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Freud e a Educação

O mestre do impossível

Kupfer, Maria Cristina.


São Paulo:Editora Scipione.
Com o nascimento da Psicanálise
Os educadores se entusiasmaram com a
possibilidade de uma nova pedagogia, que,
possuindo mais compreensão e concedendo mais
liberdade à criança, impedisse o surgimento das
angústias e neuroses.

Depois percebeu-se que essa esperança era


pouco realista: a ausência de restrições e de
orientação não produzia crianças saudáveis e
podia produzir delinqüentes.

As angústias são inevitáveis; mesmo a infância


mais feliz em seu grão de angústia.
Por outro lado
A repressão excessiva dos impulsos pode
dar origem a distúrbios neuróticos.

O problema é: encontrar um equilíbrio


entre proibição e permissão.

Como ajudar a criança a ser transformar


em cidadão capaz de amar e trabalhar?
Eis a questão fundamental da Educação.
As limitações do trabalho
pedagógico decorrem
Da complexidade da psique humana;

Dos muitos obstáculos interiores ao


processo de amadurecimento;

Do conflito entre o desejo individual e


as exigências da vida em
comunidade.
As idéias de Freud sobre a
Educação
Não podem ser dissociadas de suas
descobertas psicanalíticas:
1. O recalque
2. a sublimação
3. Complexo de Édipo
4. “pulsões”
5. Transferência

O fenômeno da Educação não foi estudado por


Freud em uma obra apenas, mas está disperso
ao longo de sua obra, em textos que versam
sobre as mais diferentes questões.
O início
Iniciou sua vida clínica como médico
neurologista.

Dentre as doenças nervosas, a histeria


chama sua atenção.

Freud descobre que as idéias reprimidas


são quase sempre de natureza sexual e
são julgadas insuportáveis pelo eu. Ele se
perguntava o que havia de insuportável na
sexualidade. Essa pergunta o conduziu à
Educação, interrogando-a sobre seu papel
na condenação da sexualidade.
Sexualidade e Educação
Freud acreditava que a moral, transmitida pela
Educação, que colocava no indivíduo noções de
pecado e vergonha que ele deve ter diante das
práticas sexuais;

Mas Freud se dá conta de que existe no interior


da própria sexualidade um desprazer – e é esse
desprazer que dá força à moralidade, não o
contrário.

Assim, a idéia de uma profilaxia das neuroses, via


Educação parece não fazer sentido.

Restava, tão somente, propor a educação que


não fizesse uso abusivo de sua autoridade.
Sexualidade infantil e Educação
Descoberta da sexualidade infantil a partir de sua
experiência com pacientes histéricas que se
referiam a uma experiência de sedução atribuída
a um adulto que teria ocorrido em algum momento
da infância da paciente.

Portanto, a tese de que a sexualidade humana só


se constitui no decorrer da puberdade, devia ser
revista.

Dessa revisão, resulta um trabalho em 1905: Três


ensaios para uma teoria sexual. Um deles se
chama: A Sexualidade Infantil.
A sexualidade Infantil

Freud trata de uma questão


fundamental para a Educação, ao
mostrar que o impulso sexual
humano – a pulsão sexual – pode ser
decomposta em pulsões parciais.
Pulsão sexual
Pulsão é palavra usada para traduzir Trieb, substantivo que
correponde ao verbo “impulsionar”, “impelir”.

Pulsão é diferente de instinto, em toda a obra freudiana:

1- instinto: tem um compromisso claro com a biologia e


descreve um processo programado ao nível do corpo.
2- pulsão: um conceito-limite entre o somático e o psíquico.

A fonte, a origem da pulsão é somática (uma região do


corpo), porém ela é sobretudo psíquica ao apresentar-se ao
indivíduo através dos representantes da pulsões, que são
as imagens que chegam a ele para informá-lo do que se
passa em seu corpo.

Uma pulsão não pode ser destruída nem inibida. A defesa


vai incidir sobre seus representantes psíquicos, as idéias.
Dois destinos das idéias das
pulsões

1- recalcamento: afastamento de
determinada representação do
consciente; busca evitar o desprazer

2- sublimação: quando é derivada para


um alvo não-sexual
Uma pulsão
Só pode ser reconhecida por seus representantes:
a idéia ( inconsciente) e o afeto ( não é
inconsciente). O afeto se liga à idéia. O
recalcamento produz a ruptura entre os dois.
Recalca-se a idéia.

Sua fonte é corporal

Objetivo: a satisfação; a redução da tensão


provocada pela pressão;

Seu objeto: é variável. É aquilo através do qual a


pulsão é capaz de atingir um objetivo. É o meio
para que um fim seja atingido, ou seja, o objetivo.
Pode ser uma pessoa, parte da pessoa, real ou
fantasmática.
Constituição sexual dos seres
humanos
Estão presentes práticas de natureza perversa
que sucumbirão mais tarde ao domínio da
repressão e submeterão ao domínio das práticas
genitais, com vistas à procriação: exibicionismos,
curiosidade dirigida aos órgãos sexuais de
colegas, prazer de sucção, prazer ligado à
defecação, entre outros.

A cada um desses aspectos perversos, presentes


na sexualidade infantil, Freud chama de pulsões
parciais:
parciais pulsão oral, no caso do prazer de
sucção; anal, no caso da defecação, escópica, no
caso do olhar.
Pulsões parciais
A pulsão sexual, tal como a vemos no adulto, é na
verdade composta por pulsões parciais, cuja ação
se observa nas preliminares do ato sexual. Antes
do domínio do interesse pelo genital, tais pulsões
parciais são vividas livremente pela criança, cujo
interesse genital ainda não foi despertado.

Disso se deduz que as pulsões parciais não têm


ainda um objeto ao qual se dirigir. Somente depois
que estiverem reunidas para conformar a
genitalidade é que se buscará um objeto sexual
sobre o qual dirigir seu impulso.

Antes disso, cada pulsão (parcial) poderá se ligar


no máximo, ao prazer que possa ser extraído do
órgão a que estiver vinculado.
Conseqüências dessa idéia de ausência de
objeto ligada às pulsões parciais

A sexualidade humana, como um todo,


não tem, de modo algum, a rigidez a ela
atribuída.

As pulsões parciais possuem um caráter


errático e a sexualidade infantil é
testemunha. Dessa característica decorre
uma constatação sobretudo para
estabelecer relação entre os estudos de
Freud e a Educação.
Relação entre estudos de Freud e
a a Educação
Se o objeto pelo qual se satisfaz uma pulsão lhe é
indiferente ( já que pode ser uma mulher, uma peça de
vestuário, no caso de um fetichista), se ele é intercambiável,
se seu objetivo pode ser atingido pelas vias mais diversas e
é desviante por natureza, errática, portanto, de certo modo,
a pulsão sexual é capaz de se enveredar por caminhos
socialmente úteis.

Eis o ponto que interessa ao educador: por seu caráter


maleável, proveniente da ausência de objeto e de seu
caráter decomponível, a pulsão parcial é passível de se
dirigir a outros fins que não propriamente sexuais:
portanto, é passível de sublimação.

Para Freud, a Educação terá papel primordial no processo


de sublimação
A sublimação
Uma pulsão é dita sublimada quando deriva para um alvo
não-sexual.

Visa objetivos socialmente valorizados

Há uma espécie de excesso libidinal, algo com uma reserva,


que não é usado pra fins diretamente sexuais e deve ser
reaproveitado.

Há portanto, uma dessexualização do objeto e uma inibição


de seu fim sexual.

O indivíduo se volta para atividades “espiritualmente


elevadas”: produção científica, artística, e todas aquelas que
promovem um aumento do bem- estar e da qualidade de
vida dos homens.

Tais atividades são impulsionadas pela libido, embora o


objeto visado não seja sexual.
Como “funciona” a sublimação?

A pulsão

Parte é
Parte é
reprimida
Parte se torna Sublimada/
componente Objeto
da sexualidade dessexualizado
genital/
preliminares
Sublimação e educação
Pulsão sexual: maleável, ausência de
objeto fixo, passível de decomposição.
Portanto, é capaz de dirigir-se a outros
fins.

Os educadores podem reduzir a coerção e


dirigir de forma mais proveitosa a energia
que move as pulsões.

Ex: transformar a pulsão escópica em curiosidade


intelectual – ver o mundo, conhecer idéias, sendo que tal
curiosidade desempenha papel importante no
desenvolvimento do desejo de saber.
A aprendizagem segundo Freud
O que, segundo Freud, habilita uma criança para
o mundo do conhecimento?

Freud gostava de pensar nos determinantes


psíquicos que levam alguém a ser um “desejante
de saber”.

Importância da pergunta por quê.

O que se busca quando se quer aprender algo?


algo

É só a partir dessa pergunta se que pode refletir o


que é o processo de aprendizagem, pois o
processo depende da razão que motiva a
busca de conhecimento.
Por que a criança pergunta tanto?

Segundo Freud ela está interessada


em dois porquês:
porquês

1- por que nascemos/ de onde


viemos
2- por que morremos/ para onde
vamos
A gênese dessas preocupações da
criança
Momento decisivo na vida de todo ser humano: o
momento da descoberta da diferença anatômica
entre os sexos. (homens e mulheres/ em seres
com pênis e serem sem pênis)

Importância está na interpretação dada a esse


fato: meninos podem pensar que se as meninas
não são iguais a eles, podem vir a sê-lo, quando
crescerem.

Essa interpretação implica entender que, de


fato, alguma coisa falta.
Angústia da perda
Constatação não apenas de que algo falta
às mulheres, mas pode faltar aos homens.

A angústia provém da compreensão de


antigas perdas à luz desse novo
sentimento de perda: o seio, as fezes, etc.

A essa angústia Freud chamou de:


angústia de castração.
castração
O complexo de édipo
A descoberta da diferença sexual entre os sexos
não depende de observação, mas da passagem
pelo complexo de édipo: processo pelo qual há
uma “definição” do ser homem e ser mulher.

A criança descobre diferenças que a angustiam. E


é essa angústia que a faz querer saber.

A abordagem direta é descartada, pois envolve a


angústia. Assim, a criança usa o que Freud
chamou de “investigações sexuais infantis”
As primeiras investigações
As primeiras investigações são sempre sexuais:
sexuais o que
está em jogo é a necessidade da criança de definir, antes
de tudo, seu lugar no mundo. E esse lugar é, a princípio, um
lugar sexual.

Esse lugar sexual é situado em relação aos pais,


pais ou seja,
em relação ao desejo dos pais.

“De onde viemos?” equivale a :

1-“qual é a minha origem em relação ao desejo e vocês?;

2- por que me puseram no mundo? Para atender a quais


expectativas e esperando que eu me torne o quê? ( para
onde vamos?)

As perguntas sobre a origem das coisas estariam na base


das investigações sexuais infantis.
Investigação sexual infantil
Investigação sexual

Sublima-se

Pulsão/desejo de saber

Associada a
Pulsões de domínio Pulsões de ver
O desejo de saber

Associa-se com Dominar


Ver

Sublimar
Sublimar
As investigações sexuais são reprimidas.

Não podem mais saber sobre a


sexualidade;

Procedem (inconscientemente) a um
deslocamento dos interesses sexuais para
os não-sexuais;

Como não podem deixar de perguntar pela


força da pulsão, perguntam então, sobre
outras coisas pra continuar pensando
as questões fundamentais.
Dominar

Dissecar, destruir, cortar em pedaços


são exemplos dessa pulsão.
Isso associa-se à curiosidade.
Em todo ato de conhecimento existe
a dimensão da curiosidade “sádica”
propiciada por essa pulsão. ( algo da
pulsão de morte)
Ver
O visual é um aspecto constante e
constitutivo das pulsões sexuais;

Fantasia da cena primária ( cena da


relação sexual entre os pais), na qual a
criança imagina (põe em imagens) a sua
origem.

Nessa fantasia o sujeito representa não


somente sua origem, mas também se
imagina como personagem, através da
identificação com um dos personagens.
Objeto da pulsão de ver

Cena primária imaginada


(Curiosidade sexual)

Sublima-se

Associa-se com a
a pulsão de domínio

Transforma-se

Pulsão de saber: curiosidade dirigida a outros objetos


O desenvolvimento intelectual para
Freud
A mola propulsora do desenvolvimento
intelectual é sexual.

A matéria de que se alimenta a


inteligência em seu trabalho investigativo
é sexual: são restos da sexualidade, na
medida em que se trata da sublimação de
parte da pulsão sexual visual.

A inteligência, então, emerge a partir de


um apoio sobre os “restos sexuais”.
A criança não aprende sozinha

É preciso que haja um professor


para que o aprendizado se realize
(embora nem sempre esse
encontro seja feliz)
O que é aprender para a
psicanálise?
Supõe a presença de um professor, COLOCADO
NUMA DETERMINADA POSIÇÃO, POSIÇÃO que pode ou
não propiciar a aprendizagem.

O ato de aprender SEMPRE pressupõe uma


relação com outra pessoa,
pessoa a que ensina.

Não há ensino sem professor ( mesmo no


autodidatismo que supõe a figura imaginada de
alguém que está transmitindo, através de um livro,
aquele saber)

Não havendo sequer um livro ensinando, o aprender


supõe um diálogo interior entre o aprendiz e
alguma figura,
figura imaginada por ele, que servir de
suporte para esse diálogo.
O que é aprender

Envolve a relação professor-aluno.

Aprender é aprender com alguém.

Qual é, portanto, a fonte da qual os


professores extraem seu poder de
convencimento, sua credibilidade?
Quando o professor será ouvido?

Quando estiver revestido por seu aluno de


uma importância especial.

Graças a essa importância, o mestre


passa a ter em mãos um poder de
influenciar o aluno.

Os educadores, investidas da relação


afetiva primitivamente dirigida ao pai, se
beneficiarão da influência que esse exercia
sobre a criança.
Ênfase dada por Freud
Está na relação entre professor e aluno e não
no valor dos conteúdos cognitivos que transitam
entre essas duas pessoas .

A ênfase freudiana está concentrada sobretudo


nas RELAÇÕES AFETIVAS ENTRE
PROFESSORES E ALUNOS.

Depois é substituído pelo CAMPO que se


estabelece entre professor e aluno.aluno Esse
CAMPO que estabelecerá as condições para o
aprender, sejam quais forem os conteúdos.

A esse CAMPO,
CAMPO dá-se o nome de
TRANSFERÊNCIA.
A TRANSFERÊNCIA NA
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
É uma manifestação do inconsciente.

Freud se deu conta de que transferência


também ocorria nas diferentes relações
pelas pessoas no decorrer de suas vidas.

Freud chega a afirmar que ela está


presente também na relação professor-
aluno. Trata-se de um fenômeno que
permeia qualquer relação humana.
Transferência
“são reedições dos impulsos e fantasias
despertadas e tornadas conscientes
durante o desenvolvimento da análise e
que trazem como singularidade
característica a substituição de uma
pessoa anterior pela pessoa do médico.”

“É toda uma série de acontecimentos


psíquicos que ganha vida novamente,
agora não mais como passado, mas como
relação atual com a pessoa do médico.”
Transferência

Um professor pode tornar-se a


figura a quem serão endereçadas os
interesses de seu aluno porque é
objeto de uma transferência. E o que
se transfere são as experiências
vividas primitivamente com os
pais.
pais
Entendendo a transferência
A transferência se produz quando o
desejo de saber do aluno se aferra a um
elemento particular,
particular que é a pessoa do
professor.

O desejo inconsciente buscar aferrar-se a


“formas” ( analista, o professor) para
esvaziá-las e colocar aí o sentido que lhe
interessa.

Transferir é , então, atribuir um sentido


especial àquela figura determinada pelo
desejo.
Ainda a transferência
Instalada a transferência, o
professor torna-se depositário de
algo que pertence ao aluno. Em
decorrência dessa “posse”, a figura
do professor fica carregada de
uma importância especial.

Dessa importância emana o poder


que inegavelmente tem sobre o
aluno.
O aluno dirige-se ao professor O professor passa a fazer
atribuindo-lhe um sentido conferido parte do cenário
pelo desejo inconsciente do aluno

O professor, pela transferência não está


exterior ao inconsciente do aluno, mas
o que quer que diga será escutado
a partir desse lugar onde está
colocado.

Sua fala deixa de ser inteiramente objetiva, mas é


escutada através dessa posição especial que ocupa
no inconsciente do aluno
A idéia de transferência mostra:

Que aquele professor A palavra do professor


em especial foi “investido” ganha poder, passando
pelo desejo daquele aluno a ser escutada.

O desejo transfere sentido e poder à figura do professor,


que funciona como um mero suporte esvaziado de sentido
próprio enquanto pessoa
Como é que esse professor está sendo visto,
já que é essa visão especial a mola
propulsora do aprender?
Esse desejo e seu sentido escaparão sempre ao
professor;

Dele o professor poderá ter por vezes alguns flashes.

Não é possível conhecer o modo singular como se


realiza esse desejo naquele aluno em especial – tarefa
do analista.

Tudo que o aluno quer é que seu professor “suporte”


esse lugar em que ele o colocou.

Ocupar o lugar designado ao professor pela transferência:


eis uma tarefa que não deixa de ser incômoda, visto que
ali seu sentido enquanto pessoa é “esvaziado” para dar
lugar a um outro que ele desconhece.
O professor no lugar da
transferência
O abuso de poder do professor seria
equivalente a usá-lo para subjugar o aluno,
impor-lhes seus próprios valores e idéias –
impor seu próprio desejo, fazendo-o
sobrepor-se àquele que movia seu aluno
a colocá-lo em destaque.

Se isso ocorre, cessa o poder desejante


do aluno.
É preciso que o aluno sair da
relação como sujeito pensante
Se o professor entender que sua tarefa é
submeter seu aluno a essa figura de mestre;

Se a educação ficar subordinada à imagem de um


ideal estabelecido que proíbe qualquer
contestação desse ideal;

Quando o pedagogo pede à criança que venha


tão somente dar fundamento a uma doutrina
previamente concebida;

O aluno pode aprender conteúdos, gravar


informações, mas provavelmente NÃO sairá
como sujeito pensante.
O desejo inconsciente do professor
É marcado também por seu próprio desejo
inconsciente;

É exatamente esse desejo que o impulsiona para


a função de mestre;

Só o desejo do professor justifica que ele esteja


ali;

Mas estando ali, precisa renunciar a esse desejo.

A educação é impossível.
Conclusões
A realidade do inconsciente nos ensina que não temos
controle total sobre o que dizemos e muito menos
sobre os efeitos de nossas palavras sobre o ouvinte;

Não sabemos o que ele fará com aquelas idéias,


quais são suas associações; que movimentos de
desejo o farão gostar mais ou menos daquilo.

Por acreditar que o inconsciente introduz, em qualquer


atividades humana, o imponderável, o imprevisto, o
que se desvanece, o que nos escapa, não há como
criar uma metodologia pedagógica-psicanalítica,
pois qualquer metodologia implica em ordem,
estabilidade, previsibilidade.
Um educador inspirado por idéias
psicanalíticas
Renuncia a uma atividade excessivamente programada,
instituída, controlada com rigor obsessivo;

Aprende que pode organizar seu saber, mas não tem


controle sobre os efeitos que produz sobre seus alunos;

Pode até ter uma noção daquilo que está sendo


assimilado, mas não conhece as repercussões
inconscientes de sua presença e de seus ensinamentos;

Passa a não dar tanta importância ao conteúdo daquilo


que ensina, mas a passa a vê-los como a ponta de um
iceberg muito mais profundo.
A psicanálise transmite ao
educador
Um ética, um modo de ver e de entender a prática educativa;

Esclarecimento sobre o poder de que é revestido e se sua


tentação em cair nele. Lembrou que é desse poder que a
pedagogia extrai sua eficácia. Ela precisa reprimir para ensinar.
Precisa da energia libidinal sublimada e não sexualizada.

A compreensão de que os alunos manterão a fidelidade a modos


de pensar subjetivos; ouvirão o que lhes convier e jogarão fora o
resto, sem que isso implique em rebeldia consciente;

A importância de suportar os sinais de que os alunos não ouvirão


tudo, sem se desesperar ou sem tentar reprimir tais atividades,
pois terá compreendido que essa “rebeldia” é importante para o
futuro desenvolvimento intelectual do aluno.
Contribuições
O encontro entre o que foi ensinado e a
subjetividade de cada um é que torna
possível o pensamento renovado, a
criação, a geração de novos
conhecimentos.

O mundo desejante do aluno está sendo


preservado cada vez que um professor se
dispuser a desocupar o lugar de poder em
que o aluno o coloca no início de uma
relação pedagógica.
Um educador inspirado pela psicanálise é
capaz de compreender o que é o
“assassinato do mestre”.

Tira dos ombros do professor uma carga


de controle excessiva e indesejável.

O educador deve permanecer tranqüilo,


inteiro, consciente de seus poderes e
limite, humilde e impotente frente à
tarefa de ajudar o outro ser humano a
atingir seu mais radical compromisso com
a vida: ser um indivíduo livre e produtivo.
As duas posições decorrentes da visão
psicanalítica
Ao professor:
professor guiado por seu desejo, cabe o esforço
imenso de organizar, articular, tornar lógico seu
campo de conhecimento e transmiti-los a seus alunos.

Ao aluno: cabe desarticular, retalhar, ingerir e digerir


aqueles ensinamentos transmitidos pelo professor,
que engancham em seu desejo, que fazem sentido
para ele, que, pela via de transmissão única aberta
entre ele e o professor – a via da transferência –
encontram eco na existência do sujeito do
inconsciente.

Pela via da transferência,


transferência o aluno “passará” pelo
professor, usá-lo-á, saindo dali com um saber do
qual tomou verdadeiramente posse e que
constituirá a base e o fundamento futuro saberes e
conhecimentos.

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