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TERAPIA DE ESQUEMAS – GRUPO DE ESTUDOS

-O que é? A terapia de esquemas (ST) é uma terapia integrativa que combina elementos das
abordagens cognitivo-comportamental, apego, Gestalt, relações objetais, construtivista e
psicanalítica em um modelo rico, de unificação conceitual e de tratamento que pertence a
segunda onda da terapia cognitivo-comportamental (Flanagan, Atkinson & Young, 2020, p. 24).
“Existem quatro modelos principais de integração - teórica, técnica ecléctica, fatores comuns e
integração assimiladora. ST pertence à categoria de integração assimiladora, o que implica
‘permanecer ancorado numa orientação teórica primária, integrando técnicas e princípios de
outras orientações’ ” (Flanagan, Atkinson & Young, 2020, p. 38).

-Qual seu histórico? O desenvolvimento recente da ST pode ser dividido em 3 fases (Edwards &
Arntz, 2012, p. 3):

1. Após se formar em psicologia nos anos 70 e, em seguida, fazer um pós-doutorado na Terapia


Cognitiva de Beck (CT), Young se preocupa com pacientes que não respondem a tratamentos de
curto prazo, para os quais foi treinado, começa a identificar suas características e encontrar
tratamentos que abordem suas dificuldades. Suas análises são resumidas em um seminário, que
ele mais tarde incorpora a sua primeira publicação da ST em 1990: “Terapia Cognitiva para
Transtornos da Personalidade: uma abordagem focada no esquema” (Edwards & Arntz, 2012, p.
4). Inicialmente, ela se desenvolve como uma versão adaptada da CT, mas por volta dos anos 90
já alcançou uma identidade distinta com um modelo próprio de formulação de casos e de
planejamento do tratamento (Edwards & Arntz, 2012, p. 15).

2. Arnoud Arntz desenvolve uma forma expandida da CT para transtorno borderline e querendo
desenvolvê-la em um modelo para usar em um ensaio clínico, faz uma colaboração com Young,
após receber uma recomendação do trabalho deste através de Beck. As descobertas do RCT
feito a partir daí publicadas em 2006 levam a um aumento do interesse clínico e científico e
tornam a ST um tratamento baseado em evidências. Surge a sociedade internacional (Edwards
& Arntz, 2012, p. 16).

3. Joan Farrell e Ida Shaw desenvolvem em colaboração uma terapia de grupo para Transtorno
de Personalidade Borderline, de forma paralela, mas reconhecem após conhecer Young em 2004
que criaram uma versão grupal da ST, cujo valor é demonstrado posteriormente também em
um RCT em 2009 (p. 17).

Mais recentemente também, Roediger et al. (2018) tem avançado no que consideram ser a
'terceira onda' da ST, a Terapia de Esquemas Contextual (Flanagan, Atkinson & Young, 2020, p.
36).

-Quais os principais conceitos?

1.Esquemas desadaptativos precoces: amplo tema ou padrão abrangente compreendendo


memórias, emoções, cognições e sensações corporais, sobre si próprio e sua relação com os
outros, desenvolvido durante a infância ou adolescência, elaborado ao longo da vida e
disfuncional a um grau significativo. São formados quando 5 necessidades essenciais são
cronicamente não satisfeitas: 1) apegos seguros, 2) autonomia, 3) liberdade para expressar
necessidades e emoções válidas, 4) espontaneidade e jogo 5) e limites realistas e auto-controle
(Flanagan, Atkinson & Young, 2020, p. 25). São resultado da interação de fatores como
temperamento da criança, o estilo parental dos pais, e quaisquer experiências significativas (por
vezes traumáticas) (Van Genderen, Rijkeboer & Arntz, 2012, p. 28). Podem estar menos ou mais
ativos em um momento, mas vem à tona quando acontecem situações semelhantes às que
levaram a seu desenvolvimento.

2.Domínios de esquemas: os esquemas desadaptativos precoces são agrupados em 5 categorias


de necessidades emocionais não satisfeitas (Flanagan, Atkinson & Young, 2020, pp. 25-26). 1a)
desempenho e autonomia prejudicados: inclui os esquemas de dependência/incompetência,
vulnerabilidade, emaranhamento/self não desenvolvido e fracasso. 2a) desconexão e rejeição:
inclui os esquemas de abandono/instabilidade, desconfiança/abuso, privação emocional,
imperfeição/vergonha e isolamento social/alienação. 3a) limites prejudicados: inclui os
esquemas de grandiosidade e insuficiente autocontrole/autodisciplina. 4a) direcionamento para
o outro: inclui os esquemas de subjugação, autossacrifício e busca de aprovação. 5a) super-
vigilância e inibição: negativismo, inibição emocional, padrões inflexíveis e punição.

3.Estilos de enfrentamento: estratégias que a pessoa tem para evitar ser perturbada pelos
esquemas. São 3: rendição, evitação e sobrecompensação. Geralmente não são conscientes,
mas reações automáticas (Van Genderen, Rijkeboer & Arntz, 2012, p. 29-31). Levam a
manutenção do esquema (Idem, p. 32). O principal objetivo da terapia é ajudar os pacientes a
sarar, dominando os seus EMSs, adquirindo novas formas de lidar com eles e, assim, conseguir
que as suas necessidades fossem satisfeitas em formas mais adaptativas (Flanagan, Atkinson &
Young, 2020, p. 26).

4.Modos de esquema: estados mentais dominantes em que um paciente pode se encontrar,


sendo instantâneos e estando em constante mudança, que refletem a constelação de esquemas
e estilos de enfrentamento que estão ativos no momento (Van Genderen, Rijkeboer & Arntz,
2012, p. 33). Young originalmente conceitou 10 modos, mas até o momento até 22 já foram
propostos, e os agrupou em 4 categorias amplas: modos da criança, modos de enfrentamento
disfuncional, modos parentais disfuncionais e modo do adulto saudável. Construir e reforçar a o
modo adulto saudável do paciente a fim de trabalhar mais eficazmente com os outros modos é
o objetivo principal do trabalho com modos em ST (Flanagan, Atkinson & Young, 2020, pp. 27-
28). Há uma distinção dentro da ST entre os aderentes do modelo do esquema e os do modelo
dos modos de esquema. Na clínica a maior parte trabalha com os esquemas e estilos de
enfrentamento, mas com BPD e transtornos de personalidade narcisistas também se usam os
modos de esquema (Van Genderen, Rijkeboer & Arntz, 2012, p. 38).

Ex.: No modo de Rendição Condescendente “O paciente dedica-se ao desejo dos outros, a fim
de evitar consequências negativas. Ele suprime as suas próprias necessidades ou emoções e
reprime sua agressão. Ele comporta-se de forma subserviente e passivamente, e espera ganhar
aprovação sendo obediente. Ele tolera abusos de outras pessoas” (Van Genderen, Rijkeboer &
Arntz, 2012, p. 34).

No modo Agressão e Ataque “O paciente quer evitar ser controlado ou ferido por outros, e
portanto, tenta controlá-los. Ele usa ameaças, intimidação, agressão, e força para este fim. Ele
quer sempre estar numa posição dominante, e tem um prazer sádico em magoar outros” (Idem,
p. 35).

-De quais técnicas se utiliza? (Flanagan, Atkinson & Young, 2020, p. 29-35)

1.A relação terapêutica

1.1.Reparação limitada: “Um objetivo principal da ST é proporcionar aos pacientes as


experiências corretivas baseadas nas necessidades que lhes faltaram quando crianças, ao
satisfazer algumas da sua gama necessidades” (Flanagan, Atkinson & Young, 2020, p. 30).
Acredita-se que quando o terapeuta satisfaz as necessidades emocionais do cliente
diretamente, esse cuidado é internalizado fazendo parte de um dos modos (Adulto Saudável).

Young concluiu que tecnicamente a teoria do apego significava que o terapeuta tinha que
oferecer uma relação parental para o lado infantil do paciente para poder corrigir esquemas
disfuncionais e permitir que novos esquemas saudáveis se formem (Edwards & Arntz, 2012, p.
8).

1.2.Confrontação empática: o vínculo estabelecido com o terapeuta permite que aborde os


modos de enfrentamento desadaptativos demonstrando compaixão por como se
desenvolveram, mas também confrontando-os e relacionando com comportamentos
prejudiciais. Um dos aspectos da técnica também envolve compartilhar sua experiência com
determinado modo desadaptativo.

2.Técnicas experienciais:

2.1.Reescrição de imagem: envolve ativar esquemas e modos ao intensificar emoções e associá-


los a memórias biográficas, conectando eventos atuais disparadores com imagens da infância
utilizando visualização e imaginação. Também pode trabalhar memórias da vida adulta. Em
ambos os casos a imagem é reescrita de modo que as necessidades do paciente sejam
satisfeitas.

2.2.Atividade transformadora da cadeira: há duas formas principais, a da cadeira vazia e a da


cadeira dupla, atualmente mais designados como diálogos externos e internos, mas também se
utiliza cadeira múltipla para pacientes com modos conflitantes.

Referências

Edwards, D., & Arntz, A. (2012). Schema Therapy in Historical Perspective. In M. van Vreeswijk,
J. Broersen, & M. Nadort (Eds), The Wiley-Blackwell handbook of schema therapy (pp. 3–26).
Chichester: John Wiley & Sons.

Flanagan, C., Atkinson, T., & Young, J. (2020). An introduction to Schema Therapy: Origins,
overview, research status and future directions. In G. Heath & H. Startup (Eds), Creative
Methods in Schema Therapy Advances and Innovation in Clinical Practice (pp. 24-42). New
York, Oxon: Routledge.

Van Genderen, H., Rijkeboer, M., & Arntz, A. (2012). Theoretical model: Schemas, coping
styles, and modes. In M. van Vreeswijk, J. Broersen, & M. Nadort (Eds), The Wiley-Blackwell
handbook of schema therapy (pp. 27–40). Chichester: John Wiley & Sons.

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