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TEORIAS PSICANALÍTICAS

Profa. Miyako Takano


3º Período

HISTÓRIA PESSOAL
• Sigmund Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856, na pequena cidade de
Feiberg, na Moravia (hoje Tchecoslováquia). Quando tinha 4 anos, sua família
sofreu contratempos financeiros e mudou-se para Viena. Continuou a residir em
Viena até 1938, quando emigrou para a Inglaterra.
• Trabalhando primeiro como cirurgião, depois em clínica geral, tomou-se
médico interno do principal hospital de Viena. Fez um curso de Psiquiatria, o que
aumentou seu interesse pelas relações entre sintomas mentais e distúrbios
físicos.

• Em 1885, tinha se estabelecido na posição prestigiosa de conferencista


da Universidade de Viena. Sua carreira começava a parecer promissora.
• Com o apoio de Briicke, Freud obteve uma bolsa e foi para Paris trabalhar
com Charcot. Este demonstrou que era possível induzir ou aliviar sintomas
histéricos com sugestão hipnótica. Freud percebeu que, na histeria, os pacientes
exibem sintomas que são anatomicamente inviáveis.

• Tomou-se claro para Freud que a histeria era uma doença psíquica cuja
gênese requeria uma explicação psicológica. Charcot percebeu Freud como um
estudante capaz e inteligente e deu-lhe permissão para traduzir seus escritos
para o alemão quando Freud voltou a Viena.
• O trabalho na França aumentou seu interesse pela hipnose como
instrumento terapêutico. Com a cooperação do célebre e experimentado médico
Breuer, Freud explorou a dinâmica da histeria (1895).

• Suas descobertas foram resumidas por Freud: “Os sintomas de pacientes


histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que lhes causaram grande
impressão
mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto apoiada, consistia em fazê-
los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de hipnose (catarse)”
(1914, livro 6, p. 17 na ed. bras.).

• Ele achou, no entanto, que a hipnose não era tão efetiva quanto esperava.
Afinal abandonou-a por completo passando a encorajar seus pacientes a falarem
livremente e a relatarem o que quer que pensassem independente da aparente
relação — ou falta de relação - com seus sintomas.
• Em 1896, Freud usou pela primeira vez o termo “psicanálise” para
descrever seus métodos. Sua auto-análise começou em 1897.
• Em 1900, ele publicou A Interpretação de Sonhos, considerada por muitos
como seu mais importante trabalho, apesar de, na época, não ter recebido quase
nenhuma atenção.

• Seguiu-se, no ano seguinte, outro livro importante, Psicopatologia da Vida


Cotidiana. Gradualmente, formou-se à volta de Freud um círculo de médicos
interessados, incluindo Alfred Adler, Sandor Ferenczi, Carl Jung, Otto Rank, Karl
Abraham e Ernest Jones. O grupo fundou uma sociedade. Documentos foram
escritos, uma revista foi publicada e o movimento psicanalítico começou a
expandir-se.

• A medida que o trabalho de Freud tornava-se de modo geral mais


acessível, as críticas aumentavam.
• Em 1933, os nazistas queimaram uma pilha de livros de Freud em Berlim.
Ele comentou o fato: “É um progresso o que está se passando. Na Idade Média,
eles teriam jogado a mim na fogueira, hoje em dia contentam-se em queimar os
meus livros” (Jones, 1957, p. 732 na ed. bras.). Quando os alemães ocuparam
a Áustria, em 1938, foi permitido a Freud ir para Londres. Ele morreu um ano
depois (1939).

DEFINIÇÕES DE PSICANALISE APRESENTADAS POR SIGMUND


FREUD

• A Metapsicologia é a teoria desenvolvida por Freud para descrever a


organização e o funcionamento do psiquismo.
• Freud elabora a metapsicologia a partir da observação dos pacientes,
analisando seus discursos e remetendo-os a um modelo abstrato da mente (isto
é, o "aparelho psíquico"); ou seja, ele formula hipóteses e deduz estruturas do
psiquismo a partir das evidências clínicas.
• A Psicanálise é considerada um método terapêutico utilizado com objetivo
de investigar a origem dos processos mentais, seu desenvolvimento e
tratamento dos distúrbios psíquicos.

• “Psicanálise é o nome de: (1) um procedimento para a investigação de


processos mentais que são quase inacessíveis por qualquer outro modo, (2) um
método (baseado nessa investigação) para o tratamento de distúrbios
neuróticos, e (3) uma coleção de informações psicológicas obtidas ao longo
dessas linhas, e que gradualmente se acumula numa nova disciplina científica”
(1923, livro 15, p. 107 na ed bras.).

• O objetivo da psicanálise é liberar materiais inconscientes antes


inacessíveis, de modo que se possa lidar com eles conscientemente.
• Freud acreditava que o material inconsciente permanecia inconsciente
apenas através de um consumo considerável e contínuo de libido.
• À medida que esse material torna-se acessível, a energia é liberada e
pode ser usada pelo ego para atividades mais saudáveis.

• A liberação de materiais bloqueados é capaz de minimizar as atitudes


autodestrutivas.
• É possível reavaliar a necessidade de ser punido ou de sentir-se
inadequado por exemplo, trazendo à consciência aqueles atos ou fantasmas que
levavam à necessidade.
• As pessoas podem, então, libertar-se do sofrimento que, de certa forma,
traziam perpetuamente consigo mesmas.

A psicanálise sugere que é possível, porém difícil, chegar a um acordo


com as repetidas exigências do id. “O propósito da psicanálise é revelar os
complexos reprimidos por causa de desprazer e que produzem sinais de
resistência ante as tentativas de levá-los à consciência” (1906, livro 31, pp. 62-
63 na ed. bras.).

“Uma das atribuições da psicanálise, como sabem, é erguer o véu da


amnésia que oculta os anos iniciais da infância e trazer à memória consciente
as manifestações do início da vida sexual infantil que estão contidas neles”
(1933, livro 28, p. 42 na ed. bras.).
As metas, tais como descritas por Freud, pressupõem que se uma pessoa
liberar-se das inibições do inconsciente, o ego estabelecerá novos níveis de
satisfação em todas as áreas de funcionamento.

HISTÓRIA DA PSICANÁLISE
A psiquiatria era para tratamento do corpo físico e a medicina não tinha
uma clínica fundamentada para tratar transtornos psicológicos;
892 Charcot e Freud - hipnose para tratamento da doença mental;
1895 Freud e Breuer – importância da hipnose;
Freud - teoria para explicar a etiologia e prática para aliviar os sintomas
psicológicos;

CONTEXTO DO SURGIMENTO DA PSICANÁLISE: RACIONALISMO E


LOUCURA
Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito da época,
espírito do tempo ou sinal dos tempos. Significa, em suma, o conjunto do clima
intelectual e cultural do mundo, numa certa época, ou as características
genéricas de um determinado período de tempo.

Foi na modernidade, mais precisamente a partir do início do século XVII,


que os ideais racionalistas tomaram corpo e formaram uma das duas principais
vertentes filosóficas da modernidade, ou seja, o racionalismo.
O século XIX foi a época de maior florescimento da teoria e da terapêutica
da loucura. Ele começa com o Tratado Médico Filosófico de Pinel – uma
verdadeira revolução teórica e terapêutica.
Após a hegemonia secular de um organicismo hipotético ou até
metafísico, Pinel e Esquirol apresentam uma nova concepção sobre a natureza
e a causa da loucura.

Jean-Étienne Dominique Esquirol (Toulouse, 3 de fevereiro de 1772 —


Paris, 12 de dezembro de 1840) foi um psiquiatra francês. Entre vários outros
notáveis trabalhos cunhou o termo "alucinação". Foi discípulo de Philippe Pinel,
sucedendo seu mestre em 1811 como chefe do Hospital da Salpêtrière em Paris.

Quanto à natureza da loucura, ela é, essencialmente, um desarranjo


duradouro do discurso e dos atos, que não se ajusta à realidade circunstante,
mas corresponde a idéias erradas sobre os eventos físicos ou sociais.
Assim, a causa da loucura já não deve ser buscada em alguma presumida
lesão estrutural ou funcional do encéfalo, mas na experiência do real.

Essa experiência é entendida em dois sentidos: como processo de


elaboração de idéias, a partir da percepção sensorial, e como exposição aos
impactos afetivos da vida cotidiana, às paixões.
A loucura tem como causa erros no conhecimento e resulta da formação
de idéias erradas sobre as relações com as coisas ou com os outros.

Os textos freudianos de 1920 e 1924, sobre as diferenças entre neurose


e psicose, são típicos da nova psicopatologia do século XX.
Nela o conceito de eu torna-se crucial: toda a patologia mental implicará
dificuldades do eu para afirmar-se ante as exigências instintivas do id e as da
realidade circunstante.

O trabalho de Sigmund Freud, nascido das disciplinas especializadas de


Neurologia e Psiquiatria, propõe uma concepção de personalidade que surtiu
efeitos importantes na cultura ocidental.
Sua visão da condição humana, atacando violentamente as opiniões
prevalecentes de sua época, oferece um modo complexo e atraente de perceber
o desenvolvimento normal e anormal. Freud explorou áreas da psique que eram
discretamente obscurecidas pela moral e filosofia vitorianas. Descobriu novas
abordagens para o tratamento da doença mental.

Seu trabalho contestou tabus culturais, religiosos, sociais e cientificos.


Seus escritos, sua personalidade e sua determinação em ampliar os limites de
seu trabalho fizeram dele o centro de um círculo de amigos e críticos em
constante mudança. Freud sempre repensava em e revia suas idéias anteriores.
Sigmund Freud, pelo poder de sua obra, pela amplitude e audácia de suas
especulações, revolucionou o pensamento, as vidas e a imaginação de uma
era...Seria difícil encontrar na história das idéias, mesmo na história da religião,
alguém cuja influência fosse tão imediata, tão vasta e tão profunda (Wollheim,
1971,p. IX).
Em 1923, Freud definiu sua distinção entre neurose e psicose: a neurose
seria o efeito de um conflito entre o eu e o seu id, enquanto a psicose
representaria o resultado de uma perturbação semelhante nas relações entre o
eu e o mundo externo;
Em 1924, escreveu: “em outras palavras: a neurose não renega a
realidade, mas apenas não quer saber dela; a psicose, porém, renega a
realidade e tenta substituí-la” (1924, p. 41).

Num primeiro momento, o eu retira-se de uma realidade incompatível com


as exigências instintivas do id e, portanto, intolerável; num segundo momento,
tenta construir uma realidade substitutiva, mais conforme as pressões do id.

CONTEXTO DO SURGIMENTO DA PSICANÁLISE: DISCURSO


MÉDICO SOBRE A SEXUALIDADE E VALORIZAÇÃO POPULAR DA
HIPNOSE
Antes de Hipócrates, a Medicina estava mais próxima do mágico do que
do racional.
Ele introduziu uma transformação na Medicina, na Grécia, há 2.500 anos,
na tentativa de compreender a história da doença que provoca, no paciente, a
necessidade de procurar tratamento.

Hipócrates inaugurou a observação clínica e criou a anamnese, definindo-


a como a primeira etapa do exame médico. O próprio exame médico foi por ele
introduzido na clínica, objetivando a obtenção de dados para a elaboração do
diagnóstico e do prognóstico.
No saber médico que sustenta a prática médica, é impossível diagnosticar
sem antes descrever os sintomas/sinais e conhecer os antecedentes da
enfermidade. Do mesmo modo, não é possível fazer um prognóstico sem antes
obter um diagnóstico.

O auge da clínica médica se situa entre o final do século XVIII e o início


do século XIX. Esse último foi, sem dúvida, um dos séculos mais prósperos para
a área, devido às muitas descobertas no ramo da Biologia e às invenções que
possibilitaram a instrumentalização médica.
Na era vitoriana, ainda não existia a prática de o cliente buscar auxilio
psicológico por si; assim, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, imprime, na
História, algumas inovações.

Primordialmente, na clínica psicanalítica, há um deslocamento do saber.


Não mais o médico o detém, mas o cliente. Contudo, é um saber inconsciente.
Nesse processo, o analista é um mero facilitador, já que, na condução do
tratamento, ele apenas aponta o caminho e o paciente não apenas ouve, como
se fosse uma prescrição médica, mas elabora e encontra sua verdade no próprio
inconsciente.

A cena é ocupada, dessa maneira, pelo discurso do paciente, sem o qual


não é possível nem mesmo apontar um caminho.
Cabe ao analista apenas mobilizar o paciente a prosseguir na busca de
sua verdade.
Portanto, quem trabalha, verdadeiramente, na análise, é o analisando.

É importante fazer uma diferenciação: enquanto a clínica médica aprimora


seus métodos diagnósticos, por via da observação e de complexas tecnologias
que sustentam múltiplas possibilidades de intervenção na direção da cura
orgânica, a clínica freudiana, embora também se debruce sobre o cliente na
busca diagnóstica, enfatiza mais a escuta do sofrimento do que a visão do
mesmo, e propõe, como método de intervenção, a psicoterapia/análise.

Freud (1905 [1904]) elabora um texto para explicar o método


psicoterápico, e, logo no início, adverte que muitos médicos consideram a
psicoterapia um produto do misticismo moderno, se comparada aos recursos
terapêuticos físico-químicos, mostrando que a psicoterapia é um recurso
bastante familiar aos médicos, tanto utilizada na Medicina antiga quanto pelo fato
de que todos os médicos, mesmo os modernos, utilizam o recurso da
psicoterapia através da sugestão de melhora, que se assenta na confiança do
cliente no profissional que o trata.

Para Freud (1905 [1904]), a técnica da sugestão não possibilita a


sustentação da posição de cura, pois oculta o entendimento do jogo de forças
psíquicas e não permite identificar a resistência.
A cura alcançada após o enfrentamento da resistência permanece, ao
desvendar o jogo das forças psíquicas implicadas no processo de adoecimento.
Nesse sentido, Freud subverte a lógica do tratamento médico, pois, para
ele, a resistência é fundamental no processo de cura.

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