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GOIS DOS SANTOS Maria Eduarda Conceição.

Resenha: o mal-estar na civilização: o dilema


da busca pelo prazer. Cia das Artes.

O mal-estar na civilização é um dos textos mais importantes da obra de Freud e uma grande
contribuição para uma reflexão sociológica de inspiração psicanalítica. Nele, o autor explora as
contradições do processo civilizatório e a permanente luta entre as pulsões de vida e morte, no
indivíduo e na sociedade.
Na primeira parte, Freud trata de responder uma crítica de seu amigo e escritor Romain
Rolland sobre o trabalho anterior O futuro de uma ilusão (1927). Em sua resposta, Freud afirma que
não se convence sobre a natureza primária desse sentimento. O Eu se prolonga para dentro e não
possui uma fronteira nítida com a instância inconsciente denominada Id. Sendo em verdade a
fachada do Id. Além disso, quando apaixonado a fronteira entre o Eu e o objeto fica borrada.
Na segunda parte do texto, Freud comenta que a religião esclarece enigmas com perfeição,
além de prover a crença numa solícita providência, que velará e compensará o homem pelas
frustrações nessa vida. O autor identifica os sentimentos que movem essa crença como infantis. A
condição humana é dura em si mesma.
Na terceira parte do texto, Freud retoma as três fontes principais do sofrimento humano: a
prepotência da natureza, a fragilidade do nosso corpo e a insuficiência das normas que regulam os
vínculos humanos no Estado e na sociedade. Quanto às duas principais fontes precisamos
reconhecê-las e nos rendemos a elas, tentando abolir parte do sofrimento ou mitigá-lo. Contudo, não
queremos aceitar o sofrimento que vem do social.Entre as características de um país civilizado
podemos citar o seu domínio da natureza, ser capaz de se proteger, cultivar bens naturais e apreciar
beleza, limpeza e ordem, coisas que estão para além da utilidade. Além disso, outra característica da
civilização é a estima por e o cultivo de atividades psíquicas elevadas como as realizações
intelectuais, científicas e artísticas, além de os sistemas religiosos e as especulações filosóficas.
Na quarta parte, Freud discorre sobre o processo de constituição da civilização. Para o autor,
o homem primitivo identificou que está em sua mão, por meio do trabalho, melhorar a sua sorte na
terra. Assim, ver o outro como alguém que trabalha com ou contra ele tornou-se um grande
diferencial. Certamente os primeiros colaboradores do homem foram os próprios membros de sua
família. Além disso, a família constitui-se para garantir de maneira estável a satisfação genital,
querendo o homem manter a mulher como seu objeto, bem como esta deseja estar junta de seus
filhotes, o que demandou o estabelecimento de uma relação com um macho forte.
No processo civilizatório, ocorre um conflito entre a família e a comunidade, na liberação do
indivíduo para ambientes mais amplos. Por conta disso, a separação da família é uma tarefa que está
posta para todo jovem, sendo uma dificuldade inerente ao psíquico e ao orgânico.
A cultura amplia o seu âmbito pela restrição da vida sexual. Do ponto de vista cultural o
sexo somente é legítimo com o sexo oposto, pela via genital, havendo para os outros casos uma
grave restrição. Contudo, somente os fracos se sujeitam a ela. De qualquer modo, a vida sexual está
bastante prejudicada na civilização. Ocorre uma pressão da cultura que nos recusa a plena satisfação
sexual e nos impele por outros caminhos.
Na quinta parte, Freud analisa o pendor para a agressividade do ser humano. O autor afirma
que os neuróticos não suportam a frustração na vida sexual, razão pela qual criam sintomas que
funcionam como gratificação. Contudo, tal sintoma causa sofrimento ou fonte de dificuldade com o
ambiente e a sociedade. Como já foi afirmado, a vida civilizada requer sacrifícios, limitando a
satisfação sexual. Ela faz isso, pois exige o máximo de libido para ligar pessoas em relações
eróticas inibidas na meta. Assim, a cultura se opõe à sexualidade.
Na sexta parte, Freud retoma o desenvolvimento de sua teoria das pulsões. Em uma primeira
formulação, o autor partiu da dicotomia Fome e Amor para definir os instintos de autoconservação e
os libidinais (eróticos, de objeto). Com o desenvolvimento de sua teoria da libido, identificou que a
libido não apenas é dirigida aos objetivos, mas pode voltar-se para o próprio eu (libido narcísica). A
partir de 1920, com Além do princípio do prazer, Freud introduz a dicotomia “pulsão de vida” e
“pulsão de morte”. O primeiro seria a força de Eros, integrando indivíduos em unidades cada vez
maiores. O segundo seria as forças conservadoras de tendência à repetição, retorno ao inorgânico e
de destruição. Ou seja, a pulsão de morte é propriamente o pendor para a agressividade do humano,
o que coloca um desafio para a civilização.
Na sétima parte, Freud aprofunda sua teoria sobre o Super-eu. A cultura se vale de alguns
meios para tornar inofensiva ou eliminar a agressividade. Ela é introjetada, mandada de volta contra
o próprio Eu, tornando o Super-eu. Gerando assim uma tensão entre o Eu e o Super-eu, marcada
pela consciência de culpa e necessidade de punição. Assim, a civilização enfraquece o Eu, o
desarma e o faz vigiado.
Na oitava parte, Freud afirma que o sentimento de culpa é o problema mais importante da
evolução cultural. Sendo o preço do progresso cultural a perda da felicidade pelo acréscimo do
sentimento de culpa. Discorre também sobre a relação entre o sentimento de culpa e a consciência.
Podemos dizer, assim, que a teoria social freudiana não dissolve a unidade tensa entre
natureza e história, indivíduo e sociedade. Desde o seu princípio, a psicanálise assumiu que as
perturbações corporais podiam ser produzidas por desejos que não encontraram um campo possível
de expressão e reconhecimento numa ordem social determinada. O conceito de mal-estar afasta da
teoria social freudiana uma defesa de um “harmonismo” social. Pois enquanto a harmonia supõe
uma justaposição pacífica de forças, a ordem é tensa, um compromisso frágil de tendências, que
está sempre a um passo da fratura. Apreender o social pelo mal-estar é observa-lo a partir dessas
fraturas, assumindo a instabilidade dos vínculos. A ordem só é possível quando imposta do exterior.
É fruto de uma exigência de conciliação entre forças que, naturalmente, são irreconciliáveis. É
oposta à harmonia, que supõe uma combinação pacífica entre as tendências em jogo. Na ordem, só
há conformidade de superfície, que visa justamente encobrir a sua desordem e heterogeneidade
interior. Em Freud, a sociedade não pode ser pensada como um prolongamento da soma de seus
indivíduos. A vida social só se constitui apesar dos indivíduos, a partir de um forçamento, onde a
harmonia social já não passa de um ideal fugaz. Se o social se exibe a partir de uma ordem de
superfície, cabe ao psicanalista toma-lo pelo seu avesso, buscando captar em suas frestas o mal-
estar que insiste em se manifestar.

Nome/ matrícula: Maria Eduarda Conceição Gois dos Santos


Disciplina/turno: Teorias Psicanalíticas - Noturno Professora:
Yasmim Magalhães

Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC


Área Especial para Indústria, Lote nº 02, Bloco A, Sala 304, Setor Leste, Gama, Brasília, DF – CEP 72.445-
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