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Inovações de Freud
Freud foi inovador. Simultaneamente, desenvolveu uma teoria da mente e
da conduta humana, e uma técnica terapêutica para ajudar pessoas afetadas
psiquicamente. Alguns de seus seguidores afirmam estar influenciados por um, mas não
pelo outro campo.
Provavelmente a contribuição mais significativa que Freud fez ao pensamento moderno é
a de tentar dar, ao conceito de inconsciente, um status científico (não compartilhado por
várias áreas da ciência e da psicologia). Seus conceitos de inconsciente, desejos
inconscientes e repressão foram revolucionários; propõem uma mente dividida em
camadas ou níveis, dominada em certa medida por vontades primitivas que estão
escondidas sob a consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos.
Em sua obra mais conhecida, A Interpretação dos Sonhos, Freud explica o argumento
para postular o novo modelo do inconsciente e desenvolve um método para conseguir o
acesso ao mesmo, tomando elementos de suas experiências prévias com as técnicas de
hipnose.
Como parte de sua teoria, Freud postula também a existência de um pré-consciente, que
descreve como a camada entre o consciente e o inconsciente[32] (o termo subconsciente é
utilizado popularmente, mas não é parte da terminologia psicanalítica). A repressão em si
tem grande importância no conhecimento do inconsciente. De acordo com Freud, as
pessoas experimentam repetidamente pensamentos e sentimentos que são tão dolorosos
que não podem suportá-los. Tais pensamentos e sentimentos (assim como as recordações
associadas a eles) não podem ser expulsos da mente, mas, em troca, são expulsos do
consciente, para formar parte do inconsciente.
Embora, ao longo de sua carreira, Freud tenha tentado encontrar padrões de repressão
entre seus pacientes que derivassem em um modelo geral para a mente, ele observou que
pacientes diferentes reprimiam fatos diferentes. Observou, ainda, que o processo da
repressão é, em si mesmo, um ato não consciente (isto é, não ocorreria através da
intenção dos pensamentos ou sentimentos conscientes). Em outras palavras, o
inconsciente era tanto causa como efeito da repressão.
Controvérsias e debates
A questão da homossexualidade
Freud gradualmente desiste de fazer da homossexualidade uma disposição biológica ou
um resultado cultural, mas sim a assimila a uma escolha psíquica inconsciente.[33] Em
1905, em Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, ele falou de "inversão", Mas, em
1910, em Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci, ele renuncia a este termo
para escolher o de "homossexualidade". Em uma carta de 1919 escrita para a mãe de um
jovem paciente, Freud explica: "a homossexualidade não é uma vantagem, mas também
não é motivo para se envergonhar, não é um vício nem uma degradação e também não
pode ser classificada como doença."[34] Contudo, em toda a obra de Freud, existem várias
teorias e questionamentos sobre o surgimento da homossexualidade no sujeito: a
homossexualidade adulta é apresentada ora como imatura pelo bloqueio da libido na fase
anal, ora como um retraimento narcísico ou mesmo como uma identificação com a mãe.
Freud de fato afirmou certa vez que a homossexualidade resulta de uma "interrupção do
desenvolvimento sexual".[34] Então ele por fim conclui que a homossexualidade é uma
escolha de objeto inconsciente.
Segundo Freud, a homossexualidade não é objeto de tratamento analítico. Só a
culpabilidade que a acompanha pode dar origem a uma neurose.[35] Finalmente, em uma
nota de 1915 para os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, ele explica igualmente
que "a pesquisa psicanalítica se opõe fortemente à tentativa de separar os homossexuais
de outros seres humanos como um grupo particularizado. […] Ela aprende que todos os
seres humanos são capazes de uma escolha de objeto homossexual e que efetivamente
fizeram essa escolha no inconsciente"[36][37] "Nem Sigmund Freud, nem seus discípulos,
nem seus herdeiros fizeram da homossexualidade um conceito ou noção específica da
psicanálise", conclui Élisabeth Roudinesco,[38] ainda que essa questão tenha dividido os
psicanalistas. No entanto, uma distinção deve ser feita entre a homossexualidade psíquica
em todos os seres humanos e a homossexualidade ativa.[39] Segundo o crítico Didier
Eribon, os psicanalistas compartilham um "inconsciente homofóbico",[40] enquanto que
para Daniel Borrillo, Freud e alguns psicanalistas (como Jacques Lacan) fariam o trabalho
da homofobia classificando a homossexualidade entre as "inversões".[41][nota 1] No entanto,
não se deve negligenciar que Freud está fora dessa classificação.
Cultura e natureza
O antissemitismo não pesa de uma maneira igual na vida de Freud, e isso de acordo com
as mudanças políticas na Áustria e Alemanha do início do século XX.[65] O sentimento
antissemita teve um papel decisivo no final de sua vida, quando teve que fugir da Áustria
em face da ameaça nazista. Antes da Primeira Guerra Mundial, como Yerushalmi aponta,
"Gostaria de salientar que sua consciência do fenômeno precedeu sua entrada na
Universidade de Viena, ou o fim do Burgerminister liberal e a ascensão do antissemitismo
político".[66] A partir de 1917, a censura de artigos antissemitas em jornais tornou-se menos
rígida e tornou-se comum ver judeus chamados de "aproveitadores de guerra". Foi em
1918 que o antissemitismo atingiu seu auge, os judeus se tornando explicitamente os
bodes expiatórios de todos os infortúnios que se abateram sobre a Áustria. [67] Em 1933, as
obras de Freud foram queimadas pelos nazistas, que viram nelas uma "ciência judia"
(segundo a fórmula do partido nazista[68]) contrária ao "espírito alemão": "Na Alemanha de
1933, depois que as obras de Freud foram queimadas, ficou evidente que o regime
liderado pelos nazistas, recém-chegados ao poder, não deixava espaço para a
psicanálise".[69] Com a anexação da Áustria pela Alemanha, muitos psicanalistas tiveram
que interromper sua prática ou emigrar quando não foram mortos ou enviados
para campos de concentração por serem judeus. A segregação desenvolveu-se pela
primeira vez na Hungria, especialmente sob o regime de Miklós Horthy. Então, se
espalhou para a Alemanha já na década de 1920 e para a Áustria. A partir de então, a
maioria dos que sobreviveram emigrou para os Estados Unidos (bem como para o Reino
Unido, França, América do Sul, Max Eitingon entretanto foi para o exílio na Palestina).[69]
Henri Ellenberger fez um estudo aprofundado da situação dos judeus em toda a região e
afirma que Freud teria exagerado o impacto do antissemitismo em sua não nomeação para
um cargo acadêmico de professor extraordinário.[70] Ele argumenta sua tese de maneira
documentada. Outros historiadores consideram que Ellenberger minimizou o fenômeno em
Viena,[71] que elegeu Karl Lueger, abertamente antissemita, como prefeito em 1897. O pai
de Freud foi vítima de um ato antissemita, que ele contou ao filho. [72] Desde o início, a
psicanálise freudiana foi acusada de ser uma "ciência judia". Martin Staemmler escreve,
em um texto de 1933: "A psicanálise freudiana constitui um exemplo típico da desarmonia
interna na vida da alma entre judeus e alemães. [...] E quando se vai ainda mais longe e se
faz entrar na esfera sexual todo movimento da mente e toda má conduta da criança [...],
quando [...] o ser humano não é nada mais do que um órgão sexual em torno do qual o
corpo vegeta, então devemos ter a coragem de recusar essas interpretações da alma
alemã e dizer aos senhores da comitiva de Freud que eles não precisam apenas fazer
seus experimentos psicológicos em material humano que pertence à sua raça".
[73]
Para Lydia Flem, Freud e Theodor Herzl, cada um à sua maneira, respondem à crise da
identidade judaica, o primeiro imaginando uma tópica psíquica, o segundo sonhando com
um país geográfico para o povo judeu.[74]