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Aluno (a): Gabriel Dias Moraes

Curso: Psicologia Período: 3


Disciplina: Teoria Psicanalítica I
Professor: Bruno M. Portela

- RESUMO ACADÊMICO -
25/02/2016

Na obra “O Ego e o Id” Freud relata a etiologia da psicanálise, o marco de seu


nascimento e os fatores necessários para o mesmo. Segue discorrendo sobre a
resistência e hostilidade que a psicanálise encontrou desde o seu surgimento por se
encontrar em oposição aos conceitos da chamada sociedade “civilizada”. O presente
resumo objetiva fazer uma breve abordagem do texto “Uma breve descrição da
psicanálise” escrito em 1923 e 1924. 

UMA BREVE DESCRIÇÃO DA PSICANÁLISE

Parte: I

            Para Sigmund Freud é possível afirmar que a psicanálise nasceu com o século
XX a partir da publicação da obra que teve alcance mundial: A Interpretação de Sonhos,
em 1900. Ele reconhece, no entanto, que essa obra só foi possível porque foi precedida
por ideias antigas surgidas com objetivo específico de entender as chamadas doenças
nervosas funcionais. Até então os médicos não sabiam o que fazer com o fator psíquico
e como não podiam entendê-lo, deixavam-no aos filósofos, aos místicos e aos charlatões
considerando-o não científico.
Freud relata que em 1885, quando estudava na Salpêtrière, muitas pessoas
especulavam que as paralisias eram fundadas em ligeiros distúrbios funcionais das
partes correspondentes do cérebro. A incompreensão do fenômeno levava à prática de
tratamentos inadequados como prescrição de remédios e aplicação de influências
mentais por meio de ameaças, zombarias e advertências. Freud refere-se a esses
tratamentos como métodos fantasiosos usados em uma ciência que afirmava ser exata.
A transformação desse quadro de pensamento restrito ocorre na década de 1880,
quando os fenômenos do hipnotismo fazem mais uma tentativa de ingressar na ciência
médica. Dessa vez, graças ao trabalho de Liébeault, Bernheim, Heidenhain e Forel foi
possível demonstrar que mudanças somáticas podiam ser ocasionadas unicamente por
influências mentais ocasionadas pelo próprio indivíduo e também que a existência de
determinados processos mentais só poderiam ser descritos como inconscientes. O
hipnotismo tornava concreto e sujeito à experimentação o que antes estivera em
discussão no campo teórico entre os filósofos.
Freud destaca a importância do papel desempenhado pelo hipnotismo na origem
da psicanálise, tanto na teoria quanto na prática. A hipnose também foi um auxílio
valioso no estudo das neuroses. Os experimentos do medico parisiense Jean Sartre
Charcot foram impactantes, pois ele demonstrou que, pela sugestão de um trauma sob
hipnose era possível provocar artificialmente os mesmos sintomas. Assim surge a idéias
de que as influências traumáticas poderiam originar os sintomas histéricos.
Apesar dos avanços nas descobertas, Charcot não fez outros esforços no sentido
de uma compreensão psicológica da histeria. Foi seu aluno, Pierre Janet quem
demonstrou, com o auxílio da hipnose, que os sintomas da histeria eram firmemente
dependentes de certos pensamentos inconscientes. No entanto, o nascimento da
psicanálise não se baseou nas pesquisas de Janet, mas sim na experiência de um médico
vienense, o Dr. Josef Breuer. 
Em 1881, através da hipnose, Breuer estudou e restituiu à saúde de uma jovem
que sofria de histeria. A jovem era Bertha Pappenheim que ficara doente enquanto
cuidava de seu pai e Breuer identificou que seus sintomas estavam relacionados a esse
período. Foi assim que, pela primeira vez demonstrou-se que os sintomas da neurose
tinham significado na vida emocional, tomando lugar de ações não efetuadas. Para
explicar surgimento dos sintomas histéricos duas abordagens foram estabelecidas e
ainda hoje são consideradas: a relação com a vida emocional do indivíduo e a ação
recíproca de forças. As causas dos sintomas e todos os impulsos mentais que delas se
originavam estavam perdidos para a memória da paciente, como se jamais houvessem
acontecido. Apenas os sintomas persistiam inalterados e aí residia a prova da existência
de processos mentais inconscientes.
Freud no começo da década de 1890 confirmou os resultados de Breuer em
outros pacientes e, juntos, publicaram “Estudos sobre Histeria” (1895) com os referidos
resultados e tentativas de formulação de uma teoria a partir dos mesmos.  Esta teoria
apregoava que os sintomas histéricos surgiam quando um afeto era desviado de sua
manifestação normal. A cura ocorria quando a experiência era revivida sob hipnose e ao
se dar outra direção ao afeto o indivíduo se via livre dele. Esse procedimento foi
denominado método catártico e foi o precursor imediato da psicanálise.

Parte: II

A associação entre Breuer e Freud terminou logo após a publicação de


“Estudos sobre a Histeria”. Freud introduziu novidades técnicas e as descobertas que
efetuou transformaram o método catártico em psicanálise, esta praticada sem a hipnose.
O abandono da hipnose ocorreu por duas razões: em primeiro lugar porque Freud não
conseguia induzir a hipnose em um número suficiente de casos, e, em segundo, porque
estava insatisfeito com os resultados terapêuticos da catarse obtida com a hipnose.
O método da associação livre foi desenvolvido por Freud como substituto da
hipnose. Neste método os pacientes assumiam o compromisso de se abandonarem em
um estado de tranqüila concentração, para verbalizar as idéias que espontaneamente lhe
ocorressem. Essas idéias pareceriam ser determinadas pelo material inconsciente e
embora não fossem o material esquecido, faziam alusão aos mesmos e eram passíveis de
interpretação.
A resistência dos pacientes em comunicar as idéias que lhe ocorriam levou a
uma das pedras angulares da teoria psicanalítica das neuroses — a teoria da repressão.
A informação traumática, através da influência de outras forças mentais tinha-se
defrontado com uma repressão que a barrara ao inconsciente e é em consequência dessa
repressão que se manifestava por caminhos fora do comum, tais como os sintomas. Essa
repressão era feita pelo consciente por motivos morais, estéticos e éticos, para encobrir
impulsos de egoísmo, crueldade e acima de tudo impulsos desejosos sexuais. Esse
processo evidenciou ainda mais a enorme influência dos impulsos sexuais na vida
mental e levou a um estudo pormenorizado da natureza e desenvolvimento do instinto
sexual trazendo a discussão algo negligenciado pela ciência: a sexualidade infantil.
Freud enumerou os fatores que contribuem para a constituição dessa teoria
psicanalítica: ênfase na vida afetiva, na dinâmica mental, no fato de que mesmo os
fenômenos mentais aparentemente mais obscuros e arbitrários possuem invariavelmente
um significado e uma causa, a teoria do conflito psíquico e da natureza patogênica da
repressão, a visão de que os sintomas constituem satisfações substitutas, o
reconhecimento da importância etiológica da vida sexual, e especificamente, dos
primórdios da sexualidade infantil. Freud acrescentou ainda a complicada relação
emocional das crianças com os pais, definida por ele como Complexo de Édipo,
considerando-o o núcleo de todo caso de neurose. Foi devido a esses fatores que a
psicanálise provocou repugnância e ceticismo em estranhos.

Parte: III
 
Surge uma premissa: se as condições postuladas pela psicanálise realmente
existissem, elas deveriam ser capazes de encontrar expressão noutros fenômenos, além
dos histéricos. Destarte a psicanálise teria cessado de ter interesse apenas para os
neurologistas e passaria a ter atenção de todos para quem a pesquisa psicológica tivesse
alguma importância. Surgiu assim provas de sua utilidade sobre outras atividades
mentais como as parapraxias (esquecer coisas, lapsos de língua e colocação errada de
objetos) e os sonhos. Ambos fenômenos comuns á pessoas normais e nunca antes
explicados por nenhuma teoria.
A freqüência de parapraxias facilitou o convencimento das pessoas sobre o
fenômeno. A análise dos sonhos com a obra A Interpretação de Sonhos, demonstrava
serem os sonhos construídos exatamente da mesma maneira que os sintomas neuróticos,
sendo manifestações de impulsos desejosos que se apresenta como realizado no sonho.
Essas manifestações são deformadas pelas forças censurantes e restritivas. A partir da
data de “A Interpretação de Sonhos”, a psicanálise passou a constitui não apenas um
novo método de tratar as neuroses, mas também uma nova psicologia.
Apesar de todas as evidências apresentadas os trabalhos e Freud não receberam
muita atenção até 1907 quando um grupo de psiquiatras suíços (Bleuler e Jung, em
Zurique) atraiu a atenção para a psicanálise. A rejeição permanecia, mas sem conseguir
impedir a psicanálise de uma expansão contínua durante a década seguinte em novos
países (principalmente nos Estados Unidos) e encontrando aplicações em novos ramos
do conhecimento.  Nesse período também os primeiro periódicos dedicados
exclusivamente à psicanálise foram fundados.
Uma diferença essencial entre essa segunda década da psicanálise e a primeira
reside no fato de que Freud não constituía mais seu único representante. Um círculo de
adeptos se dedicou à difusão e aprofundamento das teorias psicanalíticas surgindo, deste
modo, algumas oposições. Entre 1911 e 1913, C. G. Jung, em Zurique, e Alfred Adler,
em Viena, produziram determinada agitação por suas tentativas de dar novas
interpretações aos fatos da análise e por seus esforços para um desvio do ponto de vista
analítico.
A ruidosa rejeição da psicanálise pelo mundo médico não podia impedir seus
defensores de desenvolvê-la. Seu inegável sucesso terapêutico, que excedia em muito
qualquer outro que houvesse sido anteriormente conseguido, incentivaram-nos
constantemente a novos esforços, ao passo que as dificuldades reveladas à medida que o
material era examinado mais profundamente redundaram em alterações profundas na
técnica da análise e correções importantes em sua teoria. A fundação de uma primeira
clínica psicanalítica para pacientes externos (por Max Eitingon, em Berlim, em 1920)
tornou-se, portanto, um passo de grande importância prática. O intento era buscar, por
um lado, tornar o tratamento analítico acessível a amplos círculos da população e, por
outro, empreende a instrução de médicos para serem analistas clínicos através de um
curso de formação incluindo como condição que aquele que aprende concorde em ser
ele próprio analisado.
Entre os conceitos hipotéticos que capacitem o médico a lidar com o material
analítico, o primeiro a ser mencionado é o da ‘libido’, no sentido da força dos instintos
sexuais dirigidos para um objeto. Um estudo demonstrou que era necessário colocar ao
lado dessa ‘libido objetal’ uma ‘libido narcísica’ ou ‘do ego’, dirigida para o próprio
ego do indivíduo, e a interação dessas duas forças nos capacitou a explicar grande
número de processos normais e anormais na vida mental.  A visão psicanalítica também
teria de incluir nos distúrbios narcísicos todas as moléstias descritas em psiquiatria
como ‘psicoses funcionais’. Não se poderia duvidar de que as neuroses e psicoses não
estão separadas por uma linha rígida, mais do que o estão a saúde e a neurose, e era
plausível explicar os misteriosos fenômenos psicóticos pelas descobertas a que se
chegou nas neuroses, que até então haviam sido igualmente incompreensíveis. A
psiquiatria tornou-se assim o primeiro campo a que a psicanálise foi aplicada e desse
modo permaneceu desde então.
Se as descobertas psicológicas obtidas dos sonhos fossem firmemente
lembradas, só outro passo era necessário antes que a psicanálise pudesse ser proclamada
como a teoria dos processos mentais mais profundos não diretamente acessíveis à
consciência e assim pudesse ser aplicada a quase todas as ciências mentais. Esse passo
residia na transição da atividade mental de homens individuais para as funções psíquicas
de comunidades humanas e povos, isto é, da psicologia individual para a de grupo.
Algumas considerações levavam a isso como, por exemplo, a descoberta de que nos
estratos profundos da atividade mental inconsciente os contrários não se distinguem um
do outro, mas são expressos pelo mesmo elemento. Esta relação pode ser identificada
em algumas línguas mais antigas que se referiam aos contrários usando a mesma
palavra. Um outro ponto considerado foi a correspondência perfeita que pode ser
descoberta entre as ações obsessivas de certos pacientes obsessivos e as observâncias
religiosas dos crentes em todo o mundo. Certos casos de neurose obsessiva na realidade
se comportam como uma caricatura de uma religião particular. Assim a psicanálise mais
uma vez fere conceitos enraizados e causa hostilidade.
Se deixarmos fora de cogitação impulsos internos pouco conhecidos, podemos
dizer que a principal força motivadora no sentido do desenvolvimento cultural do
homem foi a exigência externa real, que retirou dele a satisfação fácil de suas
necessidades naturais e o expôs a perigos imensos. Essas necessidades naturais incluem
impulsos instintivos impossíveis de ser socialmente satisfeitos. Com os avanços
ulteriores da civilização cresceram também as exigências da repressão.
Além dessa parte da atividade mental humana que é orientada no sentido de
obter controle sobre o mundo externo real, a psicanálise mostra uma outra parte,
particular e altamente prezada, do trabalho mental criativo serve para a realização de
desejos Entre essas criações, cuja vinculação com um inconsciente incompreensível
sempre foi suspeitada, estão os mitos e as obras da literatura imaginativa e da arte. A
apreciação estética de obras de arte e a elucidação do dote artístico não estão, é verdade,
entre as tarefas atribuídas à psicanálise. Mas parece que a psicanálise está em posição de
enunciar a palavra decisiva em todas as questões que afloram a vida imaginativa do
homem.
Freud finaliza seu texto prenunciando que a psicanálise ingressaria no
desenvolvimento cultural das décadas seguintes, aprofundando os conhecimentos até
então (1924) obtidos e ajudando a combater “algumas coisas da vida reconhecidas como
prejudiciais”. Freud afirma ainda que a psicanálise não pode, sozinha, explicar todas as
coisas, mas pode fazer importante contribuições para os mais diversos campos de
conhecimento.

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