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INTRODUÇÃO
Freud empregou a palavra “aparelho” para caracterizar uma organização psíquica dividida em
sistemas, ou instâncias psíquicas (termo mais usual em psicanálise), com funções específicas para
cada uma delas, que estão interligadas entre si, ocupando um certo lugar na mente. Em grego,
“topos” quer dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um “modelo de lugares”, sendo que
Freud descreveu a dois deles: a “Primeira Tópica” conhecida como Topográfica e a “Segunda
Tópica”, como Estrutural.
A noção de “aparelho psíquico”, como um conjunto articulado de lugares – virtuais – surge mais
claramente na obra de Freud em “A interpretação dos sonhos” de 1900, no qual, no célebre
capítulo 7, ele elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho óptico, de como esse
processa a origem, transformação e o objetivo final da energia luminosa. Nesse modelo tópico, o
aparelho psíquico é composto por três sistemas: o inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o
consciente (Cs).
O sistema pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e, tal como sugere no
“Projeto”, onde ele aparece esboçado com o nome de “barreira de contato”, funciona como uma
espécie de peneira que seleciona aquilo que pode, ou não, passar para o consciente. Ademais, o
pré-consciente também funciona como um pequeno arquivo de registros, cabendo-lhe sediar a
fundamental função de conter as representações de palavra, conforme foi conceituado por
Freud, 1915.
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Professor Universitário, Psicanalista, Doutorando em Psicologia, Mestre em Educação (Pesquisa em
Formação Psicanalítica e Educação). Coordenador do Núcleo de Formação de Psicanalistas e Mestres em
Psicanálise. Co-coordenador da Clínica Social de Psicanálise – Instituto GAIO. Contato:
consultoriodr.aeuzebio@gmail.com ou Instagram: https://www.instagram.com/aeuzebio.psi
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O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Por herança genética,
existem pulsões, acrescidas das respectivas energias e “protofantasias”, como Freud denominava
as possíveis fantasias atávicas que também são conhecidas por “fantasias primitivas, primárias ou
originais”.
As pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de repressão secundária. Uma
função que opera no sistema inconsciente e que representa uma importante repercussão na
prática clínica é que ela contém as representações da coisa. Portanto, numa época em que as
representações ficaram impressas na mente quando ainda não havia palavras para nomeá-las.
Funcionalmente, o sistema inconsciente opera segundo as leis do processo primário e, além das
pulsões do id, tem também muitas funções do ego, bem como do superego.
É constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-
consciente-consciente pela ação do recalque originário e recalque a posteriori. Freud acentuou
desde o início que o sujeito modifica a posteriori os acontecimentos passados e que essa
modificação lhes confere um sentido e mesmo uma eficácia ou um poder patogênico.
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A abreviatura Ics (Ubw do alemão Unbewusste) designa o inconsciente sob a sua forma
substantiva como sistema; ics (ubw) é a abreviatura do adjetivo inconsciente (unbewusst)
enquanto qualifica em sentido estrito os conteúdos do referido sistema. No quadro da segunda
tópica freudiana, o termo inconsciente é usado, sobretudo na sua forma adjetiva; efetivamente,
inconsciente deixa de ser o que é próprio de uma instância especial, visto que qualifica o id e, em
parte, o ego e o superego.
NOTA IMPORTANTE: Mas convém notar que as características atribuídas ao sistema Ics na
primeira tópica são de um modo geral atribuídas ao Id na segunda. A diferença entre o pré-
consciente e o inconsciente, embora já não esteja baseada numa distinção intersistêmica,
persiste como distinção intrasistêmica (o ego o superego são em parte pré-conscientes e em
parte inconscientes).
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CONCEITUANDO O CONSCIENTE (cs)
Do ponto de vista econômico, caracteriza-se pelo fato de dispor de uma energia livremente
móvel, suscetível do sobre investir este ou aquele elemento (mecanismo da atenção). A
consciência desempenha um papel importante na dinâmica do conflito (evitação consciente do
desagradável, regulação mais discriminadora do princípio de prazer) e do tratamento (função e
limite da tomada de consciência), mas não pode ser definida como um dos polos em jogo no
conflito defensivo.
Uma vez recusada a identificação do psiquismo com o consciente, restava a Freud investigar em
que condições precisas o psiquismo vem a adquirir essa propriedade de ser consciente. A questão
podia ser formulada então em dois terrenos. Seja um terreno reflexivo, numa determinação
conceitual mais ou menos tributária da tradição; seja a partir do saber acumulado pela
psicanálise. O primeiro desses pontos de vista é demonstrado na época da correspondência com
Fliess, quando Freud recorre a Lipps. De fato, no tempo do “Projeto para uma psicologia
científica”, Freud se distanciará de Lipps na medida em que falará de deslocamentos de energia
psíquica ao longo de certas vias associativas e da persistência de traços quase indeléveis.
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SEGUNDA TÓPICA
INTRODUÇÃO
A representação “tópica” exposta no capítulo VII de “A interpretação dos sonhos” fixa a ordem
de coexistência das diferentes regiões do aparelho psíquico, entre cujas extremidades – sensível
e motora – se desenrolam os processos. No entanto, em nota introduzida numa edição posterior,
Freud ressalta a insuficiência do esquema anteriormente construído. “O desenvolvimento
posterior deste esquema desdobrado linearmente”, escreve ele então, “deverá levar em conta
esta suposição de que o sistema que sucede ao pré-consciente é aquele a que devemos atribuir
a consciência”.
A primeira tópica foi inspirada pela análise do sonho e da histeria, será sucedida, após 1920, por
uma segunda tópica, elaborada em resposta aos problemas da psicose, que abrange o id, o ego,
e o superego.
Da primeira, Freud dizia que tinha um valor descritivo, ao passo que na segunda reconhecemos
um valor sistemático. “Daremos o nome de inconsciente”, escrevia ele em 1900, “ao sistema
situado mais atrás; ele não poderia ter acesso à consciência, a não ser passando pelo pré-
consciente, e durante essa passagem o processo de excitação deverá se submeter a certas
modificações”.
Insatisfeito com o “modelo topográfico”, porquanto esse não conseguia explicar muitos
fenômenos psíquicos, em especial aqueles que emergiam na prática clínica, Freud vinha
gradativamente elaborando uma nova concepção, até que, em 1920, mais precisamente a partir
do importante trabalho metapsicológico “Além do princípio do prazer,” ele estabeleceu de forma
definitiva a sua clássica concepção do aparelho psíquico, conhecido como modelo estrutural (ou
dinâmico), tendo em vista que a palavra “estrutura” significa um conjunto de elementos que
separadamente tem funções específicas, porém que são indissociados entre si, interagem
permanentemente e influenciam-se reciprocamente. Ou seja, diferentemente da Primeira
Tópica, que sugere uma passividade, a Segunda Tópica é eminentemente ativa, dinâmica. Essa
concepção estruturalista ficou cristalizada em “O ego e o id” de 1923 e consiste em uma divisão
tripartite da mente em três instâncias: o id, o ego e o superego.
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CONCEITUANDO “EGO” OU “EU”
Retomado por Sigmund Freud, esse termo designou, num primeiro momento, a sede da
consciência. O ego (eu) foi então delimitado num sistema chamado primeira tópica, que abrangia
o consciente, o pré-consciente e inconsciente.
A partir de 1920, o termo mudou de estatuto, sendo conceituado por Freud como uma instância
psíquica, no contexto de uma segunda tópica que abrangia outras duas instâncias: o superego e
o id. O ego tornou-se então, em grande parte, inconsciente. Essa segunda tópica (id, ego,
superego) deu origem a três leituras divergentes da doutrina freudiana:
Separei então alguns pontos de vista (tópico, econômico e dinâmico) para conceituação do
Ego.
1. Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com as
reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e exigências da
realidade. Embora se situe como mediador, encarregado dos interesses da totalidade da
pessoa, a sua autonomia é apenas relativa.
2. Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no conflito neurótico, o
polo defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes
motivados pela percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia).
3. Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de ligação dos processos
psíquicos; mas, nas operações defensivas, as tentativas de ligação da energia pulsional
são contaminadas pelas características que especificam o processo primário: assumem
um aspecto compulsivo, repetitivo, desreal ou no-real ou desqualificando a posição de
real .
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A teoria psicanalítica procura explicar a gênese do ego em dois registros relativamente
heterogêneos, quer vendo nele um aparelho adaptativo, diferenciado a partir do id em contato
com a realidade exterior, quer definindo-o como o produto de identificações que levam à
formação no seio da pessoa de um objeto de amor investido pelo id. Relativamente à primeira
teoria do aparelho psíquico, o ego é mais vasto do que o sistema pré-consciente-consciente, na
medida em que as suas operações defensivas são em grande parte inconscientes.
Freud descreveu o ego como uma parte do id, que por influência do mundo exterior, ter-se-ia
diferenciado. No id reina o princípio de prazer. Ora, o ser humano é um animal social e, se quiser
viver com seus congêneres, não pode se instalar nessa espécie de nirvana, que é o princípio de
prazer, ponto de menor tensão, assim como lhe é impossível deixar que as pulsões se exprimam
em estado puro. De fato, o mundo exterior impõe à criança pequenas proibições que provocam
o recalcamento e a transformação das pulsões, na busca de uma satisfação substitutiva que irá
provocar no eu, por sua vez, um sentimento de desprazer. O princípio de realidade substitui o
princípio de prazer. O Eu se apresenta como uma espécie de tampão entre os conflitos e
clivagens do aparelho psíquico, ao mesmo tempo que tenta desempenhar o papel de uma espécie
de para-excitação, em face das agressões do mundo exterior.
Este foi um termo introduzido por Georg Groddeck em 1923 e conceituado por Sigmund Freud
no mesmo ano, a partir do pronome alemão neutro da terceira pessoa do singular (Es), para
designar uma das três instâncias da segunda tópica freudiana, ao lado do ego (eu) e do superego
(supereu).
Uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria do aparelho psíquico. O id
constitui o polo pulsional da personalidade. Os seus conteúdos, expressão psíquica das pulsões,
são inconscientes, por um lado hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos. Do
ponto de vista “econômico”, o id é, para Freud, o reservatório inicial da energia psíquica. Do
ponto de vista “dinâmico”, ele abriga e interage com as funções do ego e com os objetos, tanto
os da realidade exterior, como aqueles que, introjetados, estão habitando o superego, com os
quis quase sempre entra em conflito, porém, não raramente, o id estabelece alguma forma de
aliança e conluio com o superego. Do ponto de vista “genérico”, são as suas diferenciações. Do
ponto de vista “funcional”, ele é regido pelo princípio do prazer; logo pelo processo primário. Do
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ponto de vista “topográfico”, o inconsciente, como instância psíquica, virtualmente coincide com
o id, o qual é considerado o polo psicobiológico da personalidade, fundamentalmente constituído
pelas pulsões.
CONCEITUANDO O SUPEREGO
Começamos essa conceituação afirmando que é o superego é uma parte herdeira do complexo
do Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. É algo além
do ego que fica sempre te censurando e dizendo: Isso não está certo, não faça aquilo,
não faça isso, ou seja, aquela que dó i quando prejudicamos alguém. Podemos dizer que é
o nosso "freio". Muitas vezes em sua origem o conceito de superego confunde-se com a
consciência.
Em “Atos Obsessivos e Práticas Religiosas” (1907), Freud menciona pela primeira vez o
aparecimento de uma consciência especial, que surge devido ao recalcamento de ideias sexuais
consideradas incompatíveis com a consciência. A neurose obsessiva e a religião com seus ritos,
proibições e evitações são formas exemplares de como o recalque representa uma defesa do ego
contra as pulsões sexuais. A consciência especial, uma censura inconsciente, é exemplificada
pelos atos cerimoniais aparentemente sem sentido da neurose obsessiva, pois as compulsões
carentes de sentido testemunham seu significado inconsciente. A pulsão recalcada, fazendo
censura sobre as pulsões sexuais, ameaça a consciência especial com uma pressão constante,
sentida pelo ego como uma tentação que induz a uma ansiedade expectante cuja consequência
é o aparecimento do sentimento inconsciente de culpa.
O superego é constituído pelo precipitado de introjeções e identificações que a criança faz com
aspectos parciais dos pais, com as proibições, exigências, ameaças, mandamentos, padrões de
conduta e o tipo de relacionamento desses pais entre si. (Zimerman, 1999).
REFERÊNCIAS