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FRITZ PERLS
“A Gestalt deve seu surgimento às intuições geniais e às crises pessoais daquele que devemos
considerar seu principal fundador: Fritz Perls” (Ginger & Ginger, 1995, p. 44)
“devemos — queiramos ou não — considerar [ele] o principal criador e porta-voz da Gestalt-
terapia, mesmo não tendo sido, propriamente, seu teórico” (Ginger & Ginger, 1995, p. 61)
INFLUÊNCIAS
Dentre as diversas correntes filosóficas e terapêuticas das quais a Gestalt-terapia se
nutriu, as que parecem ter deixado vestígios mais importantes na mesma foram: a
fenomenologia, o existencialismo e a psicologia da Gestalt; a psicanálise, as filosofias orientais
e a corrente humanista (Ginger & Ginger, 1995, p. 33)
Fenomenologia e Existencialismo
Da primeira ela reteve que: é mais importante descrever que explicar; o essencial é a
vivência imediata e o processo que está se desenvolvendo no aqui e agora; que nossa
percepção é dominada por fatores subjetivos que lhe conferem sentido diferente para cada
um; é importante tomar consciência do corpo e do tempo vivido como experiência única de
cada um. Da segunda: o primado da vivência concreta em relação aos princípios abstratos; a
singularidade de cada existência; a noção de responsabilidade (Ginger & Ginger, 1995, p. 36)
"a Gestalt-terapia é uma abordagem fenomenológica clínica, isto é, centrada na
descrição subjetiva do sentimento do cliente (sua awareness) em cada caso particular e na
tomada de consciência 'intersubjetiva' que está acontecendo entre ele e o terapeuta (processo
de contato e suas eventualidades)" (Ginger & Ginger, 1995, p. 36)
Ginger e Ginger (1995) não dizem diretamente o que ela reteve da Gestalt
Psicanálise
Sobre a psicanálise, a Gestalt-terapia "é uma filha rebelde [dela], que herdou muito,
pelo menos no princípio, da rebelião crônica de Perls contra Freud" (Ginger & Ginger, 1995, p.
62) embora ele critique "sobretudo, a ideia caricatural que ele próprio forjou da psicanálise"
(Ginger & Ginger, 1995, p. 63)
Perls critica os seguintes pontos fundamentais da técnica freudiana ortodoxa:
o inconsciente - Perls "propõe o acesso a ele por outras vias [...] especialmente pela
escuta do corpo, das sensações, da emoção" (Ginger & Ginger, 1995, p. 64)
o papel do recalque na gênese da neurose - para ele ela "é consecutiva à soma das
'Gestalts inacabadas', ou seja, às necessidades interrompidas ou insatisfeitas, mais do que
aos desejos proibidos pela sociedade ou recalcados pela censura do superego ou do ego"
(Ginger & Ginger, 1995, p. 65)
a utilização da neurose de transferência no tratamento - pode induzir dependência ou
alimentar mecanismos projetivos (Ginger & Ginger, 1995, p. 65) e ela não é o motor principal
da terapia
a "busca explicativa das causas de uma perturbação nos traumas da primeira infância
pode constituir uma justificativa defensiva que reforça a neurose" motivo pelo qual deve-se
analisar como ela se manifesta hoje (como) e os eventuais benefícios secundários que me
proporciona agora (para que) (presente em ambos) (Ginger & Ginger, 1995, pp. 65-66)
"Não é raro que aquilo que é falado esteja em discordância patente com o
comportamento gestual ou social" e o último está reduzido na situação psicanalítica costumeira
(Ginger & Ginger, 1995, p. 67)
a neutralidade benevolente - a psicanálise nunca é neutra (Ginger & Ginger, 1995, p.
67)
"a psicanálise parece, às vezes, normativa, propondo objetivos de socialização e de
adaptação" enquanto a Gestalt é "mais liberal, sem a prioris, classificações ou expectativas
implícitas do terapeuta em relação ao cliente" (Ginger & Ginger, 1995, p. 68)
"o limitado impacto terapêutico da psicanálise” enquanto a Gestalt se torna mais
acessível pelo recurso à terapia de grupo e a uma linguagem polivalente (Ginger & Ginger,
1995, p. 68)
Perls se mantém próximo de Freud ao:
reter a noção de compulsão de repetição
trabalhar o tema da ambivalência
usar o sonho
evocar a noção de resistência
não se importar com a exatidão das lembranças (Ginger & Ginger, 1995, pp. 69-71)
Embora a Gestalt-terapia retome a psicanálise e dê continuidade a mesma a partir de
uma ótica original, não pode ser considerada uma abordagem psicanalítica segundo as
condições de Freud (Ginger & Ginger, 1995, p. 72)
Psicologia Humanista
“Por ter uma rica ‘hereditariedade’, formada por vertentes filosóficas diversas, a Gestalt
participou da corrente precursora daquilo que se convencionou chamar de psicologia
humanista; mas devemos assinalar que Perls nunca militou pessoalmente nesse movimento”
p. 93
“O humanismo é ‘qualquer teoria ou doutrina que tenha como objetivo a pessoa
humana e seu desenvolvimento’” p. 96
“o estreito parentesco entre os valores periodicamente defendidos por pensadores de
todos os tempos, que se proclamavam humanistas, e a atual corrente da psicologia humanista
[...] particularmente, a Gestalt” (p. 96) são: “devolver ao homem toda sua dignidade, seu direito
ao respeito em todas as suas dimensões” (p. 97); “abandonar qualquer categorização
nosográfica e se interessar pela gama quase ilimitada dos comportamentos individuais,
considerados ‘normais’ por princípio” dedicando se assim a “terapia dos normais” (p. 98);
renunciar a clivagem cartesiana causa/consequência para adotar uma visão sistêmica (p. 99).
Homeostase
“Nossa premissa seguinte é que todos os comportamentos são governados pelo
processo que os cientistas chamam de homeostase e que os leigos chamam de adaptação.
O processo homeostático é aquele pelo qual o organismo mantém seu equilíbrio, e
consequentemente sua saúde, sob condições diversas. A homeostase é portanto, o processo
através do qual o organismo satisfaz suas necessidades. Uma vez que suas necessidades são
muitas e que cada necessidade perturba o equilíbrio, o processo homeostático perdura o
tempo todo [...] Desta forma, poderíamos chamar o processo homeostático de processo de
auto-regulação, o processo pelo qual o organismo interage com seu meio [...]” (Perls, 1973,
pp. 20-21 citado por Kiyan, 2006, p. 150)
Kiyan (2006, p. 151) acrescenta que existem necessidades fixas, que existe uma
dinâmica interna que possibilita hierarquiza-las e que a saúde do indivíduo depende do
equilíbrio homeostático
Figura e fundo
“a necessidade dominante do organismo, em qualquer momento, se torna a figura do
primeiro plano, e as outras necessidades recuam, pelo menos temporariamente para o segundo
plano” (Perls, 1973, p. 25 citado por Kiyan, 2006, p. 151)
“A necessidade a ser satisfeita imediatamente é a figura, e a que passa ao segundo
plano, o fundo.
[...] Esse processo, dinâmico por excelência, quando em funcionamento harmonioso leva o
indivíduo a ‘fechar a Gestalt’ de determinada situação ou necessidade” (Kiyan, 2006, p. 151)
Awareness
“é um processo de contato na relação estabelecida entre campo, organismo e meio,
com qualidade acentuada de atenção e sentido” (Kiyan, 2006, p. 152)
Ajustamento criativo
“refere-se aos ajustamentos possíveis entre o indivíduo e o meio que possam promover
de alguma forma o fechamento de figuras. [...] uma interação com o campo, na que por meio
do contato o indivíduo possa optar por uma decisão que lhe pareça a melhor no sentido de
cumprir a demanda organísmica que se torna figura naquele momento” (Kiyan, 2006, p. 157)
REFERÊNCIAS
Figueroa, M. (2015). As técnicas em Gestalt-terapia. In L. M. Frazão & K. O. Fukumitsu (Orgs.),
A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em gestalt-terapia (pp. 103-128). São Paulo:
Summus.
Ginger, S., & Ginger, A. (1995). Gestalt: uma terapia do contato (5a. ed.). São Paulo: Summus
Editorial.