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PSICOLOGIA DO
DESENVOLVIMENTO I
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A DSM-IV (American Psychiatric Association [APA], 1994) define personalidade como
“padrões duradouros de perceber, relacionar com o ambiente e consigo mesmo e pensar a
respeito disso”.
O Psicólogo têm de ter um conhecimento básico de desenvolvimento da personalidade
humana para compreender as respostas comportamentais desajustadas comumente observadas
em clientes psiquiátricos. As teorias do desenvolvimento identificam os comportamentos
associados aos diversos estágios pelos quais os indivíduos passam, especificando assim o que é
adequado ou inadequado a cada nível do desenvolvimento.
Os especialistas do desenvolvimento infantil têm proposto historicamente que o período da
vida para origem e a ocorrência das mudanças do desenvolvimento (Clunn, 1991). Os
especialistas no desenvolvimento do ciclo vital acham que as pessoas continuam a se
desenvolver e se modificar durante toda a vida, sugerindo assim a possibilidade de renovação e
crescimento em adultos (Schaie, 1984).
Os estágios do desenvolvimento são identificados pela idade. Os comportamentos podem
então ser avaliados por serem ou não reconhecidos como apropriados à idade. Idealmente um
indivíduo executa com êxito todas as tarefas associadas a um estágio antes de passar para o
estágio seguinte (à idade apropriada). Na realidade, porém, isto raramente acontece. Uma das
razões disso está relacionada ao temperamento. O temperamento designa características de
personalidade inatas que influenciam a maneira pela qual o individuo reage ao ambiente e em
ultima análise sua progressão no desenvolvimento (Chess & Thomas, 1986). O ambiente
também pode influenciar o padrão de desenvolvimento de um indivíduo. Os indivíduos que são
criados num sistema familiar disfuncional apresentam com freqüência retardo no
desenvolvimento do ego. De acordo com os especialistas no desenvolvimento do ciclo vital, os
comportamentos de um estágio não completado com êxito podem ser modificados e corrigidos
num estágio posterior.
Os estágios se superpõem e num dado momento um indivíduo pode estar trabalhando com
tarefas associadas a diversos estágios. A psicopatologia pode tornar-se evidente quando um
indivíduo fica fixado a um nível inferior do desenvolvimento, com comportamentos
inadequados à idade dirigidos à execução dessas tarefas. Somente quando os traços de
personalidade são inflexíveis e desajustados e causam um grau significativo de distúrbios
funcional ou sofrimento subjetivo é que constituem “distúrbios de personalidade” (APA, 1994).
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TEORIA PSICANALÍTICA
Freud (1961), que já foi chamado de pai da psiquiatria, é considerado o primeiro a identificar o
desenvolvimento por estágios. Ele considerava os 5 primeiros anos da vida de uma criança
como sendo os mais importantes, pois achava que o caráter básico de um indivíduo já estava
formado à idade de 5 anos.
A teoria de personalidade de Freud pode ser considerada de acordo com a estrutura e a
dinâmica da personalidade, a topografia da mente e os estágios de desenvolvimento da
personalidade.
ESTRUTURA DA PESONALIDADE
Freud organizou a estrutura da personalidade em três componentes principais: id, ego e
superego. Eles são distinguidos por suas funções peculiares e características diferentes.
Id
O id é o local das pulsões instintivas – o “princípio do prazer”. Presente ao nascimento, ele dota
a criança de pulsões instintivas que buscam satisfazer necessidades e obter gratificação
imediata. Os comportamentos impulsionados pelo id são impulsivos e podem ser irracionais.
Ego
Também denominado eu racional ou “princípio da realidade”, o ego começa a desenvolver-se
entre os 4 e os 6 meses de idade. O ego vivencia a realidade do mundo externo, adapta-se a ela
e responde a ela. À medida que se desenvolve e ganha força o ego procura fazer as influências
do mundo externo agirem sobre o id, para substituir o princípio do prazer pelo princípio da
realidade (Kaplan & Sadock, 1989). Uma das principais funções do ego é a de mediador, ou
seja, de manter a harmonia entre o mundo externo, o id e o superego.
Superego
Se o id é identificado como o princípio do prazer e o ego como o principio da realidade, o
superego pode ser designado como “principio da perfeição”. Desenvolvendo-se entre os 3 e os
6 anos de idade, o superego internaliza os valores e princípios morais estabelecidos pelos
responsáveis primários pelo cuidado do indivíduo. Derivado de nosso sistema de recompensas e
punições, o superego é constituído de dois componentes principais, o ideal do ego e a
consciência. Quando uma criança consistentemente recompensada por “bom” comportamento,
a auto-estima aumenta e o comportamento passa a fazer parte do ideal do ego; isto é, ele é
internalizado como parte de seu sistema de valores. A consciência se forma quando a criança é
consistentemente punida por “mau” comportamento. A criança aprende por feedback recebido
das figuras paternas e da sociedade ou cultura o que é considerado moralmente certo ou errado.
Quando os princípios morais e éticos ou até mesmo ideais e valores são deixados de lado, a
consciência gera um sentimento de culpa no indivíduo, pois ajudo o ego no controle dos
impulsos. Problemas de baixa autoconfiança e baixa auto-estima ocorrem quando o superego se
torna rígido e punitivo.
Topografia da Mente
Freud classificou todos os conteúdos e operações da mente em três categorias: o consciente, o
pré- consciente e o inconsciente.
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O consciente inclui todas as memórias que permanecem ao alcance da percepção do
indivíduo. Ele é a menor das três categorias. Eventos e experiências que são facilmente
recordados ou recuperados são considerados como parte da percepção consciente do
individuo. Os exemplos incluem números de telefone, aniversários da própria pessoa e
outros entes queridos, as datas de feriados especiais e o que se comeu no almoço nesta
tarde. A mente consciente está sob o controle do ego, da estrutura racional e lógica da
personalidade.
O pré-consciente inclui todas as memórias que podem ter sido esquecidas ou não estão
no momento na consciência, mas podem ser rapidamente trazidos à consciência pela
atenção. Os exemplos incluem números de telefone já sabidos, mas pouco usados, e
sentimentos associados a eventos vitais significativos que podem ter ocorrido em algum
momento no passado. O pré- consciente aguça a percepção ajudando a suprimir da
consciência memórias desagradáveis ou não essenciais. Ele está parcialmente sob
controle do superego, que ajuda a suprimir pensamentos e comportamentos
inaceitáveis.
O inconsciente inclui todas as memórias que não se consegue trazer à percepção
consciente. Ele é o maior dos três níveis topográficos. O material inconsciente consiste
em memórias desagradáveis ou não essenciais que foram reprimidas e só podem ser
recuperadas por terapia, hipnose e o uso de certas substâncias que alteram a percepção e
têm a capacidade de reestruturar as memórias reprimidas. O material inconsciente
também pode vir à tona nos sonhos e num comportamento aparentemente
incompreensível.
Dinâmica da Personalidade
Freud achava que a energia psíquica é a força ou pulsão necessária para o funcionamento da
mente. Originando-se do id, ela satisfaz instintivamente as necessidades fisiológicas básicas.
Freud designou esta energia psíquica (ou o impulso a satisfazer necessidades fisiológicas
básicas, como fome , sede e sexo) como libido. À medida que a criança amadurece, a energia
psíquica é desviada do id para formar o ego e depois do ego para formar o superego. A energia
psíquica se distribui por esses três componentes, com o ego recebendo a maior proporção para
manter um equilíbrio entre o comportamento impulsivo do id e os comportamentos idealistas do
superego. Se uma quantidade excessiva de energia for armazenada num desses componentes da
personalidade, o comportamento vai refletir esta parte da personalidade. O comportamento
impulsivo irá predominar, por exemplo, ao ser armazenado no id uma energia psíquica
excessiva. Um investimento excessivo no ego vai se refletir em comportamentos de absorção
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Freud usou os termos catexis e anticatexis para descrever as forças no id, ego e superego que
são usadas para se investir energia psíquica em fontes externas para satisfazer necessidades.
Catexis é o processo pelo qual o id investe energia num objetivo na tentativa de obter
gratificação. Um exemplo é o indivíduo que se volta instintivamente para o álcool para aliviar o
estresse. Anticatexis é o uso de energia psíquica pelo ego e o superego para controlar os
impulsos do id. No exemplo citado, o ego tentaria controlar o uso de álcool pelo pensamento
racional, como “Eu já tenho úlceras por beber demais. Vou chamar meu conselheiro do AA
para me dar apoio. Não vou beber”. O superego exerceria controle por: “Não devo beber. Se eu
beber minha família vai ficar magoada e furiosa. Tenho de pensar em como isto os afeta. Sou
uma pessoa muita fraca”. Freud achava que um desequilíbrio entre catexis e anticatexis
ocasionava conflitos internos, produzindo tensão e ansiedade no indivíduo. A filha de Freud,
Anna, elaborou uma lista de mecanismos de defesa considerados como sendo usados pelo ego
como um recurso protetor relativamente à ansiedade, efetuando a mediação entre as exigências
excessivas do id e as restrições excessivas do superego.
As principais tarefas neste estágio são adquirir independência e controle, com um foco
específico na função excretora. Freud achava que a maneira pela qual os pais e outros
responsáveis pelos cuidados primários abordam a tarefa do treinamento excretor pode ter
efeitos duradouros sobre a criança em termos de valores e características de personalidade.
Quando o treinamento excretor é rígido e inflexível, a criança pode decidir reter as fezes,
ficando constipada. Os traços de personalidade retentivos adultos influenciados por esse tipo de
treinamento incluem teimosia, mesquinharia e sovinice. Uma outra reação a um treinamento
excretor rígido é a criança expelir as fezes de maneira inaceitável ou em ocasiões impróprias.
Os efeitos a longo prazo deste padrão de comportamento incluem malevolência, crueldade para
com os outros, destrutividade, desorganização e pouca higiene pessoal.
Um treinamento excretor que é mais permissivo e reconhecedor dá à produção das fezes um
sentimento de algo importante e desejável. A criança torna-se extrovertida, produtiva e altruísta.
Nesse período o foco da energia passa para a área genital. A descoberta de diferenças entre os
sexos acarreta maior interesse pela própria sexualidade e por aquela de outras pessoas. Este
interesse pode se manifestar por brincadeiras sexuais auto-exploratórias ou exploratórias em
grupo. Freud propôs que durante este estágio havia o desenvolvimento do complexo de Édipo.
Ele descreveu isto como o desejo inconsciente da criança de eliminar o pai do mesmo sexo e
possuir o pai do sexo oposto para si. Os sentimentos de culpa ocorrem à emergência do
superego durante este período. A resolução deste conflito interno ocorre quando a criança vem a
apresentar uma forte identificação com o pai do mesmo sexo e incorpora as atitudes, crenças e o
sistema de valores deste pai.
Durante os anos de escola primária o foco passa do egocentrismo para aquele em que há maior
interesse por atividades em grupo, aprendizado e socialização com pares. A sexualidade não se
encontra ausente durante este período, mas permanece obscura e imperceptível aos outros. A
preferência é homossexual; as crianças desta idade evidenciam uma nítida preferência por
relações com indivíduos do mesmo sexo, até mesmo rejeitando membros do sexo oposto.
Sigmund Freud (1961) identificou o ego como o componente da realidade na personalidade, que
governa a resolução de problemas e o pensamento racional. Quando aumenta o nível de ansiedade a
força do ego é testada, e energia é mobilizada para enfrentar a ameaça. Anna Freud (1953)
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Ser capaz de reconhecer os comportamentos associados ao id, ego e superego vai ajudar na
avaliação do nível do desenvolvimento. O conhecimento do uso dos mecanismos de defesa é
importante para fazer determinações sobre comportamentos desajustados, planejar o cuidado de
clientes de modo a ajudar a produzir mudanças, caso desejado, ou ajudar os clientes a
aceitarem-se como indivíduos únicos.
Fase fálica. Bem cedo, já aos três anos, a criança entra na fase fálica, que focaliza as
áreas genitais do corpo. Freud afirmava que essa fase é melhor caracterizada por "fálica"
uma vez que é o período em que uma criança se dá conta de seu pênis ou da falta de um.
É a primeira fase em que as crianças tornam-se conscientes das diferenças sexuais.
As opiniões de Freud a respeito do desenvolvimento da inveja do pênis em meninas
foram longamente debatidas em círculos psicanalíticos, assim como em outros lugares.
(Incluímos uma discussão completa deste aspecto controvertido da teoria psicanalítica no
Apêndice I.) Freud concluiu, a partir de suas observações, que, durante esse período,
homens e mulheres desenvolvem sérios temores sobre questões sexuais.
O desejo de ter um pênis e a aparente descoberta de que lhe falta "algo" constituem
um momento crítico no desenvolvimento feminino. Segundo Freud: "A descoberta de que
é castrada representa um marco decisivo no crescimento da menina. Daí partem três
linhas de desenvolvimento possíveis: uma conduz à inibição sexual ou à neurose, outra à
modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade e a terceira,
finalmente, à feminilidade normal"(1933, livro 29, p.31 na ed. bras).
Freud tentou compreender as tensões que uma criança vivencia quando sente
excitação "sexual", isto é, o prazer a partir da estimulação de áreas genitais. Esta
excitação está ligada, na mente da criança, à presença física próxima de seus pais. O
desejo desse contato torna-se cada vez mais difícil de ser satisfeito pela criança, ela luta
pela intimidade que seus pais compartilham entre si. Esta fase caracteriza-se pelo desejo
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da criança de ir para a cama de seus pais e pelo ciúme da atenção que seus pais dão um
ao outro, ao invés de dá-la a criança.
Freud viu crianças nesta fase reagirem a seus pais como ameaça potencial à
satisfação de suas necessidades. Assim, para o menino que deseja estar próximo de sua
mãe, o pai assume alguns tributos de um rival. Ao mesmo tempo, o menino ainda quer o
amor e a afeição de seu pai e, por isso, sua mãe é vista como um rival. A criança está na
posição insustentável de querer e temer ambos os pais.
Em meninos Freud denominou a situação complexo de Édipo, segundo a peça de
Sófocles. Na tragédia grega, Édipo mata seu pai (desconhecendo sua verdadeira
identidade) e, mais tarde, casa-se com a mãe. Quando finalmente toma conhecimento de
quem havia matado e com quem se casara, o próprio Édipo desfigura-se arrancando os
dois olhos. Freud acreditava que todo menino revive um drama interno similar. Ele deseja
possuir sua mãe e matar seu pai para realizar este destino. Ele também teme seu pai e
receia ser castrado por ele, reduzindo a criança a um ser sem sexo e, portanto,
inofensivo. A ansiedade da castração, o temor e o amor pelo seu pai, e o amor e o desejo
sexual por sua mãe não podem nunca se completamente resolvidos. Na infância, todo o
complexo é reprimido. Mantê-lo inconsciente, impedi-lo de aparecer, evitar até mesmo
que se pense a respeito ou que se reflita sobre ele essas são algumas das primeiras
tarefas do superego em desenvolvimento.
Para as meninas, o problema é similar, mas na sua expressão e solução tomam um
rumo diferente. A menina deseja possuir seu pai e vê sua mãe como a maior rival.
Enquanto os meninos reprimem seus sentimentos, em parte pelo medo da castração, a
necessidade da menina de reprimir seus desejos é menos severa, menos total. A
diferença em intensidade permite a elas "permanecerem nela (situação edipiana) por um
tempo indeterminado; destroem-na tardiamente e, ainda assim, de modo incompleto"
(1933, livro 29, p.35 na ed. bras.).
Seja qual for a forma que realmente toma a resolução da luta, a maioria das crianças
parece modificar seu apego aos pais em algum ponto depois dos cinco anos de idade e
voltam-se para o relacionamento com seus companheiros, atividades escolares, esportes
e outras habilidades. Esta época, da idade de 5, 6 anos até o começo da puberdade, é
denominada período de latência, um tempo em que os desejos sexuais não-resolvidos da
fase fálica não são atendidos pelo ego e cuja repressão é feita, com sucesso, pelo
superego. " A partir desse ponto, até a puberdade, estende-se o que se conhece por
período de latência. Durante ele a sexualidade normalmente não avança mais, pelo
contrário, os anseios sexuais diminuem de vigor e são abandonadas e esquecidas muitas
coisas que a criança fazia e conhecia. Nesse período da vida, depois que a primeira
eflorescência da sexualidade feneceu, surgem atitudes do ego como vergonha, repulsa e
moralidade, que estão destinadas a fazer frente à tempestade ulterior da puberdade e a
alicerçar o caminho dos desejos sexuais que se vão despertando" (1926, livro 25 p. 128
na ed. bras.).
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Fase Genital. A fase final do desenvolvimento biológico e psicológico ocorre com início
da puberdade e o conseqüente retorno da energia libidinal aos órgãos sexuais. Neste
momento, meninos e meninas estão ambos conscientes de suas identidades sexuais
distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e
interpessoais.
Importância do instinto sexual. Freud notou que na maioria dos pacientes que teve
desde o início de sua prática clínica, os distúrbios e queixas de natureza hipocondríaca ou
histérica, estavam relacionados a sentimentos reprimidos com origem em experiências
sexuais perturbadoras. Assim ele formulou a hipótese de que a ansiedade que se
manifestava nos sintomas era conseqüência da energia (libido) ligada à sexualidade; a
energia reprimida tinha expressão nos vários sintomas que serviam como um mecanismo
de defesa psicológica. Essa força, o instinto sexual, não se apresentava consciente
devido à "repressão" tornada também inconsciente; Revelação da "repressão"
inconsciente era obtida pelo método da livre associação (inspirado nos atos falhados ou
sintomáticos, em substituição à hipnose) e interpretação dos sonhos (conteúdo manifesto
e conteúdo latente). O processo sintomático e terapêutico compreendia: experiência
emocional - recalque e esquecimento - neurose - análise pela livre associação -
recordação - transferência - descarga emocional - cura.
Estrutura tripartite da mente. Freud buscou inspiração na cultura Grega, pois a doutrina
platônica com certeza o impressionou em seu curso de Filosofia. As partes da alma de
Platão correspondem ao Id, o Superego e o Ego da sua teoria das partes ou órgãos da
mente (1923 - "O Ego e o Id").
Id - Freud buscou funções físicas para as partes da mente. O Id, regido pelo "princípio do
prazer", tinha a função de descarregar as tensões biológicas. Corresponde à alma
concupiscente, do esquema platônico: é a reserva inconsciente dos desejos e impulsos
de origem genética e voltados para a preservação e propagação da vida..
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O "Ego" lida com a estimulação que vem tanto da própria mente como do mundo exterior.
Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de realidade". É a parte
racional da alma, no esquema platônico. É parte perceptiva e a inteligência que devem,
no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer simultaneamente as
exigências do Id e do Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem
que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres e sem que, ao contrário, se
imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.
Atos falhos ou sintomáticos. Os chamados Atos sintomáticos são para Freud evidência
da força e individualismo do inconsciente: e sua manifestação é comum nas pessoas
sadias. Mostram a luta do consciente com o subconsciente (conteúdo evocável) e o
inconsciente (conteúdo não evocável). São os lapsus linguae, popularmente ditos "traição
da memória", ou mesmo convicções enganosas e erros que podem ter conseqüências
graves.
Contribui com uma teoria das fases do desenvolvimento do indivíduo. A pessoa passa por
quatro sucessivos tipos de caráter: oral, anal e genital, com regressão e fixação.
(1) a fase oral, ou fase da libido oral, ou hedonismo bucal, quando o desejo e o prazer
localizam-se primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o seio materno, a
mamadeira, a chupeta, os dedos são objetos do prazer;
(2) a fase anal, ou fase da libido ou hedonismo anal, quando o desejo e o prazer
localizara-se primordialmente nas exercesse e as fezes, brincar com massas e com tintas,
amassar barro ou argila, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer;
(3) e a fase genital ou fase fálica, ou fase da libido ou hedonismo genital: quando o desejo
e o prazer localizara-se primordialmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que
excitam tais órgãos. Nessa fase, para os meninos, a mae é o objeto do desejo e do
prazer; para as meninas, o pai.
Aqueles que por algum motivo se detém em seu desenvolvimento emocional, se fixam em
qualquer uma das três fases transitórias (Freud. 1908), resultando tipos e subtipos de
personalidade correspondentes.
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O tipo oral: (1) Oral receptivo: pessoa dependente, espera que tudo lhe seja dado, sem
qualquer reciprocidade; (2) Oral sadístico, não espera que alguém lhe dê voluntariamente
qualquer coisa. Decide-se a empregar a força e a astúcia para conseguir o que deseja.
Explorador e agressivo.
Perversão. Porém, assim como a loucura é a impossibilidade do Ego para realizar sua
dupla função, também a sublimação pode não ser alcançada e, era seu lugar, surgir uma
perversão social ou coletiva, urna loucura social ou coletiva. O nazismo é um exemplo de
perversão, era vez de sublimação. A propaganda, que induz em nós falsos desejos
sexuais pela multiplicação das imagens de prazer, é outro exemplo de perversão ou de
incapacidade para a sublimação.
Freud considerou a reação contra o complexo de Édito o mais importante conquista social
da mente humana. Psicanalistas posteriores consideram a descrição de Freud imprecisa,
apesar de conter algumas verdades parciais.
Narcisismo. narcisismo, isto é, a bela imagem que possuíamos de n(5s mesmos como
seres conscientes racionais e com a qual, durante Séculos, estivemos encantados.
Conta O mito que O jovem Narciso, belíssimo, nunca tinha visto sua própria imagem. Um
dia, passeando por um bosque, encontrou um lago. Aproximou-se e viu nas águas um
jovem de extraordinária beleza e pelo qual apaixonou-se perdidamente. Desejava que o
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noutro saísse das águas e viesse ao seu encontro, mas como o outro parecia recusar-se
a sair do lago, Narciso mergulhou nas águas, foi ás profundezas á procura do outro que
fugia, morrendo afogado. Narciso morrera de amor por si mesmo, ou melhor, de amor por
sua própria imagem ou pela auto-imagem. O narcisismo é o encantamento e a paixão que
sentimos por nossa própria imagem ou por nós mesmos, porque não conseguimos
diferenciar um do outro.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO I
1- Qual a contribuição da psicanálise para o psicólogo?
2- O que Freud descobriu de importante sobre a sexualidade?
3- Como se caracterizam as fases do desenvolvimento sexual?
4- Caracterize o Complexo de Édipo.
5- O que é libido?
6- Qual a função e como operam os mecanismos de defesa do ego?
7- Explique a assertiva: “o que João diz de Pedro diz mais de João do que de Pedro”.
8- Relacione temperamento e personalidade.
9- Qual comportamento irá predominar havendo excesso de energia psíquica no
superego?
10- Qual a importância do desenvolvimento do superego para a personalidade do
indivíduo?
11- Em adultos, existem muitos hábitos orais bem desenvolvidos e um interesse
contínuo em manter prazeres orais. Exemplifique a assertiva.
12- Quais características de uma personalidade adulta estão associadas à fixação
parcial na fase anal?
13- Qual a principal tarefa do superego em desenvolvimento na fase fálica?
14- Quais atitudes do ego estão presentes no período de latência?
15- Justifique a epígrafe: “se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta
freudiana, essa palavra seria incontestavelmente INCONSCIENTE”.
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO II
ESTUDO DE CASO:
preferência por doces, carboidratos, geralmente alimentos com textura lisa, onde não
precisasse muito o ato da mastigação. A seguir, ocorria o que nós chamamos de
“purgação”, ou seja, a paciente induzia o vômito, com uma pequena pena de espanador
ou o cabo da escova de dente. Outras vezes, colocava os dedos na garganta fazendo
com que suas mãos apresentassem o sinal de Russel (feridas e calos nos dedos). Os
pacientes, nesta fase, se “especializam” na indução de vômitos, conseguindo vomitar na
hora que quiserem. O vômito passa a ser um objetivo em si mesmo, tanto que a pessoa
come em excesso com o intuito de vomitar ou vomita mesmo após ter ingerido uma
quantidade pequena de alimentos. Este é um comportamento compulsório inadequado
que a paciente desenvolveu para prevenir o aumento de peso. A paciente M. ao se
consultar tem falas como:
“Não consigo contar para ninguém, pois sei que não vou parar de vomitar... Por que
não consigo me alimentar como as outras pessoas?...Por que não me curo
disso?...Me sinto suja por dentro...Consigo enganar meu namorado...Digo que vou
ao banheiro, abro o chuveiro e vomito deliciosamente... Eu levo uma vida paralela...
Ninguém sabe o que sofro...Por que essa dor...? Por que esse vazio...?”
1. A paciente M.
I. ( ) tinha excessiva preocupação com a sua forma física e peso e um grande medo
de ficar gorda.
II. ( ) Uma característica desse distúrbio alimentar é que as pacientes dificilmente
emagrecem abaixo do seu peso normal, para sua idade e altura, o que também
dificultava o diagnóstico e percepção do problema pela família.
III. ( ) Não há ainda uma forma específica de se prevenir a bulimia, sendo difícil de
ser diagnosticada, porque A paciente M. como todas as pacientes também
escondia e tinha vergonha dos seus sintomas.
Está(ão) correto(s):
a) I, II e III.
b) I e II apenas.
c) I e III apenas.
d) II e III apenas.
e) I apenas
2. Freud em sua Metapsicologia do Aparelho Psíquico fala que a pessoa que sofre
de bulimia apresenta seus conflitos entre os seus desejos ______ e os limites do
ambiente e da sociedade _________.
a) Id; Superego
b) Id; Ego
c) Ego; Superego
d) Superego; Ego
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e) Ego; Id
3. Freud em sua Metapsicologia do Aparelho Psíquico fala que a pessoa que sofre
de bulimia são pessoas que não aceitam a si próprias, negando sua necessidade
básica de precisar de _______________.
a) alimentos
b) líquidos
c) sexo
___ 1. Compensação a. Tommy, que é pequeno para a idade, é ridicularizado na escola pelos
___ 2. Negação meninos maiores. Quando chega em casa ele grita com a irmã menor e
___ 3. Deslocamento bate nela.
___ 4. Identificação b. Johnny está numa cadeira de rodas em conseqüência de uma paralisia
___ 5. Intelectualização dos membros inferiores. Antes desse acidente ele era a estrela do time de
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___ 6. Introjeção futebol. Agora ele tenta obsessivamente manter uma média em suas
___ 7. Isolamento matérias.
___ 8. Projeção c. Nancy e Sally têm 4 anos de idade. Ao brincar com as bonecas, Nancy
___ 9. Racionalização diz para Sally: “Não bata em sua boneca. Não é certo bater nas pessoas!”
___ 10. Formação reativa d. Jackie tem 4 anos de idade. Ele queria muito um irmãozinho, mas
___ 11. Regressão quando a mãe vem do hospital com o bebê Jackie chora, querendo ir para
___ 12. Repressão o colo enquanto o bebê está mamando e começa a evacuar na roupa,
___ 13. Sublimação embora já tenha terminado o treinamento excreto há 2 anos.
___ 14. Supressão e. Um jovem chegou atrasado para s aula. Ele diz ao professor: “Desculpe
___ 15. Anulação o atraso, mas a burra da minha mulher esqueceu de colocar o relógio para
despertar ontem à noite!”
f. Nancy foi vítima de abuso emocional quando criança e detesta a mãe.
Quando fala a outras pessoas sobre sua mãe, porém, ela diz que a mãe é
maravilhosa e que ela a ama muito.
g. Peter cresceu numa vizinhança dura, em que lutar era um meio de se
ajustar. Ele é forte e agressivo e é observado pelo treinador do time de
futebol, que faze dele um membro do time. Dentro de um ano ele se torna
a estrela do time.
CADERNO DE PROVAS
PORQUE
Este demonstra estar preparado para a vinculação afetiva e interação social, o que evidencia na
imitação de expressões
faciais.
a) O ego vivencia a realidade dos conflitos internos, adapta-se a ela e responde a ela com
sentimento de culpa.
b) À medida que se desenvolve e ganha força o ego procura fazer as influências do mundo
externo agirem sobre o id, para substituir o princípio do prazer pelo princípio da realidade.
c) Uma das principais funções do ego é a de tutor, ou seja, fiscalizar o id e o superego.
d) Se o id é identificado como o princípio do prazer e o ego pode ser designado como
“principio do fazer”.
( ) Freud achava que a energia psíquica é a força ou pulsão necessária para o funcionamento da
mente.
( ) A energia psíquica se distribui por esses três componentes, com o ego recebendo a maior
proporção para manter um equilíbrio entre o comportamento impulsivo do id e os comportamentos
idealistas do superego.
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a) V; F; V
b) V; F; F
c) V; V; V
d) F; F; F
a) deslocamento
b) negação
c) regressão
d) identificação
7) A assertiva: “o que João diz de Pedro diz mais de João do que de Pedro”, é um exemplo de:
a) projeção
b) supressão
c) sublimaçãoo
d) compensaçãoo
e) O ego vivencia a realidade dos conflitos internos, adapta-se a ela e responde a ela com
sentimento de culpa.
f) À medida que se desenvolve e ganha força o ego procura fazer as influências do mundo
externo agirem sobre o id, para substituir o princípio do prazer pelo princípio da realidade.
g) Uma das principais funções do ego é a de tutor, ou seja, fiscalizar o id e o superego.
h) Se o id é identificado como o princípio do prazer e o ego pode ser designado como
“principio do fazer”.
( ) Freud achava que a energia psíquica é a força ou pulsão necessária para o funcionamento da
mente.
( ) A energia psíquica se distribui por esses três componentes, com o ego recebendo a maior
proporção para manter um equilíbrio entre o comportamento impulsivo do id e os comportamentos
idealistas do superego.
( ) O comportamento impulsivo irá predominar, por exemplo, ao ser armazenado no id uma
energia psíquica excessiva.
e) V; F; V
f) V; F; F
g) V; V; V
h) F; F; F
12) SITUAÇÃO: Scarlett O’Hara dizia: “Não quero pensar nisso agora. Vou pensar nisso
amanhã.”, essa fala é um exemplo de qual mecanismo de defesa do ego?
e) deslocamento
f) negação
g) supressão
h) identificação
13) A assertiva: “Mary sente uma forte atração sexual por seu treinador de corrida e diz a uma
amiga. “Ele está vindo atrás de mim!”, é um exemplo de?
e) projeção
f) supressão
g) sublimaçãoo
h) compensaçãoo
( A ) Tommy, que é pequeno para a idade, é ridicularizado na escola pelos meninos maiores.
Quando chega em casa ele grita com a irmã menor e bate nela.
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( B ) Jackie tem 4 anos de idade. Ele queria muito um irmãozinho, mas quando a mãe vem do
hospital com o bebê Jackie chora, querendo ir para o colo enquanto o bebê está mamando e começa
a evacuar na roupa, embora já tenha terminado o treinamento excreto há 2 anos.
( C ) Johnny está numa cadeira de rodas em conseqüência de uma paralisia dos membros inferiores.
Antes desse acidente ele era a estrela do time de futebol. Agora ele tenta obsessivamente manter
uma média em suas matérias.
( D ) Um cliente está furioso com seu médico, não expressa isso, mas agride verbalmente a(o)
psicóloga(o) .
Mahler ( Mahler, Pine & Bergman, 1975) formulou uma teoria que descreve o processo de
separação-individuação do lactente em relação à figura materna (responsável pelo cuidado
primário). Ela descreve este processo como evoluindo por três fases principais. Ela divide ainda a
fase 3, a fase de separação- individuação, em quatro subfases. A teoria de Mahler é apresentada na
Tabela 3.4.
Nesta fase, também chamada de autismo normal, o lactente existe num estado meio adormecido,
meio desperto, e não percebe a existência de outras pessoas ou de um ambiente esterno. A
satisfação das necessidades básicas para a sobrevivência e o conforto é o foco e é simplesmente
aceita ao ocorrer. A fixação a esta fase predispõe a criança ao distúrbio autista.
Simbiose é um tipo de “fusão psíquica” da mãe à criança. A criança vê a sim mesma como uma
extensão da mãe, porém com uma crescente consciência de que é ela que satisfaz todas as suas
necessidades. Mahler sugere que a ausência da figura materna nesta fase, ou a rejeição por parte
desta, pode levar à psicose simbiótica do desenvolvimento predispõe a criança à esquizofrenia com
início na adolescência ou na idade adulta.
Esta terceira fase constitui o que Mahler denomina “nascimento psicológico” da criança. A
separação é definida como a obtenção física e psicológica de um sentimento de distinguir a própria
pessoa da figura materna. A individualização ocorre com o fortalecimento do ego e a aceitação de
um sentimento do “eu”, com limites do ego independentes. São descritas agora as quatro subfases
através das quais a criança passa em sua progressão de uma extensão simbiótica da figura materna
para um ser distinto e separado.
É fundamental para esta subfase a resposta da figura materna à criança. Se ela está
disponível para satisfazer às necessidades emocionais na medida do necessário, a criança
desenvolve um sentimento de segurança por saber que é amada e não vai ser abandonada.
Entretanto, se as necessidades emocionais forem atendidas de modo inconsistente ou se a mãe
recompensar comportamentos de agarramento e dependência e suspender a amamentação quando a
criança demonstra independência, desenvolvem-se sentimentos de raiva e um temor ao abandono,
que freqüentemente persistem até a idade adulta.
A compreensão dos conceitos da teoria das relações objetais de Mahler ajuda a psicóloga(o) a
avaliar o grau de individuação do cliente em relação aos responsáveis pelos cuidados primários.
Os problemas emocionais de muitos indivíduos podem ser atribuídos à não realização das tarefas de
separação/ individuação. Os exemplos incluem problemas relacionados a dependência e ansiedade
excessivas. O indivíduo com distúrbios de personalidade borderline é considerado como estando
fixado à fase de reaproximação do desenvolvimento, apresentando temores de abandono e raiva
subjacente. Saber disto é importante para a provisão do cuidado de Psicologia a esses indivíduos.
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TEORIA INTERPESSOAL
EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO
4) Simbiose é:
a) Satisfação das necessidades básicas para sobrevivência e conforto.
b) Desenvolvimento da percepção consciente de uma fonte externa de satisfação das
necessidades.
c) Um tipo de “fusão psíquica” da mãe à criança.
d) Começo de um reconhecimento primário da separação em relação à figura materna.
6) Mahler sugere que a ausência da figura materna na fase simbiótica pode levar:
a) a criança ao Autismo
b) a criança à esquizofrenia
c) a criança ao bullying
d) nenhuma das opções anteriores
Questões Discursivas:
1) Qual a importância para os psicólogos de se conhecer a teoria das relações Objetais?
2) Como a Teoria Interpessoal de Sullivan pode contribuir para os psicólogos ajudarem os
clientes a atingir um grau mais elevado de funcionamento independente e interpessoal?
3) Dê exemplos de comportamento de um indivíduo com distúrbios de personalidade borderline.
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TEORIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOSOCIAL
Erikson (1963) estudou a influencia dos processos sociais sobre o desenvolvimento da
personalidade. Ele descreveu oito estágios do ciclo vital durante os quais os indivíduos
lutam com “crises” do desenvolvimento. Tarefas específicas associadas a cada estágio
devem ser completadas para haver a resolução da crise e crescimento emocional. Um
esquema dos estágios de desenvolvimento psicossocial de Erikson é apresentado na Tabela
3.3.
Suzy é uma criança de oito anos de idade cuja mãe, Claudia, me procura queixando-se de um
comportamento bizarro da menina: anda pela casa de quatro, emitindo sons de cachorro. Na mesma
época em que esse comportamento apareceu, também sua letra reduziu-se tanto que só com muita
dificuldade se poderia ler o que escrevia. A mãe fora procurada pela escola, que apontava esses
mesmos problemas na menina. Suzy é filha de um grande empresário, Mario, que tivera uma
relação de oito anos com a mãe, vinte e cinco anos mais nova que ele. Viviam em casas vizinhas
mas tinham uma relação de casados, com todas as características de uma relação de casamento.
Com uma exceção: era proibido terem filhos, condição colocada desde sempre por Mario. A
primeira gravidez de Claudia fora interrompida por exigência do marido, que já tivera dois filhos de
um casamento anterior. A reação de Claudia foi, num primeiro momento, de total passividade,
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aceitando a proposta. Após o aborto, no entanto, propôs ao companheiro que fizesse uma
vasectomia, já que ele não aceitava a idéia de ter mais filhos, e ela se via impossibilitada de realizar
mais um aborto. A reação do companheiro foi de total indiferença em relação à colocação da
mulher. À ocasião da gravidez de Suzy, novamente diante da negativa do companheiro de aceitar a
gestação, Claudia adotou uma postura diferente, acreditando que com o tempo o pai aceitaria a
criança. Até os sete meses da gestação escondeu a barriga, embora Mario soubesse de sua gravidez.
No final desse mês, com a barriga já aparecendo muito, seu marido propôs-lhe que deixassem de se
ver por alguns meses até o nascimento do bebê, pois não aceitava de forma alguma acompanhá-la
nesse final. Lembrava-lhe que sempre fora contra a idéia de ter filhos e que esse filho que ela
gestava era como uma produção independente sua. Ele não queria se comprometer com o projeto.
Claudia deixou de ver seu marido até o segundo mês de vida de Suzy, quando o procurou com
sérias esperanças de impor-lhe a realidade. Cinco anos se passaram e Mario continuava
relacionando-se com Claudia com a negativa de conhecer Suzy. Eis como Claudia se referia à
postura do pai de Suzy: “Como éramos vizinhos, pois morávamos no mesmo quarteirão, acontecia
de nos encontrarmos na rua e eu estar com a menina no carrinho, ou mesmo brincando na calçada, e
ele passava como se não me conhecesse.” “Se precisasse de um pediatra com urgência ele tomava
todas as providências, mas sempre de longe.” “Em algumas ocasiões que o pegava de jeito para
conversar a respeito, dizia que não queria conhecer Suzy para não se afeiçoar a ela.” Foram cinco
anos de uma esperança vã, pois o pai de Suzy nunca quis conhecê-la. Claudia reconhecia que o pai
da menina lhe sustentava e dava-lhe todos os confortos que sempre dera à mãe, e não eram poucos:
era uma pessoa de muitos recursos e não poupava. Ao contrário, segundo Claudia sempre foi muito
generoso. Viajavam sem limite, tinham todo o conforto de pessoas de nível muito alto, com avião
particular, etc. Ao final dos cinco anos de Suzy a mãe já não acreditava que pudesse continuar a se
relacionar com o marido. Sentia a rejeição à menina como dirigida a ela própria. Tomou então a
iniciativa de separar-se dele e entrou na Justiça com uma ação de pedido de paternidade. Conta-me
que a partir desse momento sua vida passou a ser um martírio: viu-se rejeitada pelas pessoas mais
chegadas, a quem Mario comprava com carros importados para que testemunhassem na Justiça a
seu favor: queria provar que Claudia era mais uma de suas amantes, e que o fato de ter-lhe dado
apartamento e toda sorte de presentes não significava que não fizesse o mesmo com outras,
justificando essa atitude como representando uma generosidade e não um compromisso. Mario
compra com seu poder e dinheiro qualquer advogado ou pessoa que na Justiça o possa colocar
diante da realidade da lei: pela Justiça, qualquer homem que se negue a fazer o exame de DNA é
automaticamente reconhecido como o pai da criança. Até hoje Claudia luta através dos órgãos
competentes, acreditando que em algum momento a situação se reverterá, mas sem sucesso. Claudia
continua não trabalhando, vivendo de tudo que Mario lhe deixou. Conta-me que teve que se
desfazer de suas jóias, quadros e tapetes, e que este ano venderia suas últimas obras de arte. Só lhe
restará o apartamento, que parece ser um imóvel de luxo, numa área nobre da cidade, pretendendo
alugá-lo e a seguir mudar-se para outro menor. Com a diferença do dinheiro acredita que poderá
viver bem. Quanto a Suzy, Claudia conta-me que sempre foi criada por Edna, que fora enfermeira
da menina, tendo ido morar na sua casa no final de sua gestação. Fala muito de si própria, sabendo
informar-me muito pouco da história de Suzy. Fica claro na primeira entrevista que Claudia me
procurara por conta das queixas da escola, que recomendara que procurasse uma ajuda para Suzy.
Após fazer muitas perguntas sobre Suzy sem resposta, percebi que se quisesse saber sobre a menina
precisaria entrar em contato com Edna. Disse isso a Claudia, explicando-lhe que se tratava de
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importantes dados sobre a menina, dados como desde quando tinha esse comportamento que tanto
incomoda a todos e como foi sua primeira infância, para poder ter uma melhor compreensão da
menina antes de vê-la. No contato que tive com Edna, fiquei impressionada com a semelhança
física dela com a Claudia. Depois soube por ela que essa semelhança também existia na história de
ambas. Segundo Edna, ela também tem uma filha que é criada por outra pessoa (sua mãe), e com
cujo pai tem uma ação de pedido de paternidade na Justiça. Edna conta-me que Claudia era uma
pessoa muito deprimida quando a conheceu, isto é, desde que ela estava com nove meses de
gravidez. Claudia teria contado a Edna que esperava ter logo o bebê, pois estava com muita saudade
de seu marido. Passou o resto da gestação muito triste e só mudou de comportamento quando voltou
a ver o marido, quando Suzy já contava alguns meses de idade. Parece que Claudia voltou a ficar
muito deprimida quando decidiu se separar e entrar na Justiça contra o marido. Há alguns meses,
recentemente, voltou a se apresentar com humor melhor, e lhe parecia que era por causa de um
namorado novo com quem está se relacionando, como o ex-marido vinte anos mais velho que ela.
Esse início do namoro da mãe coincide com a atitude “estranha” de Suzy, que começou a
engatinhar pela casa soltando uivos de cão. Muito receosa, Edna diz-me que Claudia não nasceu
para ser mãe, que não tinha jeito e nem a menor paciência para sua filha. “A senhora pode não
acreditar, mas essa menina tem oito anos e nunca brincou com a mãe”. Descreve-me Claudia como
uma pessoa muito boa mas muito introspectiva e séria: “Lá em casa não é como em qualquer casa
que tem vida. É sempre tudo muito quieto.” Suzy sempre chamou Edna de mãe, até há alguns
meses, quando Claudia, incentivada pelo atual namorado, resolveu conversar com a enfermeira a
esse respeito e começou a cobrar da menina que a chamasse de mãe. Edna parece concordar com a
importância disso para a menina. “Até porque eu não sou sua mãe mesmo, e se eu precisar sair da
casa como vai ficar Suzy? Tenho peninha dela pois sua mãe não sabe ser mãe”. Nessa mesma
época, Suzy passou a dormir na cama com a mãe. Edna diz também que, verificando as atuais
condições financeiras de Claudia, acredita que talvez não possa ser mantida por muito tempo: “Eu
ganho muito e não sei se vai dar para a Claudia continuar me pagando”. Assim, Edna tinha a
fantasia de que seria mandada embora: será que Suzy sabia disso? Quando Suzy nasceu, Claudia
achou que seu leite era “fraco”, e na segunda semana de Suzy ela já estava tomando mamadeira.
Suzy nunca teve o colo da mãe, nunca tomou banho com a mãe. “Às vezes se arrumava e descia
com a menina no carrinho para ver se encontrava com o marido na calçada. Depois subia e ia cuidar
de suas coisas: adora falar no telefone com as amigas”. Edna fazia essas observações sem raiva e
sem ressentimentos: parecia entender a depressão de Claudia e, identificada com ela, até a
justificava. A esperança de Edna era que com a mudança de humor de Claudia, quando voltou a ver
seu marido, fosse mais atenciosa com Suzy. Mas na verdade tudo piorou: passou a deixá-la só com
a menina, a viajar muito, a ter uma vida social intensa na qual a menina nunca estava incluída. “A
senhora entende por que Suzy me chamava de mãe? Sempre foi tudo comigo: eu levava a festinhas,
à praia, à escola”. Pesquisando sobre o comportamento de Suzy em relação ao pai, soube que
quando a menina pergunta dizem-lhe que os pais se separaram porque brigavam muito. Isto é, Suzy
não “sabia” da sua história. Pelo menos nunca lhe haviam dito que seus pais se separaram porque o
pai não queria filhos. Edna me conta que no intervalo entre o pai de Suzy e o atual namorado
Claudia pouco saía de casa, e assim mesmo não tinha paciência com a menina, sendo o seu contato
com ela muito pequeno. Sobre um dia de vida de Suzy, conta-me que quando chega da escola toma
banho, faz dever, e fica no computador ou na televisão até a hora de dormir. Não tem amigos que
freqüentem a casa porque a mãe não gosta. Se quer ir à casa de algum amigo, a mãe fica
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preocupada: “quando é festa ela deixa eu levar Suzy”. Nos últimos meses, com esse novo namorado
de Claudia, eles têm saído levando Suzy junto com a filha dele, mais ou menos da mesma idade de
Suzy.. “A menina sai com eles mas não fica com eles não, fica brincando com a outra criança”. A
impressão que Edna passa é de muita preocupação, tanto com Claudia como com Suzy.