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Tópicos de textos de Freud


(Dos livros: "O mal estar da civilização", de Freud / "Freud e a Cultura, de Betty B. Fuks / “Freud Básico”, de Michael Kahn)

1. Sonhos: a realização de um desejo não-satisfeito que acontece através do conteúdo manifesto. No entanto o significado está nos
pensamentos latentes ou pensamentos inconscientes. os pensamentos inconscientes do sonho se disfarçam no conteúdo manifesto
- formas de elaboração onírica: condensação (é caracterizada pela síntese: os sonhos se apresentam breves, concisos e
lacônicos); deslocamento: se caracteriza por uma transferência de intensidades psíquicas. Um elemento sem valor psíquico
retira a atenção de outro verdadeiramente importante em relação ao desejo do sujeito)
 Na vida onírica a criança prolonga, por assim dizer, sua existência no homem, conservando todas as peculiaridades e
aspirações, mesmo as que se tornam mais tarde inúteis.
 Nos sonhos o inconsciente se serve, especialmente para a representação de complexos sexuais, de certo simbolismo,
em parte variável individualmente e em parte tipicamente fixo, que parece coincidir com o que conjeturamos por
detrás dos nossos mitos e lendas.
 objeção ao fato de entender o sonho como satisfação de desejos: Freud responde: "A ansiedade é uma das reações do
ego contra desejos reprimidos violentos, e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a elaboração
deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos."
 Simbolismo: o inconsciente se serve nos sonhos de um "simbolismo, em parte variável individualmente e em parte
tipicamente fixo, que parece coincidir com o que conjeturamos por detrás dos nossos mitos e lendas."

2. Sentido da vida humana: Os homens buscam a felicidade. Há dois aspectos nesta busca: um positivo: a experiência de
intensos sentimentos de prazer; negativo: a ausência de sofrimento e de desprazer.
 Em outras palavras, o propósito da vida humana é o princípio do prazer. Mas a sua efetivação plena é impossível. "As
normas do universo são-lhe contrárias". "Só podermos derivar prazer intenso de um contraste, e muito pouco de um
determinado estado de coisas."
 Se a felicidade é mais difícil de experimentar o mesmo não se pode dizer da infelicidade.
 Somos ameaçados pelo sofrimento, pelo desprazer que vem de três fontes: de nosso próprio corpo (envelhecimento),
do mundo externo e de nossos relacionamentos com os outros homens. "O sofrimento que provém dessa última fonte
talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro."
 formas de evitar o sofrimento:

a) manter-se à distância de outras pessoas, isolar-se; sujeitar a natureza através da ciência;


b) influenciar o nosso próprio organismo: por exemplo pela intoxicação que pode se dar através de uma droga externa ou
através de reações químicas internas) "O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento
da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício, que tanto indivíduos quanto povos lhes concederam um lugar
permanente na economia de sua libido ( = É a energia inerente aos movimentos e transformações dos impulsos sexuais. É uma
palavra latina que significa desejo, vontade). Porém segundo Freud "Sabe-se igualmente que é exatamente essa propriedade
dos intoxicantes que determina o seu perigo e a sua capacidade de causar danos. São responsáveis, em certas circunstâncias,
pelo desperdício de uma grande quota de energia que poderia ser empregada para o aperfeiçoamento do destino humano."
C) aniquilamento dos instintos
d) SUBLIMAÇÃO: "quando se consegue intensificar suficientemente a produção de prazer a partir das fontes do trabalho
psíquico e intelectual" "A tarefa aqui consiste em reorientar os objetivos instintivos de maneira que eludam a frustração do
mundo externo." Seu limite: ". Contudo, sua intensidade se revela muito tênue quando comparada com a que se origina da
satisfação de impulsos instintivos grosseiros e primários; ela não convulsiona o nosso ser físico." Exemplo: no campo da arte
que usa muito a imaginação, a fantasia.
e) rompimento com a realidade: mas a realidade é mais forte e o desprazer e sofrimento sempre estarão presentes.
f) tentativa de obter felicidade no relacionamento emocional com os outros: busca amar e ser amado. Fazer do amor o centro de
tudo. Porém: "... nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente
infelizes como quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor. Isso, porém, não liquida com a técnica de viver baseada
no valor do amor como um meio de obter felicidade."
g) Fruição da beleza: "oferece muito pouca proteção contra a ameaça do sofrimento, embora possa compensá-lo bastante."

CONCLUSÃO: ."O programa de tornar-se feliz, que o princípio do prazer nos impõe, ..., não pode ser realizado; contudo, não
devemos — na verdade, não podemos — abandonar nossos esforços de aproximá-lo da consecução, de uma maneira ou de
outra." Os caminhos podem ser diferentes. Depende de cada um. "O homem predominantemente erótico dará preferência aos
seus relacionamentos emocionais com outras pessoas; o narcisista que tende a ser auto-suficiente, buscará suas satisfações
principais em seus processos mentais internos; o homem de ação nunca abandonará o mundo externo, onde pode testar sua
força"
 Mas Freud diz algo importantíssimos para a psicanálise: ". Qualquer escolha levada a um extremo condena o indivíduo a
ser exposto a perigos, que surgem caso uma técnica de viver, escolhida como exclusiva, se mostre inadequada . Assim como o
negociante cauteloso evita empregar todo seu capital num só negócio, assim também, talvez, a sabedoria popular nos
aconselhe a não buscar a totalidade de nossa satisfação numa só aspiração."
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3. RELIGIÃO: Freud vê nas religiões uma fonte de promessas ilusórias à situação de desamparo originário que marca a
subjetividade humana. Apelar a o Pai (Deus) significa pedir proteção contra a castração e a morte em um mundo onde a castração e
a morte já estão consumadas. Freud se aproxima do adágio marxista de que "a religião é o ópio do povo"
Porém (e isto é sumamente importante) Freud não teve o objetivo de depreciar a crença religiosa mas combate o discurso
religioso que se propõe a rebaixar o valor da vida deformando de forma delirante a forma do mundo real e consequentemente
intimidando a inteligência humana. "A psicanálise nos ensina que as instituições religiosas, em sua grande maioria, valem-se da
fragilidade do homem diante de seu próprio desamparo para fortalecer suas bases políticas. Unificam os fiéis em torno de uma
verdade única, desprezam toda e qualquer expressão subjetiva e impedem o equilíbrio necessário entre o desejo do sujeito e as
reivindicações do grupo social" (pág. 33, Freud e a Cultura, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro,ano 2003)
Mas Freud reconhecia a importância da religião como "uma sublimação ideal da humanidade na conquista ética e nos
fundamentos da alteridade dos mais diversos povos" (op. Cit. Pág. 34)

4. AMOR AO PRÓXIMO, AGRESSIVIDADE, REPRESSÃO DA SOCIEDADE:

 Há uma oposição entre a nossa libido que quer se restringir ao amor entre duas pessoas e a civilização que exige a
extensão da libido a um número maior de pessoas. "Convoca a libido inibida em sua finalidade, de modo a fortalecer o
vínculo comunal através das relações de amizade. Para que esses objetivos sejam realizados, faz-se inevitável uma
restrição à vida sexual."
 Por isto a sociedade emprega "métodos destinados a incitar as pessoas a identificações e relacionamentos
amorosos (este é o sentido do mandamentos de amar ao próximo e até os inimigos) porque segundo Freud "... os
homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo
contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade."
 O fim da propriedade privada com o comunismo é a solução para acabar com a agressividade humana? Freud
não acredita nisto pois "a agressividade não foi criada pela propriedade. Reinou quase sem limites nos tempos
primitivos, quando a propriedade ainda era muito escassa, e já se apresenta no quarto das crianças, quase antes que a
propriedade tenha abandonado sua forma anal e primária; constitui a base de toda relação de afeto e amor entre
pessoas ( com a única exceção, talvez, do relacionamento da mãe com seu filho homem).
 Exemplo desta agressividade indestrutível através : Narcisismo das pequenas diferenças

+ O "Narcisismo das pequenas diferenças" está na base da formação do "nós" e do "outro". Ocorre na tensão entre povos
vizinhos (por exemplo nas rixas entre brasileiros e argentinos), entre indivíduos de estados diferentes de um mesmo país
(exemplo: entre cariocas e paulistas). São pequenas diferenças reais que criam impedimento para que o outro seja um perfeito
semelhante. Tal fato deixa claro que o ódio não nasce da distância mas da proximidade. "É sempre possível unir um
considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua
agressividade." O grupo produz seu outro partir do qual forja sua própria identidade eliminando as diferenças internas,
fabricando uma unidade fictícia com o objetivo de perpetuar sua dominação. Cria-se imaginariamente um EU IDEAL. Em
nome do amor à unidade, ficam abolidas as vontades individuais. O eu ideal se liga com o pai ideal na figura do Fuhrer, cuja
vontade se confunde com a lei. Como no estado religioso há a ilusão de que o "líder carismático tem o poder de salvar a todos
do desamparo primordial e da angústia real" assegurando "as reivindicações narcísicas de cada membro". (op. Cit. Pág. 47)
Mas isto só será possível se se eliminar ódio no interior do grupo. Então ele é dirigido contra o estrangeiro e este ódio favorece
a coesão da comunidade. Ou seja, reprime-se o ódio ao idêntico a quem se ama para direcioná-lo ao outro, à alteridade.  "Em
nome do amor entre os membros a quem abraça, uma organização permite e incita a todos que expressem intolerância e
crueldade contra os estrangeiros, aqueles que não aderem à concepção de mundo e à ideologia que ela difunde."
CONCLUSÃO: o fenômeno do narcisismo das pequenas diferenças desemboca na segregação e no racismo. "A vontade de
uniformização dos indivíduos manifestada pelo nazismo, pelo fascismo e pelo stalinismo se inscreve para além da tendência de
apagar a diferença no interior do grupo e passá-la para fora. Ela propõe o pior a eliminação de qualquer diferença, mesmo
quando fora do conjunto" (op. Cit. Pág. 51)
Em "O mal estar na civilização" Freud alude ao fato de não ter sido por mero acaso que o sonho de um império germânico
universal tenha precisado criar o anti-semitismo como seu complemento. O Reich alemão logrou instalar a segregação e a
intolerância como meio de garantir o sucesso de sua unidade política.
"Obrigando o sujeito a escolher seu objeto de amor no interior do grupo, ficava abolida, de imediato, a proibição simbólica do
incesto. Essa estratégia de burlar a castração imposta pela lei paterna marca um revés fundamental: a organização social fica
ordenada sob a égide de um regime plantado sobre a denegação da morte e do narcisismo ilimitado." "... Uma das
características da modernidade é essa tentativa de restabelecer uma figura de excesso que, oferecendo ás massas a quimera de
protegê-la da castração e da morte, desenvolve em troca um poder ilimitado exercido paradigmaticamente nos regimes
totalitários. Trata-se, na verdade, de uma estratégia de poder fixada na infantilização do sujeito, em sua dominação real que gera
em escala coletiva a destruição e a morte" (op. Cit. Pág. 51)

3. SONHOS
(Do livro “Freud Básico”, Michael Kahn, ed. Civilização Brasileira, págs 201-231)

Senhoras e Senhores: Um dia, descobriu-se que os sintomas patológicos de determinados pacientes neuróticos têm um sentido. Nessa
descoberta, fundamentou-se o método psicanalítico de tratamento. Acontecia que, no decurso desse tratamento, os pacientes, em vez de
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apresentar seus sintomas, apresentavam sonhos. Com isso, surgiu a suspeita de que também os sonhos teriam um sentido. V( Sigmund Freud,
Conferências introdutórias)

Freud considerava A interpretação dos sonhos,(1) publicado em 1900, o seu livro mais importante. De fato, ele contém riquezas
extraordinárias. Introduz o complexo de Édipo, a distinção entre o processo primário e processo secundário, as origens infantis
do funcionamento adulto e muito mais. Entretanto, não era porque descrevia essas descobertas significativas que Freud se
orgulhava muito deste livro, mas sim porque, como seu título deixa claro, anunciava ao mundo que ele realizara, em sua
opinião, o que ninguém antes dele tinha sido capaz de realizar: decifrar o código dos sonhos. Ele sabia que isto era uma
importante façanha, por sua própria dimensão; além disso, estava convencido de que com isso desvendara a chave para
compreender e tratar a neurose. Se um terapeuta não interpretasse sonhos, Freud passou a acreditar, ele não estava fazendo
psicanálise. O primeiro insight importante de Freud sobre a natureza dos sonhos foi que, a exemplo dos sonhos despertos, os
sonhos noturnos representam um desejo. Os sonhos despertos expressam um desejo que a pessoa pode reconhecer. Quando
criança, eu sonhava em ser uma estrela de beisebol do meu time da primeira divisão da cidade. Não tinha nenhuma vergonha
disso. Meus amigos tinham sonhos semelhantes, e os compartilhávamos livremente. Hoje em dia, sonho ocasionalmente com
poder passar toda uma manhã de domingo numa confeitaria, lendo o New York Times - sem sentir nenhuma culpa. Também não
tenho vergonha deste sonho. Baseando-se no que acontece nos sonhos despertos, Freud deduziu que os sonhos noturnos
poderiam também ser uma expressão dos desejos. Ele descobriu que os sonhos infantis são freqüentemente uma expressão tão
flagrante dos desejos quanto os sonhos despertos. E relatou que uma de suas filhas, após um dia de jejum provocado por uma
enfermidade, sonhou com morangos, omelete e pudim.
Freud observou que também em alguns sonhos de adultos o desejo é tão transparente, que pouca ou nenhuma análise é preciso
para compreendê-lo. Ele relatou que, se comesse comida salgada no jantar, acordaria invariavelmente com sede à noite. Pouco
antes de acordar, sempre estava sonhando que desfrutava o mais delicioso e satisfatório drinque imaginável. Então, acordava e
tinha de beber algo de verdade. O fato de estar com sede causava o desejo de beber, e o sonho representava a realização desse
desejo. (2)
No entanto, essa transparência é rara. Nos sonhos que mais ricamente iluminam as forças inconscientes, o desejo está oculto;
este foi o importante insight que Freud teve em seguida. Ele sustentou que o único meio de poder descobrir o desejo é encorajar
o sonhador a fazer associações livremente com os elementos do sonho.
Não é difícil perceber por que Freud considerava a interpretação dos sonhos tão importante. Ele acreditava que todos os sonhos
eram construídos do mesmo modo que os sintomas neuróticos. Como acreditava que remover um sintoma neurótico dependia
da apreensão do seu significado inconsciente, interpretar um sonho seria um passo em direção à cura, porque o significado do
sonho revelaria parte do significado do sintoma. O seu elegante sistema acabou se provando simples demais, mas ainda contém
insights notáveis sobre o nosso mundo onírico.
O MODELO DE FREUD
Neurose: A neurose é causada pelo recalque de desejos sexuais inaceitáveis. O recalque não foi suficientemente completo para
proteger a pessoa da culpa inconsciente, daí a aflição da neurose. Os desejos encobertos estão sob pressão, buscando expressão,
e encontram essa expressão nos sintomas neuróticos. Numa tentativa de ao menos evitar a culpa consciente, o desejo
incompletamente recalcado se disfarça, para poder passar pela censura que, antes de tudo, o recalcou. Portanto, o sintoma deve
ser decodificado para que revele seu significado inconsciente.
Sonhos: Os desejos encobertos permeiam os sonhos. Ao detectar um relaxamento da censura durante o sono, o desejo recalcado
tenta se aproveitar dessa oportunidade para se manifestar. No entanto, embora relaxada, a censura não está de folga. Alguma
função egóica montando guarda à noite reconhece que o desejo sem disfarce causaria uma ansiedade suficiente para acordar a
pessoa que dorme. Assim, embora careça do poder de recalcar o desejo que tem em estado de vigília, essa função dá um jeito de
disfarçá-lo e, desse modo, proteger (em geral) o descanso do indivíduo que está dormindo.
Os desejos inaceitáveis e disfarçados causam o problema neurótico e devem ser decodificados. Os desejos inaceitáveis e
disfarçados que produzem o sonho podem ser decodificados, desmascarando desse modo um dos desejos geradores de
sintomas.
Podemos compreender por que Freud chamou a interpretação dos sonhos de estrada soberana para o inconsciente, e por que ele
achava que ela era a chave indispensável para psicanalisar a neurose.
O modelo de Freud não mais descreve inteiramente a teoria psicanalítica da neurose. Embora os desejos sexuais reprimidos
provavelmente desempenhem um importante papel em muitos problemas da vida, eles não são mais considerados como a única
causa. Como vimos em capítulos anteriores, uma ampla variedade de desejos e medos inconscientes pode gerar problemas.

A ORIGEM DO SONHO
Freud descobriu que os sonhos eram uma resposta a algo que o sonhador vivenciara no dia anterior. Alguma cadeia de
associações relacionadas àquele acontecimento (que pode ter sido um pensamento ou um acontecimento de fato) conduziu a um
desejo que tinha de ser recalcado, por ser inaceitável para o sonhador. À medida que a censura relaxa durante o sono, o desejo
busca se expressar.
O QUE A CENSURA FAZ
Freud chamou os acontecimentos lembrados do sonho de seu conteúdo manifesto. O desejo oculto, chamou de conteúdo
latente. A censura converte o conteúdo latente no sonho manifesto, distorcendo-o. Os principais processos pelos quais a
distorção é efetuada são a condensação e o deslocamento. O seguinte estudo de caso é uma ilustração.
Um cliente meu sonhou que assistia a uma filmagem. Uma parelha de cavalos estava sendo conduzida até a beira de
um penhasco, com a intenção de forçá-los a pular para a morte. Embora soubesse que era apenas um filme e que os
animais estavam completamente a salvo, o sonhador teve de virar o rosto quando a parelha se aproximou da beira do
precipício.
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A primeira associação que ele fez foi de cavalos com "prostitutas". (Observação: No original, a associação foi de
horses com whores)
Então ele se lembrou de uma conversa telefônica com um velho amigo, que ocorrera no dia do sonho. Muitos anos
antes, ele e esse amigo tinham conseguido dinheiro para pagar a faculdade trabalhando como "parceiros de dança" a
bordo de um cruzeiro. No telefonema do dia anterior, o amigo, relembrando, havia dito: "Não passávamos de uma
dupla de prostitutas, não é mesmo?"
Ambos haviam desfrutado as viagens e o fato de serem tirados para dançar. Meu cliente lembrou que, em um dos
cruzeiros, seu amigo quebrara a regra fundamental e dormira com uma passageira muito atraente. Ele tinha muita
inveja da coragem rebelde do seu amigo e, acima de tudo, da sua invejável experiência sexual.

Suas associações em relação ao aparente, mas irreal, perigo que os cavalos corriam:

Parece que os cavalos são vítimas de abusos e assassinatos. Tenho certeza que na verdade eles são estrelas mimadas do cinema.
Penso que o mesmo acontece com algumas prostitutas de classe alta. Todos têm pena delas e pensam nelas como dependentes de
drogas maltratadas e desamparadas. Mas imagino que algumas delas levam uma vida maravilhosa - de um luxo preguiçoso, imersas
no mundo do sexo.

Eu lhe disse que ele parecia estar com inveja. Sabe de uma coisa, acho que estou mesmo. Estou realmente farto desta vida
burguesa que preparei para mim. Acho que tenho uma fome secreta pelo submundo, pelos bas-fonds. Adoraria ser uma
prostituta. Adoraria ser uma prostituta sofisticada, como éramos no navio, só que eu dormiria com os passageiros e seria bem
pago. Eu seria bem pago, mas a recompensa mais importante seria o interminável sexo-sem-responsabilidade. Estou totalmente
farto das minhas responsabilidades burguesas.

Pararemos por aqui em relação ao andamento desse sonho. Como a maioria dos sonhos, este contém todo um nexo de
significados, dos quais descobrimos apenas alguns poucos. Alguns psicanalistas afirmaram seriamente, pelo menos em parte,
que se entendêssemos totalmente um sonho qualquer de um determinado paciente, entenderíamos a análise inteira. Confesso
que fico feliz quando meu cliente e eu trabalhamos juntos um significado útil para um sonho.
No sonho relatado, o resíduo diurno gerador é a conversa telefônica do cliente com seu amigo e suas últimas observações sobre
eles serem prostitutas. O conteúdo latente é o desejo do cliente de se eximir das suas responsabilidades e encontrar um paraíso
sexual. "Prostitutas" é deslocado para cavalos. Toda uma saga é condensada numa única imagem, onde ele assiste à filmagem
de uma breve cena de cinema.
Está longe de ser óbvio que a maioria dos sonhos representa desejos. No entanto, após interpretar inúmeros sonhos seus e dos
seus clientes, Freud estava convencido de que a realização do desejo caracteriza todos os sonhos. Seus críticos o desafiaram,
citando os sonhos ansiosos e os sonhos punitivos. Ele podia facilmente lidar com esses últimos, uma vez que o superego fora
acrescentado ao seu sistema: os sonhos punitivos representam a realização de um desejo do superego, uma de cujas tarefas mais
importantes é punir o seu anfitrião pelos desejos que considera inaceitáveis. Os sonhos ansiosos deram mais trabalho a Freud, e,
trinta anos após a publicação original de O mal-estar na civilização, ele ainda estava revisando o livro, lutando com o
problema. Hoje em dia, com cem anos de reflexão sobre a questão, provavelmente é seguro dizer que, embora a teoria da
realização do desejo seja muito útil para a compreensão de um sonho, nenhuma fórmula única pode fazer justiça à riqueza da
nossa vida onírica. Consideraremos isso mais adiante.
Nos dias que antecederam a elaboração deste capítulo, eu estivera inutilmente folheando livros e textos de Freud, para encontrar
um outro sonho ilustrativo adequado. Na noite antes de começar a escrevê-lo, tive um sonho do qual me lembrei inusitadamente
bem. Quase nunca me lembro dos meus sonhos, portanto esse foi um presente inusual do meu inconsciente.

Sou um jogador de um time de futebol americano e estou dentro do vestiário, prestes a entrar em campo para começar
a jogar. O time é composto de homens e de mulheres. Todos estão vestidos com roupas do dia-a-dia. Reconheço que
as mulheres são ex-alunas minhas. Percebo que deve haver mais de onze jogadores prestes a entrar em campo.
Embora não seja responsabilidade minha sou apenas um jogador do time-, assumo o dever de contá-los, enquanto
penso: "Cadê o assistente do treinador, que deveria ser responsável por isso?" Começo a contar cabeças em voz alta,
e Mimi Rollins começa a enunciar números aleatórios em voz alta, para me distrair. Fico furioso e digo: "Isso é uma
grosseria, e, além do mais, não é engraçado; é uma estupidez." Pronuncio a última palavra com tal ênfase, que ela me
soa desnecessariamente agressiva, dada a banalidade do deslize de Mimi.

Acordei satisfeito e grato por ter tido esse sonho necessitado. Então me pus a explorar minhas associações.

Vi Mimi na semana passada. Ela parecia estar bem. Contar os jogadores é como contar as cadeiras, antes de os alunos chegarem
para a minha aula. Algumas vezes, enquanto as desempilho e as conto, digo para mim mesmo que realmente não acho ser essa uma
atribuição do instrutor, mas sempre a exerço, de qualquer modo. Arrependo-me de não ter levado adiante minha carreira de jogador
de futebol americano na faculdade. Considero agora que foi um erro ter parado. Acho as garotas da equipe atraentes. O que eu disse
para Mimi é uma desagradável paráfrase de uma frase de um dos meus filmes prediletos, dita pela personagem de Debra Winger,
em Shadowlands, para nocautear um trouxa mulherengo: "Você está tentando ser grosseiro ou não passa de um estúpido?" Mimi
Rollins me conduz a Mimi, da ópera La Boheme. Penso nos meus amigos Bill e Sarah, e no tempo em que Bill adorava ópera e
discos de ópera, e eles eram fascinados por Pavarotti. Naquela época, Bill e Sarah eram em grande medida meu pai e minha mãe.
Eles me davam de comer e tomavam conta de mim, e certamente me amavam muito. Eu adorava ficar na casa deles. Depois do
falecimento de Sarah, tudo isso mudou. A minha figura maternal se fora, e as circunstâncias da minha vida haviam mudado, de
modo que eu ia à cidade de Bill e Sarah com menor freqüência.
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Minha interpretação:

Conformar-me-ei com apenas uma das possíveis interpretações. À medida que reflito sobre o sonho e as associações, o sonho me
parece revelar um poderoso anseio inconsciente de ser cuidado, de ser uma criança dependente. Em minha vida consciente, sou
compulsivamente responsável e cuidadoso. O sonho diz que tenho muita raiva de assumir esse papel. Meu pai faleceu quando eu
tinha treze anos, e minha mãe fechou-se em sua dor, deixando-me bastante sozinho por alguns anos. Quando por fim ela apareceu,
foi mais como sedutora do que como cuidadora. Há muito sei que isso foi psicologicamente custoso, mas meu conhecimento é
meramente intelectual. A intensidade do anseio com o qual essas perdas me deixaram e a raiva por ter sido abandonado pegaram-me
de surpresa, quando interpretei o sonho.

SIMBOLISMO ONÍRICO

Desde o começo do seu trabalho com os sonhos, Freud estava interessado nos símbolos oníricos. Por exemplo, um rei e uma
rainha em um sonho representam os pais do sonhador; o príncipe ou a princesa, o sonhador. Freud passou a ter a convicção de
que os símbolos, particularmente os símbolos sexuais, podiam ser fidedignamente interpretados e podiam elucidar o conteúdo
latente do sonho. Ele compreendeu o perigo: ao interpretar os símbolos, o intérprete corre o risco de impor suas fantasias sobre
o sonhador; por outro lado, as interpretações geradas pela livre associação do sonhador pareciam mais confiáveis. Entretanto,
Freud passou a acreditar que, apesar dos riscos, o modo mais poderoso de interpretar um sonho era combinar a livre associação
do sonhador com o conhecimento a respeito de símbolos universais do intérprete.
Na primeira edição de A interpretação dos sonhos, havia muito pouca menção ao simbolismo. Em cada uma das duas edições
seguintes, Freud deu maior atenção a esse assunto. Na quarta edição, havia uma seção inteira dedicada a ele, um tópico que
Freud estudara a fundo e pelo qual se interessava muito. Seus escritos sobre o simbolismo revelam uma certa ambivalência. Por
um lado, como estava preocupado em que a psicanálise não fosse vista como excêntrica ou ocultista, encontrava-se
extremamente relutante, temendo dar a impressão de que estava escrevendo um novo "livro dos sonhos". No tempo de Freud,
como no nosso, havia livros que ensinavam o leitor a interpretar um sonho de modo a obter dele um conselho específico. O
conselho poderia ser sobre amor ou negócios, ou praticamente sobre qualquer assunto; incluía previsões específicas sobre os
resultados de um determinado empreendimento. Isso era feito por intermédio da tradução de certos símbolos. Por exemplo, em
um desses livros, sonhar com uma carta significava perigo à frente. Funeral significava noivado. Se o sonho contivesse tanto
uma carta quanto um funeral, o sonhador era instruído a juntar os dois símbolos e antever problemas para o noivado de alguém.
Em certas subculturas americanas, esses livros ainda são comuns. Freqüentemente, eles trazem recomendações a respeito de
decisões de jogo, embora, como os livros do século XIX, também forneçam conselhos para a vida. Ao menos desde a época de
Freud, a maioria das pessoas educadas e certamente todos os cientistas avaliam que esses livros não passam de bobagens
supersticiosas.
Freud estava ansioso por evitar qualquer alusão de que estivesse escrevendo mais um desses livros. Por outro lado, quanto mais
ele estudava os símbolos nos sonhos, no folclore, nos dia letos populares e nas brincadeiras, mais se convencia de que tinha
razão em conferir significado, particularmente significado sexual, aos símbolos oníricos. Objetos alongados referiam-se ao
genital masculino; objetos rasos e receptivos, ao genital feminino e ao aparelho reprodutor; e subir degraus ou escadas, ao
intercurso sexual.
Freud observou que não é difícil perceber como escalar pode representar copulação. Assinalou que, na escalada, chegamos ao
topo em uma série de movimentos rítmicos, há uma crescente falta de ar e, depois, com alguns pulos ligeiros, chegamos
embaixo mais uma vez. O padrão rítmico da copulação é reproduzido na subida da escada. (3)
A interpretação dos sonhos começou a incluir cuidadosa atenção às associações do sonhador, assim como uma cautelosa
interpretação dos símbolos oníricos feita pelo analista. "Cautelosa" quer dizer que, embora os símbolos parecessem possuir um
significado universal, ainda era importante prestar cuidadosa atenção ao contexto no qual o símbolo aparecia.
Nos dias que se sucederam à escrita da primeira parte deste capítulo, procurei exemplos de Freud sobre simbolismo onírico,
mas não fiquei satisfeito com nenhum que encontrei. Então, meu inconsciente me favoreceu mais uma vez com um sonho
relevante, este frouxamente vinculado aos personagens de uma ópera muito conhecida, A flauta mágica, de Mozart. Nessa
ópera, Sarastro é o arquétipo do bom pai. Ele faz com que Tamino, o herói, e Pamina, a heroína, passem por algumas perigosas
provações de iniciação, mas somente porque quer que eles o substituam como líderes da sua comunidade. Ele permite que
Tamino toque a sua flauta mágica protetora, à medida que este e Pamina passam pelas provações. A ária principal de Sarastro
diz respeito ao seu compromisso com o perdão e com a rejeição da vingança.
O sonho: estou andando por um campo perto de um rio, quando um homem se aproxima e me pede para ajudá-lo a consertar um
complexo artefato composto de vários tipos de metal. Começo a desmontá-lo, tirando pinos, esperando ser capaz de lembrar de onde
os tirei, quando chegar a hora de remontá-lo. Desmonto a maior parte dele e trabalho numa pequena parte de ferro fundido, cujo
desmonte é um quebra-cabeça - uma parte tem de ser deslocada de um modo especial para que a outra parte se solte. Enquanto
trabalho nessa parte, compreendo que estamos fazendo isso por Sarastro e vejo perto de nós a sua bandeira, que tem o formato de
um chapéu cônico. Espero e escuto, esperando ouvir a grande ária de Sarastro sair da bandeira. Então compreendo que, quando era
menino, Sarastro me levou para passear pelos campos nas proximidades. Consigo terminar de desmontar a parte restante, todas as
peças caem no chão, e eu acordo.
Associações: A flauta mágica não é um símbolo fálico qualquer, mas um símbolo de um poderoso falo. A manipulação do quebra-
cabeça é a masturbação. Sarastro fez a flauta mágica de uma árvore da floresta durante, creio, uma tempestade. Sarastro, o pai
cuidador definitivo, é um amoroso líder filosófico que não acredita em vingança. Ele voluntariamente entrega sua flauta (= pênis) a
Tamino e protege Pamina da mãe tenebrosa. Quando eu era menino, um dos meus verdadeiros pavores nos tempos que se seguiram
à morte do meu pai era que agora não havia nada me separando da minha mãe. Tentei me trancar em um quarto, para evitar sua
histeria. Conscientemente, para evitar sua histeria, e inconscientemente, estou certo, para evitar a súbita proximidade edipiana.
Muitas vezes, minha mãe me parecia tenebrosa e perigosa. Gosto que me peçam ajuda. Sempre ajudo. Faz parte da necessidade de
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ser responsável. Tenho certeza que é um redutor da culpa e talvez da vergonha. Lembrome de certa vez em que estava dirigindo e
me sentia chateado por algum ou outro motivo, quando o motorista de um carro me parou e me pediu informações, que eu pude
fornecer. Meu humor melhorou consideravelmente depois disso.

Como em todos os sonhos, existem muitos significados que podem ser atribuídos. Adiante, uma possível interpretação.

Anseio por um pai que apoiará, em vez de desaprovar, a minha sexualidade: masturbação infantil e heterossexualidade adulta.
Anseio por um pai que entusiasmadamente me tornará o herdeiro do seu poder fálico, um pai que perdoará de fato minha rivalidade,
hostilidade e eventual (amargo) triunfo edipiano. Anseio por um pai que me protegerá da minha mãe tentadora e perigosa. Se eu for
uma pessoa útil, talvez isso faça com que ele esteja mais disposto a me perdoar e apoiar.

Está claro por que Freud considerava que a interpretação dos sonhos era uma ferramenta de importância crucial no tratamento
da neurose. A neurose é causada por um conflito inconsciente. Como esse conflito deve ser descoberto e revelado ao paciente?
Embora fosse esperado que as livres associações do paciente sobre outras questões que não os sonhos revelassem muito a
respeito do conflito, para Freud parecia haver apenas um caminho correto, "a estrada soberana": interpretação dos sonhos.

O ESTADO ATUAL DA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS


Um século após a publicação de A interpretação dos sonhos, a relação entre a psicanálise e a interpretação dos sonhos mudou
amplamente. Muitos psicanalistas não mais consideram esta última um componente central do seu trabalho. O psicanalista Paul
Lippman escreve que, exceto os seguidores de C. G. Jung, que continuam a enfatizar o trabalho com os sonhos, o caso de amor
do analista com os sonhos parece ter acabado .(4) Ele atribui este fato às mudanças teóricas ocorridas, inclusive, por incrível
que pareça, uma gradual redução da ênfase na revelação do inconsciente. Isso está associado com um movimento em direção a
um tipo de terapia relacional, na qual o relacionamento entre o terapeuta e o cliente é examinado não tanto para revelar o
inconsciente, mas para substituir essa revelação.
Lippman também atribui uma outra causa a esse afastamento dos sonhos. Ele diz que os analistas sempre foram ambivalentes
quanto a trabalhar com sonhos. E assinala que Freud nos ensinou a interpretar os sonhos. Isso implicava uma obrigação de
superar a censura onírica e solucionar o enigma onírico. Algumas vezes, freqüentemente de fato, a censura vence, forçando o
analista a se retirar confuso ou encontrar um jeito de culpar o sonhador. Isso pode acabar fazendo com que o analista se sinta
desconcertado e confuso. Não é surpresa, diz Lippman, que os analistas tenham ficado aliviados por terem uma boa razão para
se libertar do fardo da interpretação dos sonhos.
Lippman acrescenta uma interessante especulação. Vivemos em uma época em que a cultura está se afastando do mundo
natural em direção a um mundo virtual. Aparentemente, as telas externas estão se tornando mais interessantes para nós do que
as internas. Os sonhos talvez sejam a mais interna de todas, de modo que o fato de os terapeutas psicodinâmicos estarem se
afastando dos sonhos pode ser uma expressão da propagação do âmbito do mundo eletrônico.
Acredito que, para muitos psicoterapeutas das profundezas, o afastamento da interpretação dos sonhos não implica uma
diminuição do interesse no processo inconsciente do cliente.
Embora alguns terapeutas relacionais estejam se afastando de uma ênfase na revelação do inconsciente do cliente, isso não e de
modo algum verdadeiro para todos eles. Merton Gill. (5) o pai da terapia relacional, e Heinz Kohut, (6) fundador da escola da
psicologia do self, estavam ambos firmemente convencidos da importância de trazer à superfície as raízes antigas e encobertas
dos problemas existenciais do cliente. Muitos dos seus descendentes contemporâneos ainda se mantêm comprometidos com
isso.
Freud estava tão convicto de serem os sonhos a estrada soberana para o inconsciente, que certamente ficaria entristecido de ver
a interpretação dos sonhos desaparecer da atual tendência da prática clínica. Mas ocorre que os sonhos não são de modo algum
a única estrada soberana, e talvez não sejam nem mesmo a mais confiável. Há muito que se aprender sobre os processos
inconscientes do cliente, atentando para os detalhes de suas histórias, dos padrões sutis de suas vidas e dos modos como
constroem a relação com o terapeuta.
Entretanto, os terapeutas psicodinâmicos provavelmente se precipitaram ao se afastarem dos sonhos. A reflexão sobre eles
enriquece a nossa vida e o nosso trabalho clínico. É lamentável, como diz Lippman, que os psicanalistas tenham desenvolvido a
compreensão equivocada de que cada sonho encobre um significado ao qual se deve chegar rapidamente, para que o analista
pareça competente. Isso faz com que tanto o sonhador quanto o ouvinte se afastem rapidamente demais do sonho em si. Há
muito proveito em ponderar ludicamente sobre as imagens manifestas. No primeiro sonho descrito linhas atrás, eu poderia ter
gasto mais tempo no jogo de futebol e no meu arrependimento por ter abandonado a carreira de jogador universitário. Poderia
ter explorado meus sentimentos a respeito de trabalhar cercado de muitas mulheres atraentes. Minha atração pelos versos de
Shadowlands parece muito promissora. A interpretação a que cheguei é sem dúvida reveladora e proveitosa, mas pode ser
apenas o começo de uma escavação das riquezas do sonho.

É improvável que a interpretação dos sonhos venha a ocupar novamente um lugar central na psicoterapia profunda, exceto
naquela praticada pelos junguianos. Para eles, a estrada soberana conduz a mais do que apenas o inconsciente individual do
paciente. Como acreditam que todos compartilhamos um "inconsciente coletivo" universal, eles vêem o simbolismo onírico
como indício necessário dos aspectos desse inconsciente coletivo, que estão influenciando o paciente agora.(7)
Apesar de muitos terapeutas não-junguianos se afastarem da interpretação dos sonhos, parece provável que sempre haverá
terapeutas psicodinâmicos de todas as escolas que continuarão fascinados pelos sonhos e considerarão produtivo trabalhar com
eles. Talvez os sonhos não sejam a estrada soberana para o inconsciente, ou pelo menos não a única. Entretanto, contêm
riquezas significativas. Quando um sonho (nosso ou do cliente) é explorado, menos como um código desafiador e mais como
7
um poderoso poema pessoal, explorado ludicamente e sem uma preocupação específica pelo seu significado, pode ser
esclarecedor e enriquecedor.

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