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SPITZ, RENÉ.

"O PRIMEIRO ANO DE VIDA"

Introdução Teórica
Nos "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" Freud se ocupa da relação mãe-filho, entre
objeto e sujeito. Objeto Libidinal do ponto de vista do sujeito. Fala da relação objetal, do
descobrimento do objeto, mas não das relações objetais. Tratarei dessa mútua relação baseando
em observações diretas (experiências com recém-nascidos).
Freud tem sublinhado a incapacidade deste para manter-se vivo por seus próprios meios -
proteção/cuidado são necessários das pessoas que o rodeiam: o progresso e o desenvolvimento
estão essencialmente baseados no estabelecimento das relações objetais e sociais.
Proíbo-me a hipótese da presença dos processos intrapsíquicos que poderiam existir no bebê
desde seu nascimento. O pensamento não existe no momento de nascer. Tão pouco está
presente nas formas de sensação, percepção e volição. Ao nascer: estado
"INDIFERENCIADO". Não admito a presença do eu ao nascer. Assim não é possível o
Complexo de Édipo, nem supereu, nem simbolismo - nenhuma interpretação simbólica. Os
símbolos estão unidos à aquisição da linguagem, que não se alcança durante o primeiro ano. Os
mecanismos de defesa não existem. Durante o primeiro ano só podemos entrever alguns
mecanismos que são mais fisiológicos do que psicológicos: são protótipos fisiológicos sobre os
quais o psiquismo erigirá ulteriormente um edifício muito distinto.
Princípios e teoremas do primeiro ano:
- funcionamento psíquico: princípio prazer/desprazer
- divisão da psique em consciente/inconsciente no sentido descritivo - Ponto de vista tópico:
divisão da psique em sistemas ICS/PCs/CS [inconsciente, Pré-consciente, Consciente]
- Ponto de vista das instâncias (estrutural) ID/EGO/SUPEREGO
- Freud e a definição do "objeto da libido" (em As pulsões e suas vicissitudes, de 1915) "O
objeto da pulsão é aquele no qual, ou por meio do qual, pode a pulsão encontrar sua satisfação.
Não é necessariamente algo exterior ao sujeito, pode ser qualquer parte do seu corpo e é
susceptível de ser substituído indefinidamente durante a vida pulsional".
- Tais trocas dependerão da estrutura das pulsões parciais, maturação progressiva e da
diferenciação das pulsões.
- O objeto da libido se descreve por sua história, por sua gênese.

1. O Estádio Pré-Objetal
Coincide mais ou menos com o narcisismo primário. Indiferenciação. Incapacidade de
diferenciar. O seio seria como parte integrante de sua pessoa. Toda percepção ocorre em
função do sistema interoceptor (percepção da necessidade). A percepção externa só é
apreendida quando ultrapassar um certo umbral: sentida como desprazer.
Tenho pouca fé no traumatismo do nascimento como fenômeno de angústia. Freud se refere a
ele como protótipo para o fenômeno psicológico da angústia que aparecerá mais tarde. É um
estado de excitação - matriz de um desagrado. Durante as primeiras horas e primeiros dias esse
matriz é o único que pode ser observado. O estado contrário não é de prazer e sim de
"sossego". A excitação contrasta com a quietude - corresponde ao princípio de nirvana
enunciado por Freud (tendência a reduzir tensão).
As respostas do recém-nascido são análogas ao reflexo condicionado. Até o 8o. dia o bebê
responde a sinais - sensações de equilíbrio. Ex: quando o bebê é pego no colo em posição
horizontal vira a cabeça para mamar, não virará a cabeça na posição vertical. Até o 2o. mês o
bebê só reconhece o alimento quando tem fome. Reconhece o seio quando o tem na boca, pois
começa a mamá-lo. Mas mesmo esta percepção elementar está sujeita a variações: se grita
porque a espera o tem frustrado não reconhecerá o peito introduzido em sua boca.
SÓ A PARTIR DO 2o MÊS O BEBÊ PERCEBE VISUALMENTE A APROXIMAÇÃO DO
SER HUMANO. Se na hora da mamada aproxima-se um adulto, o bebê que chora de fome se
acalma. É uma resposta à percepção do alimento. RESPONDE A UM ESTÍMULO
EXTERIOR, MAS SÓ EM FUNÇÃO DE UMA PERCEPÇÃO INTEROCEPTIVA, em
função da percepção de um impulso insatisfeito.
Duas ou três semanas mais tarde percebe o rosto humano: seguirá seus movimentos com
atenção centrada.
O rosto humano se apresenta ao bebê em cada situação de alívio de necessidade. O rosto é
estímulo visual mais freqüente - será o primeiro a se estabelecer como sinal de memória ao
longo das seis primeiras semanas.

2. O Estágio do Objeto Precursor


O interesse exclusivo pelo rosto humano cristalizará no 3o. mês uma reação: o sorriso. É a
primeira manifestação ativa dirigida e intencionada. Trânsito da posição passiva ao
comportamento ativo. O bebê percebe um sinal (não um objeto). Este sinal é o rosto humano
(não todo o rosto), uma Gestalt privilegiada: frente/olhos/nariz - em movimento.
Essa Gestalt é um objeto precursor. O Objeto da libido se caracteriza por qualidades
essenciais (proteção/satisfação) presas em sua gênese. Essas qualidades se mantêm invariáveis
através de todas as vicissitudes que transformam os atributos exteriores do objeto. As coisas se
caracterizam por seus atributos superficiais. Gestalt-sinal: um atributo que pertencem mais às
coisas. O fato de que seja a gênese das relações objetais lhe confere uma qualidade que
ultrapassa a das coisas e lhe assegura um lugar na genealogia do objeto da libido que irá
desenvolver-se.
Em situação experimental, o bebê sorri para uma careta de papel. Esse sinal pertence ao rosto
materno e deriva dele - vinculada ao estado de alimentação, proteção e ao sentido de
segurança; se desenvolverá e acabará por estabelecer a mãe (em toda sua pessoa) como
verdadeiro objeto.
Relação pré-objetal: uma parte do rosto humano.

3. O Objeto Precursor na Percepção


Durante o primeiro ano a mãe serve de intérprete a toda percepção, ação e conhecimento. O
aparelho perceptivo pode estar fisicamente desenvolvido, mas psicologicamente a criança
ainda não se serve dele. O isolamento da Gestalt-sinal é um exemplo desta aprendizagem. Os
seios da mãe, suas mãos e seus dedos oferecem à criança todos os estímulos táteis para
aprendizagem da pressão e orientação tátil; seu corpo e seus movimentos lhe dão as
experiências necessárias do equilíbrio; sua voz proporciona à criança os estímulos auditivos
necessários para a formação da linguagem.
A formação da linguagem, sua iniciação ao final do primeiro ano é um fenômeno completo.
Abarca a descarga e a percepção. O fenômeno da linguagem é um fenômeno surpreendente: a
criança passa da passividade (durante a qual a descarga regula os estados tensionais segundo o
princípio do prazer) à iniciação da atividade (na qual a própria descarga converte-se em uma
fonte de satisfação). Com este passo, a atividade se converte em um dos fatores do
desenvolvimento sob a forma de 'atividade lúdica'. A vocalização que a princípio serve como
descarga de impulsos transforma-se em jogo no qual se repete os sons que ele mesmo tem
produzido. A criança tem prazer nessa descarga (produzindo sons) e em sua percepção
(escutando-os). É uma experiência nova: na repetição a criança se proporciona seu próprio eco.
É a primeira imitação auditiva. Alguns meses depois, repetirá esse comportamento com os sons
que escuta da mãe.
É uma transição: do estádio narcisista (no qual a criança toma a si mesma como objeto) ao
estádio objetal. Quando faz eco, imita a mãe, está deslocando o objeto autístico de sua própria
pessoa para o objeto constituído no mundo exterior. Transformar-se-á, mais tarde, em uma
série de sinais semânticos.

4. O papel dos afetos nas relações entre mãe e filho


É de importância primordial os sentimentos da mãe por seu filho, ou seja, sua atitude afetiva.
A atitude afetiva determina a qualidade da experiência. A criança percebe de modo mais
pronunciado que o adulto. Durante os três primeiros meses as experiências do bebê se limitam
ao afeto. A atitude afetiva da mãe serve de orientação ao bebê. A sua vez, a gama que dispõe
cada mãe será influenciada pelas atitudes e pela personalidade de seu filho, em um processo
circular. Influenciará nos sentimentos da mãe.
Um bebê pode sorri aos 26 dias como aos 6 meses - pode-se imaginar a importância que tem
essas diferenças quanto a reação materna.
A mãe representa a sociedade. O oponente deste fator se encontra na bagagem congênita do
bebê.

5. Alcance teórico do estabelecimento do objeto precursor


. Ponto no qual o bebê se separa da recepção interna da experiência e se aproxima à percepção
externa do estímulo.
. Esse desenvolvimento pressupõe o estabelecimento de indícios de memória conscientes no
psiquismo infantil.
. pressupõe uma divisão entre consciente e pré-consciente, separando ambos do Ics.
. Tal conjetura dá lugar à iniciação do pensamento.
. O pensamento introduz a função do princípio da realidade.
. Esse desenvolvimento (3 meses) marca a iniciação rudimentar do eu, considerado como uma
organização central - permite coordenar atos intencionais a serviço da defesa e do domínio.
. Com isto a barreira contra os estímulos se faz cada vez menos necessária.
. Esta capacidade de ação dirigida leva o bebê a um desenvolvimento progressivo e rápido dos
diferentes sistemas do eu - primeiro o setor do eu corporal, e logo, em outros setores.
. Considerando o conjunto deste fenômeno a partir do behaviorismo, é evidente que representa
a transição da passividade à atividade dirigida.
. O fenômeno representa a iniciação das relações sociais no ser humano - protótipo das
relações sociais posteriores.

Estas são as 10 faces de um fenômeno global que marca o ponto de transição do estádio
narcisista primário ao da libido objetal

CAPÍTULO IV - PLASTICIDADE DO PSIQUISMO INFANTIL

Os 3 meses seguintes representam o período mais plástico do desenvolvimento humano. Está


presente: impotência infantil; o caráter de transição (por isso vulnerável); ausência de uma
organização solidamente estabelecida.
1 - Impotência do recém-nascido:
No texto Projeto para uma psicologia científica, de Freud (1895): Única ação específica do
bebê: descargas difusas, choros, gestos... Esta via de descarga toma função secundária
importante para a comunicação; "a impotência, a incapacidade do ser humano no começo é a
base primária de todos os motivos da moral".
2 - Primeiro ano, período de transformação
Primeiro ano: um ser em status nascendi.
3 - O primeiro Organizador e as conseqüências de seu estabelecimento:
No quadro desta evolução há épocas específicas nas quais acontecem trocas de direções -
uma reorganização completa da estrutura física, um despertar. São períodos vulneráveis,
qualquer traumatismo tem conseqüências específicas e de gravidade.
Deduz-se de minhas observações: durante estes períodos críticos as correntes de
desenvolvimento, que operam nos diferentes setores da personalidade, se integram, por uma
parte, umas com as outras, e por outra, ao processo de maturação.
Esta integração tem por resultado a formação de uma nova estrutura psíquica sobre um nível
de complexidade mais elevado. O sorriso representa uma série de diversas correntes de
desenvolvimento psíquico. No sorriso: o bebê desvia a sensação interior para a percepção
exterior, o pré-consciente e com ele o Ics se estabelecem e se diferenciam um do outro. Se
implantam os rudimentos do eu; o bebê começa a aplicar o princípio de realidade. Isto marca
uma nova era no meio interior - começa uma nova forma de ser fundamentalmente distinta da
anterior.
3. Ausência de "eu"
A terceira razão da plasticidade é a ausência do eu no primeiro ano - o eu é a organização
psíquica para intercâmbios com o ambiente.
O eu governa a forma na qual tem que ser tratados os estímulos procedente do interior ou do
exterior. O eu não se cria de uma vez - seu desenvolvimento dura meses e anos.

CAPÍTULO V - AS FORÇAS FORMATIVAS NA RELAÇÃO MÃE-FILHO

A presença da mãe constitui um estímulo às respostas do bebê. As ações que produzem prazer,
repete-as e adquire seu domínio; abandonará aquelas que regularmente conduzem ao fracasso.
É um método de ensino análogo ao ensaio-erro, e a mãe deverá provocar ações que produzem
prazer. Se a atitude é materna e terna, qualquer atividade do bebê lhe causará prazer. Inclusive,
são as atitudes inconsciente da mãe que facilitam as ações do bebê .
A parelha mãe-filho forma uma massa a dois, uma díade - laços extraordinariamente
poderosos. São laços afetivos: amor egoista à dois. Há algo misterioso no interior desta díade:
a intuição materna que chega a conhecer as necessidades do bebê, inclusive onde há confusão.
Mas como descrever a forma como o bebê percebe as atitudes, os desejos consciente e
inconsciente da mãe? Para que o bebê chegue a conformar-se aos desejos da mãe é preciso que
os perceba. Trata-se da comunicação entre mãe-filho.
1. Comunicação na parelha: Comunicação pré-verbal (Karl Buhler: ações expressivas). Um
estado espiritual à exp. imediata do sujeito. O que caracteriza a comunicação particular
existente entre mãe e filho e o que a distingue das comunicações entre adultos é a desigualdade
dos participantes.
2. Papel da percepção: essas comunicações são percebidas. Nos primeiros seis meses o sistema
de percepção, o sensório, permanece em estado de transição gradual que Wallon chamou de
percepção cenestésica. O sistema de percepção se afirmará mais tarde em uma percepção
diacrítica que se sobrepõe à recepção cenestésica. Recepção cenestésica: sensibilidade
profunda e em termos de totalidade, como as viscerais. Por isso tenho introduzido para o
psiquismo infantil deste período arcaíco o termo de somatopsíquica.
Se se consideram estes sinais de comunicação, se trata de comunicação não-verbal, não
dirigida, expressiva - está a nível da comunicações dos animais.
Como e porque é capaz o bebê de receber esses sinais?
O mais elementar nível de comunicação adquirido é um reflexo condicionado - um signo ou
sinal provocaram uma resposta no sistema vegetativo. É um fato experimentalmente
demonstrável: o primeiro reflexo condicionado é uma resposta a um estímulo de sensibilidade
profunda - cenestésico: é um estado de equilíbrio. A percepção não influenciando tende a
reforçar o valor da recepção cenestésica - que são os únicos recebidos. A recepção cenestésica
se dirige ao meio interior. Se esta não funciona no momento do nascimento o bebê não poderá
viver. Assim, deduz-se o funcionamento cenestésico está mais avançado desde o nascimento.
Em que categoria do compto humano se encontra esses sinais? R.: Equilíbrio, tensão,
temperatura, vibração, ritmo, tempo, matizes de tons...
Por que o adulto as desconhece? Os adultos podem ter estas sensibilidades perdidas - e esses
são os especialmente dotados: compositores, músicos, bailarinos... O homem médio não é
consciente dos fenômenos que se produzem nos setores de seu próprio corpo - essa faculdade é
freqüentemente rechaçada. Esses fenômenos podem servir para explicar dons aparentemente
sobrenaturais. Para o bebê os sinais do clima afetivo da mãe chegam a ser uma forma de
comunicação a qual outorga respostas totais. São percebidas pela mãe da mesma forma.
Tenho aludido à sensibilidade quase mágica da mãe com relação ao bebê. A mãe (capacidade
de percepção de ordem cenestésica da qual carece normalmente) reage de maneira imediata
sem a intervenção da mentalidade consciente.

3. Os afetos, a percepção e a comunicação


Para o recém-nascido: os sinais dos tonos afetivo da mãe certamente é uma forma de
comunicação. Intercâmbio constante entre mãe-filho - pressão constante que dará forma ao
psiquismo infantil.
Fenômenos patológicos: só se trata por exceção de acontecimentos traumáticos isolados, é
sempre o afeto acumulativo de experiências, estímulos e respostas constantemente repetidas - o
clima afetivo e princípio de acumulação - produz seus efeitos.
Teoria Psicanalítica: desde suas origens, toda função psíquica, se trata de sensações,
percepções, de pensamentos ou ações, pressupõe uma carga da libido, é dizer, um processo
afetivo - os intercâmbios afetivos mãe/filho (seus efeitos podem ser observados diretamente).
Chama a atenção o fato de que os processos afetivos, as interações e as percepções, precedem a
qualquer outra função que posteriormente se desenvolverá sobre as suas bases. As funções
afetivas abrem o caminho à qualquer outro desenvolvimento durante o primeiro ano de vida.
Estabelece as bases das relações objetais que permitirão a iniciação das relações com as coisas.
Depois de haver adquirido conhecimento do rosto humano, transcorrerão dois meses antes que
o bebê consiga reconhecer a mamadeira, essa coisa que lhe é ensinada várias vezes ao dia. O
fato de que a primeira de todas as relações estabelecidas na vida do bebê seja uma relação com
o companheiro humano tem particular importância. Todo trabalho ulterior social se apoiará
neste fato.

CAPÍTULO VI - AFETOS DE DESAGRADO (Angústia dos 8 meses)

Os afetos de prazer e suas manifestações se desenvolvem no decorrer dos três meses e podem
demonstrar-se pelo fenômeno do sorriso - tem seu exato paralelismo com o desenvolvimento
das manifestações de desprazer. Depois de três meses o bebê manifesta seu desagrado quando
o companheiro humano o abandona.
Privar o bebê do afeto de desprazer no primeiro ano é tão prejudicial quanto privá-lo do prazer.
Eles colaboram com a formação do psiquismo. Mas não se deve superestimar a importância da
frustração uma vez que a Natureza mesma a impõe.
Entre 6 e 8 meses se apresenta uma transformação de grave conseqüência. Nesta idade a
discriminação diacrítica tem progredido muito (distingue amigo e estranho). Comportamento:
baixa os olhos com timidez ou chega a gritar (choro). Pode esconder-se sobre as mantas,
ocultar o rosto, tapar os olhos com as mãos. Apresenta uma reação de que pode ser
denominada como angústia - medo.
Angústia dos 8 meses: considero a primeira manifestação da angústia propriamente dita.

1. Evolução dos aspectos negativos durante o primeiro ano.


Que é angústia propriamente dita? Distingo três fases. Segundo Freud o protótipo da angústia é
o nascimento, seu traumatismo. Freud descreve esse protótipo com os termos da manifestação
fisiológica.
. 1as semanas até a 5/6as - primeira fase do desenvolvimento da angústia. Não estimo que essas
manifestações sejam a 'verdadeira angústia' - elas são manifestações de desprazer mais
arcaicas, pertinentes ao estado fisiológico (estado de tensão). É a forma do recém-nascido
manifestar desagrado durante a época não diferenciada. Pouco a pouco, no transcurso de 8
semanas, estes estados de desprazer começam a perder seu caráter difuso, se manifesta em
situação cada vez mais específica - se faz perceptível ao observador. Transforma-se numa
espécie de código de comunicação. No transcurso de três meses se estabelece no psiquismo do
bebê um código de sinais dirigido. Por uma ação sua o bebê consegue um efeito: induzir
àqueles que o rodeiam para que acabe com aquilo que o molesta, e lhe dêem algo que deseja.
Mas há algumas experiências desagradáveis para que o bebê a tema.
. Durante o segundo trimestre apresenta a reação de medo. É a 2a. fase do desenvolvimento até
a verdadeira angústia.
Primeira: estados fisiológicos de tensão - se produz em respostas a percepções de desequilíbrio
interior, a reação de medo se dirige a um objeto - uma pessoa ou coisa com a qual o bebê teve
experiências desagradáveis. Quando esse objeto se apresenta de novo a sua percepção o bebê
terá uma reação de fuga, ante o perigo real.
. O fenômeno do 6o/8o. mês é totalmente distinto. Nesta reação ante um estranho, sua fuga não
se dirige a uma experiência prévia de desprazer. Por que manifesta medo e apreensão? É
essencial que a mãe não esteja presente nesta experiência. Na ausência da mãe a resposta se
manifesta com toda sua força. AO APROXIMAR UM ESTRANHO O BEBÊ SE SENTE
FRUSTRADO EM SEU DESEJO DE VOLTAR A VER A MÃE, E A ANGÚSTIA SERÁ
UMA PERCEPÇÃO INTRAPSÍQUICA DA NÃO IDENTIDADE DO ESTRANHO COM
A MÃE, DA QUAL O BEBÊ ESTÁ PRIVADO. Trata-se de uma resposta a uma percepção
intrapsíquica, à reativação de uma tensão de desejo. Por isso é, angústia propriamente dita, a
angústia dos 8 meses.
É análoga ao sorriso na medida que representa uma etapa na organização psíquica. O sorriso, a
Gestalt-sinal do rosto se confronta com os vestígios de lembrança de companheiros humanos e
se aceita porque é seu homólogo. Na angústia dos 8 meses, a percepção do rosto estranho se
confronta com os vestígios da memória do rosto da mãe. Comprova-se que é diferente e se
rechaça.
Este funcionamento dos vestígios de memória forma uma verdadeira relação objetal, a
mãe se converteu em seu objeto libidinal. Demonstra a aquisição de uma nova função do eu: a
função de julgamento. Substituirá as formas mais primitivas do mecanismo de defesa por
uma função intelectual.

2. O segundo Organizador
Um dos períodos críticos se situa em torno dos oito meses. Começa uma nova fase. No
desenvolvimento, as fases sucessivas marcham paralelamente com as do desenvolvimento do
eu e com seu definitivo estabelecimento. A estas duas linhas paralelas se junta uma terceira: a
do desenvolvimento progressivo das relações objetais, que conduz à constituição do objeto
libidinal propriamente dito.

Recapitulação (série de etapas ocorridas):


- constituição na memória do rosto humano, enquanto sinal anuncia a formação e a
constituição de um precursor do objeto e marca a primeira fase (primeiro Organizador).
- o fenômeno da angústia dos 8 meses (3 ou 4 meses mais tarde), o bebê reserva ao rosto da
mãe um lugar único entre os demais rostos humanos - agora prefere rechaçar os outros
(segundo Organizador).

Esse é o critério para a constituição de um objeto. Para o Behaviorista o fenômeno "angústia


dos 8 meses" só significa que uma coisa foi constituída no campo óptico. Mas se formos mais a
frente que esse método e tentamos compreender o sentido desse comportamento advertiremos
o papel decisivo do afeto. Observamos que o objeto não só se tem constituído no terreno
visual, senão também sobretudo no terreno afetivo. O objeto existe somente com a condição de
que seja impossível sua confusão com qualquer outro fenômeno - é possível estabelecer com
ele relações estreitas, que lhe conferem qualidades exclusivas. Essa angústia é a prova de que o
bebê rechaça tudo, exceto o objeto único - encontrou o companheiro com o qual cria relações
objetais, no verdadeiro sentido do termo.
No aparelho mental alcança um número crescente de vestígios de memória. De que resulta uma
das condições para a formação de sistemas no eu - durante esta fase, estes sistemas se formarão
sobretudo na esfera livre de conflito do eu.
No nível da organização psíquica, a maturação e o desenvolvimento da bagagem congênita:
permitem ações dirigidas (descarregar intencionalmente tensões de afeto). Estas descargas
reduzem o nível da tensão no psiquismo, o que permite organizar melhor a satisfação das
necessidades. Esta reorganização do funcionamento psíquico permite ao sujeito aumentar o
potencial de reservas de prazer. A organização do eu se enriquece, se estrutura e se delimita,
por uma parte, para o id, e por outra, para o mundo exterior. Depois dos intercâmbios
(bebê/objeto) de ações se estabelecem as fronteiras entre o mesmo (o self) e o meio ambiente,
entre o eu e o isso (id) e entre os sistemas individuais no eu.
Por um lado, a diferenciação na agressão da libido, e por outro, o destino destes dois impulsos
no transcurso do primeiro ano, tem um papel decisivo na constituição do eu, em sua
estruturação e estabelecimento de suas fronteiras. Entre a sorte dos impulsos, por um lado, e as
fases da constituição do objeto, por outro, existe uma estreita interação. Esta interação se
produz juntamente com o desenvolvimento progressivo da coordenação corporal, com a
percepção e nos intercâmbios de ações ativas e intencionais. O ponto culminante disso tudo é o
2o Organizador.
Temos falado muito dos sistemas do eu, mas não de suas funções. Entre elas ocupam lugar de
destaque os mecanismos de defesa, que a princípio ajudam mais à adaptação que à defesa no
verdadeiro sentido da palavra. Uma vez constituído o objeto, vê-se funcionar alguns destes
mecanismos como no adulto.
A angústia dos 8 meses é variável (mais variável que as outras). É uma conseqüência da
natureza do fenômeno, já que é resultado do estabelecimento de relações entre dois indivíduos,
e dependerá da capacidades destes para estabelecer tais relações.

CAPÍTULO VII - MISSÃO E EVOLUÇÃO DAS PULSÕES


Até agora tratamos da fenomenologia do desenvolvimento das relações objetais e de seus
aspectos estruturais e tópicos. Agora examinaremos o ponto de vista dinâmico - o papel dos
impulsos. Ao nascer e durante o estádio narcisista que segue ao nascimento os impulsos não se
diferenciam entre si. Há dois impulsos: agressão e libido.
Os dois impulsos se separam um do outro graças ao intercâmbio entre mãe e bebê nos
primeiros meses - a diferenciação através de uma série de experiências que não estão ligadas
entre si, são exp. discretas no setor particular de cada um desses impulsos. Está é a situação aos
3 meses quando é estabelecido o precursor do objeto. Segue um período de transição de 8
semanas. Transição do estádio pré-objetal ao das autênticas relações objetais. Durante o estádio
narcisista e de transição estes impulsos se apoiam na gratificação das necessidades orais do
bebê. A pessoa que satisfaz as necessidades orais é a mãe, assim a ela se dirigirão tanto os
impulsos agressivos como os libidinais.
Falaremos em dois objetos: o mau e o bom.
A origem deste estágio de transição se marca pelo nascimento de um rudimento do eu, que é o
aparelho guia central coordenador. É função do eu coordenar e fazer a fusão progressiva da
experiência discreta com a percepção correspondente que o rodeia. A presença do eu, por
rudimentar que seja, permite aos impulsos uma descarga em forma de ação dirigida - que irão
diferenciar os impulsos - agressivo (dirigido ao mau objeto) do libidinal (ao bom).
Em torno do 6o mês se produz uma síntese. O eu adquire importância. Sua função integradora
se combina com experiências inumeravelmente repetidas com a pessoa da mãe, para efetuar a
fusão dos dois objetos (bom e mau) na pessoa perceptível única daquela. Por este ato de
síntese, ambos os impulsos se dirigirão até o objeto perceptual. Percepção, ação e função
integradora do eu: conduzirá à fusão das pulsões - momento da formação do objeto libidinal,
princípio das verdadeiras relações objetais.
Tanto a privação como o auge de um dos impulsos conduzirão a uma deformação nas relações
objetais. É a mãe quem priva ou favorece - seu comportamento será determinante, conforme a
maneira de estabelecer-se as relações objetais estará em suas mãos exagerar o objeto bom ao
mau.

CAP. VIII - CONSEQUÊNCIAS DO ESTABELECIMENTO DO 2o ORGANIZADOR


- Rápido desenvolvimento do bebê nos mais variados setores
- nas semanas seguintes manifesta novas faculdades: novas relações sociais mais complexas,
compreensão do gesto social enquanto meio de comunicação recíproca, mais evidenciado no
setor de proibições e de ordens.
- orientação do espaço
- princípio de compreensão das relações entre as coisas
- discriminação maior entre os diversos alimentos
- matizes cada vez mais delicadas em atitudes afetivas: ciúmes, cólera, raiva, inveja e atitude
possessiva - tudo é patente no final do primeiro ano.
Compreensão social adquirida se demonstra na aptidão para participar de jogos sociais. O bebê
é capaz de devolver uma bola que lhe é enviada. Se lhe dão bom dia estendendo a mão, ele
estende a sua. Se na metade da atividade lhe diz "Não!", energicamente, movendo a cabeça e
negando com o dedo, se deterá e inclusive talvez adote uma expressão consternada.
Depois do advento do 2o Organizador começa a delinear um mecanismo de defesa; é a
identificação. [Já no 3/4o mês vemos vestígio em forma de imitações rudimentares - imitação
é a imitação da totalidade (pois é Gestalt)]. Entre 8/10o meses: identificação por gesto.
Compreende-se facilmente até que ponto a atitude da mãe e a influência das qualidades
afetivas que ela traz à criança serão importantes para o desenvolvimento da imitação, e ainda
mais, da identificação. Facilitará ou dificultará as pulsões do bebê para ser e atuar como sua
mãe.

CAPÍTULO IX - O COMEÇO DA COMUNICAÇÃO SEMÂNTICA E SUA ORIGEM

Na literatura psicanalítica não só o conceito de objeto, senão os problemas que rodeiam a


questão da formação ou deformação das relações objetais, desempenha um papel importante. O
objeto libidinal tem sido bem definido através de seu papel na economia psíquica do indivíduo.
Entretanto não possuímos definição do que constitui as relações objetais.
As escolas heterodoxas se limitam a descrever o fenômeno psíquico enquanto dado, aplicando
o conceito existencialista; em psicanálise nos servimos de um ponto de vista rigorosamente
genético. O estudo exato e continuado da interação da influência mútua dos aspectos genéticos
e dinâmicos distingue o método psicanalítico de qualquer outra psicologia.
As grandes linhas estabelecidas por Freud têm conduzido nossos trabalhos a uma fase donde se
estão solidamente enraizados na ciência. Nossos progressos atuais têm sido conseguido por um
minucioso exame dos elementos que formam o edifício erigido por Freud.
..Até o 2o Organizador - pese toda sua atividade, nesta comunicação o bebê não se serve de
signos semânticos, e menos ainda de palavras. Na etapa que segue, as comunicações dirigidas e
recíprocas se transformam em comunicações verbais. Isto é um giro de importância decisiva na
evolução do indivíduo e da espécie. Esse passo trocará completamente a aspecto das relações
objetais - realização por meio de palavra. Compreensão das proibições e ordens, e o começo do
mecanismo de identificação. A independência, o andar. O bebê que estava seguro (preso),
agora não vacila em satisfazer sua curiosidade e sua ânsia de atividade - coloca-se em situações
perigosas. Impõe-se a intervenção da mãe. Mas graças a aquisição da locomoção, a cça coloca
uma distância entre ela e a mãe, as intervenções maternas se manifestarão mais por gestos e
palavras. O caráter dos intercâmbios muda radicalmente. Até agora a mãe satisfazia ou não os
desejos da criança, agora se vê obrigada a freiar suas iniciativas - isso exatamente quando a
atividade infantil aumenta. Passividade à atividade.
A comunicação se diferenciará - no período pré-verbal as comunicações procedentes da mãe se
limitavam, necessariamente, à ação; o bebê era impotente, incapaz de andar, de alimentar-se.
Era a mãe quem executava (pelo bebê) suas ações, e seu ato comunicava a sua intenção ao
bebê. Toda mãe fala com seu filho - na maior parte dos casos são monólogos que emanam da
mãe, as vezes o bebê contesta vocalizando, contesta com monólogos balbuciantes - que
transcorrem na irrealidade das relações afetivas. Estas conversações só têm um alcance relativo
na expressão dos desejos físicos do bebê; não impedem nada, não obrigam a nada. São gorjeios
de mútuo prazer. Uma vez adquirida a locomoção, as frases da mãe mudam de caráter: são
proibições, ordens, reprovações. A palavra mais freqüente é o "Não!" - que o impede de fazer
o que deseja. O bebê chega a entender a proibições da mãe e obedece suas ordens graça a um
processo de identificação. O sintoma manifesto desta identificação é a imitação do
movimento negativo da cabeça que forma parte da ação da mãe. Este movimento se converte
num símbolo (vestígio da ação frustradora da mãe). O gesto se transforma num automatismo
obstinado - esse gesto é adquirido durante o período consciente mais arcaico: nos começos do
estádio verbal.
O gesto negativo e a palavra 'não' são os primeiros símbolos semânticos que forma a criança (e
isso no sentido adulto). São fenômenos distintos dos monólogos balbuciantes e das primeiras
palavras chamadas globais (mamá, papá). As palavras globais representam simultaneamente
tudo o que deseja o bebê, desde a mãe até a mamadeira. O signo negativo e a palavra "não"
representam um conceito, o da negativa no sentido estrito da palavra. Estes signos representam
o primeiro conceito abstrato que se cristalizam na mente.
Como chega a criança a formar este conceito? Não se trata de abstração pura e simples - atrás
desta negativa há um conflito entre o que a criança deseja e o que teme. Teme a privação do
amor, na perda do objeto. Pouco a pouco a criança se servirá do "não" quando não reconhece o
objeto ou a coisa que tem a frente.
Tenho assinalado que neste período, marcado pelo conflito entre a iniciativa infantil e a
apreensão materna, a cça, ao negar parece imitar um gesto negativo da mãe. Poderia-se supor
que este gesto foi gravado na memória pela acumulação de experiências proibitivas impostas
pela mãe. Esta explicação mecânica concorda com a hipótese do reforço na teoria do learning
(aprendizagem), mas não satisfaz ao psicanalista.
Os descobrimentos da escola da Gestalt permitem compreensão mais profunda do fenômeno.
Zeigarnik (1927) demonstrou através de uma série de experimentos que o indivíduo se recorda
de tarefas não concluídas enquanto se esquece das acabadas. Nas situações em que a mãe
proíbe ou recusa algo, o "não" da mãe o impede de concluir a tarefa, contribuindo para gravar
a lembrança da experiência.
O método psicanalítico é ainda mais profundo, no sentido de precisar o processo dinâmico.
Cada "não" da mãe representa uma frustração afetiva para o bebê - proibe-se a atividade,
impedindo-o de alcançar o objeto desejado (se está em desacordo com a forma de conduzir
suas relações objetais). Os impulsos do id serão sempre frustrados. Os vestígios de memória da
proibição serão pois rodeados de uma carga afetiva muito especial que compreende a matriz da
negativa, da derrota, da frustração. Esta carga afetiva específica assegura a permanência do
rastro de memória do gesto e da palavra "não".
Por outra parte, pela natureza da proibição (interromper a iniciativa da criança) se retorna da
atividade à passividade. Nesta idade em que está compreendendo a proibição imposta pela
mãe, está em vias de abandonar o estádio narcisista passivo para começar o estádio ativo das
relações objetais - não tolera sem resistência que o force a voltar à passividade.
À força motriz de seu esforço para dominar a resistência, que lhe é imposta, vem se unir um
fator psicodinâmico, pois a carga afetiva de desprazer que acompanha à frustração evoca um
impulso agressivo por parte do "isso" (id). O vestígio de memória da proibição no eu estará
rodeado por esta carga agressiva.
Preso a criança entre as força opostas da atividade/passividade, desprazer e agressão,
empregará o mecanismo de defesa da identificação, que é o mais importante nesta idade.
Identificação com o agressor (Anna Freud).
É mais certo dizer uma identificação com o frustrador que com o agressor (essa estaria em
relação com o supereu). Mas entre esses termos há diferença de graus.
Resumindo: o dinamismo pelo qual se adquire o gesto semântico do "não" é como segue: o
objeto libidinal inflige uma frustração à criança e provoca seu desprazer. O gesto negativo e o
"não" pronunciado pelo objeto libidinal se incorporam ao eu da criança como vestígio de
memória. A carga afetiva do desprazer, separada desta representação provoca no "id" uma
sacudida agressiva que cairá associada ao vestígio de memória no eu.
Quando a criança se identifica com o objeto libidinal, esta identificação com o agressor será
seguida do ataque dirigido até o mundo exterior. Na criança de 15 meses este ataque se
apresenta na forma de "não" que toma do objeto libidinal. A carga agressiva, que rodeia ao
"não" ao largo de numerosas experiências de desprazer, a faz idônea para expressar a agressão.
Por esta razão a criança colocará o "não" à serviço do mecanismo da identificação com o
agressor - usa o "não" contra o objeto libidinal, de quem o havia tomado. Uma vez dado este
passo pode empregar a fase da obstinação, tão familiar durante o 2o ano.
O domínio do "não" representa um progresso de extraordinário alcance para o
desenvolvimento mental e afetivo da criança, pressupõe a aquisição das faculdades de juízo e
negação. Freud trata desse assunto magistralmente em "A Negação".
A identificação com o agressor é um processo seletivo. Distinguiremos três elementos no
comportamento da mãe que proibe. São: o gesto (ou palavra), seu pensamento consciente e seu
afeto. A criança assimila o gesto, mas é pouco provável que a criança compreenda as razões
que a mãe possa ter para lhe impor uma proibição. Não assimilará, pois, o pensamento da mãe.
Quanto ao afeto, a compreensão da criança nesta idade é global. Se pode dizer que distingue
dois afetos: "o afeto pra mim" e seu contrário "o afeto contra mim". O que a criança
compreende do afeto materno é: "Não estás comigo, pois estás contra mim". Identificando-se
com agressor a criança tem o gesto e o afeto "contra". Contudo é um progresso extraordinário,
pois até agora a expressão do afeto da criança na relação objetal estava limitada ao contato
imediato, à ação. Com essa conquista começa a comunicação a distância; a ação se vê
reempregada ao verbo. A luta ou a fuga deixam de ser a única alternativa nas relações
humanas. Pode-se empregar a discussão.
É o giro mais importante do indivíduo e da raça. Aqui começa a humanização da espécie, o
zoon politikon, a sociedade, porque é a origem da comunicação ou melhor, a origem de
intercâmbios recíprocos de comunicações, intencionais e dirigidos, por meio de símbolos
semânticos. Por isso considero que a aquisição do signo negativo e da palavra "não" é o
sintoma visível da formação do 3o Organizador.
não: manifestação semântica da negação, do juízo; é ao mesmo tempo a primeira abstração, o
primeiro conceito abstrato, no sentido da ideação adulta, que a criança consegue formar. E o
faz mediante um deslocamento de energia agressiva, o que, por outra parte, é característico de
toda abstração, já que não é nunca o produto de uma identificação, senão o resultado de uma
atividade sintética do eu. O sujeito, com ajuda de uma manobra agressiva do psiquismo, separa
certos elementos do que percebe e forma uma síntese que servirá de símbolo ou de conceito, o
primeiro dos quais na vida da criança é a negação.
..A história do desenvolvimento do "não" e do "sim", e de sua diferenciação em sentidos
diametralmente opostos durante o primeiro ano, é um exemplo assombroso da profunda
importância que tem o desenvolvimento do psiquismo no destino futuro das condutas arcaicas.
Ao mesmo tempo, se confirmam as hipóteses de Freud sobre a origem do sentido antitético das
palavras primitivas.

... O próximo capítulo começa o estudo "das deformações e desvios das relações objetais".

Textos citados, pelo autor, da obra de Freud:


1895: Projeto para uma Psicologia Científica - Vol. 1
1905: Os Três Ensaios sobre Sexualidade - Vol. VII
1910: A significação antitética das palavras primitivas -Vol.XI
1915: As Pulsões e suas Vicissitudes - Vol. XIV
1925: A Negativa - Vol. XIX
Freud, Sigmund - Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980
O texto de René Spitz foi recortado e traduzido.
Profa Maria Madalena de Freitas Lopes

Questionário (entrega individual, e escrita a mão): Primeiro Ano de Vida (Spitz)

1. De que depende o progresso e o desenvolvimento das relações objetais (sociais)?


2. Quais são os pressupostos básicos para Spitz?
3. Qual é a definição de 'objeto libidinal' (Freud)?
4. Quais as características do estágio pré-objetal?
5. Qual é o significado da percepção do rosto humano?
6. Qual é a função da mãe no primeiro ano?
7. Até esse momento do resumo (pg.4), qual é a característica do eu?
8. O que Spitz denomina como 'forças formativas na relação mãe-bebê'?
9. Com suas palavras fale da forma de comunicação no interior da díade mãe-bebê.
10. Qual é a importância do afeto?
11. A angústia do 8o mês (2o Organizador) é para Spitz a “angústia propriamente dita”. Como
ele a diferencia e qual sua característica?
12. Como se insere no desenvolvimento infantil a função intelectual?
13. Como os impulsos evoluem?
14. O que pôde você apreender com a noção de identificação?
15. Como a criança vivencia o 'não' materno?
16. O que representa o domínio da 'não' (pela criança)?
17. Quais são os três Organizadores?

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