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Teorias e Sistemas

Psicológicos II

PSICANÁLISE E SUAS
CORRENTES

Profª Mª Flávia C. Santiago de Oliveira


4º Termo - 2021
C.H/Semestral: 80hs.
Quarta, 19h05 às 22h40.

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Pré-história: Indagações sobre as doenças mentais;
MOMENTO
• Trepanações cranianas;
HISTÓRICO
• Bíblia Sagrada e as possíveis psicopatologias;
• Idade média: crueldade, prisões em meio a assassinos, exibições em circos;
hospícios
• Magia e demonologia: benzeduras, poções mágicas, curandeirismo
• Rituais praticados por bruxas, xamãs, sacerdotes e faraós
• Século XVIII: Mesmerismo - Anton Mesmer e o “magnetismo animal”
• 1789 - Pinel e Esquirol: tratamento moral

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Período dos pródomos da Psicanálise
MOMENTO
• 1856 – S. Freud
HISTÓRICO

• Aos 17 anos, início do curso de Medicina em Viena;

• Interesse pelo campo da fisiologia e sistema nervoso:


prenunciava que a descoberta da psicanálise palmilharia
estes caminhos da sexualidade e do psiquismo provindo do
sistema nervoso, como ele julgava nos primeiros tempos.

• 1891 – Livro sobre Aphasia


• 1895 – estudos sobre paralisias cerebrais infantis e
conceituação como pesquisador e neurólogo
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MOMENTO
HISTÓRICO

Medicina centrada em bases biológicas, pouco interessada na Psicologia, entregue aos


filósofos;

Psiquiatria enquanto ramo da Neurologia;

Nascimento da Neuropsiquiatria;
Atendimento mais humanizado, mas recursos eram ervas medicinais, repouso no leito, hidroterapia,
massagens, estímulos elétricos;

Hipnose era usada apenas no teatro, porém, buscava-se fundamentos científicos;


Grande nome nesse campo na época, era o neurologista Charcot.

Sociedade burguesa era machista e patriarcal, onde a voz feminina nunca era ouvida, o
destino da mulher era ser “do lar”.
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Estudada pelo neurologista Charcot em 1885, no hospital de Salpetrière (Paris);
Acometia mulheres;
“Doença do útero”;
Cerca de 5 a 6 mil mulheres ficavam em celas, sendo mal cuidadas e estudadas;
Apresentavam paralisias e convulsões sem indícios biológicos e/ou fisiológicos;
Charcot aplicava nelas o método hipnótico: induzia ao sono ou ao sonambulismo e
quando hipnotizadas, mostrava que as paralisias e convulsões desapareciam,
afirmando que a histeria não tinha relação com o útero;
Freud mudou-se de Viena para Paris, com objetivo de estudar a histeria juntamente
com Charcot (set. 1885 – fev. 1886)
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Um pouco antes disso, em 1982...

• Freud conhece Breuer, neurologista que manteve relação paternal;


• Breuer apresenta-lhe o caso de Anna O. (Bertha Papenheim), uma jovem
burguesa que apresentou sintomas de histeria aguda aos 20 anos;
• Sintomas: esquecimento da língua materna, se recusava beber água,
apresentava paralisia;
• Condenada a ser esposa rígida como sua mãe, a histérica aspirava por outra
vida, mas ninguém a escutava. Incapaz de enfrentar seu destino, ela
adoecia;
• A histeria era a linguagem do desejo repreendido pela razão;
• Breuer denominou seu novo método terapêutico de catarse ou ab-reação
(também conhecido como “talking cure”);
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Um pouco antes disso, em 1982...

• Gravidez imaginária -> fuga de Breuer (desconhecimento da transferência)

• 1895: Publicação da obra de Freud e Breuer, intitulada “ Estudos sobre a


histeria”. Nesta obra não se fala em cura, Anna O. não fora curada, e sim,
em como tratar as histéricas, da importância de ouvi-las;

• Vídeo sobre o Caso Anna O.

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MOMENTO
HISTÓRICO

1889 – (Liebault e Bernheim) Experiência da psicose pós-hipnótica

Freud passou a utilizar a hipnose, partindo do princípio que a neurose


provinha de traumas sexuais que teriam realmente acontecido na infância
por sedução de homens mais velhos, como os pais (TEORIA DA SEDUÇÃO);

 Estas experiências levaram Freud a convencer Breuer a publicarem em


conjunto as suas observações e descobertas, mais tarde, em 1895 no livro
Estudos sobre a histeria

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Freud abandona a
hipnose por acreditar
Breuer abandonou o
Acreditava que com a não ser um bom
estudo da histeria Freud continuou
criação da hipnotizador e
devido a problemas seguindo o
psicanálise, os gritos resolve experimentar
com Anna O. (a qual pensamento sobre a
das histéricas e o a possibilidade da
tratou por 2 anos), sexualidade infantil,
movimento de seus “livre associação de
ao mesmo tempo em o que lhe trouxera
corpos poderiam ser ideias” (conseguida
que discordava da severas críticas;
ouvidos; pelo hipnotismo com
orientação de Freud
as pacientes não
despertas);

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As pacientes demonstravam muitas resistências para associar. Era
comum esquecer os fatos;

Método coercitivo

• Paciente Elisabeth Von R.


• Barreiras contra o recordar e associar provinham de forças mais profundas,
inconscientes – resistências involuntárias
• Repressões daquilo que estava proibido de ser lembrado, não só dos traumas sexuais
realmente acontecidos, mas também daqueles que foram fruto de fantasias
reprimidas
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Conflito psíquico
Sintomas
Embate entre

Representação
Forças instintivas Repressoras simbólica deste
conflito inconsciente

Psicanálise enquanto ciência


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“Termo criado por S. Freud, em 1896, para nomear um método particular
de psicoterapia (ou tratamento pela fala) [...], pautado na exploração do
inconsciente, com ajuda da associação livre, por parte do paciente e da
interpretação, por parte do psicanalista.” (ROUDINESCO & PLON, 1998, p.
603).

Por extensão, dá-se o nome de psicanálise:


1. Ao tratamento conduzido de acordo com esse método;
2. À disciplina fundada por Freud ( e somente por ela), na medida em que
abrange um método terapêutico, uma organização clínica, uma técnica
psicanalítica, um sistema de pensamento e uma modalidade de
transmissão do saber (análise didática, supervisão) que se apoia na
transferência e permite formar praticantes do inconsciente;
3. Ao movimento psicanalítico, isto é, a uma escola de pensamento que
engloba todas as correntes do freudismo.”
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Freud representa a intersecção de dois períodos

Dinâmica
Medicina, Fìsica e inconsciente
Química (campo
(concepções desconhecido)
positivistas) • Serem comprovados
por concepções
metapsicológicas

15 p. 23
Evolução histórica da Psicanálise em 5 estágios

Teoria do Teoria Teoria Dissociação


Narcisismo
trauma topográfica estrutural do ego

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Aspecto mais discutido era a
teoria da libido
• Manifestação psicológica do instinto
Teoria do sexual,
• Recebeu sua origem na tentativa de
trauma explicar fenômenos, tais como os da
histeria
• Resultante do impedimento da
energia sexual se expandir (contida
em outros pontos e se manifestando
por sintomas)
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Teoria do trauma
• Neuróticos sofreriam de reminiscências
• Onde estaria a cura?

• Recordação
• “lembrar o que estava esquecido”
• “a melhor forma de esquecer é lembrar”
• “O sujeito não consegue esquecer daquilo que ele não consegue
lembrar”

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Teoria do trauma

Freud • Catarse

Atualmente • Objetivo: ressignificação

Necessidade de • Descoberta das resistências


desfazer as repressões: • Uso das interpretações

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Teoria topográfica
• Relatos das suas pacientes histéricas
não traduziam a verdade:
contaminados com as fantasias Consciente
inconscientes - desejos proibidos

• Divisão da mente em três “lugares”


(a palavra “lugar”, em grego, é
“topos”, daí teoria topográfica).

Pré-
Inconsciente
• O paradigma técnico passou a ser: Consciente
“tornar consciente o que estiver no
inconsciente”

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Teoria topográfica
• 1900 - “A interpretação dos sonhos”

• “todo sonho, e sintoma, tem um umbigo que conduz ao desconhecido do


inconsciente”

• Descoberta do significado simbólico dos sonhos e sintomas que inaugura


a psicanálise como ciência propriamente dita.

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a) a psicanálise deixou de ser uma
detida investigação e busca de
solução de, separadamente,
sintoma por sintoma;

Técnica
psicanalítica foi b) formulação do “princípio da
multideterminação” dos sintomas;
profundamente
transformada
(A partir do fracasso do caso Dora)
c) o próprio paciente é quem
passou a tomar a iniciativa de
propor o assunto de sua sessão;
d) o analista: atitude mais
compreensiva da dinâmica do
sofrimento do analisando;

Técnica e) abandono total da técnica da


psicanalítica foi hipnose e da sugestão devido à
percepção (encobriam a existência
profundamente de “resistências”);

transformada
(A partir do fracasso do caso Dora)

Retorno do reprimido: fenômeno


Caso Dora: ensinou a Freud a existência e a importância de o da transferência
analista reconhecer e trabalhar com a “transferência negativa”.
Teoria estrutural
Distintas demandas, funções e
proibições, provindas do
A mente comportava-se como consciente ou do inconsciente, O ego e o id (1923): estrutura
uma estrutura interagiam de forma permanente tripartide
e sistemática entre si e com a
realidade externa.

id ego superego
• (com o seu
• (com as • (com as
conjunto de
respectivas ameaças,
funções e de
pulsões) castigos, etc).
representações)

O paradigma técnico da psicanálise foi formulada por Freud como: “onde houver id (e superego), o ego deve estar”. 24
Conceituações sobre
o Narcisismo.
• Profunda compreensão do psiquismo primitivo

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Dissociação do ego
Clivagem da mente em regiões conscientes e
inconscientes não era específica e restrita às psicoses
e neuroses, mas que ela ocorria com todos indivíduos.

Freud lançou novas sementes que possibilitaram aos


pósteros autores desenvolverem uma concepção
inovadora da conflitiva intrapsíquica

Exemplificado com os trabalhos de Bion (1967) sobre


a existência concomitante em qualquer pessoa da
“parte psicótica e da parte não psicótica da
personalidade”, representando um enorme avanço na 26
técnica e na prática clínica.
DESENVOLVIMENTOS
POSTERIORES A
FREUD

• 1906: Freud conclui o período de


isolamento e passa a reunir-se na
sua sala de espera com
colaboradores – Abraham,
Ferenczi, Rank, Steckel, Sachs,
Jung, Adler
• “Reuniões das quartas-feiras” ou
“Sociedade Psicológica das
Quartas-Feiras”
• Sociedade Psicanalítica de Viena.
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1908 - Reunião de Médicos Freudianos”, posteriormente
rebatizada como “1° Congresso Psicoanalítico Internacional”,
compareceram 48 pessoas.

1910 – Fundação da IPA (Associação Internacional de


Psicanálise), durante o 2° Congresso Internacional (com a
participação de 60 pessoas

Os últimos congressos internacionais de psicanálise têm


contado com uma média de 3.000 participantes, dentre um
número provável de 10.000 psicanalistas no mundo todo) e, por
sugestão de Freud, a presidência coube a Jung.

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1914 – Adler, Steckel e Jung

“Detratores” da psicanálise

Freud, Jones, Ferenczi, Rank, Abraham, Sachs e, mais tarde,


Eitington

Círculo dos Sete Anéis: Fieis ao movimento psicanalítico

29
Dissidente Ampliador Transformador

Ferenczi
Jung Abraham (teoricamente e
tecnicamente)

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Freud e a posição falocêntrica
como o eixo essencial:
convicção de que todos os 1914 – Grande Guerra:
conflitos gravitariam em torno
dos desejos libidinais, do
complexo de Édipo e da figura
predominante do pai na
conflitiva psíquica “neuroses de guerra” e
sonhos traumáticos
não podiam ser
explicados unicamente
pela libido sexual,

Freud considerou a
existência da repressão
também de impulsos
agressivos. 31
1920 - postulação definitiva do “instinto de
morte” deu-se a partir do seu clássico “Além do
princípio do prazer”
Mecanismos de defesa mais primitivos, como a
projeção, introjeção, importância da
contratransferência, etc.
Grupo de psicanalistas em Viena e a fuga da
perseguição nazista durante a Segunda Grande
Guerra
Migraram para outros países, onde deram
continuidade ao movimento da psicanálise.

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Final da Década de 20,
Estados Unidos
em Londres: Klein
• Fundamentação em • Análise com crianças
fatores socioculturais e de pouca idade
relações interpessoais • Posição “seio-cêntrica”
• Talvez para não se
comprometer
politicamente com
Freud e seus fiéis
seguidores, M. Klein
conservou o complexo
de Édipo como o eixo
central da psicanálise

33
Lacan e a Escola Estruturalista na
França

Reação ao excessivo pragmatismo


norte-americano da psicanálise

Propôs um ‘retorno a Freud’

34
Winnicott e Bion, ambos de genitura
kleiniana.

Winnicott admitiu publicamente a sua


dissidência com M. Klein (não-aceitação da
postulação do conceito dela de “inveja
primária” em 1957.
Filiou-se formalmente ao “grupo
independente” da Sociedade Britânica de
Psicanálise

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a psicanálise foi crescendo como uma árvore frondosa e
com incontáveis ramificações, talvez excessivas, às
vezes convergentes, outras vezes tautológicas ou
divergentes, porém mantendo uma vitalidade
proliferativa, possivelmente porque regada e adubada
pelas podas, contestações, confrontos, transformações
e um estado permanente de uma certa “crise” no
próprio seio da psicanálise e nos psicanalistas
praticantes (Zimerman, p. 27).
36
Ciência psicanalítica em 3
períodos típicos
Importante correlacionar
os elementos fundantes de
cada período (superados, Psicanálise ortodoxa
transformados,
descartados, etc) Clássica

Contemporânea
37
Conceituações postuladas por
Freud são atualmente equivocadas

Pan-sexualismo (todo e qualquer fenômeno psíquico encontrava algum tipo de explicação na


sexualidade);

Subestimação da condição da mulher, que para ele seria sempre inferior e invejosa dos privilégios do
homem (decorrente de um outro equívoco seu: o de tomar Viena como protótipo único dos valores
culturais);

Exagerada ênfase na “inveja do pênis”;

Ignorância da vagina por parte das meninas, até a puberdade;


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Efeito terapêutico da “catarse” – hoje,
devidamente ressignificado

Método catártico vai muito além de um


desabafo ou unicamente como uma forma de
“lembrar o esquecido”

Hoje, considera-se que a liberação do afeto se


processa pela nomeação com palavras –
propiciadas pelas interpretações do psicanalista
– e que possibilitam uma nova significação

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CRISE NA
PSICANÁLISE

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Mudanças vão muito além do campo restrito da psicanálise como
ciência
Aspectos sociais, culturais e, sobretudo, econômicos.
Perfil do paciente
Valores culturais, papel da família e sociedade, da mulher
Abundância de tratamentos alternativos que prometem “curas
mágicas”

Campanhas de descrédito contra a psicanálise: “lentidão” na obtenção


de resultados positivos

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O significado de “crise” tanto pode aludir a um
aspecto negativo como prelúdio de uma dissolução,
assim como também pode estar indicando um
momento culminante que antecede importantes
transformações na direção de um crescimento
(Zimerman, p. 28)

Por muitos anos, os defensores de departamentos


de psiquiatria na América do Norte eram
psicanalistas. Agora não é mais assim.

42
Freud construiu os alicerces
essenciais do edifício
metapsicológico e prático
da psicanálise,
estabelecendo interrelações
entre a teoria, a técnica, a
ética e a prática clínica

44
Os sonhos

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