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traduções
Jacques Lacan
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Discurso de
Tóquio
Editorial
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se mettre à table é uma expressão idiomática francesa que significa “confessar” (N.T).
Borda traduções, julho de 2020. Site: bordalacaniana.com
Trata-se de não se enganar. Há uma armadilha aí: é crer que essa rocha se endereça a
alguém. É a armadilha na qual se cai há séculos. Não é porque essa rocha só se situa com
a aragem do discurso que ela se endereça a quem quer que seja. É precisamente isso que
constitui a beleza desses jardins, é precisamente porque eles não se endereçam a ninguém.
Mas ninguém parece ter se dado conta disso, pelo menos até agora. Pelo contrário, a
aragem, isto é, o discurso, se endereça a alguém que chamo de grande Outro.
Quando há pouco dizia a vocês a quem se endereçavam os sintomas, é bem
evidente que isso se endereça a um lugar onde, evidentemente, não há ninguém. O grande
Outro não existe. Mas tudo o que se inscreve na linguagem só pode ser pensado pela
referência ao grande Outro. É o que distingue radicalmente o que é da ordem do
imaginário do que é da ordem do simbólico.
No que diz respeito ao imaginário vocês têm exemplos: basta ver operar dois
lutadores, dois personagens que brigam em duelo. No que é da ordem dessa captura, de
uma ação de uma imagem por outra, não há nenhum meio de distinguir o que é fingimento
do que é verdadeiro. O fingimento é a própria ação. Fingir é o que se faz quando se briga
em um duelo; fingir não é mentir. Fingir é fazer o que se deve fazer nessa chave de braço.
Tudo isso está regulado por essa coisa fundamental, tão verdadeira para os animais quanto
para os homens: que, nessa espécie de real tão misterioso que se chama vida, o
funcionamento imaginário é absolutamente essencial. A tomada, a captura pela imagem
é uma coisa radical. Nenhuma via é pensável sem essa dimensão.
Mas no discurso é inteiramente outra coisa, porque o discurso só tem função caso
se situe em algum lugar, em um lugar terceiro, em que ele se afirma como verdade. Não
há possibilidade de mentir sem supor essa dimensão da verdade, então não há nenhum
traço de mentira no fingimento. É a própria captura do corpo a corpo. O pensamento do
que representa o grande Outro em relação a tudo o que pode ser dual – e, seguramente,
não há apenas relações duais –, eu apenas o tomo como caso particular porque é o mais
simples. Se nós colocamos três isso se torna como para a gravitação, isso se torna uma
complicação extrema que mesmo sobre o terreno da gravitação não se chegou ainda a
resolver.
Em relação ao que é da ordem da pretensa comunicação, não há nada que pareça
desviar mais do que isto que, entretanto, parece evidente: que é impossível dar um
esquema correto do que se chama comunicação e que começa com o bê-á-bá da
cibernética, isto é, limitando as coisas ao emissor e receptor. É evidente que mesmo nesse
nível, quando as pessoas se exprimem, quando elas falam de comunicação, há esse