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INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM, DO DESENVOLVIMENTO E DA PERSONALIDADE


PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO II - PSA1403

Thainá Xavier de Andrade, N° USP 12682157


Frequência: 100%

AVALIAÇÃO FINAL

Docente: Profa. Dra. Marlene Guirado


São Paulo - 2022
QUESTÃO: considerando a questão da escolha de objeto (Freud) e a constituição da relação
objetal (Spitz), justifique a afirmação de que “a vida é um bloco mágico”.

Na perspectiva freudiana, a escolha objetal se dará a partir do desenvolvimento


afetivo-sexual da criança, o qual alcança o ápice do conflito durante a fase do Complexo de
Édipo, mas também atinge a resolução por meio da identificação sexual no fim desse
processo. Nesse sentido, René Spitz muito colabora para o escopo dessa teoria ao tratar do
desenvolvimento psicológico da criança no seu primeiro ano de vida abordando como ela
constrói “um mundo para chamar de seu”.
O desenvolvimento psicossexual, exposto por Freud em obras como Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade e A vida sexual dos seres humanos, diz respeito a uma teoria
genética composta por fases marcadas pela erotização do corpo em zonas que migram da
boca aos genitais, demandando atividades autoeróticas (vias de satisfação) a depender da
condição em que a criança se encontra. Tais fases se denominam como:
● Fase oral: a zona erógena se refere à boca, enquanto a atividade autoerótica que o
bebê realizará é relacionada a mordidas, sucção e amamentação;
● Fase anal: a libido se concentra no ânus e o prazer da criança consiste em segurar e
soltar as fezes;
● Fase fálica: nesse momento, a zona erógena migra do ânus ao pênis ou clitóris e a
nova fonte de prazer torna-se a masturbação. É nesse momento que o Complexo de
Édipo começa a tomar forma;
● Fase de latência: a zona erógena e a atividade autoerótica permanecem sendo,
respectivamente, o genital e a masturbação, todavia, além disso, é o momento que
nasce o Superego e a energia sexual é sublimada e canalizada em outras atividades;
● Fase genital (propriamente dita): a partir da resolução bem-sucedida do Complexo de
Édipo, as suas pulsões sexuais são direcionadas ao prazer obtido através do outro, o
que significa que ocorreu a escolha de objeto e a identificação.
○ Essa resolução pode não ser tão bem delineada, há várias formas de dissolução
e muitas pessoas se encontram no centro desse espectro que é se identificar
com a mãe ou com o pai – campo da bissexualidade.
Analisando com mais atenção os processos ocorridos nessa primeira fase – mais
especificamente, entre o nascimento e o primeiro ano de vida, Spitz explicará como a criança,
ainda sem organização da personalidade, se torna ser psicológico nas trocas com o meio
utilizando-se da mãe como ponte para esse processo.
Na fase Pré-objetal, a criança se encontra em um estado de indiferenciação com o
ambiente, isso é, não há relacionamentos diacríticos, pois ela é incapaz de diferenciar os
objetos e até a si próprio do que a rodeia. Contudo, no terceiro mês de vida (fase do Objeto
Precursor), há um princípio de organização do vínculo afetivo, visto que o bebê começa a
distinguir sensações interiores daquelas provocadas pelo externo, mas o objeto da libído
ainda não é conhecido, apenas os seus atributos superficiais. Isso ocorrerá apenas por volta
dos seis meses, na Fase do Objeto da Libido, quando a criança é capaz de guardar a memória
do que é familiar e “estranhar o estranho”, notando quando a mãe está ausente e elegendo-a
como objeto da libido.
Toda essa compreensão do psiquismo infantil é basal para falar sobre psicanálise.
Nada do que aparecerá a seguir na vida se vê livre desse processo, visto que são os conflitos
na constituição do sujeito que vão ditar a realidade psíquica, formações sintomáticas,
fantasias sexuais ou qualquer produção de sentido. O plano do inconsciente possui uma
temporalidade específica, na qual as noções de linearidade e progresso são rompidas e os
acontecimentos só podem ser entendidos a posteriori, de modo que o recalcado ressoará em
sentido retroativo sobre o sujeito, como algo que “passa e não passa”.
Por isso, a afirmação de que “a vida é um bloco mágico” dialoga com essa discussão.
No texto Notas sobre o bloco mágico, Freud percebe que esse dispositivo de escrita que
permite gravar traços temporários e duradouros, o Bloco Mágico, é uma ótima alusão a forma
como se compreende o aparelho psíquico. As camadas de celuloide e seda representam o
sistema perceptivo consciente, capaz de deter os influxos nocivos que vem do exterior,
enquanto o bloco de cera representa o inconsciente, guardando os sulcos da escrita mesmo
quando as demarcações superficiais são apagadas. Assim, o inconsciente seria esse lugar no
qual os fenômenos são sobrepostos, mas jamais apagados. É essa dimensão soberana, por
meio de seus emaranhados e constelações, que é dita como guardiã de quem realmente
somos.

“O Eu não é mais senhor em sua própria casa”


- Sigmund Freud

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