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A Teoria da Personalidade em Sigmund Freud (1856-1939)

Monalisa Lauro
Psicanálise de Freud
• Freud interessou-se pelo estudo da estrutura e funcionamento (anatomia e
histologia) do SN. Quando formou-se em medicina, em 1881, optou pelo trabalho
clínico e trabalhou no Hospital Geral de Viena, mas continuou desenvolvendo
pesquisas sobre a anatomia do SN no Instituto de Anatomia Cerebral.

• De 1883 a1892, conheceu os problemas da psicopatologia e trabalhou sob


orientação do professor de psiquiatria Meynert, que entendia as doenças mentais
como doenças do cérebro, e depois, ao estudar em Paris (Salpêtrière), conheceu
o trabalho de Charcot, professor de neuropatologia e o primeiro a delimitar o
quadro clínico da histeria. Desde então a neurose tornou-se seu interesse
principal.

• Psicanálise é contemporânea à psicologia científica e experimental, mas o


contexto disciplinar que a influencia é o da psicologia médica (patologias).
Psicanálise de Freud
1. Método da Sugestão hipnótica:

• Charcot verificou que a histeria: a) é um distúrbio nervoso e não uma doença


imaginária ou resultante de perturbações do útero; b) os sintomas são delimitados em
referência aos conceitos comuns de corpo (sem relação com a anatomia do SN); c) há
uma estreita ligação entre histeria e hipnotismo, pois os sintomas histéricos podem ser
criados por sugestão hipnótica em pacientes não-histéricos, e os sintomas histéricos
traumáticos podem ser removidos por sugestão hipnótica.

Conclusões:

• Charcot: as ideias estão na gênese, manutenção e eliminação dos sintomas. Mesmo


assim, Charcot sustentava que a histeria era um distúrbio fisiológico vinculado à
deterioração hereditária do cérebro. Os demais fatores etiológicos eram apenas
provocadores.
Psicanálise de Freud
• Freud (1912): a possibilidade de criar e eliminar sintomas por
sugestão hipnótica é a primeira pista para a noção de psíquico
inconsciente, mas ativo e eficaz.

• Freud afasta-se progressivamente da posição localizacionista,


defendendo a autonomia da abordagem funcional das patologias
cerebrais.

• Ao regressar de Paris, em 1886, Freud dedicou-se à clínica das


doenças nervosas. Além da sugestão hipnótica, usou eletroterapia e
ouras técnicas, entre eles o método catártico.
Psicanálise de Freud
2. Método catártico:

• Método catártico (= catarse= purgação ou purificação) dos afetos reprimidos por


meio de uma descarga ou ab-reação afetiva que acompanha a recordação e o
relato. Por esse método havia uma alivio dos sintomas e, se houvesse a
recordação do evento que estaria na origem do sintoma junto da sua recordação, o
sintoma desaparecia completamente.

• Breuer e Freud usam esse método no tratamento da Ana O, que aos 21 anos,
apresentou quadros de paralisia, alterações da visão, tosse nervosa, redução da
capacidade de expressão, estados de ausência, confusão, delírios... Ana O. tinha
o hábito de fazer uma hipnose auto-induzida, então nesse estado era incitada a
contar suas fantasias. Após relatar suas historias, Ana O. melhorava e retomava a
vida normal por um tempo. A própria paciente denominou esse método de “cura
pela conversação” e “limpeza de chaminé”.
Psicanálise de Freud
 Conclusões:

• Breuer e Freud encontrou novas pistas sobre o inconsciente: os


sintomas histéricos eram determinados por ideias “afetivas” (vivências
que despertavam afetos intensos), que por algum motivo não
puderam ser exteriorizados.

• Os sintomas decorrem do afeto sufocado, que se deslocavam por


vias substitutivas anormais. O sintoma era uma manifestação anormal
do afeto. Assim, afirmam que os histéricos sofrem de “reminiscências”
(recordações traumáticas que não conseguem vir à consciência).
Psicanálise de Freud
3. Método da associação livre:

• Freud abandona o método catártico, pois dependia da hipnose. No seu lugar, o paciente tinha que
recordar as experiências em estado de consciência normal. Freud percebeu que havia uma força
que impedia o acesso à consciência, mas com certo esforço essa força cedia e as recordações
podiam ser acessadas. Primeiro, fazia uma pressão na testa para superar a força, mas depois
qualquer direcionamento era dispensável, bastava que a pessoas associasse livremente as ideias
e se comprometesse a dizer tudo que se passasse em sua cabeça, sem que nada fosse omitido.

Conclusões:
• Freud desenvolve o conceito de resistência e repressão/recalque: uma e mesma força que exclui e
exerce pressão para impedir o retorno à consciência.

• Freud percebeu que as ideias reprimidas estavam em conflito com as exigências morais do sujeito,
tornando-se desprazerosas, e que força tentava cessar o desprazer ou impedir que ele fosse
sentido.
Psicanálise de Freud
• Depois, Freud aplicou a associação livre à interpretação dos sonhos. Isso levou a
descoberta de que os sintomas neuróticos tinham um sentido latente. O sonho
manifesto seria um disfarce do verdadeiro sentido do sonho. Portanto, os “sonhos
são realizações disfarçadas de desejos inconscientes”.

• A partir da análise dos sonhos, Interpretação do Sonhos (1900), Freud percebeu


que as representações insuscetíveis de consciência eram regidas por leis
diferentes das que regiam as recordações passíveis de consciência. Com isso,
criou o conceito de sistema inconsciente, mais tarde identificado como Id.

• Como os sonhos, lapsos de linguagem, esquecimentos estão presentes na vida


das pessoas sadias e psiquicamente normais, a psicanálise passa a ter uma dupla
significação: é um método de investigação e tratamento das neuroses, mas
também uma nova psicologia, reivindicando a atenção dos estudiosos da ciência
mental.
Psicanálise de Freud
 Psicanálise: método clínico para a intervenção e investigação dos
processos psíquicos.

 A hipnose é inicialmente um método investigativo, mas depois com


sua associação com o método catártico, torna-se também
interventivo. A partir da associação livre, a psicanálise é
apresentada como um método para descobrir as causas dos
fenômenos clínicos, depois dos processos psíquicos em geral; e
também para produzir efeito terapêutico ou mudança psíquica.
Psicanálise de Freud
O aparelho psíquico: primeira tópica

Sistema inconsciente (Icc): representações inconscientes e insuscetíveis de


consciência;
Sistema pré-consciente (Prcc): representações que podem se tornar conscientes;
Sistema consciente (Cc): representações atualmente conscientes.

• Entre os sistemas Icc e Prcc e entre o Prcc e a Cc há uma censura que controla a
passagem das representações.

• Em 1915, Freud define as propriedades do Icc: atemporalidade; ausência de


contradição; mobilidade de investimento; funcionamento segundo o princípio do
prazer (em parte será substituído pelo princípio de realidade).
Psicanálise de Freud
• Resumidamente...

• Conceito dinâmico: estudos da histeria traumática e o uso da sugestão


hipnótica mostram que as ideias inconscientes não simplesmente mais
fracas que as conscientes, mas sim inadmissíveis na consciência, e sofrem
resistência, mas ainda ativo.

• Conceito descritivo: inconsciente como meio de compreendermos as


lacunas da consciência (vida psíquica não se identifica com a consciência).

• Conceito sistemático: tem propriedades diferentes daquelas que definem


os processos conscientes: isento de contradição mútua, mobilidade da
catexia, atemporalidade, substituição da realidade externa pela interna.
Psicanálise de Freud
O aparelho psíquico: segunda tópica

• Na fase final de sua obra, depois de verificar que nem todo psíquico
insuscetível de consciência apresenta as características do sistema
inconsciente, Freud rever sua visão do aparelho psíquico:

Teoria Estrutural da Mente: Ego, Superego, Id.


Psicanálise de Freud
Id: primórdios do aparelho psíquico, regulado pelo princípio de prazer, polo pulsional
do aparelho psíquico, a parte em contato direto com o interior do organismo e sem
acesso à consciência. A noção de sistema inconsciente é restrita ao Id.

Ego: instância parcialmente regulada pelo princípio da realidade, responsável por


manter o Id sob inibição e de conciliar seus impulsos com as exigências da realidade
e do Superego.

Superego: parte destacada do Eu que o observa e compara constantemente com um


ideal de eu, julgando-o e punindo-o pelas discrepâncias, fazendo surgir sentimentos
de culpa e inferioridade.

• Ego e Superego têm partes inconscientes, ou seja, insuscetíveis de consciência.


Referências Bibliográficas
• ARAUJO, S. F; CAROPRESO, F; CASTANÕN, G.A; SIMANKE, R.T. (Orgs.). Fundamentos
filosóficos da psicologia contemporânea. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2014.

• FREUD, S. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre a metapsicologia e


outros trabalhos (1914-1916). In: _____. Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

• FREUD, S. Uma breve descrição da psicanálise (1924). In: _____. Edição Standard
Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

• WOLLHEIM, R. As ideias de Freud. São Paulo: Cultrix, 1974.

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