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(b)TRADUÇÃO INGLESA:
“Heredity and the Aetiology of the Neuroses”
1924 C.P.,, 1, 138-154. (Trad. de M. Meyer.)
(a) Certas afecções que, muitas vezes, estão bem distantes do domínio da
neuropatologia, e que não dependem necessariamente de uma doença do sistema nervoso,
têm sido ocasionalmente consideradas como nervosas e como demonstrativas da presença de
uma tendência neuropática hereditária. É o que tem ocorrido com as nevralgias faciais
autênticas e com muitas dores de cabeça que se acreditava serem nervosas, embora na
verdade proviessem de alterações patológicas pós-infecciosas e de supuração nas cavidades
faringonasais. Estou convencido de que os pacientes seriam beneficiados se
encaminhássemos com mais freqüência o tratamento dessas afecções aos cirurgiões
rinológicos.
(b) Todas as afecções nervosas encontradas na família do paciente, sem consideração
para com sua freqüência ou gravidade, têm sido aceitas como fundamento para atribuir-lhe
uma tara nervosa hereditária. Não implicará esse modo de encarar as coisas o estabelecimento
de uma nítida linha divisória entre famílias livres de qualquer predisposição nervosa e famílias
sujeitas a ela em grau ilimitado? E será que os fatos não depõem a favor da concepção
contrária de que há transições e graus na predisposição nervosa, e de que nenhuma família
escapa a ela por completo?
(c) Nossa opinião sobre o papel etiológico da hereditariedade nas doenças nervosas
deve decididamente basear-se num exame estatístico imparcial, e não numa petitio principii.
Até que se faça tal exame, devemos acreditar que a existência de distúrbios nervosos
adquiridos é tão viável quanto a de distúrbios hereditários. Contudo, se houver distúrbios
nervosos adquiridos por pessoas sem nenhuma predisposição, não mais se poderá negar que
as afecções nervosas encontradas em parentes de nosso paciente talvez tenham surgido, em
parte, dessa maneira. Não será mais possível, então, citá-los como prova conclusiva da
predisposição hereditária imputada a nosso paciente em razão de sua história familiar, pois é
raro conseguir-se fazer com êxito um diagnóstico retrospectivo das doenças dos ancestrais ou
dos familiares ausentes.
(d) Os adeptos de M. Fournier e M. Erb quanto ao papel desempenhado pela sífilis na
etiologia da tabes dorsal e da paralisia progressiva aprenderam que é preciso reconhecer
poderosas influências etiológicas cuja colaboração é indispensável para a patogênese de
certas doenças, que não se produziriam apenas pela hereditariedade. Contudo, M. Charcot se
manteve, até o fim (sei disso por uma carta particular que recebi dele), estritamente contrário à
teoria de Fournier, que no entanto vem ganhando terreno dia a dia.
(e) Não há dúvida de que certos distúrbios nervosos podem desenvolver-se em
pessoas perfeitamente sadias cujas famílias estão acima de qualquer recriminação. Esse é um
fato cotidianamente constatado nos casos da neurastenia de Beard; se a neurastenia estivesse
restrita às pessoas predispostas, nunca teria atingido a importância e a extensão com que
estamos familiarizados.
(f) Na patologia nervosa existe a hereditariedade similar e o que se conhece como
hereditariedade dissimilar. Não é possível fazer nenhuma objeção à primeira; é realmente
notável que, nos distúrbios que dependem da hereditariedade similar (doença de Thomsen,
doença de Friedrich, as miopatias, a coréia de Huntington etc.), nunca deparemos com
vestígios de qualquer outra influência etiológica acessória. Já a hereditariedade dissimilar, que
é muito mais importante do que a outra, deixa lacunas que teriam de ser preenchidas antes que
se pudesse chegar a uma solução satisfatória dos problemas etiológicos. A hereditariedade
dissimilar consiste no fato de membros de uma mesma família serem afetados pelos mais
diversos distúrbios nervosos, funcionais e orgânicos, sem que se possa descobrir qualquer lei
determinante da substituição de uma doença por outra ou da ordem de sua sucessão entre as
gerações. Ao lado dos membros doentes dessas famílias há outros que permanecem
saudáveis; e a teoria da hereditariedade dissimilar não nos diz por que uma pessoa tolera a
mesma carga hereditária sem sucumbir a ela, ou por que outra pessoa, doente, opta por uma
afecção nervosa específica dentre todas as doenças que compõem a grande família das
doenças nervosas, em vez de escolher uma outra — a histeria em lugar da epilepsia ou da
insanidade, e assim por diante. Desde que, tanto na patogênese neurótica quanto em qualquer
outra área, não se pode falar em acaso, deve-se admitir que não é a hereditariedade que rege
a escolha do distúrbio nervoso específico a ser desenvolvido no membro predisposto de uma
família, mas que há motivos para se suspeitar da existência de outras influências etiológicas de
natureza menos incompreensível, que mereceriam então ser chamadas de etiologia específica
dessa ou daquela afecção nervosa. Sem a existência desse fator etiológico especial, a
hereditariedade nada poderia ter feito; ter-se-ia prestado à produção de algum outro distúrbio
nervoso, caso a etiologia específica em questão tivesse sido substituída por alguma outra
influência.
II