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APOSTILA

TEORIA E TÉCNICAS PSICANALÍTICASII


60 HORAS

Todos os direitos reservados a Faculdade GAIO

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SUMÁRIO

1. Introdução ao Pensamento Psicanalítico e Teoria Psicanalítica Freudiana ........................4


2. Metapsicologia Freudiana – Revisando Técnicas I ..............................................................6
3. O que é o que não psicanálise? ...........................................................................................8
4. O que seriam as técnicas psicanalíticas? .............................................................................9
5. E o que é o Método Psicanalítico? ....................................................................................11
6. A Interpretação dos Sonhos em Psicanálise ......................................................................12
7. As fases do desenvolvimento psicossexual da criança .....................................................16
8. Estrutura da Personalidade ...............................................................................................18
9. Tipologia Traçada por Freud ..............................................................................................19
10. A (Psico)Terapia Psicanalítica ou analítica .......................................................................20
11. Os Métodos de exploração do inconsciente ....................................................................21
12. As Relações Transferenciais ..............................................................................................24
12.1. Contratransferência..........................................................................................................25
12.2. Aliança Terapêutica – na análise .....................................................................................26
13.1 Quando o Paciente Está Silencioso ..................................................................................28
13.1.1. O Paciente ‘Não Está com Vontade de Falar’ ................................................................29
Afetos Indicando a Resistência..................................................................................................29
REFERENCIAIS ............................................................................................................................30

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Sobre a Disciplina:

Esta disciplina da pós-graduação possibilitará a compreensão da das bases teóricas


psicanalíticas, passando pela introdução ao pensamento freudiano, metapsicologia,
bases de desenvolvimento psicossexual, Complexo de édipo e por sua vez as bases
fundamentais de compreensão do saber teórico psicanalítico. A disciplina de pós-
graduação oportuniza a compreensão da ética aliada aos conceitos base da psicanálise,
as técnicas fundamentais e métodos utilizados na análise. Esperamos que o material
possa contribuir para o seu processo de formação em psicanálise.

Docentes/Organização material:
Prof. Ms. Alessandro Euzébio
Prof. Ms. Antônio Teixeira de Carvalho Filho

Coordenação Geral de Pós-graduação


Prof. Doutorando Alessandro Euzébio
E-mail: posgraduacao@institutogaio.com.br
(11) 3101-9400

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Olá seja bem-vindo (a) a Disciplina Teoria e Técnicas
Psicanalíticas II
1. Introdução ao Pensamento Psicanalítico e Teoria Psicanalítica
Freudiana

(...) É o desejo que dá vigor às artes e às ciências, essas


artes e essas ciências que constituem a honra e o
prestígio das civilizações, testemunho e dádiva muda de
amor [...]. Desses desejantes desaparecidos, mensageiros
do real (inconscientes disso em seu tempo), que
souberam criar obra de amor na linguagem que nos
transmitiram, no material que marcaram com sua
vontade de sobreviver até nós, recebemos as criações de
seu desejo ao encontro do nosso, incitando-nos, por
nossa vez, a transmitir por nosso trabalho os frutos do
nosso desejo, espreitados pela solidão que somos todos.

Françoise Dolto1

Ao iniciarmos falando sobre a introdução da teoria psicanalítica e por sua


vez a pesquisa em psicanálise no contexto universitário encerra em si diversos
questionamentos. Exatamente pelo fato de ter a psicanálise nascido longe do ambiente
acadêmico e de ter, excetuando-se algumas participações de Freud na Universidade de
Viena, com suas Conferências Introdutórias, permanecido dele afastado durante todo o
seu desenvolvimento.

No entanto, essa é uma realidade que se apresenta e não é nenhuma


novidade o fato de que muito se produz conhecimento a partir da psicanálise no
ambiente universitário. Mesmo não sendo necessário, especialmente neste trabalho,
questionar ou defender essa inserção, parece importante salientá-la, uma vez que Freud

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Françoise Dolto foi uma psicanalista francesa que teve grande influência sobre a educação de crianças
de seu tempo. Ao iniciar seus estudos de Medicina, em 1932, já pensava em dedicar-se à Pediatria. Mas
foi depois de uma análise pessoal, feita com o psicanalista francês René Laforgue, que Dolto iniciou sua
carreira como psicanalista, em especial como psicanalista de crianças. E foi a partir dessa experiência de
trabalho que desenvolveu um pensamento original sobre a educação de crianças, para uso de pais e de
educadores, inspirando-se nos conhecimentos que a psicanálise e sua prática puseram à sua disposição.
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previa tal possibilidade em um texto muito conhecido; e em outro texto, ainda mais
debatido, falou com bastante entusiasmo acerca das possibilidades de ampliação que à
psicanálise se apresentariam. Trata-se aqui, respectivamente, de sobre A história do
movimento psicanalítico (1914).

Quando, no texto de 1914, cerca de vinte anos depois da abertura do campo


da psicanálise, Freud dedica-se a elucidar aspectos importantes de seu
desenvolvimento, ele também nos oferece algumas das definições sobre o que é e o que
não é psicanálise e ainda sobre os contornos que esse campo pode assumir.

Desse modo, recorrendo aos ensinamentos de Freud, de um caminho que


nos aproximou de elaborações frutíferas sobre as possibilidades das aplicações da
psicanálise, vislumbrada a partir dos conceitos que a ela são caros.

A partir deste texto, presenciamos a tentativa de Freud em falar sobre a


importância que adquiriu e que poderia ainda no futuro adquirir este campo, desde que
fossem mantidos firmes os alicerces que o estruturam. Então, quando trata desta
importância, Freud afirma as possibilidades que à psicanálise começam a se apresentar
e também o fato de não andar atrelado aos limites que alguns poderiam dar a ela. Ele
abre assim o campo, afirmando: “existe aí material de trabalho para uma geração de
pesquisadores e não duvido de que será realizado tão logo as resistências contra a
psicanálise sejam superadas em seu campo de origem” (FREUD, 1914).

Fonte: Companhia das Letras

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2. Metapsicologia Freudiana – Revisando Técnicas I

[...] porque podemos aí na evolução da metapsicologia freudiana encontrar

o rastro de uma elaboração que reflete um pensamento ético. Esta se encontra no

centro de nosso trabalho, quaisquer que sejam as dificuldades das quais teremos, talvez,

de tomar consciência, e é ela que mantém coeso todo esse mundo que a comunidade

analítica representa, dispersão. (LACAN, 1960, p. 51). (veja a aula disponível de

metapsicologia – Recalque e Repressão - disponível no Youtube – Instituto GAIO)

A metapsicologia de Freud traduziria, assim, não estritamente um rigor

teórico, mas uma orientação para a sustentação de um campo, orientação referenciada

pela análise pessoal. Traduziria o esforço de Freud em transmitir, desde seu caso

mesmo, o que fundamenta a experiência analítica e traduziria também o esforço

daquele que psicanalisa hoje de não fazer, como Freud apregoa, a psicanálise cair em

descrédito. Portanto, quando falamos em fundamento damos o sentido mesmo do que

funda um campo. É, então, por seu valor de transmissão que Lacan acrescenta em

relação à metapsicologia freudiana.

Revisando sobre o complexo de édipo:

O complexo de Édipo é o primeiro momento conflituoso vivido pelos

homens durante o período da primeira infância e está diretamente atrelado às relações

familiares que estabelecemos desde pequenos.

O grande neurologista baseou-se na tragédia de Sófocles para nominar a sua

teoria: Édipo Rei. No mito, Sófocles conta a história de Édipo, que teve uma terrível

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sentença de casar-se com sua mãe e matar seu pai, já abordando temas como o incesto

e a ambivalência de sentimentos de amor e ódio aos pais.

Quando Freud desenvolveu sua teoria, ele explicou o Édipo em três tempos.

O primeiro diz respeito ao momento inicial, em que a criança está muito ligada à mãe,

enxergando-a como um espelho e extensão do próprio corpo, e se reconhece como o

único objeto de desejo dela — fantasiando um desejo incestuoso pela mãe.

Já no segundo tempo, Freud explica que o pai se torna presente como uma

figura proibidora, tanto das atividades cotidianas desenvolvidas pela criança quanto da

sua fantasia de desejo pela mãe. Aqui, é muito comum discursos como “cuidado que seu

pai pode brigar com você” e “vou chamar o seu pai para conversar com você”,

normalmente proferidos pela mãe.

Quando a criança atinge uma maturidade um pouco mais desenvolvida, o

pai aparece como uma figura de identificação, já no terceiro tempo. Nesse período, é o

nosso pai cotidiano, que tem seus defeitos e qualidades e são reconhecidos pela criança.

Assim, o complexo se dissolve por completo.

Dessa forma, baseando-se nos três tempos, Freud descreveu sua teoria

apontando as possíveis consequências de um complexo de Édipo mal resolvido.

Complexo de Édipo: idade

Cada tempo do mito edipiano tem idades diferentes que representam a

maturidade da criança, tanto cognitiva quanto emocional. Via de regra, o período

completo dura dos três aos cinco anos.

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Durante esse momento conflituoso, a criança vai percebendo que não é mais

o centro da atenção dos pais e começa a percebê-los como figuras distintas que

fornecem amor, carinho, mas também frustrações — ao proibir alguns de seus

comportamentos e atitudes.

3. O que é o que não psicanálise?

De acordo com Sigmund Freud (“Obras Completas”, 1996), a psicanálise é (1) um


método de pesquisa, (2) uma forma de tratamento e (3) uma teoria. Freud (1856-1939)
é considerado o pai da disciplina: a palavra “psicanálise” surge em um par de artigos
publicados por ele entre 1896 e 1897. O psicólogo Gerardo Primero (2005) oferece a
seguinte descrição desses três pontos:

Enquanto método de pesquisa, a psicanálise consiste em aplicar o método de


livre associação e interpretação a fenômenos como pensamentos, conflitos, lembranças
e desejos. Nesse sentido, a pessoa deve dizer tudo que vier à mente e o psicanalista,
então, buscará um significado oculto no que poderia ter sido a causa desses fenômenos.

Como forma de tratamento, a psicanálise consiste na aplicação de métodos


interpretativos para descobrir os motivos inconscientes dos fenômenos psicológicos,
partindo do pressuposto de que a interpretação correta tem efeitos positivos no
paciente.

Por último, enquanto teoria, a psicanálise é composta por vários conceitos e


suposições gerais. O conceito mais conhecido é o de inconsciente, ou seja, a parte do
aparelho psíquico (ou mente) cujo funcionamento ocorre de forma oculta, ou
“paralelamente à consciência”. Supõe-se que certos pensamentos são banidos da
consciência e passam para o inconsciente, mas continuam produzindo efeitos de forma
simbólica (retorno do reprimido) em fenômenos como sonhos, lapsos de linguagem e
sintomas físicos ou psicológicos.

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Outros conceitos psicanalíticos essenciais são o de Complexo de Édipo (fase em
que o menino apresenta desejos amorosos por sua mãe), a inveja do pênis por parte das
meninas, as fases de desenvolvimento sexual (oral, anal, fálica, latente e genital) e as
instâncias psíquicas (id, ego e superego) que explicariam nossos conflitos psicológicos.

Nenhum desses conceitos ou princípios, no entanto, encontra o menor apoio na


ciência sobre cérebro e comportamento humano desenvolvida ao longo do último
século.

4. O que seriam as técnicas psicanalíticas?

(...) Ao ter contato com o método criado por Breuer para


tratar jovens histéricas, Sigmund Freud começou a criar
uma teoria e técnica psicanalítica baseada em sua
observação clínica com essas jovens (Freud, 1925). Ele
percebeu que os sintomas histéricos decorriam de
experiências traumáticas ligadas à sexualidade infantil,
embora estas não fossem lembradas por suas pacientes
histéricas. Freud (Breuer e Freud, 1895), então, passou
a pensar a existência de uma instância psíquica que não
fosse consciente, onde estariam guardadas todas as
experiências pelas quais o indivíduo passou; e é a partir
de suas considerações sobre a histeria e o inconsciente
que surge e se consolida a teoria psicanalítica e a técnica
interpretativa das livres associações do paciente (Freud,
1925). (Milena da Rosa Silva e Letícia Gasparetto, 2015)

Para iniciarmos sobre as técnicas psicanalíticas, propomos aqui também um


aprofundado sobre a Psicanálise e psicoterapia psicanalítica. Tendo em vista que
utilizamos as técnicas nos consultórios e espaços de ocupação do psicanalista. Sendo
assim diante das divergências em torno do que caracteriza a psicoterapia psicanalítica e
dos seus limites e intersecções em relação à técnica psicanalítica clássica, buscou-se
nesse artigo traçar um panorama das discussões que averiguam as diferenças entre a

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psicoterapia psicanalítica e o tratamento psicanalítico propriamente dito, partindo da
história do desenvolvimento e evolução destas.

Nesse contexto, parte-se de um conceito de técnica psicanalítica em um olhar


contemporânea o tratamento psicanalítico propriamente dito inclui o uso do divã,
seguindo os princípios da neutralidade e a regra da abstinência, e realiza trabalho
interpretativo diante do estabelecimento de uma neurose de transferência para
elaborar conflitos infantis em 1 ou 2 sessões semanais com duração de até 50 minutos
ou 1 hora. (A técnica psicanalítica clássica frequência de 4 a 6 sessões semanais).
Diferenciando-se desta modalidade de tratamento, a psicoterapia psicanalítica
caracteriza-se pela possibilidade de frequência menor, a disposição face-a-face entre
terapeuta e paciente e a utilização de intervenções variadas em detrimento da
interpretação transferencial.

Quando se fala em técnica psicanalítica, como de quase todos os conceitos em


Psicanálise, é preciso que se esclareça do que se está falando, que ponto de vista nos
orienta, que referencial estamos usando, em que época se localiza aquilo de que se fala.
Se não fizermos isso, estamos fadados a não sermos entendidos – e, pior, teremos feito
não uma, mas várias conferências sobre o tema.

Técnica em sua concepção são as várias proposições de como encaminhar o


processo analítico; são os princípios do bem-fazer análise, de como encaminhá-la em
adequação ao método. Suas proposições, pois, têm caráter normativo, e expressam-se
por “devemos”. Às vezes, conselhos técnicos podem chocar-se uns com outros,
dependendo da filiação teórica de cada analista, podendo gerar práticas melhores ou
piores. A técnica irá compreender, por exemplo, as questões mais concretas e passíveis
de alteração, como uso do divã e o respeito a regras temporais da sessão, a frequência
semanal e tudo aquilo relativo ao setting analítico ou moldura, como ele prefere
chamar. Outras questões também são questões técnicas: a livre associação e a atenção
flutuante, interpretações que levem em conta a transferência – nem sempre entendida
da mesma maneira “, a melhor forma de usar o silêncio ou a fala, pontuações ou
explicações, interpretações centradas no ponto de angústia ou visando nomear o
significante, ou, ainda, interpretações precoces ou não, fazer perguntas ao paciente ou

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não e assim por diante. É evidente, com esta descrição, que método (caminho) e técnica
(encaminhar) não são a mesma coisa. Pode-se compreender, por exemplo, que um
apego muito grande à moldura desvie o analista de seu trabalho com as emoções e/ou
conflitos psíquicos, tornando a clínica esvaziada. Resumindo: “Processo: encarnação do
método em fato clínico. Técnica: arte de bem conduzi-lo em conformidade ao método”
(Herrmann, 1989, p. 17).

5. E o que é o Método Psicanalítico?

Podemos dizer que é o Método interpretativo. Para Marilsa Taffarel, tende-


se a considerar o método psicanalítico como sendo o livre-associativo, pois o próprio
Freud assim se referia à livre associação nos primórdios do seu trabalho com as
pacientes histéricas. No entanto, quando Freud descobre a resistência e infere a
repressão, ele passa a considerar o método psicanalítico como interpretativo, ou seja,
“...se há uma força inconsciente impedindo a rememoração, a reconstrução da lacuna
de sentido só pode se dar pela busca e explicitação dos ‘motivos’ inconscientes”. Aqui,
Freud segue o ditame da hermenêutica: “...devemos interpretar onde há falha de
sentido” (Taffarel, 2005, p. 5).

Prossegue Marilsa lembrando que, em 1922 (Freud, 1922/1979, p. 232),


Freud definiu a psicanálise como um procedimento que serve para a investigação dos
processos psíquicos, e um método de tratamento das neuroses que se funda na
investigação destes processos. “Esta noção de interdependência entre um plano e
outro, ou seja, efeito curativo e conhecimento teórico, Freud credita a Breuer” (Taffarel,
2005, p. 5).

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6. A Interpretação dos Sonhos em Psicanálise

Na Faculdade existe várias videoaulas


dos grupos de estudos de
interpretação dos sonhos que foi
ministrado pelo Professora Alessandro
Euzébio. Acesse nosso canal no
YouTube.

CONCEITOS IMPORTANTES NA INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

Na interpretação dos sonhos Freud (1900) irá dizer que:

(...) Nos sonhos, a vida cotidiana, com suas dores e


seus prazeres, suas alegrias e mágoas, jamais irão
se repetir. Pelo contrário caro aluno (a), os sonhos
têm como objetivo verdadeiro libertar-nos dela.
Mesmo quando toda nossa mente está repleta de
algo, ou quando estamos dilacerados por alguma
“dor” tristeza profunda, ou quando nosso poder
intelectual se acha absorvido por um algum
problema, o sonho nada mais faz do que entrar em
sintonia com nosso estado de espírito e representa
a realidade em símbolos.

Um ponto muito importante para você enquanto terapeuta psicanalista ou


mesmo enquanto autoanálise:

Perceber qual mensagem o sonho passou para o ego e também analisar os


sonhos subsequentes, pois uma interpretação de sonhos envolve um diálogo contínuo
entre o ego e o inconsciente.

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Muitos sonhos parecem não ser satisfatórios; alguns são deprimentes, alguns
perturbadores, outros assustadores e muitos simplesmente obscuros. Muitos sonhos
parecem reviver eventos passados, enquanto uns poucos parecem ser proféticos.

Através da análise detalhada de dezenas de sonhos, ligando-os a conhecimentos


da vida do sonhador. Freud foi capaz de mostrar que a elaboração onírica é um processo
de seleção, distorção, transformação, inversão, deslocamento e outras modificações em
um desejo original. Essas mudanças tornam tal desejo aceitável ao ego, mesmo que o
desejo não-modificado seja totalmente inaceitável pela consciência em estado de vigília.

O Sonho e Seus Conteúdos

Segundo Freud (1915), sonhos são fenômenos psíquicos onde realizamos


desejos inconscientes. O sonho é o resultado de uma conciliação. Dorme-se e, não
obstante, vivencia-se a remoção de um desejo. Satisfaz-se um desejo, porém, ao mesmo
tempo, continua-se a dormir. Ambas as realizações são em parte concretizadas e em
parte abandonadas.

Freud postula que o homem precisa dormir para descansar o corpo e,


principalmente, para sonhar: "o sonho é a realização dos desejos reprimidos quando o
homem está consciente". Quando o homem dorme, a consciência "desliga-se"
parcialmente para que o inconsciente entre em atividade, produzindo o sonho: através
do id, os desejos reprimidos são realizados. Para Freud, as causas dos traumas que
geram certos comportamentos tidos como anormais estão escondidas no inconsciente
das pessoas, onde estão guardados os desejos reprimidos.

Relação entre sintoma e os nossos sonhos

A princípio, na literatura, entende-se o sintoma como sendo uma expressão


do recalcado e seria, por sua vez, a realização de fantasias constituídas por conteúdos
de caráter sexual provenientes das pulsões do sujeito.

É possível afirmar que o sintoma carrega consigo um sentido que é


tipicamente inconsciente e que insiste em informar algo para o sujeito que na maioria
das vezes sequer tem conhecimento do conteúdo dessa informação, todavia “sofre” os
seus efeitos.
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O sonho, por sua vez, seria uma forma de caminho ao inconsciente. De
caminho em direção aos desejos inconscientes e que ao fazer esse movimento busca
promover certa descarga, que é sempre parcial.

(...) No Interpretação dos Sonhos, Freud introduz um elemento para a


interpretação até então inédito, ou seja, ele é o primeiro autor a considerar um
elemento a mais para fazer a análise da nossa vida onírica.

Além do conteúdo manifesto do sonho – o que contamos sobre o que


acabamos de sonhar – Freud também leva em conta as associações do próprio
sonhador.

Dica para praticar por meio das associações por parte dos conteúdos de um
determinado sonho:

Queridos pós-graduandos aspirantes e psicanalistas, para chegar ao


conteúdo latente, o analista parte das associações individuais do sonhador e de cada
parte do que este sonhou. No capítulo II, Análise de um sonho modelo, Freud escreve e
deixa uma técnica:

Então vamos lá (...) nosso primeiro passo no emprego desse método nos ensina que o
que devemos tomar como objeto de nossa atenção não é o sonho como um todo, mas
partes separadas de seu conteúdo. Quando digo ao paciente ainda novato: “Que é que
lhe ocorre em relação a esse sonho?”, seu horizonte mental costuma transformar-se
num vazio. No entanto, se colocar diante dele o sonho fracionado, ele me dará uma
série de associações para cada fração, que poderiam ser descritas como os
“pensamentos de fundo” dessa parte específica do sonho”.

Assim, cada elemento do sonho deve ser separado dos demais e para cada
elemento devemos buscar as associações individuais para os elementos, para as partes
do sonho. Por isso, o que contamos ao acordar, o conteúdo manifesto, praticamente
nunca vai trazer logo de início o significado subjacente do sonho. Existem sim sonhos
que são claros e até fáceis de entender, mas a maior parte vai precisar das associações

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individuais para que se possa descobrir o significado real, por trás do conteúdo
manifesto

Por exemplo: Freud relata um sonho de uma paciente. No sonho, ela via o
seu sobrinho morto, em um caixão. A princípio, não podemos dizer nada sobre o
significado do sonho, sem as associações da sonhadora.

Deste modo, Freud começa a pedir para que ela associasse, dissesse o que
cada elemento do sonho a fazia lembrar e pensar. E logo chegaram ao sentido do sonho:
realmente, há pouco tempo, um outro sobrinho seu havia falecido e naquela ocasião
uma pessoa por quem ela era apaixonada apareceu no enterro. Com isto, o que o sonho
mostrava é que ela desejava ver novamente a pessoa por quem ela era apaixonada e
que, por motivos alheios à sua vontade, não conseguira estabelecer um relacionamento
amoroso

Portanto, entre o conteúdo manifesto e o conteúdo latente nós temos as


associações:

Conteúdo manifesto: sobrinho morto em um caixão

Associações:

Sobrinho: sobrinho morto (há pouco tempo). No enterro do sobrinho:


presença do homem por quem era apaixonada.

Conteúdo latente: desejo de reencontrar o homem por quem era


apaixonada.

Importante: na perspectiva da psicanálise de Freud, portanto, a


interpretação é sempre individual. Cada pessoa é que vai associar aos elementos do que
sonhou outras representações.

Esta paciente do Freud sonhou com caixão e pode associar a presença de um


pretendente. Outra pessoa poderia sonhar com caixão e lembrar do avô, outra pessoa
poderia sonhar com caixão e se lembrar do tempo em que trabalhou em uma funerária,
quer dizer, a associação de cada elemento de um sonho vai ser sempre de cada um, vai
ser sempre individual.
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7. As fases do desenvolvimento psicossexual da criança

1º Estágio - Fase Oral - Este período do desenvolvimento da personalidade é assim


chamado porque a maior parte das necessidades e interesses da criança está
concentrada na porção superior do trato digestivo. Quer dizer, seus impulsos são
satisfeitos principalmente na área da boca, esôfago e estômago, ou melhor, a libido está
intimamente associada ao processo de alimentação. É o período de aproximadamente
um ano que segue ao nascimento.

2º Estágio - Fase Anal - A criança passa, aos poucos, de uma posição


predominantemente passiva e receptiva para uma posição predominantemente ativa.
Durante o segundo e terceiro ano de vida, a região do ânus adquire uma importância
fundamental na formação da personalidade. Neste período a energia libidinosa está
centrada na porção posterior do trato digestivo e a satisfação anal ocupa uma posição
de destaque. A criança obtém prazer pela estimulação da mucosa retal e das partes
adjacentes. Precursores do superego. Desenvolvimento psicossocial: Autonomia X
vergonha e dúvida. É o período de transição de um ano para p segundo e que segue
aos três anos de idade.

3º Estágio - Fase Fálica - Corresponde ao período que vai dos três anos aos cinco ou seis
anos de idade. O termo fálico, relativo ao pênis, usado para esta fase, provém do fato
da libido concentrar-se nos órgãos genitais que passam a ser a zona erógena
predominante. O complexo de Édipo e o complexo de castração bem como o
desenvolvimento psicossocial: Iniciativa X culpa. Veremos, mas profundada essa fase na
próxima disciplina o importante é você fixar esses conceitos que são muito utilizados
na sua formação e no seu exercício profissional.

4º Estágio - Fase de Latência - Período que vai, aproximadamente, dos cinco aos dez
anos. Este período caracteriza-se por uma aparente interrupção do desenvolvimento
sexual, em que os impulsos eróticos exercem menor influência na conduta e o ego
encontra uma trégua para os conflitos emocionais que vinham se desenrolando nas
fases anteriores. Afastando-se temporariamente dos interesses sexuais, a criança
utiliza a energia psíquica para o fortalecimento do ego.
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Vamos nos referir mais objetivamente a esses tipos psicanalíticos de personalidade:

Personalidade Oral – esta reflete as experiências infantis durante o estágio oral da


libido. As tendências caracterológicas para a prepotência, domínio sobre os outros,
voracidade, cobiça e inveja estão radicadas no impulso primitivo da criança para
incorporar oralmente a mãe (objeto total) ou o seio materno (objeto parcial). O
otimismo é considerado um produto psicogênico de uma amamentação abundante e
sem restrições.

Personalidade Anal – reflete as experiências infantis durante a aprendizagem do


controle da defecação. As tendências caracterológicas para a vaidade, desconfiança,
ambição e generosidade sem amor estão associados ao prazer da evacuação. As
tendências para a meticulosidade, parcimônia, amor à ordem e ao método, obstinação
e avareza estão radicadas na retenção das fezes. Sendo um prazer ambivalente (evacuar
pode significar, para a criança, expelir um mau objeto interno ou oferecer à mãe um
mau objeto interno que pode envenená-la ou destruí-la).
Tais tendências caracterológicas podem combinar-se no tipo de personalidade anal.
Quando excessivamente acentuada, a personalidade anal pode resultar em uma fixação
infantil, em virtude de a criança não ter sido capaz de conciliar os prazeres anais com as
exigências sociais (por exemplo, o treino de toillete, a disciplina da higiene pessoal).

Personalidade Fálica – reflete as experiências marcadas pelo interesse e sentimentos


associados ao pênis (para a mulher, o símbolo equivalente). As tendências
caracterológicas para a ostentação generosa ou benemerente, o narcisismo, a
camaradagem, a afiliação e atividades lúdicas (jogos, competições esportivas etc.) estão
associadas à primazia fálica.

São estes os três padrões básicos de personalidades originados nos estágios pré-genitais
do desenvolvimento psicossexual. A fase culminante do desenvolvimento sexual em que
a pessoa estabelece relações verdadeiramente afetivas com o parceiro sexual
corresponde, na caracterologia adulta, à personalidade genital, à síntese dos impulsos
psicossexuais medidos não só pela potência fisiológica, mas também pela capacidade de
amor em termos adultos. É o padrão equilibrado e maturo da personalidade adulta.

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8. Estrutura da Personalidade
 Id

 Ego

 Superego

Id – Segundo o conceito freudiano de estrutura da personalidade, o id é o componente


arcaico e inconsciente de energias mentais (psiquê) que dinamiza o comportamento
humano. Do id promanam os impulsos cegos e impessoais devotados à gratificação do
instinto sexual (libido), estreitamente vinculado às necessidades primárias das pessoas
(comer e não ter fome). Temos, pois, que o id é o verdadeiro inconsciente ou a parte
mais profunda da psiquê. Ignora o mundo exterior, com quem não está em contato, e o
objeto único de seus interesses é o corpo, sendo suas relações com ele dominadas
unicamente pelo princípio do prazer.

Freud descreveu, ainda, a hegemonia total dos instintos do prazer nas fases primitivas
do desenvolvimento mental, como decorrência direta do fato de as duas atividades
básicas da criança pequena – mamar e defecar – terem provocado a sexualização
(libidinização) da boca e do ânus, zonas erógenas. Ulteriormente, Freud ampliaria, com
algumas modificações, esta sua primeira teoria (Para além do Princípio do Prazer) e a
libido deixaria de identificar-se exclusivamente com o instinto sexual e o princípio do
prazer, para ser eros – o instinto da vida e da autopreservação, no qual o componente
sexual estava logicamente incluído.

Ego – Segundo o conceito psicanalítico da estrutura da personalidade, enunciado por


Sigmund Freud, o ego constitui o componente intermediário das energias mentais (entre
o id – inconsciente – e o superego – ego ideal ou consciência). O ego exerce o controle
das experiências conscientes e regula entre a pessoa e o meio ocupando, portanto, a
posição de um centro de referência para todas as atividades psicológicas e qualidades
egocêntricas. É através do ego que aprendemos tudo sobre a realidade externa e
orientamos nosso comportamento no sentido de evitar os estados dolorosos, as
ansiedades e as punições.

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Superego – Na estrutura teórica da personalidade descrita por Freud, o superego é a
mais recente formação ou componente do sistema de energias mentais e foi
correlacionado com o declínio e dissolução do Complexo de Édipo. A noção do superego
foi inspirada nos estudos de introjeção de Sandor Ferenczi (a progressiva introjeção pela
criança dos eventos em seu meio vital) e suas relações com o

desenvolvimento de uma instituição moral a partir do ego.

O superego é o representante de uma natureza superior que no eu (Freud) atua no


sentido de evitar punições por transgressões morais ou fomentar ideais moralmente
aceitos. Ele pode reprimir e criticar as ideias, impulsos e sentimentos inconscientes que
afetam o comportamento moral e judicativo da personalidade (atividade a que se dá,
usualmente, o nome de consciência, que pode apoiar a realização de uma natureza
superior ou ideal). Assim, os três componentes básicos do sistema encontram-se
permanentemente empenhados numa interação que é uma batalha constante: o id em
busca de sua satisfação irracional, o ego procurando ajustar as exigências e impulsos do
id ao mundo da realidade, e o superego tentando reprimir ou apoiar o impulso que for
moral e socialmente reprovável ou louvável.

Escreveu Freud: “O superego não é apenas o depositário das anteriores opções objetais;
representa também uma enérgica formação de reação contra essas opções. Sua relação
abrange a proibição: você não deve ser como tal (consciência)”.

9. Tipologia Traçada por Freud

Freud traçou uma tipologia como causa da carreira criminosa. É a psicopatologia


da vida cotidiana: são fenômenos da vida mental como os enganos, erros, omissões e
lapsos da escrita e de linguagem. Estes fenômenos são comumente conhecidos por
acidentes.

Antes de Freud os descobrir eram conhecidos como ocorrências intencionais que


seriam conscientes por parte do indivíduo. Freud descobriu tratar-se de ações
propositais e intencionais do indivíduo cuja intenção era inconsciente.

19
É necessário esclarecer a interpretação do significado inconsciente do lapso. O
lapso esconde um desejo que o superego reprovou. O ego, portanto, reprimiu por longo
tempo este comportamento ou desejo para o psicanalista por meio de associações que
são feitas com a vida do indivíduo.

10. A (Psico)Terapia Psicanalítica ou analítica


A terapia psicanalítica (procedimento analítico psicanalítico) é uma terapia
causal; ela procura desfazer as causas da neurose. É seu objetivo solucionar os conflitos
neuróticos do paciente, incluindo a neurose infantil que serve de núcleo à adulta.
Solucionar os conflitos neuróticos significa juntar ao ego consciente aquelas parcelas do
id, superego e ego inconsciente que ficaram excluídas dos processos de
amadurecimento da parte restante saudável da personalidade total.

Segundo Freud, o psicanalista aborda os elementos inconscientes através de


seus derivativos. Todos os componentes reprimidos do id e do ego produzem derivativos
– “meio-irmãos”. Não estão conscientes e, mesmo assim, estão muito bem organizados
de acordo com o processo secundário e acessíveis ao ego consciente.

O principal procedimento que o psicanalista exige do paciente é a associação


livre. Charles Ricroft inicia afirmando que “a tradução equivocada de Brill da “Freier
Einfall”, de Freud, versão que, no entanto, se tornou termo aceito em inglês. Einfall
significa “irrupção”, ideia repentina, e não “associação”; o conceito refere-se a ideias
que nos ocorrem espontaneamente, sem esforço. Quando utilizada como termo
técnico, associação livre descreve o modo de pensar incentivado no paciente pela
recomendação do analista de que deve obedecer à “regra básica”, isto é, comunicar seus
pensamentos sem reserva e não tentar concentrar-se enquanto assim procede. A
técnica da associação livre apoia-se em três suposições:

a) que todas as consequências de pensamento tendem a conduzir ao que é

significante;

b) que as necessidades terapêuticas do paciente e o conhecimento de que está

em tratamento conduzirão seus associados no sentido do que é significante, exceto na


medida em que a resistência operar;
20
c) que a resistência é minimizada pelo relaxamento e maximizada pela

concentração. Foi a adoção, por Freud, da técnica da associação livre que lhe permitiu
abandonar a hipnose.

A resistência manifesta-se durante as sessões por falhas na capacidade de o paciente


associar livremente. Algumas descrições da técnica analítica fazem-na depender
inteiramente da associação livre e do resultante do surgimento do “material”
patogênico pertinente; isso, porém, constitui um exagero de simplificação, uma vez que:

a) o analista faz interpretações e as elocuções seguintes do paciente são

associações à intervenção daquele, e não livres;

b) as intervenções do analista obrigam o paciente a examinar atentamente

suas associações livres em identificação com o analista, isto é, o paciente faz duas coisas
simultaneamente, ou em rápida oscilação: associação livre e reflexão. Uma formulação
alternativa é que o paciente oscila entre ser o sujeito e o objeto de sua experiência, em
determinado momento, deixando os pensamentos fluírem e, no seguinte, examinando-
os.

11.Os Métodos de exploração do inconsciente

São dois os métodos de exploração do inconsciente: o associativo e o simbólico.


O associativo visa a um duplo resultado: o de recalcamento e a interpretação.

Solicita-se ao paciente que use o máximo de sua capacidade, que tente deixar as
coisas surgirem em sua mente e verbalizá-las sem se importar com a lógica e a ordem.
Mesmo que lhe pareça não terem importância ou até mesmo serem aparentemente
vergonhosas ou indelicadas a serviço do ego e os derivados, do ego inconsciente, do id
e do superego tendem a vir à superfície.

(...) Sabemos que o paciente deseja recuperar-se


porque está sofrendo de uma neurose, mas, existem
forças dentro dele que são opostas à mudança
pretendida, forças que defendem a mudança e o
statu quo. Estas forças que se opõem ao processo de
21
tratamento são conhecidas por resistências, termo
que quando utilizado como termo técnico, é a
oposição que se verifica existir durante o tratamento
psicanalítico, contra o processo de tornar conscientes
os processos inconscientes. Diz-se que os pacientes se
encontram em estado de resistência caso se
oponham às interpretações do analista, e que têm
resistências fracas ou fortes conforme achem fácil ou
difícil permitir que seus analistas os compreendam. A
resistência é uma manifestação de defesa; uma
possível exceção é a „resistência do inconsciente‟ à
compulsão e à repetição (Charles Ricroft. Dicionário
Crítico de Psicanálise).

Portanto, uma das características da Psicanálise é que se pede ao paciente que


inclua suas associações quando narra seus sonhos ou outras experiências. A livre
associação tem prioridade sobre todos os outros meios de produção de material na
situação analítica. É preciso estar atento para que a associação livre não seja usada
erradamente para ajudar a resistência. O analista tem por tarefa analisar tais
resistências para restabelecer o uso adequado da associação livre.

A associação livre é o método mais importante para a produção do material na


Psicanálise. É utilizada em momentos pré-estabelecidos naqueles tipos de psicoterapia
que buscam certa dose de volta do reprimido, as assim chamadas psicoterapias
orientadas psicanaliticamente ‟. Não é empregada nas terapias antianalíticas, de apoio
ou de encobrimento do reprimido.

O que acabamos de dizer sobre o método associativo, nos permitirá examinar


brevemente o método simbólico. Voltaremos à esse mesmo tema, posteriormente.

Nunca se deve perder de vista: Freud muitas vezes repetiu que o método
simbólico desempenha em Psicanálise um papel absolutamente secundário. É de
admirar que apesar dos protestos reiterados do mestre de Viena, o público, mesmo
científico, vê na Psicanálise muitas vezes apenas uma chave dos sonhos.
22
Relembremos que a simbolização, no sentido estrito freudiano, não deve ser
confundida com a dramatização. Na dramatização, há passagem de uma ideia abstrata
para uma imagem. Na simbolização, há passagem de uma imagem para outra imagem,
além disso, o símbolo tem um valor coletivo.

O exame da validez do método simbólico comporta duas fases. É preciso, em


primeiro lugar, procurar saber como se estabelece uma lista de símbolos. Em segundo
lugar, é preciso fixar quais são os critérios que justificam a interpretação simbólica num
determinado caso.

Objetar-se-á talvez que invertemos a lógica dos problemas. É preciso, primeiro


estabelecer a validez da interpretação simbólica num certo número de casos concretos
e só em seguida se poderá generalizar.

Esta objeção repousa numa grave confusão, que importa dissipar. Uma relação
de causalidade pode ser conseguida de duas maneiras muito diferentes. No primeiro
caso, a reação de causalidade tem um valor inteligível e impõe-se diretamente à razão.
Basta comparar a marca deixada por um pé humano nu sobre a areia úmida e a forma
desse pé para apreender intuitivamente a relação de causalidade, mesmo se se dispõe
apenas de um único espécime de marca. Vimos que, em condições favoráveis, o método
associativo conduz a uma certeza desse gênero.

Num segundo caso, a relação de causalidade não é compreensível diretamente,


sua existência só pode ser demonstrada estatisticamente. Assim é que os médicos
gregos reconheceram que a orquite podia ser uma complicação da cachumba. Ela não
acompanha sempre a cachumba, nem apenas a cachumba, mas sua frequência nos
homens em geral. O redator do Primeiro Livro das Epidemias, da coleção hipocrática,
não fala explicitamente no princípio lógico da comparação das frequências, não
deixando esse princípio, porém de ser o fundamento de sua asserção. Aqui a causalidade
é apreendida graças à lei dos grandes números, mas poder-se-ia percebe-la com certeza
com um único exemplo.

23
12.As Relações Transferenciais

A transferência é a vivência de sentimentos, impulsos, atitudes, fantasias e


defesas dirigidas a uma pessoa no presente, sendo que essa vivência não se coaduna
com a pessoa e constitui uma repetição, um deslocamento de reações surgidas em
relação a pessoas importantes na infância primitiva.

A transferência pode ser positiva ou negativa.

Transferência positiva – A transferência positiva implica as diferentes formas de


anseios sexuais, tais como o gostar, o amar e o respeitar o analista.

Transferência Negativa – A transferência negativa implica algumas variações da


agressividade sob a forma de raiva, aversão, ódio ou desprezo pelo analista. Deve ter-se
sempre em consideração que todas as reações transferenciais são essencialmente
ambivalentes. Clinicamente, o que aparece é apenas a superfície. [1]

As pessoas que se recusam a regredir da realidade são riscos indesejados para a


Psicanálise. Freud dividiu as neuroses em dois grupos, baseado no fato de o paciente
conseguir ou não desenvolver e manter um conjunto relativamente coerente de reações
transferenciais e, mesmo assim, agir na análise e no mundo externo. Os pacientes com
uma “neurose de transferência” conseguiam fazê-lo, ao passo que os pacientes sujeitos
a uma “neurose narcísica” não o conseguiam.

A teoria da transferência é uma das mais importantes contribuições de Freud à


ciência e também o pilar do trabalho psicanalítico. Ela precisa ser entendida como um
falso enlace, que tem, em princípio, dois objetivos, ambos inconscientes:

a) satisfazer as necessidades propriamente inconscientes, confundindo a


pessoa do psicanalista com as pessoas que faltaram ou faltam na vida do paciente;

b) evitar a subida do mundo inconsciente ao consciente, funcionando, desse


modo, como resistência, como dissimulação, com o fim de direcionar as energias
mentais para um lado que abarque a manifestação do universo inconsciente.

24
Não importando o caso, a transferência poderá ser encarada como uma fraqueza de
caráter, como “safadeza” do paciente, porém algo inevitável às pessoas mais sérias. É
sempre um problema da personalidade no que diz respeito às neuroses, carências etc.
As pessoas que sufocam as manifestações transferenciais conseguem plasmar mais uma
carência, fortalecendo assim o patrimônio neurótico.

12.1. Contratransferência

Podemos definir contratransferência, como as atitudes, sentimentos e fantasias


que o psicanalista experimenta, muitas das quais provêm, aparentemente de modo
irracional, de suas próprias necessidades e conflitos psíquicos e não de circunstâncias
reais de suas relações com o paciente.

A contratransferência pode ser, como deduzimos da definição, consequência de


carência do psicanalista em si. Nesse caso é “uma resposta emocional do psicanalista
aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da influência do analisado sobre
os sentimentos do profissional” (Etcheroyen).

Se na transferência temos que estar atentos para interpretá-la, de igual maneira


precisamos estar atentos aos nossos sentimentos e sempre dispostos a auto
interpretação, sob pena de ficarmos vendidos no relacionamento e impedidos de
trabalhar em benefício do paciente.

Como abordaremos no item relativo à aliança terapêutica que deve ser uma
evolução da transferência, a própria transferência racional, de certa forma postulamos
o mesmo para a contratransferência. Neste caso, quando interpretamos, quando
identificamos os motivos dessa afetividade etc., transformamos esse sentimento
intenso no correspondente a aliança terapêutica que chamamos descendente. A aliança
terapêutica descendente, que vem do psicanalista, é igualmente um importante
instrumento do processo, porque liga o psicanalista ao paciente, sem interdependência
em nível de sentimento.

25
12.2. Aliança Terapêutica – na análise

Este delicado assunto, por muitos é confundido com transferência. A


transferência ocupa uma parte definida do universo psicanalítico. Nem tudo o que
ocorre na situação analítica é transferência. Devemos, contudo, reconhecer que a linha
divisória entre aliança terapêutica e transferência é muito tênue.

Como defini-la? Segundo Zetzel, aliança terapêutica é uma espécie de


transferência racional. A transferência racional se caracteriza sobretudo por não ter o
aspecto de neurose que é a neurose de transferência. A diferença está na intensidade,
racionalidade, consciência de que os afetos que surgem não são frutos de paixão, mas,
sim, do relacionamento. Por outro lado, a transferência se reveste de irracionalidade,
envolvimento afetivo que não permite ao paciente distinguir os níveis de sentimento.

Podemos situar melhor a aliança terapêutica em relação à transferência, do


seguinte modo: a aliança terapêutica é favorável, colaboradora do processo, enquanto
a transferência, embora fundamental para a cura – em princípio opera negativamente –
tende a atrapalhar. Aparece como embaraço que deve ser interpretado e, se persistir, o
tratamento será inviabilizado.

A experiência nos tem ensinado que a aliança terapêutica não necessita de


interpretação, nem teríamos de fazê-lo. Precisamos confessar, entretanto, que a
diferença entre a neurose de transferência e a aliança não é absoluta. É mais uma
diferença de compreensão do paciente do que de sentimentos. Em suma, o que o
paciente sente, em ambos os casos, é a mesma coisa. Mas a posição pessoal do paciente
difere.

Uma outra situação importante é que, na transferência, a luta do psicanalista é


para interpretá-la, afastá-la, dando lugar à possibilidade da instalação da dinâmica
interpretativa. Na aliança terapêutica ocorre exatamente o contrário: o psicanalista a
reforça. Ele precisa da manutenção desse clima para sustentar a confiabilidade.
Finalizando, diremos que o ideal da transferência é que se transforme ou evolua para
aliança terapêutica. Uma coisa não se encontrará ao mesmo tempo em um paciente.

26
Outra coisa se discute: pode existir aliança terapêutica sem o processo inicial da
transferência?

13.As resistências

Álvaro Cabral define resistência em Psicanálise como a oposição a qualquer


tentativa de revelação de um conteúdo inconsciente. A maior ou menor intensidade da
luta travada pelo paciente contra o analista que o ameaça pôr a descoberto esse
conteúdo oculto constitui sempre uma medida de força repressora, isto, é da
resistência. Álvaro Cabral fala, ainda, sobre resistência inconsciente:

(...) em psicoterapia, é a retenção intencional de


informações por parte de um paciente, causada
pela vergonha, medo de rejeição, temor de perder
a consideração do analista, etc. Aceita-se que,
subentendida na resistência consciente, haja
sempre motivos inconscientes.

A terapia psicanalítica se caracteriza pela análise sistemática e completa de


resistências. É trabalho do analista descobrir como o paciente resiste, a que está ele
resistindo e por que ele age assim. A causa imediata de uma resistência é sempre evitar
algum afeto doloroso como a ansiedade, culpa ou vergonha. Por trás deste motivo
encontraremos um impulso instintual que disparou o afeto doloroso. No final das
contas, descobrir-se-á que é o medo de um estado traumático que a resistência está
tentando evitar.

Ralph R. Greenson em seu livro A Técnica e a Prática da Psicanálise, de uma


forma empírica e prática, define resistência como oposição. Mais explicitamente,
“resistência são todas aquelas forças” dentro do paciente que se opõem aos
procedimentos e processos da análise, que impedem a associação livre, que bloqueiam
as tentativas para recordar, obter e assimilar a compreensão interna (insight), que agem
contra o ego racional do paciente e contra seu desejo de mudar; todas as forças devem
ser consideradas resistências (Freud, 1900, p. 517).

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A resistência pode ser:

a) consciente;

b) pré-consciente;

c) inconsciente.

Elas podem ser expressas por meio de emoções, atitudes, idéias, impulsos,
pensamentos, fantasias ou ações. A resistência, em essência, é uma força opositora no
paciente, agindo contra os procedimentos e processos analíticos.

Já em 1912 Freud havia reconhecido a importância da resistência ao afirmar:

A resistência acompanha o tratamento em todos os


seus passos. Toda e qualquer associação, todo o ato
da pessoa em tratamento deve contar com a
resistência e ela representa um compromisso entre
as forças que estão lutando pela recuperação e as
forças opositoras (Freud, 1912a, p. 103).

Em relação à neurose do paciente, as resistências favorecem uma função


defensiva. As resistências defendem a neurose e se opõem ao ego racional do paciente
e à situação analítica. Visto que todos os aspectos da vida mental podem auxiliar uma
função defensiva, todos eles podem ajudar os objetivos da resistência.

Para analisar uma resistência temos de conhecê-la. Ela aparece de formas


variadas, complexas e sutis, em combinações ou em formas misturadas, e os exemplos
individuais e isoladas não constituem a regra.

13.1 Quando o Paciente Está Silencioso


É a forma mais comum de comportamento que encontramos na prática
psicanalítica. Significa que o paciente não está disposto, consciente ou
inconscientemente, a transmitir seus pensamentos ou emoções ao analista. Ele pode
estar cônscio de sua má vontade ou pode perceber apenas que não há nada em sua

28
mente. Apesar do silêncio, algumas vezes o paciente pode revelar, involuntariamente, o
motivo do seu silêncio, pela postura, movimentos ou expressão facial. Virando a cabeça
para não ser visto, cobrindo os olhos com as mãos, contorcendo-se no divã,
enrubescendo – tudo isso pode indicar embaraço.

O silêncio, contudo, pode também indicar outros significados, como uma


repetição de um fato passado no qual o silêncio desempenhou um papel importante.
Pode descrever a sua reação à cena primária. Nessa situação o silêncio não é apenas
uma resistência, mas também o conteúdo de parte de uma recordação. Existem muitos
problemas complexos ao redor do tema silêncio. De modo geral e por objetivos bem
práticos, o silêncio é uma resistência à análise e tem que ser manejado como tal.

13.1.1. O Paciente ‘Não Está com Vontade de Falar’


Esta é uma variação da situação anterior. Ele não está totalmente silencioso,
mas está cônscio de que não está com vontade de falar. O estado de „não sentir vontade
de falar‟ tem uma ou mais causas. O trabalho do analista consiste em fazer o paciente
trabalhar a respeito destas causas. É, basicamente, tarefa semelhante à investigação de
“alguma coisa” inconsciente que provoca o “nada” inconsciente na mente do paciente
silencioso.

Afetos Indicando a Resistência


Do ponto do ponto de vista das emoções do paciente, a indicação mais típica de
resistência será notada quando o paciente se comunica verbalmente, mas existe uma
ausência de afeto. Suas observações são secas, insípidas, monótonas e apáticas. Tem-se
a impressão de que o paciente está alheio e desligado do que está relatando. Isto é
particularmente importante quando a ausência de afeto diz respeito a fatos que
deveriam estar cheios de profunda emoção do que ele está relatando.

Em geral a inexistência da emoção é um sinal bem impressionante de resistência.


Há uma qualidade bizarra no que o paciente diz quando a ideação e a emoção estão de
acordo.

29
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