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A INFLUÊNCIA FILOSÓFICA NO PENSAMENTO FREUDIANO

Vincenzo Di Matteo
SIMPOSIUM. Revista da UNICAP, v.24, n.2, p.35-46, 1983

INTRODUÇÃO

Nenhum homem, por quanto grande e original possa ser, tem o começo a partir de si
mesmo. É sempre possível fazer um inventário da herança cultural que está na gênese do novo
que é produzido, ou delimitar o horizonte cultural dentro do qual germina, se anuncia e se
descortina o novo horizonte.
É esta a tarefa a que nos propomos neste trabalho, convencidos de que as descobertas
psicanalíticas não encontram sua justificação apenas na formação científica de Freud, mas
também na sua formação literária e filosófica. Uma força anterior e concomitante aos estudos de
medicina e à prática médica permeia toda a obra freudiana: a imaginação.
Para compreender melhor a postura de Freud frente à Filosofia, sentiu-se a necessidade
de situar o discurso freudiano a partir da sua formação filosófica e no contexto cultural de onde
se origina e se desenvolve.
Finalizaremos com um resumo das idéias julgadas mais significativas.

I - A INFLUÊNCIA FILOSÓFICA

A leitura da obra freudiana não é algo de confortável para um filósofo ou para alguém
envolvido, de alguma maneira, com o mundo e a problemática da Filosofia. As críticas que são
dirigidas aos filósofos e à Filosofia são tão numerosas e tão mordazes que, inevitavelmente,
desencadeiam uma série de perguntas em busca de alguma explicação que justifique a postura
freudiana frente à Filosofia e aos filósofos.
Por que esta espécie de alergia à Filosofia? O que teria levado Freud a julgar-se
"constitucionalmente incapaz" para a Filosofia propriamente dita? (15:75). Por que chega a falar
de "obscuridades filosóficas" (29:276), "artifícios da Filosofia"? (17:41). Por que, numa atitude
desconcertante, achar que a resposta melhor a ser dada às críticas dos filósofos deveria ser "um
dar de ombros?" (15: 44). Por que ridicularizar as chamadas "necessidades superiores dos
filósofos", necessitados de "manuais para a vida, substitutos para o antigo, útil e todo suficiente
catecismo da Igreja?" (19:117-18). Afinal, quem eram os filósofos para Freud? O que ele
entendia por Filosofia? Como conciliar - se é possível conciliar - a ironia e os sarcasmos
dirigidos aos filósofos e as contínuas referências filosóficas na obra freudiana? Mera erudição?
É possível traçar uma história das relações de Freud com a Filosofia, sem limitar-se aos dados
anedóticos? É mesmo verdade que Freud desautoriza a Filosofia e os filósofos a pronunciar sua
palavra sobre psicanálise? E se for verdade, como explicar a incursão da Filosofia no campo da
psicanálise, apesar do interdito freudiano? Um exemplo a mais do imperialismo filosófico? É
legítimo tornar a psicanálise um capítulo da Filosofia, ou vice-versa, a Filosofia um capítulo da
psicanálise? A Filosofia tem apenas algo a ouvir e aprender com a psicanálise ou também algo a
dizer-lhe? E se tem, o quê? A Filosofia é uma palavra aliada ou inimiga da psicanálise?' O
discurso freudiano sobre Filosofia e o discurso filosófico sobre Freud são dois monólogos? Um
verdadeiro diálogo de surdos? A metapsicologia freudiana é uma nova metafísica revestida de
psicologia?' Está certo Janet quando afirma que a psicanálise é antes de tudo uma Filosofia? A
psicanálise conduz a uma determinada Weltanschauung e, em caso afirmativo, a qual?' (24:193).
Afinal, conseguiu Freud expulsar o 'demônio filosófico', ou acabou se tornando filósofo 'por
debaixo dos panos'? Conseguiu segurar-se firmemente na ciência sem deixar-se seduzir pela
sereia da Filosofia e naufragar nos recifes da especulação?
Não pretendemos responder a todas essas perguntas. Nosso objetivo é mais modesto:
levar o leitor a um encontro com o próprio Freud, conhecer o "texto" antes de tudo e ouvir o
discurso freudiano sobre Filosofia e os filósofos. Como subsídio para uma melhor compreensão
da ambivalência freudiana sentiu-se a necessidade de apresentar também o "pré-texto", isso é, a
formação filosófica de Freud e dar uma olhada ao "contexto" cultural de onde se origina o
discurso. Para finalizar, achamos interessante apresentar o posicionamento de Freud diante de
alguns filósofos seus contemporâneos e analisar, mesmo que brevemente, algumas das
referências mais importantes que encontramos na vasta obra freudiana.

1.1- A FORMAÇÃO FILOSÓFICA DE FREUD

O próprio Freud confessou abertamente a Jones, seu futuro biógrafo, o fascínio que a
Filosofia exerceu sobre ele, na época de sua juventude, mesmo que depois a renegue com a
mesma franqueza. Indagado acerca de quanto havia lido em matéria de Filosofia, Freud
responde a Jones: "Muito pouco. Quando jovem, eu sentia uma forte atração para a especulação
e abortei-a impiedosamente" (33:64).
Seria interessante descobrir as razões que levaram Freud a este aborto filosófico. Uma
primeira explicação poderia ser encontrada na carreira médica abraçada por ele. A julgar pelo
seu biógrafo e pelo próprio Freud, foi precisamente "o fato de ouvir o belo ensaio de Goethe
sobre a Natureza, em leitura em voz alta numa conferência popular feita pelo professor Carl
Brühl pouco antes que eu deixasse a escola, que fez com que eu me decidisse a tornar-me
estudante de Medicina" (15:19).
Neste ensaio, atribuído a Goethe, a Natureza é vista metaforicamente como uma mãe
generosa, onisciente, onipotente que dá a seus filhos preferidos o privilégio de ir em busca de
seus segredos.
Além do conteúdo manifesto da metáfora: um convite a compreender alguns dos
enigmas do universo no qual vivemos, especialmente o do organismo vivo, um conteúdo latente
emerge e remete à primeira infância de Freud: tornar-se o filho querido de uma boa mãe;
comparar a anatomia do homem e da mulher, compreender de onde nascem os bebês.
Não foi, portanto, a imagem mitológica da Natureza evidenciada no Ensaio, mas a sua
ressonância com um fantasma pessoal. A sua vida intelectual resulta da conjugação de uma
mitologia e de um fantasma.
Estamos no ano de 1873. Freud tem apenas 17 anos e, como confessará mais tarde, na
sua juventude sentiu "urna necessidade desmesurada de compreender alguma coisa dos enigmas
do mundo em que vivemos e, talvez, até de contribuir com algo de mim para a sua solução"
(33:63).
Segundo Jones, tal curiosidade poderia ser satisfeita de duas maneiras: pela especulação
filosófica ou pela investigação científica.
Mas por que Freud escolheu o caminho da medicina se sua vocação originária era a
Filosofia?
Talvez não seja tão difícil responder a esta questão, guiando-nos pelo próprio Freud. A
medicina parecia a opção mais consentânea para alcançar o objetivo de desvendar algo do
enigma do universo. Posteriormente, pela influência de Brucke, entregou-se à fisiologia e
finalmente passou à Histologia do sistema nervoso para a neuropatologia, até chegar às
neuroses.
Sem dúvida, para estas escolhas, devem ter pesado considerações de ordem econômica,
mas não podemos esquecer que na década dos anos 70, em Viena e na Europa toda, os trabalhos
de Darwin pareciam apontar para o desvelamento de alguns mistérios da natureza,
especialmente do lugar do homem no universo e de sua constituição física. As esperanças da
humanidade pareciam deslocar-se cada vez mais da Religião e da Filosofia para a Ciência.
Segundo Jones esta alta estima em relação à Ciência atingiu Viena de cheio, particularmente na
década dos anos 70 (33:66-7).
Uma segunda hipótese, levantada por Wittels e relatada por Jones (33:63-4) viria na
opção pela ciência uma espécie de formação reativa, uma medida para Freud defender-se de
uma forte tendência à especulação, que ameaçava-o de dominá-lo. A escolha de uma carreira
científica viria contrabalançar tal tendência especulativa.
Para Jones, porém, não foi apenas o medo que a Filosofia levasse Freud para fora do
mundo da objetividade, mas também o medo que esta tendência especulativa liberasse
pensamentos inconscientes para os quais o momento ainda não estava maduro. (33:66).
Estas hipóteses são suficientes para explicar o aborto filosófico freudiano ou são
necessárias outras hipóteses que busquem uma resposta não apenas no psiquismo freudiano,
mas no contexto sócio-econômico-cultural de sua época? Erich Fromm parece insinuar outra
razão, baseando-se numa carta que Freud escreveu à noiva em 1882 (32:111): "A Filosofia, que
sempre me pareceu como o objetivo e refúgio da velhice, aumenta cada dia de atração, tal como
as questões humanas em conjunto, ou qualquer causa a que possa dar minha dedicação a
qualquer preço. Mas o temor da incerteza das questões políticas e locais me afasta desta esfera".
Sejam quais forem as razões que motivaram Freud a orientar-se mais para a ciência do
que para a Filosofia, se houve um aborto filosófico, este se deu bem mais tarde. Os estudos da
medicina não somente não afastaram Freud da especulação, mas lhe proporcionaram um contato
direto com ela através do prof. Brentano. Sabemos de Jones que em 1873 "uma vez por semana
(Freud) dava uma olhadela no seminário de leitura de Filosofia sob a responsabilidade de
Brentano" (33:70). Fato, sem dúvida, significativo, tendo presente que a partir de 1872 a
freqüência a um curso de Filosofia deixara de ser obrigatória para os alunos de medicina.
No verão de 75 Freud encontra tempo de "continuar a freqüentar os seminários de
Filosofia e participou de mais um curso dado por Brentano sobre a lógica de Aristóteles"
(33:70).
No ano seguinte, 1876, no período letivo de verão, entre outras atividades acadêmicas,
freqüentava "três aulas por semana de Brentano sobre Aristóteles" (33: 71).
Qual a influência da filosofia de Brentano sobre o Freud universitário? Talvez seja
discutível a influência filosófica, certamente, porém, foi marcante a personalidade deste ex-
dominicano, membro de uma famí1ia ilustre que deixa a Igreja Católica e se transfere para
Viena, onde ensina Filosofia como 'Privat-Dozent'. Entre seus auditores estão alguns que se
tornarão famosos: Husserl , Kafka, Freud, que viu nele um exemplo a seguir em matéria de
intransigência de idéias, de rigor de raciocínio, de interdisciplinaridade de conhecimento, de
humor espontâneo e de desejo de comunicar-se.
O interesse pela Filosofia persiste nos anos seguintes. Em 1880, no intuito de fazer
Marta, sua noiva, compartilhar de seus interesses, "chegou a redigir uma introdução geral à
Filosofia, a qual chamou de ABC Filosófico, para que ela pudesse assimilá-lo" (33:194).
No mesmo ano encontramos Freud ocupado na tradução de Stuart Mill (33:196). Se a
influência de Brentano sobre Freud pode ser duvidosa, incontestável é a de Stuart Mill, como
consta de uma carta a sua namorada Marta (15.11.1883). O ensaio sobre a emancipação da
mulher fornecerá a Freud exemplos da amarga hostilidade das mulheres contra os homens.
Além disso, é através de Mill e de Gomperz que Freud entra em contato com Platão. A teoria da
remanescença, em particular, o marcou e o método catártico de Breuer lhe pareceu uma
ilustração concreta. Enfim, o princípio do prazer, fundamento do utilitarismo de S. Mill, se
reencontra na convicção de Freud que a mola da conduta humana é a procura do prazer e a fuga
da dor.
Dois anos mais tarde, numa carta a Marta, datada de 18.08.82, Freud escreve: "A
Filosofia, que sempre imaginei como um objetivo e como um refúgio para minha velhice, cada
vez me fascina todos os dias" (2:16).
Numa outra carta, esta dirigida a Fliess e datada de 2 de abril de 1896 escreve: "Quando
jovem meu único desejo era adquirir conhecimentos filosóficos, e agora que estou passando da
medicina para a psicologia estou em via de concretizar esse desejo" (9:276).
E, finalmente, no ano seguinte, numa outra carta dirigida a Fliess, Freud confirma seu
desejo especulativo: "Percebo que você está alcançando, através do caminho tortuoso da
medicina, o seu ideal de origem, o de compreender os seres humanos na qualidade de
fisiologista, exatamente como eu alimento a esperança de alcançar, pela mesma rota, a minha
ambição originária, que é a Filosofia. Porque este era o meu primeiro objetivo, quando ainda
não sabia da minha razão de estar no mundo" (33:297). ( ∗ )

1.2- O SEGUNDO DISCURSO FREUDIANO

Ao discurso pró-filosofia, que encontramos no Freud familiar ou epistolar, segue uma


segunda fala que parece desmentir e rejeitar as afirmações anteriores. A partir da década dos 40,
o Freud escritor assume com relação aos filósofos e à própria Filosofia uma postura que
desconcerta, ainda mais quando os ecos de uma fé na filosofia chegam até os 41 anos, como
acabamos de ler na carta escrita a Fliess.
Uma razão ou uma racionalização deve existir. Antes, porém, de apresentarmos os
motivos que levaram Freud a tornar-se ou proclamar-se um ‘a-filósofo’ e parecer um
‘antifilósofo’ pelas suas colocações, gostaria de colocar algumas premissas.
Primeiro, nem sempre Freud generaliza. É raro encontrarmos críticas dirigidas aos
"filósofos", à Filosofia. Freqüentemente relativiza suas afirmações; mesmo que fale em "a
maioria dos filósofos" (13:183), reconhece que existem exceções, apesar de poucas (20:213-14).
Segundo, por alguns indícios temos a impressão que a crítica é dirigida sobretudo, se
não exclusivamente, aos "filósofos profissionais" (21:33); aos "enfeitiçados por uma boa
educação filosófica acadêmica" (7:186).
Após estas premissas, que nos parecem necessárias, vamos resumir os motivos que
levaram Freud à recusa da Filosofia.

(∗) Obs.: Segundo Jones, este trecho é de 1896; segundo Assaun, pertence a uma carta datada de 1º de
janeiro de 1987.
1.2.1- A filosofia da consciência e a negação do inconsciente

O primeiro motivo parece-me que reside no fato de que a Filosofia, ou melhor os


filósofos acadêmicos não conseguem admitir e chegam até a negar como um absurdo lógico o
filho predileto das descobertas freudianas: o inconsciente. Vamos analisar mais detalhadamente
este tópico, fazendo falar o próprio Freud.
Várias vezes Freud reconhece que os filósofos e a Filosofia repetidamente abordaram o
tema do 'inconsciente' como conceito teórico (20:213; 6:240) , mas, com raríssimas exceções,
esta filosofia do inconsciente está longe do inconsciente psicanalítico. O próprio Freud resume a
posição dos filósofos e da Filosofia com relação ao inconsciente: "É verdade que a Filosofia
repetidamente tratou do problema do inconsciente, mas, com poucas exceções, os filósofos
assumiram uma ou outra das duas posições seguintes: ou o seu inconsciente foi algo místico,
intangível e indemonstrável, cuja relação com a mente permaneceu obscura, ou identificaram o
mental com o inconsciente e passaram a deduzir dessa definição que aquilo que é inconsciente
não pode ser mental nem assunto de Psicologia. Essas opiniões devem ser atribuídas ao fato de
os filósofos terem formado seu julgamento sobre o inconsciente sem estarem familiarizados
com os fenômenos da atividade mental inconsciente e, assim, sem qualquer suspeita de até onde
esses fenômenos se assemelham aos conscientes ou em que aspectos deles diferem" (20:213).
Estas críticas são recorrentes em vários escritos e as fórmulas quase que estereotipadas:
"Nosso inconsciente não é inteiramente a mesma coisa que o dos filósofos e, além disso, a
maioria dos filósofos não ouvirá falar de 'processos inconscientes' " (29:276). "Bem sei que
aqueles, enfeitiçados por uma boa educação filosófica acadêmica ou que extraem em larga
escala suas opiniões de algum, assim chamado, sistema filosófico, hão de se opor à admissão de
um 'inconsciente psíquico' " (?:186).
Se para os filósofos profissionais a idéia freudiana do inconsciente não passa de uma
contradição em termos (contradictio in adjecto) (28:269) é porque eles identificam psíquico
(mental) com consciente. Até na sua última obra volta o mesmo estribilho: "A maioria dos
filósofos, entretanto, assim como muitas outras pessoas, discute isso e declara que a idéia de
algo psíquico ser inconsciente é 'auto-contraditória.' " (13:183).
Com Freud e a psicanálise começa uma terceira revolução. Após a copernicana e a
darwiniana, a psicanalítica.
Mas em que consiste a revolução freudiana do inconsciente? Para os filósofos a
consciência é o centro do psiquismo, para Freud, porém, ela não passa de uma 'qualidade'. O
psíquico é fundamentalmente e antes de tudo inconsciente. Estas idéias são especialmente
desenvolvidas em 'As resistências à psicanálise' de 1925 e no 'Esboço de Psicanálise' de 1938.
Estas distinções não seriam uma frívola e estéril diatribe entre filósofos, psicólogos da
consciência e a psicanálise? Segundo Freud, não. "Enquanto que a Psicologia da Consciência
nunca foi além das seqüências rompidas que eram obviamente dependentes de algo mais, a
outra visão, que sustenta que o psiquismo é inconsciente em si mesmo, capacitou a psicologia a
assumir seu lugar entre as ciências naturais como uma ciência. Os processos em que está
interessada são, em si próprios tão incognoscíveis quanto aqueles de que tratam as outras
ciências, a Química ou a Física, por exemplo; mas é possível estabelecer as leis a que obedecem
e seguir suas relações mútuas e interdependentes através de longos trechos - em resumo, chegar
ao que é descrito como uma compreensão dos fenômenos naturais em apreço" ( 13:183).
Em conclusão: Freud critica e rejeita duas teses filosóficas, que parecem opostas entre
si, mas que vão dar no mesmo: negar o inconsciente psicanalítico. O consciencialismo,
identificando o psíquico com o consciente expulsa o inconsciente do mesmo e prepara o
transcendentalismo do inconsciente, quase como se fosse uma entidade metafísica, transpsíquica
e não algo que possa ser objeto de uma análise científica. Aos olhos de Freud, portanto, existe
uma filosofia ou um filosofismo que é praticamente por um aspecto ou por outro
antipsicanalítico.

1.2.2- Weltanschauung x psicanálise

Existe um outro motivo que distancia a psicanálise da Filosofia. Não é apenas por negar
a Filosofia o filho predileto das descobertas freudianas, o inconsciente, mas também pelo fato de
que alguns filósofos que o admitem o localizam num céu metafísico distante do terreno
cientifico, no qual Freud quer manter-se.
Recusa-se a identificar a psicanálise com uma filosofia e rejeita a tentativa de alguns
que dela querem deduzir uma determinada filosofia. A psicanálise não é nem filha e menos
ainda mãe de alguma Weltanschauung.
Este segundo "não" à Filosofia não é totalmente compreensível se não o situarmos
dentro do contexto cultural do fim do século passado e primeiras décadas do século XX. É
notório como a mentalidade positivista se alastra e se firma na segunda parte do séc. XIX,
atingindo de cheio a própria Viena na década dos anos 70 (33:66.7).
A própria psicologia que nasce como disciplina científica nessa mesma época tenta se
libertar da herança filosófica e assumir o status de uma nova ciência ao lado da física, da
química e da fisiologia; mesmo assim, será atacada no começo do século XX por estar amarrada
a um objeto de estudo tipicamente filosófico: "a consciência". Enquanto a psicologia passava do
Estruturalismo para o Funcionalismo, até chegar ao Behaviorismo, a Psicanálise, que nasce não
de laboratórios experimentais, mas da confluência de vários fatores, tais como a experiência
pessoal da auto-análise de Freud, o estudo de casos clínicos e o mundo da literatura e dos mitos,
não tardará também de ser considerada mais como Filosofia do que como ciência.
Freud, portanto, deve lutar em duas frentes. Sente a necessidade de conceitos e
postulados mais claros e definidos, mas ao mesmo tempo quer manter enraizada a psicanálise no
chão da ciência. Daí porque, freqüentemente, ao comparar a psicanálise e a Filosofia, Freud
volta a repetir sua nítida distinção e separação. Mas de qual Filosofia se trata? A Filosofia que é
contraposta à psicanálise é a Filosofia como "sistema", como processo dedutivo de compreensão
do mundo. A psicanálise, ao contrário, é descritiva, não dogmática, sempre disposta a rever suas
teorias e partir de um método de estudo que não é certamente o método fácil dos filósofos, e sim
o método laborioso dos cientistas.
"A psicanálise - escreve Freud - não é como as filosofias, um sistema que parta de
alguns conceitos básicos nitidamente definidos, procurando apreender todo o universo com o
auxílio deles, e, uma vez completo, não possui mais lugar para novas descobertas ou uma
melhor compreensão. Pelo contrário, ela se até aos fatos de seu campo de estudo, procura
resolver os problemas imediatos da observação, sonda o caminho à frente e, com o auxílio da
experiência, acha-se sempre incompleta e sempre pronta a corrigir ou modificar suas teorias" (
12: 307).
Após a revisão de sua primeira teoria do aparelho psíquico, Freud percebeu que havia
uma tendência para transformar sua teoria numa Weltanschauung psicanalítica. Na publicação
de "Inibição, Sintoma e Angústia" de 1926, sente a necessidade de desautorizar tal atitude e com
uma forte dose de ironia deixa aos filósofos a tarefa de elaborar "manuais para a vida",
substitutos do antigo catecismo. A psicanálise seguirá pelo caminho da "pesquisa paciente e
perseverante".
No fundo, a construção destes sistemas filosóficos acabados responde a uma
necessidade de segurança, mas nem por isso, - afirma Freud - o viajante surpreendido pela noite,
cantando alto para negar seus temores, "enxergará mais que um palmo adiante do nariz"
(19:117-8).
Especialmente em Novas conferências sobre psicanálise Freud retoma o tema de uma
forma mais sistemática. Ele mesmo pergunta: "A psicanálise conduz a uma determinada
Weltanschauung e, em caso afirmativo, em qual?
A resposta vem clara e lúcida, após ter definido o que ele entende por Weltanschauung.
"Em minha opinião, a Weltanschauung é uma construção intelectual que soluciona todos os
problemas de nossa existência, uniformemente, com r base em uma hipótese superior
dominante, a qual, por conseguinte, não deixa nenhuma pergunta sem resposta e na qual tudo o
que nos interessa encontra seu lugar fixo" (24:193).
Assim definida, a psicanálise "na qualidade de ciência especializada, ramo da
psicologia, psicologia profunda ou psicologia do inconsciente, ela é praticamente incapaz de
construir por si mesma uma Weltanschauung" (24:194) .Na conclusão, acrescenta que a
Psicanálise não precisa de uma Weltanschauung auto-suficiente; como as demais ciências
buscam apenas a submissão à verdade e a rejeição às ilusões! E conclui: Todo semelhante
nosso, que está insatisfeito com essa situação, que exige mais do que isso para seu consolo
momentâneo, haverá de procurá-lo onde o possa encontrar. Não o levaremos a mal, não
podemos ajudá-lo, mas nem podemos, por causa disso, pensar de modo diferente" (24: 220).
Em conclusão: a Psicanálise pertence às ciências da natureza e a Filosofia é uma 'visão
do mundo'. É verdade que Freud atribui à Psicanálise uma posição intermediária entre a
medicina e a Filosofia por necessitar de um fundamento científico e de uma exigência
especulativa, mas isso não quer dizer que a Psicanálise seja uma síntese de Filosofia e Medicina,
uma fusão de especulação e empirismo. A Psicanálise na mente de Freud é fundamentalmente
uma ciência da natureza. A metapsicologia não pode, nem deve ser confundida com uma
metafísica.
Esta atitude de recusa ou pelo menos de desconfiança com relação à Filosofia e aos
filósofos torna-se operacional ao analisarmos o posicionamento freudiano com relação a alguns
filósofos seus contemporâneos. Ao mesmo tempo irá emergir também um reconhecimento da
contribuição filosófica que será tratada mais detalhadamente na última parte. Assim, vai se
delineando aos poucos a típica ambivalência freudiana com relação à Filosofia.

2. FREUD E ALGUNS FILÓSOFOS SEUS CONTEMPORÂNEOS

Na medida em que a obra freudiana e a literatura psicanalítica começara a ser


conhecida, não tardaram as tentativas de alguns filósofos de apresentar uma síntese dos
principais conceitos da nova ciência: a psicanálise.
Em 1911, Kronfeld publica um sumário completo de Psicanálise, mas, a julgar pelo
testemunho de Jones, Freud não deve ter gostado. "Quando Freud o leu, comentou da seguinte
maneira: "Kronfeld demonstrou, filosófica e matematicamente, que todas essas coisas com que
nos preocupamos não existem porque não podem existir. Agora estamos esclarecidos'. Eis o que
segredou a Starck: 'Também li o trabalho de Kronfeld. Apresenta o costumeiro enfocamento
técnico filosófico. Você sabe com que segurança os filósofos refutam uns aos outros, depois de
fugirem para bem longe da experiência. É exatamente o que faz Kronfeld. Afirma ele que a
nossa experiência não vale nada e, assim, refutar-nos é para ele uma brincadeira de criança"
(33:464).
Mas nem todas essas tentativas foram infelizes. Em 1922 a Universidade de Londres e a
Sociedade Histórica Hebraica organizaram uma série de conferências sobre cinco filósofos
judeus: Filon, Maimônides, Spinoza, Freud e Einstein. Quem pronunciou a conferência sobre
Freud foi Israel Levine que um ano depois publicou um livro intitulado 'O Inconsciente'. Freud
ao escrever a Jones comenta: "Quem é Israel Levine? Nunca me senti mais satisfeito com um
livro sobre assuntos de psicanálise quanto com o seu inconsciente. Uma avis rara, ainda mais
sendo filósofo. Desejo conhecer o homem melhor" (33: 645).
Mesmo que se perceba um certo preconceito com relação aos filósofos, Freud não está
fechado às contribuições que podem decorrer da leitura deles. Por exemplo, Gustavo Teodoro
Fechner (1801-1887), fundador da psicofísica e filósofo alemão, influiu sobre Freud com o
'princípio de constança' (3:18-9) e com o conceito de topografia mental (22:572; 7:139). O
próprio Freud reconhece isso no seu Estudo Autobiográfico, quando escreve: "Sempre me
mostrei receptivo às idéias de G. T. Fechner e segui esse pensador em muitos pontos
importantes" (15:75).
Na mesma obra, ao relatar sua viagem aos Estados Unidos, lembra o encontro com dois
filósofos, James e Putnam. Nada nos diz Freud da filosofia de William James, mas se não ficou
impressionado pela sua filosofia, certamente ficou com a pessoa dele, admirando especialmente
a falta de medo diante da morte que se aproximava (15:67).
0 outro filósofo, Putnam, o neurologista de Harvard como o define Freud em seu Estudo
Autobiográfico, é descrito como um homem estimável, "a única coisa inquietante nele era sua
inclinação para vincular a psicanálise a um sistema filosófico particular e para fazer dela serva
de objetivos morais" (15: 67).
Já em 1914, ao relatar a História do Movimento Psicanalítico, lembrando o encontro em
Worcester com Putnam, comenta Freud que "mais tarde, entregando-se demais à acentuada
inclinação ética e filosófica de sua natureza, Putnam fez o que se afigura a uma exigência
impossível - esperava que a psicanálise se colocasse a serviço de uma concepção filosófico-
moral particular do Universo - mas continua a ser a coluna mestra da psicanálise em sua terra
natal" ( 18:43).
Ao escrever isso Freud com certeza estava lembrado do que aconteceu no Congresso
Internacional de Psicanálise de 21 a 22 de setembro de 1911, quando Putnam abriu o Congresso
com uma palestra sobre a 'Importância da Filosofia para o desenvolvimento futuro da
Psicanálise'. A contribuição gerou uma certa controvérsia entre os participantes do Congresso
que não viam a necessidade de atrelar a psicanálise à Filosofia e menos ainda à filosofia
hegeliana. Freud teria comentado mais tarde a Jones: "A Filosofia de Putnam lembra-me uma
peça decorativa de centro de mesa; todo mundo a admira, mas ninguém a toca" (33:431).
Uma crítica parecida é lançada também sobre dois ex-integrantes do círculo freudiano:
Adler e Rank.
"É exatamente uma inclinação particularmente especulativa" que Freud recrimina a
Adler, embora reconheça arara capacidade do ex-presidente da Associação Psicanalítica
Vienense. (18: 64).
Assim, também, a mesma crítica a reencontramos para outro dissidente, Otto Rank, cuja
teoria, segundo Freud, "flutua no ar em vez de estar alicerçada em observações confirmadas" (
18:176).

3. AS REFERÊNCIAS FILOSÓFICAS NA OBRA FREUDIANA (2:123)

Expulsa oficialmente, a Filosofia volta na obra freudiana através das constantes e


freqüentes referências filosóficas.
Freud não desconhece que alguns filósofos tiveram intuições que anteciparam os
achados laboriosos e pacientes da psicanálise. Se a eles cabe o mérito da prioridade intuitiva, a
Freud o de ter chegado pela via árdua e geralmente solitária do parto científico.
As referencias filosóficas são rápidas, quase descidas de pára-quedas no discurso
freudiano. Parecem-se com um discurso paralelo, ao lado do dizer psicanalítico, mas na
realidade desempenham o papel de uma justificação filosófica. Assistimos, também, a uma certa
identificação não apenas com as idéias de alguns filósofos, mas igualmente com o destino de
incompreensão que marcou a vida deles.
Outra característica é a continuidade das referências que encontramos desde a primeira
grande obra de fôlego, a Interpretação dos Sonhos, até as últimas produções, aumentando a
freqüência das referências a partir da obra "Além do Princípio do Prazer."
Enfim, uma última característica gostaria de destacar: a mediação de muitas referências
por algum autor que teria mostrado a Freud, 'a posteriori', certas analogias com as conclusões
freudianas. Sem dúvida um sinal de honestidade intelectual por parte de Freud, mas temos a
impressão que também Freud quer manter as devidas distâncias para não contaminar a
psicanálise de Filosofia, ou melhor, para não alimentar as acusações de que a psicanálise não
passava de uma filosofia.
As influencias e referências filosóficas parecem restringir-se àqueles filósofos que
andaram no sentido de suas pesquisas. Ignora e continuará a ignorar tanto Hegel, quanto Marx.
Mesmo sendo interessante uma análise diacrônica das referências filosóficas optamos
por uma análise sincrônica, agrupando-as ao redor dos principais temas psicanalíticos:
2.4.1- Conceito de inconsciente: Hartman; Lipps.
2.4.2- Teoria dos Sonhos: Aristóteles e Plotino.
2.4.3- Impulsos de vida e de morte: Empédocles.
2.4.4- Conceito de sexualidade: Platão. 2.4.5- Complexo de Édipo: Diderot.
2.4.6- Tabu edipiano: imperativo categórico de Kant.
E para finalizar, o destaque para dois filósofos: Nietzsche e especialmente
Schopenhauer, o filósofo que, sem dúvida, exerce uma influência maior no pensamento de
Freud.

3..1- Conceito de inconsciente: Hartman; Lipps

O tema do inconsciente não é estranho para qualquer um que tenha sido educado na
cultura alemã. Começou com "as percepções confusas de Leibniz", se desenvolveu com
Herbart, se reforçou com a corrente romântica, foi levado adiante por Schopenhauer e culminou
na obra célebre, publicada em 1859 e conhecida por Freud, 'Filosofia do inconsciente' de E. von
Hartman (1:152).
Por incrível que pareça, a influência de Eduard von Hartman, se é que existe, é mais de
ordem negativa do que positiva. O inconsciente hartmaniano é de ordem metafísica, é o
princípio que realiza e anima o mundo, que é mau na sua essência. o inconsciente freudiano, ao
contrário, pertence ao domínio da ciência. ~ com a adjetivação de 'filósofo do pessimismo' que
Freud o cita na Interpretação dos Sonhos, para destacar o fato de que, com relação aos sonhos,
"provavelmente (Hartman) é quem se acha mais afastado da teoria da realização dos desejos.
Em sua "Philosophie des Unbewussten" (1890, 2, 344) escreve: "quando se trata de sonhos,
encontramos todas as contradições da vida da vigília transportadas para o estado de sono; a
única coisa que não encontramos é o que pode, até certa medida, reconciliar um homem
educado com a vida - o prazer científico e artístico" (21:143-44).
Se há um filósofo alemão que Freud reconhece como um antecipador do inconsciente
psicanalítico não é certamente Hartman e sim Theodor Lipps, que "proclamou vigorosamente
que o psiquismo era, em si, inconsciente" (2:134).
Ainda em 1938, já no fim de sua vida, ao afirmar mais uma vez a natureza psíquica do
inconsciente, Freud reitera que a maioria dos filósofos declara a idéia contraditória, mas ao
mesmo tempo reconhece que "alguns pensadores (como Theodor Lipps, por exemplo)
afirmaram a mesma coisa e a insatisfação geral com que a visão costumeira do que é psíquico
resultou numa exigência cada vez mais urgente da inclusão, no pensamento psicológico, de um
conceito de inconsciente, embora essa exigência tenha assumido forma tão indefinida e obscura
que não poderia ter nenhuma influência sobre a ciência" (13:183).
Se citamos T. Lipps como filósofo é porque o próprio Freud assim a ele se refere uns
trinta e três anos antes na sua obra 'Os chistes e sua relação com o inconsciente', ao citar Lipps
entre os nomes famosos que discutiram o chiste (7:21).
Sem dúvida, Lipps não é o único filósofo que Freud relaciona com o inconsciente
psicanalítico. Entre eles se destaca a figura de Schopenhauer, que por sua importância será
objeto de estudo mais adiante.
3..2- Teoria dos sonhos: Aristóteles e Plotino

Na primeira grande obra de Freud, a 'Interpretação dos Sonhos', logo nas primeiras
páginas, é relatada a interpretação de Aristóteles, que via nos sonhos não algo enviado pelos
deuses e sim algo de natureza 'demoníaca'. "Os sonhos não decorrem de manifestações
sobrenaturais, mas seguem as leis do espírito humano, embora este, é verdade, seja afim ao
divino. Define-se os sonhos como atividade mental de quem dorme, até o ponto que esteja
adormecido" (21:3).
É interessante notar que na primeira edição da 'Interpretação dos Sonhos', a obra de
Aristóteles é apontada como provavelmente a primeira a encarar os sonhos como tema de estudo
psicológico. Enumera as instituições de algumas características da vida onírica, como, por
exemplo, o fato de que os sonhos podem ser a ampliação de alguns pequenos estímulos que
surgem durante o sono e cita o exemplo apresentado por Aristóteles de um pequeno
aquecimento em certas partes do corpo podem levar a sonhar de estar caminhando no meio do
fogo. Freud, porém, conclui: "Meu próprio conhecimento é insuficiente e minha falta de
assistência especializada impedem-me de abordar mais profundamente o tratado de Aristóteles"
(21:3).
Nos seus escritos Freud dá a impressão que não teve um contato pessoal com as obras
dos filósofos. Seus conhecimentos são mediados por outros escritores. Parece que Freud quer
manter uma certa distância. São inúmeras as vezes que, ao citar algum filósofo, Freud faz
questão de citar o informante.
Na mesma obra, ao citar Plotino, o neoplatonista, como um dos antecipadores da
fórmula do sonho como realização do desejo, remete à sua fonte de informação: Du Prel
(21:143). ( ∗ )
O mesmo acontece ao citar a intuição do 'grande poeta e filósofo Friedrich Schiller'
onde se descreve o mecanismo da criação artística pelo relaxamento da vigilância das comportas
da razão. A quem Freud agradece? A Otto Rank por desenterrar esse trecho ( 21:110).
Na realidade, Otto Rank era aquele que tinha uma melhor preparação filosófica dentro
do grupo de Freud. Várias outras vezes será chamado em causa nas referências filosóficas, pelo
menos até o ano da ruptura ( 16:277; 18:25).

3.3 - Pulsão de vida e de morte: Empédocles (2:146-48)

(∗) Nota 1 (acrescentada em 1914)


"Já um escritor como Plotino, o neoplatonista, é citado por Du Prel ( 1885, 276) como afirmando:
'Quando nossos desejos são despertados, surge a imaginação e, por assim dizer, se nos apresenta
com os objetivos daqueles desejos".
As referências filosóficas de Freud cobrem praticamente todo o arco da História da
Filosofia. Até os pré-socráticos - melhor, 'os que primeiro filosofaram' como prefere denominá-
los Aristóteles - estão presentes na pessoa de Empédocles de Acragas (Agrigento). Mais uma
vez o encontro com a obra de Empédocles é mediado por Wilhelm Capelle, neste caso. "Baseei
o que se segue numa obra de autoria de Wilhelm Capelle (1935)" (4:278).
Dois anos antes, portanto, de redigir 'Análise terminável e interminável' Freud estava a
par do pensamento” de uma das maiores e mais notáveis figuras da história da civilização
grega" (4:278-79). Após enumerar algumas de suas teorias, Freud; destaca a grande
aproximação que existe entre a teoria dos instintos e os princípios fundamentais de Empédocles
- filia e neikos - são, tanto em nome quanto em função, os mesmos que nossos dois instintos
primevos, Eros e Destrutividade, dos quais o primeiro se esforça por combinar o que existe em
unidades cada vez maiores, ao passo que o segundo se esforça por dissolver essas combinações
e destruir as estruturas a que elas deram origem" (4:280).

3..4 - Conceito de sexualidade: Platão (2:136-46)

Sem dúvida uma das figuras mais interessantes que encontramos nas referências
freudianas é o do 'poeta filósofo' Platão, o 'divino' Platão (31: 134).
A primeira referência a Platão a encontramos numa carta a Marta Bernay de 28.8.83.
Longe dela, e apertando a saudade, Freud escreve: Sou realmente apenas meia pessoa no sentido
da velha fábula platônica, que você certamente conhece, e desde o momento em que não estou
em atividade o meu corte dói" (9:68).
Quase duas décadas depois, em 1905, nos Três Ensaios, mesmo sem citar
expressamente Platão, Freud retoma o mesmo tema: "O conceito popular do instinto sexual é
refletido na lenda cheia de poesia, segundo a qual os primeiros seres humanos foram divididos
em duas metades - o homem e a mulher que estão eternamente procurando novamente se unir
pelo amor" (31:136).
Ao publicar 'Além do princípio do prazer' Freud volta à teoria platônica que no
Symposium é colocada na boca de Aristófanes, quando se trata não apenas da origem do instinto
sexual, mas também da mais importante de suas variações em .relação ao objeto. Na nota 1,
acrescentada em 1921, lemos: "Agradeço ao professor Heinrich Gomperz, de Viena, pelo
seguinte estudo da origem do mito platônico, que forneço parcialmente com suas próprias
palavras. É de notar que, essencialmente, a mesma teoria já pode ser encontrada nos Upanishads
..." (3:78-9).
Mais uma vez reencontramos o mesmo mecanismo: a mediação de outro pensador ou
especialista entre o filósofo e Freud.
Platão é citado outras vezes para mostrar como a sexualidade ampliada ou 1i- bico
coincide com o EROS do divino Platão. Desta maneira Freud responde às críticas de
'pansexualismo' dirigidas à Psicanálise.
" ... Não fiz nada de original em tomar o amor nesse sentido mais amplo. Em sua
origem, função e relação com o amor sexual, o 'eros' do filósofo Platão coincide exatamente
com a forma amorosa, a libido da psicanálise, tal como foi pormenorizadamente demonstrado
por Nachmansohn (1915) e Pfister (1921)..." (27:116; 31:134; 28:270; 26:252).
Em seu "Estudo Autobiográfico" também reconhece a analogia com o pensamento de
Platão e mais uma vez sente a necessidade de precisar que as analogias só foram descobertas por
outros, a posteriori. "Também não estava cônscio de que ao derivar a histeria da sexualidade eu
estava voltando aos próprios inícios da medicina e acompanhando um pensamento de Platão. Só
depois é que vim a saber disso por um ensaio de Havelock Ellis" (15:36-7).
A influência platônica sobre Freud mereceria um estudo mais aprofundado e exaustivo,
tanto mais porque sabemos que Freud conhece a filosofia platônica através da mediação de S.
Mill e de Gomperz.

3..5 - Complexo de Édipo: Diderot

Sabemos da relevância do Complexo de Édipo no conjunto das descobertas


psicanalíticas. Mais uma vez Freud tem a honestidade intelectual de reconhecer que outros o
precederam.
Por três vezes Freud cita Diderot como um dos que bem antes da psicanálise tinha
reconhecido as características do complexo de Édipo.
Já em 1917, nas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise, Freud transcreve um
trecho da obra de Diderot, Le neveu de Rameau, na própria língua francesa, mesmo que o
diálogo do enciclopedista tenha sido traduzido para o alemão pelo próprio Goethe (8:394). ( ∗ )

Em 1931 retoma mais uma vez o tema, chegando a afirmar que com relação ao
Complexo de Édipo "suas características essenciais, sua universalidade, seu conteúdo e seu
destino foram reconhecidos, muito antes dos dias da psicanálise, por aquele agudo pensador,
Diderot ..." (25:287).
Enfim, em 1938, novamente reafirma o testemunho da importância do complexo de
Édipo, dado mais de um século antes do surgimento da psicanálise pelo filósofo francês Diderot
(13:22 ).

(∗) "Si le petit sauvage était abandonné à iui-même, qu'il conservât toute son imbecillité, et qu'il réunit an
peu de raison de I'enfant au berceau Ia violence des passions d'homme de trente ans, il tordrait le col à
son pére et coucherait avec sa mere".
3.6 - Tabu edipiano: o imperativo categórico de Kant

Do grande filósofo alemão (Kant: 1727-1804) Freud retoma as seguintes idéias que
relaciona com a psicanálise. Enumeramos na ordem cronológica com que apareceram as
referências freudianas: o imperativo categórico (1913) ; o número (1915); o 'a priori' espaço-
tempo (1920); a consciência (1933).
Não cabendo a este trabalho uma análise mais aprofundada da filosofia de Kant e de
como ela foi entendida por Freud, vamos brevemente relatar as colocações de Freud diante das
idéias kantianas acima mencionadas.
Para Freud os tabus não desapareceram de nossa civilização, e via no 'imperativo
categórico de Kant' uma expressão típica disso, não diferindo em sua natureza psicológica de
outras proibições, expressas sob uma forma negativa e dirigidos a outros objetos (30:18).
Quanto à idéia do númeno, Freud estabelece uma equivalência entre a filosofia kantiana
e a psicanálise. Se Kant nos veio lembrar que nossas percepções, por estarem subjetivamente
condicionadas, não podem colher a realidade em si, a psicanálise "nos adverte para não
estabelecermos uma equivalência entre as percepções adquiridas por meio da consciência e os
processos mentais inconscientes que constituem seu objeto" {5:197).
Em 1920, na obrai 'Além do princípio do prazer', Kant volta a ser evocado, desta vez
para ser questionado. A tese kantiana, segundo a qual tempo e espaço são formas necessárias do
pensamento, parece ser desmentida por certas descobertas psicanalíticas. "Os processos mentais
inconscientes são, em si mesmos, intemporais. Isso significa, em primeiro lugar, que não são
ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum os altera e que a idéia de tempo não lhes
pode ser aplicada" (3:43-4).
Mais uma vez Kant será questionado pela sua concepção da consciência que não
coincide com a da psicanálise. Para Kant o céu estrelado e a consciência dentro de nós são
considerados como as obras primas da criação. Se Freud pode concordar quanto às estrelas, tem
suas ressalvas a fazer com relação à consciência. "As estrelas são, na verdade, magníficas,
porém, quanto à consciência, Deus executou um trabalho torto e negligente, pois da consciência
a maior parte dos homens recebeu apenas uma quantia modesta, ou mal recebeu o suficiente
para ser notado. Longe de nós desprezarmos a parcela de verdade psicológica da afirmação
segundo a qual a consciência é de ordem divina; contudo, a tese requer interpretação.
Conquanto a consciência seja algo 'dentro de nós', ela, mesmo assim, não o é desde o início"
(24:80).

3.7 - Freud e Nietzsche

A postura de Freud diante de Nietzsche chama nossa atenção não pelas numerosas
referências à obra do filósofo, quanto por duas citações nas quais ele reconhece a prioridade da
intuição filosófica nietzscheiana sobre as descobertas psicanalíticas, mas onde também Freud
reivindica a originalidade e paternidade delas.
Na História do Movimento Psicanalítico de 1914 Freud afirma: "Em anos posteriores
neguei a mim mesmo o enorme prazer da leitura das obras de Nietzsche, com o propósito
deliberado de não prejudicar, com qualquer espécie de idéias antecipadoras, a elaboração das
impressões recebidas pela psicanálise" (18:25).
Em 1925, retoma o mesmo tema no Estudo Autobiográfico: "Nietzsche, outro filósofo
cujas conjecturas e intuições amiúde concordam, da forma mais surpreendente, com os
laboriosos achados da psicanálise, por muito tempo foi evitado por mim, justamente por isso
mesmo; eu estava menos preocupado com a questão da prioridade do Que em manter minha
mente desimpedida" (15:76).
Não é surpreendente esta atitude freudiana? Temos a impressão que se Freud não pode
reivindicar a prioridade das descobertas psicanalíticas insiste, mais uma vez, em relembrar que a
elas chegou não pela via fácil da intuição filosófica e sim pelo longo e trabalhoso caminho da
ciência psicanalítica. Esta fome e sede de originalidade o leva até de privar-se do prazer de ler
Nietzsche. Mas, pelo fato de Freud ter renunciado à "leitura" das obras de Nietzsche, será que
podemos concluir que ele desconhecia este filósofo, cujo pensamento estava impregnado na
cultura alemã da época de Freud?

3.8- Freud e Schopenhauer (2:171-94)

Sem dúvida alguma, o filósofo mais citado por Freud é Schopenhauer. O fato é ainda
mais significativo porque a filosofia deste alemão parece influenciar, ou pelo menos coincidir
com vários temas chaves da psicanálise.
No Estudo Autobiográfico Freud afirma que leu Schopenhauer muito tarde em sua vida
(15:75), mas não deixa de ser significativa também a primeira evocação do 'solitário de
Frankfurt'. É na obra 'O homem dos ratos', de 1909, que, a uma certa altura, ao falar das
manifestações dos neuróticos obsessivos, os quais conhecem e desconhecem ao mesmo tempo
seus traumas, na medida em que não os esqueceram e que não tem consciência de seus
significados, introduz o exemplo curioso dos garçons que serviam a Schopenhauer .
Escreve Freud: "Com a mesma freqüência, isso também acontece na vida normal. Os
garçons que costumavam servir a Schopenhauer no restaurante que este freqüentava, em um
determinado sentido o 'conheciam', numa época em que, de outra forma, ele não era conhecido,
nem em Frankfurt, nem fora de Frankfurt; mas eles não o 'conheciam' no sentido em que hoje
dizemos 'conhecer Schopenhauer' " (23:199).
Talvez, atrás dos garçons de Frankfurt se esconda o próprio Freud, que conhecia e
desconhecia a obra de Schopenhauer. Já vimos como ele próprio reconhece que leu
Schopenhauer muito tarde na sua vida e que, portanto, "o alto grau em que a psicanálise
coincide com a filosofia de Schopenhauer ...não deve ser remetida à minha familiaridade com
seus ensinamentos" (15:75). Assim, também, na 'História do movimento psicanalítico' de 1914,
Freud escreve que por muito tempo imaginou que a teoria da repressão fosse inteiramente
original, até que Otto Rank mostrou a relação com um trecho da obra de Schopenhauer, e Freud
tem que reconhecer que "o que ele (Schopenhauer) diz sobre a luta contra a aceitação da parte
dolorosa da realidade coincide tão exatamente com o meu conceito de recalque que, mais uma
vez, devo a chance de fazer uma descoberta e, talvez, o mesmo tivesse acontecido a mim se na
juventude tivesse tido mais gosto pela leitura de obras filosóficas" (18:25).
Tendo relembrado sua independência com relação à obra de Schopenhauer , Freud não
hesita em reconhecer as intuições antecipadoras do mesmo:

1- A teoria do recalque (18:25; 15:75)

2- O tema da morte (30:110; 3:69; 24:134)


3- O reconhecimento dos processos mentais inconscientes (11:178)
4- O significado e a importância da vida sexual (31:134; 11:178; 3:69; 28:270; 15:75)

As referências a Schopenhauer são tão significativas que gostaria de destacar a


desconfiança do próprio Freud quando, ao tratar do impulso da morte, nas 'Novas conferências
introdutórias sobre psicanálise', parece-me projetar nos seus ouvintes imaginários a
desconfiança de que não esteja fazendo ciência natural, mas filosofia. "Talvez os senhores
venham sacudir os ombros e dizer: 'isto não é ciência natural, é filosofia de Schopenhauer Mas,
senhoras e senhores, por que um pensador ousado não poderia ter entrevisto algo que depois de
confirma por intermédio de uma pesquisa séria e laboriosa?" (24:134).
Encerramos aqui esta amostra das referências filosóficas freudiana, convencidos de que
determinados autores, como Schopenhauer de modo particular, mereceriam um estudo mais
amplo e mais aprofundado, o que poderá ser objeto de outra , pesquisa específica complementar.

CONCLUSÃO

A retomada do discurso freudiano sobre Filosofia e os filósofos revelou uma


ambivalência que é típica em Freud. Além de uma Roma religiosa há uma 'Roma filosófica' que
é, ao mesmo tempo, objeto de desejo e de interdito.
Encontramos um Freud epistolar que até os 41 anos de idade reconhece e assume
claramente sua vocação originária: a Filosofia.
Com a virada do século, assistimos a uma reviravolta da postura freudiana. Desejoso de
dar um status científico à psicanálise, Freud torna-se 'a-filósofo', no sentido que renuncia à sua
primeira vocação em favor de um credo científico e, algumas vezes, apresenta-se até como 'anti-
filósofo', quando se trata de defender dos filósofos profissionais o filho predileto de seu parto
científico: o inconsciente. A crítica do consciencialismo e a recusa de Weltanschauung são os
dois motivos principais que levaram Freud a distanciar-se e romper com a filosofia acadêmica.
A substituição da vocação filosófica pela científica, porém, nunca será definitiva e total.
Repudiada oficialmente, reencontramos a vocação originária - ou pelo menos ecos dela - nas
constantes e numerosas referências filosóficas, as quais não constituem apenas uma expressão
de mera erudição, mas desempenham um papel de legitimação das descobertas psicanalíticas,
mais do que propriamente um papel inspirador.
É possível, de fato, encontrar praticamente quase todas as principais idéias
psicanalíticas no mundo da literatura e da Filosofia. Vimos como Freud não tem dificuldades de
reconhecer essas intuições literárias e filosóficas. Ele mesmo se encarrega de mostrar
constantemente essas analogias Com a psicanálise, mesmo que detectadas por outras pessoas
que acabam se tornando Como que os mediadores entre Freud e a Filosofia.
Mas, se é verdade que praticamente todos os principais conceitos psicanalíticos - o
inconsciente, a libido, a sexualidade infantil, a impulsão de vida e a pulsão de morte, o recalque,
o complexo de Édipo, etc. - podem ser encontrados, de alguma forma em poetas e filósofos, isso
não nos autoriza a concluir que Freud teria apenas retomado idéias de seus inúmeros
predecessores.
Ao mesmo tempo, não podemos afirmar que a psicanálise nasça apenas da escuta dos
fatos, porque nossa 'escuta' é seletiva; não partimos do nada para chegar a uma determinada
teoria. O ponto de partida é sempre uma certa teoria implícita ou inconsciente que seleciona e
interpreta os fatos. Se é verdade que sem a prática clínica de Freud não teríamos a psicanálise, o
mesmo podemos afirmar se essa prática não tivesse se desenrolado, não ao lado, mas dentro do
mundo literário e filosófico de Freud.
Para finalizar, e responder em parte às críticas freudianas dirigidas à Filosofia, gostaria
de fazer uma última colocação. Devemos a Freud uma nova compreensão do homem a despeito
de sua recusa à Filosofia. Depois dele não é mais possível encarar a filosofia do sujeito como
filosofia da consciência. "A consciência não é mais um dado; não há mais dados imediatos da
consciência; ela é uma tarefa, a tarefa de tornar-se consciente. Onde havia Bewusstsein, ser
consciente, passa a haver Bewusstwerden, tornar-se consciente" (34:147).
A psique-análise, através da decomposição progressiva, nos leva à arqueologia do
sujeito. Mas, se é legítima e válida uma psique-análise, porque não uma psico-síntese, uma
teleologia do sujeito, como fala Paul Ricoeur?
Parece-nos que a tentativa de Freud de desligar a psicanálise da Filosofia, especialmente
da filosofia acadêmica, no desejo de torná-la uma ciência de observação, é válida mas destinada
ao fracasso (35:293).
A grandeza da psicanálise não está tanto em ser uma ciência da explicação e sim em ser
uma ciência da compreensão e, nesse sentido, sem confundi-la com a Filosofia, ela está muito
mais próxima da Filosofia do que da Física e da Química como pretendia Freud.
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