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Introdução Teórica
Nos "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" Freud se ocupa da relação mãe-filho, entre
objeto e sujeito. Objeto Libidinal do ponto de vista do sujeito. Fala da relação objetal, do
descobrimento do objeto, mas não das relações objetais. Tratarei dessa mútua relação baseando
em observações diretas (experiências com recém-nascidos).
Freud tem sublinhado a incapacidade deste para manter-se vivo por seus próprios meios -
proteção/cuidado são necessários das pessoas que o rodeiam: o progresso e o desenvolvimento
estão essencialmente baseados no estabelecimento das relações objetais e sociais.
Proíbo-me a hipótese da presença dos processos intrapsíquicos que poderiam existir no bebê
desde seu nascimento. O pensamento não existe no momento de nascer. Tão pouco está
presente nas formas de sensação, percepção e volição. Ao nascer: estado
"INDIFERENCIADO". Não admito a presença do eu ao nascer. Assim não é possível o
Complexo de Édipo, nem supereu, nem simbolismo - nenhuma interpretação simbólica. Os
símbolos estão unidos à aquisição da linguagem, que não se alcança durante o primeiro ano. Os
mecanismos de defesa não existem. Durante o primeiro ano só podemos entrever alguns
mecanismos que são mais fisiológicos do que psicológicos: são protótipos fisiológicos sobre os
quais o psiquismo erigirá ulteriormente um edifício muito distinto.
Princípios e teoremas do primeiro ano:
- funcionamento psíquico: princípio prazer/desprazer
- divisão da psique em consciente/inconsciente no sentido descritivo - Ponto de vista tópico:
divisão da psique em sistemas ICS/PCs/CS [inconsciente, Pré-consciente, Consciente]
- Ponto de vista das instâncias (estrutural) ID/EGO/SUPEREGO
- Freud e a definição do "objeto da libido" (em As pulsões e suas vicissitudes, de 1915) "O
objeto da pulsão é aquele no qual, ou por meio do qual, pode a pulsão encontrar sua satisfação.
Não é necessariamente algo exterior ao sujeito, pode ser qualquer parte do seu corpo e é
susceptível de ser substituído indefinidamente durante a vida pulsional".
- Tais trocas dependerão da estrutura das pulsões parciais, maturação progressiva e da
diferenciação das pulsões.
- O objeto da libido se descreve por sua história, por sua gênese.
1. O Estádio Pré-Objetal
Coincide mais ou menos com o narcisismo primário. Indiferenciação. Incapacidade de
diferenciar. O seio seria como parte integrante de sua pessoa. Toda percepção ocorre em
função do sistema interoceptor (percepção da necessidade). A percepção externa só é
apreendida quando ultrapassar um certo umbral: sentida como desprazer.
Tenho pouca fé no traumatismo do nascimento como fenômeno de angústia. Freud se refere a
ele como protótipo para o fenômeno psicológico da angústia que aparecerá mais tarde. É um
estado de excitação - matriz de um desagrado. Durante as primeiras horas e primeiros dias esse
matriz é o único que pode ser observado. O estado contrário não é de prazer e sim de
"sossego". A excitação contrasta com a quietude - corresponde ao princípio de nirvana
enunciado por Freud (tendência a reduzir tensão).
As respostas do recém-nascido são análogas ao reflexo condicionado. Até o 8o. dia o bebê
responde a sinais - sensações de equilíbrio. Ex: quando o bebê é pego no colo em posição
horizontal vira a cabeça para mamar, não virará a cabeça na posição vertical. Até o 2o. mês o
bebê só reconhece o alimento quando tem fome. Reconhece o seio quando o tem na boca, pois
começa a mamá-lo. Mas mesmo esta percepção elementar está sujeita a variações: se grita
porque a espera o tem frustrado não reconhecerá o peito introduzido em sua boca.
SÓ A PARTIR DO 2o MÊS O BEBÊ PERCEBE VISUALMENTE A APROXIMAÇÃO DO
SER HUMANO. Se na hora da mamada aproxima-se um adulto, o bebê que chora de fome se
acalma. É uma resposta à percepção do alimento. RESPONDE A UM ESTÍMULO
EXTERIOR, MAS SÓ EM FUNÇÃO DE UMA PERCEPÇÃO INTEROCEPTIVA, em
função da percepção de um impulso insatisfeito.
Duas ou três semanas mais tarde percebe o rosto humano: seguirá seus movimentos com
atenção centrada.
O rosto humano se apresenta ao bebê em cada situação de alívio de necessidade. O rosto é
estímulo visual mais freqüente - será o primeiro a se estabelecer como sinal de memória ao
longo das seis primeiras semanas.
Estas são as 10 faces de um fenômeno global que marca o ponto de transição do estádio
narcisista primário ao da libido objetal
A presença da mãe constitui um estímulo às respostas do bebê. As ações que produzem prazer,
repete-as e adquire seu domínio; abandonará aquelas que regularmente conduzem ao fracasso.
É um método de ensino análogo ao ensaio-erro, e a mãe deverá provocar ações que produzem
prazer. Se a atitude é materna e terna, qualquer atividade do bebê lhe causará prazer. Inclusive,
são as atitudes inconsciente da mãe que facilitam as ações do bebê .
A parelha mãe-filho forma uma massa a dois, uma díade - laços extraordinariamente
poderosos. São laços afetivos: amor egoista à dois. Há algo misterioso no interior desta díade:
a intuição materna que chega a conhecer as necessidades do bebê, inclusive onde há confusão.
Mas como descrever a forma como o bebê percebe as atitudes, os desejos consciente e
inconsciente da mãe? Para que o bebê chegue a conformar-se aos desejos da mãe é preciso que
os perceba. Trata-se da comunicação entre mãe-filho.
1. Comunicação na parelha: Comunicação pré-verbal (Karl Buhler: ações expressivas). Um
estado espiritual à exp. imediata do sujeito. O que caracteriza a comunicação particular
existente entre mãe e filho e o que a distingue das comunicações entre adultos é a desigualdade
dos participantes.
2. Papel da percepção: essas comunicações são percebidas. Nos primeiros seis meses o sistema
de percepção, o sensório, permanece em estado de transição gradual que Wallon chamou de
percepção cenestésica. O sistema de percepção se afirmará mais tarde em uma percepção
diacrítica que se sobrepõe à recepção cenestésica. Recepção cenestésica: sensibilidade
profunda e em termos de totalidade, como as viscerais. Por isso tenho introduzido para o
psiquismo infantil deste período arcaíco o termo de somatopsíquica.
Se se consideram estes sinais de comunicação, se trata de comunicação não-verbal, não
dirigida, expressiva - está a nível da comunicações dos animais.
Como e porque é capaz o bebê de receber esses sinais?
O mais elementar nível de comunicação adquirido é um reflexo condicionado - um signo ou
sinal provocaram uma resposta no sistema vegetativo. É um fato experimentalmente
demonstrável: o primeiro reflexo condicionado é uma resposta a um estímulo de sensibilidade
profunda - cenestésico: é um estado de equilíbrio. A percepção não influenciando tende a
reforçar o valor da recepção cenestésica - que são os únicos recebidos. A recepção cenestésica
se dirige ao meio interior. Se esta não funciona no momento do nascimento o bebê não poderá
viver. Assim, deduz-se o funcionamento cenestésico está mais avançado desde o nascimento.
Em que categoria do compto humano se encontra esses sinais? R.: Equilíbrio, tensão,
temperatura, vibração, ritmo, tempo, matizes de tons...
Por que o adulto as desconhece? Os adultos podem ter estas sensibilidades perdidas - e esses
são os especialmente dotados: compositores, músicos, bailarinos... O homem médio não é
consciente dos fenômenos que se produzem nos setores de seu próprio corpo - essa faculdade é
freqüentemente rechaçada. Esses fenômenos podem servir para explicar dons aparentemente
sobrenaturais. Para o bebê os sinais do clima afetivo da mãe chegam a ser uma forma de
comunicação a qual outorga respostas totais. São percebidas pela mãe da mesma forma.
Tenho aludido à sensibilidade quase mágica da mãe com relação ao bebê. A mãe (capacidade
de percepção de ordem cenestésica da qual carece normalmente) reage de maneira imediata
sem a intervenção da mentalidade consciente.
Os afetos de prazer e suas manifestações se desenvolvem no decorrer dos três meses e podem
demonstrar-se pelo fenômeno do sorriso - tem seu exato paralelismo com o desenvolvimento
das manifestações de desprazer. Depois de três meses o bebê manifesta seu desagrado quando
o companheiro humano o abandona.
Privar o bebê do afeto de desprazer no primeiro ano é tão prejudicial quanto privá-lo do prazer.
Eles colaboram com a formação do psiquismo. Mas não se deve superestimar a importância da
frustração uma vez que a Natureza mesma a impõe.
Entre 6 e 8 meses se apresenta uma transformação de grave conseqüência. Nesta idade a
discriminação diacrítica tem progredido muito (distingue amigo e estranho). Comportamento:
baixa os olhos com timidez ou chega a gritar (choro). Pode esconder-se sobre as mantas,
ocultar o rosto, tapar os olhos com as mãos. Apresenta uma reação de que pode ser
denominada como angústia - medo.
Angústia dos 8 meses: considero a primeira manifestação da angústia propriamente dita.
2. O segundo Organizador
Um dos períodos críticos se situa em torno dos oito meses. Começa uma nova fase. No
desenvolvimento, as fases sucessivas marcham paralelamente com as do desenvolvimento do
eu e com seu definitivo estabelecimento. A estas duas linhas paralelas se junta uma terceira: a
do desenvolvimento progressivo das relações objetais, que conduz à constituição do objeto
libidinal propriamente dito.
... O próximo capítulo começa o estudo "das deformações e desvios das relações objetais".