Você está na página 1de 38

FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE I (SIGMUND FREUD)

1
SUMÁRIO

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 1

Biografia de Sigmund Freud ................................................................. 4


Vida pessoal ..................................................................................... 6

Freud e a psicanálise ......................................................................... 11


Os níveis da consciência ou modelo topológico da mente (1ª Tópica)
.................................................................................................................. 20

Os mecanismos de defesa ............................................................. 23

A fase oral ...................................................................................... 25

A fase fálica .................................................................................... 27

A fase genital .................................................................................. 30

Teoria Topográfica ............................................................................. 31


Conceituações sobre o Narcisismo .................................................... 33
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 35

1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história, inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a instituição, como entidade
oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

2
Introdução

Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que alterou,


radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Sua contribuição é comparável
à de Karl Marx na compreensão dos processos históricos e sociais. Freud ousou
colocar os “processos misteriosos” do psiquismo, suas “regiões obscuras”, isto
é, as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como
problemas científicos. A investigação sistemática desses problemas levou Freud
à criação da Psicanálise.

O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método


de investigação e a uma prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por
um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida
psíquica. Freud publicou uma extensa obra, durante toda a sua vida, relatando
suas descobertas e formulando leis gerais sobre a estrutura e o funcionamento
da psique humana.

A Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo


método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto por
meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os sonhos, os
delírios, as associações livres, os atos falhos.

3
A prática profissional refere-se à forma de tratamento — a Análise — que
busca o autoconhecimento ou a cura, que ocorre através desse
autoconhecimento. Atualmente, o exercício da Psicanálise ocorre de muitas
outras formas. Ou seja, é usada como base para psicoterapias, aconselhamento,
orientação; é aplicada no trabalho com grupos, instituições. A Psicanálise
também é um instrumento importante para a análise e compreensão de
fenômenos sociais relevantes: as novas formas de sofrimento psíquico, o
excesso de individualismo no mundo contemporâneo, a exacerbação da
violência etc.

Compreender a Psicanálise significa percorrer novamente o trajeto


pessoal de Freud, desde a origem dessa ciência e durante grande parte de seu
desenvolvimento. A relação entre autor e obra torna-se mais significativa quando
descobrimos que grande parte de sua produção foi baseada em experiências
pessoais, transcritas com rigor em várias de suas obras, como A interpretação
dos sonhos e A psicopatologia da vida cotidiana, dentre outras. Compreender a
Psicanálise significa, também, percorrer, no nível pessoal, a experiência
inaugural de Freud e buscar “descobrir” as regiões obscuras da vida psíquica,
vencendo as resistências interiores.

Biografia de Sigmund Freud

Sigmund Freud nasceu na cidade de Freiburg in Mähren, no dia 6 de maio


de 1856. A cidade em que Freud nasceu fazia parte do Império Austríaco (futuro
Império Austro-Húngaro) e hoje se chama Příbor e faz parte do território da
Tchéquia. O nome original de Freud era Sigismund Schlomo Freud (mudou seu
nome para Sigmund em 1878).

Freud foi o primeiro de oito filhos do casal de judeus formado por Jakob
Freud e Amalia Nathansohn. Os outros filhos do casal, e irmãos de Freud,
chamavam-se Julius, Anna, Regine, Marie, Esther, Pauline e Alexander. Quando
ainda era uma criança pequena, os pais de Freud decidiram mudar-se para
Viena, local onde Freud passou quase toda a sua vida.

4
Durante sua fase escolar, Freud ficou conhecido por ser um bom
estudante, possuía boas notas, lia muito e tinha enorme facilidade para aprender
idiomas. Os biógrafos de Freud falam que ele tinha ótimo desempenho em
idiomas como francês, inglês, latim e grego, por exemplo. Em 1873, Freud
concluiu o ensino médio e, com 17 anos, ingressou na Universidade de Viena.

Início da carreira profissional

Na Universidade de Viena, Freud estudava medicina e, a princípio,


interessou-se pela bacteriologia. Tempos depois, Freud envolveu-se com
pesquisas no laboratório de neurofisiologia, dedicando-se à dissecação de
enguias macho para estudar o seu sistema reprodutivo. Depois se dedicou a
estudos que faziam a comparação da estrutura do cérebro humano com a de
outros animais.

Em 1881, depois de quase nove anos de graduação, Freud conseguiu


formar-se em medicina e, naquele ano, conseguiu um emprego no Hospital Geral
de Viena. Freud continuou realizando suas pesquisas, que eram focadas no
campo da neurologia, e logo começou a realizar palestras nessa área do
conhecimento da medicina.

O interesse de Freud voltava-se para as doenças psíquicas – chamadas


na época de histeria. Freud considerava os tratamentos da época inadequados,
pois associavam essas doenças a transtornos físicos.

Um dos primeiros experimentos de Freud foi procurar tratar dores de


cabeça e ansiedade por meio do uso de cocaína. Nessa época, drogas como
cocaína e metanfetamina não eram proibidas e eram usadas
indiscriminadamente por muitos. Freud chegou, inclusive, a autoadministrar
cocaína como parte do seu experimento.

Inicialmente, ele acreditava que a cocaína era um meio eficaz de combater


a ansiedade, mas acabou abandonando esse tratamento quando passou a ter
conhecimento das consequências do uso dessa substância. Outro estudo
promovido por Freud nessa fase de sua vida está relacionado com a afasia,

5
distúrbio neurológico em que a pessoa tem grande dificuldade com a formulação
e compreensão da linguagem.

Em 1885, Freud foi a Paris para realizar estudos com Jean-Martin


Charcot, um importante neurologista da época. Charcot era conhecido por tratar
os seus pacientes por meio da hipnose. O que Freud aprendeu com Charcot teve
enorme peso para que ele formulasse suas teorias anos depois.

Vida pessoal

Em 1882, Freud conheceu Martha Bernays, amiga de uma de suas irmãs.


Pouco tempo depois, iniciaram um relacionamento e, com dois meses de
namoro, ficaram noivos. Em 1886, Freud e Martha casaram-se e, ao longo de
sua vida, tiveram seis filhos: Mathilde, Jean-Martin, Oliver, Ernst, Sophie e Anna.
Dois filhos de Freud, Ernst e Anna, tiveram grande sucesso em suas carreiras
profissionais. O primeiro foi arquiteto, e a segunda seguiu os passos do pai e
tornou-se psicanalista.

6
Problemas com o nazismo

Com a ascensão do nazismo, na década de 1930, Freud começou a


enfrentar alguns problemas. Em 1933, alguns dos seus livros foram queimados
pelos nazistas na Alemanha. Isso aconteceu por conta do antissemitismo do
nazismo, que associava as ideias de Freud à decadência do “mundo moderno”.
Por conta dessa ocasião, Freud escreveu ironicamente para um amigo dizendo:
“Que progresso estamos fazendo! Na Idade Média, teriam me queimado na
fogueira. Agora eles se contentam em queimar meus livros”

Em 1938, Freud foi obrigado a fugir da Áustria, por conta do Anschluss,


nome como ficou conhecida a anexação da Áustria à Alemanha Nazista. Como
era judeu, Freud acabou tendo que se mudar para Londres, na Inglaterra, local
onde faleceu pouco mais de um ano depois.

A princípio, Freud estava relutante da ideia de se mudar de Viena, mas se


convenceu da necessidade de abandonar a Áustria depois que sua filha, Anna
Freud, foi presa temporariamente pela Gestapo, a polícia política do nazismo.
Tempos depois, quatro das irmãs de Freud foram mortas em campos de
concentração.

Morte

Durante sua juventude, Freud adquiriu o hábito de fumar – primeiro


cigarros, depois, charutos. Esse hábito acabou fazendo com que Freud
adquirisse câncer de boca na década de 1920. Freud passou por mais de 30
intervenções cirúrgicas no combate à doença e acabou tendo que retirar parte
de sua mandíbula, passando a viver nos seus últimos anos com uma prótese.

O câncer na boca de Freud passou a causar-lhe dores intensas. Por essa


razão, convenceu seu amigo, Max Schur, a aplicar-lhe doses excessivas de
morfina, que o levaram à morte em 23 de setembro de 1939. As casas em que
Freud viveu em Freiberg in Mähren, Viena e Londres foram transformadas em
museus em homenagem ao seu legado.

7
Teorias de Freud

Ao longo de sua carreira, Freud ficou conhecido por formular inúmeras


teorias que influenciaram de maneira considerável o campo da psicologia.
Vejamos algumas delas:

Complexo de Édipo

Freud continuou a dedicar-se ao estudo da mente humana e passou a se


autoanalisar. Aplicando a psicanálise sobre si mesmo, ele conseguiu acessar
memórias da sua infância, e essa autoanálise lhe permitiu formular a teoria do
Complexo de Édipo. Freud realizou essa autoanálise após associar pesadelos e
períodos depressivos que enfrentou com a morte de seu pai.

No Complexo de Édipo, Freud argumentou que crianças do sexo


masculino passam por uma fase em que se apaixonam pela sua mãe e, por isso,
criam sentimentos hostis em relação a seus pais. Tempos depois, Carl Jung,
famoso psicanalista influenciado por Freud, teorizou que isso também acontecia
na relação de filhas com seus pais, o que ficou conhecido como Complexo de
Electra.

Freud também teorizou que, durante o Complexo de Édipo, o desejo


sexual surge nas crianças e essa experiência se dá por meio de diferentes
sintomas em meninos e meninas. Os meninos, segundo Freud, experimentam o
“complexo da castração”, e as meninas experimentam a “inveja do pênis”. Essas
teorias de Freud foram, posteriormente, bastante criticadas por outros
psicanalistas.

8
Outras teorias

Ao longo de sua carreira, Freud teorizou ideias a respeito da interpretação


dos sonhos e do papel destes em retratar desejos que são reprimidos na mente
humana ou memórias recentes que estão bloqueadas no inconsciente. A
respeito do inconsciente, disse que a mente humana funciona como um iceberg,
em que parte dos pensamentos é perceptível, e a outra parte, não.

Com base nessa metáfora, formulou os conceitos de id, ego e superego.


O id é o local da mente onde ficam os nossos impulsos e instintos. O ego é a
parte lógica e racional da psique e é responsável pela tomada de decisões. O
superego, por sua vez, é a parte da psique responsável pela repressão aos
impulsos que são contrários às normas sociais.

Obras

Ao longo de sua carreira como psicanalista, Freud escreveu uma série de


livros que são hoje um grande legado de sua obra. Dentre os livros escritos por
Freud, podem ser destacados:

 A interpretação dos sonhos (1900);


 Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901);
 Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905);
 Cinco lições de psicanálise (1910);
 Além do princípio do prazer (1920);
 O futuro de uma ilusão (1927);
 O mal-estar na civilização (1930).

Depois de ter contato com a hipnose como forma de tratamento, Freud


procurou utilizá-la em seus pacientes. Isso aconteceu depois de ter aberto um
consultório em Viena para tratar de “doenças nervosas”. O contato com a
hipnose levou Freud a concluir, tempos depois, que as doenças mentais eram,
de fato, causadas por distúrbios em uma parte que ele chamou de inconsciente.

9
Freud passou a defender a ideia de que a forma de tratar essas doenças
deveria acontecer por meio das palavras. Inicialmente, Freud hipnotizava seus
pacientes e os incentivava a falar sobre todos os seus traumas. Esse
procedimento ficou conhecido como “cura pela palavra” e foi resultado da
influência de um neurologista chamado Josef Breuer.

Breuer era um dos mais importantes neurologistas de Viena, e o relato


dele a respeito de uma de suas pacientes teve grande impacto em Freud. Essa
paciente, que sofria de depressão, era Bertha Pappenheim, também conhecida
como Anna O. Breuer hipnotizava sua paciente e a orientava a falar sobre os
seus sintomas e traumas, tendo como resultado a melhora do quadro de Anna
O.

Após esse caso, Freud passou a aplicar a “cura pela palavra” em seus
próprios pacientes. Ele os incentivava a falar sobre os traumas e anotava tudo o
que era dito pelos seus pacientes. Com o tempo, começou a identificar que a
parte consciente da mente humana não tinha acesso a todas as lembranças e
grande parte dos pensamentos ficava reprimida no “inconsciente”. Assim, o
tratamento por meio da psicanálise só seria de fato eficaz se fosse possível
acessar os pensamentos e traumas do inconsciente, levando-os para a
consciência do paciente.

Os atendimentos realizados por Freud aconteciam em um apartamento


localizado no mesmo prédio (Berggasse 19) que ficava sua casa. Freud colocava
seus pacientes em um sofá (chamado de divã), em uma posição em que não
havia contato visual com os pacientes. Os resultados foram mostrando-se
satisfatórios, e Freud começou a ganhar popularidade. Esses resultados foram
importantes porque conseguiram provar a teoria de Freud a respeito da
existência do inconsciente na mente humana.

10
Freud e a psicanálise

Em Cinco lições de psicanálise (1910a/1996), Freud relata a história de


um movimento que se afastou no devido tempo e necessidade do saber médico
que, então, se ocupava do tratamento dos distúrbios emocionais, tomando o que
ele chama de rota absolutamente original (FREUD, 1910a/1996, p. 14). A partir
dessa rota, interessou-se por tais distúrbios, apesar do desconhecimento e do
desamparo que eles evocavam: “[...] diante da histeria, o médico não sabe, do
mesmo modo, o que fazer” (FREUD, 1910a/1996, p. 15). Através destas
palavras, Freud chama a histeria de transgressora da ciência médica, já que
encarna em si o desamparo e algumas das impossibilidades dos tratamentos
então empregados.

Ao relatar a história do que se configurou como a pré-psicanálise, a partir


do tratamento empreendido por Breuer com Anna O, é deveras interessante
quando ele afirma a não pretensão de Breuer em curar a paciente e, mesmo
assim, acompanhá-la diariamente em seu sofrimento, não medindo esforços na
busca pela origem de seus sintomas. Nessa busca incessante, e através do
emprego da hipnose como método neste momento pré-psicanalítico, as
conclusões a que chegaram os dois pesquisadores é de que tal origem tem a
ver com as reminiscências, restos simbólicos de experiências carregadas de
carga afetiva. Assim, se há um sintoma, há um desconhecimento em sua causa:
um não saber.

Freud (1910a/1996, p. 24) prossegue dizendo que os doentes sabiam de


que se tratavam tais reminiscências e, uma vez abandonado o método hipnótico,
só precisavam dizer, descoberta que fez quando Anna O. começou a chamar o
método adotado de ‘limpeza de chaminé’:

A esta força que detinha os desejos violentos do paciente, Freud


(1910a/1996) deu o nome de recalque, mas em Estudos sobre a histeria

11
(1895/1996) a chamara de processos defensivos. Tais processos seriam
incapazes, no entanto, de aniquilar os desejos violentos, e seu substituto (o
sintoma), bem como a ideia recalcada, também traria consigo um tipo de
sofrimento quando lançado à consciência. Assim, Freud conclui que a
psicanálise desvendaria o trajeto de trás para frente, reconduzindo o sintoma
para a ideia recalcada (FREUD, 1910a/1996, p. 28).

Desse modo, para a psicanálise existem conteúdos escondidos, não


sabidos, na vida mental do indivíduo. Esses conteúdos podem aparecer através
da livre associação, método que desenvolveu em substituição à hipnose e que
possibilitou a mudança do momento pré-psicanalítico para a psicanálise
propriamente dita. Em Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise,
de 1912, Freud atribui à livre associação a função de preceito único do qual parte
a técnica psicanalítica. Neste texto, ele também afirma que se deixar abandonar
à memória inconsciente não é tarefa apenas do paciente, mas do analista,
situando aí a implicação daquele que se propõe a esta práxis, contrapartida
essencial ao início de toda análise. Afinal, a comunicação que ocorre entre o
inconsciente do analista e do analisante permite a reconstrução das associações
livres em conteúdos significantes.

Isso só é possível, diz Freud no texto já referido, quando o analista não


está sujeito às próprias resistências, ou ao menos, não se encontra por elas
dominado. Através destas palavras podemos conceber a importância e a
preocupação de Freud com a formação do analista, formação essa que
começaria com a análise pessoal, somente a qual poderia preparar alguém para
superar as próprias resistências, de modo a não permitir que elas interferissem
no processo analítico. Denota, então, ser a formação do analista algo que
principia a partir de uma experiência, a experiência analisante. Do contrário
poderá selecionar e deformar os conteúdos apresentados, tanto através das
associações do paciente, como também a partir dos sonhos, dos chistes e dos
atos falhos que ele pode vir a manifestar. E o analista, para Freud (1910a/1996,
p. 36), retomando as Cinco Lições, seria alguém com “[...] rigorosa fé no
determinismo da vida mental [...]”, cujos conteúdos não se manifestam de forma
arbitrária, mas estão agrupados de modo a dizerem algo sobre o sujeito: esse
algo desconhecido.

12
As palavras de Freud nos conduzem a pensar a análise a partir daquele
que analisa porque ele define a importância que adquire, para ser possível
sustentar essa posição, uma fé que apenas nasce porque se vivenciou estes que
buscamos, os conceitos fundamentais à psicanálise, enquanto experiência que
apenas uma análise possibilita. Do contrário, a fé na psicanálise não seria em
nada diversa da fé religiosa. Tratar-se-ia, desse modo, de um dogma, diante do
qual as argumentações mais racionais apenas resvalariam.

A necessidade para o analista desta rigorosa fé no determinismo da vida


mental pode ser reconhecida em muitos outros textos em que Freud faz menção
à técnica da psicanálise. Um deles é Análise terminável e interminável
(1937a/1996), em que o autor discute os possíveis resultados de um tratamento
mais breve e profilático. É na sétima parte deste artigo que ele afirma:

Pensar a individualidade do analista, conforme pontuado no trecho acima,


remete-nos imediatamente àquilo que em Recomendações aos médicos que
exercem a psicanálise (1912a/1996), Freud chama de a contrapartida do analista
ao preceito único do qual parte a psicanálise – a associação livre. Quando
deitamos nossa atenção para o que seria isso que o autor chama de
‘individualidade do analista’, pensamos de que maneira poderia essa
individualidade influenciar num processo que, a priori, não existe na forma de
uma relação dual. Assim, o eu do analista, não poderia influenciar nenhum
aspecto, uma vez que todo aquele que se voltaria à escuta analítica não se
deixaria influenciar pelas próprias questões e dificuldades.

No entanto, quando pensamos dessa maneira, estamos nós, como


também fazem os opositores da análise, orgulhando-nos dos atributos da nossa
consciência, e assim, desconsideraríamos que existe uma força que não está
exatamente sob o controle do que o eu considera apropriado ou inapropriado.
Se a individualidade do analista pode apresentar-se como um dos fatores que
oferece resistência ao tratamento, isso apenas é possível por um

13
posicionamento que, dominado por ideais, não está pronto para assumir a
mudança radical que implica a abertura do inconsciente.

Freud, ainda em Análise terminável e interminável (1937a/1996)


prossegue dizendo que “[...] o relacionamento analítico se baseia no amor à
verdade – isto é, no reconhecimento da realidade – e que inclui qualquer tipo de
impostura ou engano” (FREUD, 1937a/1996, p. 265). A partir dessas palavras,
Freud situa a psicanálise como a terceira das profissões impossíveis, junto com
governar e educar. A impossibilidade da psicanálise sustenta-se no fato de que
esta nunca se realizará de forma total, concluída e fechada, nunca se faz toda,
portanto. De tal modo que ocupar este lugar implica deparar-se com uma tarefa
que jamais é completada, ou seja, continuamente encarar o aspecto interminável
que toda análise encerra. Há, portanto, sempre um resto, e esse resto faz parte
da verdade que é a verdade do inconsciente, de modo que um analista qualifica-
se especialmente a partir de sua análise pessoal, somente esta poderá lhe
possibilitar

Nota-se que esta frase retirada de Análise terminável e interminável


(1937a/1996) faz eco àquela proveniente de Cinco lições de psicanálise
(1910a/1996), sobre a necessidade de o analista possuir uma “[...] rigorosa fé no
determinismo da vida mental” (FREUD, 1910a/1996, p. 36). Fé que, sem dúvida,
animou Freud a permanecer no intento de tornar a psicanálise um método de
investigação do inconsciente e uma prática clínica. Não obstante, certamente
houve obstáculos ao caminho da psicanálise quando admitiu como objeto de
estudo o campo que abarca o inconsciente. Apesar dos percalços, Freud
construiu o percurso da psicanálise, concluindo que:

14
O primeiro obstáculo certamente apresenta-se a partir do desafio
representado pela tentativa de ir além da hipnose, dificuldade que começa a se
tornar presente na obra através do que identificamos como sendo o papel da
transferência enquanto veículo da ação terapêutica. Freud começa a perceber a
importância deste veículo já em Estudos sobre a histeria, quando se dedica às
dificuldades que a hipnose encarnava. O método de Breuer não era efetivo com
todos os pacientes, o que não só levou Freud a uma alteração da técnica como
do que ele chama de ‘visão dos fatos’ (FREUD, 1895[1893] /1996, p. 272).
Assim, Freud começa a questionar-se e “[...] a tomar uma posição quanto à
questão do que, afinal, caracteriza essencialmente a histeria e do que a distingue
das outras neuroses” (idem). Assim, a partir do momento em que começa a
investigar a base sexual das neuroses, Freud toma uma posição a partir da qual
se tornou impossível continuar o percurso da psicanálise ao lado de Breuer.

O momento de reflexão que encarna este capítulo dos estudos é bastante


interessante. Freud exprime uma a uma as dúvidas e razões que o levaram a
concluir que o método de Breuer não poderia ir além, já que “[...] não consegue
afetar as causas subjacentes da histeria, assim, não consegue impedir que
novos sintomas tomem o lugar daqueles que foram eliminados” (FREUD,
1895[1893]/1996, p. 277).

Quando Freud afirma que a hipnose não podia ir além, ou seja, não podia
chegar às causas da histeria, essa insatisfação demarca a virada de
posicionamento que foi imprescindível para a transição entre esse momento pré-
psicanalítico e o que se seguiu a ele. A virada aconteceu porque Freud notou
que, em alguns pacientes, o método catártico não eliminava nem mesmo os
sintomas que já se notavam, causadores de sofrimento. Essa inacessibilidade,
Freud atribui às próprias características dos pacientes, admitindo que nem todos
eram sugestionáveis e que isso só poderia dizer respeito às peculiaridades da

15
neurose, aquelas que ele veio a empreender tanto esforço em descobrir a razão
de ser. A inacessibilidade não tira o valor do método hipnótico, mas impõe-lhe
limites: “[...] um médico não pode atribuir- se a tarefa de alterar uma constituição
como a da histérica” (FREUD, 1895[1893]/1996, p. 278).

A citação acima demarca um entre tantos momentos de Psicoterapia da


histeria em que Freud demonstra, à medida que o texto se constrói, que muitas
reflexões acerca da posição do médico já vinham sendo por ele feitas. Mesmo
tendo a medicina como base de formação, e mesmo neste momento ainda
demonstrando sofrer forte influência dos ideais científicos médicos, o que Freud
apresentava ia além da compreensão complacente e buscou atingir níveis
profundos que, no decorrer do desenvolvimento da teoria, ele percebeu que
existiam. Trata-se dos níveis inconscientes, daqueles conteúdos que precisam
ultrapassar alguns obstáculos para que, só então, possam ser lançados à mão.

Freud situa a ‘fé’ no determinismo da vida mental como um quesito sine


qua non ao psicanalista. Não foi sem dificuldades que Freud adentrou as
profundezas que abarcam o campo do inconsciente com vistas a tornar a
psicanálise um método e uma prática clínica. Em Dois verbetes de enciclopédia
(1923a[1922]/1996), Freud aponta:

A partir do trecho acima, vemos Freud nos apresentar seu posicionamento


quanto aos conceitos que considera fundamentais. À medida que avançarmos
em nossa discussão, outros momentos que Freud nos oferece serão
destacados, no sentido de possibilitar o acesso às definições acerca disso que
buscamos, ou seja, quais os aspectos da psicanálise considerados por Freud
como tendo sido fundantes deste campo. Esta citação destaca dois pontos que
serão discutidos no próximo capítulo como sendo bases sobre as quais repousa
o corpo teórico da psicanálise: a existência dos processos mentais inconscientes
e o reconhecimento da teoria do recalque. No entanto, é importante salientar

16
que, quando procuramos quais seriam os elementos da psicanálise que seriam
inegociáveis, o que buscamos não se trata de definições sentenciosas, mas de
compreender que conceitos articulam-se de forma indissociável da experiência
analítica, uma vez que é apenas através dela que a psicanálise pode se
sustentar.

Todos os pontos abordados por Freud no trecho acima podem ser


encontrados pela primeira vez em Estudos sobre a histeria (1895[1893]/1996),
momento em que ele salienta que uma das características essenciais da histeria
é que, nela, o eu encontra-se subjugado pelos sintomas. Diante desta situação,
ainda no mesmo texto, Freud lamenta a inexistência de uma terapia que chegue
à raiz dessa subjugação e, diante da dificuldade em continuar empregando o
método de Breuer, coloca a si mesmo a questão de ou desistir das pacientes
inacessíveis à técnica, ou ampliá-la e ir além dela. Momento que é, talvez, aquele
em que Freud começa a descolar-se do saber médico e pensar sobre a criação
de algo totalmente novo, que se constitui como a psicanálise. Esse
questionamento, que representa uma mudança de posição, interessa a esta
pesquisa: “Assim, eu era obrigado a desistir da idéia de tratar tais pacientes, ou
a me esforçar por promover essa ampliação de alguma outra forma” (FREUD,
1895[1893]/1996, p. 282). Que esforço é esse a que Freud se refere? O esforço
que realizou uma mudança da medicina para a psicanálise.

Mas o que parece importante a esta altura é que Freud já se refere neste
texto tão introdutório, tão precoce no que diz respeito ao desenvolvimento da
psicanálise, ao que se constituíram como pontos fundamentais à clínica
psicanalítica, os mesmos aos quais faz menção em Cinco lições de psicanálise
(1910a/1996) e em muitos outros textos bastante posteriores na obra e que
também serão apresentados adiante.

Em Psicoterapia da histeria (1895[1893] /1996), ele utiliza pela primeira


vez o termo transferência, ainda que não conceituado, e também nesse
momento tão inicial, faz as primeiras relações da transferência com a resistência
e o recalque. Freud se apercebe da resistência justamente por ter que insistir em
que as recordações dos pacientes viessem à tona, de modo que deveria haver
ali um obstáculo que teria alguma relação com a força inicial que originou o
sintoma, ou seja, o recalcamento:

17
E visto que essa insistência exigia esforços de minha parte, e assim
sugeria a idéia de que eu tinha que superar uma resistência, a situação conduziu-
me de imediato à teoria de que, por meio de meu trabalho psíquico, eu tinha de
superar uma força psíquica nos pacientes que se opunha a que as
representações patogênicas se tornassem conscientes (fossem lembradas).
Uma nova compreensão pareceu abrir-se ante meus olhos, quando me ocorreu
que esta sem dúvida deveria ser a mesma força psíquica que desempenhara um
papel na geração do sintoma histérico e que, na época, impedira que a
representação patogênica se tornasse consciente. Que espécie de força poder-
se-ia supor que estivesse em ação ali, e que motivo poderia tê-la posto em ação?
(FREUD, 1895[1893]/1996, p. 283)

A citação acima nos permite inferir se Freud, tão cedo no desenvolvimento


de sua teoria, ao afirmar que ele mesmo teria que realizar um trabalho psíquico
a fim de superar a resistência dos pacientes, já percebia aquilo que recomenda
nos artigos sobre a técnica, ou seja, a importância de ser o analista alguém
conhecedor das próprias resistências, caminho trilhado apenas a partir da
análise pessoal. Esta afirmação soa como mais um exemplo de uma mudança
de posicionamento, de uma queda do discurso médico, necessária à
possibilidade de assumir-se enquanto analista. Alguém que, por ter sabido de
suas angústias e resistências, encontra-se apto a enfrentar aquelas que se
apresentam, do lado do paciente, durante o tratamento, reconhecendo, também
pela própria experiência analítica, a natureza aflitiva de tais conteúdos, “[...]
capazes de despertar afetos de vergonha, autocensura, e dor psíquica [...]; eram
todas de uma espécie que a pessoa preferiria não ter experimentado, que
preferiria esquecer.” (FREUD, 1895[1893] /1996, p. 283).

A força psíquica é representada pela aversão por parte do eu, que tira tais
representações da cadeia de associação: “[...] o ‘não saber’ do paciente histérico
seria, de fato, um ‘não querer saber’ – um não querer que poderia, em maior ou
menor medida ser consciente” (FREUD, 1895[1893]/1996, p. 284). Foi a partir
deste não querer saber que se alicerçaram as bases da psicanálise a partir do
recalque, da resistência que resulta deste recalque e da transferência. Freud
afirma que as representações inconscientes estão disponíveis desde que seja
retirado um obstáculo, o que ele associa com a vontade do paciente, já que a

18
mudança exige muito trabalho (FREUD, 1895[1893]/1996, p. 292). O que Freud
denomina como vontade do sujeito e complementa falando sobre o que há de
trabalhoso em uma análise representa mais uma indicação que, já em 1895,
havia no autor um reconhecimento, uma presença de compreensão de que a
psicanálise não está para todos. Simultaneamente, quando nos apresenta a
análise como algo que exige trabalho, importante dizer que é um trabalho que o
paciente apenas pode realizar porque existe alguém pronto a receber seus
frutos.

Pode-se perceber que já existe, nesse momento do desenvolvimento da


psicanálise, o embrião de conceitos sem os quais ela não existiria: como a
crença no determinismo inconsciente e o recalcamento. Tais conceitos
desenvolveram-se largamente no decorrer da obra freudiana. Em seus textos
posteriores aos Estudos sobre a histeria, incluindo Cinco lições de psicanálise,
podemos ver como eles ganham estatuto de fundamentos para a teoria
psicanalítica e se configuram como parâmetros inegociáveis para seu campo.

Tais parâmetros se fazem presentes tanto nos textos técnicos como nos
metapsicológicos, e também naqueles que Freud destinou ao público leigo. Ver-
se- á, no último capítulo, que também nos textos em que Freud se volta às
aplicações da psicanálise ele estabelece, evidencia e denomina aquilo que
considera como fundamental à psicanálise.

Estrutura e dinâmica da personalidade

Freud imaginava a psique (ou aparelho psíquico) do ser humano como


um sistema de energia: cada pessoa é movida, segundo ele, por uma quantidade
limitada de energia psíquica. Isso significa, por um lado, que se grande parte da
energia for necessária para a realização de determinado objetivo (ex. expressão
artística) ela não estará disponível para outros objetivos (ex. sexualidade); por
outro lado, se a pessoa não puder dar vazão à sua energia por um canal (ex.
sexualidade), terá de fazê-lo por outro (ex. expressão artística).

19
Essa energia provém das pulsões (às vezes chamadas incorretamente de
instintos). Segundo o autor, o ser humano possui duas pulsões inatas, a de vida
(Eros) e a de morte.

Essas duas pulsões opõem-se ao ideal da sociedade e, por isso, precisam


ser controladas através da educação, considerando que a energia gerada pelas
pulsões não é liberada de maneira direta. O ser humano é, assim, sexual e
agressivo por natureza e a função da sociedade é amansar essas tendências
naturais do homem. A situação de não poder dar vazão a essa energia gera no
indivíduo um estado de tensão interna que necessita ser resolvido. Toda ação
do homem é motivada, assim, pela busca hedonista de dar vazão à energia
psíquica acumulada.

Os níveis da consciência ou modelo topológico da mente (1ª Tópica)

O ser humano, no entanto, não se dá conta de todo esse processo de


geração e liberação de energia. Para explicar esse fato, Freud descreve três
níveis de consciência:

 O consciente, que abarca todos os fenômenos que em determinado


momento podem ser percebidos de maneira consciente pelo indivíduo;
 O pré-consciente, refere-se aos fenômenos que não estão conscientes
em determinado momento, mas podem tornar-se, se o indivíduo desejar se
ocupar com eles;
 O inconsciente, que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são
conscientes e somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se. (O
termo subconsciente é muitas vezes usado como sinônimo, apesar de ter sido
abandonado pelo próprio Freud.)

Freud não foi o primeiro a propor que parte da vida psíquica se desenvolve
inconscientemente. Ele foi, no entanto, o primeiro a pesquisar profundamente
esse território. Segundo ele, os desejos e pensamentos humanos produzem
muitas vezes conteúdos que causariam medo ao indivíduo, se não fossem
armazenados no inconsciente. Este tem assim uma função importantíssima de

20
estabilização da vida consciente. Sua investigação levou-o a propor que o
inconsciente é alógico (e por isso aberto a contradições); atemporal e aespacial
(ou seja, conteúdos pertencentes a épocas ou espaços diferentes podem estar
próximas). Os sonhos são vistos como expressão simbólica dos conteúdos
inconscientes.

Através da compreensão do conceito de inconsciente torna-se clara a


compreensão da motivação na psicanálise clássica: muitos desejos, sentimentos
e motivos são inconscientes, por serem muito dolorosos para se tornarem
conscientes. No entanto esse conteúdo inconsciente influencia a experiência
consciente da pessoa, por exemplo, através de atos falhos, comportamentos
aparentemente irracionais, emoções inexplicáveis, medo, depressão,
sentimento de culpa. Assim, os sentimentos, sonhos, desejos e motivos
inconscientes influenciam e guiam o comportamento consciente.

Modelo estrutural da personalidade (2ª Tópica)

Freud desenvolveu mais tarde, (1923) um modelo estrutural da


personalidade, em que o aparelho psíquico se organiza em três estruturas:

21
 Id (em alemão: es, "ele, isso"): O id é a fonte da energia psíquica,
a libido. O id é formado pelas pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos
inconscientes. Ele funciona segundo o princípio do prazer (Lustprinzip), ou seja,
busca sempre o que produz prazer e evita o desprazer. Não faz planos, não
espera, busca uma solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e
não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade e uma satisfação na
fantasia pode ter o mesmo efeito de uma atingida través de uma ação. O id
desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo,
cego, irracional, antissocial e dirigido ao prazer. O id é completamente
inconsciente.
 Ego (ich, "eu"): O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo
de permitir que seus impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta o
mundo externo, por intermédio do chamado princípio da realidade. É esse
princípio que introduz a razão, o planejamento e a espera ao comportamento
humano. A satisfação das pulsões é retardada até o momento em que a
realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de
consequências negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização
inicialmente entre os desejos do id e a supervisão/realidade/repressão do
superego.
 Superego (Über-Ich, "super-eu", "além-do-eu"): É a parte moral da
mente humana e representa os valores da sociedade.

O superego tem três objetivos:

(1) reprimir, através de punição ou sentimento de culpa, qualquer impulso


contrário às regras e ideais por ele ditados;

(2) forçar o ego a se comportar de maneira moral, mesmo que irracional;


e,

(3) conduzir o indivíduo à perfeição, em gestos, pensamentos e palavras.


O superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de introjetar os
valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e afeição. Ele
pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não
apenas por ações praticadas, mas também por pensamentos inaceitáveis; outra
característica sua é o pensamento dualista (tudo ou nada, certo ou errado, sem

22
meio-termo). O superego divide-se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o
bem a ser procurado, e a consciência (Gewissen), que determina o mal a ser
evitado.

Os mecanismos de defesa

O ego está constantemente sob tensão, nas suas tentativas de


harmonizar os impulsos do id no mundo exterior e adequando-os à repressão do
superego. Quando essa tensão (normalmente sob a forma de medo) se torna
grande demais, ameaça a estabilidade do ego, que pode fazer uso dos
mecanismos de defesa ou ajustamentos. Estas são estratégias do ego para
diminuir o medo através de uma deformação da realidade - dessa forma o ego
exclui da consciência conteúdos indesejados. Os mecanismos de defesa
satisfazem os desejos do id apenas parcialmente, mas, para este, uma
satisfação parcial é melhor do que nenhuma.

Entre os mecanismos de defesa é preciso considerar, por um lado, os


mecanismos bastante elaborados para defender o eu (ego), e por outro lado, os
que estão simplesmente encarregados de defender a existência do narcisismo.
Freud (1937) diz que mecanismos defensivos falsificam a percepção interna do
sujeito fornecendo somente uma representação imperfeita e deformada.

Freud descreveu muitos mecanismos de defesa no decorrer da sua obra


e seu trabalho foi continuado por sua filha Anna Freud; os principais mecanismos
são:

 Repressão é o processo pelo qual se afastam da consciência


conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados
ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente; o que é
desagradável é, assim, esquecido;
 Formação reativa consiste em ostentar um procedimento e externar
sentimentos opostos aos impulsos verdadeiros, indesejados.
 Projeção consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o
sujeito não pode admitir como suas.

23
 Regressão consiste em a pessoa retornar a comportamentos
imaturos, característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou.
 Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido
de continuar. Uma parte da líbido permanece ligada a um determinado estágio
do desenvolvimento e não permite que a criança passe completamente para o
próximo estágio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a
probabilidade de uma regressão a um determinado estágio do desenvolvimento
aumenta se a pessoa desenvolveu uma fixação por este.
 Sublimação é a satisfação de um impulso inaceitável através de um
comportamento socialmente aceito.
 Identificação é o processo pelo qual um indivíduo assume uma
característica de outro. Uma forma especial de identificação é a identificação
com o agressor.
 Deslocamento é o processo pelo qual agressões ou outros
impulsos indesejáveis, não podendo ser direcionados à(s) pessoa(s) a que se
referem, são direcionadas a terceiros.

As fases do desenvolvimento psicossexual

Uma importante parte da teoria freudiana é dedicada ao desenvolvimento


da personalidade. Duas hipóteses caracterizam sua teoria:

Freud foi o primeiro a afirmar que os primeiros anos das vida são os mais
importantes para o desenvolvimento da pessoa e o desenvolvimento do
indivíduo se dá em fases ou estádios psico-sexuais. Freud foi, assim, o primeiro
autor a afirmar que as crianças também têm uma sexualidade.

Freud descreve quatro fases distintas, pelas quais a criança passa em seu
desenvolvimento. Cada uma dessas fases é definida pela região do corpo a que
as pulsões se direcionam. Em cada fase surgem novas necessidades que
exigem satisfação; a maneira como essas necessidades são satisfeitas
determina como a criança se relaciona com outras pessoas e quais sentimentos
ela tem para consigo mesma. A transição de uma fase para outra é
biologicamente determinada, de tal forma que uma nova fase pode iniciar sem

24
que os processos da fase anterior tenha se completado. As fases se seguem
umas às outras em uma ordem fixa e, apesar de uma fase se desenvolver a partir
da anterior, os processos desencadeados em uma fase nunca estão plenamente
completos e continuam agindo durante toda a vida da pessoa.

A fase oral

A primeira fase do desenvolvimento é a fase oral, que se estende desde


o nascimento até aproximadamente dois anos de vida. Nessa fase a criança
vivencia prazer e dor através da satisfação (ou frustração) de pulsões orais, ou
seja, pela boca. Essa satisfação se dá independente da satisfação da fome, mas
inicialmente por ela. Assim, para a criança sugar, mastigar, comer, morder,
cuspir etc. têm uma função ligada ao prazer, além de servirem à alimentação.

Ao ser confrontada com frustrações a criança é obrigada a desenvolver


mecanismos para lidar com tais frustrações. Esses mecanismos são a base da
futura personalidade da pessoa. Assim, uma satisfação insuficiente das pulsões
orais pode conduzir a uma tendência para ansiedade e pessimismo; já uma
excessiva satisfação pode levar, através de uma fixação nessa fase, a
dificuldades de aceitar novos objetos como fonte de prazer/dor em fases
posteriores, aumentando assim a probabilidade de uma regressão.

25
A fase oral se divide em duas fases menores, definidas pelo nascimento
dos dentes. Até então a criança se encontra em uma fase passiva-receptiva; com
os primeiros dentes a criança passa a uma fase sádica-ativa através da
possibilidade de morder. O principal objeto de ambas as fases, o seio materno,
se torna, assim, um objeto ambivalente. Essa ambivalência caracteriza a maior
parte dos relacionamentos humanos, tanto com pessoas como com objetos.

A fase oral apresenta, assim, cinco modos de funcionamento que podem


se desenvolver em características da personalidade adulta:

 O incorporar do alimento se mostra no adulto como um "incorporar"


de saber ou poder, ou ainda como a capacidade de se identificar com outras
pessoas ou de se integrar em grupos;
 O segurar o seio, não querendo se separar dele, se mostram
posteriormente como persistência e perseverança ou ainda como decisão;
 Morder é o protótipo da destrutividade, assim do sarcasmo, cinismo
e tirania;
 Cuspir se transforma em rejeição e
 O fechar a boca, impedindo a alimentação, conduz a rejeição,
negatividade ou introversão.
 O principal processo na fase oral é a criação da ligação entre mãe
e filho.

A fase anal

A segunda fase, segundo Freud, é a fase anal, que vai aproximadamente


do primeiro ao terceiro ano de vida. Nessa fase a satisfação das pulsões se dirige
ao ânus, ao controle da tensão intestinal. Nessa fase a criança tem de aprender
o controle dos esfincteres sobre o ato de defecar e, dessa forma, deve aprender
a lidar com a frustração do desejo de satisfazer suas necessidades
imediatamente.

Como na fase oral, também os mecanismos desenvolvidos nesta fase


influenciam o desenvolvimento da personalidade. O defecar imediato e

26
descontrolado é o protótipo dos ataques de raiva; já uma educação muito rígida
com relação à higiene pode conduzir tanto a uma tendência ao caos, aos
descuido, à bagunça quanto a uma tendência a uma organização compulsiva e
exageradamente controlada.

Se a mãe faz elogios demais ao fato de a criança conseguir esperar até o


banheiro, pode surgir uma ligação entre dar (as fezes) e receber amor, e a
pessoa pode desenvolver generosidade; se a mãe supervaloriza essas
necessidades biológicas, a criança pode se desenvolver criativa e produtiva ou,
pelo contrário, se tornar depressiva, caso ela não corresponda às expectativas;
crianças que se recusam a defecar podem se desenvolver como colecionadores,
coletores ou avaros.

A fase fálica

A fase fálica, que vai dos três aos cinco anos de vida, se caracteriza
segundo Freud pela importância da presença (ou, nas meninas, da ausência) do
falo ou pênis; nessa fase prazer e desprazer estão, assim, centrados na região
genital. As dificuldades dessa fase estão ligadas ao direcionamento da pulsão
sexual ou libidinosa ao genitor do sexo oposto e aos problemas resultantes. A
resolução desse conflito está relacionada ao complexo de Édipo e à identificação
com o genitor de mesmo sexo.

27
Freud desenvolveu sua teoria tendo sobretudo os meninos em vista, uma
vez que, para ele, estes vivenciariam o conflito da fase fálica de maneira mais
intensa e ameaçadora. Segundo Freud o menino deseja nessa fase ter a mãe
só para si e não partilhá-la mais com o pai; ao mesmo tempo ele teme que o pai
se vingue, castrando-o. A solução para esse conflito consiste na repressão tanto
do desejo libidinoso com relação à mãe como dos sentimentos agressivos para
com o pai; em um segundo momento realiza-se a identificação do menino com
seu pai, o que os aproxima e conduz, assim, a uma internalização por parte do
menino dos valores, convicções, interesses e posturas do pai.

O complexo de Édipo representa um importante passo na formação do


superego e na socialização dos meninos, uma vez que o menino aprende a
seguir os valores dos pais. Essa solução de compromisso permite que tanto o
ego (através da diminuição do medo) e o id (por o menino poder possuir a mãe
indiretamente através do pai, com o qual ele se identifica) sejam parcialmente
satisfeitos.

O conflito vivenciado pelas meninas é parecido, contudo com mais


possibilidades de solução. A menina deseja o próprio pai, em parte devido à
inveja que sente por não ter um pênis (al. Penisneid); ela sente-se castrada e
culpa à própria mãe por tê-la privado de um falo. Por outro lado, a mãe
representa uma ameaça menos séria, uma vez que uma castração não é
possível. Devido a essa situação diferente, a identificação da menina com a
própria mãe é menos forte do que a do menino com seu pai e, por isso, as
meninas teriam uma consciência menos desenvolvida - afirmação esta que foi
rejeitada pela pesquisa empírica.

28
Freud usou o termo "complexo de Édipo" para ambos os sexos; autores
posteriores limitaram o uso da expressão aos meninos, reservando para as
meninas o termo "complexo de Electra", mas que foi rejeitado por Freud no texto
"Sobre a Sexualidade Feminina" de 1931.

A apresentação do complexo de Édipo dada acima é, no entanto,


simplificada. Na realidade o resultado da resolução do complexo de Édipo é
sempre uma identificação como ambos os pais e a força de cada uma dessas
identificações depende de diferentes fatores, como a relação entre os elementos
masculinos e femininos na predisposição fisiológica da criança ou a intensidade
do medo de castração ou da inveja do pênis. Além disso, a mãe mantém em
ambos os sexos um papel primordial, permanecendo sempre o principal objeto
da libido.

O período de latência

Depois da agitação dos primeiros anos de vida segue-se uma fase mais
tranquila que se estende até a puberdade. Nessa fase a libido é desinvestida das
fantasias e da sexualidade, tornando-as secundárias, mas reinvestida em outros
meios como o desenvolvimento cognitivo, aprendizado, a assimilação de valores
e normas sociais que se tornam as atividades principais da criança, continuando
o desenvolvimento do ego e do superego.

29
A fase genital

A última fase do desenvolvimento psicossocial é a fase genital, que se dá


durante a adolescência. Nessa fase as pulsões sexuais, depois da longa fase de
latência e acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente,
mas desta vez se dirigem a uma pessoa do sexo oposto, ou não (onde entra a
questão da homossexualidade).

Como se depreende da explanação anterior, a escolha do parceiro não se


dá independente dos processos de desenvolvimento anteriores, mas é
influenciada pela vivência nas fases anteriores. Além disso, apesar de
continuarem agindo durante toda a vida do indivíduo, os conflitos internos típicos
das fases anteriores atingem na fase genital uma relativa estabilidade
conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os
desafios da idade adulta.

Teoria do Trauma

Durante muito tempo, o aspecto mais conhecido e discutido da obra de


Freud era o da teoria da libido, que ele elaborou inspirado nos modelos da
eletrodinâmica ou da hidrodinâmica vigentes na ciência da época.
Assim, o conceito de libido, que Freud concebeu como sendo a
manifestação psicológica do instinto sexual, recebeu sua origem na tentativa de
explicar fenômenos, tais como os da histeria, que Freud explicava como sendo
resultantes do fato de que a energia sexual era impedida de expandir-se através
de sua saída natural e fluía, então, para outros órgãos, ficando restringida ou
contida em certos pontos e manifestando-se através de sintomas vá- rios.
Freud chegara à conclusão de que as neuroses, como a histeria, a
neurose obsessiva, a neurastenia e a neurose de angústia (fobia), teriam sua
causa imediata no aspecto “econômico” da energia psíquica, ou seja, num
represamento quantitativo da libido sexual.
Na neurastenia e na neurose de angústia, somente o represamento da
libido sexual é o que estaria em jogo, enquanto nas demais neuroses traumáticas

30
outros acontecimentos da vida passada também seriam fatores causadores dos
transtornos neuróticos.
Partindo inicialmente da concepção inicial de que o conflito psíquico era
resultante das repressões impostas pelos traumas de sedução sexual que
realmente teriam acontecido no passado, e que retornavam sob a forma de
sintomas, Freud postulou que os “neuróticos sofrem de reminiscências”, e que a
cura consistiria em “lembrar o que estava esquecido”. Penso que, para certos
casos, esta fórmula persiste na psicanálise atual como plenamente válida,
porquanto é bem sabido que “a melhor forma de esquecer é lembrar” ou, dizendo
de outra forma, “o sujeito não consegue esquecer daquilo que ele não consegue
lembrar”.
A diferença é que na época de Freud este relembrar visava unicamente a
uma ab-reação, uma catarse por meio da verbalização dos fatos traumáticos e
os respectivos sentimentos contidos nas lembranças, enquanto hoje os analistas
vão, além disso, e objetivam uma ressignificação dos significados atribuídos aos
traumas que o paciente está rememorando na situação psicanalítica. Assim, a
necessidade de desfazer as repressões introduziu dois elementos essenciais à
teoria e à técnica da psicanálise: a descoberta das resistências inconscientes e
o uso das interpretações por parte do psicanalista.

Teoria Topográfica

A teoria anterior perdurou até 1897, quando então Freud deu-se conta de
que a teoria do trauma era insuficiente para explicar tudo, e que os relatos das
suas pacientes histéricas não traduziam a verdade factual; mas sim que eles
estavam contaminados com as fantasias inconscientes que provinham de seus
desejos proibidos e ocultos. Daí, ele propôs a divisão da mente em três “lugares”
(a palavra “lugar”, em grego, é “topos”, daí teoria topográfica). A estes diferentes
lugares ele denominou: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente, sendo que
o paradigma técnico passou a ser: “tornar consciente o que estiver no
inconsciente”.

31
Em 1900, Freud publicou A interpretação de sonhos, no qual ele comprova
que o conteúdo do sonho “manifesto” pode ser visto como um modo disfarçado
e “censurado” da satisfação de proibidos desejos inconscientes.
A propósito, essa fase teórica de Freud pode ser resumida com a sua
afirmativa de que “todo sonho, e sintoma, tem um umbigo que conduz ao
desconhecido do inconsciente”, sendo que, pode-se acrescentar, é a descoberta
do significado simbólico dos sonhos e sintomas que inaugura a psicanálise como
ciência propriamente dita.
A partir do seu fracasso com a análise de “Dora” – escrito em 1901, mas
que somente foi publicado em 1905, por razões de sigilo profissional –, Freud
obrigou-se a fazer profundas reflexões, sendo que ele chegou a afirmar que,
desde então, a técnica psicanalítica foi profundamente transformada. Pode-se
dizer que as principais transformações que se processaram nessa época foram:
a) a psicanálise deixou de ser uma detida investigação e busca de solução
de, separadamente, sintoma por sintoma;
b) a descoberta e a formulação do “princípio da multideterminação” dos
sintomas;
c) o próprio paciente é quem passou a tomar a iniciativa de propor o
assunto de sua sessão;
d) o analista substituiu a atitude de comportar-se como um investigador
ativo e diretivo por uma atitude mais compreensiva da dinâmica do sofrimento
do analisando;
e) abandono total da técnica da hipnose e da sugestão devido à
percepção de Freud de que as elas encobriam a existência de “resistências”;
f) estas últimas resultam de repressões, sendo que o retorno do reprimido
manifesta-se pelo fenômeno da “transferência”;
g) sobretudo, o “caso Dora” ensinou a Freud a existência e a importância
de o analista reconhecer e trabalhar com a “transferência negativa”.

Teoria Estrutural

À medida que se aprofundava na dinâmica psíquica, Freud tropeçava com


o campo restrito da teoria topográfica, por demais estática, e ampliou-a com a
concepção de que a mente comportava-se como uma estrutura no qual distintas

32
demandas, funções e proibições, quer provindas do consciente ou do
inconsciente, interagiam de forma permanente e sistemática entre si e com a
realidade externa. Desta forma, mais precisamente a partir do trabalho O ego e
o id (1923), ele concebeu a estrutura tripartite, composta pelas instâncias do id
(com as respectivas pulsões), do ego (com o seu conjunto de funções e de
representações) e do superego (com as ameaças, castigos, etc.). O paradigma
técnico da psicanálise foi formulado por Freud como: “onde houver id (e
superego), o ego deve estar”.

Conceituações sobre o Narcisismo

Embora não tenha sido formulado como uma teoria, os estudos de Freud
sobre o narcisismo abriram as portas para uma mais profunda compreensão do
psiquismo primitivo e constituíram-se como sementes que continuam
germinando e propiciando inúmeros vértices de abordagem por parte de autores
de todas correntes psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente
entre os autores, pode-se dizer que, na atualidade, um importante paradigma da
psicanálise atual pode ser formulado como “onde houver Narciso, Édipo deve
estar”. (Grunberger, 1979).

33
Dissociação do Ego

Aquele jovem Freud que ficara perplexo ao perceber uma dissociação da


mente que se manifestava nas pacientes histéricas durante o transe hipnótico
induzido por Charcot, foi aprofundando suas pesquisas sobre este fascinante
enigma até que ele ficou convencido de que esta clivagem da mente em regiões
conscientes e inconscientes não era específica e restrita às psicoses e neuroses,
mas que ela ocorria com todos os indivíduos. Assim, desde os seus primeiros
trabalhos com pacientes histéricas, Freud já falava de uma cisão interssistêmica
da qual resultam núcleos psíquicos independentes.
No entanto, é a partir de seu trabalho sobre Fetichismo (1927) e, de forma
mais consistente, em Clivagem do ego no processo de defesa (1940), que
escreveu ao apagar das luzes de sua imensa obra, é que Freud estudou a cisão
ativa, intrassistêmica, que ocorre no próprio seio do ego e não unicamente entre
as instâncias psíquicas. Com isso, Freud lançou novas sementes que
possibilitaram aos pósteros autores desenvolverem uma concepção inovadora
da conflitiva intrapsíquica, o que, creio, pode ser exemplificado com os trabalhos
de Bion (1967) sobre a existência concomitante em qualquer pessoa da “parte
psicótica e da parte não psicótica da personalidade” e cuja compreensão, por
parte do psicanalista, representa um enorme avanço na técnica e na prática
clínica.
Diante do exposto, o gênio de Freud possibilitou que, entre avanços,
recuos e sucessivas transformações, ele construísse os alicerces essenciais do
edifício metapsicológico e prático da psicanálise, sempre estabelecendo inter-
relações entre a teoria, a técnica, a ética e a prática clínica.

34
REFERÊNCIAS

ANDRADE, A. C. B. A teoria de desenvolvimento Psicossexual: Sigmund


Freud. Patos: Faculdades Integradas de Patos.
BOCK, A. M. B. A Psicanálise. In: BOCK, A. M. B. Psicologias: uma
introdução ao estudo de Psicologias. São Paulo: Saraiva, 2002, p.
COHEN, R. H. P. A lógica do fracasso escolar: psicanálise & educação.
Rio de Janeiro: Contra Capa.
COSTA, T. Psicanálise com crianças. Rio de Janeiro: Zahar.
FREUD, S. (1915b). Observações sobre o amor transferencial – novas
recomendações aos médicos que exercem a técnica da psicanálise in Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
vol.XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1915c). Recalque in Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1915d). O inconsciente in Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIV. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
FREUD, S. (1919a). Sobre o ensino da psicanálise nas universidades in
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud vol.XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1920). Mais além do Princípio do Prazer in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVIII. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1923b[1922]). O eu e o isso in Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIX. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
FREUD, S. (1925[1924]). Resistências à psicanálise in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIX. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1933). Novas conferências introdutórias – Explicações
aplicações e orientações. in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud vol.XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1937a). Análise terminável, interminável in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XXIII. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.

35
FREUD, S. (1895). Estudos sobre a histeria in Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol. II. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
FREUD, S. (1900). A Interpretação dos Sonhos in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.V. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1905a). Os chistes e sua relação com o inconsciente in
Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud vol.VIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1904[1903]). O método psicanalítico de Freud in Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
vol.VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1905b). Tratamento psíquico ou anímico in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.VII. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1910a). Cinco lições de psicanálise in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XI. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1910b). Psicanálise silvestre in Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XI. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
FREUD, S. (1910c). As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica
in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud vol.XI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1912a). Recomendações aos Médicos que exercem a
Psicanálise in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud vol.XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1912b). A dinâmica da transferência in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XII. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1913a). Sobre o início do tratamento (novas
recomendações sobre a técnica da psicanálise) in Edição Standard Brasileira
das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XII. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
FREUD, S. (1913b). O interesse científico da psicanálise in Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
vol.XIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

36
FREUD, S. (1914a). A História do Movimento Psicanalítico in Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1915a). O instinto e suas vicissitudes in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XIV. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1917a[1916]). Conferência XXVII in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVI. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1917b[1916]). Conferência XVI in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XVI. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1919b[1918]). Linhas de progresso da terapia psicanalítica
in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud vol.XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1923a[1922]). Dois verbetes de enciclopédia in Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
vol.XVIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1923c). Prefácio ao relatório sobre a policlínica psicanalítica
de Berlim in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud vol.XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1926a[1925). A questão da análise leiga – conversações
com uma pessoa imparcial in Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud vol.XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1926b[1925). Inibição, sintoma e angústia in Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
vol.XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1930[1929]). Mal estar na civilização in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XXI. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1937b). Construções em análise in Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.XXIII. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S.(1901). Sobre a psicopatologia da vida cotidiana in Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud vol.VI.
Rio de Janeiro: Imago, 1996.

37

Você também pode gostar