1970, pág. 48, fundamentou esta figura no facto de a realização
do sinistro poder denunciar ao segurador que o risco é mais intenso do que imaginava.
178 É comum no mercado apólices que têm limites de sinistros acionáveis anualmente. Um exemplo
disso é a cobertura de assistência em viagem automóvel.
179 V. artigo 4º do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto.

180 Mas é compreensível a sua previsão pelos efeitos clarificadores.

181 V. o ponto 1.3. da parte introdutória deste estudo relativamente à resolução. Sobre a natureza deste
direito e a preferência por outra expressão como «direito de retractação» ou «direito de revogação» em vez
de «livre resolução» V. JOSÉ CARLOS BRANDÃO PROENÇA, A desvinculação não motivada nos
contratos de consumo, in Revista da Ordem dos Advogados, Ano 70, Lisboa, Jan./Dez. 2010, págs. 219 a
270. Na página 257 o autor fornece o conceito de «livre resolução» referindo que «tem como características
dominantes o ser um poder potestativo, unilateral, exercido com discricionariedade absoluta, no exclusivo
interesse do consumidor (um verdadeiro direito contra si mesmo) e após informação da sua existência,
sujeito a prazos curtos de caducidade e à exigência de um certo formalismo, com natureza imperativa e
com um efeito liberatório e (eventualmente) recuperatório, mas sempre sem implicar penalizações ou
indemnizações». Acrescenta ainda o autor, em complemento ao conceito, na pág. 259, que «o chamado
“direito de livre resolução”, tendo como legitimado um contraente tido por parte mais frágil, visa, como já
fomos dizendo, evitar desvinculações precipitadas, pressionadas, irreflectidas, derivadas das metodologias
que presidiram à contratação e da natureza complexa do conteúdo dos contratos significativos (de seguro
de crédito, de aquisição de direitos de habitação periódica, etc)».
182 São seguros em que rege a liberdade contratual máxima quanto ao âmbito de cobertura, pelo que a
análise das condições contratuais, muitas vezes extensas, devem poder posteriormente ser analisadas pelo
tomador ou segurado, que perante as mesmas poderá alterar a sua posição quanto à utilidade do contrato
face às suas necessidades.
183 V. a norma revogatória constante do artigo 6º, nº 2, alínea d), do Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 de
abril.
184 No direito francês é essa a denominação utilizada no artigo L. 112-9 du Code des Assurances. V.
sobre o assunto BERNARD BEIGNIER, Droit des Assurances, Montchrestien, Paris, 2011, págs. 332 a
336.
185 Referia este preceito o seguinte:
«Artigo 182º
Direito de renúncia
1 — O tomador de um contrato de seguro ou de qualquer operação do ramo «Vida» previstas no artigo
124º dispõe de um prazo de 30 dias, a contar da recepção da apólice, para expedir a carta renunciando aos
efeitos do contrato ou operação.
2 — O tomador pode também exercer o direito de renúncia nos termos referidos no número anterior sempre
que as condições do contrato ou operação não estejam em conformidade com as informações referidas nos
artigos 179º a 181º.
3 — Sob pena de ineficácia, a comunicação da renúncia referida nos números anteriores deve ser
notificada, por carta registada, enviada para o endereço da sede social ou da sucursal da empresa de
seguros que celebrou o contrato.».
186 Nesse caso refere ainda o nº 2 que «o consumidor está obrigado a pagar ao prestador, no mais curto
prazo possível, o valor dos serviços efectivamente prestados em montante não superior ao valor
proporcional dos mesmos no quadro das operações contratadas».
187 A referência a suporte duradouro surge na linha do também referido no artigo 34º, nº 2, o qual refere
que «quando convencionado, pode o segurador entregar a apólice ao tomador do seguro em suporte
electrónico duradouro» e do também referido no artigo 120º, nº 1, a propósito do envio de comunicações,
as quais podem ser remetidas sem ser por escrito desde sejam «prestadas por outro meio de que fique
registo duradouro». Quanto ao que se entende por suporte duradouro o RJCS não fornece qualquer
conceito, mas o Decreto-Lei nº 95/2006, de 29 de maio, no seu artigo 11º, nº 2, refere que «considera-se
suporte duradouro aquele que permita armazenar a informação dirigida pessoalmente ao consumidor,
possibilitando no futuro, durante o período de tempo adequado aos fins a que a informação se destina, um
acesso fácil à mesma e a sua reprodução inalterada». Sobre «suporte duradouro» sugere-se a leitura das
anotações de JOSÉ VASQUES e PEDRO ROMANO MARTINEZ, em Lei do Contrato de Seguro
Anotada, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2011, págs. 221 a 224.
188 Cfr. artigo 72º do Código do Procedimento Administrativo que se transcreve.
«Artigo 72º Contagem dos prazos
1. – À contagem dos prazos são aplicáveis as seguintes regras:
a) Não se inclui na contagem o dia em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr; b) O
prazo começa a correr independentemente de quaisquer formalidades e suspende-se nos sábados,
domingos e feriados;
c) O termo do prazo que caia em dia em que o serviço perante o qual deva ser praticado o acto não esteja
aberto ao público, ou não funcione durante o período normal, transfere-se para o primeiro dia útil
seguinte.
2. – Na contagem dos prazos legalmente fixados em mais de seis meses incluem-se os sábados, domingos e
feriados».
189 Relativamente às regras de início de vigência das publicações em Diário da República refere a Lei
nº 74/98, de 11 de novembro, com a última alteração e republicação pela Lei nº 42/2007, de 24 de agosto,
no seu artigo 2º, nº 1, que o início da vigência nunca poderá ser o do próprio dia da publicação.
190 A sanção para o segurador caso incumpra é a de o tomador poder resolver o contrato, tendo a
cessação efeito retroativo e o tomador direito à devolução do prémio pago (artigo 34º, nº 6).
191 A vinculação atendendo à LCCG – art. 21º, alínea e).

192 A este propósito poderia discutir-se sobre a validade para efeitos de prova desta menção no contrato
atendendo ao disposto no artigo 21º, alínea e) do Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de outubro (Lei das
Cláusulas Contratuais Gerais), que embora possa ser suscetível de uma análise mais detalhada e outras
conclusões, parece-nos que o segurador não poderá ser confrontado com a prova impossível quanto à
prestação das informações a que está obrigado antes da contratação. Para facilidade de leitura transcreve-se
o artigo 21º, com a epígrafe «cláusulas absolutamente proibidas», o qual refere que «São em absoluto
proibidas, designadamente, as cláusulas contratuais gerais que:
(…) e) Atestem conhecimentos das partes relativos ao contrato, quer em aspectos jurídicos, quer em
questões materiais;».
193 Sobre o conceito de «celebração do contrato» V. ANA PRATA, Dicionário Jurídico, Vol. I, 5ª
Edição, Almedina, Coimbra, 2008, pág. 253.
194 Sobre o silêncio V. as referências anteriores e GUIDO ALPA, Corso di Diritto Contrattuale,
CEDAM, Padova, 2006, págs. 27 e 28.
195 Refere ainda este preceito que a proposta deve ser feita «em impresso próprio do segurador,
devidamente preenchido, acompanhado dos documentos que o segurador tenha indicado como necessários
e entregado ou recebido no local indicado pelo segurador».
196 Apesar de a livre resolução, como vimos, não se aplicar aos seguros de grupo, o artigo 88º, nº 1,
dispõe sobre o silêncio referindo que quanto à adesão ao contrato de seguro de grupo contributivo em que o
segurado seja pessoa singular, que a mesma se considera efetuada «se, decorridos 30 dias após a recepção
da proposta de adesão pelo tomador do seguro que seja simultaneamente mediador de seguros com poderes
de representação, o segurador não tiver notificado o proponente da recusa ou da necessidade de recolher
informações essenciais para a avaliação do risco».
197 Sobre a forma de exercício da livre resolução V. os entendimentos do Instituto de Seguros de
Portugal publicados no Relatório de Regulação e Supervisão da Conduta de Mercado – 2008, Lisboa,
2009, pág. 64.
198 A este propósito V. o artigo 3º, alínea g), do Decreto-Lei nº 134/2009, de 2 de junho (alterado pelo
Decreto-Lei nº 72-A/2010, de 18 de junho), define «Suporte durável» como «qualquer instrumento que
permita ao consumidor armazenar informações de um modo permanente e acessível para referência futura
e que não permita que as partes contratantes manipulem unilateralmente as informações armazenadas».
199 A gravação, quando se esteja em contactos de call center, deixou de ser obrigatória mas é
conveniente. Essa obrigatoriedade constava do revogado artigo 9º do Decreto-Lei nº 134/ /2009, de 2 de
junho, mas a possibilidade de gravação e manutenção do registo, em termos abstratos, pelo período de 90
dias decorre da Deliberação nº 629/2010 da Comissão Nacional de Protecção de Dados.
200 Refere ainda o nº 8 que «nos primeiros 90 dias contados da prestação do serviço, o ónus da prova
do cumprimento das obrigações previstas no presente artigo cabe ao profissional».
201 Remetendo para o contrato parece-nos que seria desnecessária esta menção, que apenas se
compreende por uma questão didática e por o artigo 118º fazer parte do elenco de preceitos cuja aplicação é
imperativa relativa (artigo 13º do RJCS).
202 Os custos de desinvestimento têm sentido relativamente a seguros do ramo vida. Esta menção já
constava do revogado artigo 183º, nº 3, do Decreto-Lei nº 94-B/98, de 17 de abril, apenas aplicável aos
seguros do ramo vida.
203 A expressão utilizada pelo legislador na parte final do artigo 118º, nº 7, é a seguinte «(…) excepto no
caso de início de cobertura do seguro antes do termo do prazo de livre resolução do contrato a pedido do
tomador do seguro».
204 Refere o preceito que «O direito de rescisão não é aplicável: (…) c) Aos contratos integralmente
cumpridos por ambas as partes a pedido expresso do consumidor antes de este exercer o direito de
rescisão».
205 Refere esta disposição que: «Exceptuam-se os casos em que o consumidor tenha pedido o início da
execução do contrato antes do termo do prazo de livre resolução, caso em que o consumidor está obrigado
a pagar ao prestador, no mais curto prazo possível, o valor dos serviços efectivamente prestados em
montante não superior ao valor proporcional dos mesmos no quadro das operações contratadas».
206 V. artigos 28º, 29º e 83º do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto, quanto aos documentos
comprovativos de seguro automóvel.
207 V. as referências bibliográficas já mencionadas a propósito da alteração de circunstâncias.

208 Não se deve confundir com o regime do risco previsto no artigo 796º, o qual se refere à
transferência do domínio sobre certa coisa ou que constituam ou transfiram um direito real.
209 Para o agravamento do risco também pode relevar a insolvência do tomador do seguro ou do
segurado, sendo que o artigo 98º do RJCS determina que a regra é a de que o seguro subsiste a não ser que
as partes tenham acordado solução diversa (nº 1). No entanto, o nº 2 prevê que nos seguros de credito e
caução presume-se que a declaração de insolvência constitui um fator de agravamento do risco.
210 Como é o caso típico dos seguros de vida e poderá ser ajustado em seguros de grandes riscos.

211 V. também artigo 26º, nº 2.

212 Sobre esta matéria V. em específico MANUEL DA COSTA MARTINS, Regime jurídico do
pagamento de prémios de seguro, in III Congresso Nacional de Direito dos Seguros, Almedina, Coimbra,
2003, págs. 295 a 307.
213 Apesar de entendermos estes preceitos como o regime geral, na verdade o RJCS integra-os como
regime especial, ficando o regime da mora como geral. Atendendo a que a maioria dos seguros
comercializados se integram nas previsões do artigo 58º e seguintes, teria sido preferível configurar esse
regime como geral. No mesmo sentido V. MARGARIDA LIMA REGO, Contrato de Seguro e Terceiros,
Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pág. 314 e 315; e JOSÉ LUÍS BONIFÁCIO RAMOS, O pagamento do
prémio na Lei do Contrato de Seguro, in Cadernos de Direito Privado, nº 39, Braga, 2012, págs. 10 a 12.
214 Discordando da solução da resolução automática pronuncia-se JOSÉ LUÍS BONIFÁCIO RAMOS
referindo que «independentemente do âmbito do mecanismo resolutivo, entendemos que a resoslução
imediata e automática sem a precedência de um período moratório» contraria as tendências atuais no que
respeita ao pagamento do prémio. V. do autor, Ob. Cit., pág. 19.
215 V. MARGARIDA LIMA REGO, Contrato de Seguro e Terceiros, Coimbra Editora, Coimbra, 2010,
pág. 317. Acrescenta a autora que «poderia dizer-se que este é um caso em que a lei confere o valor de
declaração negocial, não ao silêncio, mas a um acto omissivo, sem possibilidade de prova em contrário. No
entanto, quer se trate de falta de pagamento de prémio ou fracção, inicial ou subsequente, estamos sempre
perante um caso de caducidade, por simples decurso do prazo».
216 Lembramos que a resolução automática do contrato surge com o Decreto-Lei nº 122/ /2005, de 29
de julho, como forma de diminuir os litígios pendentes em tribunal. Referia o preâmbulo do diploma legal
que «O presente diploma vem, pois, alterar o Decreto-Lei nº 142/2000, de 15 de Julho, com o principal
objectivo de diminuir o número de litígios relacionados com o pagamento de prémios de seguro. Para
atingir este propósito, importa aplicar em toda a sua extensão o princípio que já resultava da versão
originária do diploma, segundo o qual o contrato de seguro só deve produzir os seus efeitos com o
pagamento do prémio ou fracção por parte do tomador de seguro».
217 V. sobre o tema do pagamento de prémios de seguro de vida MARIA INÊS DE OLIVEIRA
MARTINS, O seguro de vida enquanto tipo contratual legal, Coimbra Editora, 2010, págs. 321 a 326.
218 Cfr. acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 22-04-2008, Proc. 866/2008-7, Relator LUÍS
ESPÍRITO SANTO, onde é referido que «Nos contratos de seguro do “ramo vida“ o pagamento inicial do
competente prémio (ou de fracção dele) não constitui elemento da eficácia do negócio, em termos de se
estabelecer um nexo jurídico de indissociável dependência entre a cobertura contratual do risco e a prática
desse acto».
219 Atendendo ao regime que historicamente o seguro de vida tem tido, a presente redação parece
constituir uma inovação ao remeter para o que as partes tenham acordado quanto à resolução, onde
naturalmente a resolução é uma hipótese legal como qualquer outra.
220 Refere o restante preceito que «§ único. O prazo a que se refere o presente artigo contar-se-á da
data do registo da carta, a qual será dirigida para a última residência do segurado, que conste dos registos
e documentos da sociedade seguradora».
221 V. acórdão do STJ de 10-02-2005, Proc. 04B4775, relator Lucas Coelho, em www.dgsi.pt.

222 V. artigo 55º, nº 4, do RJCS, o qual refere que «o segurador não cobre sinistro ocorrido entre a data
do vencimento e a data do pagamento do prémio de que o beneficiário tivesse conhecimento».
223 V. artigo 55º, nº 3, do RJCS.

224 JOHN LOWRY e PHILIP RAWLINGS, Insurance Law – Doctrines and Principles, second
edition, Hart Publishing, Portland, 2005, pág. 143, bem como MALCOM CLARKE, Policies and
Perceptions of Insurance Law in the Twenty-First Century, Oxford University Press, New York, 2009,
págs. 133 e 134 e JOHN BIRD, Bird’s Modern Insurance Law, Eighth Edition, Sweet & Maxwell, 2010,
págs. 102 e 103; ROBERT E. KEETON e ALAN I. WIDISS, Insurance Law – a guide to fundamental
principles, legal doctrines, and commercial pratices, West Publishing Co., St. Paulo, Minn, 1988, pág.
603; NICHOLAS LEGH-JONES, JOHN BIRDS e DAVID OWEN, MacGillivray on Insurance Law,
Tenth Edition, Sweet And Maxwell, London, 2003, págs. 179 a 181 mencionam que um contrato de seguro
pode expressamente prever dias para pagamento que denominam de «days of grace» durante os quais a
cobertura do contrato se prolonga. Referem que tal prática é comum em seguros de vida, tal como acontece
no mercado português através da tradição que remonta pelo menos desde a entrada em vigor do artigo 33º
do Decreto de 1907. Sobre o conceito de «grace period» V. também HARVEY W. RUBIN, Dictionary of
Insurance Terms, Fifth Edition, Barron’s, 2008, pág. 205.
225 Em termos mais simples o tomador paga o prémio depois de ter conhecimento que teve um sinistro
e quando já foi avisado dos efeitos da falta de pagamento.
226 Cfr. JOSÉ LUÍS BONIFÁCIO RAMOS, O pagamento do prémio na Lei do Contrato de Seguro, in
Cadernos de Direito Privado, nº 39, Braga, 2012, págs. 9 e 10.
227 V. dos autores, Do Regime Jurídico do Pagamento dos Prémios de Seguro, Dislivro, Lisboa, 2007,
pág. 44.
228 Cfr. do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., págs. 105 e 106.

229 Cfr. do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 106.

230 Cfr. do autor, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 106.

231 Sobre a declaração tácita V., por exemplo, PAULO MOTA PINTO, Declaração tácita e
comportamento concludente no negócio jurídico, Almedina, Coimbra, 1995 e RUI DE ALARCÃO,
Declarações expressas e declarações tácitas – o silêncio, BMJ, nº 86, 1959, págs. 233 a 241.
232 V. o princípio decorrente do artigo 32º, nº 1, do RJCS.

233 V. artigos 39º, 42º e 44º do RJCS.

234 V. artigo 43º do RJCS.

235 Sobre a tutela da confiança e das expetativas das partes V. com interesse a tese de doutoramento de
MANUEL CARNEIRO DA FRADA, Teoria da Confiança e Responsabilidade Civil, Almedina, Coimbra,
2007 e o artigo de JOÃO BAPTISTA MACHADO, Tutela de Confiança e “Venire contra factum
proprium”, in Obra Dispersa, Vol. I Scientia Iuridica, Braga, 1991, págs. 345 a 423.
Parte IV

15. Outras situações dispersas de cessação


15.1. A resolução por incumprimento de deveres de informação enquanto
resolução por justa causa
O RJCS tem outras disposições dispersas que conferem o direito à resolução.
Faremos primeiro referência às que derivam do incumprimento dos deveres de
informação e que podemos reconduzir à resolução com justa causa, conferindo o
legislador alguns elementos que permitem fundamentá-la.
O artigo 23º, nºs 2, 3 e 4 menciona a possibilidade de resolução por
incumprimento dos deveres de informação, onde por via do artigo 19º também se
devem inserir deveres de informação que resultem de incumprimentos do
Decreto-Lei nº 95/2006, de 29 de maio e outros deveres de proteção aos
consumidores que constam de legislação dispersa, onde se inclui a Lei nº 24/96,
de 31 de julho (LDC).
Da aplicação destes diplomas resulta o seguinte:
i. o regime contrato de seguro celebrado à distância permite a resolução no
prazo de 15 dias;
ii. a LDC, no seu artigo 8º, nº 4236, permite a retratação237 no prazo de sete
dias.

Estes direitos correspondem a figuras semelhantes ou próximas do direito de


arrependimento ou desistência previsto no artigo 118º referente à livre resolução,
onde a comercialização à distância já aparece mencionada mas os tipos de
seguros onde é possível o arrependimento são reduzidos.
Atendendo a que a previsão da LDC apenas poderá ser utilizada em caso de
incumprimento de deveres de informação e que está reduzida ao prazo de sete
dias a contar da celebração do contrato, a previsão do RJCS é bem mais
abrangente podendo afetar o contrato em qualquer dos momentos da sua
vigência contando-se o prazo de 30 dias para a resolução a contar da entrega da
apólice, a qual pode ocorrer em momento distinto relativamente à contratação.
No entanto, o artigo 23º, nº 2, limita a possibilidade de resolução por a
mesma não ser possível quando «a falta do segurador não tenha razoavelmente
afectado a decisão de contratar da contraparte ou haja sido accionada a
cobertura por terceiro». Esta previsão permite ao segurador opor-se e como já
terá recebido o prémio poderá resistir a proceder ao estorno.
Relacionado com o incumprimento dos deveres de informação é também
relevante o artigo 34º, nº 6, o qual prevê a possibilidade de resolução do contrato
por não entrega da apólice, tendo a cessação efeitos retroativos, mas o contrato
produziu efeitos, já que o nº 4 prevê que não são oponíveis as cláusulas não
entregues, no seguimento do que também já decorre da LCCG238. A violação das
regras sobre a informação que deve constar da apólice confere igualmente direito
ao tomador de resolver o contrato239.

15.2. A resolução por transferência de carteira


Embora em diploma legal diferente cabe fazer referência ao artigo 154º do
RGAS, o qual, na sequência do que tem sido previsto nas Diretivas
comunitárias240, prevê a possibilidade de resolução após comunicação de
transferência de carteira de contratos entre seguradores241. O legislador parte do
princípio que um segurado quando escolhe um segurador tem laços de confiança
que podem não se prolongar ao novo segurador para o qual é transferida a
carteira. O segurador que cobre o risco é um dos elementos essenciais que consta
da apólice nos termos do artigo 18º, alínea a), e artigo 37º, nº 2, alínea b), do
RJCS. Ocorrendo uma alteração a meio do contrato tal confere a possibilidade
de resolução ao segurado com fundamento legal, o que lhe confere uma justa
causa.
Dispõe o nº 2 do artigo 154º do RGAS enquanto regra geral que «quando as
transferências de carteira abranjam contratos cobrindo riscos situados em
território português ou em que Portugal seja o Estado membro do compromisso,
os segurados e tomadores dispõem de um prazo de 30 dias contados a partir da
publicação no sítio na Internet do Instituto de Seguros de Portugal (...) para a
resolução dos respectivos contratos, prazo durante o qual a transferência não
lhes é oponível».
O artigo 155º, nº 1, do RGAS tem uma disposição específica para o ramo
«Vida» possibilitando que a transferência de carteira de seguros não seja
autorizada se houver oposição de, pelo menos, 20% dos segurados.

15.3. O resgate enquanto resolução


O resgate de um seguro enquanto forma de resolução convencional ou legal do
contrato, dependendo se decorre do contrato ou da lei, que pode já estar
previamente programada242. É típico dos contratos de seguros do ramo Vida em
que existe investimento de quantias entregues ao segurador, as quais são
suscetíveis de voltarem à mão do tomador. O resgate quando seja permitido243
pode ser total ou parcial, pelo que apenas quando é total leva à cessação do
contrato244.
Quando o resgate seja parcial podem ser entregues quantias monetárias
através de resgates programados ou pode simplesmente corresponder a uma
opção do tomador. Quando se menciona valor de resgate pretende-se fazer
referência ao valor que é suscetível de ser recebido pelo tomador245.
Na doutrina MOITINHO DE ALMEIDA chama resgate à «resolução unilateral do
contrato efectuada pelo subscritor da apólice, com o consequente dever, por
parte do segurador, de a este entregar a reserva matemática, deduzido de uma
certa percentagem para fazer face a despesas de aquisição ainda por cobrar e a
possíveis prejuízos inerentes à anti-selecção que a cessação dos efeitos do
contrato é susceptível de determinar», fazendo ainda o autor uma importante
ressalva ao mencionar que «não há que confundir o resgate com o direito do
subscritor de receber uma quantia de montante idêntico sempre que se verifique
a resolução do contrato»246.
Por sua vez, JOSÉ VASQUES define resgate enquanto «resolução unilateral do
contrato de seguro de vida pelo segurador da apólice, com o consequente dever
de a empresa de seguros lhe entregar o valor da provisão matemática deduzida
das despesas de aquisição e ou outras convencionadas na apólice»247. ABEL
VEIGA COPO, de forma semelhante, refere que o resgate é uma faculdade ou
direito do tomador, que se exerce através de declaração unilateral deste, sem
necessidade de consentimento da empresa de seguros248.
O artigo 194º do RJCS faz menção à redução e resgate dispondo o nº 1 que
«o contrato deve regular os eventuais direitos de redução e de resgate de modo
a que o respectivo titular se encontre apto a conhecer o respectivo valor»249.
O regime do Planos Poupança Reforma (PPR) constante no Decreto-Lei nº
158/2002, de 2 de julho, também faz menção ao resgate mas enquanto valor de
reembolso no artigo 4º num sentido mais generalista, já que o reembolso
pressupõe que estão reunidas as condições para recebimento do valor investido
não existindo incumprimento contratual de nenhuma das partes enquanto o
resgate pressupõe uma aplicação mais restrita a meio do contrato com duração
que seria previsível, cujo resgate sendo parcial apenas redunda numa redução do
contrato.
O Instituto de Seguros de Portugal emitiu a Circular nº 10/2009, de 20 de
agosto250, onde no preâmbulo associa o reembolso ao vencimento do contrato,
quer em caso de morte quer em caso de sobrevivência, fazendo também uma
distinção da figura do resgate e do reembolso ao nível dos prazos para
pagamento de indemnizações251.

15.4. A cessação do contrato de seguro de saúde


15.4.1. O seguro de saúde tem regras específicas que acrescem e não prejudicam
as que já abordámos. Dispõe especificamente o artigo 217º252 que em caso de
não renovação do contrato ou da cobertura e não estando o risco coberto por um
contrato de seguro posterior, o segurador terá que cobrir as prestações resultantes
de doença manifestada ou outro facto ocorrido na vigência do contrato nos dois
anos subsequentes e até ao limite do capital seguro do último ano de vigência.
Para a aplicação desta solução existe, no entanto, a condição de o segurador ser
informado nos 30 dias imediatos ao termo do contrato, salvo justo impedimento.
Já nos tínhamos pronunciado253 sobre esta matéria em comentário ao artigo
217º referindo que consideramos que quando a doença já seja manifestamente do
conhecimento do segurador e seja a mesma de caráter prolongado, se deve
dispensar a formalidade de comunicação da doença, mas deve o segurador ser
informado da não contratação de seguro posterior para que esteja ciente dos
riscos que cobre.
Se houver seguro posterior, decorre a contrario que, ainda que a doença se
tenha manifestado durante o contrato anterior, já terá que ser o novo contrato254
a cobrir as despesas, desde que o risco esteja abrangido por este contrato.
Atendendo aos deveres de declaração de risco parece-nos que só serão
abrangidos esses custos desde que devidamente compensados no prémio fixado.
Deverá verificar-se qual a noção de sinistro adotada por cada apólice,
atendendo a que é matéria sujeita a liberdade contratual255, no sentido de ser
possível aferir o momento em que cessam os efeitos do contrato. Se estiver
definido como sinistro a própria doença será mais fácil fazer uso do seguro após
o seu vencimento. Se o sinistro corresponder a qualquer ativação de cobertura,
por exemplo uma mera consulta médica em ambulatório, então esse será o
sinistro e o facto que o originou não terá relevância256.

15.4.2. Na interpretação do artigo 217º, nº 1, do RJCS, cabe ainda analisar o


âmbito da expressão «em caso de não renovação do contrato ou da cobertura e
não estando o risco coberto por um contrato de seguro posterior»,
nomeadamente quanto à iniciativa da cessação.
Identificamos duas hipóteses interpretativas, a saber:
a) abrange a iniciativa de não renovação de qualquer das partes;
b)abrange apenas a iniciativa de não renovação por parte do segurador.

Na primeira hipótese está em causa o risco de posteridade, em que o preceito


visa dar a possibilidade de o seguro cobrir os eventos que ocorreram na vigência
do contrato e que ainda não deram lugar a gastos.
Aceita-se que o risco de posteridade fica mais claramente coberto, situação
em que será indiferente quem denúncia o contrato, tendo o segurado que
demonstrar a ocorrência do evento.
No entanto, tal pode ser redutor, atendendo a que as participações tardias
devem, por regra, dar lugar à respetiva regularização257.
Relativamente à segunda hipótese de abranger apenas a iniciativa de não
renovação do segurador, estaria então em causa a proteção relativamente a
denúncias abusivas pelo mesmo, que constitui uma limitação ao abrigo do artigo
114º, nº 4, do RJCS.
O pensamento do legislador terá sido o de proteger o consumidor face a
denúncias de contrato do segurador quando o mesmo anteveja que vai ter gastos
superiores ao que recebe de prémio, constituindo uma solução única para esta
tipologia de seguro.
O Decreto-Lei nº 176/95, de 26 de julho, no seu artigo 21º, nº 2, previa 1 ano
de cobertura posterior e 8 dias para o tomador ou segurado comunicar ao
segurador, prazos que foram assim ampliados para 2 anos e 30 dias
respetivamente.
No entanto, permanece pouco claro se nos dois anos subsequentes:
a) o capital se renova em cada ano; ou
b)se o limite do capital seguro do último ano se refere apenas ao capital
remanescente desse ano.

Consideramos que as duas interpretações podem ser admissíveis face à


indeterminação da lei.
Ainda assim, sendo consistente com o argumento de salvaguardar o risco de
posteridade, poderá entender-se que abrange a iniciativa de não renovação de
ambas as partes. É apenas uma questão de participação de eventos ocorridos na
vigência do contrato, situação em que haveria cobertura até esgotar o capital do
último ano.
Considerando o preceito como uma proteção contra denúncias abusivas estará
mais vincada a iniciativa de não renovação pelo segurador, o que leva a
considerar que para se conferir uma proteção superior o capital renova-se em
cada ano.
Destas duas posições pode-se ainda retirar uma posição mista para proteção
dos dois interesses. Por um lado, a renovação do capital em cada ano será de
aplicar quando a iniciativa de não renovação seja do segurador e tenham
ocorrido sinistros que fazem supor a continuidade na utilização das garantias do
contrato. Parece-nos que é uma norma claramente de proteção ao consumidor, de
modo a que o tomador ou segurado após ter tido uma doença ou acidente, que já
provocaram gastos, não fique desprotegido sem possibilidade de dar
continuidade aos tratamentos. Caso o capital já estivesse esgotado não haveria
qualquer benefício.
Há que ter em consideração que o novo segurador vai provavelmente
considerar que existia preexistência e não aceitar a cobertura ou vai compensar o
risco acrescido com um aumento do prémio relativamente à tarifa normal devido
aos gastos que sejam previsíveis.
Por outro lado, sendo a iniciativa de cessação do tomador ou segurado o
capital apenas será o do contrato que estava em execução, sem que se renove
anualmente.
Deste modo, apenas faz sentido que o tomador (ou segurado) possa dispor do
capital remanescente do último ano se a iniciativa de não renovação for sua, caso
contrário existiria abuso de direito por não estar a ser pago prémio a qualquer
segurador.
Por fim, na resolução com justa causa pelo segurador, atendendo à quebra da
confiança entre as partes e potencial abuso de parte do tomador, entendemos que
cessam todas as coberturas na data da cessação, não podendo o mesmo fazer uso
da prerrogativa do artigo 217º.
Caso a resolução com justa causa seja da iniciativa do tomador ou segurado
mantêm-se as coberturas com aplicação do artigo 217º como se a iniciativa de
não renovação fosse do segurador, já que a cessação apenas ocorreu devido a
algum incumprimento daquele. Seria injusto os incumprimentos do segurador
desonerarem-no das suas obrigações.

15.5. Particularidades da cessação do seguro obrigatório de


responsabilidade civil automóvel
15.5.1. O artigo 21º, nº 1, do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto, embora
seja diploma especial prevê uma situação que leva à cessação do contrato de
seguro automóvel.
Refere aquele preceito que o contrato de seguro não se transmite com a
alienação do veículo, cessando os seus efeitos às 24 horas do dia da alienação. A
lei dispõe sobre os efeitos não qualificando o tipo de cessação, mas como bem
foi apontado pelo Tribunal da Relação de Évora, de 24-10-1993258, está em
causa uma caducidade. Assim, o contrato não se transmite com o veículo, pelo
que com a ocorrência de um facto – a alienação – a lei determina que os efeitos
do contrato terminam. No entanto, este regime tem uma particularidade. O
contrato cessa para o veículo alienado, mas é permitido que o contrato fique
suspenso durante 120 dias caso o tomador do seguro deseje segurar novo
veículo. Se não o fizer considera-se o contrato resolvido na data de início da
suspensão259.
A Cláusula 18.ª, nº 8, das condições gerais uniformes da apólice de seguro
obrigatório de responsabilidade civil automóvel fixa ainda outra particularidade
para a resolução do contrato pelo segurador referindo que «o contrato prevê o
prazo razoável de dilação da eficácia da declaração de resolução do contrato».
Significa isto que a resolução não poderá ter efeitos retroativos ou imediatos,
tendo o segurador que possibilitar ao tomador um prazo razoável para que este
encontre outro segurador que aceite segurar o risco.
Esta solução legal leva-nos a considerar, atendendo à função social dos
seguros260, que sempre que um seguro seja obrigatório e se destine à proteção de
terceiros como os de responsabilidade civil e os de acidentes de trabalho será
conveniente que exista um aviso prévio para a resolução. Esta foi, aliás, a
solução normativa generalizada das apólices uniformes aprovadas pelo ISP após
a publicação do RJCS.

15.5.2. Quanto aos efeitos da cessação de um contrato de seguro obrigatório de


responsabilidade civil automóvel cabe fazer uma breve menção ao artigo 22º do
Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto, relativo à oponibilidade de exceções
aos lesados, que passou a ter disposição semelhante no RJCS através do artigo
147º261 aplicável a seguros obrigatórios.
Refere o artigo 22º que « para além das exclusões ou anulabilidades que
sejam estabelecidas no presente decreto-lei, a empresa de seguros apenas pode
opor aos lesados a cessação do contrato nos termos do nº 1 do artigo anterior,
ou a sua resolução ou nulidade, nos termos legais e regulamentares em vigor,
desde que anteriores à data do acidente».
Da presente redação surge a questão de aferir se o regime da anulabilidade
decorrente de omissões na declaração inicial do risco podem ser tidas em conta
para determinar que o segurador não pague a indemnização a terceiros lesados
de boa fé.
A jurisprudência tem debatido a matéria, tendo vindo a concluir que «de
acordo com o artº 22 do Dec. Lei nº 291/07, de 21.8, a anulabilidade do
contrato de seguro prevista no artº 25 nº 1, do Anexo ao Dec. Lei nº 72/08, de
16.04, é inoponível ao terceiro lesado»262.
O Supremo Tribunal de Justiça em acórdão recente, de 31 de maio de 2011,
vinca a distinção entre nulidade e anulabilidade referindo que:
« A seguradora só pode invocar perante os lesados as anulabilidades que
estejam previstas na lei do seguro obrigatório. Qualquer outro vício gerador
de anulabilidade do contrato, previsto noutro diploma legal ou norma
jurídica geral ou especial, não pode ser oposta aos lesados. Só a nulidade
do contrato de seguro pode ser-lhes oposta»263.

Deste modo, pese o artigo 2º do RJCS refira que as normas aí previstas são
também de aplicar aos regimes especiais, tal tem como condição que não sejam
incompatíveis com esses regimes. Daqui resulta que o artigo 22º do Decreto-Lei
nº 291/2007, atendendo ao propósito de proteger terceiros no âmbito de um
seguro obrigatório, que merece superior tutela devido ao interesse público que
lhe subjaz, tem uma aplicação que é mais restritiva do que aquela que resulta do
RJCS e por essa via tende a ser mais abrangente na sua proteção.
Assim, esta é uma matéria em que, por via daquilo que têm sido as decisões
dos tribunais264, torna-se de superior relevância determinar a natureza jurídica
do que pode levar à cessação do contrato, para por essa via se apurar a
responsabilidade que cabe ao segurador e ao tomador. Na situação típica que tem
sido dirimida pelos tribunais, das omissões ou inexatidões quanto à declaração
do condutor habitual, caberá ao segurador pagar a totalidade da indemnização ao
lesado e solicitar posteriormente ao tomador a diferença do que não lhe caberia
prestar devido ao prémio que não chegou a receber para o risco em causa265.
16. A cessação do contrato e adesão nos seguros de grupo
16.1. Os seguros de grupo têm algumas particularidades que se encontram
autonomizadas em capítulo próprio266 e em que se distingue a cessação do
contrato da cessação da adesão sem que isso prejudique a continuidade do
contrato267. No entanto, deve-se desde já deixar frisado que os preceitos
relativos à cessação, em particular os artigos 82º a 84º, têm caráter supletivo, já
que não fazem parte do elenco de disposições imperativas.
Nesse sentido, e sem prejuízo de convenção contrária, nos preceitos relativos
aos seguros de grupo verificamos que o artigo 82º, nº 1, do RJCS268, prevê a
possibilidade de denúncia pelo segurado devido a alterações ao contrato de
seguro de grupo. Corresponde ao princípio que já abordámos de que o tomador
tem o direito de se desvincular do contrato caso existam alterações que
coloquem em causa a própria utilidade do mesmo, enquanto unidade jurídica,
cujo juízo, no caso do seguro de grupo, pertence ao segurado269.
Há, no entanto, a exceção que consta da parte final do nº 1, ou seja, a
denúncia não será possível «nos casos de adesão obrigatória270 em virtude de
relação estabelecida com o tomador do seguro», ainda que se deva observar os
limites da LCCG para que não haja exigências abusivas e se obrigue o segurado
a manter-se numa relação profundamente desequilibrada. Esta exceção relativa à
adesão obrigatória explica-se por serem situações em que em princípio não
haverá obrigações por parte do segurado, nomeadamente o pagamento do
prémio. Assim, se o segurado não tem gastos na prática também não seria lógico
denunciar algo que só lhe dá vantagens, ainda que diminuam ao longo do
tempo271.
Como temos vindo a fazer menção, a alteração de condições de um seguro
para a renovação dá direito tanto ao tomador como ao segurado, dependendo de
a quem as obrigações alteradas respeitem, de denunciar o contrato existindo uma
denúncia parcial de uma das partes seguida de proposta de modificação. O artigo
82º segue uma linha didática que alguns preceitos do RJCS272 contêm de
elucidar que existem determinados direitos que são aplicáveis não apenas ao
tomador mas também ao segurado, por ser a parte afetada pela alteração.

16.2. O artigo 83º prevê ainda as situações em que não sendo afetado o contrato
entre segurador e tomador, pode ser excluído um segurado, nomeadamente em
caso de:
a) cessação do vínculo com o tomador;
b)não pagamento do prémio ao tomador;
c) atos fraudulentos em prejuízo do segurador ou tomador.

A cessação do vínculo com o tomador é um facto objetivo que determina a


perda de fundamento para a ligação ao contrato de seguro de grupo atendendo à
definição do mesmo previsto no artigo 76º, o qual «cobre riscos de um conjunto
de pessoas ligadas ao tomador do seguro por um vínculo que não seja o de
segurar»273.
Ainda que se tenha que analisar cada situação concreta, entendemos que,
mais do que uma possibilidade para o tomador excluir o segurado, a verificação
do facto – cessação do vínculo – corresponde a uma caducidade cujos efeitos
operam automaticamente.
Embora possa parecer excessivo considerar-se o segurado excluído sem aviso
prévio, são esses os efeitos da caducidade, sendo certo que as partes podem
ajustar solução diferente. Também deverá atender-se que nas situações típicas
existe uma relação principal que fundamenta o vínculo do seguro de grupo. A
situação mais corrente em que a entidade patronal é o tomador, caso despeça o
trabalhador com justa causa terá que cumprir prazos no processo disciplinar, pelo
que terá tempo para acautelar a contratação de novo seguro. Se a iniciativa for
do trabalhador já conhecerá com antecedência os efeitos da cessação da sua
relação laboral274275.
De notar ainda que, sendo o regime da cessação uma das informações
essenciais, a existência de caducidade por desaparecimento do vínculo laboral
deve fazer parte das informações prestadas pelo tomador ou segurador,
dependendo de quem assume essa obrigação [artigo 18º, alínea h); artigo 37º, nº
3, alínea a) e artigo 78º, nº 1]. Assim, se o segurado deixar de ser trabalhador da
empresa deverá estar previamente informado que tal determina a caducidade do
vínculo ao seguro de grupo276.
Em termos contratuais choca com a natureza do seguro de grupo o
ajustamento de que a cobertura se mantém através do mesmo seguro de grupo
apesar da extinção do vínculo, pelo que a continuar a estar coberto terá que ser
através de outro contrato ou deixa o seguro de grupo de poder ser entendido
como tal, passando a existir uma outra realidade jurídica apenas no plano da
liberdade contratual. Esse é o princípio que também decorre do artigo 85º, já
que, havendo exclusão do segurado (onde incluímos a caducidade do vínculo ao
seguro de grupo) ou cessação do contrato só existe manutenção da cobertura
caso o contrato o preveja. É um compromisso assumido pelo segurador perante o
segurado que vai para lá do seguro de grupo que entretanto até pode ter cessado
para todos os segurados.

16.3. Verificando-se a exclusão do segurado ou a cessação do contrato, prevê o


artigo 85º que a cobertura se pode manter, caso o contrato o preveja. Se não
existir interrupção da cobertura iniciada com o anterior contrato não existe
também cessação das obrigações entre as partes (segurador e segurado), pelo que
não existe na prática uma verdadeira cessação. Esta apenas ocorre no plano
formal, podendo existir a emissão de uma nova apólice, com novo número, mas
que não afeta as obrigações assumidas entre as partes.
Consideramos que sempre que o seguro de grupo seja contributivo,
independentemente de o prémio ser ou não pago diretamente ao segurador,
deverá o contrato prever a manutenção da cobertura que se ajuste às legítimas
expetativas277 de quem já tenha pago prémio para um determinado período.
Ainda que o contrato nada preveja, a existência desse pagamento pode levar a
considerar que entre segurador e segurado existe um compromisso direto de
assunção dos riscos para o período pago, que se reforça se for pago diretamente
ao segurador, que determinam a cobertura fora do contexto do vínculo ao seguro
de grupo entretanto cessado278.
A este respeito refere MARGARIDA LIMA REGO que «há quem sustente que,
saindo um segurado do grupo, perderá automaticamente a cobertura, na medida
em que esta dependia da sua pertença ao grupo. No entanto, esta cominação
não existe na nossa lei. Por conseguinte, a questão deverá resolver-se caso a
caso, de acordo com a interpretação de cada contrato»279. Em sentido
semelhante JOSÉ ALVES DE BRITO refere em anotação ao artigo 83º que a
exclusão
«não é forçosa, pois, sem prejuízo de poder questionar se o título
permanece, o segurado pode e não deve ser excluído quando cesse o vínculo
com o tomador»280.
Como se depreende do argumentado a nossa posição não é totalmente
coincidente com esta. Ainda que a lei portuguesa coloque a exclusão do
segurado como uma possibilidade, mistura várias situações, pelo que utiliza a
expressão num sentido generalista que não prejudica as situações de caducidade
que operem nos termos gerais e por respeito à natureza do seguro de grupo.
Quanto ao não pagamento do prémio e atos fraudulentos, correspondem a
quebras contratuais que fundamentam a resolução do vínculo com justa causa.
Assim sendo, entendemos que o elenco de situações que permitem a exclusão
podem ser alargadas281, caso seja possível configurar outras fundadas em
incumprimentos do segurado cuja gravidade sustente a exclusão. A este
propósito deverão considerar-se, por exemplo, os deveres de declaração inicial
do risco que são aplicáveis expressamente não só a tomadores como também a
segurados282.
O artigo 84º alarga o leque destas situações específicas e esclarece sobre as
formas de cessação do contrato de seguro de grupo que o tomador poderá
utilizar, ou seja, a revogação, a denúncia e a resolução. É de notar que apenas
foram inseridas as formas de cessação voluntárias, não se inserindo a caducidade
a exemplo do que consta no artigo 105º.
Tal poderia levar à conclusão de que não seria possível a ocorrência da
caducidade enquanto forma de cessação, mas tal não corresponde à verdade.
Como já observámos a falta de pagamento que impede a prorrogação do
contrato, nos termos do artigo 61º, nº 2, origina a caducidade do contrato e esta
também é possível nos seguros de grupo.
Assim, o legislador apenas pretendeu mencionar as formas voluntárias de que
o tomador pode fazer uso para cessar o contrato, sem prejuízo da caducidade que
ocorra nos termos gerais.
O tomador deve comunicar ao segurado a extinção da cobertura, mas como
bem nota MARGARIDA LIMA REGO «o incumprimento do dever de informar os
segurados não prejudica a produção dos efeitos da cessação do contrato, que
pode ser oposta a todos os segurados, independentemente da informação que
lhes tenha sido disponibilizada»283.
Sobre os deveres de comunicação da resolução pronunciou-se o Tribunal da
Relação do Porto no sentido em que:
« a declaração de resolução do contrato de seguro de grupo, para ser
eficaz, deve ser dirigida tanto às pessoas seguras como à entidade tomadora
do seguro»284.

Sendo a responsabilidade de comunicar a cessação do tomador na verdade o


segurador já se desonerou das obrigações do contrato, sem prejuízo dos sinistros
que ainda pudessem ser participados, pelo que poderá o tomador incorrer em
responsabilidade civil em caso de incumprimento do dever de informar.
Caso a responsabilidade pelo pagamento do prémio seja do tomador, que é a
regra285, é-lhe aplicável o artigo 80º, nº 2, do RJCS, que impõe a aplicação dos
artigos 59º a 61º, ou seja, caso haja falta de pagamento do prémio o contrato
cessa na data de vencimento da obrigação e por decorrência, cessando para o
tomador cessa para os segurados.
Nas situações em que deva o segurado pagar diretamente o prémio ao
segurador, o incumprimento do pagamento do prémio apenas afeta a cobertura
do segurado incumpridor286 e não de todos.
O Tribunal da Relação de Lisboa a propósito da resolução por falta de
pagamento do prémio pelo segurado decidiu no seguinte sentido:
«III. O direito à resolução do contrato de seguro de vida contributivo,
por falta de pagamento, pelo aderente, do prémio, apenas assiste a
segurador e não também ao tomador.
IV. É nula, por violar a boa fé – artºs 15 e 22 nº 1 b) da LCCG – a
cláusula inserta em contrato de seguro de grupo contributivo que permite ao
tomador, sem a alegação de qualquer motivo atendível, a sua resolução»287.
Assim, se num seguro de grupo contributivo o prémio é pago diretamente ao
segurador a falta de pagamento produz os efeitos previstos no regime geral,
podendo dar origem à resolução automática ou não prorrogação da cobertura.
Entendemos que o tomador para excluir o segurado terá que ter um
fundamento legal ou contratual, razão pela qual apenas poderá utilizar os
incumprimentos que lhe digam respeito.

16.4. Questão não resolvida diretamente da leitura destes preceitos e que


pretendemos colocar é se podem o segurador ou o tomador excluir segurados de
um seguro de grupo, no âmbito de contrato anual renovável através da figura da
denúncia livre e sem ter existido qualquer incumprimento contratual?
Um seguro de grupo tem como pressuposto uma variedade de segurados com
diferentes tipologias de risco e de utilização das garantias do contrato. Imagine-
se um seguro de grupo de saúde em que há segurados que em anos consecutivos
levam o segurador pagar mais indemnizações do que aquilo que recebe de
prémios enquanto há segurados que não utilizam as garantias contratuais.
Numa situação em que há alguns segurados que provocam o pagamento
avultado de indemnizações pode haver interesse tanto do segurador como do
tomador em os excluir para a prorrogação do contrato, a saber:
a) o segurador, porque o risco que esses segurados representam não tornam a
carteira de seguros sustentável recebendo prémios em valor não suficiente para
cobrir as indemnizações e custos de gestão;
b) o tomador, porque quando suporte pelo menos parte do prémio terá
previsivelmente um aumento do prémio que lhe é cobrado.

Adiantando a resposta à questão diremos que o segurador está limitado à


relação contratual estabelecida com o tomador, pelo que apenas este último pode
excluir os segurados. Por sua vez, o tomador deverá conformar os seus
comportamentos ao que decorre da relação principal que faz incluir o segurado
no seguro de grupo. Se a adesão decorrer das obrigações decorrentes de um
contrato de trabalho ou do facto de pertencer o segurado pertencer a uma ordem
profissional o tomador não terá a possibilidade de deixar caducar a adesão sob
pena de incumprimento das condições a que se obrigou perante os segurados.
Nesta análise, que não poderá deixar de ser casuística, também se deverá
ponderar se estamos perante:
a) adesões automáticas não contributivas em que não existe normalmente
avaliação individual do risco do segurado que determine a sua não aceitação pelo
segurador para a sua inclusão no seguro de grupo, já que a inclusão se faz pelo
facto de pertencer a um determinado grupo, normalmente de trabalhadores288; ou
b) adesões contributivas e por essa via voluntárias289 em que se procede à
avaliação individual do risco que pode determinar a não aceitação da adesão do
segurado ou o agravamento individual das condições tarifárias e imposição de
exclusões. Esta última situação pode ocorrer nas adesões a seguros de vida em
que a entidade de crédito é o tomador e beneficiário levando a que o processo de
contratação em muito se assemelhe ao da contratação individual.

A primeira situação corresponderá ao típico seguro de grupo que visa facultar


ao tomador uma forma de conferir vantagens aos segurados enquanto
terceiros290; enquanto que a segunda encaixa naquilo que a doutrina denomina
de seguro coletivo291, em que o segurado assume uma posição mais ativa na
relação contratual292, ainda que na forma de vinculação o faça através da adesão
a clausulados tipo293.
O artigo 83º não contém todas as situações que podem originar a exclusão do
segurado, pois apenas menciona o que pode provocar a exclusão do segurado
durante a execução do contrato, normalmente durante a anuidade294. Assim,
deixar de ser trabalhador da empresa a meio da anuidade ou um incumprimento
do segurado motiva a sua exclusão do seguro que está em execução.
Deste modo, se for o tomador a não inserir no seguro um determinado
trabalhador para a nova anuidade significa apenas que exerceu a denúncia, desde
que proceda ao aviso prévio, para deixar a adesão caducar. Se não seguíssemos
esta linha de raciocínio teríamos um contrato eterno, efeito que como já vimos
não será de aceitar. Por esta via não há verdadeiramente uma exclusão mas
simplesmente uma não prorrogação.
Nestas situações o tomador deverá proceder ao aviso de prévio com uma
antecedência mínima de 30 dias por aplicação analógica do artigo 82º, nº 3, e do
artigo 115º, nº 1. Caso a adesão não tenha prazo determinado ou se tiver um
período inicial de duração igual ou superior a cinco anos então o aviso prévio
deverá ser de 90 dias face ao termo da adesão.
Em conclusão, tendo por base o RJCS, o segurador na sua relação com o
tomador tem a faculdade de:
a) denunciar totalmente o contrato;
b) fazer uma denúncia parcial com proposta de modificação, em que por
exemplo aumenta o prémio; ou simplesmente
c) negociar condições para o novo período contratual.

O tomador tem as mesmas faculdades do segurador, a que acrescem:


a) durante a execução do contrato – a caducidade (embora não seja bem uma
faculdade devido aos seus efeitos automáticos) por desaparecer o vínculo; ou a
possibilidade de excluir segurados através de resolução por incumprimentos
contratuais (artigo 83º);
b) para a renovação do contrato – proceder a denúncias de adesões de
segurados, desde que cumpridos os períodos de aviso prévio e não haja
denúncias abusivas, bem como desde que tal possibilidade resulte da natureza do
vínculo que possibilita a existência de seguro de grupo e seja acordado entre as
partes295.

Deste modo, o tomador terá que atender ao quadro legal da relação


subjacente (o vínculo que não seja o de segurar) que funda a relação de seguro,
para definir o âmbito da sua possibilidade de atuação.
-
236 Refere esta disposição o seguinte: «4 – Quando se verifique falta de informação, informação
insuficiente, ilegível ou ambígua que comprometa a utilização adequada do bem ou do serviço, o
consumidor goza do direito de retractação do contrato relativo à sua aquisição ou prestação, no prazo de
sete dias úteis a contar da data de recepção do bem ou da data de celebração do contrato de prestação de
serviços».
237 A expressão retratação também é utilizada no direito belga. V. para maior detalhe JEAN-MARC
BINON, Droit des Assurances de Personnes, Larcier, Bruxelles, 2007, págs. 129 e 130.
238 V. artigo 8º da LCCG.

239 Cfr. artigo 37º, nº 4, do RJCS.

240 V., por exemplo, a Diretiva Solvência II, 2009/138/CE, de 25 de novembro de 2009, do Parlamento
europeu e do Conselho, que no seu artigo 39º, nº 6, § 3 refere que «O disposto nos primeiro e segundo
parágrafos não prejudica o direito de os Estados-Membros preverem a possibilidade de os tomadores de
seguros rescindirem o contrato durante um determinado prazo a contar da transferência».
241Relativamente à transferência de carteira V. ARNALDO OLIVEIRA, A protecção dos credores de
seguros na liquidação de seguradoras, Almedina, Coimbra, 2000, págs. 178 e 179 e JOSÉ VASQUES,
Direito dos Seguros, Coimbra Editora, 2005, págs. 225 a 234. A possibilidade de resolução também é
válida em caso de liquidação da empresa de seguros, questão que não autonomizamos por crermos não ser
tão frequente. Sobre essa situação V. ARNALDO OLIVEIRA, Resumo da situação legal da liquidação de
empresas de seguros em Portugal, Revista Fórum, nº 11, Ano IV, Lisboa, 2000, pág. 24.
242 MOITINHO DE ALMEIDA distingue as reservas matemáticas das reservas individuais, sendo estas
que conferem o direito ao resgate. Cfr. do autor, O contrato de Seguro no direito Português e Comparado,
Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1971, págs. 325 e 326.
243 V. artigo 106º, nº 3, o qual refere que «Nos seguros com provisões matemáticas, em relação aos
quais o resgate seja permitido, a cessação do contrato que não dê lugar à realização da prestação determina
a obrigação de o segurador prestar o montante dessa provisão, deduzindo os custos de aquisição ainda não
amortizados, adicionando-se, se a ela houver lugar, o montante da participação nos resultados calculado pro
rata temporis».
244 O preâmbulo do Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 de abril, contém uma referência a resgate. No breve
trecho sobre esta matéria pode-se ler que «Em matéria do chamado “resgate” — entendido tão-só como
meio jurídico de percepção de uma quantia pecuniária e não como forma de dissolução do vínculo subsiste
a regra da liberdade contratual das partes, permitindo aos seguradores a criatividade necessária ao bom
funcionamento do mercado. Mas a posição do tomador do seguro ou do segurado é integralmente
protegida através da atribuição ao segurador do dever de tornar possível à contraparte, a qualquer
momento, calcular o montante que pode haver através do resgate». Sobre o resgate enquanto forma de
cessação V. ROMANO MARTINEZ, Da Cessação…, Ob. Cit., pág. 89.
245 V. artigo 208º, nº 1, alínea b).

246 Cfr. do autor, O contrato de Seguro no direito Português e Comparado, Ob. Cit., 1971, pág. 331,
onde ainda refere que «nem sempre que um contrato de seguro de vida seja resolvido há direito ao valor de
resgate. É necessário que exista para o segurador um débito “certus an”, embora na generalidade do
casos “incertus quando”».
247 Cfr. JOSÉ VASQUES, Contrato de Seguro, Coimbra Editora, Coimbra, 1999, pág. 387.

248 Cfr. ABEL VEIGA COPO, Tratado del Contrato de Seguro, Segunda Edición, Thomson Reuters,
Cizur Menor, 2012, pág. 1632. Sobre a matéria da redução e resgate pode-se também consultar as págs.
1628 a 1642.
249 Relativamente à redução do contrato refere MOITINHO DE ALMEIDA que «a existência de
reserva matemática coloca o problema de se saber qual o seu destino na hipótese de resolução do contrato
por falta de pagamento de prémio. Costuma estabelecer-se nas apólices que nesse caso o contrato
subsistirá, com as mesmas características, mas com capital reduzido, funcionando a reserva como um
prémio único. É o que se chama a redução. Efectuada esta, a apólice fica liberada, isto é, isenta do
pagamento posterior de prémios». Cfr. do autor, O contrato de Seguro no direito Português e Comparado,
Ob. Cit., 1971, pág. 328.
250 Acessível em www.isp.pt

251 Sendo o resgate antes da data de vencimento a Circular do ISP prevê um prazo superior para o
pagamento por parte do segurador.
252 Sobre este preceito V. ARNALDO OLIVEIRA e EDUARDA RIBEIRO, Novo regime jurídico do
contrato de seguro: aspectos mais relevantes da perspectiva do seu confronto com o regime vigente,
Revista Fórum, nº 25, Lisboa, 2008, pág. 42.
253 V. FRANCISCO LUÍS ALVES, O regime do contrato de seguro de saúde no direito português,
Revista Fórum, nº 27, Instituto de Seguros de Portugal, 2009, Lisboa, pág. 26.
254 Atendendo a que o art. 217º é de imperatividade relativa (art. 13º, nº 1) pode ser estabelecido um
regime mais favorável ao tomador ou segurado, pelo que o contrato anterior pode prever a existência de
pluralidade de seguros, ficando na liberdade de escolha do tomador ou segurado qual a apólice que opta
para o pagamento das prestações de cuidados de saúde.
255 Por o artigo 99º não fazer parte do elenco de disposições imperativas dos artigos 12º e 13º.

256 Por exemplo, se alguém tem um acidente durante a vigência do contrato, mas só vai a uma consulta
médica após a sua cessação.
257 Cfr. arts. 100º, 101º e 106º, nº 2, do RJCS.

258 Cfr. Colectânea de Jurisprudência, tomo III, 1993, pág. 290.

259 Cfr. Cláusula 19ª, nº 6, da Norma Regulamentar nº 14/2008-R, de 27 de novembro, que aprova a
parte uniforme das condições gerais da apólice de seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel.
260 Sobre a função social dos seguros V., por exemplo, SIMONI FORNI, Assicurazione e Impresa,
Giuffrè Editore, Milano, 2009, págs. 11 e 12 e Vincenzo Ferrari, Nuovo profili di Diritto delle
Assicurazioni, Giuffrè Editore, Milano, 2003, págs. 13 a 23.
261 Dispõe este preceito o seguinte:
«Artigo 147º
Meios de defesa
1 — O segurador apenas pode opor ao lesado os meios de defesa derivados do contrato de seguro ou de
facto do tomador do seguro ou do segurado ocorrido anteriormente ao sinistro.
2 — Para efeito do número anterior, são nomeadamente oponíveis ao lesado, como meios de defesa do
segurador, a invalidade do contrato, as condições contratuais e a cessação do contrato.». Sobre este
preceito V. a anotação de JOSÉ VASQUES em AAVV, Lei do Contrato de Seguro Anotada, Ob. Cit., págs.
495 e 496.
262 Cfr. acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães, de 10-11-2011, Proc. 3389/09.2TBBCL-B.G1,
relatora Rita Romeira, em www.dgsi.pt.
263 Cfr. acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 31-05-2011, Proc. 2693/07.9TBMTS. P1.S1,
relator Moreira Alves, em www.dgsi.pt.
264 Os próprios acórdãos referem estar a seguir a corrente maioritária citando mais jurisprudência.

265 Aplicando-se o princípio da proporcionalidade conforme descrito no artigo 134º do RJCS relativo
ao subseguro. Também o artigo 7º, nº 1, do Decreto-Lei nº 291/2007, de 21 de agosto, relativo ao seguro de
garagista, prevê que «é inoponível ao lesado o facto de o acidente causado pelo respectivo segurado ter
sido causado pela utilização do veículo fora do âmbito da sua actividade profissional, sem prejuízo do
correspondente direito de regresso». Daqui resulta uma superior proteção a terceiros lesados, que não terão
que se envolver na discussão sobre a validade e cobertura do seguro.
266 V. Capítulo VII do RJCS.

267 Sobre a cessação do contrato de seguro de grupo V., por exemplo, MAGALI BIGOT-
GONÇALVES, Les Assurances de Groupe, Presses Universitaires d’Aix-Marseille, 2009, págs. 261 a 285
e BERNARD BEIGNIER, Droit des Assurances, Montchrestien, Paris, 2011, págs. 382 e 383. Sobre o
regime do contrato de seguro de grupo em geral no regime português com o RJCS pode-se consultar
MARGARIDA LIMA REGO, Contrato de Seguro e Terceiros, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, págs. 777
a 867 e MARIA INÊS DE OLIVEIRA MARTINS, O seguro de vida enquanto tipo contratual legal,
Coimbra Editora, 2010, págs. 74 a 86. No regime anterior pode-se consultar PAULA RIBEIRO ALVES,
Intermediação de Seguros e Seguro de Grupo, Almedina, Coimbra, 2007, págs. 243 a 351.
268 Em sentido de que discordamos por entender que o regime especial da denúncia não se aplica aos
seguros contributivos por nesse caso se aplicar o regime geral de denúncia e não o artigo 82º, V.
MARGARIDA LIMA REGO, Seguros coletivos e de grupo, in Temas de Direito dos Seguros, Almedina,
Coimbra, 2012, pág. 314.
269 Sobre a leitura do artigo 82º refere MARGARIDA LIMA REGO que «o regime especial de
denúncia do vínculo resultante da adesão a um seguro coletivo por parte de um segurado nele consagrado
só se aplica aos seguros coletivos não contributivos que não sejam verdadeiros seguros de grupo,
aplicando-se o regime geral da cessação do contrato de seguro, quer aos verdadeiros seguros de grupo,
quer aos seguros coletivos que não sejam verdadeiros seguros de grupo mas cujos segurados suportem no
todo ou em parte, um respetivo prémio». Acrescenta ainda que «este regime não se aplica aos verdadeiro
seguros de grupo porque nesses contratos não há nenhum vínculo que os segurados possam fazer cessar».
Cfr. MARGARIDA LIMA REGO, Seguros coletivos e de grupo, Ob. Cit. pág. 313.
270 Sobre a expressão seguros de «adesão obrigatória» refere MARGARIDA LIMA REGO que «não
existe qualquer “adesão” no verdadeiro sentido do termo, muito menos qualquer “obrigação de adesão”,
querendo-se apenas dizer com a expressão que basta a pertença ao grupo seguro para conferir aos
segurados, de forma automática, a proteção do seguro coletivo celebrado pelo tomador por conta dos
segurados». Cfr. Seguros coletivos e de grupo, Ob. Cit., pág. 314.
271 Mais relevante do que ser de adesão obrigatória ou vinculativa é aferir se se constituem obrigações
para o segurado, nomeadamente de pagamento de prémio ou se ao invés a cobertura do seguro constitui
uma vantagem conferida pelo tomador.
272 V., por exemplo, o artigo 23º, nº 1, do RJCS, no sentido de que o incumprimento dos deveres de
informação pode dar lugar a responsabilidade civil nos termos gerais.
273 Sobre os requisitos para se constituir um seguro de grupo, onde o que mais releva é que as pessoas
não se devem unir apenas com o propósito de contratar um seguro de grupo, V. SWISS RE, The
fundamentals of Group Insurance, Zurich, 1993, págs. 8 a 10.
274 Ligando o seguro de grupo principalmente às relações laborais V. a noção de seguro de grupo dada
por JEAN-MARC BINON e MARIE-ANNE CRIJNS, L’Assurance Groupe en Belgique, Bruylant,
Bruxelles, 1996, pág. 13, onde referem que o seguro de grupo é um seguro coletivo subscrito por um
empregador em proveito de todos ou parte dos membros do seu pessoal e JOHN LOWRY e PHILIP
RAWLINGS, Insurance Law – Doctrines and Principles, second edition, Hart Publishing, Portland, 2005,
págs. 179 e 180. Sobre as situações típicas de quem é o tomador de um seguro de grupo V. MARIA INÊS
DE OLIVEIRA MARTINS, Seguros de vida contratado como seguros de grupo e crédito à habitação, in
Cadernos de Direito Privado, nº 39, Braga, 2012, pág. 53, onde refere que nas vestes de tomador temos o
empregador, o banco ou a ordem profissional.
275 Em sentido semelhante V. NUNO TRIGO DOS REIS, Os deveres de informação no contrato de
seguro de grupo, Relatório de Mestrado da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Lisboa, 2007,
pág. 27, quando refere que «Salvo estipulação em contrário no texto do contrato de seguro de grupo,
parece que, neste procedimento, não será necessário notificar o segurado da cessação dos efeitos do
contrato de seguro em relação a ele, porquanto este já não deverá contar com a inclusão no seguro de
grupo a partir do momento em que tem conhecimento da cessação da relação subjacente com o tomador».
276 Da mesma forma quando uma entidade bancária por motivos de concessão de um crédito é tomador
e beneficiário de um seguro de vida, caso o contrato de crédito cesse, ainda que o capital seja fixo, deixa de
existir o vínculo que fundamente a existência de um seguro de grupo.
277 MALCOM CLARKE, Policies and Perceptions of Insurance Law in the Twenty-First Century,
Oxford University Press, New York, 2009, págs. 153 a 155, aborda a matéria das razoáveis expetativas dos
segurados no sentido em que o clausulado deve refletir aquilo que é o objetivo do contrato. Da LCCG e do
RJCS também retiramos o mesmo princípio. A LCCG no seu artigo 11º, nº 1, referente a cláusulas ambíguas
determina que «as cláusulas contratuais gerais ambíguas têm o sentido que lhes daria o contratante
indeterminado normal que se limitasse a subscrevê-las ou a aceitá-las, quando colocado na posição de
aderente real», referindo ainda o nº 2 que «na dúvida, prevalece o sentido mais favorável ao aderente». Por
sua vez, o RJCS nos artigos 12º e 13º reforça a proteção do consumidor com o elenco de disposições
imperativas e o artigo 45º, nº 1, refere que «as condições especiais e particulares não podem modificar a
natureza dos riscos cobertos tendo em conta o tipo de contrato celebrado».
278 No quadro do direito francês VÉRONIQUE NICOLAS pronuncia-se sobre esta matéria referindo
que a rutura entre o tomador e o aderente não é um obstáculo a que a relação entre o segurador e o aderente
continue. Cfr. da autora, Droit des Contrats d’Assurance, Economica, Paris, 2012, pág. 342.
279 Cfr. MARGARIDA LIMA REGO, Seguros coletivos e de grupo, in Temas de Direito dos Seguros,
Almedina, Coimbra, 2012, pág. 304. Cfr. AAVV, Lei do Contrato de Seguro Anotada, 2ª edição, Almedina,
Coimbra, 2011, pág. 333.
280 Cfr. AAVV, Lei do Contrato de Seguro Anotada, 2ª edição, Almedina, Coimbra, 2011, pág. 333.

281 Em sentido contrário V. MARGARIDA LIMA REGO, Seguros coletivos e de grupo, Ob. Cit., pág.
317, referindo que «a lei não é clara mas parece resultar de uma interpretação a contrario que são só estas
as possíveis causas de exclusão individualizada de um segurado».
282 Em caso de omissões ou inexatidões as consequências estão previstas nos artigos 25º e 26º.

283 Cfr. da autora, Seguros coletivos e de grupo, Ob. Cit., pág. 322.

284 Cfr. acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 30-10-2012, Proc. 992/10.1TBAMT.P1, relator
Henrique Araújo, em www.dgsi.pt.
285 Caso não haja convenção que imponha ao segurado o pagamento direto ao segurador. V. artigo 80º,
nº 1, do RJCS.
286 V. artigo 80º, nº 3, do RJCS.

287 Cfr. acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 31-03-2011, Proc. 3298/07.0TVLSB.L1-2,


relator Henrique Nunes, em www.dgsi.pt.
288 Nesta situação levantam-se problemas de eventual discriminação já abordados em que a não
inclusão de um trabalhador no seguro deverá ter suporte contratual. Imagine-se que a partir de certa data o
empregador deixou de incluir novos trabalhadores contratados no seguro.
289 Entre estas poderá ou não haver possibilidade, dependendo do contratado entre tomador e segurador,
de diferenciar o valor dos prémios entre segurados. No verdadeiro seguro de grupo o que interessa é o risco
global de todos os segurados que é assumido pelo tomador.
290 Sobre o seguro de grupo enquanto seguro a favor de terceiro V., por exemplo, MARGARIDA LIMA
REGO, Contrato de Seguro e Terceiros, Coimbra Editora, Coimbra, 2010 e ANTÍGONO DONATI e
GIOVANNA VOLPE PUTZOLU, Manuale di Diritto delle Assicurazioni, Giuffrè Editore, Milano, 2009,
págs. 231 e 232.
291 Sobre a distinção V. MAGALI BIGOT-GONÇALVES, Les Assurances de Groupe, Presses
Universitaires d’Aix-Marseille, 2009, págs. 49 a 61 e quanto aos seguros de adesão obrigatória e facultativa
págs. 61 a 68.
292 MARIA INÊS DE OLIVEIRA MARTINS refere a este propósito que «pode ainda o seguro de
grupo, agora compreendido em sentido lato, ser actuado através de certas manifestações de união de
contratos, nas quais um contrato celebrado entre o tomador e o segurador se articula com um conjunto de
contratos celebrados entre o segurador e os segurados/participantes. Aqui, o contrato que une tomador e
segurador não constitui um contrato de seguro mas sim a fonte de atribuição ao tomador de uma posição
que colhe certa analogia com a do mediador de seguros. Por sua vez, os contratos que unem cada
segurado/participante ao segurador serão verdadeiros contratos de seguro – dos quais os segurados são
partes, e já não terceiros». Conclui referindo que é o caso dos seguros de grupo que configurem seguros de
vida celebrados para garantia de empréstimos. Cfr. da autora Seguros de vida contratado como seguros de
grupo e crédito à habitação, in Cadernos de Direito Privado, nº 39, Braga, 2012, pág. 54.
293 Sobre o «contrato-tipo», também denominado «contrato-quadro», V. INOCÊNCIO GALVÃO
TELLES, Manual dos Contratos em Geral, 4ª Edição, Coimbra Editora, 2002, págs. 242 a 244.
294 A exclusão de determinados segurados trabalhadores poderá também colidir com questões de
discriminação como aborda JEAN-MARC BINON no direito belga a propósito da proibição de
discriminação na idade e no género. Cfr. do autor Droit des Personnes, Larcier, Bruxelles, 2007, págs. 271
a 275. No regime francês V. ÉRIC DEMOLLI e MATHIAS HILDEBRAND, Solidarité, non-
discrimination et segmentation en assurance collective, in Risques, Les cahiers de l’assurance, nº 87,
Paris, Septembre 2011, págs. 36 a 42, onde abordam as características de solidariedade e não discriminação
nos seguros de grupo visando a igualdade entre trabalhadores e a impossibilidade de discriminação em
matéria de prémio tendo por base o género. Sobre o regime da discriminação em Portugal V. também
FRANCISCO LUÍS ALVES, A discriminação e a avaliação do risco nos seguros, in Revista de Direito e
de Estudos Sociais, Ano LII (XXV da 2.ª Série, Julho-Dezembro – 2011, nºs 3-4, Almedina, Coimbra, 2012,
págs. 213 a 315 e FRANCISCO LUÍS ALVES, O regime jurídico da discriminação aplicável aos seguros
– presente e futuro, in Revista Fórum, nº 31, Ano XVI, Lisboa, 2012, págs. 29 a 59.
295 Caso um trabalhador tenha direito pelo seu contrato de trabalho a fazer parte do seguro de grupo,
não poderá a sua entidade como tomador excluí-lo do seguro de grupo.
CONCLUSÕES

O contrato de seguro tem um início de vigência, produz efeitos durante um


determinado período de tempo e cessa os seus efeitos através das formas
descritas no RJCS.
Foram estas as formas que analisámos, as quais contêm diversas variáveis e
hipóteses de aplicação que tornam a análise não tão linear como se poderia
pensar. Por essa razão procurámos debater com detalhe os preceitos mais
relevantes com reflexos na cessação do contrato.
O momento até ao qual o segurador assume as suas obrigações deve ser claro
e transparente. A ocorrência de vicissitudes a meio do contrato e antes do seu
tempo previsível de duração levam a que se deva coordenar três elementos: o
regime geral da cessação previsto no Código Civil; o regime previsto nos artigos
105º a 118º do RJCS, em que a matéria da cessação do contrato é autonomizada
e em que existem diversas remissões para o regime geral; e as disposições
dispersas do RJCS, como as relativas ao prémio ou interesse no seguro que têm
uma importância decisiva para aferir o momento em que o contrato finda.
Tal como analisámos podemos distinguir as situações em que o contrato de
seguro cessa devido a:
i. fatores externos à própria relação estabelecida e que determinam por regra
a caducidade, incluindo a nulidade por falta de interesse;
ii. acordo para a cessação (revogação), embora tal não seja comum já que não
existindo fundamento para tal a outra parte tende a exigir o cumprimento das
obrigações assumidas;
iii. denúncia de uma das partes dentro dos prazos estabelecidos, sendo uma
oportunidade para, voluntariamente e sem ter que apresentar fundamento,
impedir a renovação ou fixar uma data de termo do contrato;
iv. resolução com justa causa, onde incluímos as situações dispersas de
incumprimento que apresentem a gravidade ou peso suficiente para permitir a
uma das partes se desvincular;
v. não pagamento do prémio, que pode ou não consubstanciar um
incumprimento contratual, dependendo se o mesmo ocorre a meio do contrato ou
como condição para operar a renovação; vi. livre resolução nas hipóteses
restritas no artigo 118º do RJCS, que correspondem ao direito de arrependimento
que o legislador quis salvaguardar, mas restrito às tipologias de seguro que
podem apresentar maior complexidade e para as quais não existem clausulados
uniformes.

Incluímos na análise a alteração das condições inicialmente acordadas de


modo a ser possível aferir aquilo que cessa parcialmente e os seus efeitos.
Apesar de este ser um estudo razoavelmente exaustivo, muitas outras
questões surgirão no futuro, pelo que se espera, pelo menos, ter contribuído para
o aprofundamento de uma matéria que entendemos como chave no mercado
segurador. Todo o contrato tem um fim e é um pressuposto de um outro início,
atendendo às funções que os seguros desempenham na sociedade, o que constitui
uma dialética circular que sucessivamente se renova e onde a cessação estará
sempre presente.
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relator HÉLDER ROQUE
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O regime jurídico das práticas comerciais desleais e os
seguros

1. Fundamentos da Diretiva
A Diretiva 2005/29/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de maio de
2005296, relativa às práticas comerciais desleais trouxe um acervo de regras e
padrões mínimos de proteção ao consumidor a cumprir por parte das empresas e
assegurando os casos em que não exista legislação setorial específica ao nível
comunitário297.
Os objetivos da diretiva prendem-se com a harmonização máxima do seu
conteúdo em todos os países da União Europeia de modo a permitir o
desenvolvimento das atividades transfronteiriças, o bom funcionamento do
mercado interno298 e a existência de segurança jurídica. Tais objetivos
beneficiam de uma forma direta o consumidor e de uma forma indireta as
empresas299.
Com a proteção direta do consumidor pretende-se que o consumidor tome
decisões esclarecidas, tendo uma redoma à sua volta que o proteja relativamente
a influências indevidas estabelecidas na diretiva e já reconhecidas na realidade
empresarial, que é ativa e dinâmica na procura de clientes, recorrendo, em
algumas situações, a técnicas que não correspondem ao respeito dos ditames da
boa fé300.
Indiretamente protege-se também as empresas que funcionam no mercado de
forma legítima. Por essa via, criaram-se regras que visam a existência de
concorrência leal entre as empresas.
Ao nível da estrutura da diretiva as práticas comerciais desleais são divididas
em práticas comerciais enganosas (por ação e omissão) e práticas comerciais
agressivas, prevendo-se a existência de meios dissuasores para as combater.
No mesmo sentido sobre esta nova realidade jurídica também se pronuncia
ADELAIDE MENEZES LEITÃO referindo que a «nova disciplina sobre práticas
comerciais desleais não pode ser vista como puro direito do consumo de mera
proteção do consumidor, mas antes uma disciplina de ordenação do mercado
que protege directamente consumidores e indirectamente os concorrentes»301.
Por seu lado, MICHEL CANNARSA entende que a vocação generalista do regime
das práticas comerciais desleais contribui para conferir a certas partes do direito
do consumo características próprias de direito comum302.
Atendendo a que este regime, como veremos, também poderá ter
aplicabilidade em várias práticas seguradoras para além daquela em que há
expressa menção aos seguros303 existe uma receção deste direito comum
generalista304 nas especificidades tão próprias do direito dos seguros.

2. A transposição para o DL 57/2008, de 26 de março


2.1. Âmbito de aplicação
O Decreto-Lei nº 57/2008, de 26 de março305, consubstancia a transposição da
Diretiva, sendo que o artigo 2º, nº 1, delimita o âmbito de aplicação do diploma
vincando o carácter subsidiário do mesmo face a legislação específica também
com origem comunitária «que regulem aspectos específicos das práticas
comerciais desleais, tais como requisitos de informação e regras relativas ao
modo como as informações são apresentadas ao consumidor».
Frisa que, com exceção do previsto artigo 14º, o diploma legal não afeta as
disposições relativas à formação, validade ou efeitos dos contratos, pois o
objetivo principal será o de sancionar as práticas comerciais desleais.
Atendendo à existência de regimes jurídicos mais exigentes relativos à
proteção da saúde e da segurança dos bens ou serviços, aos serviços financeiros
ou a bens imóveis, o nº 3 do artigo 2º vem esclarecer que os mesmos se
sobrepõem ao regime das práticas comerciais desleais desde que as exigências
sejam superiores.
Embora o DL 57/2008 não forneça uma definição de serviços financeiros, este é
já um conceito presente noutras diretivas comunitárias como a Diretiva
2002/65/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de setembro de 2002,
relativa à comercialização à distância de serviços financeiros prestados a
consumidores e que altera as Diretivas 90/619/CEE do Conselho, 97/7/CE e
98/27/CE306.
O artigo 2º, alínea b), da Diretiva 2002/65/CE define “Serviço financeiro”
como «qualquer serviço bancário, de crédito, de seguros, de pensão individual,
de investimento ou de pagamento». Esta definição corresponde à que também
consta no Decreto-Lei nº 95/2006, de 29 de maio. Esta previsão, do nº 3 do art.
2º do DL 57/2008, leva à conclusão que o regime das práticas comerciais
desleais é um regime mínimo de cariz generalista, o qual cede perante legislação
também transposta de diretivas307 comunitárias que regulem aspetos específicos
das práticas comerciais desleais ou simplesmente regimes que sejam mais
exigentes.

2.2. A delimitação pelos conceitos


2.2.1. A lista de conceitos constante do artigo 3º é bastante elucidativa sobre a
forma como devem ser entendidas as menções ao longo do diploma e é o típico
na redação das diretivas comunitárias.
Devido à sua extensão destacaremos apenas alguns dos conceitos,
nomeadamente, os de (i) consumidor, (ii) profissional, (iii) «Prática comercial da
empresa nas relações com os consumidores, ou, abreviadamente, prática
comercial», (iv) «Distorcer substancialmente o comportamento económico dos
consumidores», (v) «diligência profissional», (vi) convite a contratar, (vii)
influência indevida e (viii) decisão de transação.

2.2.2. Na alínea a) «Consumidor» é definido como «qualquer pessoa singular


que, nas práticas comerciais abrangidas pelo presente decreto-lei, actue com
fins que não se incluam no âmbito da sua actividade comercial, industrial,
artesanal ou profissional»308.
O foco distintivo é colocado na ação da pessoa e não na sua passividade
enquanto pessoa a quem são fornecidos bens ou serviços ao contrário do que
acontece na Lei de Defesa do Consumidor (Lei nº 24/96, de 31 de julho), a qual
refere no seu artigo 2º, nº 1, que «considera-se consumidor todo aquele a quem
sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos,
destinados a uso não profissional, por pessoa que exerça com carácter
profissional uma actividade económica que vise a obtenção de benefícios»309.
O Acórdão de 20 de novembro de 2011 do Supremo Tribunal de Justiça
sintetiza o conceito de consumidor da seguinte forma:
«I – O conceito de consumidor, constante da Lei nº 29/81, de 22-08, da
Lei nº 24/96, de 31-07, do DL nº 359/91, de 21-09, da Directiva 1999/44/
/CE, de 25-05, e do DL nº 67/2003, de 08-04 (entretanto reformulado pelo
DL nº 84/2008, de 21-05) tem um sentido restrito, mas coincidente, em todos
esse diplomas: consumidor é a pessoa singular a quem sejam fornecidos
bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados
exclusivamente a uso não profissional, por pessoa (singular ou colectiva)
que exerça com carácter profissional um actividade económica que vise a
obtenção de benefícios.
II – É a finalidade do acto de consumo que determina, essencialmente, a
qualificação do consumidor como sujeito do regime de benefício que aqueles
diplomas legais regulamentam, partindo da presunção de que se trata da
parte mais fraca, menos preparada tecnicamente, em confronto com um
contratante profissional, necessariamente conhecedor dos meandros do
negócio que exercita»310.

No direito comunitário, embora FERNANDO BAPTISTA DE OLIVEIRA entenda


que não existe homogeneidade no conceito de consumidor311, verificamos que
existe um ponto comum através da menção à ação do agente que consome.
Assim, por exemplo a Diretiva 2008/48/CE do Parlamento e do Conselho de
23 de abril de 2008, relativa a contratos de crédito, define consumidor no seu
artigo 3º, alínea a) em termos semelhantes ao da Diretiva relativa às práticas
comerciais desleais, ou seja, como «a pessoa singular que, nas transacções
abrangidas pela presente directiva, actua com fins alheios às suas actividades
comerciais ou profissionais».
Em termos semelhantes a esta Diretiva, ANA MARIA GUERRA MARTINS
sintetiza aquilo que para o direito comunitário é consumidor, ou seja, «é
qualquer pessoa singular que age com fins que podem ser considerados como
alheios à sua actividade profissional»312.
Na área seguradora o conceito de consumidor tem que ser encarado de uma
forma um pouco diferente, já que o Regime Jurídico do Contrato de Seguro,
aprovado pelo Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 de abril, prevê a proteção do
tomador do seguro, do segurado ou do beneficiário da prestação de seguro313 e
não do consumidor enquanto uma categoria jurídica314.
Como é referido pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 26 de
junho de 2003, «em matéria de contratação de seguros o que importa é proteger
o consumidor de seguros, seja ele pessoa singular ou empresa, de eventuais
abusos do predisponente»315.
No entanto, o DL 57/2008 restringe a proteção às pessoas singulares por
serem as únicas incluídas no conceito que a lei delimita. Não foram acolhidas as
diferenças próprias da área seguradora e da sua legislação, ainda que tal possa ter
ocorrido involuntariamente. De todo o modo, o diploma legal salvaguarda as
situações em que legislação própria da área em questão tenha exigências
superiores às previstas para as práticas comerciais desleais, nomeadamente no
que se refere aos deveres de informação316.
Ainda que por razões de unidade do sistema jurídico se pudesse considerar
admissível como estando abrangidas as pessoas coletivas no conceito de
consumidor para efeitos de aplicação do diploma das práticas comerciais
desleais, para que houvesse concordância com o previsto no RJCS, tal levantará
problemas ao nível da aplicação das sanções contraordenacionais.
O conceito de consumidor do DL 57/2008 tem também que ser coordenado
com o de prática comercial, pois é feita essa remissão na primeira parte do
conceito317, a qual é tida como «qualquer acção, omissão, conduta ou afirmação
de um profissional, incluindo a publicidade e a promoção comercial, em relação
directa com a promoção, a venda ou o fornecimento de um bem ou serviço ao
consumidor»318.

2.2.3. Relativamente à definição de «Profissional» deve-se entender pelo


mesmo, nos termos do artigo 3º, alínea b) «qualquer pessoa singular ou
colectiva que, no que respeita às práticas comerciais abrangidas pelo presente
decreto-lei, actue no âmbito da sua actividade comercial, industrial, artesanal
ou profissional e quem actue em nome ou por conta desse profissional».
Em termos de seguros e de fundos de pensões não existe qualquer restrição
de aplicação aos seguradores, mediadores e sociedades gestoras de fundos de
pensões.
Destacamos que a lei faz expressa menção a que o profissional fica ainda
vinculado aos atos ou omissões de quem atue em seu nome ou por sua conta, o
que significa que a atuação dos funcionários do profissional está abrangida.
No plano dos seguros há um aspeto que importa analisar, nomeadamente no
que se refere à mediação de seguros, quanto à entidade que é responsável pela
prática comercial: o segurador, o mediador ou ambos. Nas categorias de
mediadores referidas no artigo 8º do Decreto-Lei nº 144/2006, de 31 de julho,
em particular nas de mediador de seguros ligado e agente de seguros, é referido
que exercem a atividade de mediação «em nome e por conta e por conta» de
uma ou mais empresas de seguros.
Entendemos que sempre que o mediador de seguros ligado ou agente atue
dentro dos poderes que lhes foram delegados pelo segurador este será
responsável juntamente com o mediador ligado ou agente. Por sua vez, quando
excedam esses poderes ou as competências legais da atividade de mediação
então apenas será responsável o mediador319.
Assim, se o agente refere que age em nome do segurador para a contratação
de um seguro de vida não estando autorizado para tal, não identificamos como
poderá o segurador ser punido, seja em sede de responsabilidade civil ou
contraordenacional320.
A este propósito refere o artigo 30º, nº 1, do RJCS que «o contrato de seguro
que o mediador de seguros, agindo em nome do segurador, celebre sem poderes
específicos para o efeito é ineficaz em relação a este, se não for por ele
ratificado», salvaguardando o nº 3 do mesmo preceito as situações que o
segurador tenha contribuído para fundar a confiança do tomador para celebrar o
contrato com um determinado mediador321.
2.2.4. O artigo 3º, alínea d), define como «Prática comercial» «qualquer acção,
omissão, conduta ou afirmação de um profissional, incluindo a publicidade e a
promoção comercial, em relação directa com a promoção, a venda ou o
fornecimento de um bem ou serviço ao consumidor».
Aqui o enfoque é na relação direta entre a ação do profissional e a venda ou
fornecimento de algo. Deste modo, se um segurador publicita apenas o seu nome
enquanto marca não fazendo menção a qualquer seguro, então não existirá
prática comercial desleal.

2.2.5. Importa, ainda, distinguir duas formas de influenciar o comportamento do


consumidor, a saber:
− «Distorcer substancialmente o comportamento económico dos
consumidores» que se traduz numa prática que prejudique sensivelmente a
aptidão do consumidor para tomar uma decisão esclarecida, conduzindo-o, por
conseguinte, a tomar uma decisão de transação que não teria tomado de outro
modo [alínea e)];
− «Influência indevida» como sendo aquela que limita significativamente a
capacidade de o consumidor tomar uma decisão esclarecida devido à pressão do
profissional [alínea j)].

O diploma legal utiliza, com recorrência, o conceito de «diligência


profissional»322, assentando esta em critérios de razoabilidade, honestidade e
boa fé que terão que ser aferidos caso a caso dada a indeterminação destes
critérios323. Sobre esta indeterminação que torna mais difícil a sua aplicação
também se pronuncia ADELAIDE MENEZES LEITÃO ao referir que esta
multiplicidade de critérios constitui um fator de insegurança jurídica na
aplicação do diploma324.

2.2.6. Relativamente ao «convite a contratar»325 e à «decisão de transacção»326,


o primeiro conceito relaciona-se com a adequação da comunicação por parte do
profissional e informações essenciais como as características e o preço, enquanto
o segundo conceito se centra na decisão tomada por um consumidor nas diversas
possibilidades que lhe sejam apresentadas. Neste último conceito ALEXANDRE
SOVERAL MARTINS considera que a existência de um prejuízo patrimonial não é
irrelevante327.

3. As práticas comerciais proibidas


3.1. Considerações gerais
O artigo 4º tem uma previsão geral de proibição de todas as práticas comerciais
desleais.
O artigo 5º, que tem como epígrafe “Práticas comerciais desleais em geral”,
fornece os critérios para que estas sejam identificadas. O nº 1 refere que «É
desleal qualquer prática comercial desconforme à diligência profissional, que
distorça ou seja susceptível de distorcer de maneira substancial o
comportamento económico do consumidor seu destinatário ou que afecte este
relativamente a certo bem ou serviço».
Daqui resulta que uma prática comercial para ser desleal terá que cumprir os
seguintes requisitos:
a) ser desconforme à diligência profissional;
b)distorcer ou ser suscetível de distorcer de maneira substancial o
comportamento económico do consumidor seu destinatário; ou c) afetar o
consumidor relativamente a certo bem ou serviço.

O primeiro requisito é obrigatório e funciona em cumulação com um ou os


dois outros requisitos, mas não se vê como uma prática desconforme com a
diligência profissional, ao distorcer o comportamento económico do consumidor,
também não o afete na sua posição quanto a um bem ou serviço. A única forma
suscetível de poder afetar o consumidor seria a económica levando-o a adquirir
algo que não teria adquirido ou em condições diferentes daquelas que estava
disposto a adquirir.
Deste modo, as expressões mencionadas em b) e c) misturam-se e têm
significados semelhantes, sendo a última mais genérica e abrangente. A única
diferença é a de que a suscetibilidade de distorcer o comportamento do
consumidor abrange as situações em que o mesmo não seja afetado por ter tido o
discernimento necessário para decidir de forma a que não tivesse prejuízo.
Sobre os vários conceitos e requisitos a verificar para identificar uma prática
comercial desleal pronuncia-se JORGE MORAIS DE CARVALHO considerando que a
sua complexidade «torna praticamente inaplicável a cláusula geral do
diploma»328.

3.2. O consumidor médio


O nº 2 do artigo 5º estabelece o critério para aferir sobre o carácter leal ou
desleal da prática comercial através da referência ao consumidor médio329, ou ao
membro médio de um grupo, quando a prática comercial for destinada a um
determinado grupo de consumidores.
Existem, então, dois planos de aferição de consumidor médio, a saber:
a) consumidor médio330 enquanto pessoa de toda a sociedade aferido sem ter
em conta alguma característica específica que lhe dê conhecimentos abaixo ou
acima da média;
b)membro médio de um grupo, quando a prática comercial seja destinada a
um determinado grupo de consumidores que poderá ter mais ou menos
conhecimentos que o homem médio, dependendo do grupo a que se faça
referência.

Enquanto na primeira situação o grupo é o mais amplo possível, ou seja, a


sociedade como um todo, na segunda situação o grupo é mais pequeno e será
necessário fazer juízos subjetivos dos seus conhecimentos e das suas
características de modo a integrá-lo num grupo.
Não é menos verdade que esses juízos de subjetividade também existem para
a primeira situação de modo a apurar, dentro do universo geral da sociedade, o
que é um consumidor médio, ou seja, uma pessoa razoavelmente informada,
atenta e advertida.
Faz-se, como bem menciona María Krüger, menção ao «consumidor ideal ou
hipotético a quem é imposto o dever de uma certa conduta ou atitude, o que faz
lembrar – com as suas diferenças, evidentemente – as noções ou modelos do
“bom pai de família”, “comerciante diligente” ou “gestor ordenado”»331.
Assim, a distinção entre consumidor médio e membro médio de um grupo é
apenas uma questão de universo que, ou é total ou refere-se apenas a uma parte,
tendo-se numa situação ou noutra que recorrer a critérios que permitam, na
situação em concreto, determinar quais seriam os conhecimentos e aptidão do
consumidor para compreender a informação que lhe é apresentada.

3.3. Os padrões de diligência profissional na área seguradora


3.3.1. A política de tratamento e resposta a reclamações
O artigo 131º-C do RGAS, respeitante aos princípios de conduta de mercado na
área seguradora, refere as obrigações de atuação diligente, equitativa e
transparente332 das empresas de seguros no seu relacionamento com os
tomadores de seguros, segurados, beneficiários ou terceiros lesados, bem como a
obrigação de definir uma política de tratamento333. Neste particular, a lei adapta-
se às especificidades dos seguros não se ficando pela noção de consumidor
constante da Lei nº 24/96, de 31 de julho334, que poderia ser restritiva ao excluir
profissionais que contratassem seguros, embora não fosse essa a sua atividade.
O artigo 131º-C a que estamos a fazer menção também não faz distinção
entre os seguros de massa e os seguros de grandes riscos335, pelo que tem uma
aplicação indistinta.
Nos termos da Norma Regulamentar nº 10/2009-R, de 25 de junho, emitida
pelo Instituto de Seguros de Portugal, deve existir uma política de tratamento
que defina os princípios adotados pela empresa de seguros no quadro do
respetivo relacionamento com os tomadores de seguros, segurados, beneficiários
ou terceiros lesados, cujo conteúdo mínimo se encontra estabelecido no artigo 5º.
Desse conteúdo mínimo, ao nível de diligência profissional, cabe destacar o
seguinte:
− o tratamento equitativo, diligente e transparente dos tomadores de seguros,
segurados, beneficiários ou terceiros lesados [alínea a)];
− o tratamento adequado das necessidades de informação e de esclarecimento
dos tomadores de seguros, segurados, beneficiários ou terceiros lesados,
atendendo ao respetivo perfil e à natureza e complexidade da situação [alínea
b)];
− a gestão célere e eficiente dos processos relativos a tomadores de seguros,
segurados, beneficiários ou terceiros lesados, designadamente em matéria de
sinistros e de reclamações [alínea e)].

Para efeitos de gestão de reclamações o artigo 9º faz menção aos prazos de


resposta aos reclamantes [alínea d)] e que deverão ser do conhecimento dos
mesmos [artigo 10º, nº 1, alínea c)]336, pelo que caso não seja possível cumpri-lo
deve também o reclamante ser informado desse facto (artigo 11º, nº 7), o que
constitui requisito mínimo de diligência. Atendendo a que as reclamações dizem
respeito na sua maioria a sinistros tal terá influência para efeitos, pelo menos, do
artigo 12º, alínea d) do DL 57/2008.

3.3.2. Os prazos para regularização de sinistros


3.3.2.1. NO RJCS não determina um prazo certo para que ocorra a regularização
de sinistros e o respetivo pagamento. No entanto os artigos 102º e 104º dão
alguns apontamentos sobre esta matéria. Com efeito, refere o artigo 102º, nº 1,
que «o segurador obriga-se a satisfazer a prestação contratual a quem for
devida, após a confirmação da ocorrência do sinistro e das suas causas,
circunstâncias e consequências», o que significa que o segurador tem direito a
realizar a instrução do processo de sinistro sem que esteja sujeito a um prazo
concreto.
Os ditames de boa fé imporão sempre que o segurador esteja de facto a
realizar diligências instrutórias, não representando uma possibilidade de
prolongar a regularização de um sinistro eternamente337.
Por sua vez, de acordo com os princípios gerais de conduta de mercado,
consignados no Decreto-Lei nº 94-B/98, de 17 de abril, as empresas de seguros
devem garantir a gestão célere e eficiente dos processos de sinistro.
Estando concluída a instrução refere o artigo 104º que «a obrigação do
segurador vence-se decorridos 30 dias sobre o apuramento dos factos a que se
refere o artigo 102º», pelo que a partir dessa data passa a existir incumprimento.

3.3.2.2. Há, apenas, uma especificidade ao nível do seguro automóvel, onde


existem prazos concretos para regularização de sinistros que correspondem a
padrões de diligência sob pena de contraordenação. Assim, o Decreto-Lei nº
291/2007, de 21 de agosto, estabelece prazos para a regularização de sinistros
automóveis, incluindo os que se referem a coberturas facultativas relativas a
danos próprios sofridos pelos veículos seguros, desde que os sinistros tenham
ocorrido em virtude de choque, colisão ou capotamento.
O artigo 36º relativo à «diligência e prontidão da empresa de seguros» prevê
diversos prazos, em que se destacam os seguintes:
a) 2 dias úteis para o primeiro contacto com o segurado ou terceiro lesado,
após ser comunicado o sinistro, para marcação de peritagem;
b)8 dias úteis para concluir as peritagens ou 12 dias úteis em caso de
desmontagem. Não tendo a empresa de seguros a direção efetiva da reparação, o
prazo conta-se a partir do momento em que haja disponibilidade da oficina e
autorização do proprietário do veículo;
c) 4 dias úteis para disponibilizar os relatórios das peritagens;
d)30 dias úteis para comunicar, por escrito ou por documento eletrónico, a
assunção de responsabilidade ao tomador do seguro ou segurado e ao terceiro
lesado, contados a partir do fim do prazo referido em a), tendo o lesado direito a
veículo de substituição, desde que haja imobilização do veículo sinistrado e a
empresa de seguros assuma a responsabilidade exclusiva pelo ressarcimento dos
danos resultantes do acidente;
e) 8 dias para o pagamento da indemnização, que se contam a partir da data
da assunção de responsabilidade.

Os prazos referidos nas anteriores alíneas b) a d) podem ser reduzidos a


metade ou duplicar nas seguintes situações:
– reduzidos a metade quando exista declaração amigável de acidente
automóvel;
– duplicam quando tenham ocorrido fatores climatéricos excecionais ou um
número de acidentes excecionalmente elevado em simultâneo.

Caso a empresa de seguros se encontre a levar a cabo uma investigação por


suspeita fundamentada de fraude os prazos podem ser suspensos.
O artigo 37º prevê ainda prazos para a regularização de sinistros que
envolvam danos corporais.

3.3.2.3. Numa perspetiva de recomendações do Instituto de Seguros de Portugal


poderemos ainda fazer menção à Circular nº 10/2009, de 20 de agosto, a qual
prevê prazos e os documentos para o pagamento do valor de resgate e do valor
de reembolso no vencimento do contrato, no âmbito dos seguros de capitalização
e das operações de capitalização338.

3.4. As práticas comerciais desleais em especial


3.4.1. O artigo 6º vem estabelecer critérios mais precisos, uma malha mais
apertada de proteção a situações cuja verificação se reveste de maior gravidade
atendendo ao consumidor em causa e à prática comercial em si própria.
São fornecidas pela lei listagens exemplificativas que facilitam a apreensão
das situações em que podem ocorrer práticas comerciais desleais.
Assim, são desleais em especial:
a) as práticas comerciais suscetíveis de distorcer substancialmente o
comportamento económico de um único grupo, claramente identificável, de
consumidores particularmente vulneráveis, em razão da sua doença mental ou
física, idade ou credulidade, à prática comercial ou ao bem ou serviço
subjacentes, se o profissional pudesse razoavelmente ter previsto que a sua
conduta era suscetível de provocar essa distorção;
b)as práticas comerciais enganosas e as práticas comerciais agressivas
referidas nos artigos 7º, 9º e 11º;
c) as práticas comerciais enganosas e as práticas comerciais agressivas
referidas, respetivamente, nos artigos 8º e 12º, consideradas como tal em
qualquer circunstância.

3.4.2. Na alínea a) estão previstas as situações em que o profissional tenha ou


devesse ter conhecimento que os consumidores, de forma clara, atendendo a
diversas características como a idade, doença ou credulidade, teriam menor
capacidade de tomar uma decisão consciente e esclarecida.
A característica que poderá causar maiores dificuldades de interpretação é o
da credulidade, já que é função do profissional vender um determinado bem ou
serviço fazendo o consumidor acreditar que precisa do mesmo ou da sua
eventual utilidade futura. Nestas situações será importante apurar se havia de
facto algum interesse do consumidor no produto. Por exemplo, uma empresa de
seguros que comercialize um seguro de proteção ao desemprego a quem já está
desempregado, ou seja, um contrato que não dê qualquer cobertura ao
consumidor e para o qual ele tenha um interesse legítimo.
Esta alínea faz ainda depender a verificação de práticas comerciais desleais
da circunstância de o profissional poder razoavelmente prever que a sua conduta
era suscetível dessa distorção. Voltando ao exemplo anterior, se o profissional
vende um seguro sem se interessar sobre o vínculo laboral do consumidor nem
aconselhar a que apenas procurasse um seguro quando tivesse um vínculo
laboral que estivesse ao abrigo das coberturas da apólice, estará a comercializar
algo que não é útil e que o artigo 43º, nº 1, do RJCS considera nulo339.
As alíneas b) e c) do artigo 6º fazem simplesmente uma categorização das
práticas comerciais desleais integrando as enganosas e agressivas referidas nos
artigos 7º, 9º e 11º, que dependem da apreciação do caso concreto e as que são
enganosas e agressivas em qualquer circunstância referidas nos artigos 8º e 12º.
Esta distinção, como veremos, não é tão estanque como a lei o faz supor.
Haverá situações que seriam enganosas e agressivas em qualquer circunstância
que exigirão uma análise do caso concreto atendendo à utilização de conceitos
indeterminados.

3.5. As ações e omissões enganosas


3.5.1. Considerações gerais
O artigo 7º, que tem como epígrafe “Acções enganosas”, dispõe no seu nº 1 que
é enganosa a prática comercial que:
a) contenha informações falsas; ou
b)mesmo que factualmente corretas, por qualquer razão, nomeadamente a sua
apresentação geral, induza ou seja suscetível de induzir em erro o consumidor
em relação a um ou mais elementos.
Esses elementos constam de um elenco em que nas duas situações, conduzem
ou são suscetíveis de conduzir o consumidor a tomar uma decisão de transação
que este não teria tomado de outro modo e que estão relacionados com os
elementos que constituem o bem ou serviço em toda a sua extensão abordando
as seguintes áreas, a saber:
− a sua existência ou natureza [alínea a)];
− características [alínea b)]340;
− compromissos assumidos pelo profissional [alínea c)];
− o preço, o seu cálculo e as vantagens relativas ao preço [alínea d)];
− necessidade de prestação de um serviço, de uma peça, da substituição ou da
reparação do bem [alínea e)]341;
− identificação do profissional, qualificações e prémios ou distinções
recebidas [alínea f )]342; e
− o regime das garantias [alínea g)]343.

Em matéria seguradora estes aspetos fazem parte dos deveres de informação


pré-contratual do segurador previstos nos artigos 18º e 185º do RJCS, sendo que
estes preceitos têm deveres mais exigentes, pelo que será de atender aos mesmos
no sentido de aferir a existência de ações enganosas.
O nº 2 do artigo 7º vem ainda referir, numa perspetiva que entendemos como
de maior clareza face ao disposto na alínea b) do nº 1, do art. 7º, que «atendendo
a todas as características e circunstâncias do caso concreto, é enganosa a
prática comercial que envolva: a) Qualquer actividade de promoção comercial
relativa a um bem ou serviço, incluindo a publicidade comparativa, que crie
confusão com quaisquer bens ou serviços, marcas, designações comerciais e
outros sinais distintivos de um concorrente;».
O profissional quando fornece as características principais do bem ou serviço
deve acautelar que não haja confusão com outros serviços de concorrentes, sob
pena de querer ter ganhos de confiança através de bens ou serviços que não são
os seus.
O não cumprimento de códigos de conduta é também referido pelo artigo 7º,
nº 2, alínea b), como ação enganosa, mas daremos um tratamento autónomo a
esta matéria mais adiante.

3.5.2. Ações enganosas em qualquer circunstância


3.5.2.1. O artigo 8º vem elencar as ações consideradas enganosas em qualquer
circunstância, estando entre as mesmas as práticas comerciais que façam crer ao
consumidor que existe um código de conduta, uma marca de certificação ou uma
autorização [alíneas a), b) e c)] ou que as suas práticas ou bens são aprovados
por uma entidade pública ou privada [alínea d)] de modo a iludir o consumidor e
conseguir do mesmo uma confiança baseada em falsos pressupostos.
Desta forma, um profissional que indique que tem as suas práticas
enquadradas num certificado de qualidade344 ou que é aderente de um centro de
arbitragem sem que tal corresponda à verdade está, sem que se tenha que
observar mais aspetos de cada situação concreta, automaticamente a praticar
uma ação enganosa e por inerência desleal.

3.5.2.2. Na alínea e) do artigo 8º encontra-se uma ação cujos contornos são de


mais difícil aplicação. É referido nesta alínea que é ação enganosa «propor a
aquisição de um bem ou serviço por um preço inferior àquele praticado no
mercado por outros fornecedores ou prestadores de serviços sabendo ou não
podendo desconhecer que não tem condições para o cumprir, não dispondo, ou
não indicando quem disponha, nas mesmas condições e em igual grau de
acessibilidade para o consumidor, de existências em quantidade suficiente, por
um período de tempo compatível com a procura previsível face ao volume e
meios de publicidade realizada ao bem ou serviço em causa, e o preço
indicado».
Esta situação pode ser decomposta nos seguintes elementos, que constituem
requisitos cumulativos:
− o profissional disponibiliza a aquisição por preço inferior ao do mercado;
− sabe ou não pode ignorar que não tem condições para cumprir as condições
que oferece ou negociou;
− não indica quem disponha dessas mesmas condições para o substituir.
O legislador quis prever situações em que por razões de concorrência um
profissional tenta acompanhar um outro quando não tem capacidade para tal. É-
lhe dada a possibilidade, para que não incumpra a legislação, de indicar o seu
concorrente para o cumprimento da obrigação. Se o consumidor acabar a pagar
mais ou a ter menos do concorrente que foi indicado para cumprir a obrigação,
então ainda assim existe uma ação enganosa.
Em termos do regime do cumprimento das obrigações é necessário verificar
se chegou a existir dano, já que a indicação do concorrente será posterior à
impossibilidade de cumprimento do profissional que disponibilizou o bem ou
serviço a um preço inferior ao do mercado. Assim, verificado o dano, nos termos
do artigo 562º do Código Civil a situação deverá ser reposta como se o negócio
tivesse sido cumprido inicialmente. Caso não exista concorrente que substitua o
profissional que oferece bem ou serviços sem capacidade para tal deverá existir
indemnização em dinheiro345.

3.5.2.3. A alínea f ) refere a situação de ser proposta a aquisição de bens ou de


serviços a um determinado preço mas com a intenção de promover um bem ou
serviço diferente, pelo que a sua posterior recusa do fornecimento aos
consumidores do bem ou do serviço publicitado constitui uma ação enganosa.
Estão aqui ínsitos dois pressupostos, o da publicidade a um produto com baixo
preço que não é posteriormente colocado à disposição e o da intenção de
promover um bem ou serviço diferente.
Estas situações, ainda que nos pareçam de difícil verificação na área
seguradora346, poderiam ocorrer quando o produto ou serviço está à venda com
um preço mais alto do que aquele que tinha sido anunciado ou se estiver outro
no seu lugar com diferentes características, ainda que esteja ao mesmo preço.
Por exemplo, se um seguro com determinadas características quanto a coberturas
e capitais está publicitado a metade do preço, não pode o profissional depois
apresentar produto diferente que seja pior do que o publicitado. Poderá quando
muito colocar à disposição um seguro ainda melhor que o publicitado desde que
ao mesmo preço.
É usual o profissional fazer constar na publicidade que a oferta está
restringida ao stock existente, o que já impede que se possa considerar que exista
uma ação enganosa, pois o produto ou serviço não é inesgotável347. Situação
diferente é a de se apurar que o profissional nunca disponibilizou sequer o
seguro ao preço publicitado, o que obriga a configurar sempre como ação
enganosa. Nesta matéria é importante ter presente o artigo 33º, nº 1, do RJCS, o
qual prevê que «o contrato de seguro integra as mensagens publicitárias
concretas e objectivas que lhe respeitem, ficando excluídas do contrato as
cláusulas que as contrariem, salvo se mais favoráveis ao tomador do seguro ou
ao beneficiário».
Assim, um segurador que anuncie determinadas condições na
comercialização de um seguro será obrigado a cumprir e responsabilizado nos
termos gerais pelo seu incumprimento, caso o mesmo se verifique.

3.5.2.4. Relacionado com esta ação está a alínea g), a qual prevê situações em
que haja recusa de encomendas relativas ao bem ou serviço que foi publicitado
ou a sua entrega ou o fornecimento num prazo razoável, pelo que mesmo que
aqueles não estejam disponíveis, não pode o profissional recusar-se a aceitar
encomendas, tendo que cumprir aquilo que publicitou. Na mesma tipologia de
situações se inclui a prevista na alínea x) nomeadamente através da organização
de um concurso ou uma promoção com prémio sem entregar os prémios
descritos ou um equivalente razoável.

3.5.2.5. A alínea i) aborda a situação de o profissional «declarar falsamente que


o bem ou serviço está disponível apenas durante um período muito limitado ou
que só está disponível em condições especiais por um período muito limitado a
fim de obter uma decisão imediata e privar os consumidores da oportunidade ou
do tempo suficientes para tomarem uma decisão esclarecida». A fiscalização
destas situações é mais difícil por ser necessário um acompanhamento do
processo de venda do bem ou serviço de modo a aferir se a oferta se mantém
além do tempo que era anunciado e com repetição de procedimento. Por
exemplo, anunciar às 17:45 que um determinado seguro só pode ser
comercializado por um determinado preço até às 18h, quando na verdade tal
procedimento se verifica a qualquer horas para pressionar cada um dos
consumidores que se encontrem no estabelecimento do profissional.
Do mesmo modo, o anúncio de ofertas de bens ou serviços também não pode
acarretar um pagamento pelos mesmos. Estas situações surgem como “isco” no
sentido de aliciar o consumidor à compra de outros produtos ou ao efetivo
pagamento do produto ou serviço supostamente gratuito [alínea z)]348. Seria o
caso de oferecer coberturas adicionais a um seguro automóvel, em que a
assistência em viagem surge por vezes como oferta e mais tarde se verificasse
uma tentativa de cobrança dessa cobertura.

3.5.2.6. É igualmente vedado ao profissional comprometer-se a fornecer um


serviço de assistência pós-venda numa língua, usada para comunicar antes da
decisão negocial, que não seja uma das línguas oficiais do Estado membro em
que o profissional se encontra estabelecido e posteriormente assegurar este
serviço apenas em língua diversa, a não ser que o tivesse anunciado de forma
clara esta alteração ao consumidor antes de este se ter vinculado [alínea j)].
Situação semelhante é a de dar a impressão falsa de que o serviço pós-venda
relativo ao bem ou serviço está disponível em Estado membro distinto daquele
em que o bem ou serviço é vendido [alínea ac)]. No que se refere à área
seguradora poderíamos enquadrar a situação em que é dada a impressão que
existe um seguro de assistência em todos os países europeus quando na verdade
essa assistência está limitada a alguns, ainda que sejam a maioria.
O RJCS no seu artigo 36º, nº 2, refere que a «a apólice de seguro é redigida
em língua portuguesa, salvo no caso de o tomador do seguro solicitar que seja
redigida noutro idioma, na sequência de acordo das partes anterior à emissão
da apólice». Por maioria de razão todas as comunicações com o segurado, na
assistência ao contrato, devem ser feitas em português a não ser que tenham
acordado previamente utilizar outra língua.

3.2.5.7. Os negócios contra a ordem pública, que tenham uma aparência de


licitude através de declarações do profissional que levem o consumidor a
considerar que o negócio é possível, correspondem naturalmente também a
ações enganosas [alínea l)]349. Assim, uma venda ou prestação de serviço que
constitua crime enquadra-se no aqui previsto.
Ao nível segurador o artigo 14º, nº 1, alíneas a) a c) do RJCS prevê que é
proibida a celebração de contrato de seguro que cubra riscos relacionados com
responsabilidade criminal, contraordenacional ou disciplinar, bem os relativos a
crimes contra a liberdade pessoal como o rapto ou sequestro e a posse ou
transporte de estupefacientes ou drogas cujo consumo seja interdito350.

3.5.2.8. O legislador pretendeu também, através da alínea m), prevenir situações


que o profissional publicita, como se fosse uma vantagem, direitos que já estão
consignados na lei, pelo que o profissional que publicite que pode resolver
livremente o seguro de vida no prazo de 30 dias [artigo 118º, nº 1, alínea a) do
RJCS], está apenas a mencionar o que decorre da lei, podendo desse modo criar
a convicção ao consumidor de lhe que está a ser dada uma vantagem adicional
face à concorrência351.
Nos termos da alínea n) é prevista uma situação transversal a qualquer
atividade, ou seja, a utilização de um conteúdo nos meios de comunicação social
como informação ou elogio, quando na verdade se trate de publicidade ou
promoção paga pelo profissional para promover um bem ou serviço com o
propósito de enganar o consumidor, a qual não é permitida.

3.5.2.9. A alínea p) é um afloramento do disposto no artigo 7º, nº 1, alínea b),


por se referir igualmente às características do bem ou serviço e identificação do
profissional, não podendo este «promover um bem ou serviço análogo ao
produzido ou oferecido por um fabricante específico de maneira a levar
deliberadamente o consumidor a pensar que, embora não seja esse o caso, o
bem ou serviço provêm desse mesmo fabricante;»352.
Nesta situação cabe a informação que seja suscetível de levar o consumidor a
pensar que o seguro é de um segurador quando afinal é de outro. O artigo 18º,
alínea a) do RJCS impõe ao segurador que informe da sua denominação e do seu
estatuto legal enquanto dever pré-contratual.

3.5.2.10. Existem também casos de falsas informações, que até configurarão


burlas, em que o legislador pretendeu proteger os consumidores mais frágeis,
cuja credulidade, de que o profissional tem noção, o pode levar a adquirir bens
ou serviços para aumentar as possibilidades de ganhar nos jogos de fortuna ou
azar [alínea t)] ou curar doenças, disfunções e malformações [alínea u)].
Embora seja uma situação que em princípio não ocorrerá nos seguros,
imagine-se um consumidor mais frágil acreditar que um seguro estaria apto, só
por si, a aumentar as suas possibilidades de ganhar em jogos ou curar doenças.
Naturalmente que tal situação a ocorrer só se verificaria no contexto de uma
burla em que, sob a designação de um “seguro”, seria vendido algo com um
conteúdo que nada tem a ver com o mesmo.
A própria alegação pelo profissional que o bem ou serviço pode produzir tais
efeitos é considerada sempre uma ação enganosa e a concretização do negócio
pode vir a ter efeitos criminais.

3.5.2.11. É frequente o profissional afirmar que o seu produto ou serviço é o


mais barato no sentido de ganhar vantagem sobre a concorrência quando na
verdade até tem um preço superior à média do mercado, mas tal é restringido
pela previsão da alínea v)353 quanto às informações inexatas sobre as condições
de mercado ou sobre a possibilidade de encontrar o bem ou serviço.
Para este caso poderemos pensar num segurador que informa incorretamente
que é o único no mercado com autorização para comercializar um determinado
tipo de seguro e que por essa razão não adianta o consumidor procurar outros
seguradores.

3.5.2.12. Por último, também não é permitido, nos termos da alínea aa) «Incluir
no material de promoção comercial factura ou documento equiparado
solicitando o pagamento, dando ao consumidor a impressão de já ter
encomendado o bem ou serviço comercializado, quando tal não aconteceu».
Assim, será o caso de um segurador que remeta uma apólice, com ou sem
material de promoção, solicitando o pagamento do prémio e dando a impressão
ao consumidor de estar vinculado ao contrato de seguro sem que este tenha dado
a sua aceitação.

3.5.3. As omissões enganosas


3.5.3.1. No artigo 9º, nº 1, faz-se depender a omissão enganosa das
características e circunstâncias e as limitações do meio de comunicação, sendo
enganosa a prática comercial em que existam omissões quanto:
− à informação relevante [alínea a)];
− ao rigor e atualidade da informação [alínea b)];
− à intencionalidade comercial [alínea c)].

O nº 2 estabelece um parâmetro para que seja apreciada a existência de


omissão de informação, nomeadamente se o profissional tomou outras medidas
para disponibilizar a aquela quando não tenha tido inicialmente essa
possibilidade por limitações de espaço ou tempo, como é o caso da publicidade,
e se as mesmas foram suficientes. Os critérios para apreciação de informação
essencial resultará da legislação de cada área, mas o essencial será verificar se
foi fornecida a informação suficiente para uma decisão esclarecida.
Neste âmbito o nº 3 considera que «são considerados substanciais os
requisitos de informação exigidos para as comunicações comerciais na
legislação nacional decorrentes de regras comunitárias»354, mencionando o nº 4
diversa legislação essencial em várias áreas como o crédito ao consumo, os
seguros, viagens, preços, valores mobiliários, vendas à distância, comércio
eletrónico e os medicamentos.
Esta enumeração, atendendo aos objetivos do legislador comunitário em
reforçar a transparência355, deve ser entendida como exemplificativa. Deve-se
acolher toda a legislação que contenha deveres de informação para o profissional
e que se dirijam ao consumidor, independentemente da área.
Na área dos seguros destacamos os seguintes diplomas:
• Decreto-Lei nº 94-B/98, de 17 de abril, com as já mencionadas alterações,
que aprova o regime jurídico das condições de acesso e de exercício da atividade
seguradora e resseguradora no território da Comunidade Europeia;
• Decreto-Lei nº 95/2006, de 29 de maio, que aprova o regime jurídico da
comercialização à distância dos serviços financeiros prestados ao consumidor;
• Decreto-Lei nº 144/2006, de 31 de julho, que aprova o regime jurídico da
mediação de seguros;
• Decreto-Lei nº 72/2008, de 16 de abril356, que aprova o Regime Jurídico do
Contrato de Seguro.

3.5.3.2. O artigo 10º, sem prejuízo das obrigações de informação constantes de


outras normas, resume um conjunto de informações mínimas, tidas como
«substanciais», que não poderão ser omissas numa proposta contratual ou
convite a contratar.
Essas informações relacionam-se com as características principais do bem ou
serviço, endereço geográfico, identidade do profissional, preço, modalidades de
pagamento e a existência dos direitos de resolução ou de anulação.
Relativamente às primeiras também poderemos observá-las nos artigos 18º e
185º do RJCS, que têm um nível de exigência elevado, pelo que o Decreto-Lei nº
57/2008 não trouxe particulares novidades a esse nível no âmbito dos seguros.
Os deveres de informação do segurador estão ainda reforçados pela previsão do
artigo 21º do RJCS, o qual prevê que «a proposta de seguro deve conter uma
menção comprovativa de que as informações que o segurador tem de prestar
foram dadas a conhecer ao tomador do seguro antes de este se vincular». Tal
obrigação pode facilitar a prova para efeitos do DL 57/2008.
Já quanto aos últimos, ou seja, a existência de direitos de resolução ou
anulação o RJCS, no seu artigo 118º, menciona o direito à livre resolução,
contendo no seu âmbito algumas situações em que se dispensa a invocação de
justa causa para cessar o contrato e que correspondem à típica renúncia que se
encontrava prevista no artigo 182º do Decreto-Lei nº 94-B/98.
O Decreto-Lei nº 95/2006 relativo à comercialização à distância prevê
também o direito à livre resolução no seu artigo 19º, referindo o mesmo que «o
consumidor tem o direito de resolver livremente o contrato à distância, sem
necessidade de indicação do motivo e sem que possa haver lugar a qualquer
pedido de indemnização ou penalização do consumidor»357.

3.6. As práticas comerciais agressivas


3.6.1 Aplicação genérica
O artigo 11º, nº 1, considera «agressiva a prática comercial que, devido a
assédio, coacção ou influência indevida, limite ou seja susceptível de limitar
significativamente a liberdade de escolha ou o comportamento do consumidor
em relação a um bem ou serviço e, por conseguinte, conduz ou é susceptível de
conduzir o consumidor a tomar uma decisão de transacção que não teria
tomado de outro modo».
Esta definição contém dois elementos cumulativos, a saber:
– uma ação que possa limitar significativamente a sua decisão; e
– que sem essa influência a decisão de transação não existiria.

Atendendo à dificuldade de conseguir enquadrar aquilo que pode levar a


limitar ilicitamente a escolha e capacidade de decisão do consumidor, o nº 2 do
artigo 11º refere que se deve atender ao caso concreto e a todas as suas
características e circunstâncias, «devendo ser considerados os seguintes
aspectos:
a) Momento, local, natureza e persistência da prática comercial;
b) Recurso a linguagem ou comportamento ameaçadores ou injuriosos;
c) Aproveitamento consciente pelo profissional de qualquer infortúnio ou
circunstância específica que pela sua gravidade prejudique a capacidade de
decisão do consumidor, com o objectivo de influenciar a decisão deste em
relação ao bem ou serviço;
d) Qualquer entrave não contratual oneroso ou desproporcionado
imposto pelo profissional, quando o consumidor pretenda exercer os seus
direitos contratuais, incluindo a resolução do contrato, a troca do bem ou
serviço ou a mudança de profissional;
e) Qualquer ameaça de exercício de uma acção judicial que não seja
legalmente possível».

Embora estes critérios ajudem a compreender que comportamentos podem


ser considerados agressivos, existe ainda assim um elevado grau de
indeterminação cuja prova é dificultada quando a ação do profissional não tenha
tido a presença de testemunhas para além do próprio consumidor.
A apreciação casuística preconizada no artigo 11º terá sempre o problema de
ser dificilmente sancionável através de contraordenação devido ao princípio da
tipicidade penal358, o que faz com que se perca alguma da efetividade dissuasora
ou preventiva que o diploma pretende. O DL 57/2008 tem, como veremos, várias
formas de punir o profissional que pratique infrações ao diploma e as sanções
aplicáveis pela autoridade administrativa podem ser das que têm maior efeito no
sentido de as prevenir359.

3.6.2. As práticas comerciais agressivas em qualquer circunstância


O artigo 12º elenca práticas comerciais que são consideradas agressivas em
qualquer circunstância, não estando dependentes de uma análise casuística, e na
maioria das quais a prova é facilitada. Todavia, consideramos que nem todas as
situações poderão ser lineares e que essa análise não poderá deixar de ser
realizada.
De todo o modo, nos termos do artigo 12º são consideradas agressivas, em
qualquer circunstância, várias práticas comerciais em que destacamos as que
serão mais suscetíveis de serem aplicáveis360 à área seguradora, a saber:
«a) Criar a impressão de que o consumidor não pode deixar o
estabelecimento sem que antes tenha sido celebrado um contrato;
b) Contactar o consumidor através de visitas ao seu domicílio, ignorando
o pedido daquele para que o profissional parta ou não volte, excepto em
circunstâncias e na medida em que tal se justifique para o cumprimento de
obrigação contratual;
c) Fazer solicitações persistentes e não solicitadas, por telefone, fax, e-
mail ou qualquer outro meio de comunicação à distância, excepto em
circunstâncias e na medida em que tal se justifique para o cumprimento de
obrigação contratual;
d) Obrigar o consumidor, que pretenda solicitar indemnização ao abrigo
de uma apólice de seguro, a apresentar documentos que, de acordo com os
critérios de razoabilidade, não possam ser considerados relevantes para
estabelecer a validade do pedido, ou deixar sistematicamente sem resposta a
correspondência pertinente, com o objectivo de dissuadir o consumidor do
exercício dos seus direitos contratuais;».

A situação referida na alínea a) de criar no consumidor a impressão de que


não pode sair do estabelecimento de um segurador ou mediador sem que celebre
um contrato é a que, em princípio, será mais difícil de provar e pressupõe algum
tipo de coação física ou psicológica que cause receio ao consumidor.
Atendendo ao princípio do pagamento de prémio em momento prévio para
assegurar a cobertura dos riscos (art. 59º do RJCS), a celebração do contrato irá
pressupor também um pagamento.
As práticas referidas nas alíneas b) e c) serão mais facilmente comprovadas
porque o profissional já não se encontra no seu estabelecimento e fica mais
visível perante testemunhas, podendo igualmente ficar registadas as deslocações
por vizinhos, porteiros ou outras pessoas residentes no domicilio. Os meios de
comunicação à distância também serão facilmente comprovados por registos
telefónicos ou documentos.
A exceção referida na alínea c) quanto à admissibilidade de solicitações
persistentes e não solicitadas, quando tal se justifique para cumprimento da
obrigação contratual, identificamos dois tipos possíveis de comportamentos ao
nível segurador:
a) contactos por parte do segurador de modo a dar seguimento ao processo de
sinistro, como por exemplo contactos de um perito;
b)solicitações de pagamento de prémio quando tal ocorra através de um
mediador cobrador e seja esse o meio de pagamento previamente acordado361.

3.6.3. A situação em particular da solicitação de indemnização ao abrigo de


apólice de seguro
3.6.3.1. A alínea d) é a única que menciona expressamente os seguros, pelo que
atendendo à sua importância iremos decompô-la com maior pormenor.
Verificamos, antes de mais, que existem os dois pressupostos seguintes:
a) estar em causa um consumidor;
b)existir uma apólice de seguro.

O RJCS, pese embora as situações em que define diferentes regimes para o


seguro de massas e para os seguros de grandes riscos362, confere de forma quase
uniforme363 o mesmo tratamento a pessoas singulares e coletivas, as quais
surgem meramente como tomadores, segurados ou lesados. Todavia, atendendo a
que o diploma sancionatório é o do regime das práticas comerciais desleais,
então consumidor deverá ser entendido como consta no seu elenco de definições.
Relativamente à apólice de seguro, esta tem que ser entendida para além dos
direitos contratuais. Numa perspetiva mais abrangente a exigência de pagamento
de uma indemnização a um segurador pode ser feita por um lesado que nada tem
a ver com o contrato, mas a intervenção do segurador só existe devido a um
contrato364.
Assim, um lesado por um sinistro automóvel ou um beneficiário de um
seguro de vida encontram-se tutelados pelo conceito de consumidor, ainda que
não tenham adquirido qualquer bem ou serviço, pois alguém o fez para que o
segurador pague uma indemnização.
Se quisermos podemos entender a legislação específica dos seguros como
mais exigente nesta matéria, já que protege não só aquele que contrata ou
adquire como também aquele que beneficia direta ou indiretamente desse
contrato.
Por exemplo, em seguros obrigatórios como o de automóvel o segurador
substitui-se na responsabilidade que caberia aos tomadores.

3.6.3.2. Assente aquilo que se pode entender por consumidor e quem pode exigir
uma indemnização de um segurador ou exercer direitos contratuais, resta
analisar as duas situações previstas na alínea d), ou seja:
− obrigar o consumidor, que pretenda solicitar indemnização ao abrigo de
uma apólice de seguro, a apresentar documentos que, de acordo com os critérios
de razoabilidade, não possam ser considerados relevantes para estabelecer a
validade do pedido;
− deixar sistematicamente sem resposta a correspondência pertinente, com o
objetivo de dissuadir o consumidor do exercício dos seus direitos contratuais.

O recurso a critérios de razoabilidade torna mais difícil sancionar esta prática,


mas deve-se atender ao juízo do bonus pater familiae de modo a determinar se
os documentos solicitados são relevantes para enquadrar o pedido nas coberturas
do contrato. Se o pedido de documentos se destinar ao enquadramento de
exclusões, essa já poderá ser uma obrigação e um interesse do segurador.
O critério da razoabilidade é aqui colocado em termos de boa fé objetiva365,
pelo que a documentação solicitada a uma pessoa deve corresponder àquela que
também é solicitada a outras sem se atender às características pessoais de cada
uma das pessoas que solicita o pagamento de uma indemnização. O limite
colocado é o do abuso de direito previsto no artigo 334º do Código Civil366, já
que solicitar elementos não necessários para a regularização de um sinistro é
abusivo e desproporcional.
Os documentos solicitados terão que ser entendidos como a prova necessária
para enquadramento na cobertura contratual, para determinar a medida da
prestação, do prazo e eventualmente a quem deva ser prestada. O que extravase,
analisado o caso concreto, o efeito útil da utilização do documento para um fim
específico é, desse modo, desnecessário.
É normal e aconselhável que a listagem de documentos necessários conste da
própria apólice ou de documentação entregue com a cópia da proposta, mas
existindo na mesma algum que não se revista de utilidade, então a exigência é
abusiva e deverá ter-se por não escrita367.
Do mesmo modo, caso exista uma cláusula que permita ao segurador solicitar
todos os elementos que considere necessários, tal não representa uma liberdade
total para exigir elementos que não sejam pertinentes para o enquadramento nas
coberturas contratuais.

3.6.3.3. Questão mais complexa é a de poder solicitar elementos para enquadrar


uma eventual exclusão. Aqui haverá que atender aos seguintes aspetos:
i. relacionamento de boa fé entre as partes que pressupõe colaboração no
sentido de ser possível configurar o melhor possível os pormenores de um
sinistro percebendo-se qual o estado real em que se encontrava uma pessoa num
seguro de vida ou saúde no momento da contratação e no momento do sinistro
ou o estado de um veículo antes de um sinistro e a forma como o mesmo
ocorreu;
ii. se existe um sinistro com morte o pedido para recebimento da
indemnização é feito pelos beneficiários através da participação de sinistro, a
qual poderá implicar a entrega de diversa documentação nomeadamente para
prova da morte e da qualidade de beneficiário, mas já poderá ser excessivo o
pedido de elementos de que os mesmos não dispõem368, não têm acesso e que
apenas servirão para avaliar a eventual existência de uma exclusão no contrato
que desobrigue o segurador ao pagamento da indemnização369. Enquadra-se
nestas situações, por exemplo, o pedido de elementos médicos do falecido que
não sejam cedidos aos familiares pelo hospital atendendo à proteção de dados;
iii. utilização do conceito de “serviços clinicamente necessários” nas
condições contratuais dos seguros de saúde, que é uma expressão comum
inserida nos contratos de modo a permitir ao segurador avaliar o que considera
necessário e por essa via solicitar documentação que permita a sua avaliação.
Uma análise casuística permitirá discernir a pertinência do que é solicitado
atendendo aos conhecimentos científicos370. Estarão no âmbito destas situações,
por exemplo, as divergências entre médicos sobre a necessidade de uma cirurgia
cujo problema se possa resolver através de tratamento, defendendo o médico do
segurador que a cirurgia não é necessária;
iv. a LCCG permitir estabelecer limites sobre o que é admissível e o que é
abusivo e por essa via nulo371.

3.6.3.4. Relativamente ao segundo ponto, ou seja, deixar sistematicamente sem


resposta a correspondência pertinente, com o objetivo de dissuadir o consumidor
do exercício dos seus direitos contratuais, existem também vários elementos a
analisar, nomeadamente:
I. em que consiste uma omissão sistemática;
II. o que se entende por correspondência pertinente;
III. se o objetivo de dissuadir o consumidor abrange, ou não, o dolo ou a
mera negligência;
IV. se o exercício dos direitos contratuais pode ser efetuado por lesados.

I. A omissão sistemática
A omissão sistemática pode entender-se como sendo referente à omissão
múltipla perante um conjunto de consumidores, em vários sinistros ou perante
um único consumidor desde que sejam diversas as comunicações que deixa sem
resposta.
A dificuldade estará em perceber se duas omissões de resposta podem ser
entendidas como sistemáticas ou se terão que ser muitas mais. Duas hipóteses
viáveis se colocam:
a) perante um único processo de sinistro deixar mais do que uma
comunicação sem resposta poderá ser entendido como sistemático, podendo ser
mais indiciador se tiver deixado mais de metade das comunicações sem resposta.
Assim, tal poderá ocorrer na ausência de resposta a pedidos de informação sobre
a regularização do sinistro ou na negociação de uma indemnização;
b)um segurador que tenha como prática a gestão não diligente de sinistros,
que não aceda aos pedidos dos seus clientes ou lesados por um longo período de
tempo, incumprindo a maioria dos prazos de resposta a que esteja obrigado, seja
por códigos de conduta, seja por imposição legal ou regulamentar.

Outro aspeto relevante está ligado à própria conclusão de que existe uma
omissão, ou seja, a partir de que momento é que podemos considerar que o
segurador já deveria ter dado resposta. Por certo, não serão exigíveis respostas
no próprio dia, mas também não serão aceitáveis respostas decorridos que sejam
dois anos que coloquem em causa os direitos dos consumidores.
Deste modo, terá que se recorrer aos critérios legais e contratuais que existam
para cada situação concreta em que possam estar previstos prazos ou, no limite,
quando o decurso do tempo seja de tal forma excessivo que o segurador não
poderia deixar de supor que para a sua resposta ter utilidade teria que ser mais
atempada. Em última análise terá que se atender aos prazos de prescrição e
caducidade que existam como veremos em seguida372.

II. A correspondência pertinente


Quanto ao que se entende por correspondência pertinente, atenta a
indeterminação desta expressão, deverá analisar-se cada caso concreto para
aferir qual a correspondência que tem pedidos relevantes suscetíveis de causar
lesão ao consumidor. Assim, poderemos indicar os seguintes exemplos:
a) a negociação de uma indemnização para a qual ainda não exista um
acordo, em que o lesado faz uma contraproposta ao valor oferecido pelo
segurador sem que este dê resposta;
b)um pedido de ativação de cobertura do contrato que obrigue à realização de
peritagem da habitação ou automóvel por estarem os mesmo inutilizados, ou
seja, situação em que a omissão de resposta do segurador provoque danos a cada
dia que passa;
c) a solicitação de um resgate de um produto do ramo Vida sem que obtenha
uma resposta de não ser possível ou um pedido de elementos do segurador para
dar seguimento, caso sejam necessários373.

Quando o consumidor insista com pedidos já respondidos, sem que


acrescente novos elementos e apenas porque pretende uma posição final
diferente por parte do segurador, já não se poderá entender essa correspondência
como sendo pertinente.
A este propósito a Norma Regulamentar nº 10/2009-R, de 25 de junho,
emitida pelo Instituto de Seguros de Portugal, prevê no seu artigo 11º, nº 4,
alínea c), que a empresa de seguros pode não admitir uma reclamação quando se
«reiterem reclamações que sejam apresentadas pelo mesmo reclamante em
relação à mesma matéria e que já tenham sido objecto de resposta pela empresa
de seguros».

III. O objetivo de dissuadir o consumidor


Quanto ao objetivo de dissuadir o consumidor, tal pressupõe uma
intencionalidade que nos leva a concluir pela necessidade de o profissional agir
com dolo, ou seja, ele representa, nem que seja como mera hipótese, que o
consumidor não dê seguimento à sua pretensão caso não obtenha uma resposta.
Assim, não respondendo propositadamente pretende levar a que o consumidor
desista da sua pretensão. Esta situação assumirá maior relevância em pedidos de
indemnização de baixo valor que não justificam gastos de tempo ou materiais
avultados, ou seja, exige desproporcionalidade no esforço de obrigar a empresa
de seguros a cumprir o contrato.
Pode-se, ainda, debater se a falta de resposta é no caso concreto um meio
eficaz e suficiente para dissuadir o consumidor ou se a omissão em si deve ser
penalizada porque pelo menos pode contribuir para tal efeito. Somos da opinião
que aquilo que a lei pretende penalizar é a própria omissão de resposta. Se o
consumidor faz um pedido à empresa de seguros é porque entendeu que o
mesmo era relevante, pelo que a não resposta pode pelo menos contribuir para
que desista, desde que não esteja em causa um pedido repetido e já respondido
pelo segurador.
Deste modo, pretende-se que não seja o incumprimento dos deveres de
diligência por parte dos profissionais que leve a que os direitos dos
consumidores não sejam exercidos, pois esse seria um foco de desequilíbrio
contratual.

IV. O exercício dos direitos contratuais por lesados


Um último ponto para questionar se o exercício dos direitos contratuais pode ser
feito por lesados. Atendendo à realidade seguradora somos forçados a dizer que
sim. A gestão de um sinistro, com o consequente pedido de ressarcimento por
parte de um lesado, implica em qualquer circunstância que exista um contrato de
seguro que gere a obrigação de pagamento no quadro dos seguros obrigatórios
existentes e nos seguros facultativos das coberturas contratadas.
Adota-se aqui um conceito de consumidor que seja suficientemente
abrangente para abarcar todas as figuras jurídicas que possam beneficiar de um
contrato de seguro na linha do que é defendido por Marcel Fontaine que insere
na proteção ao consumidor de seguros toda a pessoa que seja suscetível de
beneficiar da cobertura de um seguro, seja ele tomador, segurado, beneficiário ou
lesado374.
Deste modo, a expressão «os seus direitos contratuais» deve ser lida de uma
forma mais abrangente, ainda que a mesma possa traduzir-se em dificuldades na
aplicação de sanções contraordenacionais. O princípio da tipicidade e grau de
certeza exigível poderão levar a uma interpretação restritiva que conduz a que,
para esse efeito, apenas estejam tuteladas as relações contratuais entre
consumidor e profissional, o que não prejudica todos os outros efeitos que a lei
prevê, nomeadamente os decorrentes do artigo 15º do Decreto-Lei nº 57/2008.
3.6.4. A falta de resposta do segurador, a prescrição e a caducidade
A ausência de resposta a um pedido de pagamento de indemnização poderá ter
efeitos gravosos relacionados com os prejuízos da própria morosidade, onde
também se inclui a exigência de documentação irrelevante que prolonga a
regularização de um sinistro.
Uma morosidade extrema poderá levar à prescrição ou caducidade de um
direito.
O artigo 121º, nº 2, do RJCS faz menção de uma forma generalizada à
prescrição, colocando de parte a situação da prescrição do direito ao prémio
referida no nº 1, ao referir que «os restantes direitos emergentes do contrato de
seguro prescrevem no prazo de cinco anos a contar da data em que o titular teve
conhecimento do direito, sem prejuízo da prescrição ordinária a contar do facto
que lhe deu causa». O enfoque é colocado na data do conhecimento para início
da contagem do prazo, mas como o direito não pode ficar em suspenso de forma
eterna deverá também recorrer-se aos prazos gerais constantes no Código Civil.
O artigo 145º do RJCS no âmbito dos seguros de responsabilidade civil faz
referência à prescrição referindo que «aos direitos do lesado contra o segurador
aplicam-se os prazos de prescrição regulados no Código Civil». Ora, este
Código prevê o seguinte:
– no caso do pagamento de indemnizações ou capitais decorrentes de
contrato, bem como incumprimentos contratuais, aplica-se o prazo de prescrição
ordinário de 20 anos previsto no artigo 309º375;
– caso estejamos perante terceiros em relação ao contrato de responsabilidade
civil, que pretendam solicitar indemnização, então é de salientar a aplicabilidade
do artigo 498º do Código Civil376, o qual prevê um prazo de prescrição de três
anos para o lesado.

Para efeitos de acidente de trabalho o artigo 179º, nº 1, da Lei nº 98/2009, de


4 de setembro, refere que o direito de ação caduca no prazo de um ano a contar
da data da alta clínica formalmente comunicada ao sinistrado ou, se do evento
resultar a morte, a contar desta, o que se traduz num prazo de caducidade mais
curto.
Uma nota ainda para a suspensão e interrupção da prescrição, já que o prazo
de prescrição, nos termos do artigo 306º, nº 1, do Código Civil apenas se inicia
quando o direito puder ser exercido e suspende-se durante o tempo em que o
titular estiver impedido de fazer valer o seu direito, por motivo de força maior,
no decurso dos últimos três meses do prazo.
Em termos de atividade seguradora só se o segurador estiver na posse de
algum elemento que não facultou ao cliente ou lesado que fosse imprescindível
para a interposição da ação é que poderemos considerar a hipótese da suspensão
do prazo ou caso a pessoa tivesse um justificado impedimento físico377.
A propósito da caducidade e do artigo 12º, alínea d), do DL 57/2008 JORGE
MORAIS DE CARVALHO378 faz ainda referência à caducidade, prevista
contratualmente, do direito de solicitar indemnização, ainda que vejamos essa
hipótese na prática com uma aplicabilidade reduzida, atendendo a que tal
cláusula seria nula em seguros de responsabilidade civil obrigatória e que não é
comum que conste dos clausulados dos seguros facultativos.
Seja como for, ainda que a prescrição e caducidade possam constituir indícios
de um segurador pretender dissuadir o consumidor do exercício dos seus direitos
contratuais, por o protelamento poder ter esse objetivo, a verificação de prática
comercial desleal não depende da verificação de uma prescrição ou caducidade,
já que a morosidade injustificada é um mal em si mesmo que a lei pretende
evitar.

4. O caso específico do envio de bens ou serviços não solicitados


O artigo 13º dispõe no seu nº 1 que «No caso de envio de bens ou serviços não
encomendados ou solicitados, que não constitua o cumprimento de qualquer
contrato válido, o destinatário desses bens ou serviços não fica obrigado à sua
devolução ou pagamento, podendo conservá-los a título gratuito».
O artigo 12º na sua alínea f ) também considera agressiva em qualquer
circunstância a exigência de «pagamento imediato ou diferido de bens e serviços
(…) que o consumidor não tenha solicitado, sem prejuízo do disposto no regime
dos contratos celebrados à distância acerca da possibilidade de fornecer o bem
ou o serviço de qualidade e preço equivalentes».
No caso dos seguros não pode o segurador, que tenha entendido de forma
indevida como validamente celebrado um contrato, exigir o pagamento do
prémio por ter estado supostamente a cobrir o risco. Ainda que tenha existido
cobertura de risco não é o consumidor obrigado ao seu pagamento.
O nº 2 esclarece uma situação que a ocorrer será abusiva, ou seja, o segurador
através de um mediador, que seja entidade de crédito, remeter condições
contratuais referindo que se nada disser será debitado o prémio. A lei nada
estabelece para o silêncio do tomador ou segurado (no caso dos seguros de
grupo) na celebração de um contrato, mas o contrato de seguro é consensual379 e
bilateral380 conforme decorre, por exemplo, genericamente dos artigos 21º, 32º e
35º do RJCS, que exige uma ação do tomador ou segurado para a vinculação381.
Atendendo ao previsto no artigo 218º do Código Civil, o silêncio só valerá como
declaração negocial quando esse valor lhe seja atribuído por lei, uso ou
convenção.
Assim, fica esclarecido que não poderá também haver uso ou convenção que
leve a considerar-se a ausência de resposta como consentimento devido à
especial proteção que é conferida ao consumidor.

5. Consequências em caso de prática comercial desleal


5.1. Invalidade dos contratos
O artigo 14º, nº 1, prevê que «os contratos celebrados sob a influência de
alguma prática comercial desleal são anuláveis a pedido do consumidor, nos
termos do artigo 287º do Código Civil».
Esta é uma faculdade à disposição do consumidor entre outras, as quais não
obedecem a qualquer hierarquia. A escolha é livre, pelo que pode o mesmo ainda
«requerer a modificação do contrato segundo juízos de equidade» (nº 2) ou
reduzir o contrato ao seu conteúdo válido anulando-se as restantes cláusulas (nº
3).
O artigo 287º do Código Civil estabelece que a anulabilidade apenas pode ser
arguida dentro do ano subsequente à cessação do vício que lhe serve de
fundamento, mas se o negócio ainda não estiver cumprido pode a anulabilidade
ser arguida sem dependência de prazo. Num contrato de seguro o normal é que
essa anulabilidade seja solicitada durante a execução do contrato.
Sem prejuízo da possibilidade de anulação ou redução do contrato, o artigo
15º reconhece ainda aquilo que já decorreria do Código Civil, ou seja, que «o
consumidor lesado por efeito de alguma prática comercial desleal proibida nos
termos do presente decreto-lei é ressarcido nos termos gerais».
No entender de LUÍS MENEZES LEITÃO, que acompanhamos, «o âmbito do
dano indemnizável variará consonante venha a ser ou não anulado o contrato
ao abrigo do art. 14º»382. Se existir anulação há uma limitação pelo interesse
contratual negativo, se não houver anulação fica abrangido o interesse contratual
positivo383.
Esta clarificação quanto à responsabilidade civil também consta dos artigos
23º, nº 1; 24º, nº 4, e 79º do RJCS a propósito do incumprimento dos deveres de
informação384.
O direito à reação contra a prática comercial desleal não se restringe ao
próprio interessado, razão pela qual o artigo 16º determina que «qualquer
pessoa, incluindo os concorrentes que tenham interesse legítimo em opor-se a
práticas comerciais desleais proibidas nos termos do presente decreto-lei, pode
intentar a acção inibitória prevista na Lei nº 24/96, de 31 de Julho, com vista a
prevenir, corrigir ou fazer cessar tais práticas».
Trata-se de um mero reconhecimento da complementaridade entre a lei de
defesa do consumidor e a lei das práticas comerciais desleais, que é em si,
atendendo à sua completude, também uma verdadeira de lei de defesa do
consumidor.

5.2. Códigos de conduta


O artigo 17º acolhe a autorregulamentação dos operadores através dos códigos
de conduta385, partindo do princípio de que é vantajoso para uma empresa
reforçar os níveis de confiança do consumidor através dos compromissos a que
se obriga.
Como menciona FEDERICO GHEZZI a autodisciplina representa um custo que
será tão mais elevado quanto maior for o standard de conduta ideal386.
O nº 1 deste preceito confere-lhe uma especial responsabilidade aos titulares
dos códigos de conduta no controlo das práticas comerciais desleais que
decorram do diploma legal, desde que o próprio código assegure uma proteção
superior ao consumidor.
Deste modo, é conferida a possibilidade de o consumidor se dirigir ao titular
do código de conduta para que este analise a prática em causa. No entanto, o nº 2
salvaguarda que o recurso ao controlo pelos titulares dos códigos não implica
nunca a renúncia à ação judicial ou ao controlo administrativo.
O artigo 7º, nº 2, alínea b), faz menção aos códigos de conduta referindo que
caso o profissional informe que está vinculado a um código de conduta, o
incumprimento de um compromisso efetivo, que entendemos como a menção ao
consumidor de que cumprirá o fornecimento do bem ou prestação de serviço nos
termos a que está obrigado pelo seu próprio código de conduta, leva a que haja
uma ação enganosa caso exista incumprimento387.
Embora o nº 2 não o refira, deverá entender-se que é ainda necessário o
requisito referido no nº 1 do artigo 7º, nomeadamente o facto de os
compromissos assumidos constantes do código de conduta serem suscetíveis de
conduzir o consumidor a tomar uma decisão de transação que este não teria
tomado de outro modo.
Segundo o artigo 18º o titular de um código de conduta que não faça refletir
no mesmo o cumprimento das disposições do regime das práticas comerciais
desleais está sujeito ao disposto nos artigos 15º, 16º, 20º e 21º, o que constitui
um reforço da responsabilidade do titular do código.

5.3. Regime sancionatório


O artigo 19º, nº 1, prevê que «a autoridade administrativa competente para
ordenar as medidas previstas no artigo seguinte é a Autoridade de Segurança
Alimentar e Económica (ASAE) ou a entidade reguladora do sector no qual
ocorra a prática comercial desleal», o que no caso dos seguros e fundos de
pensões, significa o Instituto de Seguros de Portugal, conforme é confirmado
pelo nº 2 do mesmo preceito quando destaca as autoridades administrativas no
setor financeiro.
Haverá ainda algumas situações como nos seguros sob a forma de
Instrumentos de Captação de Aforro Estruturados em que será competente a
Comissão do Mercado de Valores Mobiliários em razão do disposto no artigo
353º do Código dos Valores Mobiliários, na redação introduzida pelo Decreto-
Lei nº 357-A/2007, de 31 de outubro.
O artigo 20º, nº 1, sobre a determinação das medidas cautelares prevê, a
exemplo do artigo 16º, que qualquer pessoa, incluindo os profissionais
concorrentes, que detenha um interesse legítimo em opor-se às práticas
comerciais desleais proibidas pode submeter a questão à autoridade
administrativa competente.
As sanções a ordenar pelo Instituto de Seguros de Portugal, nos termos do nº
2, são medidas cautelares de cessação temporária da prática comercial desleal,
podendo também determinar a proibição prévia de uma prática comercial desleal
iminente independentemente de culpa ou da prova da ocorrência de um prejuízo
real388.
Assim, será suficiente a mera probabilidade de prejuízo para o consumidor e
para o funcionamento do mercado concorrencial de modo a que haja
legitimidade administrativa para atuar, ainda que seja conferida a possibilidade
de recurso ao profissional para o tribunal judicial da área onde ocorreu a prática
comercial desleal389.
O artigo 20º, nº 3, concretiza que a aplicação das medidas cautelares, está
sujeita a um juízo prévio de previsibilidade da existência dos pressupostos da
ocorrência de uma prática comercial desleal.
Para acautelar que sejam tomadas medidas sem fundamento é consignado um
direito de audiência prévia a exemplo do previsto do Código do Procedimento
Administrativo390, a exercer sempre que possível, mas com um prazo mais curto,
ou seja, de três dias úteis em vez dos habituais dez úteis.
O nº 5 dispõe sobre as situações em que não há lugar à audição prévia,
nomeadamente «quando:
a) A decisão seja urgente;
b) Seja razoavelmente de prever que a diligência possa comprometer a
execução ou a utilidade da decisão;
c) O número de interessados a ouvir seja de tal forma elevado que a
audiência se torne impraticável, devendo nesse caso proceder-se a consulta
pública, quando possível, pela forma mais adequada».

O artigo 21º prevê as coimas aplicáveis e sanções acessórias que podem ser
aplicadas em função da gravidade da infração e culpa do agente por parte do
Instituto de Seguros de Portugal391.
No que se refere às coimas o nº 1 prevê que «a violação do disposto nos
artigos 4º a 12º constitui contra-ordenação punível com coima de (euro) 250 a
(euro) 3740,98, se o infractor for pessoa singular, e de (euro) 3000 a (euro) 44
891,81, se o infractor for pessoa colectiva».
O nº 2 prescreve, no que se refere às sanções acessórias que maior impacto
terão no setor segurador, o seguinte:
− interdição do exercício de profissões ou actividades cujo exercício dependa
de título público ou de autorização ou homologação de autoridade pública
[alínea b)];
− encerramento de estabelecimento [alínea c)];
− publicidade da aplicação das coimas e das sanções acessórias, a expensas
do infrator [alínea d)].

As duas primeiras sanções têm a duração máxima de dois anos contados a


partir da decisão condenatória final392.
Estando a matéria em causa a ser objeto de apreciação por parte dos tribunais
ou do Instituto de Seguros de Portugal, pode ser exigido «aos profissionais
provas de exactidão material dos dados de facto contidos nas práticas
comerciais» se tal exigência for adequada às circunstâncias do caso393, pelo que
deverá existir proporcionalidade e utilidade no que é pedido.
A existência de informação ao consumidor que não estará correta está na base
de muitas das infrações potencialmente cometidas pelos profissionais, pelo que a
não apresentação de prova ou apresentação de dados insuficiente derivam numa
conclusão de existência de dados que justifiquem a legitimidade e legalidade da
prática comercial.
Por essa via o artigo 22º, nº 2, considera que quando dados suficientes não
sejam apresentados existem dados inexatos. Assiste-se aqui a uma inversão do
ónus da prova forçando-se o profissional a colaborar com os tribunais e Instituto
de Seguros de Portugal para demonstrar que não existiu prática comercial desleal
em qualquer uma das suas formas.

6. Conclusões
6.1. O regime das práticas comerciais desleais constante da Diretiva 2005/29/CE
e do DL 57/2008 faz menção a um vasto conjunto de matérias no relacionamento
entre os profissionais e os consumidores, em que identificamos com maior
relevância para os seguros as seguintes:
− a informação na formação ou execução de um contrato, ainda que o mesmo
não se venha a concretizar;
− a influência indevida sobre a decisão do consumidor no âmbito de um
contrato ou sinistro;
− a decisão não esclarecida do consumidor.

Estes três aspetos podem derivar do seguinte:


− uma ação ou omissão na relação direta do profissional com o consumidor;
ou
− publicidade genérica não dirigida a uma pessoa em particular.

6.2. Entendemos por consumidor de seguros, como vimos, a pessoa singular que
seja tomador, segurado, lesado ou beneficiário de um seguro. A dificuldade no
conceito de consumidor que analisámos é a de um beneficiário ou lesado não ter
contratado diretamente o seguro, mas diremos que age, para efeitos de direito do
consumo, em representação de quem fez o contrato sob pena de o contrato de
seguro não ser acionável ou tenha aquele que o contratou que responder
diretamente pelos danos causados.
6.3. A legislação específica do setor segurador já prevê diversas obrigações de
informação e diligência entre as partes em particular, de forma mais reforçada,
para o segurador. De todo o modo, não são de ignorar os benefícios do regime
das práticas comerciais desleais, o qual agregado ao regime jurídico específico
da atividade seguradora, providencia um sistema jurídico mais compacto e
dissuasor de práticas incorretas. 6.4. Ainda assim, teremos que realçar que em
determinadas matérias a que fizemos menção o grau de utilização de conceitos
abertos e indeterminados poderá dificultar a aplicabilidade do regime
sancionatório e por essa via a total aplicabilidade do DL 57/2008. A alteração da
Diretiva e da lei nacional, de modo a providenciar alguns critérios objetivos,
permitiria a sua melhor compreensão por parte dos agentes do mercado, onde se
incluem os que atuam nos seguros e nos fundos de pensões.
-
296 Sobre esta Diretiva V., por exemplo, LUÍS MENEZES LEITÃO, A protecção do consumidor
contra as práticas comerciais desleais e agressivas, in O Direito, anos 134 e 135, 2002-2003, Almedina,
Coimbra, 2004, págs. 69 a 85 e em Estudos de Direito do Consumidor, nº 5, Centro de Direito do Consumo,
Coimbra, 2003, págs. 163 a 206; ELSA DIAS OLIVEIRA, Práticas Comerciais Proibidas, in Estudos do
Instituto de Direito do Consumo, Vol. III, Almedina, Coimbra, 2006, págs. 147 a 173; ASSUNÇÃO
CRISTAS, Concorrências desleal e protecção do consumidor: a propósito da Directiva 2005/29/CE, in
Homenagem da Faculdade de Direito de Lisboa ao Professor Doutor Inocêncio Galvão Telles, 90 anos,
Almedina, Coimbra, 2007, págs. 141 a 162; PEGADO LIZ, A “lealdade” no comércio ou as desventuras
de uma iniciativa comunitária (análise crítica da Directiva 2005/29/CE), in Revista Portuguesa de Direito
do Consumo, nº 44, Coimbra, 2005, págs. 17 a 93; CLÁUDIA GOMES ABRUNHOSA, Práticas
comerciais desleais – Um estudo da Directiva 2005/29/CE, in Revista Portuguesa de Direito do Consumo,
nº 61, Coimbra, Março de 2010, págs. 45 a 127; LUIS GONZÁLEZ VAQUÉ, La Directiva 2005/29/CE
relativa a las prácticas comerciales desleales: entre el objetivo de una armonización total y el enfoque de
plena armonización en materia de protección de los consumidores, 2005,
“http://www.diritto.it/docs/archivio/1/20883.pdf (recolhido em janeiro de 2012); FERNANDO GÓMEZ
POMAR, The Unfair Commercial Pratices directive: A Law and Economics Perspective, InDret – Revista
para el Análisis del Derecho, nº 330, Barcelona, 2006 e www.indret.com (recolhido em março de 2012);
JOSÉ MASSAGUER FUENTES, Las práticas comerciales engañosas en la Directiva 2005/29/CE sobre
las práticas comerciales desleales, in Actualidad Jurídica – Uria Menéndez, nº 13, Dykinson, Madrid,
2006, págs. 13 a 25; JOSÉ MASSAGUER, La transposición al derecho español de la Directiva
2005/29/CE sobre práticas comerciales desleales, in Boletín de Información, Ano LX, num. 2013,
Ministerio de Justicia, Madrid, 2006, págs. 1925 a 1963; GERAINT HOWELLS, HANS W. MICKLITZ e
THOMAS WILHELMSSON, European Fair Trading Law: The Unfair Commercial Practices Directive,
Ashgate, Hampshire, 2006; STEPHEN WEATHERILL e ULF BERNITZ, The Regulation of Unfair
Commercial Practices Under EC Directive 2005/29: New Rules and New Techniques , Hart Publishing,
Oxford, 2007; MARIA ADALGISA CARUSO, Le pratiche commerciali aggresive, CEDAM, Milano,
2010; ANDREA GAGLIARDI, Pratiche commerciali scorrete, UTET, Torino, 2009; AAVV, Le
«pratiche commerciali sleali» tra imprese e consumatori – La directiva 2005/29/CE e il diritto
italiano, Giappichelli Editore, Torino, 2007; AAVV, Le pratiche commerciali sleali, Quaderni di
Giurisprudenza Commerciale nº 300, Giuffrè, Milano, 2007; EZIO GUERINONI, Le pratiche
commerciali scorrete, Giuffrè, Milano, 2010; LUIGI VIGORITI, Verso l’attuazione della Direttiva sulle
pratiche commerciali sleali, in Europa e diritto privato, nº 2/2007, Giuffrè, Milano, 2007, págs. 521 a 540;
ALESSANDRA PERA, La Direttiva sulle pratiche commerciali sleali tra tutela del consumatore e
disciplina della concorrenza, in Revista di Diritto Civile, ano LIV, nº 4 Luglio-Agosto, Padova, 2008,
págs. 485 a 521; ROSSELA INCARDONA, La Direttiva N 2005/29/CE sulle pratiche commerciali
sleali: prime valutazioni, in Diritto comunitário e degli scambi internazionali, Ano XLV, nº 2 – Aprile-
Giugno 2006, Editoriale Scientifica, Napoli, 2006, págs. 361 a 383 e LÉONARD COX e CHARLES
GHEUR, La directive sur les pratiques commerciales déloyales: Analyse critique de sa transposition
en droit belge et en droit français, in Revue européene de droit de la consommation, nº 2/2007-2008,
Larcier, Bruxelles, 2008, págs. 185 a 213.
297 ADELAIDE MENEZES LEITÃO assinala que a disciplina das práticas comerciais desleais
«configura mais um marco na “americanização” do direito privado europeu, uma vez que recorre ao modelo
das unfair trade pratices constantes da Secção 5 do Federal Trade Comission Act». Cfr. da autora, Práticas
comerciais desleais como impedimento à outorga de direitos industriais?, in Direito Industrial, Vol. VII,
Almedina, Coimbra, 2010, págs. 267 e 268. Sobre este assunto V. igualmente ROBERT LANDE,
Revitalizing Section 5 of the FCT Act Using “consumer Choice” Analysis, em
http://www.antitrustinstitute.org/files/Feb09-Lande2-26f_030320092134 pdf, fevereiro de 2009 (recolhido
em março de 2012).
298 Na base da Diretiva estão os artigos 94º e 95º do Tratado da União Europeia, que fazem menção ao
funcionamento do mercado comum e do mercado interno, bem como à proteção dos consumidores.
299 A este propósito CLÁUDIA GOMES ABRUNHOSA, Ob. Cit., pág. 55, refere que «o cidadão/
consumidor comunitário assume hoje as vestes de motor do mercado interno comunitário».
300 A propósito do direito francês e da lei 2008-3, de 3 de janeiro de 2008, que promoveu a reforma das
práticas comerciais desleais, DIDIER FERRIER aborda a matéria da concorrência como aspeto a favorecer
a baixa de preços e até que medida poderá ser excessiva. V. do autor, La reforme des pratiques
commerciales, in Recueil Dalloz, nº 7 de 2008, ano 184, Dalloz, Paris, 2008, págs. 429 a 433.
301 Cfr. Ob. Cit., pág. 272.

302 V. do autor, La reforme des pratiques commerciales déloyales par la loi Chatel – Le droit commun
à la reencontre du droit de la consonmmation, in La Semaine Juridique – Édition Générale, nº 36, Lexis
Nexis, Paris, 2008, pág. 18.
303 V. artigo 12º, alínea d).

304 A Diretiva procura ser suficientemente abrangente para tocar em todas as áreas em que o
consumidor pode ser afetado.
305 Sobre o DL 57/2008, V., por exemplo, na doutrina JORGE MORAIS DE CARVALHO, Práticas
comerciais desleais das empresas face aos consumidores, in Revista de Direito das Sociedades, Ano III, nº
1, Almedina, Coimbra, 2011, págs. 187 a 219; ADELAIDE MENEZES LEITÃO, Práticas comerciais
desleais como impedimento à outorga de direitos industriais?, in Direito Industrial, Vol. VII, Almedina,
Coimbra, 2010, págs. 265 a 283; ALEXANDRE SOVERAL MARTINS, A transposição da Directiva sobre
práticas comerciais desleais (Directiva 2005/29/CE) em Portugal pelo Decreto-Lei nº 57/2008, de 26 de
Março, in Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Vol. I, Almedina,
Coimbra, 2011, págs. 569 a 585 e LUÍS MENEZES LEITÃO, As Práticas Comerciais Desleais nas
Relações de Consumo, in Liber Amicorum Mário Frota, Almedina, Coimbra, 2012, págs. 369 a 386.
306 Cfr. Jornal Oficial das Comunidades Europeias de 09-10-2002.

307 Aqui teremos também que incluir os Regulamentos comunitários que, pela sua eficácia horizontal,
são diretamente aplicáveis sem necessidade de transposição. O Tribunal de Justiça estabeleceu no acórdão
Van Gend en Loos, proc. 26/62, o princípio do efeito direto. Não obstante, indicou como condição que as
obrigações devem ser precisas, claras, incondicionais e não devem requerer medidas complementares, de
carácter nacional ou europeu. Os regulamentos têm sempre um efeito direto. O artigo 288º do Tratado sobre
o Funcionamento da UE dispõe que os regulamentos são diretamente aplicáveis nos Estados-Membros. O
Tribunal de Justiça através do acórdão Politi de 14 de dezembro de 1971, proc. C-24/92, determina aquilo
que se considera como um efeito direto completo.
308 Os que se incluem nessas atividades, sejam pessoas singulares ou coletivas, são tidos como
profissionais. Estão ainda abrangidos os que atuem em nome ou por conta desse profissional nos termos do
artigo 3º, alínea b).
309 Sobre a problemática da extensão do conceito de consumidor V. JOÃO CALVÃO DA SILVA,
Responsabilidade Civil do Produtor, Almedina, Coimbra, 1999, págs. 58 a 64; CARLOS FERREIRA DE
ALMEIDA, Direito do Consumo, Almedina, Coimbra, 2005, págs. 44 a 58; FERNANDO BAPTISTA DE
OLIVEIRA, O Conceito de Consumidor – Perspectivas Nacional e Comunitária, Almedina, Coimbra,
2009, pág. 51 e seguintes; NATHALIE RZEPECKI, Droit de la Consomation et Théorie Générale du
Contrat, Presses Universitaires D’Aix-Marseille, Puam, 2002, págs. 297 a 318 e JUAN VILLALBA
CUÉLLAR, La noción de consumidor en el derecho comparado y en el derecho colombiano, in
Vniversitas, nº 119, Bogotá, julio-diciembre de 2009, págs. 305 a 340. Sobre as dimensões de consumidor
de seguros V. FILIPPO ROMEO, La Tutela del “Consumatore” nel contratto di assicurazione danni,
Giuffrè Editore, Milano, 2004, págs. 98 a 114.
310 Cfr. em www.dgsi.pt, no Proc. 1097/04.0TBLLE.E1.S1, tendo como relator Moreira Alves.

311 V. do autor O Conceito de Consumidor – Perspectivas Nacional e Comunitária, Almedina,


Coimbra, 2009, págs. 163 a 165.
312 Cfr. da autora, O direito comunitário do consumo – Guia de estudo, in Estudos do Instituto de
Direito do Consumo, Vol. I, Almedina, Coimbra, 2002, pág. 67.
313 V. artigos 1º, 3º, 12º e 13º do RJCS.

314 Embora o preâmbulo do Decreto-Lei nº 72/2008 mencione o consumidor e o artigo 19º, nº 2, do


RJCS faça a seguinte remissão quanto a deveres de informação que acresçam aos previstos no artigo 18º:
«Sendo o tomador do seguro considerado consumidor nos termos legalmente previstos, às informações
indicadas no artigo anterior acrescem as previstas noutros diplomas, nomeadamente no regime de defesa do
consumidor». Sobre o artigo 19º V. com interesse a anotação de Eduarda Ribeiro, in Lei do Contrato de
Seguro Anotada, 2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2011, págs. 105 a 112.
315 Cfr. em www.dgsi.pt, no Proc. 04B196, tendo como relator Pires da Rosa.

316 Cfr. artigos 2º, nº 3 e 9º, nº 4, do DL 57/2008. Veja-se também que o artigo 18º do RJCS refere-se a
deveres de informação ao tomador, não fazendo distinção entre pessoas singulares e coletivas. É o que
acontece por regra, salvo algumas exceções como a prevista no artigo 27º do RJCS quanto ao valor do
silêncio do segurador em que se distingue o tomador do seguro enquanto pessoa singular.
317 «Qualquer pessoa singular que, nas práticas comerciais abrangidas pelo presente decreto-lei,
(…)».
318 Alínea d) do artigo 3º.

319 V., por exemplo, quanto ao facto de o mediador ser punido pelo incumprimento dos seus deveres o
artigo 77º, alínea h) do DL 144/2006, o qual prevê como contraordenação o «incumprimento por mediador
de seguros de qualquer dos deveres para com os clientes fixados nos artigos 31º a 33º».
320 Não é o segurador o agente incumpridor.

321 Refere o nº 3 o seguinte: «O contrato de seguro que o mediador de seguros, agindo em nome do
segurador, celebre sem poderes específicos para o efeito é eficaz em relação a este se tiverem existido
razões ponderosas, objectivamente apreciadas, tendo em conta as circunstâncias do caso, que justifiquem a
confiança do tomador do seguro de boa fé na legitimidade do mediador de seguros, desde que o segurador
tenha igualmente contribuído para fundar a confiança do tomador do seguro». Sobre a representação do
segurador pelo mediador V. igualmente o regime do Decreto-Lei nº 144/2006, em particular o dever do
mediador, previsto no artigo 29º, alínea a), de «Celebrar contratos em nome da empresa de seguros apenas
quando esta lhe tenha conferido, por escrito, os necessários poderes;».
322 MENEZES CORDEIRO na sua obra Da boa fé no direito civil, Almedina, Coimbra, 2007, pág.
1229, refere que «diligência corresponde à medida de esforço ou de colaboração exigível ao devedor no
cumprimento das suas obrigações».
323 V. a alínea h) do artigo 3º, a qual refere que diligência profissional é «o padrão de competência
especializada e de cuidado que se pode razoavelmente esperar de um profissional nas suas relações com os
consumidores, avaliado de acordo com a prática honesta de mercado e ou com o princípio geral de boa fé
no âmbito da actividade profissional;».
324 Cfr. Ob. Cit., pág. 274.

325 Conforme dispõe a alínea i) do artigo 3º entende-se por «Convite a contratar» «uma comunicação
comercial que indica as características e o preço do produto de uma forma adequada aos meios utilizados
pela comunicação comercial, permitindo assim que o consumidor efectue uma aquisição;».
326 Segundo a alínea l) corresponde à «decisão tomada por um consumidor sobre a questão de saber se,
como e em que condições adquirir, pagar integral ou parcialmente, conservar ou alienar um produto ou
exercer outro direito contratual em relação ao produto, independentemente de o consumidor decidir agir ou
abster-se de agir;».
327 Cfr. do autor, A Transposição da Directiva sobre Práticas Comerciais Desleais (Directiva
2005/29/CE) em Portugal pelo Decreto-Lei nº 57/2008, de 26 de março, in Estudos em Homenagem ao
Professor Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Coimbra, 2011, pág. 576.
328 Cfr. do autor, Práticas comerciais desleais das empresas face aos consumidores, in Revista de
Direito das Sociedades, Ano III, nº 1, Almedina, Coimbra, 2011, págs. 188 e 189.
329 Sobre esta matéria V. entre outros, Hélio Rodrigues, O conceito consumidor médio no panorama
comunitário: subsídios para a sua compreensão, in Revista Portuguesa de Direito do Consumo, nº 58,
Coimbra, 2009, págs. 15 a 42; FERNANDO BAPTISTA DE OLIVEIRA, O Conceito de Consumidor –
Perspectivas Nacional e Comunitária, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 199 a 203; LUIS GONZÁLEZ
VAQUÉ, La noción de consumidor medio según la jurisprudencia del Tribunal de Justicia de las
Comunidades Europeas, Revista de derecho comunitario europeo, Madrid, a.8, nº 17 (Enero-Abril 2004),
págs. 47 a 81; MARIA ADALGISA CARUSO, Le pratiche commerciali aggresive, CEDAM, Milano,
2010, págs. 54 a 74; ALESSANDRO SACCOMANI, Le nozioni de consumatore e di consumatore medio
nella direttiva 2005/29/CE, in Le pratiche commerciali sleali (a cura di Enrico Minervini e Liliana Rossi
Carleo), Quaderni di Giurisprudenza Commerciale nº 300, Giuffrè, Milano, 2007, págs. 141 a 165.
330 Note-se que segundo a Diretiva o consumidor médio é normalmente informado e razoavelmente
atento, o que não deixa de redundar em apreciações subjetivas para aferir o que é normal e razoável.
331 Cfr. da autora, O consumidor de referência para avaliar a deslealdade da publicidade e de outras
práticas comerciais, in Estudos em homenagem ao Professor Doutor Carlos Ferreira de Almeida, Coimbra,
2011, pág. 535.
332 A transparência surge como um princípio base na estrutura dos contratos de consumo. Para maiores
desenvolvimentos, V. ÉLISE POILLOT, Droit Européen de la Consomation et uniformisation du Droit
des Contrats, LGDJ, Paris, 2006, págs. 211 a 233.
333 Este será o conjunto de regras destinadas a proteger os tomadores de seguros, segurados,
beneficiários ou terceiros lesados. ANTÓNIO PINTO MONTEIRO define direito do consumidor como «o
conjunto de princípios e regras destinadas à protecção do consumidor». Cfr. Sobre o direito do
consumidor em Portugal, em Estudos de Direito do Consumidor, nº 4, Centro de Direito do Consumo,
Coimbra, 2002, pág. 121, pelo que se poderá concluir que os princípios de conduta de mercado cumprem a
mesma função, ou seja, proteger o consumidor, o que para a área seguradora será uma acepção que abranja
as figuras mencionadas no Artigo 131º-C.
334 O artigo 2º, nº 1, deste diploma legal refere que «considera-se consumidor todo aquele a quem
sejam fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados a uso não
profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma actividade económica que vise a
obtenção de benefícios». Através desta definição ficariam excluídas as pessoas singulares ou colectivas que
contratassem um seguro de responsabilidade civil profissional.
335 A identificação dos ramos que se consideram como “grandes riscos” consta no artigo 2º, nº 3, do DL
94-B/98.
336 Em princípio o prazo de resposta não deve exceder os 20 dias. V. artigo 12º, nº 2, da Norma
Regulamentar nº 10/2009-R.
337 Sobre a boa fé na gestão de um sinistro V., por exemplo, ALBERTO MONTI, Buona Fede e
Assicurazione, Giuffrè, Milano, 2002, págs. 29 a 34.
338 Aproveitamos para transcrever o texto com as recomendações em causa. «1 – Sem prejuízo da
faculdade prevista no nº 3 infra, os documentos exigíveis para efeitos de pagamento do valor de resgate e
do valor de reembolso no vencimento do contrato não deverão exceder os seguintes: a) No âmbito dos
seguros de capitalização:
(i) Tratando-se do valor de resgate: bilhete de identidade e cartão de contribuinte ou, em alternativa,
cartão de cidadão;
(ii) Tratando-se do valor de reembolso, em caso de sobrevivência: bilhete de identidade e cartão de
contribuinte ou, em alternativa, cartão de cidadão, e, adicionalmente, caso o beneficiário não se apresente
presencialmente, certidão de nascimento;
(iii) Tratando-se do valor de reembolso, em caso de morte: bilhete de identidade e cartão de contribuinte
ou, em alternativa, cartão de cidadão, documentação inerente à participação do sinistro, certidão do
assento de óbito e documento comprovativo da qualidade de herdeiro ou beneficiário.
b) No âmbito das operações de capitalização:
(i) Tratando-se do valor de resgate: bilhete de identidade e cartão de contribuinte ou, em alternativa,
cartão de cidadão, e título;
(ii) Tratando-se do valor de reembolso: bilhete de identidade e cartão de contribuinte ou, em alternativa,
cartão de cidadão, e título;
(iii) Tratando-se do valor de reembolso, em caso de morte: bilhete de identidade e cartão de contribuinte
ou, em alternativa, cartão de cidadão, título e, adicionalmente, caso este seja nominativo, certidão do
assento de óbito e documento comprovativo da qualidade de herdeiro.
2 – Sem prejuízo da faculdade prevista no número seguinte, o pagamento das quantias contratualmente
devidas deverá ser efectuado dentro dos seguintes prazos, a contar da data da recepção dos documentos
necessários para o efeito:
Circular nº 10/2009, de 20 de Agosto 5
a) Tratando-se do valor de resgate: 10 dias úteis;
b) Tratando-se do valor de reembolso, em caso de sobrevivência: 5 dias úteis;
c) Tratando-se do valor de reembolso, em caso de morte: 20 dias úteis.
3 – Os documentos exigidos e os prazos estabelecidos para o pagamento devem ser adequados à liquidez,
natureza e complexidade do produto e, bem assim, aos factos que determinam o pagamento, tendo em conta
o princípio da proporcionalidade, podendo, em situações devidamente justificadas, ser exigidos
documentos adicionais ou estabelecidos prazos mais longos, em derrogação do previsto nos dois números
anteriores.
4 – Para além das regras legais enunciadas supra, o segurador não pode fazer impender sobre o tomador
do seguro, o subscritor, o beneficiário ou o portador do título quaisquer ónus que não sejam efectivamente
indispensáveis ao pagamento do valor de resgate ou do valor de reembolso no vencimento do contrato. 5 –
O segurador deve divulgar, no respectivo sítio da Internet, as condições de pagamento do valor de resgate e
do valor de reembolso no vencimento do contrato, designadamente as diligências e documentos exigíveis e
os prazos estabelecidos para o efeito».
339 Refere este preceito que «o segurado deve ter um interesse digno de proteção legal relativamente ao
risco coberto, sob pena de nulidade do contrato».
340 Esta é a alínea mais abrangente, já que a mesma integra praticamente todo o processo de venda do
produto ou serviço e os direitos na execução do contrato. Refere a mesma o seguinte: «As características
principais do bem ou serviço, tais como a sua disponibilidade, as suas vantagens, os riscos que apresenta,
a sua execução, a sua composição, os seus acessórios, a prestação de assistência pós-venda e o tratamento
das reclamações, o modo e a data de fabrico ou de fornecimento, a entrega, a adequação ao fim a que se
destina e as garantias de conformidade, as utilizações, a quantidade, as especificações, a origem
geográfica ou comercial ou os resultados que podem ser esperados da sua utilização, ou os resultados e as
características substanciais dos testes ou controlos efectuados ao bem ou serviço;».
341 Por exemplo, o profissional informar que para usufruir de um determinado serviço precisa de
contratar um outro, o que já é vedado pelo artigo 9º, nº 6, da Lei, nº 24/96, de 31 de julho (Lei de Defesa do
Consumidor), ou o profissional indicar que a máquina adquirida terá que ter uma peça substituída bem antes
do que seria suposto sob a aparência de que a mesma poderia deixar de funcionar.
342 A alínea f ) do artigo 7º faz ainda menção às relações do profissional e os seus direitos de
propriedade industrial, comercial ou intelectual, mas consideramos que tal já se relaciona com a 1ª parte da
alínea quanto às qualificações e autorizações que o profissional tem para vender um determinado bem ou
produto.
343 Dispõe a alínea g) que pode constituir uma ação enganosa a prestação de informações falsas sobre
«os direitos do consumidor, em particular os direitos de substituição, de reparação, de redução do preço ou
de resolução do contrato nos termos do disposto no regime aplicável à conformidade dos bens de consumo,
e os riscos a que o consumidor pode estar sujeito». Assim, quem adquira um bem novo, de acordo com o
Decreto-Lei nº 67/2003, de 8 de abril (alterado e republicado pelo Decreto-Lei nº 84/2008, de 21 de maio),
tendo automaticamente dois anos de garantia, não pode o profissional informar que o consumidor tem
apenas um ano de garantia, já que isso poderá levar a que o mesmo, por incorreta informação, não exerça os
seus direitos contratuais. Em termos de seguros, o segurador fornecer informações de prazos para resolução
do contrato contrários ou menos vantajosos para o consumidor que os previstos no artigo 118º do RJCS.
344 Para maiores pormenores consultar a informação disponibilizada pelo Instituto Português de
Qualidade em http://www.ipq.pt.
345 Cfr. artigo 566º do Código Civil e artigo 15º do DL 57/2008.

346 Atendendo aos rácios de solvência e à gestão sã e prudente que obriga o segurador a ponderar qual o
valor do prémio a cobrar atendendo à sua experiência de riscos.
347 Da mesma forma, se uma companhia aérea publicita, com restrição dos lugares disponíveis num
avião, baixos custos para os bilhetes, a oferta cessa quando o avião se encontra lotado.
348 Refere a alínea z) o seguinte: «Descrever o bem ou serviço como «grátis», «gratuito», «sem
encargos» ou equivalente se o consumidor tiver de pagar mais do que o custo indispensável para responder
à prática comercial e para ir buscar o bem ou pagar pela sua entrega;».
349 Refere esta alínea o seguinte: «Declarar que a compra ou venda de um bem ou a prestação de um
serviço é lícita ou transmitir essa impressão quando tal não corresponda à verdade;».
350 Situação diferente será a de através de um seguro de responsabilidade civil ficarem cobertos atos
dos quais possam também derivar responsabilidade criminal conforme prevê o artigo 14º, nº 2, do RJCS.
351 Uma forma de obstar à existência de prática comercial desleal é a de quando indica que tem 30 dias
para proceder à resolução mencionar que é um direito que decorre da lei.
352 A alínea ab) do artigo 8º coloca igualmente o enfoque nos enganos relativos à identificação do
profissional, particularmente nas situações em que dá a impressão de não estar a agir para fins relacionados
com a sua atividade comercial, industrial, artesanal ou profissional ou apresentar-se falsamente como
consumidor. Pretende o legislador reforçar a transparência. Sobre o facto de a Diretiva das práticas
comerciais desleais ter levado à evolução do princípio da transparência V. PIERFRANCESCO
BARTOLOMUCCI, Le pratiche commerciali sleali ed il contrato: un’evoluzione del principio di
transparenza, in Le pratiche commerciali sleali (a cura di enrico Minervini e Liliana Rossi Carleo),
Quaderni di Giurisprudenza Commerciale nº 300, Giuffrè, Milano, 2007, págs. 255 a 273.
353 Refere esta alínea o seguinte «Transmitir informações inexactas sobre as condições de mercado ou
sobre a possibilidade de encontrar o bem ou serviço com a intenção de induzir o consumidor a adquirir o
bem ou a contratar a prestação do serviço em condições menos favoráveis do que as condições normais de
mercado».
354 Sobre este nº 3, V. ALEXANDRE SOVERAL MARTINS, Ob. Cit, pág. 577, onde analisa o uso da
expressão “informação substancial” na Diretiva e as supostas diferenças na expressão utilizada na lei
nacional que se transcreveu.
355 A transparência surge como um princípio base na estrutura dos contratos de consumo. Para maiores
desenvolvimentos, V. ÉLISE POILLOT, Droit Européen de la Consomation et uniformisation du Droit
des Contrats, LGDJ, Paris, 2006, págs. 211 a 233.
356 Este diploma foi publicado posteriormente ao das práticas comerciais desleais, pelo que se
compreende a sua ausência, mas seria natural que constasse um diploma que continha diversos deveres de
informação, como seria o caso do Decreto-Lei nº 176/95, de 26 de julho (com a alteração decorrente do
Decreto-Lei nº 60/2004, de 22 de março), conhecido como a lei da transparência.
357 Estes direitos estão sujeitos a prazos para o seu exercício.

358 V. por exemplo artigo 1º do Código Penal quanto ao princípio da legalidade.

359 Por exemplo, será mais raro, atendendo aos custos monetários que acarreta para o consumidor, o
recurso aos meios judiciais para interposição de ações judiciais solicitando indemnizações. O profissional
sabe também que apenas uma minoria recorre a esses meios.
360 A prevista na alínea f ) também será aplicável, mas será analisada a propósito do artigo 13º quanto a
serviços não solicitados.
361 Quanto aos modos de efetuar o pagamento V. artigo 54º do RJCS.

362 V. artigos 12º e 13º, nº 2, do RJCS onde se dá tratamento diferente aos seguros de grandes riscos.

363 Referimos “quase” porque há situações em que a pessoa singular tem maior proteção que a pessoa
coletiva, como por exemplo no artigo 27º do RJCS relativamente ao valor do silêncio.
364 Sobre esta matéria V. ABEL VEIGA COPO, Condiciones en el contrato de seguro, 2ª Edición,
Editorial Comares, Granada, 2008, págs. 57 a 67.
365 V. por exemplo o conceito em MENEZES CORDEIRO, Da Boa fé no Direito Civil, Almedina,
Coimbra, 2007, págs. 510 a 526 e ALMEIDA COSTA, Direito das Obrigações, 12ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2009, págs. 113 a 124.
366 Refere este preceito que «é ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda
manifestamente os limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico desse
direito».
367 Cfr. artigo 22º, nº 1, alínea o), da LCCG, o qual refere que «1 – São proibidas, consoante o quadro
negocial padronizado, designadamente, as cláusulas contratuais gerais que: (…) o) Exijam, para a prática
de actos na vigência do contrato, formalidades que a lei não prevê ou vinculem as partes a
comportamentos supérfluos, para o exercício dos seus direitos contratuais», referindo ainda o artigo 12º
que será nula a cláusula geral proibida.
368 Um relacionamento de boa fé impõe a colaboração entre as partes na delimitação do risco e na
regularização do sinistro, mas tal não pode significar que o pagamento de uma indemnização fique pendente
da entrega de elementos de que o beneficiário não dispõe e está impossibilitado de dispor ainda que faça os
esforços razoáveis e necessários para os obter.
369 Sobre esta matéria V. o entendimento do Instituto de Seguros de Portugal, publicado no Relatório de
Regulação e Supervisão da Conduta de Mercado – 2008, Lisboa, 2009, pág. 58, onde é referido o
seguinte:
«O ónus da prova das exclusões contratuais recai sobre as empresas de seguros, obrigação que decorre do
estipulado no número 2 do artigo 342º do Código Civil.
É comum os seguradores solicitarem aos beneficiários, após a ocorrência do sinistro, dados pessoais de
saúde da pessoa segura falecida, os quais, em regra, destinam-se ao apuramento de uma eventual exclusão,
apta à desobrigação da liquidação do capital seguro.
Nessa medida, tal solicitação poderá configurar uma inversão material do ónus da prova, a qual, de resto,
é absolutamente proibida pela alínea g) do artigo 21º do regime jurídico das cláusulas contratuais gerais,
aprovado pelo Decreto-Lei nº 446/85, de 25 de Outubro.
Neste contexto, cabe também fazer alusão ao ónus jurídico da participação do sinistro, o qual, em
particular no seguro de pessoas, corre por conta dos beneficiários, mas que não deve requerer uma
densificação de dados ao ponto de ter de fundamentar as exclusões cuja demonstração impende sobre os
operadores. De facto, esse ónus, que se decompõe na explicitação das circunstâncias da verificação do
sinistro, nas eventuais causas da sua ocorrência e respectivas consequências, reivindica a diligência de um
bom pai de família (número 2 do artigo 799º e número 2 do artigo 487º, ambos do Código Civil), não
podendo, por isso, solicitar-se ao beneficiário informação à qual o mesmo poderá estar impedido de ter
acesso, atentas as disposições legais em matéria de protecção de dados e de acesso a documentos
administrativos. A este propósito, assume especial relevância a alínea d) do artigo 12º do Decreto-Lei nº
57/2008, de 26 de Março, que tipifica como prática comercial agressiva a que se traduz em obrigar o
consumidor, que pretenda solicitar indemnização ao abrigo de uma apólice de seguro, a apresentar
documentos que, de acordo com os critérios de razoabilidade, não possam ser considerados relevantes
para determinar a validade do pedido.
Não se questionando a legitimidade para atestar a causa e circunstâncias da morte da pessoa segura ou o
cumprimento com zelo e exactidão da declaração inicial do risco, parece, contudo, desadequado que as
empresas de seguros façam impender tal encargo sobre os beneficiários, no que estiver para além da
responsabilidade da participação do sinistro, antes sendo aconselhável que procurem garantir, logo no
momento da celebração do contrato, o acesso aos dados pessoais de saúde em questão».
370 Sobre esta matéria V. igualmente o entendimento do ISP sobre a utilização do conceito de serviços
clinicamente necessários nos clausulados dos contratos de seguro de doença, publicado no Relatório de
Regulação e Supervisão da Conduta de Mercado – 2009, Lisboa, 2010, págs. 50 e 51. Refere este
entendimento o seguinte:
«Em algumas apólices do seguro de doença, é possível verificar a existência de uma exclusão dos actos
clínicos que não sejam considerados pelo segurador ou pela entidade gestora do contrato como serviços
clinicamente necessários, sem que tal signifique, necessariamente, que as mesmas conferem poderes
interpretativos exclusivos ao segurador.
De facto, aquelas cláusulas devem antes ser interpretadas como uma delimitação positiva do âmbito das
coberturas do contrato, no sentido de se salvaguardar que os actos clínicos sejam necessários e adequados
às circunstâncias verificadas em cada caso em concreto.
Por outro lado, os clausulados devem dispor de uma cláusula de arbitragem que permita resolver eventuais
diferendos decorrentes da aplicação do contrato, pelo que um segurado que não concorde com o
enquadramento levado a cabo, a esse nível, face ao seu estado clínico, sempre terá a possibilidade de
recorrer àquele sistema de resolução de conflitos.
No entanto, cláusulas de tipo aberto, como as atrás mencionadas, poderão suscitar dúvidas interpretativas
quanto à concretização das situações que estarão ou não abrangidas, inibindo eventualmente o segurado
de avançar para um tratamento médico que lhe seja prescrito ou indicado pelo médico que o acompanha,
mas que seja considerado “desaconselhado” pelo segurador ou pelo gestor de serviços de saúde a que este
recorre, ou que o leve a propor o recurso à arbitragem, com a consequente demora na prestação de
cuidados de saúde eventualmente inadiáveis.
Dever-se-ão, ainda, ter presentes as consequências decorrentes da aplicação do regime constante da Lei
das Cláusulas Contratuais Gerais relativamente a algumas das cláusulas utilizadas pelo mercado
segurador com o objectivo referido.
Dado o exposto, entende-se ser mais adequado que as cláusulas daquele tipo passem a mencionar que
estão cobertos os actos clínicos considerados necessários, face ao quadro clínico do segurado e de acordo
com os protocolos e padrões reconhecidos pela comunidade médica, como, aliás, já figura em algumas
apólices de seguros de saúde.
Este entendimento é válido, de igual modo, para quaisquer outras exclusões ou cláusulas limitativas do
contrato que prevejam que cabe ao segurador ou aos seus administradores ou gestores de serviços de
saúde a definição de conceitos ou o enquadramento de situações para que uma determinada cobertura
possa ser accionada, sem que esteja prevista a exigência de um critério ou de fundamentação
explicitamente sustentados em princípios médicos».
371 Veja-se a título de exemplo a fixação de prazos excessivos para cumprimento da obrigação [artigo
19º, alínea b)], a alteração ou limitação de obrigações assumidas [artigo 21º, alínea b)] e a exigência de
formalidade que a lei não prevê ou vinculem as partes a comportamentos supérfluos para o exercício dos
seus direitos contratuais [artigo 22º, nº 1, alínea o)].
372 Veja-se, por exemplo, o prazo de prescrição de três anos previsto para a responsabilidade civil
constante no artigo 498º do Código Civil.
373 Sobre a documentação a apresentar para um reembolso ou resgate em seguros e operações de
capitalização V. a Circular do ISP nº 10/2009, de 20 de agosto, a que já fizemos menção.
374 Sobre esta matéria V. do autor, Droit des Assurances, Quatrième édition, Larcier, Bruxelles, 2010,
pág. 47.
375 V. sobre esta matéria com maior detalhe JOSÉ VASQUES, Contrato de Seguro, Coimbra Editora,
Coimbra, 1999, págs. 367 e 368.
376 Para melhor perceção transcreve-se o preceito:
«Artigo 498º (Prescrição)
1. O direito de indemnização prescreve no prazo de três anos, a contar da data em que o lesado teve
conhecimento do direito que lhe compete, embora com desconhecimento da pessoa do responsável e da
extensão integral dos danos, sem prejuízo da prescrição ordinária se tiver decorrido o respectivo prazo a
contar do facto danoso.
2. Prescreve igualmente no prazo de três anos, a contar do cumprimento, o direito de regresso entre os
responsáveis.
3. Se o facto ilícito constituir crime para o qual a lei estabeleça prescrição sujeita a prazo mais longo, é
este o prazo aplicável.
4. A prescrição do direito de indemnização não importa prescrição da acção de reivindicação nem da
acção de restituição por enriquecimento sem causa, se houver lugar a uma ou a outra».
377 Sobre o artigo 321º PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA pronunciam-se referindo que «1. A
impossibilidade de o credor agir no sentido da interrupção da prescrição só é atendida quando tenha lugar
nos últimos 3 meses do prazo. É o caso, por exemplo, de o credor adoecer e não poder agir por si nem por
intermédio de procurador, pedindo o cumprimento da obrigação. O titular do direito terá de fazer a prova
dessa impossibilidade durante os dias necessários para que não se tenha consumado a prescrição. (…) 2. O
nº 2 equipara ao motivo de força maior o dolo do obrigado. Nos termos do artigo 253º, haverá dolo
quando este tiver induzido ou mantido em erro o credor. Convenceu-o, por exemplo, de que o direito não
existia ou já estava extinto». Cfr. dos autores, Código Civil Anotado, Volume I, 4ª edição, Coimbra Editora,
Coimbra, 1987, pág. 289.
378 Refere o autor que «se o direito a solicitar indemnização ao abrigo de uma apólice de seguro tiver
de ser exercida dentro de certo prazo, aplicam-se as regras da caducidade (artigo 298º, nº 2, do Código
Civil), que remetem, nos casos convencionais de caducidade, para as disposições relativas à suspensão da
prescrição (artigo 330º, nº 2). Ora, esta suspende-se no decurso dos últimos 3 meses do prazo durante o
tempo em que o titular estiver impedido de fazer valer o seu direito em consequência do dolo do obrigado
(artigo 331º, nº 1 ex vi nº 2). Portanto, sempre que, nas situações previstas na alínea d) do artigo 12º do
Decreto-Lei nº 57/2008, exista dolo do profissional, suspende-se o prazo de caducidade previsto no
contrato para o exercício do direito, só voltando a correr quando cessar o comportamento doloso». Cfr. do
autor, Ob. Cit., pág. 216.
379 Refere MENEZES CORDEIRO que «são consensuais os negócios que, por não caírem sob a
estatuição de normas cominadoras de forma especial, sejam susceptíveis de conclusão por simples
consenso». Cfr. Tratado de Direito Civil Português, I – Parte Geral, Tomo I, 3ª edição, Almedina, Coimbra,
2005, pág. 465.
380 Cfr. artigo 1º do RJCS. Sobre as características do contrato de seguro V., por exemplo, C.
CACCAVIELLO, / G. MAISTO / A. PERCUOCO, Le assicurazioni: manuale teorico-pratico per
operatori legali, commercialisti e assicuratori, Edizioni Simone, Napoli, 1995, págs. 132 a 141; SIMONE
FORNI, Assicurazione e Impresa, Giuffrè Editore, Milano, 2009, págs. 8 a 11; MURIEL CHAGNY e
LOUIS PERDRIX, Droit des Assurances, LGDJ, Paris, 2009, págs. 26 a 29; Marcel Fontaine, Droit des
Assurances, Quatrième édition, Larcier, Bruxelles, 2010, págs. 120 e 132; JEAN BIGOT, Traité des
Assurances, Tome 3, LGDJ, Paris, 2002, págs. 49 a 85; YVONNE LAMBERT-FAIVRE, Droit des
Assurances, 11ª édition, Dalloz, Paris, 2001, págs. 180 a 184; ALBERTO TAPIA HERMIDA, Manual de
Derecho de Seguros y Fondos de Pensiones, Thomson, Navarra, 2006, págs. 155 a 159; JOSÉ VASQUES,
Contrato de Seguro, Coimbra Editora, 1999, pág. 103 a 111; PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito dos
Seguros – Apontamentos, Principia, Cascais, 2006, págs. 51 a 59; JOSÉ ENGRÁCIA ANTUNES, Direito
dos Contratos Comerciais, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 685 a 687; MARGARIDA LIMA REGO,
Contrato de Seguro e Terceiros, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, págs. 61 a 66 e MARIA INÊS DE
OLIVEIRA MARTINS, O seguro de vida enquanto tipo contratual legal, Coimbra Editora, 2010, págs. 52
a 56.
381 Embora sejam configuráveis situações de gestão de negócios em que alguém contrata no interesse
de outro, é necessário que exista ratificação.
382 Cfr. do autor, As Práticas Comerciais Desleais nas Relações de Consumo, in Liber Amicorum
Mário Frota, Almedina, Coimbra, 2012, pág.385.
383 Sobre a distinção entre interesse negativo e interesse positivo V. com interesse PAULO MOTA
PINTO, Interesse Contratual Positivo e Interesse Contratual Negativo, Vol. II, Coimbra Editora, Coimbra,
2008.
384 PEDRO ROMANO MARTINEZ sobre a remissão para a responsabilidade civil, nos termos gerais,
refere que a mesma «implica a aplicação das regras comuns relativas aos pressupostos da responsabilidade
civil e suas consequências. Como se trata de violação de um dever específico, mesmo que não tenha sido
celebrado o contrato ou este seja nulo e ainda quanto a quem não seja parte no contrato de seguro, como o
segurado, a responsabilidade é obrigacional, encontrando aplicação as regras especiais dos artigos 798º e ss.
do CC presumindo-se a culpa do segurador (artigo 799º, nº 1, do CC) –, bem como as regras gerais da
obrigação de indemnizar dos arts. 562º e ss. do CC». Acrescenta ainda que do artigo 23º do RGCS «resulta
que a regra é a solução por via da responsabilidade civil. Excepcionalmente, pode cumular-se com o
direito de resolução». Cfr. PEDRO ROMANO MARTINEZ e outros, Lei do Contrato de Seguro Anotada,
2ª Edição, Almedina, Coimbra, 2011, pág. 130.
385 Sobre esta matéria V., por exemplo, CLÁUDIA MADALENO, Informação e Publicidade. Em
especial, a Publicidade de Produtos Financeiros, in Liber Amicorum Mário Frota, Almedina, Coimbra,
2012, págs. 83 a 85 e FRANCESCO PINTO,I Codici Deontologici e la Direttiva 2005/29/CE, in Le
pratiche commerciali sleali (a cura di Enrico Minervini e Liliana Rossi Carleo), Quaderni di Giurisprudenza
Commerciale nº 300, Giuffrè, Milano, 2007, págs. 141 a 165.
386 Para maiores detalhes V. do autor, Codici di condotta, autodisciplina, pratiche commerciali
scorrete. Un rapporto difficile, in Revista delle Società, ano 56, fascicolo 4º, Giuffrè Editore, Milano, 2011,
pág. 688 e segs.
387 Estão situações fazem parte do elenco das características principais do bem ou serviço, consistindo
numa promessa unilateral que se destina a dar maior confiança ao consumidor levando-o à contratação.
388 Segundo o artigo 20º, nº 6, a medida tem um carácter necessariamente provisório, pelo que se
extingue «no termo do prazo nesta estipulado, caso seja anterior à decisão final proferida pela autoridade
administrativa competente no âmbito do respectivo processo de contra-ordenação, ou pelo tribunal
competente em sede de recurso».
389 Cfr. art. 20º, nº 7.

390 V. artigos 8º e 100º a 103º.

391 Cfr. artigo 21º, nºs 4 e 5.

392 Cfr. artigo 21º, nº 3.

393 Cfr. artigo 22º, nº 1.


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ÍNDICE
NOTA PRÉVIA
PREFÁCIO
ABREVIATURAS MAIS UTILIZADAS
A CESSAÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO
PARTE I
1. Formas de cessação dos contratos em geral – Breve referência
1.1. Enunciação geral
1.2. Revogação
1.3. Resolução
1.4. Denúncia
1.5. Caducidade
PARTE II
2. As formas de extinção do contrato de seguro no RJCS
– Breve enunciação
2.1. Considerações gerais
2.2. A invalidade – nulidade e anulabilidade
2.3. Ineficácia
3. Os preceitos de natureza imperativa absoluta e relativa na cessação do contrato
4. Seguros de massa e de grandes riscos
5. Tipos de classificação
5.1. Formas originárias e supervenientes
5.2. Formas voluntárias e involuntárias
5.3. Formas diretas e indiretas
PARTE III

6. Modos de cessação em especial

7. Efeitos da cessação

8. Estorno do prémio por cessação antecipada

9. Efeitos em relação a terceiros

10.Caducidade

11. Revogação

12. Denúncia

13. A alteração de condições contratuais para a renovação

13.1. O contrato único e a denúncia parcial


13.2. A denúncia e a proposta de modificação
13.3. A alteração do valor do prémio em particular
13.4. O silêncio e o comportamento de aceitação do novo prémio

14. A resolução

14.1. Resolução com justa causa


14.2. A resolução após sinistro
14.3. A livre resolução
14.4. Resolução ou modificação dos contratos por alteração das circunstâncias – em especial a
diminuição e agravamento do risco
14.5. A resolução por falta de pagamento do prémio
14.6. O pagamento do prémio após a data limite para pagamento e a eventual cobertura ou cessação

PARTE IV
15. Outras situações dispersas de cessação
15.1. A resolução por incumprimento de deveres de informação enquanto resolução por justa causa
15.2. A resolução por transferência de carteira
15.3. O resgate enquanto resolução
15.4. A cessação do contrato de seguro de saúde
15.5. Particularidades da cessação do seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel
16. A cessação do contrato e adesão nos seguros de grupo
CONCLUSÕES

O REGIME JURÍDICO DAS PRÁTICAS COMERCIAIS DESLEAIS E OS SEGUROS


1. Fundamentos da Diretiva
2. A transposição para o DL 57/2008, de 26 de março
2.1. Âmbito de aplicação
2.2. A delimitação pelos conceitos
3. As práticas comerciais proibidas
3.1. Considerações gerais
3.2. O consumidor médio
3.3. Os padrões de diligência profissional na área seguradora
3.3.1. A política de tratamento e resposta a reclamações
3.3.2. Os prazos para regularização de sinistros
3.4. As práticas comerciais desleais em especial
3.5. As ações e omissões enganosas
3.5.1. Considerações gerais
3.5.2. Ações enganosas em qualquer circunstância
3.5.3. As omissões enganosas
3.6. As práticas comerciais agressivas
3.6.1 Aplicação genérica
3.6.2. As práticas comerciais agressivas em qualquer circunstância
3.6.3. A situação em particular da solicitação de indemnização ao abrigo de apólice de seguro
3.6.4. A falta de resposta do segurador, a prescrição e a caducidade
4. O caso específico do envio de bens ou serviços não solicitados
5. Consequências em caso de prática comercial desleal
5.1. Invalidade dos contratos
5.2. Códigos de conduta
5.3. Regime sancionatório
6. Conclusões
BIBLIOGRAFIA
Índice
Cover
Frontíspicio
Ficha Técnica
Dedicatória
NOTA PRÉVIA
PREFÁCIO
ABREVIATURAS MAIS UTILIZADAS
A cessação do contrato de seguro
Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
CONCLUSÕES
JURISPRUDÊNCIA CITADA DISPONÍVEL EM WWW.DGSI.PT
BIBLIOGRAFIA
O regime jurídico das práticas comerciais desleais e os seguros
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE

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