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GESTALT-TERAPIA

FRITZ PERLS
“A Gestalt deve seu surgimento às intuições geniais e às crises pessoais daquele que devemos
considerar seu principal fundador: Fritz Perls” (Ginger & Ginger, 1995, p. 44)
“devemos — queiramos ou não — considerar [ele] o principal criador e porta-voz da Gestalt-
terapia, mesmo não tendo sido, propriamente, seu teórico” (Ginger & Ginger, 1995, p. 61)

Cronologia da Vida de Fritz


idade duração datas lugares principais acontecimentos
0 a 40 40 anos 8/7/1893 ALEMANHA e infância e adolescência
anos a 1933 ÁUSTRIA tumultuada
Berlim, estudo de medicina (psiquiatria)
Frankfurt, primeira guerra mundial
Viena etc. quatro psicanálises sucessivas
casamento com Lore (Laura)
Posner
se estabelece como psicanalista
aos 40
1 ano em 1933 AMSTERDÃ fuga da Alemanha nazista
anos
2 se instala como psiquiatra e leva
uma Vida bem “ burguesa” e
mundana em Johannesburgo
41 a
de 1934 congresso psicanalítico de Praga
53 12 anos ÁFRICA DO SUL
a 1946 (1936)
anos
encontro com Freud
publica Ego, hunger and
agression, em 1942
trabalha como psicanalista de 46
a 50
formação do “Grupo dos Sete”
53 a NOVA YORK e publica Gestalt-Therapy em 1951
de 1946
3 63 10 anos viagens pelos (aos 58 anos)
a 1956
anos Estados Unidos criação do 1º Instituto de Gestalt
(Nova York, 1952)
inúmeras Viagens para apresentar
a Gestalt
deprimido e doente, se
“aposenta”
63 a
de 1956 FLÓRIDA encontra Marty Fromm e retoma
4 67 4 anos
a 1959 Miami o gosto pela Vida
anos
promove alguns seminários na
Califórnia
Vagueia pela Califórnia, Nova
ESTADOS York, Califórnia, Israel, Nova
67 a
de 1959 UNIDOS e York, Japão, Califórnia...
5 70 4 anos
a 1963 ao redor do permanência numa comunidade
anos
mundo de beatniks em Israel e num
mosteiro zen no Japão etc.
71 a residência em Esalen: promove
de 1964 ESALEN
6 76 5 anos seminários de demonstração e de
a 1969 Califórnia
anos formação
torna-se célebre por Volta de
1968 (aos 75 anos)
publica Gestalt-therapy verbatim
(1969) e In and out the garbage
pail (1969)
funda uma comunidade (Gestalt
junho de
76 a kibutz) num lago, em Cowichan
1969 a CANADÁ
7 77 1 ano (ilha de Vancouver)
março Vancouver
anos morre em Chicago, em 14 de mar-
de 1970
ço de 1970, aos 77 anos.

INFLUÊNCIAS
 Dentre as diversas correntes filosóficas e terapêuticas das quais a Gestalt-terapia se
nutriu, as que parecem ter deixado vestígios mais importantes na mesma foram: a
fenomenologia, o existencialismo e a psicologia da Gestalt; a psicanálise, as filosofias orientais
e a corrente humanista (Ginger & Ginger, 1995, p. 33)

Fenomenologia e Existencialismo
 Da primeira ela reteve que: é mais importante descrever que explicar; o essencial é a
vivência imediata e o processo que está se desenvolvendo no aqui e agora; que nossa
percepção é dominada por fatores subjetivos que lhe conferem sentido diferente para cada
um; é importante tomar consciência do corpo e do tempo vivido como experiência única de
cada um. Da segunda: o primado da vivência concreta em relação aos princípios abstratos; a
singularidade de cada existência; a noção de responsabilidade (Ginger & Ginger, 1995, p. 36)
 "a Gestalt-terapia é uma abordagem fenomenológica clínica, isto é, centrada na
descrição subjetiva do sentimento do cliente (sua awareness) em cada caso particular e na
tomada de consciência 'intersubjetiva' que está acontecendo entre ele e o terapeuta (processo
de contato e suas eventualidades)" (Ginger & Ginger, 1995, p. 36)
 Ginger e Ginger (1995) não dizem diretamente o que ela reteve da Gestalt

Psicanálise
 Sobre a psicanálise, a Gestalt-terapia "é uma filha rebelde [dela], que herdou muito,
pelo menos no princípio, da rebelião crônica de Perls contra Freud" (Ginger & Ginger, 1995, p.
62) embora ele critique "sobretudo, a ideia caricatural que ele próprio forjou da psicanálise"
(Ginger & Ginger, 1995, p. 63)
 Perls critica os seguintes pontos fundamentais da técnica freudiana ortodoxa:
 o inconsciente - Perls "propõe o acesso a ele por outras vias [...] especialmente pela
escuta do corpo, das sensações, da emoção" (Ginger & Ginger, 1995, p. 64)
 o papel do recalque na gênese da neurose - para ele ela "é consecutiva à soma das
'Gestalts inacabadas', ou seja, às necessidades interrompidas ou insatisfeitas, mais do que
aos desejos proibidos pela sociedade ou recalcados pela censura do superego ou do ego"
(Ginger & Ginger, 1995, p. 65)
 a utilização da neurose de transferência no tratamento - pode induzir dependência ou
alimentar mecanismos projetivos (Ginger & Ginger, 1995, p. 65) e ela não é o motor principal
da terapia
 a "busca explicativa das causas de uma perturbação nos traumas da primeira infância
pode constituir uma justificativa defensiva que reforça a neurose" motivo pelo qual deve-se
analisar como ela se manifesta hoje (como) e os eventuais benefícios secundários que me
proporciona agora (para que) (presente em ambos) (Ginger & Ginger, 1995, pp. 65-66)
 "Não é raro que aquilo que é falado esteja em discordância patente com o
comportamento gestual ou social" e o último está reduzido na situação psicanalítica costumeira
(Ginger & Ginger, 1995, p. 67)
 a neutralidade benevolente - a psicanálise nunca é neutra (Ginger & Ginger, 1995, p.
67)
 "a psicanálise parece, às vezes, normativa, propondo objetivos de socialização e de
adaptação" enquanto a Gestalt é "mais liberal, sem a prioris, classificações ou expectativas
implícitas do terapeuta em relação ao cliente" (Ginger & Ginger, 1995, p. 68)
 "o limitado impacto terapêutico da psicanálise” enquanto a Gestalt se torna mais
acessível pelo recurso à terapia de grupo e a uma linguagem polivalente (Ginger & Ginger,
1995, p. 68)
 Perls se mantém próximo de Freud ao:
 reter a noção de compulsão de repetição
 trabalhar o tema da ambivalência
 usar o sonho
 evocar a noção de resistência
 não se importar com a exatidão das lembranças (Ginger & Ginger, 1995, pp. 69-71)
 Embora a Gestalt-terapia retome a psicanálise e dê continuidade a mesma a partir de
uma ótica original, não pode ser considerada uma abordagem psicanalítica segundo as
condições de Freud (Ginger & Ginger, 1995, p. 72)

Psicologia Humanista
 “Por ter uma rica ‘hereditariedade’, formada por vertentes filosóficas diversas, a Gestalt
participou da corrente precursora daquilo que se convencionou chamar de psicologia
humanista; mas devemos assinalar que Perls nunca militou pessoalmente nesse movimento”
p. 93
 “O humanismo é ‘qualquer teoria ou doutrina que tenha como objetivo a pessoa
humana e seu desenvolvimento’” p. 96
 “o estreito parentesco entre os valores periodicamente defendidos por pensadores de
todos os tempos, que se proclamavam humanistas, e a atual corrente da psicologia humanista
[...] particularmente, a Gestalt” (p. 96) são: “devolver ao homem toda sua dignidade, seu direito
ao respeito em todas as suas dimensões” (p. 97); “abandonar qualquer categorização
nosográfica e se interessar pela gama quase ilimitada dos comportamentos individuais,
considerados ‘normais’ por princípio” dedicando se assim a “terapia dos normais” (p. 98);
renunciar a clivagem cartesiana causa/consequência para adotar uma visão sistêmica (p. 99).

CONCEITOS CENTRAIS (Kiyan, 2006)

Homeostase
 “Nossa premissa seguinte é que todos os comportamentos são governados pelo
processo que os cientistas chamam de homeostase e que os leigos chamam de adaptação.
O processo homeostático é aquele pelo qual o organismo mantém seu equilíbrio, e
consequentemente sua saúde, sob condições diversas. A homeostase é portanto, o processo
através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Uma vez que suas necessidades são
muitas e que cada necessidade perturba o equilíbrio, o processo homeostático perdura o
tempo todo [...] Desta forma, poderíamos chamar o processo homeostático de processo de
auto-regulação, o processo pelo qual o organismo interage com seu meio [...]” (Perls, 1973,
pp. 20-21 citado por Kiyan, 2006, p. 150)

 Kiyan (2006, p. 151) acrescenta que existem necessidades fixas, que existe uma
dinâmica interna que possibilita hierarquiza-las e que a saúde do indivíduo depende do
equilíbrio homeostático
Figura e fundo
 “a necessidade dominante do organismo, em qualquer momento, se torna a figura do
primeiro plano, e as outras necessidades recuam, pelo menos temporariamente para o segundo
plano” (Perls, 1973, p. 25 citado por Kiyan, 2006, p. 151)
 “A necessidade a ser satisfeita imediatamente é a figura, e a que passa ao segundo
plano, o fundo.
[...] Esse processo, dinâmico por excelência, quando em funcionamento harmonioso leva o
indivíduo a ‘fechar a Gestalt’ de determinada situação ou necessidade” (Kiyan, 2006, p. 151)

Awareness
 “é um processo de contato na relação estabelecida entre campo, organismo e meio,
com qualidade acentuada de atenção e sentido” (Kiyan, 2006, p. 152)

Contato e fuga (ou ainda retração)


 “O contato ocorre na fronteira entre o indivíduo e o mundo (denominado em Gestalt-
terapia de fronteira de contato). [...] é estabelecido para que o indivíduo possa satisfazer uma
necessidade ou fechar uma figura, e após a obter esse resultado existe uma retração para que
surja nova necessidade, novo contato, assimilação e retração. A esse processo a Gestalt
terapia denomina ciclo de contato” (Kiyan, 2006, p. 155)
 “Quando o processo homeostático é mantido, permanece o estado de saúde, ainda
que em condições adversas”, mas quando ele falha e o desequilíbrio se mantém por muito
tempo o organismo está doente (Kiyan, 2006, p. 156)

Ajustamento criativo
 “refere-se aos ajustamentos possíveis entre o indivíduo e o meio que possam promover
de alguma forma o fechamento de figuras. [...] uma interação com o campo, na que por meio
do contato o indivíduo possa optar por uma decisão que lhe pareça a melhor no sentido de
cumprir a demanda organísmica que se torna figura naquele momento” (Kiyan, 2006, p. 157)

TÉCNICAS (Figueroa, 2015)


 “Essa é a pedra angular da Gestalt-terapia: dar-se conta do que está acontecendo na
situação, consigo e no ambiente” p. 81
 “[Na situação terapêutica] não se trata de aplicar uma técnica ou formular um experimento,
mas de aproveitar a situação da melhor forma possível, visando ao desenvolvimento da
awareness da experiência presente para o cliente” p. 82
 “A técnica ou experimento tem de estar sempre a serviço do processo terapêutico do cliente,
isto é, promovendo awareness, contato e fluidez na formação de Gestalten. Uma vez ativados
esses elementos, os ajustamentos criativos são inevitáveis” p. 83
 “as técnicas, mesmo quando utilizadas como exercício, podem ser úteis, embora o seu
principal potencial só se realiza quando emergem da situação presente, e, muitas vezes, até
passam despercebidas” p. 84
 “A Gestalt-terapia surge em meio a um caldo de cultura que privilegiava a ação; essa era a
figura, as ideias ficavam de fundo” p. 86
 “O propósito da terapia gestáltica é, primeiramente, desenvolver a awareness. É a partir dela
que as obstruções no processo de formação de figura-fundo são superadas, possibilitando o
reestabelecimento dos ajustamentos criativos pelos quais a autorregulação organísmica se
atualiza” p. 87
 “Chamamos de técnica o aparato instrumental operacional com que a metodologia
fenomenológica de awareness é realizada na Gestalt-terapia e pode ser utilizada em exercícios
e experimentos. Os exercícios são procedimentos nos quais os recursos técnicos visam a
objetivos previamente definidos [...]. Em geral, são utilizados em treinamento de profissionais
e podem ser realizados inclusive independentemente da terapia, pois são autoaplicáveis. Já
os experimentos se constituem a partir de uma figura emergente na situação terapêutica,
orientando-se de acordo com o que sucede, sem um fim determinado” p. 88
 As recomendações gerais consensuadas envolvem recursos verbais e não verbais p. 88
Experimento
 “O experimento sempre implica uma emergência da situação, sendo sempre original. Ele é
construído na situação e a partir dela, envolve diretamente a participação do cliente como
um coautor e, ao final, resulta em uma obra acabada, com um valor estético próprio que quase
sempre impacta pela novidade que em si mesmo revela” p. 89
 O terapeuta convida o cliente ao experimento a partir de um tema emergente, sugerindo um
modo de explorá-lo sem ser apenas falando. Para sua formulação, pode fazer perguntas,
aproveitar sinais, ou com base em uma hipótese embora seja arriscado. É preciso avaliar as
condições de suporte do cliente. p. 90
 Recomenda-se começar pelos aspectos egossintônicos e,avançar em aos elementos
egodistônicos, ir checando quando necessário se o cliente quer continuar e identificar o que
o mobiliza mais p. 91
 Ver exemplo na p. 92
Hot Seat
Cadeira Vazia
 “Nessa técnica, uma cadeira ou uma almofada são destinadas a ser ocupadas por uma
representação. Podem ser personagens de alguma situação inacabada, aspectos polares da
personalidade, aspectos projetados ou qualquer outra possibilidade de dissociação e conflito.
Tal representação se dá na forma de um diálogo que o cliente estabelece com a outra parte,
intercambiando os papéis, mudando de lugar. Para que esse recurso ganhe potência, é
fundamental o acompanhamento do terapeuta no que diz respeito ao envolvimento do cliente
com o papel representado” p. 95
Representação
 “a representação pode ser utilizada como um meio em si, isto é, pode-se representar uma
situação complicada, um sonho, um papel no qual o cliente sinta-se inseguro” p. 95
Identificação
 “consiste em se apresentar como objeto, sentimento, sensação, imagem ou mesmo outra
pessoa, sempre articulando na primeira pessoa, falando de suas características, suas
qualidades, sua estética, suas funções, sua existência etc. [...]O objeto de identificação serve
apenas como tela projetiva” p. 96
 Ver exemplo na p. 29 de Ginger e Ginger (1995)
Exageração
 “é utilizada na exageração de algo cristalizado, tal como um sintoma, um automatismo ou
qualquer coisa que seja identificada como ponto de interrupção e recorrência. Consiste em
pedir que o cliente intensifique o que sente ou o que está fazendo” de forma que entre em
contato com o modo como o faz e resultando em awareness p. 96-97
 Ver exemplo na p. 26 de Ginger e Ginger (1995)
Presentificação
 “é a técnica mais básica da Gestalt-terapia. Refere-se tanto a trazer situações temáticas
para o presente como a manter o foco na awareness do que se passa no presente imediato.
Em geral, incentiva-se o cliente a verbalizar na primeira pessoa, utilizando o advérbio ‘agora’,
e ir descrevendo o seu processo de awareness momento a momento, de modo que o terapeuta
possa acompanhar o que se passa e fazer as intervenções que julgar necessárias para o
aprofundamento do processo em curso. [...]é o elemento nuclear de qualquer outro
procedimento, sendo por vezes utilizada quase de modo exclusivo” p. 98
Viagem de fantasia e fantasia dirigida
 “Seu fundamento é a imaginação e sua base é um script que dá uma direção sem determinar
o que se passa; é um roteiro que o terapeuta vai apresentando para ser preenchido pela
imaginação do cliente” p. 99
Metáforas como instrumento
 “Com frequência, conto alguma história ao cliente; na maior parte das vezes, não são relatos
pessoais, mas pequenas histórias, trechos de romances ou filmes, poemas, casos lidos no
jornal, coisas que guardo comigo. Isso acontece como uma expressão da minha escuta,
respondendo a determinado tema surgido na sessão. Com frequência, observo algum efeito;
às vezes, é só alguma graça; em outras, tendo o cliente feito uma relação entre a história e o
que está vivendo, torna-se objeto de exploração mais ativa, resultando em um típico
experimento” p. 99
 “Outro aspecto importante é que sejam histórias simples, breves e interessantes. [...]Além de
constituir um modo de exploração experimental e experiencial, as histórias sempre funcionam
como um estímulo para a intuição, a criatividade e a fantasia, que costumam ficar enfraquecidas
nas situações de sofrimento” p. 100

REFERÊNCIAS
Figueroa, M. (2015). As técnicas em Gestalt-terapia. In L. M. Frazão & K. O. Fukumitsu (Orgs.),
A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em gestalt-terapia (pp. 103-128). São Paulo:
Summus.

Ginger, S., & Ginger, A. (1995). Gestalt: uma terapia do contato (5a. ed.). São Paulo: Summus
Editorial.

Kiyan, A. M. M. (2006). Conceitos centrais. In A. M. M. Kiyan, E a Gestalt emerge: vida e obra


de Frederick Perls (2a. ed.). São Paulo: Editora Altana.

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