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PSICOSE

Para falar sobre psicose é necessário explicar o desenvolvimento psíquico desta estrutura com
ajuda da estrutura neurótica.

Na neurose...

Nos primeiros 6 meses a criança está em fusionamento com a mãe – a mãe é uma extensão da
criança e não reconhece o que existe ao redor. Existem duas sensações primárias: prazer e
desprazer. A criança luta constantemente para evitar o desprazer e vivenciar apenas o prazer.

Na primeira etapa – oral – a grande questão é a sucção do seio da mãe. O bebê é o falo da
mãe, e está em fusão com a criança; neste estágio predomina o narcisismo primário: não há
investimento no objeto porque o objeto é parte da criança – a pulsão sai e retorna para o
próprio corpo.

Etapas orais, erogeneidade na mucosa dos lábios, que são: etapa oral de sucção e
etapa oral sádico-canibal. O corpo todo é uma zona extensa de prazer – porém, existe
uma concentração maior de libido na zona oral.

Como não há distinção entre mãe boa e mãe má a criança (narcisismo primário), a criança
destrói a mãe (sádico canibal) e a remonta na fantasia como mãe boa (para obtenção de
prazer). Este movimento funda o narcisismo secundário – onde a criança começa a distinguir
que existem objetos para além dela mesmo. Então a criança passa a investir nos objetos
externos e, na tentativa de manter-se fusionado a mãe, a criança se aliena à linguagem
materna.

Isso possibilita a entrada da criança no estádio do espelho – que é uma metáfora utilizada
para explicar o olhar do outro.

 1º tempo – 8 meses: duplo de mim mesmo, onde a imagem do outro (reflexo) ameaça
tomar seu lugar como ser amado.
 2º tempo – 1 ano: a criança reconhece que a imagem no espelho é “sem vida”.
 3º tempo – 2 anos: a criança reconhece a imagem como sua, e então a subjetividade
da criança encontra um corpo para habitar. A partir do momento que a criança
reconhece esse corpo como seu ela pode explorar seu corpo.

Para Lacan o falo não diz respeito ao pênis mas a posição subjetiva, às diferenças com que as
funções são tratadas (função mulher, função homem).

O estádio do espelho começa com a certeza da completude e finda com a dúvida: sou ou não
o falo de minha mãe?

Aos dois anos a criança se separa da língua materna – apesar de sua linguagem não ser
totalmente desenvolvida e independente, existe uma separação linguística para a
formação de si mesmo.

A dúvida a respeito da completude possibilita a entrada no édipo, da função paterna, que traz
o interdito (Non du Perre – não do pai). A criança teme o pai e sente medo que este a castre; a
castração traz à criança o medo de ser separado de sua mãe – no sentido de “perder o acesso”
ao prazer, que vem da função materna.

Porém a criança percebe que a mãe também está assujeitada à Lei do interdito, que é a lei do
pai. O pai deixa de ser uma figura castradora e passa a transmitir segurança para a criança –
pai assegurador. E então começam os jogos das identificações, onde a criança vai escolher
entre se identificar com o pai ou com a mãe. Estes pais apresentam características das mais
variadas – ao final, o ego da criança se torna um “frankeinstein” de identificações, pois ela vai
tomar emprestado diversas identificações das mais diversas pessoas (babá, avó, tia, irmãos) e
assim vai montar seu édipo.

O pai “empurra” a criança para o mundo e a criança percebe que o pai também é castrado,
pois começa a perceber que a Lei impera, inclusive, fora de casa. Então a criança percebe que
o desejo do pai também está submetido à uma lei. Neste momento a criança passa a criar seus
significantes, pois ao conviver com outras pessoas (escola, atividades, etc) será necessário criar
novos significados para os tantos significantes que passará a ter contato.

O desejo está submetido à uma autoridade – a autoridade não diz respeito ao título,
mas ao lugar que colocamos essa autoridade em nossa subjetividade.

Com a saída do édipo o simbólico é consolidado através da linguagem.

A palavra nos possibilita dar nome às diversas sensações que temos; dar nome ao real. A
linguagem nos filia à cultura, ao país. A palavra nos possibilita o pertencimento à grupos. A
palavra mata a coisa (sensação, emoção) e funciona não só como simbolizadora, mas também
como agente de denúncia a um outro estranho (que é o inconsciente) – este outro estranho
rompe o controle de nosso discurso e nós o tememos.

Na primeira etapa, oral, a criança quer, sobretudo, o afeto do amor. E ela vive esse amor
fusionada à mãe. Na construção desse amor, surge um ponto de fixação libidinal, que é o
ponto de partida e de regressão para onde voltam questões em situações de ameaça,
frustração.

Na psicose...

O corpo do psicótico é um pedaço de carne desinvestido de libido – porque ele não


desfusionou da mãe. A criança não reconhece a mãe como um objeto externo a ela, então a
criança não reconhece a falta, tampouco reconhece a falta na linguagem.

Para a identificação ocorrer enquanto ato, que ocorre no campo do imaginário, é


necessário reconhecimento do objeto, do outro.

A linguagem é um ato externo ao psicótico – ele toma emprestado para se significar, uma vez
que ele não entra no processo simbólico. O psicótico não trabalha com significantes, e sim com
palavras puramente.

O que ocasiona o surto no psicótico é um acontecimento sem sentido, chamado injunção. O


delírio entra como uma tentativa de sutura para o rompimento com o real.

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