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A TIPOLOGIA DE LOWEN

SOBRE AS ESTRUTURAS
DE CARÁTER E A RELAÇÃO
COM O ADOECIMENTO
Elaboração

Andre Thomaz Farias


Ana Caiane

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN...................................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
O ENCONTRO DE LOWEN COM WILHELM ................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
A RELAÇÃO DE LOWEN COM JOHN PIERRAKOS.................................................................................................................................... 16

CAPÍTULO 3
O ESTUDO DO CARÁTER E SUA IMPORTÂNCIA NO PENSAMENTO DE LOWEN...................................................................... 24

UNIDADE II
A ESTRUTURA ORAL E O ADOECIMENTO LIGADO À FALTA E À FRAGILIDADE....................................................................................... 32

CAPÍTULO 1
TIPOLOGIA E ESTRUTURA DE CARÁTER .................................................................................................................................................. 32

CAPÍTULO 2
BAIXA CARGA DE ENERGIA............................................................................................................................................................................ 47

CAPÍTULO 3
AS EMOÇÕES: TRISTEZA E RAIVA, SEXUALIDADE FRÁGIL E AMOR DEPENDENTE.............................................................. 53

UNIDADE III
SOBRECARGA E RESISTÊNCIA AO ADOECIMENTO............................................................................................................................................ 63

CAPÍTULO 1
CARGA ENERGÉTICA E CISÃO CORPORAL.............................................................................................................................................. 63

CAPÍTULO 2
A ESTAGNAÇÃO E A CONTENÇÃO DA ENERGIA................................................................................................................................... 68

CAPÍTULO 3
A CONTENÇÃO E A SUPRESSÃO DO EGO E DO CORPO..................................................................................................................... 72

UNIDADE IV
ADOECIMENTO CORPORAL E AS DOENÇAS QUE AFETAM O CARÁTER................................................................................................... 88

CAPÍTULO 1
A CONCEPÇÃO DA SAÚDE.............................................................................................................................................................................. 88

CAPÍTULO 2
O ADOECIMENTO CORPORAL NAS OBRAS DE LOWEN..................................................................................................................... 92

CAPÍTULO 3
A RELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE CARÁTER............................................................................................................................................ 96

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................................................... 103
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de
textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam
tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta
para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para
a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando
o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a
aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo
estudado.

6
INTRODUÇÃO

Caro aluno, bem-vindo à disciplina sobre a Tipologia de Lowen. Em qualquer campo


da saúde, o diagnóstico é o princípio do sucesso. Compreender o paciente, suas queixas,
seu ambiente e as causas do desequilíbrio é o primeiro passo para a escolha da técnica
de tratamento adequada para, assim, obter resultados satisfatórios.

Uma medicina tão detalhista e humana como a medicina chinesa não poderia dar
menos ênfase a esses princípios, apresentando, então, diversas técnicas diagnósticas
que, juntas, mapeiam e descrevem todo o paciente. Desenvolvida em uma época sem a
tecnologia que temos na atualidade, a medicina chinesa fez da simplicidade sua maior
aliada. Com ela, consegue-se, pela observação, interrogatório e tato, incríveis formas
de diagnóstico. Será possível ver o corpo pela análise da língua? Como nossos órgãos
enviam sinais de seu estado?

Um bom diagnóstico é a base para qualquer medicina, qualquer tratamento. A medicina


tradicional chinesa, por seu caráter holístico, apresenta métodos de diagnóstico únicos,
na intenção de extrair o máximo de informações e conhecer a fundo o paciente. Com
observações e conversas, o perfil do paciente vai sendo traçado e as melhores formas
de conduzir o tratamento são identificadas.

O interrogatório é um método para conhecer o processo patológico por meio do


diálogo. Com essa estratégia, em que se realizam perguntas diretamente ao paciente
ou ao acompanhante deste, em casos de crianças ou pacientes debilitados que não
possam falar. Mesmo quando o paciente for menor de idade, é sempre importante
deixá-lo falar – informações complementares podem ser oferecidas pelo responsável.

As perguntas têm o objetivo de identificar o início da doença, sua causa, como evoluiu
até o momento, o histórico do paciente e a localização da dor ou desconforto, assim
como os hábitos de vida, as preferências alimentares e outros dados que possam ser
relevantes para a definição do quadro. É um dos métodos mais importantes para
se conhecer a evolução da doença e a história do paciente, bem como um dos mais
característicos dentro da atenção holística da medicina, ocupando, assim, uma posição
superior, quase unânime entre os terapeutas, dentro dos vários métodos diagnósticos.

Durante o interrogatório, é necessário que o terapeuta mantenha o foco na queixa


principal, afinal, foi esse o motivo que levou o paciente a buscar tratamento e
provavelmente o sintoma que mais o incomoda. Isso não significa, no entanto, que
o terapeuta não deva interrogar todos os aspectos da vida do paciente, fundamentais

7
Introdução

para se chegar a um diagnóstico completo e correto, pois queixas importantes podem


estar correlacionadas.

Bons estudos!

Objetivos
» Aplicar e definir conceitos de saúde comportamental.

» Definir e desenvolver as Tipologias de Lowen.

» Mensurar as estruturas que baseiam o equilíbrio entre a saúde e a mente.

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A IMPORTÂNCIA
DO PENSAMENTO UNIDADE I
DE LOWEN

CAPÍTULO 1
O Encontro de Lowen com Wilhelm

Alexander Lowen, estudante de longa data do psicanalista Wilhelm Reich, desenvolveu


a análise bioenergética na década de 1950 após se separar de seu tutor. A análise
bioenergética é a abordagem do próprio Lowen, mas sua teoria foi influenciada pelas
ideias de Reich, já que os dois trabalharam juntos durante anos.

Lowen acreditava que um excesso de estresse poderia causar tensão muscular crônica
no corpo e resultar em problemas de saúde mental indesejados. Cada mudança, de
acordo com Lowen, pode impactar o corpo, e compreender a conexão mente-corpo
era um aspecto essencial da cura.

Em 1956, Lowen fundou o Instituto de Análise Bioenergética (IBA) e publicou o


primeiro manual de treinamento em 1972. Em 1976, o IBA se tornara popular o
suficiente para se tornar o IIBA, ou Instituto Internacional de Análise Bioenergética.
Hoje, a análise bioenergética é amplamente praticada em muitas partes do mundo.

O trabalho de Lowen foi influenciado pelo de seu mentor, Reich, e pela teoria da
personalidade que desenvolveram juntos. Essa teoria era baseada no conceito de
armadura de caráter de Reich – as defesas psicológicas, construções e manifestações físicas
que constituem o caráter de uma pessoa. Embora essa armadura fosse originalmente
destinada para proteção e segurança, de acordo com Reich, ele propôs que ela poderia
ocasionalmente se transformar em padrões de tensão muscular crônica e/ou estados
afetivos amortecidos. Por exemplo, uma criança que se esconde repetidamente em
um armário para se manter longe de um pai abusivo pode encontrar segurança nessa
posição tensa e alerta como uma criança, mas a mesma tensão e medo podem fazer
mais mal do que bem quando essa criança se tornar um adulto.

Lowen adaptou esse estudo esclarecendo ainda mais os padrões de comportamento


protetivo propostos por Reich. Ele descreveu essas estruturas de caráter como sistemas
de defesa usados para sobrevivência e segurança. Essas defesas, que se desenvolvem

9
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

com o tempo, podem se manifestar por meio de sintomas psicológicos, tensão muscular
crônica e outros padrões de sofrimento físico e emocional. A partir de suas observações
a respeito de como esses sistemas de defesa se manifestam, Lowen identificou cinco
estruturas básicas de caráter vagamente baseadas nos estágios de desenvolvimento
de Freud. Veremos alguns dos conceitos e, em outro capítulo, nos apronfundaremos
sobre a característica de caráter. Essas classificações não são classificações individuais
de pessoas, mas apenas de estruturas de caráter.

Rígido
Às vezes referido como “O Perfeccionista”, o tipo de personagem Rígido pode ter
experimentado intensa rejeição de um zelador em um momento de sua infância, quando
era mais vulnerável. Em resposta, eles podem rejeitar sua própria natureza e lutar por ideais
inatingíveis a fim de satisfazer o zelador que os rejeitou. Atratividade, capacidade atlética
e inteligência são de importância primordial para O Perfeccionista. Aparência impecável,
problemas com ansiedade, baixa auto-estima, pensamento preto e branco, questões sexuais
e um sistema imunológico reprimido são características comuns a esse tipo de caráter.

Masoquísta
Também chamado de “Endurer”, o tipo masoquista pode ter lidado com um pai
controlador ou necessitado desde tenra idade. Tentativas esmagadas de independência
podem resultar em uma criança dócil e submissa. A supressão da raiva, a dependência
e a impotência podem resultar em comportamento autodestrutivo e auto-humilhante.
Musculatura espessa, bloqueio do estômago, músculos faciais tensos e movimentos
lentos são características comuns a esse tipo de caráter.

Psicopata
Também conhecido como “O Controlador” ou “O Líder”, o tipo de personagem
Psicopata pode ter sofrido críticas constantes de cuidadores diretos. Para enfrentar
essa situação, esse tipo de caráter pode levar as pessoas a desenvolver um falso eu para
evitar a rejeição. Esse falso eu pode se manifestar como traços narcisistas, mas a baixa
autoestima normalmente está sob a superfície. Além disso, esse tipo de personagem
geralmente aprende a controlar o pai crítico para protegê-lo de novos abusos, e isso
pode resultar em uma tendência ao comportamento manipulador. Aparência inchada,
rigidez muscular na região pélvica e ombros tensos e elevados são características
comuns a esse tipo de caráter.

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A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

Esquizoide
Às vezes referido como “A Criança Indesejada” ou “O Sonhador”, o tipo esquizoide
provavelmente experimentou rejeição real ou percebida e hostilidade dos cuidadores,
mesmo enquanto ainda estava no útero. A negligência, a subnutrição ou o abuso
podem ter afetado essa criança em nível molecular. Postura inadequada, respiração
superficial, aperto no peito e efeito de baixa energia são características comuns a esse
tipo de caráter.

Oral
Também conhecido como “A Criança Carente”, o tipo Oral frequentemente
experimentava alguma interrupção do cuidado, perda da sensação de segurança ou
falha em ter suas necessidades básicas atendidas. Este tipo de caráter parece vazio ou
precisa ser “preenchido”, e algumas pessoas com ele podem assumir responsabilidades
opressoras de zelador ou desenvolver vícios. Respiração superficial, aperto no peito,
constituição magra, fraqueza nos membros e contração crônica do abdômen são
características comuns a esse personagem modelo.

Os terapeutas da Análise Bioenergética trabalham para ajudar os indivíduos a melhorar


a qualidade de vida e o bem-estar geral. Ao fornecer um ambiente seguro e estimulante,
os terapeutas tentam criar uma atmosfera que permita às pessoas em tratamento se
abrirem e ouvem a história que os corpos das pessoas em tratamento estão contando,
identificando padrões específicos de postura, respiração e expressão. Como parte da
terapia de Análise Bioenergética, os profissionais realizam trabalho corporal para lidar
com as manifestações físicas de tensão que podem não ser úteis, realizando trabalho
relacional durante todo o tratamento. Os terapeutas podem utilizar técnicas únicas e
variadas para ajudar aqueles que estão tratando a alcançar bons resultados, incluindo:

» Aterramento - o terapeuta pede que a pessoa em terapia se sintonize com


o fluxo de energia de seu corpo para o solo. Exercícios de alongamento,
vibração e respiração são técnicas usadas para ajudar a pessoa a se sentir
conectada. O aterramento pode ser alcançado com a pessoa em pé, sentada
ou deitada.
» Movimento - o terapeuta encoraja a expressão por meio do movimento,
especialmente das partes do corpo em que a tensão é mantida. Uma pessoa
pode ser encorajada a chutar repetidamente um colchão para remover a
tensão, por exemplo.

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Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

» Contendo - o terapeuta pede à pessoa em terapia que se abstenha de certos


movimentos até que sejam analisados e melhor compreendidos. Uma pessoa
com tensão nas panturrilhas pode querer bater rapidamente com o pé no
chão, por exemplo, mas o terapeuta impede que isso aconteça para explorar
os sentimentos por trás do movimento desejado.
» Contato de apoio do corpo - o terapeuta usa o toque terapêutico para
chamar a atenção para a tensão corporal ou apoiar o trabalho da pessoa no
ajuste ao toque seguro. O terapeuta pode apoiar a cabeça de uma pessoa,
por exemplo, enquanto o indivíduo realiza vários alongamentos de perna
em um banco.

A personalidade é uma força ativa dentro de cada indivíduo; é norteadora de


comportamento e possibilita a capacidade de adaptação. Ela é composta por aspectos
únicos do ser humano, que o individualizam e o distinguem dos demais, significando
a essência do indivíduo, ou seja, o que ele realmente é. Por exemplo, alguns indivíduos
são introvertidos, outros são calmos e temos aqueles que são ansiosos.
Outro exemplo: quando o sujeito observa a reação de outro, ele analisa as atitudes que
foram tomadas e as motivações que o fizeram praticar determinada ação. Dessa forma,
é possível emitir opinião, sendo esta verdadeira ou não, a respeito daquele que é
examinado, levando-se em consideração que a nossa opinião está carregada de percepções,
ou seja, daquilo que já vivenciamos e aprendemos na vida. Assim, podemos agir de
maneira ou outra, pois se sabe que o ser humano é complexo e multifacetado.
Da observação de um indivíduo, pode-se deduzir que existem certas características
prevalecentes, mas que não podem ser consideradas permanentes, pois é possível
que se tenha um comportamento em dada situação, e em outra, diante de um mesmo
ocorrido, a pessoa pode ter uma reação contrária.
Por exemplo, um indivíduo pode ser calmo e equilibrado, na maior parte do tempo,
mas, em determinada situação, essa característica predominante pode dar lugar à
irritabilidade, à ansiedade etc.
Agora, como sabemos a forma como as pessoas se diferenciam umas das outras?
É possível compreender como decorre o desenvolvimento humano? Como se pode
entender a dinâmica que permite um indivíduo agir diferentemente de outros?
Neste contexto, a pesquisa é fundamental para o desenvolvimento das várias
teorias da personalidade que existem, porque, por meio dela, é possível consolidar
as descobertas e testá-las. Assim, existem muitos métodos utilizados, a depender

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A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

do que deseja o pesquisador. Se ele quer saber se existem influências culturais ou


genéticas na formação da personalidade, ele recorrerá a questionários, entrevistas,
inventários, entre outros recursos.

A pesquisa ideográfica é uma abordagem que considera o sujeito como único e inteiro
e terá como foco o indivíduo e a observação de suas características em diferentes
situações, para entendê-lo com profundidade, como em um estudo de caso.

Ao contrário, na pesquisa nomotética, a abordagem se dá envolvendo um grande


número de pessoas, para que sejam estudadas diferenças estatísticas com número
maior de indivíduos, em amostragem mais ampla. O intuito, aqui, é compreender o
comportamento em termos de princípios gerais e variáveis universais.

É importante salientar que isso é feito por meio do controle estático e geográfico de
cada cidade (à medida que o coeficiente de correlação indica a relação ou não de uma
variável com a outra, que pode ser positiva ou negativa), exceto para determinar a
relação causa-efeito (quando um evento é resultado e consequência do primeiro),
que só poderá ser verificada na pesquisa experimental, e não se utiliza separação
entre grupos de controle e grupo experimental. Ou seja, faz-se a comparação entre
as variáveis independentes (que se quer relacionar) com o desempenho da variável
dependente (as respostas obtidas na pesquisa).

Figura 1. Comportamento X equilíbrio.

Fonte: https://previews.123rf.com/images/lightwise/lightwise1505/lightwise150500020/39567172-human-emotion-and-mood-disorder-as-a-
tree-shaped-as-two-human-faces-with-one-half-empty-branches-and.jpg.

Nos estudos da personalidade, por este ser um tema que avalia um objeto complexo
(que é a natureza humana), temos aspectos que são subjetivos para análise e avaliação
– como no caso das teorias pessoais, que nascem de uma intuição ou da história de
vida de um teórico e, com o passar do tempo, vão se delineando com características
de teoria formal.
13
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

Dada a dificuldade de se ter objetividade, por vezes, o teórico tem de ter cautela ao
realizar suas análises e observações, não se deixar influenciar por temores, desejos e
valores. Outro aspecto importante a ser observado é que as teorias pessoais, subjetivas,
devem ser objeto de avaliação, diante de dados que não comprovam as suas conclusões.
Com razão e análise, pode-se atingir um nível de objetividade, permitindo aceitar
uma teoria como adequada, mesmo diante de aspectos subjetivos relacionados à
personalidade do ser humano.

Dada a complexidade do ser humano e o fato de ele estar em constante movimento,


em um processo de construção, não se pode tornar, igualmente, a interpretação dos
dados, restritiva.

Assim, percorremos o caminho de uma das áreas importantes da Psicologia, que aborda
a construção da personalidade do sujeito e as várias teorias que se consolidaram para
compreender a motivação do indivíduo em suas ações. Agora, podemos entender que
o ser humano, ao longo da vida, é influenciado por vários fatores, externos e internos,
os quais permitem a ele agir em sociedade e se tornar um indivíduo único.

No estudo da personalidade, conhecemos as principais teorias da área. Vimos que várias


abordagens teóricas percorrem desde a Psicanálise, tendo como seu precursor, Freud
como as teorias neopsicanalíticas, tais como as de Jung, que acrescenta o inconsciente
coletivo como categoria de análise, e apresenta alguns tipos de personalidade.
Além dele, com enfoque na influência social, temos Karen Horney, Sullivan e Adler.

Aprendemos também que, partindo de uma perspectiva humanista, surgiram Carl


Rogers e Abraham Maslow, sendo que este elaborou a teoria das necessidades, em
formato de hierarquia. Da abordagem da aprendizagem, além de Burrhus Skinner,
há Albert Bandura, com o conceito de modelagem. Na perspectiva cognitiva, temos
como representante George Kelly, que considera como característica dominante da
personalidade os processos cognitivos.

Já Allport, Cattell e Eysenck desenvolveram a abordagem dos traços ligados à perspectiva


genética. Outros autores criaram também teorias consideradas miniteorias, como a do locus
de controle, de Rotter, Seligman e a questão do desamparo; estudamos teóricos da corrente
da Psicologia Positiva que trouxeram novos enfoques para o estudo da personalidade.

Verificamos os principais conceitos sobre personalidade, desde a origem do termo, o


qual remetia ao uso das máscaras no teatro grego antigo, como também quando passou
a significar um conjunto de atributos e qualidades do indivíduo, que podem se alterar
em determinadas situações.
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A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

Aprendemos sobre as duas grandes formas de abordagem para o estudo da personalidade:


a ideográfica e a nomotética. A primeira considera o indivíduo como um ser único e
exclusivo, e a segunda procura regras generalizantes que possam ser aplicadas a vários
indivíduos.

As pesquisas efetuadas constataram os fatores genéticos como influenciadores na


formação da Personalidade, mas não só isso. Aprendemos também que cultura, etnia
e gênero promovem o desenvolvimento da Personalidade.

Do ponto de vista dos métodos que podem ser utilizados na pesquisa, conhecemos que
existem o método clínico, o experimental, o correlacional e o virtual. Ainda, salientamos
que, para a realização da pesquisa nessa área, é importante considerar que nem sempre é
possível fazer pesquisa objetiva com tema bastante complexo e, por isso, muitas teorias
são pessoais, embora não se possa desconsiderar aspectos éticos, métodos e técnicas
existentes que corroboraram com os resultados das diferentes teorias.

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CAPÍTULO 2
A Relação de Lowen com John Pierrakos

A Core Energetics (CE) foi criado por John C. Pierrakos na década de 1970. Pierrakos foi
aluno de Wilhelm Reich e trabalhou em estreita colaboração com Alexander Lowen.
Depois de criar conjuntamente a Bioenergética, Pierrakos se separou de Lowen para
criar sua própria maneira de trabalhar com seus pacientes. Influenciado pelo trabalho
de Carl Jung e sua esposa, Eva Pierrakos, CE evoluiu para incluir não apenas as raízes
da teoria reichiana, mas também uma mistura eclética de Psicologia Energética e teoria
da consciência.

Existem três princípios básicos para a Core Energetics. A primeira é que os humanos são
inerentemente seres psicossomáticos; o corpo e a mente do indivíduo são inseparáveis.
Em segundo lugar, a capacidade de curar o que é necessário para curar vem de dentro.
Ao contrário da medicina alopática tradicional, em que a pessoa depende da cura do
médico ou da medicação, na Core Energetics, acredita-se que o que é necessário para curar
já está presente na pessoa. O terceiro é que toda a existência forma uma unidade que se
move em direção à evolução criativa, tanto do todo quanto dos incontáveis componentes.

Na CE, o funcionamento saudável é caracterizado por um fluxo equilibrado de energia


por meio dos cinco níveis fundamentais do ser: corpo, emoções, mente, vontade e
espírito. Essa energia é semelhante ao chi da medicina tradicional chinesa, à energia
prana indiana e à energia orgone reichiana. Na verdade, Pierrakos foi o primeiro cientista
ocidental a reunir energia, espiritualidade, Física e Psiquiatria.

Quando a energia flui uniformemente e sem obstruções, há saúde e funcionamento


ideal do corpo. Quando a energia está fraca ou bloqueada, falta saúde. Essas deficiências
podem ser vistas em áreas do corpo onde há muita ou pouca energia. Afetando não
apenas o corpo, as disfunções energéticas também podem afetar o funcionamento
psicológico e resultar em tipos de estrutura de caráter encontrados na obra de Reich
e Lowen (esquizoide, oral, masoquista, psicopata e rígido).

Um dos princípios mais básicos da CE é que cada pessoa tem uma capacidade única
e previsível de amar, crescer e evoluir para um potencial ilimitado. Essas habilidades
formam a força vital, ou energia primária, encontrada em cada um de nós. A capacidade
do indivíduo de estar em contato e permitir que essa energia floresça é o que determina
o nível de saúde ou sofrimento de uma pessoa. É por meio do corpo, da mente e do
espírito que esse fluxo de energia pode ser observado e, em última instância, acessado
na terapia.

16
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

Outro conceito integrante da CE é a crença de que somos feitos de camadas de energia.


No centro está nossa força vital, a energia vital que se move, evolui e cria. Como já
se mencionou, quando estamos cientes e permitimos que essa energia flua, estamos
em equilíbrio e encontramos saúde. Em torno do núcleo está o eu inferior, formado
quando somos incapazes de expressar emoções negativas e/ou dolorosas. Essa camada
defensiva, o eu sombrio, serve para nos proteger das consequências potenciais da
expressão emocional autêntica. Essa camada de energia emocional não expressa se
torna fixa, endurecida e literalmente molda nossa estrutura física.

As intervenções de CE se concentram em trabalhar com bloqueios de energia e


deficiências do corpo por meio de exercícios físicos e técnicas de respiração. Os objetivos
de tais intervenções incluem aumentar ou diminuir a energia em várias partes do
corpo, aterrar a energia e limpar a energia bloqueada. As intervenções incluem bater
em travesseiros, dar chutes e dramatizar.

A CE também usa equipamentos específicos para trabalhar com o corpo. O rolo, por
exemplo, é uma ferramenta que serve para trabalhar diretamente no corpo. Basicamente,
um rolo grande e grosso é usado para suavizar os músculos dos pés, do tronco e dos
grandes músculos das pernas.

O toque e a massagem, tanto pelo terapeuta quanto pelo indivíduo, são técnicas
usadas extensivamente na CE, novamente para trabalhar com o corpo e a energia.
As localizações por todo o corpo, comuns a bloqueios, incluindo os olhos, a mandíbula
e o diafragma, costumam ser o foco desse trabalho corporal.

Existem quatro estágios principais no CE. O primeiro, penetrar na máscara, concentra-se


em aumentar a consciência da pessoa sobre sua própria estrutura de caráter e armadura
defensiva. Isso é feito por meio de exercícios físicos extensos, que servem para aumentar
a consciência somática de si mesmo e começar, liberando a emocionalidade autêntica.
O terapeuta ajuda o paciente a passar do consciente ao inconsciente e, finalmente, a
atingir o âmago de seu ser.

O segundo estágio, liberando o eu inferior, é dividido em cinco partes. Primeiro,


assim como penetrar na máscara, o terapeuta e o indivíduo continuam a aumentar a
consciência e o conhecimento da atitude de negação. O mecanismo que é a estrutura
defensiva. Em segundo lugar, o significado dessa atitude é descoberto. Em suma, como
ter essa visão específica da vida afeta outros aspectos do ser? Terceiro, a intenção dessa
atitude, como ela é usada e por que, é revelada. Quarto, a causa, o ferimento original
ou a reação defensiva é revelada. Por fim, trabalhe para descobrir o que é conhecido

17
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

como máscara, basicamente o rosto que mostramos ao mundo durante grande parte
de nossas vidas. Isso é trabalhar com o eu inferior. O próximo passo é trazer o eu
autêntico de volta ao ar, então, no contexto de um recipiente terapêutico seguro e
de aceitação incondicional, as emoções negativas e dolorosas que foram guardadas e
contidas são liberadas e podem ter expressão.

O estágio três é chamado de centramento no eu superior. O terceiro e o quarto estágios,


então, são dedicados a evoluir o caminho da pessoa em direção à unificação com toda
a existência. No estágio três, o trabalho principal é aumentar a confiança em viver a
partir do eu autêntico.

O quarto e último estágio, revelando o plano de vida, é caracterizado por um processo


de meditação que consiste em quatro focos. O primeiro foco é na verdade interior,
que ajuda o paciente a ver quem ele ou ela pode ser e aceitar o esforço necessário para
evoluir. O segundo foco envolve colocar a verdade descoberta no primeiro foco no
núcleo interno, ele mesmo. O terceiro enfoque é sobre para onde a vida está levando
a pessoa, para onde ela se dirige e revelando a singularidade do núcleo. Finalmente, o
quarto foco é sobre a confiança de que o mundo, o universo, pode e manterá a evolução
deste novo e único eu central.

Uma sessão típica de CE dura cerca de uma hora. Uma pessoa pode usar roupas justas,
ou mesmo um maiô, para permitir que o terapeuta avalie facilmente e intervenha no
corpo. Como já foi dito, as intervenções precoces servem para aumentar a consciência
da pessoa sobre seu corpo e sua estrutura, aumentando e trabalhando com a energia.
Isso é feito com exercícios respiratórios, posturas, toque e outras intervenções físicas.
As sessões normalmente incluem trabalho corporal intensivo, movimento e toque, a
fim de acessar diretamente e facilitar a liberação da energia retida. É bastante comum
que essa liberação resulte em expressão emocional intensa e catártica.

Uma intervenção primária comum ao CE é o uso de respiração staccato. Em sua


observação de recém-nascidos, Pierrakos notou que, durante a amamentação, os bebês
tendem a respirar em cheiros nasais curtos. Ele formulou a hipótese de que, ao se engajar
nesse método de respiração primordial e estimulante, a pessoa pode se reconectar com
uma sensação perdida de conexão e amor. Assim, ele criou a técnica de respiração em
staccato, que servia para liberar múltiplos bloqueios musculares, bem como otimizar
o fluxo de energia por meio do corpo, equilibrando as capacidades ativas e receptivas.

Existem duas maneiras pelas quais a energia se move pelo corpo. A energia ativa ocorre
quando nos envolvemos com algo, quando agimos em relação a algo. Tende a fluir

18
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

posteriormente de baixo para cima. A energia receptiva, fluindo anteriormente, nos


permite receber amor e nos engajar espiritualmente. Se o fluxo posterior for mais forte,
tendemos a ser menos capazes de ser compassivos e sentir as coisas superficialmente.
Quando o inverso é verdadeiro, tendemos a ter dificuldade em fazer, planejar e concluir
as coisas.

Comum à teoria reichiana e bioenergética, o corpo é dividido em sete segmentos:


ocular, oral, garganta, tórax, diafragma, abdômen e pelve. A respiração em staccato
simultaneamente traz um fluxo de energia por todos os sete segmentos, em um padrão
de oito, cruzando no diafragma.

A respiração em staccato é dividida em três estágios, que incluem expansão (ativa),


contração (receptiva) e pausa (relaxamento). Durante a expansão, a pessoa deita-se de
costas com os joelhos dobrados. As costas são arqueadas quando a pessoa fecha os olhos
e respira cinco vezes, com força, pelo nariz. A pessoa então segura a respiração, conta até
três e depois expira. Durante a fase de expiração, a pessoa expira com força pela boca,
permitindo que suas costas relaxem com o arqueamento. Os ombros são elevados e a
barriga fica para baixo, à medida que o corpo se move para uma postura contraída. Durante
a terceira fase, o corpo pode relaxar por alguns segundos antes que todo o ciclo se repita.

A Core Energetics é uma forma de Psicologia somática que reúne corpo, mente e espírito.
Em sua essência está a premissa de que todos os seres nascem para dar e receber amor
e evoluem para uma capacidade ilimitada. O amor, aqui, é a força vital, a essência, o
eu autêntico que foi encoberto e protegido no início de nossas vidas. Por meio das
intervenções catárticas focadas no corpo encontradas durante a CE, a sombra, ou
eu inferior, que restringiu nosso movimento física, emocional e espiritualmente, é
removida. Quando o núcleo, ou eu autêntico, não é mais ofuscado pelas características
destrutivas da máscara, ou eu inferior, o amor é livre para nutrir as pessoas e ajudá-las
a transformar suas vidas.

Em 1909, foi criada a primeira clínica de orientação infantil, nos Estados Unidos,
algo que impulsionou o desenvolvimento de várias outras que buscavam tratar os
transtornos mentais infantis, fazendo com que esses distúrbios não evoluíssem para
estados mais graves da vida adulta. Essas clínicas tinham como proposta realizar um
trabalho grupal envolvendo médicos, psicólogos e assistentes sociais, com a supervisão
de John Pierrakos.

Paralelamente, na Europa, no final do século XIX e início do XX, Sigmund Freud


desenvolvia conceitos a respeito do psiquismo humano, os quais foram fundamentais

19
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

para o avanço da Psicologia Clínica. Isso porque ele levantou várias questões sobre o
funcionamento da mente humana, envolvendo estudos sobre a histeria e a hipnose.

Sigmund Freud passou a estudar temas como a catarse e o inconsciente, criando,


assim, o novo método que ele chamaria de Psicanálise, que estaria voltado para
tratamento dos transtornos mentais, sendo considerada como a primeira técnica
puramente psicológica de psicoterapia. Com a entrada dos Estados Unidos na
Segunda Guerra Mundial, em 1941, iniciou-se um período de grande importância
para a Psicologia, que, unindo-se à Medicina, foi responsável por desenvolver
diagnósticos e tratamentos para atender à necessidade de se trabalhar distúrbios
emocionais dos soldados que voltavam do conflito com traumas e dificuldades de
reinserção na sociedade. Como solução para o problema, as lideranças militares
buscavam programas de treinamento voltados aos psicólogos a fim de que esses
profissionais pudessem tratar as desordens mentais dos ex-combatentes.

Em sua história inicial, a Psicologia Clínica tem o foco voltado ao individualismo,


com práticas higienistas direcionadas ao enquadramento do ser humano inadaptado,
tendo a psicoterapia como ferramenta na clínica.

Mas, a partir do final do século XX e início do XXI, observou-se um aumento das


áreas de atuação do profissional, ampliando-se os locais de trabalho por várias razões,
dentre elas, a necessidade de elevar o número de atendimentos e atingir maior parcela
da população. Assim, a figura do psicólogo adentrou o sistema de saúde pública, os
asilos, as comunidades e ampliou sua participação em escolas, no sistema judiciário,
em empresas e hospitais.

Quando isso aconteceu, surgiu a necessidade de construção de novas práticas com


recursos para o exercício profissional, não se utilizando somente o antigo modelo
médico, mas oferecendo-se práticas novas que ultrapassavam as paredes do consultório.

Dessa forma, a Psicologia Clínica cresceu diante da enorme demanda de atendimento


da população, ampliando seu leque de atuação e de abordagens compatíveis com a
realidade social.

Ainda, é preciso destacar que Freud apresentou uma teoria a respeito do desenvolvimento
da mente humana, estudando tanto o funcionamento normal como o patológico.
Ele formulou princípios no sentido de que não há descontinuidade na vida mental e
que o inconsciente exerce um papel fundamental na vida cotidiana. Criou também a
técnica psicanalítica, em que o paciente, por meio da livre associação, de análise de
sonhos, de fantasias e de atos falhos, consegue resgatar o conteúdo que está em seu
inconsciente, deixando-o vir à tona.

20
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

Vamos conhecer, a seguir, alguns conceitos importantes elaborados na teoria psicanalítica.


Para Lowen, a pulsão é o que alimenta ou a vida ou a morte. Desse modo, o corpo,
na Psicanálise, passa a ser diferenciado do corpo biológico, porque ele é acrescido de
pulsões que vão além da satisfação das necessidades vitais. Nesse contexto, a pulsão
sexual decorrente da erogenização das zonas e órgãos ligados às necessidades vitais
demonstra a existência de sintomas e de doenças que não têm origem biológica.

Assim, Freud desenvolveu sua teoria da sexualidade, dividindo as fases de desenvolvimento


sexual na infância. Elas são: fase oral, fase anal, fase fálica, de latência e fase genital, as
quais determinam o desenvolvimento psicossexual e a formação da personalidade do
indivíduo, desde o seu nascimento, como veremos adiante.

Figura 2. Continuidade mental.

Fonte: https://previews.123rf.com/images/lightwise/lightwise1502/lightwise150200029/36435318-puzzle-head-brain-concept-as-a-human-
face-profile-made-from-crumpled-white-paper-with-a-jigsaw-piece.jpg.

A primeira teoria criada por Freud para explicar a estrutura do aparelho psíquico data de
1900, quando ele escreveu o livro “A interpretação dos Sonhos” e concebeu a existência
de três sistemas na mente humana: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente.

O inconsciente abarcaria a parte que contém conteúdos que são reprimidos e não
são acessíveis. Por sua vez, o pré-consciente guardaria os conteúdos que não estão
no nível consciente, mas que poderiam ser acessados a qualquer momento. Por fim,
o consciente armazenaria as informações presentes em nosso cotidiano a que temos
acesso constantemente.

Cabe ressaltar que as três instâncias (id, ego e superego) são interdependentes, ou seja,
se relacionam entre si constantemente, e são essas estruturas que levam o ser humano
21
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

a agir de determinada maneira ou não, fazendo escolhas e desenvolvendo mecanismos


para a sobrevivência psíquica e busca da satisfação interna.

Assim, o ser humano deseja evitar o desprazer, deformando ou suprimindo a realidade.


Nesse contexto, Freud apontou alguns dos principais mecanismos de defesa do ego.

Recalque

Há a supressão de uma parte da realidade que foi traumática para o sujeito, fazendo
com que o sentido da realidade seja totalmente modificado ou não recordado pelos
reais motivos que fazem com que aquilo tenha sido ruim. O recalque é o mecanismo
de defesa mais radical, justamente por retirar partes inteiras da realidade, enquanto
os outros apenas a deformam.

Projeção

Nessa forma de mecanismo, o sujeito projeta em algo do mundo exterior sentimentos


ou sensações próprias de si. A título de exemplo: alguém que aponta um defeito no
outro sem perceber que possui a mesma característica.

Racionalização

O sujeito constrói argumentos racionais que justifiquem o estado deformado da


consciência. Ou seja, ele tenta buscar justificar, de uma forma racional, a sua percepção
deturpada do que aconteceu na realidade.

Dessa forma, vemos como a natureza humana é rica na criação de formas para se
defender daquilo que inconscientemente se apresenta como perigoso ou errado
para a sua vivência. Esses mecanismos não se referem a doenças da mente, mas são
recursos naturais utilizados por todos. No entanto, essa distorção da realidade pode
voltar de forma sintomática, criando, assim, patologias que afligem a vida do sujeito
(COHEN, 2014).

Em seus estudos, Freud demonstrou a complexidade do ser humano. Ele apontou


as instâncias psíquicas que regulam o organismo, na busca de manter a homeostase,
ou seja, o equilíbrio mental. Ele apontou que o indivíduo tem em si tanto o lado
afirmativo, de criação, como o da agressividade e da hostilidade, e essas duas pulsões o
movem para a ação e a reação. Procurou, ainda, explicar a natureza humana por meio
do movimento da energia sexual dentro do organismo, das fases do desenvolvimento
infantil, explicando o funcionamento do psiquismo como o conflito do ser humano

22
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

na busca da satisfação de seus impulsos, em contraposição com as limitações impostas


pela sociedade.

Ações extintas, conforme a consequência do estímulo é enviado ao sujeito. Note que esse
tipo de reforço ainda pode ser diferenciado entre reforço positivo e reforço negativo.
O reforço positivo se refere justamente ao aumento da probabilidade de o sujeito emitir
o comportamento esperado como resposta ao estímulo. Em contrapartida, o reforço
negativo corresponderá à diminuição ou à eliminação de um comportamento a partir
do estímulo que lhe for oferecido.

23
CAPÍTULO 3
O Estudo do Caráter e sua Importância
no Pensamento de Lowen

Os terapeutas que trabalharam com a tradição freudiana nos anos 1920 observaram
duas tendências. Em primeiro lugar, a Psicanálise não parecia funcionar tão bem
quanto deveria, dada a validade demonstrada de muitos de seus elementos. Em segundo
lugar, certos padrões de apresentação de problemas pareciam ir ao encontro de certos
padrões de resistência às interpretações oferecidas. Também surgiu a questão: a
primeira tendência tem algo a ver com a segunda? Essas observações estimularam o
desenvolvimento do conceito de caráter. Caráter seria uma construção da personalidade
que explica a ineficácia da mera “revelação” na produção de mudanças.

Wilhelm Reich também notou que os padrões de caráter eram mais do que “sistemas
de crenças” – eles se estendiam à aparência física e à postura. Parado em alguns casos,
Reich recorreu a fazer com que os clientes movessem áreas aparentemente fixas,
como a mandíbula, para soltar as coisas. Frequentemente, um fluxo de sentimentos e
memórias surgia e o progresso começava novamente. Reich passou a acreditar que a
questão do caráter era central para a psicoterapia. As manifestações físicas ele chamou
de armadura. Embora Reich enfatizasse o caráter como um impedimento, ele não criou
nem enfatizou uma tipologia completa de caráter. Reich acreditava que era importante
“encurralar” a armadura em um cliente, segmento por segmento.

Alexander Lowen, no entanto, tornou o conceito de caráter mais evidente no pensamento


sobre a mudança. Enquanto Reich pensava no caráter mais como “temático” de lesão
precoce, Lowen pensava nele mais como um conjunto consistente e previsível de
caminhos alternativos de desenvolvimento instigados por respostas ambientais negativas
ou inadequadas em momentos críticos na infância. A partir de uma extensa observação
natural e clínica, ele criou uma tipologia “rígida” de caráter que incluía aspectos físicos,
psicológicos, familiares e sociais. É esse sistema que fundamenta como o caráter é
agora pensado nessa tradição.

A estrutura de caráter não é um conglomerado de lesões e defesas que podem ser


analisadas uma a uma, nem é uma série de tensões musculares dispersas – um pescoço
tenso, uma mandíbula rígida, ombros contraídos etc. – que bloqueiam o fluxo de
excitação e sentimento no corpo. É verdade que cada músculo tenso ou grupo
de músculos é o resultado de experiências traumáticas que bloqueiam a expressão de
sentimentos, mas a estrutura de caráter é um sistema organizado de defesas que visa
promover a sobrevivência e a segurança do indivíduo. Essas defesas são integradas e

24
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

coordenadas para promover a segurança máxima que o indivíduo sente necessária e


ainda fornecer uma oportunidade para o indivíduo tentar encontrar alguma realização
na vida. Não foi construído em um dia, mas ao longo de um período de anos – seis
anos, para sermos exatos – durante os quais a criança se esforçou para encontrar algum
significado positivo em sua vida. É uma cidade murada ou uma fortaleza, dependendo
do grau de medo. Não pode ser analisado nem demolido à força. É parte da natureza
do indivíduo, uma segunda natureza, para sermos exato, e, portanto, está além da
vontade do indivíduo de mudar.
Esse caráter defensivo é, talvez, uma maneira de fornecer uma consistência de experiência
que forneça uma consistência temporária no sentido de self. Se um senso de identidade
mais forte se desenvolver, surgirá uma gama mais ampla de experiências. No entanto, no
desenvolvimento natural, são as experiências mais amplas que precedem e desenvolvem
o senso de identidade. Daí surge o difícil, mas não intransponível, problema de “amarrar
as botas” do trabalho “analítico de caráter” na terapia e no estilo de vida. Para um
adulto, o personagem funciona como um filtro que filtra apenas aquelas experiências
que podem ampliar a consciência interpessoal. O caráter se perpetua e se autorreforça.
Caráter é o que parece dar sentido à vida e criar uma identidade. A pessoa tende a não
ver isso como uma desvantagem, mas sim como uma vantagem. De muitas maneiras,
separar o senso de identidade de um personagem formado parece a morte. Caráter,
então, nessa tradição, refere-se não apenas a um conjunto de bloqueios e limitações,
mas também (e esta é sua qualidade dinâmica) a um self adaptativo que busca o amor
por meio da conformação a uma imagem de amabilidade e aceitabilidade. A pessoa
geralmente não percebe que está se conformando, mas acredita que está buscando o
bem. Caráter, no entanto, difere de um “falso eu”. Um falso self é um produto mental
compensatório que muitas vezes visa refutar a realidade física e biográfica da pessoa.
A prevalência de falsos egos é uma das razões pelas quais o autodiagnóstico de caráter
frequentemente falha. É o corpo real, não as aspirações conscientes, que define o caráter.
Lowen definiu cinco personagens: esquizoide, oral, psicopata, masoquista e rígido.
Afirmou que não se tratava de uma classificação de pessoas, mas sim de posições
defensivas. Em seus escritos, Lowen “determinou” como os personagens são definidos.
Seu sistema funciona como uma “escolha forçada” – cada um que se vê andando na rua,
por exemplo, pode ser colocado em um dos cinco personagens. Eu segui a tradição da
escolha forçada, mas adicionei um personagem não loweniano, porque parece útil.
Por algum tempo, incluí na lista o caráter simbiótico de Stephen M. Johnson.
No entanto, eu o removi como um personagem distinto e adicionei a construção de
Johnson na forma de “narcisista limítrofe” também nessa seção.

25
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

Lowen nomeou os personagens de raízes psicanalíticas. Os nomes resultantes, infelizmente,


parecem pejorativos e, a menos que a derivação seja bem compreendida, confusos.
Como a terapia bioenergética geralmente inclui alguma parte de uma abordagem
educacional, os nomes são absolutamente embaraçosos de se usar com os clientes.
Ronald Robbins veio com nomes alternativos muito necessários que são evocativos e
abordam os pontos fortes, bem como as limitações. Robbins renomeou os cinco tipos
básicos de personagem de Lowen. Eu tentei (ou melhor, estou tentando) renomear o
personagem de Keleman. Os nomes “se acumulam” dessa forma: Criador (Esquizoide),
Comunicador (Oral), “Includer” (Inchado), Inspirador (Psicopata), Consolidador
(Masoquista) e Realizador (Rígido). No caráter Empreendedor, ou Rígido, a genitalidade é
estabelecida e as diferenças de gênero são fortes, com base na identificação de gênero. Isso
fez com que Lowen definisse quatro subtipos que são essencialmente quatro personagens
separados: Masculino Fálico, Masculino Passivo-Feminino, Mulher Histérica e Mulher
Masculino-Agressiva. Pode-se, portanto, falar em termos de “grupo rígido” de personagens.
O “Homem Fálico” e as “Mulheres Masculinas Agressivas” podem ser renomeados
como o Empreendedor Masculino, e a mulher, como Realizadora, mas o Homem
Passivo-Feminino e o personagem Histérico não têm um substituto de nome fácil que
tenha vindo à mente. Além disso, tem sido uma questão nessa tradição mapear o caráter
“compulsivo antiquado” na tipologia loweniana. Lowen sentiu que essa apresentação era
muito rara na segunda metade do século XX, mas que o caráter compulsivo poderia ser
mais bem entendido como um Empreendedor.
Acredita-se que os personagens surjam de desvios do desenvolvimento emocional
ideal da criança em diferentes momentos, desde a gravidez até os cinco ou seis anos de
idade. Alguns personagens são “anteriores” e alguns “posteriores”. Portanto, pode-se
dizer que a tipologia de Lowen constitui um “modelo horizontal”. Stephen Johnson
acreditava que era útil, especialmente em psicoterapia, mapear o caráter não apenas de
acordo com o modelo horizontal loweniano de tipo de caráter, mas também de acordo
com um “modelo vertical” simultâneo de força do ego, que poderia ser sobreposto
ao modelo horizontal. O modelo horizontal, como será explicado mais adiante, não
é realmente um continuum, mas sim uma representação de cinco (ou seis) vias de
desenvolvimento finais. No entanto, o modelo horizontal implica um gradiente
quantitativo de “identidade”.
Dentro do modelo horizontal, há duas “linhas” que indicam mudanças qualitativas.
O primeiro é entre o personagem Esquizoide ou Criador e o resto. Isso às vezes é
chamado de “condição esquizoide”, que difere da “condição neurótica” dos outros
personagens. A segunda “linha” está entre os primeiros quatro (ou seis) personagens e o

26
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

Empreendedor ou rígido, que é, na verdade um grupo de personagens, diferenciando-se


ao longo das linhas sexuais e de gênero, todos os quais compartilham as características de:

» menor apenas malha – como armadura;

» fluxo de energia da cabeça para os genitais e costas;

» um bom teste de realidade. Esse grupo é cada vez mais uma raridade em
amostras clínicas (devido à terapia se tornar menos na moda) e, pensou
Lowen, cada vez mais uma raridade na sociedade.

Uma pequena controvérsia no modelo horizontal é onde colocar o personagem


Psicopata ou Inspirador: antes ou depois do personagem Masoquista ou Consolidador.
Colocar o inspirador após o consolidador tem muita base bioenergética – o inspirador,
como o empreendedor, pode deslocar bem a energia para fora e pode contatar outras
pessoas em uma base energética, mesmo se distorcido. O desempenho social geral
perturbador e errático do inspirado caráter é, por outro lado, citado como evidência de um
desenvolvimento menos maduro. Isso soa mais como um argumento moral, entretanto
o modelo horizontal de Lowen é um modelo de desenvolvimento energético, não moral.
As lesões infantis originárias postuladas para o personagem Inspirador são geralmente
colocadas aos 18 meses, antes da origem do personagem masoquista ou consolidador,
porém a origem do Inspirador parece menos compreendida, e é possível que, ao especular,
muitos possam estar retrocedendo de onde eles acreditam que o Inspirador pertence.

O gênero afeta muito a expressão do caráter. Os efeitos cromossômicos e hormonais


são muito fortes. Geralmente as mulheres são mais empáticas, e os homens, mais
orientados instrumentalmente ou sistematizadores. Essa diferença dimensional está
presente em todos os personagens, causando atenuação de alguns aspectos e acentuação
de outros, mas não “quebrando” realmente o personagem. É claro que, no grupo Rígido,
os efeitos do gênero são fortes, mas isso se baseia na genitalidade adulta, não apenas
na diferença empatizante/sistematizadora. Como o gênero biológico não é mediado
pelo ambiente, seus efeitos sobre o caráter são observados na teoria de Reich e Lowen
tradicional apenas para fins de reconhecimento, não para fins de mudança.
A descrição do personagem é abordada de três maneiras principais:
» Como a pessoa se parece e se move – tensões e restrições musculares sendo
as mais definidoras.
» As interações e atitudes em tempo real típicas com outras pessoas, digamos
um terapeuta ou um interesse amoroso.
27
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

» A biografia típica que um personagem estabelece em seu curso ao longo


da vida.

Nas descrições de caráter, as porcentagens e a distribuição de gordura corporal são


relevantes, mas não centrais. Em nossos dias, a gordura corporal tornou-se uma questão
que chama a atenção, mas é, em parte, uma pista falsa na análise do caráter loweniano.

Foco do caráter e análise do caráter


Alexander Lowen passou a acreditar que a resistência à mudança, em última análise,
residia não apenas no corpo e não apenas nas crenças, mas, na verdade, no próprio
caráter, por mais intangível que seja. Ou seja, o trabalho corporal sozinho, ou o trabalho
psicológico sozinho, ou mesmo talvez ambos realizados em paralelo, não poderiam
realmente derrubar os efeitos limitantes do caráter. Em vez disso, as atitudes de caráter
global geral tiveram de ser confrontadas. Isso é chamado de foco do personagem.
A maior parte da terapia seguiu a sugestão de Freud de ser conduzida pela associação
livre. Isso também é verdade para os praticantes que evitam ou pouco entendem
Freud. A associação livre, é claro, é um nome impróprio porque leva a um material
não completamente aleatório. Isso leva “ao que realmente está na mente” do cliente e,
portanto, presumivelmente, leva, eventualmente, a tudo o que é necessário. No entanto,
a longa experiência levou à conclusão de que isso era insuficiente, especialmente à
medida que os clientes se tornaram mais sofisticados. Se as resistências são “analisadas
e dissolvidas à medida que surgem”, então parece que surgem novas resistências
criativas sem fim. O núcleo de resistência parece ser capaz de pular de manifestação em
manifestação. Isso traz à mente a piada de Karen Horney, de que o paciente [cliente]
vem à terapia para “aperfeiçoar a neurose”. Depois de trabalhar o suficiente com o
terapeuta em torno da resistência, as novas resistências podem ser mais “espertas” e
até mesmo podem parecer um insight.
Lowen, como Wilhelm Reich antes dele, acreditava que apenas ajudando o cliente
a ver como sua resistência se encaixava em uma constelação de caráter o núcleo de
resistência poderia ser superado. Uma implicação disso é que as abordagens igualitárias e
exploratórias da terapia e da mudança, mesmo uma incluindo o trabalho corporal, se não
conseguem “caracterizar” o problema, tendem a produzir apenas uma mudança modesta
na qualidade de vida. Disso surge a ênfase em definições “restritas” do personagem, como
os cinco básicos de Lowen. Mais soltas, as abordagens do “Sr. Cabeça de Batata”, nas
quais o personagem é descrito por um amálgama improvisado de traços, são propensas
a autoengano, se feitas pelo sujeito, e projeção, se feitas por outro.

28
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

Para Lowen, o caráter era corpo e energia. Traços comportamentais eram vistos como
epifenômenos do corpo. É por isso que o trabalho corporal direcionado e a análise do
personagem podiam acontecer ao mesmo tempo – para ele, a análise do personagem era
a análise do corpo, e um formato estritamente conversacional raramente era necessário.

O uso e mau uso de tipologias de caracteres


Pode-se estipular desde o início, e a priori, que não existem “personagens puros”.
Isso ocorre porque os tipos de caráter são ideias ou conceitos, e as pessoas não são
ideias. No entanto, uma boa pergunta é: como ideias, quão reais e quão discretos, esses
tipos de caráter podem ser considerados?

Em primeiro lugar, “caráter”, na tradição de Reich e Lowen, não se refere à personalidade


em si, mas sim à estrutura madura do corpo (fenótipo) e às características de energia.
O comportamento aprendido pode ser pensado como uma camada (camada social)
existente no topo do personagem e moldando a personalidade final. O efeito do caráter
é tão forte, entretanto, que, esmagadoramente, a pessoa rejeita qualquer aprendizagem
que seja distônica do caráter e aceita qualquer aprendizagem que seja sintônica do caráter.
É por isso que, em uma discussão a respeito de padrões de comportamento, o caráter
substitui facilmente o conceito de personalidade. É também por isso que a psicoterapia
com a camada aprendida (ideologia) geralmente tem resultados tão modestos.

Alguns terapeutas lowenianos muito devotados afirmam que o caráter foi superestimado
nas últimas décadas. Certamente, usar o caráter simplesmente para classificar as pessoas,
ou para racionalizar as dificuldades interpessoais, não é legítimo. Mas, claramente,
uma ênfase no caráter torna a terapia de Reich e Lowen uma terapia de “transformação
lógica de caráter”. A análise de personagem é uma forma de “encurralar” a resistência
de uma vez por todas. Mas, para os adultos, essa transformação provavelmente nunca
substituirá completamente o “personagem inicial”. À medida que diminui o domínio
de determinado personagem, a pessoa talvez se torne mais ou menos um indivíduo,
mas nunca um modelo.

É fácil para aqueles que fazem esse trabalho pessoal e profissionalmente por um longo
tempo se sentirem como fracassados ​​se seu próprio caráter “inicial” for rapidamente
reconhecível, mas o caráter é, por definição, impossível de ocultar, portanto, para
um praticante experiente e compassivo, o caráter inicial é sempre visível. A terapia
de Reich e Lowen não visa atingir uma forma final ideal e dissimulada. Trata-se de
adquirir flexibilidade no sentimento e na ação.

29
Unidade I | A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN

É natural não querer ser estereotipado. Todos são únicos. Lowen afirmou que há
muitos casos de clientes que estão no meio ou na “fronteira” das categorias. A análise
do caráter não é feita em função da pureza do caráter, mas do modo de funcionamento
dominante. Para fazer isso, é necessário acreditar frequentemente que uma pessoa
pode ser de alta e baixa energia, superagressiva e incapaz de expressar agressão. Se
um personagem equilibrado está sendo pensado, então há uma ideia de personagem
para isso, o personagem “genital verdadeiro” ou o personagem rígido na assíntota da
couraça. É claro que isso é uma ideia, não uma descrição de uma pessoa real que já foi
localizada.

Se a imagem geral do personagem não é clara, também pode ser que estilos compensatórios
deliberados estejam sendo vividos. O caráter fica mais claro às vezes, se o funcionamento
básico for estudado, em vez de objetivos ou ideologia serem declarados. Ou seja, o
que a pessoa faz às vezes é mais relevante para a compreensão do caráter do que o
que ela diz. Se um estudante de caráter aceita seu verdadeiro caráter inicial, aceitar e
compreender a caracterologia é muito mais simples.

Outra questão que surge é se é necessário recapitular todos os personagens “posteriores”


no modelo horizontal (de desenvolvimento) de Lowen para chegar a uma vida
satisfatória. O cara legal em todos nós quer rapidamente afirmar o contrário, porque
não parece justo para os personagens “anteriores”. Claro, nenhum cliente precisa
realmente se tornar um personagem posterior, porque, afinal, eles não representam
um desenvolvimento normal, mas sim posições defensivas. No entanto, provavelmente
é desonesto fingir que algumas pessoas não têm “mais tempo para ir”. Mais lutas de
desenvolvimento adiadas precisam ser vividas. E esse “mais longo” se alinha com a
forma como o personagem inicial da pessoa se alinha no modelo horizontal de Lowen.
É um modelo de desenvolvimento.

De modo geral, o conceito de caráter permanece controverso, mesmo entre os “terapeutas


somáticos”. Como o personagem loweniano é um conceito de mau funcionamento, o
foco no personagem se torna um foco no que não fazer, ao invés do que fazer. Esse foco
na “patologia” pode se tornar limitante. Reich deixou de dar ênfase ao caráter mais tarde,
é verdade, porque deixou de tratar indivíduos e adultos. Ele sentiu que a prevenção
durante a infância era a resposta. Diz-se que Lowen enfatizou menos o caráter em
sua carreira posterior. Ao ler sua autobiografia, isso parece ser verdade, porque ele se
afastou da análise de estilo de vida, que tende a ser específica ao personagem, e gravitou
mais em torno do trabalho corporal essencial, que tende a incluir mais intervenções de
“vários personagens” ou “panpersonagens”, como aterramento ou alcance. Ou seja, ele

30
A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE LOWEN | Unidade I

se afastou de “o que não fazer” e começou a enfatizar mais “o que fazer”. Em nenhum
ponto de seus escritos ele indica que passou a acreditar que a avaliação lógica ou a
mudança caracterológica eram conceitos inválidos.

31
A ESTRUTURA ORAL
E O ADOECIMENTO
LIGADO À FALTA E À UNIDADE II
FRAGILIDADE

CAPÍTULO 1
Tipologia e Estrutura de Caráter

Teorias psicodinâmicas da personalidade:


o papel do inconsciente
Uma das abordagens psicológicas mais importantes para a compreensão da personalidade
é baseada na teorização do médico e psicólogo austríaco Sigmund Freud, que fundou o que
hoje é conhecido como abordagem psicodinâmica, uma abordagem para compreender
o comportamento humano que se concentra no papel dos pensamentos, sentimentos
e memórias inconscientes. Muitas pessoas conhecem Freud porque seu trabalho
teve um grande impacto em nosso pensamento cotidiano a respeito da Psicologia, e
a abordagem psicodinâmica é uma das abordagens mais importantes para a terapia
psicológica. Freud é, provavelmente, o mais conhecido de todos os psicólogos, em
parte por causa de suas impressionantes observações e análises da personalidade (há
24 volumes de seus escritos). Como acontece com todas as teorias, muitas das ideias
engenhosas de Freud revelaram-se pelo menos parcialmente incorretas, e outros
aspectos de suas teorias ainda influenciam a Psicologia.

Freud foi influenciado pelo trabalho do neurologista francês Jean-Martin Charcot


(1825-1893), que entrevistou pacientes (quase todos, mulheres) que viviam o que
na época era conhecido como histeria. Embora esse termo não seja mais usado para
descrever um distúrbio psicológico, a histeria, na época, se referia a um conjunto de
sintomas físicos e de personalidade que incluíam dor crônica, desmaios, convulsões
e paralisia.

Charcot não conseguiu encontrar nenhuma razão biológica para os sintomas. Por exemplo,
algumas mulheres experimentaram uma perda de sensibilidade nas mãos, mas não nos
braços, e isso parecia impossível, visto que os nervos nos braços são iguais aos das
mãos. Charcot estava experimentando o uso da hipnose, e ele e Freud descobriram

32
A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

que, sob hipnose, muitos dos pacientes histéricos relataram ter experimentado uma
experiência sexual traumática, como abuso sexual, quando crianças.

Freud e Charcot também descobriram que, durante a hipnose, a lembrança do trauma


costumava ser acompanhada por uma efusão de emoção, conhecida como catarse,
e que, após a catarse, os sintomas do paciente eram frequentemente reduzidos em
gravidade. Essas observações levaram Freud e Charcot a concluir que esses distúrbios
eram causados por fatores psicológicos, e não fisiológicos.

Freud usou as observações que ele e Charcot fizeram para desenvolver sua teoria a
respeito das fontes da personalidade e do comportamento, e seus insights são centrais
para os temas fundamentais da Psicologia. Em termos de livre arbítrio, Freud não
acreditava que fôssemos capazes de controlar nossos próprios comportamentos.
Em vez disso, ele acreditava que todos os comportamentos são predeterminados
por motivações que estão fora de nossa consciência, no inconsciente. Essas forças se
manifestam em nossos sonhos, em sintomas neuróticos, como obsessões, enquanto
estamos sob hipnose, e em “lapsos de língua” freudianos, em que as pessoas revelam
seus desejos inconscientes por intermédio da linguagem. Freud argumentou que
raramente entendemos por que fazemos o que fazemos, embora possamos inventar
explicações para nossos comportamentos após o fato. O estudioso relatava, ainda, que,
a mente era como um iceberg.

Apesar dos conceitos de Freud sobre caráter e personalidade, vamos destacar neste
capítulo sobre os tipos de personalidade estudado por Lowen, conhecidos pelos tipos
de caráter bioenergético.

Os tipos de caráter bioenergético são padrões estabelecidos em uma mente em


desenvolvimento que começam a moldar e caracterizar o corpo de uma certa forma.
Em outras palavras, você está pensando em mudar a forma do seu corpo. As feridas
na primeira infância muitas vezes nos deixam paralisados em uma forma específica
de pensamento. À medida que continuamos com esse pensamento ao longo do dia,
nosso corpo está sendo moldado. Tornamo-nos baixos e compactos, altos e magros ou
musculosos e fortes apenas pelos pensamentos que temos. Alexander Lowen acreditava
que nossos pensamentos eram tão poderosos que poderiam formar padrões de energia
dentro do corpo para nos moldar. Ele criou seis tipos de caráter predominantes, que são
os seguintes: Esquizoide, Oral, Oral de Compensação, Rígido, Psicopático e Masoquista.
Todos nós exibimos um dos traços como o dominante, mas também podemos exibir
outros traços sob certas condições.

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

O mundo da Psiquiatria sempre tentou encontrar rótulos e classificações para os seres


humanos, a fim de compreender o comportamento. Por exemplo, muitas pessoas
seguem de perto e se identificam com o Eneagrama, sistema de classificação em que
existem nove níveis de classificações. É uma tentativa de entender por que alguém
faz as escolhas que faz. Outros são atraídos para o teste de Myers-Briggs ou para o
Stratogem de Keirsey para entender sua personalidade. Algumas pessoas contam com
sistemas de classificação espiritual, como horóscopo ou leitura da mão.

O Sistema Lowen Bioenergetic Character é o mais preciso e profundo. Quando se começa a


entendê-lo e aplicá-lo, percebe-se que ele não mente. Enquanto algumas identificações
de personagens são simples e precisas, outras requerem um pouco mais de trabalho.
Depois de identificar com precisão o caráter bioenergético das pessoas, pode-se ter
acesso ao processo de pensamento de alguém e ao mundo dentro de seu cérebro.
Cada tipo de personagem terá pelo menos um tema central na vida, como se a fiação
já tivesse sido realizada dentro do cérebro. Cada personagem terá uma agenda, ou seja,
“preciso de poder”, “preciso de controle”, “tenho medo do abandono”, “não confio em
ninguém nem em nada”, “já desisti” etc. Depois de identificar o mecanismo operacional
subjacente, pode-se aprender a trabalhar com esse indivíduo.

Lowen postulava que somos como os anéis de uma árvore. A parte mais interna de
nós mesmos é a parte mais antiga, e a crosta externa é a parte mais recente. Todos nós
encontramos nosso ponto de referência emocional na vida a partir de uma ou várias
camadas de nosso eu interior.

Esquizoide
Agenda: o mundo é um lugar assustador. Não há ninguém em quem se possa confiar.
Eu não pertenço a este lugar. Há algo errado comigo. Você pode ter meu corpo, mas
não pode me ter.

Cronograma para ferimentos: do nascimento até um ano de idade.

Características e história: Einstein disse isso melhor. “Acho que a questão mais
importante que a humanidade enfrenta é a seguinte: o universo é um amigo. Desde o
momento em que nascemos até cerca de um ano de idade, estamos formulando uma
crença se o universo é ou não um inimigo ou amigo. Você se sente seguro e apoiado
ou está sempre desconfiado e tenso?’”.

Essa crença central não chega conosco quando nascemos; devemos desenvolvê-la.
No mundo natural, uma criança nunca é deixada sozinha nos primeiros dois anos de

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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

vida. Ela é sempre carregada ou vigiada e será amarrada a alguém para obter aquecimento
corporal e contato. Ela nunca dorme sozinha, pois está sempre envolvida nos braços de
alguém enquanto dorme. Esse comportamento ajuda a incutir um senso de apoio no
mundo. Depois que a criança desenvolve essa sensação interior de paz e segurança, ela
se sente confiante para sair e ficar sozinha. Em grande parte do mundo industrializado,
uma criança é deixada para cuidar de suas próprias necessidades emocionais. Ela é
forçada a se autoconfortar, pois, muitas vezes, é deixada sozinha em um berço ou em
seu próprio quarto à noite. Esse comportamento costuma incutir na criança a sensação
de que o mundo não é um lugar seguro e que ela deve estar sempre alerta para qualquer
perigo que possa estar à espreita. A pessoa desenvolve uma resposta “esquizoide” ativa
e esse comportamento continua na juventude e na idade adulta. O comportamento
se manifesta como a incapacidade de relaxar ou dormir confortavelmente à noite.
Estimulantes como cafeína, drogas ou cigarros são frequentemente usados para acalmar
o sistema nervoso hiperativo. Um tem um limite baixo para conflito. Pode ser difícil
se concentrar ou estudar na escola. A resposta “esquizoide” costuma estar na raiz
de muitos transtornos de aprendizagem, como o Transtorno de Déficit de Atenção
(TDA). Pode haver muitas doenças físicas que são iniciadas com essa resposta, como
asma ou alergias. Quando o sistema nervoso de um bebê permanece congelado em
uma resposta de terror (esquizoide), os pulmões costumam ser a primeira parte do
corpo a reagir. À medida que a criança cresce e ela experimenta um episódio de susto,
seus pulmões frequentemente continuam a ter espasmos.

Estrutura corporal: alto e muito magro. Um corpo estreito, alto e contraído é mais
frequentemente associado ao caráter esquizoide. A base do crânio costuma ser rígida,
e os braços e as pernas também são rígidos. O diafragma permanece congelado.
Os olhos tendem a ser fundos e sem expressão, com uma aparência de máscara no rosto.
Frequentemente, há tensão muscular na pelve, no tórax, no pescoço e nos ombros.
O peso geralmente é carregado na parte externa dos pés. Com frequência, as mãos
e os pés estão frios. Essa é uma indicação de que toda a energia foi retirada para o
núcleo e os braços e pernas foram cortados para a manutenção da sobrevivência.
Um esquizoide não é um bom abraçador, pois suspeita dos outros e tem dificuldade
em confiar neles.

Medos: um esquizoide tem medo de sentir qualquer coisa. Amor profundo ou alegria
profunda geralmente não estão em sua capacidade. Eles têm medo de se desapegar
e de confiar nos outros. Eles temem ficar muito próximos de alguém e terão mais
relacionamentos cerebrais. Relacionamentos íntimos são raros. Eles têm um medo
profundo de não precisar ou querer. Isso geralmente se origina em seus primeiros

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

anos, quando eram banidos para seus próprios quartos durante a noite. Ninguém veio
confortá-los quando sentiam medo, então eles aprenderam que outros não estarão lá
para confortá-los quando adultos. Eles também têm medo de desmoronar.

Padrões de energia: um esquizoide tem uma forte relação com seu mundo interior, ao
contrário dos outros, mas pode não ser socialmente “normal”. Ele vive muito em sua
cabeça, pois está isolado da emoção. A maior parte da energia de seu corpo é retirada
para o centro e o núcleo e não se move para fora dos braços e pernas. Existe uma
dissociação entre pensamento e sentimento. Ele pensa seu caminho pela vida.

Características: alguém dessa natureza sente que não pertence a este mundo. Todos são
diferentes e não existem locais seguros. Ele pode sentir que nasceu na hora errada ou
no planeta errado. Pode ter uma personalidade dividida, é interiormente retraído e
vive muito em sua cabeça, em vez de ter uma relação sensorial com seu próprio corpo.
Ele pode não reconhecer uma lesão ou dor porque perdeu grande parte das sensações
do próprio corpo. Pode ter uma tolerância à dor muito alta, pois suas terminações
nervosas pararam de funcionar. É possível que ele tenha apenas uma relação superficial
com o resto do mundo, preferindo estar com seus próprios pensamentos. Se a energia
de seu núcleo estagnado for liberada, esse indivíduo pode se ver em uma fúria assassina.
Pode parecer irritado e nervoso às vezes, embora, muitas vezes, seja imprevisível.
Ele pode renunciar a ser um gênio ou não funcional. Ele sente uma sensação de terror
o tempo todo. Pode estar paranoico, pois está sempre alerta e olhando por cima do
ombro temendo ser atacado. Ele enfatiza o pensamento sobre o sentimento e pode
usar expressões como “Eu acho” em vez de “Eu sinto”.

Forças: brilhante, psíquico, sensível à energia, pensador criativo, orientado para a


fantasia, bom intuitivo, artístico, inovador, contador de histórias, escritor, coleta e
armazena informações, cientista, espiritual.

Metas nos relacionamentos: difícil de se relacionar. Frequentemente tem vários


casamentos e divórcios. Não deixa ninguém chegar muito perto dele. Falta de carga nos
órgãos genitais e nos braços, o que reduz a sensação de sensualidade. Evita proximidade.
Pode ter relacionamentos superficiais, e não é propenso a ter uma intimidade profunda
com ninguém. É desconfiado em relação a relacionamentos.

Cura: deve aprenda a sentir e a confiar nos outros. Tem de se permitir ter experiências
sensoriais, como a massagem. Deve permitir que as coisas cheguem lentamente até
si e não deve ter pressa. Deve aprender a ser totalmente humano. Para esse tipo de
indivíduo, indicam-se as práticas de tai chi, ioga, dança e natação.

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Oral

Agenda: o caráter oral precisa ser sustentado e se sentir conectado. Existe um desejo
profundo de intimidade e apego. Eles procuram alguém para se render em seus braços
abertos.

Cronograma para ferimentos: do nascimento até os dois anos de idade. As necessidades


infantis não foram atendidas e pode ter havido uma experiência de abandono precoce
que colocou a energia em movimento. Uma criança pode nunca ter se tornado
completamente ligada à mãe e anseia por esse apego. Em outros casos, um único
evento aciona o caráter oral em movimento. Exemplos: uma criança antes dos dois
anos experimenta um único evento que é percebido como abandono e então assume
a energia do abandono; uma mãe coloca seu filho para dormir para tirar uma soneca
e corre para uma loja rapidamente para pegar um item esquecido. A criança acorda
prematuramente e não há ninguém por perto para cuidar dela. A mãe se foi por apenas
15 minutos, mas, na mente da criança, ela foi abandonada. Mesmo um único evento
como esse pode ser suficiente para imprimir o padrão de caráter oral. A educação
inconsistente também pode configurar o complexo de abandono.

Estrutura corporal: alto e magro, geralmente com o peito afundado. Ele pode
experimentar um colapso do corpo e ombros rolados para a frente para proteger
o coração de qualquer tipo de dor emocional. O corpo pode se inclinar para baixo.
Frequentemente está com os joelhos travados e tem uma respiração superficial. Os
músculos subdesenvolvidos e a energia central podem fluir para os braços e pernas,
mas fracamente. Ele está sujeito à depressão.

Medos: medo de abandono, de rejeição, de pedir o que quer, de ser direto, de confronto,
de ficar sozinho, de perder.

Padrão de energia: fluxo de energia com carga insuficiente. Colapso no meio e puxado
para baixo pela gravidade. É difícil se manter em pé. É difícil esticar o peito e ser notado.
Muitas vezes querem se esconder desabando. Facilmente deprimido. Frequentemente
com baixa energia.

Características: frequentemente dependente e apegado aos outros. Manso. Não agressivo.


Tem necessidade de ser alimentado e cuidado. Carinhoso e “aconchegante”. Interessado
pelos outros. Gosta de ser abraçado e tocado. Raramente fica com raiva, mas, quando
isso acontece, pode ser explosivo. Frequentemente, fica furioso quando se sente
abandonado.
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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Um personagem oral frequentemente explodirá de raiva e sentirá culpa por sentir


que foi abandonado. O abandono pode ser percebido como algo mundano, já que
alguém não retornou uma mensagem de texto ou uma ligação telefônica com a rapidez
necessária. Alguém pode se atrasar, e o oral pode explodir de raiva por causa disso.
Frequentemente, esses indivíduos culpam outra pessoa por suas emoções equivocadas.
Em vez de experimentarem uma emoção mais apropriada, como medo (estou com
medo) ou tristeza (estou triste), eles automaticamente se transformam em seres raivosos.
Um personagem oral pode armazenar anos ou décadas de raiva por trás de uma bela
camada externa e explodirá e liberará tudo de uma vez quando seus problemas de
abandono forem empurrados. Nesse caso, um nível inadequado e excessivo de raiva
frequentemente explode.

Vemos esse tipo de situação em eventos mundiais. Uma esposa informa ao marido
que está se divorciando dele. Em vez de sentir sua dor e se entregar a ela, ele se
torna explosivo em sua raiva e age violentamente. Um indivíduo saudável sofreria
quando experimentasse uma perda ou abandono, mas um caráter oral inconsciente
frequentemente explodirá de raiva por sua perda. Sua raiva extraviada é apenas uma
imitação de sua raiva passada, quando ele acordou de seu cochilo quando criança e
não havia ninguém lá para confortá-lo.

Esse personagem tende a se conter e a não ser assertivo em suas demandas. Por exemplo,
se ele entrar em um supermercado, dirá: “Posso, por favor, ter uma sacola de papel
em vez de uma de plástico?”. Ele tem medo da rejeição ou de alguém dizer “não” a ele,
então seu pedido é sempre tímido e manso. Ele costuma ser muito sociável e precisa
do contato humano para se sentir vivo. Frequentemente, ele busca a aprovação dos
outros, julgando seu valor pelo que os outros pensam dele. Muitas vezes, parece vazio,
como se nunca houvesse o suficiente. Em várias situações, ele está procurando alguém
para cuidar dele e tornar as coisas melhores. Falta-lhe confiança básica no mundo.
Precisa sentir que pertence a uma matilha ou tribo para se sentir seguro.

Forças: ele geralmente está sintonizado com as necessidades dos outros. Não é ameaçador
e é uma pessoa fácil de conviver, de confiar e é muito carinhoso. É um bom ajudante e
zelador. Cuida dos outros porque, no fundo, quer que alguém cuide dele. Muitas vezes
fica agitado porque não é cuidado tão bem quanto cuida dos outros. Sua personalidade
tímida nunca poderia atender a todas as suas necessidades, então ele sofre em silêncio.
Os orais são bons socorristas e auxiliares. São eles que resgatam cães ou adotam
crianças. São bons enfermeiros, massoterapeutas, curandeiros, amantes dos animais,
amantes dos bebês etc.

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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

Metas nos relacionamentos: esse tipo de personalidade tem uma necessidade significativa
de intimidade. Esses indivíduos estão dispostos a renunciar a tudo o mais (controle,
poder etc.) para ter intimidade. Ter relacionamentos íntimos é fundamental para
sua existência. Eles precisam estar conectados a alguém. Frequentemente, são muito
românticos. Eles facilmente se perdem em um relacionamento, pois farão quase
qualquer coisa para não serem abandonados. Com frequência, alteram sua personalidade
e desistem de seus valores essenciais para permanecerem conectados com alguém,
permanecem em relacionamentos disfuncionais e abusivos, porque preferem isso a
se sentirem sozinhos e abandonados. Pensam que viver com o diabo é melhor do que
ficar sozinho. Se fossem verbalizar seus reais sentimentos, a expressão “Eu te amo”
significaria “Por favor, não me deixe”.

Cura: um indivíduo oral deve ensinar a si mesmo como se autonutrir e a não depender
dos outros para obter seu bem-estar emocional. Deve aprender a ficar sozinho, a pedir
o que você precisa, a aceitar rejeição e a perda.

Masoquista

Agenda: sensação de estar sempre sobrecarregado. Tem sensação de medo e desesperança


constantemente e energia baixa. Está disposto a sofrer e a aguentar muito. Sofre com
a sensação de derrota e tem desejo de sofrer. Tem consciência de vítima.

Cronograma para ferimentos: perto da hora do treinamento para usar o banheiro,


em que um pai superdominante está pressionando a criança a ter sucesso e ela está
resistindo a esse impulso. A criança desenvolve um senso de autossabotagem para punir
os pais por tal força motriz. Frequentemente, o pai é passivo, e a mãe, dominadora.
Eles são informados de que os pais os amarão se forem obedientes. Têm os impulsos
controlados.

Estrutura corporal: pode ser pesado na parte inferior, atolado e acima do peso. O
corpo é pesado e desmaiado. A musculatura é curta e grossa, mas pode estar pouco
desenvolvida. Pode haver excesso de pelos no corpo. O pescoço é curto e grosso. A
pele pode ser de cor acastanhada. Músculos isquiotibiais tensos tentam segurar o resto
do corpo. As nádegas são achatadas. O andar é desajeitado.

Medos: medo de arriscar, de ficar irremediavelmente perdido ou preso, de ofender a


mãe, de se expressar diretamente.

Padrão de energia: uma pessoa altamente carregada por dentro, mas fortemente unida
por fora. Muito comprimida, lenta e atolada.
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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Características: atitude submissa, com um profundo sentimento de rancor ou


negatividade. Uma sensação reprimida de hostilidade. Esse indivíduo ainda tenta
se rebelar contra a mãe, mas age contra os outros ao invés de direcionar um ataque
à mãe. Pode ter complexo de superioridade. Sabe aproveitar as coisas simples
da vida, como assistir a um filme, comer uma refeição farta ou ir ao banheiro.
Sofre e reclama, mas nunca muda realmente nada. Tem resistência à mudança.
Frequentemente reclama muito e nunca está satisfeito. É impaciente. Frequentemente,
é um colecionador. Controla seu temperamento. Masoquistas pensam que devem ser
obedientes a fim de obter amor. Têm a sensação de apenas desistir. Pensam que a vida
é muito difícil. Usam a culpa para controlar os outros. Agem como vítimas, nada é
culpa deles.

Forças: confiáveis, leais e não confrontam qualquer irregularidade. São trabalhadores


árduos, que estão dispostos a trabalhar longas horas em seu sofrimento. Não esperam
grandes coisas na vida. Estão dispostos a trabalhar por um salário baixo. Não são
tomadores de risco ou aventureiros, embora estejam dispostos a viajar, por exemplo.
Estes são os indivíduos que podem fazer um cruzeiro para uma terra estrangeira.
Assim que o navio atracar em um porto, só se aventurarão longe o suficiente para
comprar sua camiseta de lembrança e, em seguida, voltarão ao navio para a próxima
refeição. Eles são bons bibliotecários, operários e trabalhadores da cidade em busca de
um trabalho fácil com estabilidade no emprego e uma pensão. São bons trabalhadores
para sindicatos, onde lhes seja garantida uma vida fácil, com benefícios vitalícios.
Nunca seriam empresários ou iniciariam seu próprio negócio, pois isso seria muito
arriscado. São bons professores.

Metas nos relacionamentos: são honrados e leais. Como um bom cão, ficarão com o
companheiro até o fim, pois deixá-lo exigiria muito esforço. Eles estão dispostos a
suportar muitos abusos. São confiáveis e fáceis de lidar, submissos e sutis. Manutenção
muito baixa. Ficam facilmente satisfeitos. Um encontro em um restaurante de fast food
local os deixaria felizes.

Cura: masoquistas devem ajudar a reduzir a culpa e o fardo, devem se permitir trabalhar
a raiva reprimida e a negatividade. É necessário que eles parem com a autossabotagem,
pois não estão cientes de que ainda estão tentando punir a mãe pela pressão excessiva
que ela impôs a eles na primeira infância. Devem ser estimulados a rir de si mesmos e
a fugir do controle da mãe. Devem lutar por seus direitos deles, não reclamar, apenas,
mas tomar medidas.

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Compensação Oral

Cronograma para ferimentos: dos dois aos quatro anos de idade. Eles percebem,
depois dos dois anos de idade, que, para sobreviver no mundo, devem enterrar seus
sentimentos internos e mostrar força do lado de fora.

Agenda: não mostram nenhuma fraqueza e pensam que devem ser fortes no mundo.
Não querem demonstrar que são vulneráveis. O caráter oral compensatório é
essencialmente o caráter oral com uma camada adicional colocada por cima. Sua verdadeira
identidade é o medo do abandono, mas eles impõem uma camada externa dura sobre
si para não parecerem vulneráveis. Podem parecer fortes por fora, mas desmoronarão
emocionalmente sob pressão. Esses indivíduos têm uma fachada de força, mas não
uma força autêntica. Frequentemente, têm músculos excessivamente desenvolvidos.
Às vezes, adotam uma “postura de pistoleiro”, como se estivessem prontos para tudo.
Consideram-se “guerreiros” prontos para a batalha.

Eles sentem que têm de fazer as coisas sozinhos e que não precisam da ajuda de ninguém.
São excessivamente independentes da culpa. Frequentemente, são teimosos e rejeitarão
ajuda, pois não desejam parecer vulneráveis e necessitados. Têm um senso exagerado
de independência e estão sempre testando a si mesmos.

Estrutura corporal: frequentemente são atléticos e musculosos (homens e mulheres).


Adotam um estilo de vida ativo, muitas vezes ao extremo, como na aventura ou esportes
radicais. Muitos jogadores profissionais de basquete estão compensando o caráter oral
(alto, forte e independente por fora, mas fraco e inseguro por dentro). São competitivos
e, muitas vezes, dominantes (têm necessidade de vencer e profundo medo de perder).

Analogia do Superman: o caráter oral representa o tímido e educado Clark Kent.


Ele é tímido e quieto. Uma vez que se transforma em Superman, ele coloca outra
camada no topo, que é poderosa, forte, independente e focada. Essa camada externa
é como o personagem oral compensador.

Metas no relacionamento: ansioso para se conectar e se relacionar, mas não muito


ansioso para se aprofundar. Prefere ter um relacionamento externo ativo a um profundo
e íntimo. Um oral compensador prefere encontrar um parceiro para esquiar a um para
se deitar no sofá e falar sobre seus próprios sentimentos. Esses indivíduos se sentem
prejudicados e ineficientes quando se trata de expressar seus sentimentos autênticos.
Sua casca externa dura entra em conflito com sua necessidade de intimidade. Eles têm
dificuldade para se assumirem vulneráveis.

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Padrão de energia: eles têm uma forte casca externa ao redor deles, como a casca de
uma árvore. Têm alta tolerância à dor, pois muitas vezes entorpecem as sensações.
Possuem um núcleo ativo e vivo de energia e emoção, mas de difícil acesso. Se o núcleo
for ativado, geralmente haverá uma onda de emoções profundas (como a morte de
uma pessoa próxima em sua vida).

Forças: são bons zeladores. Estão dispostos a trabalhar duro para fazerem os outros
felizes. Muitas vezes estão dispostos a negar suas próprias necessidades até o ponto
final. Aparentemente autossuficientes e com baixa manutenção. Possuem alta energia,
produtiva e mundana.

Medos: esses indivíduos temem se sentir vulneráveis, têm medo de serem levados pelas
emoções, de serem desafiados a um duelo com alguém que tem sabedoria emocional.
Sentem que podem navegar pela vida com força, enquanto as emoções se tornam sua
“criptonita”. Para eles, sentir-se fora de controle é assustador, então gastam muita
energia para manter o controle.

Cura: é necessário romper a dura camada externa para acessar os profundos sentimentos
internos. Essas pessoas devem permitir-se não apenas chorar, mas também chorar
profundamente, pois, dessa forma, ativa-se o verdadeiro eu interior. Elas devem
parar o endurecimento do corpo e desfrutar de uma existência mais suave, iniciando
a prática de ioga, por exemplo.

Rígido

Agenda: precisa estar sempre no controle e no comando, controlar a si mesmo e aos outros.
Tem de aguentar e não entrar em colapso ou ficar fraco. Forte até o âmago e muito leal.

Cronograma para ferimentos: dos três a quatro anos. Uma criança sente que ouve “não”
com tanta frequência que assume o compromisso de controlar seu mundo. A sensação
de estar fora de controle muitas vezes aciona um mundo excessivamente controlado.
Para se sentir seguro no mundo, esse indivíduo deve sempre manter o controle.

Estrutura corporal: o corpo está rígido de orgulho. Uma coluna reta e rígida. Pescoço e
ombros apertados. Costas tensas e mandíbula travada. Os músculos estão muito tensos.
Peito inflado, com um corpo preparado, em antecipação, para enfrentar qualquer
desafio. Preparado para o conflito e o mundo exterior.

Medos: medo profundo de perder o controle, pois isso equivale à morte. Medo de se
render, de desistir, de ser aproveitado, de ficar preso, de ser controlado por outros.

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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

Esse indivíduo teme a espontaneidade, pois sua vida é ordenada e detalhada. Ele pode
ser aquele que precisa ser o motorista quando se anda de carro com ele. Pode ser a
pessoa que sofrerá enjoos quando estiver ao mar, pois não pode perder o controle e
seguir com o navio.

Características: contém o impulso de chorar, a raiva e o ressentimento. Muito leal e


responsável. A aparência externa é de força, orgulho e independência, enquanto uma
profunda tristeza e um desejo de ternura residem por dentro. Bom para completar
tarefas. Não busca o que quer. Pode ser teimoso às vezes. Sente que, se ele se soltar,
pode parecer um tolo, então se contém. Coração cheio e patriótico.

Precisa estar sempre alerta. Anseia por amor paternal. Frequentemente, teme
manter compromissos emocionais profundos. Tem dificuldade para relaxar, pois
muitas vezes está preparado para a ação. Tem a tendência de ser a criança que
cresceu muito cedo e nunca teve tempo de ser apenas uma criança. O amor do pai
geralmente é baseado no desempenho (ou seja, se você cortar a grama, eu te amarei).
Teve muitas responsabilidades cedo demais. Costuma ser perfeccionista e muito
determinado a concluir tarefas. Não desiste facilmente. Pode ser altamente sexual,
mas não sente satisfação completa. Encara a vida como um problema a ser resolvido.
Está pronto e em atenção. Corpo curto e compacto. Pescoço curto e pernas curtas.
É um bom ginasta.

Forças: alta orientação para realização e sucesso. Muito responsável. Emocionante


e ousado. Autoconfiante. Orientado para o mundo. Ambicioso e frequentemente
agressivo. Muito competitivo e orientado para os detalhes. Capaz de realizar tarefas e
concluí-las. Bom ator. Desenvolve um bom trabalho como capataz, policial, comandante
militar, soldado, astronauta, ginasta ou atleta. Alguém que você gostaria de ter em sua
equipe e com quem você poderia contar.

Metas no relacionamento: realiza manobras para ganhar proximidade. Pode estar perto
de outro se estiver no comando. Ele troca seu caminho. Dará uma certa quantia desde
que receba uma quantia igual de volta. Pode sabotar relacionamentos.

Cura: os rígidos devem buscar expressar sentimentos e necessidades diretamente. Têm


de ser gentis com eles mesmos. Devem se sentir encorajados a aprender como relaxar
e têm de parar de ser produtivos, às vezes. Devem começar a desfrutar do prazer de
não ter de fazer nada, parar de planejar. Devem aprender a jogar mais. Recomenda-se
que pratiquem exercícios de forma mais livre, como jogar frisbee na praia, e menos
exercícios competitivos.

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Exemplos de rígido: a maioria dos astronautas têm essa personalidade, assim como
um sargento militar (ele busca o controle, não necessariamente o poder). São bons
em liderar e em dar direção.

Psicopata

Agenda: busca pelo poder. Frequentemente, tem uma história de ser controlado ou
dominado por um dos pais ou por um irmão mais velho enquanto crescia. “Posso estar
perto se estiver no comando” torna-se o lema da intimidade.

Cronograma para ferimentos: a busca pelo poder torna-se instilada entre as idades de
dois e quatro anos. A criança anseia por independência, mas, em vez disso, é esmagada
por se sentir impotente; então, ela faz a escolha de nunca mais ficar impotente.

Estrutura corporal: sexo masculino – pode ter um torso poderoso, erguido, braços
grandes, ombros largos, com o queixo projetado para a frente. Pode ter um peito
grande e pernas fracas. Toda a energia tende a ser puxada para cima e para fora.
Um psicopata também pode ser baixo e redondo ou ter aparência baixa e mansa (Adolph
Hitler e Napoleão Bonaparte, que tinham essas características, eram psicopatas). Sexo
feminino: geralmente tem seios grandes e uma figura bem torneada e sedutora. Fofa
e irresistível, ao mesmo tempo atraente e de tirar o fôlego. Ela também pode estar
no lado mais pesado, que, muitas vezes, pode se assemelhar ao tipo de personagem
masoquista. Tanto o homem quanto a mulher psicopata têm olhos fortes, vigilantes e
cautelosos, que encaram firmemente. Também podem ter olhos tímidos e sedutores.
Eles não têm medo de olhar nos seus olhos. Ambos são bonitos por fora, enquanto
sua dor emocional pode ser carregada por dentro. A cabeça é mantida firmemente
em autocontrole. Eles geralmente têm uma energia não ancorada porque suas pernas
são fracas.

Medos: medo profundo de ser dominado ou subjugado. Eles têm dificuldade em admitir
a derrota. Medo de ser usado. Extremamente competitivo. Não gosta de perder em
nada. Medo de parecer mal ou cair em desgraça. Tem pensamentos como “Eu nunca
devo estar errado”. Para nunca se render, nunca reconhece sentimentos publicamente.
Os sentimentos são um sinal de fraqueza.

Padrão energético: esses indivíduos geralmente estão congelados em seu núcleo com
uma divisão interna/externa. Eles podem parecer saudáveis e equilibrados por fora,
mas têm um conflito profundo por dentro. Eles não gostam de parecer fracos ou
imperfeitos. A aparência é de vital importância para eles. Podem ter pescoço e coluna

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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

rígidos, com uma raiva reprimida ao fundo. Com a versão masculina, mais energia
sobe para a parte superior do corpo e menos para os órgãos genitais. A versão feminina
costuma ser exatamente o oposto, pois a energia viaja fortemente para baixo para
sobrecarregar a pelve. Isso pode criar uma pessoa exageradamente sexual, mas muitas
vezes sentimentos profundos são perdidos no processo.

Características: frequentemente, os psicopatas podem ser sorrateiros. Eles podem


mostrar, na aparência externa, que estão em boas condições, mas, a portas fechadas,
coisas sombrias podem acontecer. Estão profundamente envolvidos com suas imagens.
Eles vão comprar roupas caras, carros, casas, joias etc. para parecer que chegaram ao
topo. Não estão dispostos a mostrar fraqueza, o que inclui fraqueza emocional. Eles se
esforçam para ter prazer, como pedir uma garrafa de vinho cara ou fumar um charuto
agradável. Frequentemente, intimidam ou seduzem para permanecer na posição
de poder. São bons em manipulação e em intimidação. Muitas vezes, gastam uma
quantidade excessiva de tempo tentando encontrar esquemas de como permanecer
no poder. Desconfiam de outras pessoas que possam tentar tirar seu poder.

Podem ter amizades profundas com outras pessoas como ele (porque se entendem). No
entanto, podem se cercar de outras pessoas que não são pessoas de poder. Assim, eles
nunca terão ninguém para desafiá-los. Procuram manter por perto pessoas mansas
e ingênuas que eles possam manipular e que não possam desafiar sua autoridade.
As pessoas que podem enfrentá-los são removidas de sua vida. Eles precisam estar
no controle e puxar todas as cordas. Precisam de intimidade, mas apenas enquanto
tiverem o poder. Não desistirão do poder para serem íntimos. Em outras palavras,
mesmo que sintam uma tristeza profunda, podem não chorar, porque isso significaria
demonstrar uma perda de poder.

Em relação à mulher psicopata, a sexualidade é usada como um jogo de poder para


conquistar. O desempenho é mais importante que o prazer sexual. Ela tenta parecer
fraca no começo com seu charme, então vai dominar o parceiro uma vez que tenha
assegurado o poder. Ela pode ser como a Venus Fly Trap ou a Black Widow Spider,
atraindo no início, depois sendo dominante e mortal no final. Sempre precisa ser um
acima. Vai se cercar de pessoas ingênuas e crédulas. Muitas vezes, ela está envolvida
em um jogo estratégico para ganhar poder e se cerca de outras pessoas que não têm a
menor ideia de que está acontecendo um jogo.

Esse tipo de personagem geralmente paga a conta em um restaurante para parecer


poderoso. Tem uma carreira empolgante, como advogado, médico, ator ou político.
A carreira é muito mais gratificante e importante que a família ou os filhos.

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Muitas vezes, é muito astuto e esperto. Frequentemente, agirá com raiva se seu poder
for tirado. Frequentemente, possui o caráter de um “camaleão”, pois é facilmente
capaz de se moldar a diferentes estratégias para permanecer no poder. Se o bullying e
a dominação se tornarem ineficazes, ele pode recorrer à sedução e ao charme. Ele não
fica necessariamente bravo: eles se vingam. Com frequência tem tendências narcisistas,
acreditando que ele próprio é o centro do universo.

Forças: os psicopatas são muito orientados para o sucesso. São bons líderes, gerentes
de outras pessoas e capazes de ver o “quadro geral”. São bons oradores públicos e bons
costureiros. Possuem um eu público muito polido. Podem ser charmosos e carismáticos,
bem como divertidos e frios sob pressão. Eles são bons planejadores, executivos de
negócios, estadistas e CEOs de empresas. São bons presidentes, generais, vendedores,
xamãs, papas, médiuns, líderes mundiais e médicos. Eles abraçam a função de estar à
frente de qualquer organização.

Metas nos relacionamentos: eles podem ter intimidade se permanecerem no poder.


Frequentemente, escolhem relacionamentos unilaterais com alguém que é mais fraco
(emocionalmente) do que eles. Eles precisam ser procurados e perseguidos. Precisam
“vestir a calça” no relacionamento. Precisam ter seguidores, e quanto mais, melhor.
É comum governarem pelo caos, colocando as pessoas umas contra as outras, em vez
de agirem como pacificadores.

Cura: pessoas com personalidade psicopata devem se permitir desenvolver confiança


nos outros. É necessário equilibrarem suas perspectivas a respeito do poder.
Precisam aprender a se autofortalecer em vez de roubar o poder dos outros. Devem parar
com a manipulação, precisam ser mais diretas e verdadeiras. Devem aprender a se sentir
vulneráveis. Precisam trabalhar a raiva que nutrem por alguém logo no início, quando
essa pessoa tira seu poder. Devem ser pacientes. Precisam se sentir respeitadas. Elas
precisam se sentir no comando para que possam ter intimidade e devem ter permissão
para tomar suas próprias decisões sem que alguém lhes diga o que fazer.

46
CAPÍTULO 2
Baixa Carga de Energia

Na Teoria de Wallon, compreende-se o aspecto afetivo como a competência para tocar


e contagiar o outro, para que ele considere as suas solicitações. “O bebê afeta o meio que
o circunda, obtendo respostas deste para suas necessidades” (DUARTE; GULASSO,
2006, p. 25). Wallon relacionou tônus e emoção intrinsecamente, influenciando-se
dialeticamente. Segundo o autor, “[...] no estágio impulsivo-emocional, que abrange o
primeiro ano de vida, o colorido peculiar é dado pela emoção, instrumento privilegiado
de interação da criança com o meio” (GALVÃO, 2005, p. 43).
Esse estágio começa quando a criança tem por volta de um ano e se estende até os
três anos de idade. Tem como característica a investigação e a exploração da realidade
externa, a aquisição, pela criança, da capacidade simbólica e o início da representação.
Nele, a inteligência se dedica à construção da realidade. Pela exploração diversa dos
objetos, a criança busca coordenar as ações às suas consequências. “Pela organização
de suas ações, ela discrimina diferentes movimentos e os efeitos sensoriais, visuais,
auditivos e cinestésicos, tornando sua atividade cada vez mais planejada e organizada
voluntariamente” (COSTA, 2006, p. 32).
Duas aquisições importantes aumentam as capacidades exploratórias da criança neste
estágio: a marcha e a linguagem. Ao se deslocar livremente pelo espaço, a criança
desenvolve uma inteligência prática, que é favorecida pela linguagem, uma vez que
“[...] o nome dado aos objetos assim como sua identificação e localização ajudam a
criança a distingui-los, compará-los e agrupá-los em diferenciações gradativas, quanto
à cor, tamanho, forma” (COSTA, 2006, p. 33).
A linguagem é decisiva para o desenvolvimento psíquico da criança. O andar e a
linguagem possibilitam a ela o acesso ao mundo dos símbolos. Nesse momento, “entra
em cena a segunda parte deste estágio, a etapa projetiva, que determina a ‘forma de
funcionamento mental da criança: o ato mental projeta-se em atos motores’” (WALLON,
1978 apud COSTA, 2006, p. 33). Ao contrário do que ocorre no estágio anterior, neste
“predominam as relações cognitivas com o meio (inteligência prática e simbólica)”
(GALVÃO, 2005, p. 44). O fortalecimento da função simbólica, de desdobramento e
de substituição da realidade da criança, agindo sobre o meio, poderá diferenciar sua
personalidade da do outro. Dessa forma, segundo Galvão (2005), a criança pode atingir
o próximo estágio, que é o do personalismo.
Segundo Galvão (2005), o estágio do personalismo compreende a faixa etária que vai
dos três aos seis anos e tem como foco central o processo de formação da personalidade.

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Todas as conquistas alcançadas nos estágios anteriores são essenciais para as exigências
dessa nova etapa da vida da criança. Neste sentido, “[...] a consciência corporal é condição
fundamental para a tomada da consciência de si, para o processo de diferenciação
eu-outro, e pode ser compreendida como o prelúdio da constituição da pessoa” (BASTOS;
DÉR, 2006, p. 39).

A criança, aos poucos, vai tomando consciência de sua condição de ser social que luta
para se individualizar. Para assimilar a noção de pessoa na Teoria de Wallon, deve-se
compreender a integração da inteligência, da afetividade e do ato motor.

O estágio do personalismo é marcado por três fases:

» oposição;

» sedução;

» imitação.

Próximo aos três anos, inicia-se a crise de oposição ao outro, em que, “para conseguir
o que deseja, a criança é capaz de mentir, de usar a força ou, caso contrário, recusa-se,
indignada, a emprestar um brinquedo que o irmãozinho deseja, só porque tem
ciúme, mas o empresta com alegria a uma pessoa a quem admira” (BASTOS; DÉR,
2006, p. 41).

A crise de oposição representa uma necessidade de afirmação do eu da criança, que


busca uma diferenciação do outro. Após essa fase, surge a fase da sedução. Nessa etapa
de seu desenvolvimento, a criança precisa do reconhecimento do outro, especialmente
dos adultos, fazendo o possível para agradá-los. Segundo Bastos e Dér (2006, p. 42),
Wallon acreditava que essa necessidade da criança por aprovação está relacionada à
“sobrevivência da participação mútua, experimentada ainda no primeiro ano de vida,
que a ligava às pessoas por meio do contágio emocional”.

A fase dos três aos cinco anos é decisiva para o desenvolvimento da criança. É necessário
que a resolução de suas frustrações e arrogâncias seja bem orientada pelo adulto, pois,
caso isso não aconteça, elas podem marcar, de forma duradoura, a maneira como a
criança se relacionará com o ambiente.

A terceira fase do personalismo é marcada pela imitação – não de gestos, mas de papéis
e dos personagens preferidos da criança. Por meio da imitação, a criança busca ampliar
e enriquecer suas possibilidades, incorporando o outro, o que “exige um movimento
de interiorização e exteriorização que torna possível copiar e assimilar as qualidades

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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

e méritos da pessoa-modelo e, posteriormente, reproduzi-los de forma enriquecida,


como uma manifestação nova da pessoa” (BASTOS; DÉR, 2006, pp. 43-44).

Após conscientizar-se de que é uma pessoa distinta dos outros, a criança busca
compreender qual é sua posição nas relações que estabelece com eles, iniciando tal
entendimento pelo meio familiar. “Além da família, o meio escolar é fundamental
para o desenvolvimento, pois é diversificado, rico e oferece novas oportunidades de
convivência para a criança que, ainda nesse estágio, tem como referência principal a
família” (BASTOS; DÉR, 2006, p. 45). Segundo Galvão (2005, p. 44), “a construção
da consciência de si, que se dá por meio das intervenções sociais, reorienta o
interesse da criança para as pessoas, definindo o retorno da predominância das
relações afetivas”.

Quando a criança tem aproximadamente seis anos de idade, inicia-se o


estágio categorial. Nele, a criança aprende a nomear corretamente os objetos,
separá-los de si e perceber que eles existem independentemente da sua pessoa. De
acordo com Amaral (2006), esse estágio traz importantes progressos no plano da
inteligência infantil devido à consolidação da função simbólica e à diferenciação
da personalidade realizadas no estágio anterior.

A criança continua a se desenvolver nos planos afetivo e motor, porém o campo


intelectual é destacado. Ela se reconhece pertencente a vários grupos, nos quais exerce
papéis diferentes.

Outra ocorrência significativa desse estágio é a melhora da capacidade de manter a


atenção. Conforme Amaral (2006, p. 52), “[...] a maturação dos centros nervosos de
discriminação e inibição, que tornam possível uma acomodação perceptiva e mental
e a inibição da atividade motora, possibilita que a criança permaneça concentrada em
uma ação por mais tempo do que conseguia no período anterior”.
O estágio categorial apresenta duas etapas específicas:
» pensamento;

» pré-categorial.

A primeira vai aproximadamente até os nove anos e é marcada pelo sincretismo.


Na segunda etapa, entre os nove e 10 anos, ocorre a formação de categorias intelectuais
como elemento de classificação, o que vai permitir à criança compreender o mundo
utilizando categorias para ordenar a realidade (AMARAL, 2006).

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Os pensamentos pré-categorial e categorial caracterizam a inteligência discursiva.


A criança não consegue manter sua atenção em uma unidade por vez: objetos e situações
só podem ser pensados por ela quando relaciona uma coisa à outra.

No pensamento por pares, a criança não consegue operar com sistemas de relações;
as noções de tempo e lugar se embaraçam no curso de suas ideias. A criança não sabe
separar a qualidade do objeto, não consegue ainda abstrair (AMARAL, 2006, p. 55).

Por volta dos nove ou 10 anos, a formação de categorias intelectuais permitirá à criança
identificar, analisar, definir e classificar objetos e situações. De acordo com Amaral
(2006), com seu crescimento e participação no ambiente cultural, ela pode organizar
seu pensamento em torno de noções fundamentais, como as de tempo, de espaço e
de causa. Para Galvão (2005, p. 44), “os progressos intelectuais dirigem o interesse da
criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior, imprimindo
às suas relações com o meio preponderância do aspecto cognitivo”.

Esse estágio tem início aproximadamente aos 11 ou 12 anos e é marcado pela crise da
puberdade, a qual, segundo Galvão (2005, pp. 44-45) “rompe a ‘tranquilidade’ afetiva
que caracterizou o estágio categorial e impõe a necessidade de uma nova definição
dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais
resultantes da ação hormonal”. Ainda de acordo com a autora, esse processo traz à tona
questões pessoais, morais e existenciais, retomando a predominância da afetividade.

O estágio da adolescência é a última etapa que separa a fase infantil da fase adulta.
A passagem pela adolescência gera diversas e importantes transformações na vida da
criança. Surge a necessidade de ocorrer uma reorganização do seu esquema corporal
para a construção de sua personalidade. Nessa fase, “voltam a preponderar as funções
afetivas, isto é, a construção da pessoa, de sua identidade vai ocupar o primeiro plano,
parecendo absorver e monopolizar as disponibilidades do jovem.” (DÉR; FERRARI,
2006, p. 61).

Na adolescência, a capacidade de representar mentalmente amplia-se significativamente.


O jovem adora o desconhecido e a novidade. Os exercícios de imaginação contribuem
para os progressos intelectuais ocorridos nessa etapa, possibilitando a ele obter maior
conhecimento de si, do outro e da vida.

A tomada de consciência temporal de si transforma profundamente a inteligência e a


pessoa do jovem e torna-o acessível a certos raciocínios de moralidade, a certos modos
de conhecimento que o induzem a buscar as leis que fazem as coisas existirem (DÉR;
FERRARI, 2006, p. 61).
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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

As leis expressam uma relação constante e necessária entre os fenômenos. A razão, em


determinado momento da adolescência, torna-se prioritária para o desenvolvimento
de qualquer pensamento do jovem, que se mostra, então, capaz de apreender o mundo
exterior como uma construção coerente e inteligível. Segundo Dér e Ferrari (2006),
quando o desenvolvimento do adolescente começa a se orientar para objetivos precisos,
no trabalho e no estudo, e suas escolhas possuem fins definidos, é sinal de que ele está
abandonando a adolescência e inserindo-se nos compromissos da idade adulta.

Para a psicomotricidade, não é tarefa fácil afastar-se dos modelos tradicionais de


avaliação que estão ancorados na observação do produto final daquilo que a criança
é capaz de realizar, uma vez que ela se nutre das considerações de diferentes campos
de estudo (RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

Figura 3. Avaliação do comportamento.

Fonte: https://previews.123rf.com/images/sylverarts/sylverarts1805/sylverarts180500561/101236801-mental-health-and-psychology-
concept-vector-icon-or-logo-design-human-anatomical-brain-in-a-shape-of.jpg.

A avaliação feita por Rodríguez e Llinares (2008) baseia-se na observação grupal e, a


partir de diferentes parâmetros, leva em consideração características individuais de
cada criança, como forma de avaliar suas competências e o tipo de ajuda necessária.
Além disso, contempla a proposta da Psicomotricidade Relacional fomentada no jogo e
no respeito à espontaneidade da criança e se distancia dos modelos que focam somente
o desenvolvimento neuromotor mediante a aplicação de tarefas.

O psicomotricista relacional respalda-se na observação da expressividade


psicomotora da criança, unindo-a a informações e detalhes trazidos pelos pais
sobre sua vida. Segundo Rodríguez e Llinares (2008), esse conjunto de fatores

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

permite a ele avaliar as competências das crianças em suas diferentes áreas


(motora, cognitiva, comunicativa e socioafetiva).

A sessão de avaliação de Sanchéz e Llorca segue um esquema similar ao da prática


psicomotora relacional e leva em conta as considerações de Lapierre e Aucouturier
referentes ao encontro entre a criança e o psicomotricista – o qual deve se colocar
disponível para responder às demandas da criança em uma situação de jogo, por meio
de materiais específicos distribuídos no tempo e no espaço em função de sua idade e
possibilidades (RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

Tendo em vista que o espaço da sala de Psicomotricidade é atrativo para a criança,


é importante dar a ela um tempo para explorá-lo. Enquanto isso, o psicomotricista
relacional deve se fazer presente para conseguir que a criança o aceite como parceiro.

Dessa forma, a criança vai se desvinculando do local seguro que possui com seus
familiares, geralmente presentes na primeira sessão, e passa a brincar (RODRÍGUEZ;
LLINARES, 2008).

O psicomotricista relacional, ao se ajustar às características da criança, deve organizar


a sessão de forma a providenciar um espaço amplo, livre de objetos, que lhe permita
observar as possibilidades ou modalidades preferidas utilizadas por ela para se deslocar no
espaço sensório-motor, situado em cantos da sala, onde se desenvolvem as brincadeiras
que facilitam a observação de sua expressividade psicomotora (que corresponde às
sensações internas do corpo: giros, balanceios, saltos, equilíbrios, subidas, descidas).

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CAPÍTULO 3
As Emoções: Tristeza e Raiva,
Sexualidade Frágil e Amor Dependente

A partir daí, acrescentam-se as sensações visuais, o encontro com o olhar do outro


(aparecimento e desaparecimento) e as brincadeiras relacionadas com o segundo
nível da expressividade motora de conteúdo pré-simbólico (agrupar-dispersar,
encher-esvaziar, empilhar-derrubar).

Segundo Rodríguez e Llinares (2008), paulatinamente, em função das capacidades e


aptidões manifestadas no jogo da criança, o psicomotricista relacional deve disponibilizar
materiais que facilitem o surgimento do jogo simbólico ou socializado e que compõem
seu terceiro nível de expressividade motora. Nessa primeira parte da sessão, o foco
deve estar no movimento e nas emoções. A seguir, devem ser apresentados à criança
materiais que favorecem a representação gráfica, a modelagem e as construções.
Dessa forma, o psicomotricista relacional poderá avaliar suas estratégias, sua capacidade
para solucionar problemas (jogos perceptivos e de manipulação) e o desenvolvimento
da linguagem (contos e histórias) (RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

A sessão, registrada em vídeo, permite ao psicomotricista relacional avaliar a criança


com base nos conceitos de unidade funcional de Wallon e estruturação recíproca de
Mucchieli: a relação consigo (a descoberta do corpo e a formação do eu), a relação com
os objetos (percepção das formas, tamanhos, cores, volume e a relação entre os objetos)
e a relação com os demais (aceitação, adaptação e respeito ao outro) (RODRIGUÉZ;
LLINARES, 2008).

De acordo com Rodríguez e Llinares (2008), os dados colhidos devem ser organizados
em um guia de observação dos parâmetros psicomotores construído pelo próprio
psicomotricista relacional. Com esses dados, organizam-se as informações, tendo como
base os parâmetros e as estratégias psicomotoras, para que seja possível a elaboração
de um plano de trabalho que defina a frequência e o tipo de sessão que será utilizada
(individual e/ou grupal).

No âmbito motor, os aspectos mais importantes a serem observados durante a expressão


psicomotora espontânea da criança são:
» Domínio corporal: coordenação.

» Visual e manual: coordenação.

» Dinâmica: equilíbrio.

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

» Habilidades manipulativas.

» Grafomotricidade: expressividade corporal.

» Prazer sensório-motor: desprazer/medo.

Ao brincar e explorar objetos, relacionar-se com o adulto e com o grupo e se deslocar


no espaço e no tempo, a criança põe em evidência suas habilidades manipulativas
e o que domina em relação ao seu corpo. Segundo Rodríguez e Llinares (2008), ao
explorarem o espaço sensório-motor, as crianças se conectam com sensações de prazer
e evidenciam, por meio de sua expressividade psicomotora, suas seguranças emocional
e afetiva, além de suas competências motoras.

Nesse contexto, é importante observar se a criança apresenta segurança ou


insegurança em relação às suas competências motoras; se acede rapidamente ao espaço
sensório-motor ou se resiste a buscá-lo; se corre, caminha, pula com firmeza ou de
maneira descoordenada; se prefere se descolar em quatro apoios, sentada ou rolando
o corpo; se há repetições em seus movimentos; se consegue saltar e qual o grau de
dificuldade dos saltos que realiza; se prefere ou evita os materiais que exigem maior
coordenação; de que maneira se mantém em pé, sentada, deitada ou em quatro apoios;
como joga com as bolas.

Também é fundamental verificar como a criança lida com os limites e frustrações nesse
espaço, que uso faz da vocalização e dos gestos; como se comporta diante da espera
e de situações que despertam certas emoções e ansiedade (se corre, grita, agita-se, se
consegue manter a calma, se o corpo se mantém estabilizado).

Investigar se a criança se mostra agitada e se consegue iniciar e permanecer nas


brincadeiras também é importante. O profissional deve constatar se ela tem força
adequada ao lançar objetos, se chega a mirar os alvos com precisão e se consegue estar
atenta às regras colocadas pelo adulto.

As atividades grafomotoras (pinçar, pressionar, fazer traços, fazer e obedecer aos


contornos) merecem atenção para que a motricidade fina possa ser analisada.
A capacidade de reconhecimento das partes do corpo e a definição da lateralidade
devem ser verificadas.

O psicomotricista relacional precisa dar segurança às crianças para que possam


explorar espontaneamente os materiais e o espaço sensório-motor, evidenciando,
com isso, seu mundo interno.

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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

Os processos que a criança utiliza para aprender e o nível de seu desenvolvimento


cognitivo podem ser observados por meio do brincar espontâneo, já que ela precisa
refletir, articular, ponderar, organizar, estruturar e articular a informação que obtém
e a resposta que devolve.

Dessa forma, para que o psicomotricista colha dados acerca do desenvolvimento


cognitivo da criança, os seguintes aspectos devem ser verificados durante o brincar
espontâneo:

» utilização dos materiais;

» função simbólica;

» permanência na atividade;

» atenção visual;

» solução de conflitos;

» capacidade de representação;

» criatividade.

Importa ao psicomotricista verificar, no brincar da criança, suas habilidades perceptivas


e visuais e espaciais ao discriminar formas, cores, tamanhos, texturas, volumes e pesos.

O uso que a criança faz do material é algo fundamental a ser analisado, pois indica se
ela interage com ele de maneira repetitiva, pouco criativa, funcional, pré-simbólica
ou simbólica.

Além disso, o nível de complexidade do jogo permite a expressão de sinais evidentes


sobre os processos cognitivos da criança. Nessa dinâmica, vale observar se a criança
tem iniciativa ou se está sempre à espera das propostas do adulto e se assume papéis
no jogo, desenvolvendo-os com riqueza de detalhes.

A aptidão para manter-se atenta e concentrada é uma informação relevante a respeito


da criança, além da forma como explora os materiais e o espaço, pois é nessa exploração
que se manifestam, muitas vezes, os comportamentos impulsivos e pouco sistemáticos.

Conseguir se colocar no lugar do outro, assumindo diferentes personagens de forma


criativa e com emoção, é um grande indicativo do desenvolvimento cognitivo da criança,
pois aponta para sua capacidade de simbolização, como também para a possibilidade de
investir nos objetos, suprimindo suas características reais e conferindo-lhes outras mais

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

simbólicas e análogas a sua vida emocional. Nesse contexto, de acordo com Rodríguez
e Llinares (2008), é interessante observar também que tipo de identificações a criança
faz ao escolher os papéis no jogo.

A prática psicomotora impulsiona e amplia a atividade das crianças à medida que elas
constroem conhecimento por meio de suas experiências (RODRÍGUEZ; LLINARES,
2008).

Segundo Rodríguez e Llinares (2008), o psicomotricista deve levar em conta como são
formadas as ideias prévias das crianças para além de sua coerência ou incoerência, para
que elas tomem consciência delas e possam modificá-las. Dessa forma, o profissional
facilita a conexão entre os conhecimentos de que a criança já dispõe e os que poderá
adquirir, associando a esfera cognitiva à afetiva.

O jogo espontâneo possibilita ao psicomotricista avaliar as capacidades comunicativas


da criança, verificando se existe uma intenção que se manifesta por meio da linguagem
oral, corporal ou gestual e dos diferentes usos pragmáticos que ela faz da linguagem:
instrumental, regulador, interativo, imaginativo ou representativo. Nesse sentido, ao
brincar, a criança informa sobre suas possibilidades de compreensão e de expressão
por meio de sua capacidade para entender as diferentes propostas – como também por
meio das verbalizações que realiza nos diferentes momentos da sessão (RODRÍGUEZ;
LLINARES, 2008).

Sendo assim, importa ao psicomotricista observar, no jogo, as seguintes capacidades


comunicativas da criança:

» Usos comunicativos da linguagem: instrumental, regulador.

» Interação, imaginação, representação, sem relação ao contexto, não associadas


à ação.
» Compreensão textual e oral.

» Verbalizações nos rituais de entrada e saída.

» Expressividade e complexidade na construção das frases.

» Sentido das verbalizações.

» Intenções comunicativas: com os adultos e com os colegas do grupo.

Durante as verbalizações iniciais, o psicomotricista relacional verifica se a criança


está disponível para falar sobre sua vida, seus brinquedos, sua escola, seus irmãos,
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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

seus amigos, sua casa. Ao final da sessão, importa observar como a criança aborda
temas, brincadeiras e relações vividas no brincar, se consegue utilizar a linguagem sem
necessariamente ter de usar o corpo ao mesmo tempo para expressar o que fala, se
gostou ou não, o que espera para a próxima sessão e, por fim, verificar sua capacidade
para se despedir, após encerrada a situação, uma vez que a confiança no adulto e no
grupo foi desenvolvida no jogo (RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

Segundo Rodríguez e Llinares (2008), averiguar o sentido e a complexidade das produções


das crianças é substancial, tendo em vista que algumas delas apresentam uma linguagem
elaborada e intelectualizada, muito parecida com a do adulto, mas desconectada de
suas vivências e emoções, enquanto outras utilizam palavras rebuscadas e complexas,
mas não compreendem as perguntas e reflexões propostas pelo psicomotricista.

O significado daquilo que a criança verbaliza, associado à tonicidade de sua expressão,


dá sinais veementes sobre seu estado e suas tensões internas, sua história, seus medos e
preocupações; cada criança tem um discurso que diz algo a respeito de seus interesses
vitais (RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

Conferir as facilidades e as dificuldades linguísticas da criança, buscando perceber


se é possível entender o que ela diz, é fundamental para o reconhecimento de quais
são os aspectos importantes de sua capacidade comunicativa. As dificuldades de
compreensão devem ser mais bem investigadas quando a criança tende a repetir as
perguntas ou frases do psicomotricista; utiliza os tempos verbais de forma inadequada;
possui um vocabulário escasso; não apresenta fluidez no curso de uma conversa com
o psicomotricista ou com os colegas do grupo.

A atitude dos pais durante a sessão de avaliação é muito interessante e fornece dados
sobre as condutas socioafetivas da criança e sobre o lugar que ocupa na família.
Alguns tendem a pressionar os filhos para que aceitem entrar no jogo mais rapidamente.
Outros mostram-se mais inseguros e terminam por aumentar a insegurança do filho.
Há ainda aqueles pais que respeitam o tempo da criança, assumem posturas mais
acolhedoras, e, ao mesmo tempo, asseguradoras, estimulando a criança a aceitar o
novo desafio (RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

Algumas famílias insistem que os filhos se relacionem e brinquem com o


psicomotricista. Há aquelas que não suportam ficar em segundo plano e invadem
o espaço que deveria ser reservado para a criança se expressar e falar sobre si.
Alguns pais riem e se surpreendem com aquilo que seus filhos são capazes de
fazer; outros se frustram ao perceber, de fora, as dificuldades da criança.

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Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

Há ainda aqueles que se aborrecem e se distraem, falam ao telefone, passam a reler


os laudos médicos disponíveis, desviando a atenção que deveria estar voltada para
o filho. Há pais, contudo, que observam a sessão tranquilamente e sem interferir
(RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

Nesse contexto, é importante observar se a criança consegue enfrentar a situação


da avaliação com segurança ou se se mantém próxima aos pais. O ideal é que esse
processo de separação aconteça ao longo da sessão. De acordo com Rodríguez e Llinares
(2008), algumas crianças, em momentos de angústia e medo, tendem a buscar os pais
durante a sessão; outras os têm como referência para mostrar o que são capazes de
fazer, enquanto há também aquelas que não sentem a necessidade de buscar o olhar
da família em nenhum momento.

A sala de Psicomotricidade é um lugar privilegiado para a observação da expressividade


psicomotora da criança, uma vez que ela manifesta sua forma de ser e estar no mundo.
A observação informa se a criança se isola ou se inibe em determinadas situações; se
requer constantemente o reconhecimento e a aprovação do psicomotricista porque sua
autoestima é baixa; se consegue se afirmar diante do adulto ou se se sente onipotente;
como são suas relações; se se apresenta agressiva, ou, pelo contrário, coopera, mostra-se
solidária e tolerante; se manifesta suas emoções por meio da risada, do choro, do gesto,
do olhar; se é uma criança de aparência triste, alegre ou desconfiada; se se perde em
condutas estereotipadas ou se é capaz de tomar iniciativa sem depender das propostas
do adulto (RODRÍGUEZ; LLINARES, 2008).

Nesse contexto, é importante que o psicomotricista observe as seguintes condutas


socioafetivas:

» Condutas de isolamento.

» Expressão das emoções.

» Inibição/desinibição (perante quais situações?).

» Agressividade oral, agressividade corporal, autoagressividade.

» Autoestima.

» Condutas sociais: cooperação, solidariedade, tolerância.

» Aceitação de normas.

» Conteúdo das relações com os colegas e com os adultos.

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A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

» Condutas de isolamento.

» Expressão das emoções.

» Condutas estereotipadas.

» Capacidade de iniciativa.

» Apego à família.

» Aceitação de normas.

» Conteúdo das relações com os colegas e com os adultos.

É importante observar também se a criança, ao brincar com o adulto, consegue


diferenciar a fantasia da realidade; se é capaz de brincar sem machucar o outro e sem
se machucar, mesmo que tenha um comportamento mais impulsivo; e se consegue
expressar suas emoções.

Desenvolvimento, Sedução e Apego


à Imagem
A avaliação psicomotora baseada na Bateria Psicomotora (BPM), de Vitor da Fonseca,
visa detectar o perfil da criança para, a partir daí, acompanhar seu desenvolvimento
psicomotor e elaborar um plano específico de ação para aquelas que apresentam algum
atraso ou dificuldade psicomotora. Além disso, é possível oferecer às crianças (não
somente àquelas com dificuldades) diversas possibilidades de desenvolvimento.
Em outras palavras, ao definir o nível psicomotor em que se encontram as crianças, o
profissional pode organizar um plano de intervenção e atuar de maneira mais eficaz,
auxiliando quem apresenta dificuldades a superá-las e ampliando as potencialidades
das crianças que não apresentam nenhum problema.
A BPM de Vitor da Fonseca (1995) apresenta uma fundamentação teórica sólida e
considera a subjetividade da criança. É composta por provas simples e necessita de
equipamentos facilmente encontrados pelo profissional. Essa bateria psicomotora
tem aplicação eficiente especialmente com crianças de quatro a 11/12 anos de idade.
A avaliação psicomotora deve contemplar uma visão acerca da criança de forma menos
dicotômica possível, tendo em vista que, atualmente, o conceito de Psicomotricidade
implica “[...] relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência,
de unificação do Ser, que é corpo-mente-espírito-natureza-sociedade” (BARRETO,
2000, p. 19).

59
Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

A avaliação psicomotora da criança pode oferecer subsídios importantes ao profissional,


pois:
[...] o desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção
de problemas de aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da
direcionalidade, da lateralidade e do ritmo. A educação da criança deve
evidenciar a relação através do movimento de seu próprio corpo, levando em
consideração sua idade, a cultura corporal e os seus interesses (BARRETO,
2000 apud CECATO; WEBER; WIPPEL, 2007, p. 21).

A BPM desenvolvida por Fonseca (1995), com base nos trabalhos do pesquisador
russo Alexander Luria, busca abordar a Psicomotricidade por meio de um enfoque
psiconeurológico.

Segundo o próprio Fonseca (1995, p. 98), o objetivo de sua avaliação psicomotora é


tentar “relacionar e justificar os vários fatores e subfatores psicomotores com as três
unidades funcionais do cérebro, segundo o modelo luriano”.

Dessa forma, Fonseca (1995, pp. 98-99) define a avaliação psicomotora como:
[...] um dispositivo diferente das escalas de desenvolvimento motor. Trata-se
de um instrumento baseado num conjunto de tarefas que permite detectar
déficits funcionais (ou substanciar a sua ausência) em termos psicomotores,
cobrindo a integração sensorial e perceptiva que se relaciona com o potencial
de aprendizagem da criança.

A Bateria de Avaliação Psicomotora apresenta limitações, porém tem sido útil como
instrumento de observação do perfil psicomotor e tem auxiliado na compreensão a
respeito de dificuldades de aprendizagem e comportamento de crianças de quatro a
12 anos de idade.

Em suma, a BPM procura analisar qualitativamente a disfunção psicomotora ou a


integridade psicomotora que caracteriza a aprendizagem da criança, tentando atingir
uma compreensão aproximada do modo como trabalha o cérebro e, simultaneamente,
os mecanismos que constituem a base dos processos mentais da Psicomotricidade.

Fonseca (1995), ao fundamentar sua BPM, estabelece uma relação entre as três unidades
funcionais de Luria e os sete fatores psicomotores abordados na Bateria.

Sobre a primeira unidade funcional, que compreende a tonicidade e o equilíbrio, Fonseca


(1995, pp.10-102) afirma que a tonicidade em Luria é equacionada com a função de
alerta e de vigilância que exige a mobilização de certa energia essencial à ativação
dos sistemas seletivos de conexão, sem os quais nenhuma atividade mental pode ser

60
A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade | Unidade II

processada, mantida ou organizada. A tonicidade da BPM é definida essencialmente


em sua componente corporal, isto é, na tensão ativa em que se encontram os músculos,
quando a inervação e a vascularização estão intactas, processando a ativação dos reflexos
intra, inter e supras segmentares que asseguram as acomodações adaptativas posturais.

Para que a criança possa expressar sua vida psíquica e pulsional em seus jogos,
o psicomotricista relacional se coloca como seu parceiro no jogo espontâneo,
conferindo a segurança afetiva necessária a essa dinâmica. Acolher o sofrimento
da criança e escutá-la é fundamental para que ela se sinta segura e possa, além
de expressar-se pela motricidade, modificá-la para manifestações mais saudáveis
em função de uma mudança interna.

É importante que o psicomotricista relacional esteja atento às suas próprias expressões


corporais e faciais para que estas estejam condizentes com aquilo que vive junto à
criança, de maneira a não emitir mensagens ambivalentes a ela. Brincar com o conflito,
com a disputa, com um sorriso no rosto pode significar para a criança que ela não é um
adversário à altura. Conter afetivamente uma criança com um tônus corporal rígido
ou com uma expressão facial distante e desinteressada, por exemplo, pode despertar
nela sentimentos de “menos valia”.

Essa ressonância tônica entre adultos e criança garante a ela a possibilidade de expressar
e elaborar suas dificuldades. Para tanto, é oportuno que o psicomotricista relacional
seja capaz de encontrar prazer ao brincar, utilize-se de sua própria expressividade
psicomotora para se comunicar e tenha uma capacidade de aceitação da expressividade
da criança, seja ela agradável ou não, seja ela afetiva ou agressiva.

Para ser criativo, o psicomotricista relacional precisa confiar em si e em suas intervenções,


sem, no entanto, deixar de sempre rever e repensar suas ações em função daquilo que a
criança apresenta espontaneamente durante a sessão. O seu trabalho se baseia na escuta
e na decodificação do movimento da criança, contudo, ele pode e deve contribuir com
sua criatividade para a sessão, afinal, faz parte dela. Ao introduzir variáveis criativas,
o psicomotricista relacional estimula a criança a buscar novas soluções para seus
conflitos, sempre tendo em mente que aquilo que propõe não pode ofuscar a criança
e sua expressividade.

Intervindo de forma espontânea, o adulto autoriza a criança a também se expressar


espontaneamente e, com isso, informar sobre como ela percebe e se relaciona com
o mundo que a cerca. Colocar a criança em situação de jogo espontâneo possibilita
que ela personifique em suas ações conteúdos inconscientes e significados profundos
relacionados à sua personalidade.

61
Unidade II | A Estrutura Oral e o Adoecimento Ligado à Falta e à Fragilidade

O jogo espontâneo da criança possibilita a expressão do seu desejo de forma criativa,


sem preocupações com o julgamento do outro, mas dentro dos limites da expressão
simbólica. Ou seja, as regras estabelecidas antes da vivência garantem a livre expressão
do imaginário e seu investimento no campo do simbólico.

Em Psicomotricidade Relacional, é relevante não se ater a modelos preestabelecidos.


Ao utilizar sua própria subjetividade como instrumento de trabalho, o psicomotricista
relacional tem a liberdade de deixar fluir sua criatividade, desde que suas propostas e
seu desejo de brincar não se sobreponham às propostas e aos desejos da criança.

Para que as intervenções do psicomotricista relacional possam tocar o outro, é necessário


que sejam espontâneas. A ação espontânea do adulto, ao mesmo tempo que expressa
sua intenção, deve ser fluente e natural, para que promova um efeito benéfico no
outro. O psicomotricista relacional não utiliza uma técnica ao trabalhar, ele atua com
seu saber teórico, com seu saber prático e, principalmente, com sua sensibilidade, o
que permite que ele se conecte com a criança e estabeleça um vínculo com ela para
que, dessa forma, possa perceber suas necessidades.

O adulto é, portanto, parceiro da criança e vibra com ela. Contudo, é importante


ressaltar que esse tipo de intervenção requer um controle por parte do psicomotricista
relacional.

62
SOBRECARGA E
RESISTÊNCIA AO UNIDADE III
ADOECIMENTO

CAPÍTULO 1
Carga Energética e Cisão Corporal

Lowen define a energia do tipo rígido como sendo aquela de “carga razoavelmente
poderosa” “[...] em todos os pontos periféricos de contato com o meio ambiente”.
Ainda apresenta a distribuição energética da estrutura pelo diagrama seguinte. O diagrama
é utilizado pelo autor para representar o enrijecimento do corpo e do fluxo energético
nessa estrutura, representado pelas bordas reforçadas e pelas setas dispostas de forma
rigidamente proporcionais.

Qual a relevância do estudo da Genética para o profissional psicólogo? Junto ao


avanço de técnicas moleculares associadas ao estudo da Genética, genes relacionados
ao comportamento humano estão sendo explorados. Os desequilíbrios emocionais
e comportamentais, aos olhos de um profissional atualizado, cientificamente devem
levar em consideração o histórico familiar, social e ambiental do paciente, baseando-se
sempre em novas informações científicas.

Dessa maneira, qual seria o diferencial de um profissional de psicologia bem preparado


na atualidade? A conexão entre o conhecimento clínico, científico e a atualização
contínua deve guiar o desenvolvimento de um bom profissional. De modo geral, o
conhecimento científico no campo da genética e biotecnologia avança exponencialmente
e, com certeza, novas abordagens vêm surgindo para a compreensão de distúrbios de
personalidade, de humor e de doenças como alcoolismo e depressão, entre outras.

Neste capítulo, descreveremos os fundamentos biológicos da Genética e como ela está


envolvida na organização e funcionamento básico dos seres vivos. Entenderemos como
as biomoléculas são reguladas pelas informações presentes no DNA (Ácido
Desoxirribonucleico), como o genoma humano pode ser analisado e sua organização funcional.

Começaremos conhecendo as razões primordiais pelas quais estudamos a Genética


e como esta motivação se transformou em um importante interesse de cientistas no
mundo todo para descobrir as suas bases biológicas.

63
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

Para tanto, iniciaremos com a descrição das principais teorias que buscavam explicar
a transmissão das características dos genitores para sua prole, mais especificamente
nos seres humanos.

Após fundamentarmos que a transmissão de fatores biológicos é a base da genética,


entenderemos como os cientistas chegaram à conclusão de que o DNA é a molécula
responsável por guardar e transmitir as informações genéticas.

É fácil entendermos hoje que o DNA é a base da herança genética. A evolução tecnológica
impulsiona e estimula novas descobertas e aplicações como nunca antes na história.
Tudo isso chega à nossa percepção de forma tão simples, que podemos ler ou ouvir
sobre genes e doenças nas redes sociais ou em qualquer outro recurso de mídia.
Porém, há milhares de anos, sem recursos nem laboratórios, a única ferramenta
disponível era o processamento das informações pelo sistema nervoso.

Há evidências históricas de que, há 10 mil ou 12 mil anos, onde hoje se situa o


Oriente Médio, as pessoas aplicavam informações sobre hereditariedade para
domesticar animais (cães, bodes e carneiros) e cultivar plantas, tais como trigo,
ervilhas, lentilhas e cevada. Da mesma maneira, o conhecimento da transmissão
de características dos pais para os filhos humanos também é notado ao longo
da história.

Essas e outras observações levaram os gregos, por volta de 400 a.C., a elaborarem a
primeira explicação para a hereditariedade humana: a pangênese. Segundo essa ideia,
pequenas partes de todo o corpo (gêmulas) seriam transportadas para os órgãos
reprodutores e transmitidas para gerar os embriões durante a fecundação.

Diante dessas teorias, será que não parecia óbvio que os filhos eram gerados pela mistura
das informações tanto do pai quanto da mãe? Pois a partir dessa conclusão, no século
XVIII, surgiu o conceito de hereditariedade conhecido como herança por mistura,
defendendo que algumas características do pai seriam combinadas definitivamente
com as da mãe para gerar o filho (COHEN, 2014).

Todas essas ideias foram bem aceitas em cada época. Porém, tudo mudou quando
o monge austríaco Gregor Mendel publicou, em 1866, os resultados estatísticos de
cruzamentos entre ervilhas, criando híbridos. Ficou claro para ele que as características
são determinadas por pares de fatores (futuramente chamados de genes) que se separam
durante a formação dos gametas (óvulos e espermatozoides) e se unem novamente
durante a fecundação, sendo, portanto, transmitidos de uma geração para a seguinte
(COHEN, 2014).

64
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

Apesar de terem sido pouco divulgadas por mais de três décadas, essas descobertas
são a base moderna da hereditariedade e Mendel é considerado o “pai” da Genética.

A partir do reconhecimento do trabalho de Mendel sobre a hereditariedade, em 1900,


ocorreu uma empolgante corrida para esclarecer as bases biológicas e químicas da
hereditariedade. Algumas informações sobre as células, suas estruturas e fisiologia
eram bem conhecidas nessa época, devido aos avanços na microscopia e na bioquímica.

A seguir, apresentamos uma lista cronológica dos principais cientistas e suas contribuições
para a descoberta de que o DNA é a molécula da hereditariedade (COHEN, 2014):

» 1865 – Gregor Mendel (monge e cientista austríaco) descreve as Leis da


Hereditariedade.

» 1900 – Hugo de Vries, Carl Correns e Erich von Tschermark (botânicos)


redescobrem os trabalhos de Mendel.

» 1905 – William Bateson (biólogo inglês) usa pela primeira vez o termo
genética.

» 1910 – Thomas Hunt Morgan (zoólogo e geneticista americano) demonstra


que os fatores hereditários (genes) estão nos cromossomos.

» 1928 – Frederick Griffith (médico e bacteriologista britânico) apresenta


resultados sobre uma molécula de hereditariedade transmissível entre
bactérias, sendo chamada de princípio transformante.

» 1944 – Oswald Theodore Avery, Collin McLeod e Maclyn McCarthy,


pesquisadores do Rockefeller Institute for Medical Research, nos Estados Unidos
da América (EUA), isolam o DNA e apresentam a primeira evidência de
que esse elemento é o princípio transformante.

» 1951 – Erwin Chargaff (bioquímico austríaco, emigrado para os EUA) mostra


que os quatro nucleotídeos que compõem o DNA ocorrem em percentuais
de acordo com regras básicas. A quantidade de adenina é proporcionalmente
igual à de timina, assim como a de guanina é proporcionalmente igual à de
citosina.

» 1952 – Alfred Hershey e Martha Chase, pesquisadores do Departamento


de Genética do Carnegie Institution of Washington (EUA), comprovam que
o DNA é realmente a molécula da hereditariedade.

65
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

» 1951 – Rosalind Franklin inicia seus trabalhos com cristalografia de raio-x


no King’s College, em Londres (Reino Unido), onde registraria a primeira
“foto” do DNA.

» 1953 – James Watson e Francis Crick (revista científica Nature) agrupam


informações prévias e descrevem a estrutura em dupla hélice do DNA.

Mesmo após 1950, ainda não era bem aceita a ideia de que os genes eram feitos de
ácidos nucleicos, em parte pela falta de conhecimento sobre a estrutura do DNA. É
possível imaginar como deve ter sido empolgante, para os cientistas, acompanharem
as mudanças de paradigma ano após ano. Até que, em 1953, a estrutura do DNA foi
descrita por Watson e Crick e definitivamente associada à hereditariedade, esclarecendo
dúvidas milenares no desejo por compreender o sentido biológico da vida.
Até o momento, vimos que o interesse pela Genética é antigo e que a ciência a ela
relacionada progrediu por meio de importantes ideias e descobertas. Nesse sentido,
algumas ideias foram abandonadas e substituídas por evidências experimentais.
Mas a partir dos estudos de Mendel e de outros pesquisadores, sabemos que os pares
de genes determinam nossas características e são transmitidos individualmente pelo
DNA por meio dos gametas. Desde então, o interesse pela Genética cresceu ainda
mais, permitindo considerar o século XX como o Século da Genética.
Com o desenvolvimento das pesquisas nessa área, especialmente pela estrutura do
DNA, o interesse por compostos e moléculas sintetizados pelos seres vivos foram se
aprofundando. Exemplo disso é o entendimento das biomoléculas, conforme veremos
na sequência.
A Genética pode ser percebida pela dinâmica da relação entre biomoléculas, que formam
o alicerce morfológico e funcional das células, unidades básicas da vida.
Assim, para entender melhor essa ciência, a seguir, conheceremos as bases bioquímicas
das células.
Todos os seres vivos são formados de moléculas orgânicas que, por sua vez, são
constituídas de elementos químicos. A maioria dos elementos químicos que compõem
as biomoléculas são o oxigênio (O), o hidrogênio (H), o carbono (C) e o nitrogênio
(N). Os átomos desses elementos são capazes de se agrupar em fortes ligações químicas
(ligações covalentes), formando as moléculas. Duas moléculas diferentes podem unir-se
por meio de ligações mais fracas (não covalentes) e essas ligações permitem que as
moléculas possam se associar e se dissociar para exercer funções específicas na célula.

66
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

A água está presente em praticamente todas as reações metabólicas nos organismos


vivos, e tem a capacidade de manter interação com outras moléculas por meio de ligações
de hidrogênio e propriedade solvente frente a moléculas orgânicas e inorgânicas.

A molécula de água (H2O) é formada por dois átomos de hidrogênio que se ligam
covalentemente a um átomo de oxigênio. Há predomínio de carga positiva nos átomos
de H e predomínio de carga negativa no átomo de O. Essa diferença de polaridade
permite que as moléculas de água se organizem entre elas por meio de ligações de
hidrogênio. As ligações são fracas, rompem-se e se reorganizam de maneira contínua
pelo movimento cinético aleatório decorrente da energia térmica das moléculas.

Além das ligações de hidrogênio, existem outras ligações não covalentes: as ligações
por atração eletrostática, a força hidrofóbica e a atração ou força de Van der Waals.
Essas forças se unem entre si para a estabilização da união entre moléculas.

As forças de Van der Waals são forças intermoleculares fracas que têm origem nas
atrações entre dipolos transitórios produzidos pelos movimentos rápidos dos elétrons
de todos os átomos neutros (COHEN, 2014).

As biomoléculas ou macromoléculas desempenham funções estruturais, enzimáticas,


de produção de energia e de transferência de informações. São representadas por
proteínas, carboidratos, lipídeos e ácidos nucleicos. A forma como se organizam, por
meio de ligações bioquímicas, define seu arranjo estrutural.

As proteínas são polímeros lineares formadas de dezenas a milhares de aminoácidos


unidos pelas ligações peptídicas. Os ácidos nucleicos também são polímeros lineares
compostos de centenas a milhões de nucleotídeos unidos por ligações fosfodiéster.
Os polissacarídeos podem ter estrutura linear ou ramificada composta por monossacarídeos
(por exemplo, a glicose) e são unidos por ligações glicosídicas (COHEN, 2014).

67
CAPÍTULO 2
A Estagnação e a Contenção da Energia

O modo como a energia percorre o corpo, o seu fluxo e a sua quantidade são características
importantes para compreendê-la no contexto da relação entre saúde e doença. A energia
que percorre o corpo livremente, livre de tensões, de estagnação e em quantidade
suficiente, é um indicativo de saúde para Lowen. Primeiramente, a quantidade de
energia que percorre o corpo define o quanto o indivíduo é capaz de lidar com as
situações diversas da vida e o quanto é capaz de se carregar a partir das interações
com o ambiente. A respiração, a alimentação, a vitalidade, o contato, a mobilidade e
a vibração aparecem na literatura como elementos importantes no processo de saúde
(JÚNIOR, 2016).

Como visto anteriormente, o Qi, o Xue e o Jin Ye apresentam padrões característicos


de comportamento, forma e localização. Suas desarmonias básicas, como deficiência,
estagnação e rebelião (que é quando a energia muda radicalmente seu movimento,
geralmente no sentido oposto ao natural) do Qi, deficiência, calor, perda ou estagnação
de Xue e edema, fleuma ou deficiência de Jin Ye, podem ser identificadas nas diferentes
patologias. Esse método é muito utilizado para as patologias internas, sendo muito
relevante na prática clínica.

Padrões de acordo com os órgãos internos


Esses padrões são, na realidade, fruto de uma integração. Também presentes nos
antigos textos médicos, baseiam-se diretamente nas mudanças energético-patológicas
que acometem os sistemas internos de órgãos e vísceras, Zang Fu.

Considerado por muitos o método mais importante e eficaz para diagnósticos e


tratamentos das patologias internas, consiste na aplicação dos oito princípios em um
sistema interno específico, baseando-se nos sinais e sintomas que se originam quando
o Qi e Xue dos sistemas internos estão desequilibrados.

É importante compreender que esse método, embora seja o mais importante na prática
clínica, no que se refere às patologias crônicas do interior, não apresenta uma receita
exata e simples de ser seguida. Afinal, a medicina chinesa é individualizada e cada
um dos padrões apresenta variações tanto em intensidade quanto nas combinações e
interações entre si. Quando descritos, os padrões costumam mostrar casos avançados
de desequilíbrio, mas devemos aprender a identificar os mais sutis sintomas para nos
tornarmos grandes médicos.

68
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

As combinações mais comuns na prática são:


» dois ou mais padrões dentro do mesmo sistema Yin;

» dois ou mais padrões em sistemas Yin distintos;

» um ou mais padrões de um sistema Yin associado a um ou mais padrões de


um sistema Yang (muitas vezes, dentro de um par Zang Fu);
» um padrão exterior e um interior;

» um padrão de um sistema interior associado a um padrão do seu meridiano


correspondente (como dor no local de seu trajeto).

Quando observamos os padrões de cada sistema, devemos discutir, inicialmente, as


funções normais do sistema. Em seguida, deve-se compreender o que está ausente e
diferente do esperado: as manifestações clínicas, a patologia instalada, sua origem e,
então, conseguir definir o melhor tratamento.

Ao invadirem o nosso organismo, pela fraqueza do Wei Qi, os fatores patogênicos externos
(vento, umidade, calor, secura, frio e fogo) levam a mudanças energéticas patológicas,
com sintomas e sinais específicos, que auxiliam em sua identificação. Temos, ainda,
os fatores internos, sendo importante categorizar cada fator patogênico por interior
ou exterior, sempre correspondentes ao padrão de Cheio dentro dos oito princípios.

O vento é um fator patogênico de natureza Yang (como podemos perceber pelo seu
forte e constante movimento) com tendência a danificar o Yin e o Xue. Muitas vezes, ele
serve como um canal, uma via de entrada para a invasão de outros fatores patogênicos
que se ligam a ele, geralmente o calor ou frio. O vento interior costuma se manifestar
de maneira rápida, assim que se instala, com tremores, paralisias ou prurido, afetando
a pele, o pulmão e a parte superior do corpo. Já o vento exterior se apresenta com um
quadro de aversão ao frio e ao vento, acompanhado de espirros, tosse, coriza, dores
por todo o corpo, febre, prurido na garganta e alterações na transpiração.

O frio é um fator patogênico de forte característica Yin, afetando, então, o calor e o


Yang do organismo. Ao invadir os meridianos, o frio causa dor, principalmente nas
articulações e tendões. Por esse motivo, é muito comum o relato de dores articulares
(“nas juntas”, como dizem muitos pacientes), assim que a temperatura começa a baixar.

Outros sintomas comuns da invasão do frio nos Zang Fu são dor epigástrica e vômito
(frio no estômago, que impede a digestão, para a qual o calor é fundamental), dor
abdominal e diarreia (frio nos intestinos. Podemos notar o abdômen gelado, que pode

69
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

ser aquecido com o uso da moxa ou mesmo bolsas de água quente) e dismenorreia
aguda (frio no útero).

O calor é um fator Yang, danificando o nosso Yin. Ele está diretamente relacionado
ao verão, sendo muito mais frequente, mas não exclusivo, nessa época, e se manifesta
com sinais como aversão ao calor, sudorese excessiva, cefaleia, urina escura e
escassa, secura de lábios e da pele e muita sede. A forma extrema do calor é o fogo,
que pode ser derivado de qualquer outro fator patogênico exterior, sempre se
transformando em interior. Embora muito parecidos, o fogo tem natureza mais sólida
que o calor e se move para cima, causando insônia, ansiedade, agitação mental e
úlceras bucais.

A umidade é outro fator Yin, com tendência a afetar o Yang. É um dos fatores mais
difíceis de se eliminar, pois apresenta característica pegajosa e pesada, como um muco,
tornando todos os processos metabólicos mais lentos. Sua invasão costuma ter início
nos membros inferiores, atingindo o sistema reprodutor e causando secreção vaginal,
perda de fezes e queimações urinárias.

Quando a umidade se espalha pelo organismo, ela pode adquirir característica quente
ou fria, o que gera uma sensação de peso onde ela se acumula. Quando a origem é
interna, costuma aparecer em associação a uma deficiência do baço ou rim, diretamente
ligada ao Jin Ye.

Por fim, temos a secura, fator Yang que afeta o Yin e o Xue. Suas manifestações são bem
características e fáceis de identificar, como secura na garganta, rachaduras nos lábios,
boca, pele, língua e fezes secas, além de escassez urinária. Quando surge internamente,
é por deficiência do Yin do estômago ou rim.

Agora é a hora de pôr em prática tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore
um relógio biológico com os horários de energia de cada órgão e insira nele as
suas atividades. Identifique nessas atividades as funções relacionadas ao Zang
Fu predominante e as possíveis patologias a que pode se expor, destacando as
principais ideias abordadas ao longo do capítulo.

Agora, conhecemos os caminhos principais por onde o Qi flui no nosso organismo,


os meridianos de energia. É por intermédio deles que a energia atinge os Zang Fu,
nossos órgãos e vísceras, responsáveis pela manutenção da nossa homeostase, levando
energia Yin e Yang por todo o organismo. Embora com funções específicas, todos
os Zang Fu estão integrados pelos meridianos de energia, de forma que interagem
continuamente entre si, positiva ou negativamente.

70
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

Para que haja saúde, é fundamental o livre fluxo de Qi, permitindo a nutrição de
todos os Zang Fu, seguindo os caminhos da pequena e grande circulação de energia.
Neste capítulo, também conhecemos os fatores patogênicos, responsáveis por
desequilíbrios energéticos que podem culminar em patologias. Podendo ter origem
interna, como as emoções (como uma angústia que somatiza no peito), ou externa,
como os fatores climáticos, esses fatores penetram nosso organismo e determinam
diferentes padrões de doenças (uma invasão de vento que gera cefaleia, o frio que
atinge a coluna etc.). Por exemplo, uma dor de cabeça matinal vem de uma noite mal
dormida, sem descanso do Shen.

Um aperto no peito pode ser angústia e mágoas acumuladas. A dor nas costas, ao fim
do dia, pode vir da falta de energia ou excessos de cobrança. A compreensão do estado
de saúde, dos mecanismos corretos de fluxo e transformação de energia e dos diferentes
padrões de patologias é fundamental para que se consiga distinguir um desequilíbrio.
Respondendo à primeira pausa para refletir, a energia percorre os meridianos, sempre
no mesmo sentido, na mesma sequência e horários.

A polarização Yin e Yang auxilia nesse movimento, gerando o movimento e a


transformação necessários. Já em relação à segunda pausa, se cada órgão recebe um
pico de energia durante duas horas todos os dias, esses são os melhores horários para
tratá-los e exercer suas funções, como respiração e funcionamento dos intestinos.

O melhor horário para a digestão é das 9h às 11h, horário máximo do estômago.


Isso posto, é o melhor horário para uma refeição. Sabendo também dos horários
de energia de cada órgão, podemos evitar atividades físicas nos picos de energia do
coração, estudar quando o baço nos promove o maior foco ou mesmo entender que
se temos uma queixa sempre no mesmo horário, aquele órgão está afetado. Somado a
isso, entender as funções e fraquezas de cada Zang Fu é fundamental para um bom
diagnóstico e, consequentemente, um tratamento eficaz.

71
CAPÍTULO 3
A Contenção e a Supressão do Ego
e do Corpo

Apesar de ainda ser uma estrutura pré-genital, o ego é mais forte do que nas
estruturas anteriores. Um superego severo reflete em uma estrutura muscular densa
e sobrecarregada. Acompanhando o corpo, o ego do masoquista está esmagado como
se tivesse sido apanhado numa armadilha. Na extremidade superior, é o sentimento
forçado e, na inferior, é a imposição de um treino rígido à limpeza das funções excretoras
que constituem as duas repressões. O autor discute como o ego se arma para suportar
essa exigência supressora que vem do externo e inibe tão fortemente os impulsos
internos da criança. No desenvolvimento desta estrutura de caráter, o sistema muscular
da criança em crescimento é subtraído de sua função natural de movimento para dar
lugar à função neurótica de reter. Os músculos se superdesenvolvem a fim de reter
impulsos negativos e controlar os naturais. Ele também faz referência à severidade
com que o superego se forma nessa estrutura. “Estudos analíticos revelaram que o
masoquista tem um superego muito severo. A necessidade de sofrer foi interpretada
como uma tentativa de abrandar o superego, de aliviar as dores de uma consciência
culpada” (JÚNIOR, 2016).

Se a medicina chinesa se baseia no conceito da existência e movimento do Qi, é parte básica


e fundamental a compreensão desses movimentos e os diferentes padrões energéticos
que ele adota, além de suas diferentes manifestações. O estudo dessas características é
chamado de fisiologia energética, no qual categorizamos os movimentos, os meridianos
energéticos por meio dos quais ocorre o fluxo do Qi, os processos de transformações
energéticas, gerando as diferentes formas e funções do Qi, o funcionamento e as
interações específicas entre os órgãos e as vísceras e as interações que o organismo
exerce continuamente com os fatores internos e externos, na busca pela manutenção
do estado homeostásico de saúde e da categorização dos diferentes padrões de doenças.

O princípio básico, quando falamos em saúde, é o livre fluxo do Qi. Para que haja
equilíbrio energético, o Q.I. precisa ser formado, transformado e circular em todas as
suas formas, seguindo canais e rotas específicas. Além disso, cada processo metabólico
necessita de uma dose de energia em momentos corretos. No ritmo circadiano, cada
órgão tem uma faixa de horário diário, recebe uma grande quantidade de energia,
armazenada e utilizada aos poucos.

Como a energia sabe para onde deve seguir no organismo? Esse fluxo de energia
constante deve abranger todos os nossos órgãos, vísceras, envolvendo as substâncias

72
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

fundamentais, nutrição, respiração, defesa. Como esse ciclo é coordenado? Estariam


os fatores Yin e Yang envolvidos nesse fluxo diretamente?

Os canais de energia, pelos quais flui o Qi, recebem o nome de meridianos. Essa teoria,
que conecta os pontos de acupuntura e os relaciona com os órgãos e vísceras, é
amplamente citada em toda a literatura clássica chinesa.

De acordo com a teoria, cada órgão e cada víscera apresenta um par de meridianos
de energia, bilaterais no corpo. Sendo assim, considerando o que temos dentro dos
cinco elementos, resultam dez meridianos. Porém, devemos lembrar que a medicina
chinesa traz, dentro do elemento fogo, outro par de órgão e víscera energéticos: o
pericárdio, também chamado de circulação-sexo (órgão energético Yin), e o triplo
aquecedor (víscera energética Yang). Embora apenas o pericárdio exista fisicamente
e associado diretamente ao coração, essas duas estruturas energéticas desempenham
atividades próprias e de grande relevância. Como resultado, temos então 12 meridianos
principais, bilaterais.

Além desses 12 meridianos principais, correspondentes aos órgãos e vísceras, temos


ainda oito canais especiais, chamados de vasos maravilhosos.

A peculiaridade desses meridianos, que os distingue dos demais, é o fato de apenas dois
deles apresentarem pontos próprios em seu trajeto. Os outros seis vasos maravilhosos
fazem seus trajetos utilizando pontos dos meridianos principais, mas exercendo
atividades distintas. A principal função é manter o livre fluxo do Q.I. e conectar todo
o organismo.

Diferente dos meridianos principais, os vasos maravilhosos são ímpares, unilaterais.


Nesse momento, vamos destacar os dois vasos mais importantes clinicamente. Eles são
justamente os vasos que possuem pontos específicos, chamados de vaso governador
e vaso concepção. O primeiro é um canal Yang, que tem seu trajeto na parte dorsal,
seguindo por debaixo dos processos espinhosos. O segundo, seu oposto, é um canal
Yin, que segue pela região ventral, ambos pela linha mediana do nosso corpo.

Buscando na literatura chinesa, encontramos diversas classificações de meridianos,


agrupamentos distintos que seguem localizações, funções e polaridades. A forma mais
clássica e simples de classificação, de grande valor clínico, divide em meridianos principais
(que são os 12 meridianos representantes dos órgãos e vísceras), meridianos/vasos
maravilhosos/ curiosos/particulares (que são oito), meridianos tendino-musculares
(que percorrem a superfície do organismo, sob a pele, diretamente associados ao fluxo

73
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

do Wei Q.I.) e os meridianos secundários, que englobam os vasos mais profundos,


também chamados de longitudinais e transversais ou meridianos de conexão.

Os meridianos de conexão (Lou Mai) englobam os meridianos mais profundos e


subdividem-se em transversais e longitudinais. Esses meridianos exercem a função
de integração e têm sua origem nos canais principais, iniciando-se a partir do ponto
passagem (Luo) ou ponto fonte (Yuan).

Entendendo os canais, entendemos os caminhos, a imensa rede conectiva que temos


em nosso corpo. Retomemos, então, os conceitos de energia, para assim entender o
que ocupa esses canais, as diferentes fontes de energia e suas manifestações.

De origem paterna e materna, hereditária, recebemos a nossa energia ancestral, que é


a nossa essência, também chamada de Qi essencial. O Qi essencial é formado pela união
do Jing e do Shen ancestral. Essa energia é fundamental durante toda a formação do
organismo, regulando todos os processos embriológicos e fetais. Ela se mantém ativa
com essa função mesmo após o nascimento, uma vez que a formação e maturação
completa dos órgãos ocorre ao longo dos primeiros anos de vida. Até que todos os
nossos órgãos atinjam a maturidade fisiológica que os capacita a adquirir sua própria
energia, o Qi ancestral é responsável por isso.

Além da nossa energia ancestral, a natureza nos fornece duas grandes fontes energéticas:
a energia celeste e a terrestre. Como sugere o nome, a energia celeste é toda a energia
que vem do céu, contemplando as energias cósmicas (ondas eletromagnéticas, cores,
influência dos astros), a energia solar e eólica, o calor, o frio e a umidade (futuramente,
neste capítulo, veremos como essas energias podem ser perversas para o organismo
em casos patológicos, mas vale sempre lembrar que são as interações que geram um
caráter patológico, não a energia isolada).

A energia celeste é captada pelo pulmão, tanto via respiração quanto pela pele.
Posteriormente, é separada em suas frações Yin, destinada à nutrição do organismo,
e Yang, utilizada na formação da energia de defesa, Wei Qi.

A energia terrestre, por sua vez, é composta por tudo que é orgânico e, principalmente,
no que diz respeito ao que absorvemos, pela energia dos alimentos e líquidos.
Pode também incluir a força dos metais da terra e da gravidade. É importante
compreender, quando falamos nos alimentos, que tudo que compõe um alimento e
emana dele (cor, sabor, cheiro, textura, nutrientes, calorias) é energia. Cada característica
tem energia própria que, por atividade metabólica do estômago, é separada da essência
de energia terrestre ali presente e redirecionada.

74
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

A essência terrestre dos alimentos segue para o baço-pâncreas. O referido conjunto


de órgãos tem a função de, primeiramente, purificar essa energia. Elimina-se as
impurezas para, posteriormente, enviá-la para nutrir os cinco órgãos. Como falamos,
cada característica de um alimento tem energia própria, e cada órgão tem relação
direta com essas características, como paladar, coloração e odor, sendo influenciados
diretamente por elas, positiva ou negativamente.

Além da fração de energia terrestre, direcionada para a nutrição dos órgãos, a parte
Yang restante sobe em direção ao pulmão para se unir à parte Yang da energia celeste.
A parte Yin, por sua vez, desce para os rins.

Com as inúmeras mutações que sofre, o Qi pode assumir várias formas. São passíveis
de mudança o estado de condensação, dispersão, localização e sua origem.
Essas transformações são fundamentais para todos os processos fisiológicos.

A transformação correta do Qi é o que permite o movimento, dentro do qual englobamos


os processos fundamentais à manutenção de uma espécie. Eles são o nascimento, o
crescimento e a reprodução, que se baseiam principalmente nas características Yin,
do Qi condensado, e Yang, do Qi disperso. Para manter a homeostase e o equilíbrio,
esse processo precisa ser mantido. Qualquer falha ou alteração pode gerar um quadro
patológico.

A força motriz, impulsionadora da transformação do Qi, origina-se entre os rins, em


um espaço energético descrito em muitas medicinas orientais. O espaço energético
conecta-se diretamente ao Qi original e a uma energia que recebe o nome de Fogo
do Portão da Vitalidade. Ela é parte do Jing disponível nessa região e providencia
energia Yang de força e calor, onde se permite a transformação e movimento de várias
substâncias fundamentais e fornece energia para o Jing seguir nutrindo a vida.

Para a correta transformação do Qi, é fundamental a correta direção do movimento


de cada um dos vários tipos de Qi. Fisiologicamente, cada processo metabólico possui
direção específica, seja ela de ascensão, dispersão, absorção ou descida, entre outras.

Esses movimentos também podem ser observados dentro dos processos de inter-
relacionamento entre Yin e Yang, entre os cinco elementos e nas relações entre
eles. Além disso, cada órgão e víscera apresenta seu movimento característico
de Qi, que, ao chegar até ele, adquire suas particularidades de forma e função,
podendo ser classificada como energia de ascensão ou descida.

Esses movimentos são facilmente relacionados com as funções fisiológicas dos respectivos
órgãos e vísceras. Como exemplo, temos os responsáveis pela digestão de alimentos e
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Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

líquidos, que recebem a energia a partir da boca e seguem caminho descendente até a
eliminação dos resíduos do processo, em forma de urina ou fezes.

A teoria dos Zang Fu é mais uma importante teoria que embasa a medicina chinesa.
A teoria faz menção direta aos órgãos e vísceras, também referido como sistema
de órgãos internos. A teoria do Zang Fu é central em termos de fisiologia na MTC.
Como era esperado, em uma medicina onde tudo está intimamente conectado, a
teoria do Zang Fu se relaciona diretamente com os conceitos de Qi, Yin e Yang e dos
cinco elementos. Além disso, abrange substâncias vitais e energias provenientes das
emoções, dos sentidos, odores, sabores, entre outros.

Zang Fu sempre designa um par, formado por um órgão, Zang, e uma víscera, Fu.
Órgão e víscera se associam por pertencerem a um mesmo elemento.

» Zang: corresponde aos órgãos na medicina chinesa, caracterizados pela energia


Yin, conferida por seu aspecto sólido, maciço, com função de armazenamento
de energia. São eles pulmões, coração, baço-pâncreas, fígado, rim e pericárdio.
» Fu: correspondem às chamadas vísceras, de característica Yang. Elas apresentam
aspecto oco. São locais de passagem, de fluidez, ricos em movimentos
passivos ou ativos, com metabolismo de transformação e refinamento de
substâncias. No rol das vísceras estão: estômago, vesícula biliar, intestino
delgado, intestino grosso, bexiga e triplo aquecedor.

Temos seis órgãos energéticos, Zang, de característica Yin. São eles: coração, fígado,
pulmão, rim, baço-pâncreas e pericárdio/circulação-sexo. A seguir, veremos
características e funções dos órgãos energéticos:
O órgão coração está relacionado ao elemento fogo e abre-se na língua. As principais
funções do coração são governar o sangue, controlar os vasos sanguíneos e a sudorese,
manifestando-se no aspecto físico. Além disso, o coração é responsável por abrigar a
mente, sendo um sítio de repouso para o Shen.
O órgão fígado tem relação com o elemento madeira e se abre nos olhos. As principais
funções do fígado são o armazenamento de Xue, controle do fluxo do sangue, garantia
do fluxo suave do Qi e controle dos tendões. Manifesta-se nas unhas e abriga a energia
espiritual chamada de alma etérea (Hun). É ainda responsável pelo útero e genitália externa
e auxilia o baço-pâncreas nos processos digestivos. É considerado o general dos órgãos.
O órgão pulmão pertence ao elemento metal e se abre no nariz. Suas principais
características funcionais são o domínio da energia pura (ar) e o controle da respiração,

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Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

a regulação das “passagens de água” e o governo da pele. As principais funções do


pulmão são governar o Qi e a respiração, controlar os meridianos e vasos sanguíneos,
controlar a dispersão e a descida de Qi e controlar os pelos corpóreos. O pulmão abriga
a alma corpórea (Po) (manifestação somática da alma).

Figura 4. A busca do sentido.

Fonte: https://previews.123rf.com/images/bialasiewicz/bialasiewicz1608/bialasiewicz160802518/62010586-mature-psychologist-doing-
notes-talking-with-a-young-patient-light-interior.jpg.

O órgão baço tem relação com o elemento terra e abre-se na boca. As principais funções
do baço são a de governar a transformação e o transporte de Qi, controlar o sangue e os
músculos. O baço-pâncreas manifesta-se nos lábios e abriga o pensamento/reflexão (Yi).

O órgão rim pertence ao elemento água e abre-se nos ouvidos. As principais funções
do rim são de armazenar a essência, governar o nascimento, crescimento, reprodução
e desenvolvimento, produzir as medulas, alimentar o cérebro, controlar os ossos,
governar a água e controlar a recepção do Qi. O rim manifesta-se no cabelo, controla
os dois orifícios inferiores e abriga a força de vontade (Zhi).

Também chamado de mestre do coração, o pericárdio está associado ao elemento fogo.


Funciona como um guarda-costas do coração, protegendo-o dos ataques dos agentes
exógenos. Controla a função cardíaca, a circulação da massa humoral e a reprodução,
que constituem a essência da vida.

A Adaptação à Sociedade e o Controle


dos Impulsos
Quando falamos em direção do fluxo, tradicionalmente, iniciamos pelo pulmão. A relação
de início com o pulmão advém do princípio de circulação energética completa do
77
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

nosso corpo, que se dá na primeira respiração após o nascimento. Começando pelo


pulmão, a energia passa, em cada dia, duas horas em cada órgão. Cada um armazena a
quantidade necessária para se manter (o órgão nunca fica sem energia em um organismo
saudável). Esse fluxo de energia entre os 12 Zang Fu é chamado de grande circulação.
Existe ainda a pequena circulação, formada pelos dois vasos maravilhosos de pontos
próprios, vaso governador e vaso concepção.

A víscera intestino delgado tem relação com o coração, dentro do elemento fogo.
Sua principal função é a de receber e armazenar temporariamente o alimento
parcialmente digerido pelo estômago. Além disso, executa a separação da essência
a ser absorvida dos resíduos e dejetos sólidos que passarão para o intestino grosso
para serem eliminados. Dessa forma, ele controla a recepção e a transformação dos
alimentos e separa os fluidos corpóreos (Jin Ye).

A víscera vesícula biliar tem relação com o fígado, no elemento madeira. Sua principal
função é a de comandar a função biliar total, intra e extra-hepática, incluindo as vias
biliares. A vesícula armazena e excreta a bile para auxiliar a digestão dos lipídios.
Além disso, tem a função de controlar os tendões, juntamente com o fígado.

A víscera intestino grosso faz par, dentro do elemento metal, com o pulmão. Suas
principais funções são de absorção de líquidos e de componentes eletrolíticos (sódio,
potássio, magnésio, cloro e bicarbonato) e eliminação de resíduos pesados. Ele recebe
os alimentos e líquidos do intestino delgado, reabsorve uma parte dos fluidos corpóreos
e excreta as fezes.

A víscera estômago tem relação com o baço-pâncreas, pertencendo ao elemento


terra. Como principais funções, recebe e decompõe os alimentos e, juntamente com
o duodeno, comanda todas as funções digestivas transformadoras dos alimentos.
Também controla o transporte das essências (Jing) dos alimentos, a descendência do
Qi e a origem dos fluidos corpóreos (Jin Ye).

A víscera bexiga tem relação com o elemento água e com o rim. Sua principal
função é a de acumular, temporariamente a urina, antes de excretá-la. Além de atuar
decisivamente na função equilibradora e eliminatória dos rins, remove a água por
meio da transformação do Qi.

Essa víscera pertence também ao elemento fogo, tendo relação com o pericárdio.
Tem uma função integradora ligada aos aspectos do sistema endócrino, como a regulação
da atividade orgânica, processos de assimilação, distribuição e expulsão dos alimentos.

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Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

Ele mobiliza o Qi original, controla o transporte e a penetração do Qi, a passagem das


águas e excreção dos fluidos.

Entendendo que cada órgão tem seu pico de energia, que culmina em um pico
de funcionalidade energética, como podemos relacionar isso ao nosso dia a dia?
Qual seria o melhor horário para refeições?

Quando falamos em terapia, uma das práticas mais importantes é a identificação da


causa da desarmonia, fundamental para o terapeuta diferenciar os muitos sintomas
apresentados. Identificar a causa da desarmonia é fundamental também na medicina
chinesa, que avalia todo o paciente. Distingue os sintomas que representam a verdadeira
raiz dos sintomas do conjunto de repercussões da desarmonia instalada.

Somente com o diagnóstico preciso, conseguimos conduzir o tratamento e orientar


o paciente para curar a desarmonia e não torná-la recorrente.

Sendo o equilíbrio a base de nossa saúde, todos os fatores da vida do paciente devem
ser avaliados para que possamos identificar precisamente as causas da desarmonia.
Vale lembrar que tudo é relativo e individual. Dessa forma, a conversa com o paciente
é muito importante para o terapeuta conhecê-lo de forma abrangente e identificar sua
constituição energética. Com esses cuidados, será possível compreender as necessidades
do paciente.

Outros fatores importantes são a identificação do início da desarmonia. Nos


casos mais graves e crônicos, a desarmonia costuma ser proveniente de uma das
três grandes fases: vida pré-natal, tendo relação com debilidade do Jing e Shen
fornecidos pelos pais; infância, que ainda tem grande influência das energias
herdadas, principalmente no que diz respeito à formação das estruturas; e vida
adulta, muito mais relacionada com os hábitos de vida. Além disso, podemos
classificar as desarmonias de acordo com sua origem, interna ou externa.

As causas interiores de doenças são decorrentes de tensões emocionais. Antes de


prosseguirmos, devemos compreender que as emoções fazem parte da nossa vida e
das nossas relações com a comunidade, o ambiente e conosco. Vivemos em busca da
felicidade plena e eterna, mas todos os sentimentos devem ser vividos e compreendidos
para que haja equilíbrio, pois as alterações patológicas que trataremos agora são
repercussões de desequilíbrios não resolvidos, duradouros e intensos. Essas emoções
refletem energias mentais particulares e prejudicam diretamente os Zang Fu, tendo
cinco grandes emoções capazes de afetar um órgão Yin específico:
» a raiva afeta o fígado:

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Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

» a euforia afeta o coração (todas as emoções acabam afetando o coração);

» a preocupação afeta o baço;

» a tristeza/aflição afeta os pulmões;

» o medo afeta o rim.

Ao afetar os Zang, as emoções alteram diretamente o seu Qi específico, geralmente


com mudanças em seu movimento característico:

» a raiva faz o Qi ascender;

» a euforia reduz a velocidade do Qi;

» a tristeza dissolve o Qi;

» a preocupação faz o Qi estagnar (todas as alterações levam à estagnação de


Qi, que culmina em estase de sangue, calor, fogo e fleuma);
» o medo faz o Qi descender.

Como dito, essas cinco emoções representam, na verdade, um grande grupo de emoções,
podendo ter nomenclaturas distintas. A raiva também pode ser interpretada como
fúria, ressentimento, estresse, estado de irritabilidade, frustração, ódio ou amargura
(que seria um estado crônico de ressentimento, armazenado ao longo dos anos, pelo
que nos afetou e não fomos capazes de superar). Ela gera sintomas que afetam o fígado,
provocando a estagnação ou subida do Qi, podendo causar, também, a subida do Yang,
com dores de cabeça, tontura, zumbido, face vermelha, rigidez no pescoço. Persistindo,
pode afetar o estômago, os intestinos e o coração.

Muitas vezes, na literatura chinesa, a euforia é chamada de alegria, mas a alegria é um


estado de tranquilidade, faz o Qi fluir e beneficia o Qi defensivo e nutritivo. A euforia,
por sua vez, é um estado de excesso, um estímulo mental contínuo. Portanto, afeta o
coração, reduz a velocidade do Qi, causa palpitações, taquicardia, excitabilidade excessiva,
insônia (pois impede a conexão do Shen), inquietude e se apresenta caracteristicamente
pela ponta da língua vermelha. A tristeza, embora relacionada ao pulmão, também
pode afetar o coração (algumas literaturas dizem que ela se acumula no coração e
transborda para os pulmões).

Essa emoção dissolve o Qi, promovendo deficiência do Qi do pulmão, com consequente


falta de ar, fadiga, sensação de desconforto no tórax e alterações emocionais, como
depressão ou choro aparentemente sem motivo. Nas mulheres, essa deficiência do

80
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

Qi do pulmão pode levar à deficiência do Xue e à amenorreia, entrando muitas vezes


como um agravante no quadro de tensão pré-menstrual.

A preocupação, como o próprio nome sugere, é o ato de se ocupar demais, pensar


demais, exercer um trabalho mental ou estudo em excesso. O órgão responsável
por nos manter focados é o baço-pâncreas, que é diretamente afetado pelo excesso
de trabalho se ele não tiver tempo para repousar e se regenerar. Em segundo plano,
a preocupação também afeta os pulmões e estagna todo o Qi (o baço tem função
primordial na movimentação do Qi). Como sintomas da deficiência do baço, temos a
falta de apetite, anorexia, desconforto epigástrico, distensão abdominal, fadiga, palidez
e diarreia. Quando os pulmões são afetados, apresentamos falta de ar, tosse seca, voz
fraca e suspiro.

Figura 5. Reflexos psiquiátricos.

Fonte: https://previews.123rf.com/images/abstract412/abstract4121709/abstract412170900022/85980657-colorful-human-brain-illustration-.jpg.

Por fim, temos o medo, que afeta diretamente o Qi do rim e faz todo o Qi descer. Ele
pode se manifestar diferentemente em crianças e em adultos e causa enurese noturna,
incontinência urinária e diarreia. Muitas vezes, o paciente não associa um medo ao seu
quadro de saúde. No caso dos adultos, eles podem ter dificuldade para compreender
do que sente medo (pode ser medo de problemas financeiros, do futuro etc.), diferente
das fobias mais óbvias e comuns às crianças, como o medo de escuro.

Quando provoca uma deficiência no Yin do rim e, consequentemente (seguindo o


eixo de controle dos cinco elementos) aumenta o vazio-calor dentro do coração, o
medo também causa calor na face, sudorese noturna, palpitação, boca e garganta
secas. Um caso extremo de medo pode levar ao choque, que suspende o Qi e afeta
rins e coração, causando dispneia, insônia e palpitação. Clinicamente, são muito
comuns os quadros crônicos em adultos, por exposição prolongada aos medos da
infância não superados.

81
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

Causas exteriores de doenças


As causas exteriores se dão pela presença dos seis fatores climáticos:

» vento: primavera;

» calor de verão;

» umidade: final do verão;

» fogo: verão;

» secura: outono;

» frio: inverno.

Esses fatores climáticos são energias naturais que só podem se tornar causas patológicas
quando o organismo estiver debilitado em relação ao ambiente externo, de modo que
um organismo saudável não sofrerá invasão, pois consegue se proteger a partir do Wei
Qi, a energia Yang de defesa externa. Se o equilíbrio entre energia de defesa e meio
externo for alterado, o fator externo fica mais forte em relação às energias defensivas
e consegue penetrar o organismo.

Os fatores climáticos diferem em alguns aspectos de outras causas patológicas, pois, além
de serem a causa da patologia, eles desencadeiam padrões de doenças próprios. Embora
isso pareça mais complicado, os padrões resultantes auxiliam o terapeuta a identificar
o agente invasor, sendo o diagnóstico realizado pelas manifestações clínicas e não
somente pelo relato do paciente que, salvo pacientes habituados com as terminologias e
filosofias chinesas, dificilmente irá relatar que sofreu uma invasão de vento, por exemplo.

A concepção de hierarquia e controle dos tipos


de caráter
As manifestações dos fatores externos não dependem somente das características e
intensidades destes, mas também das características energéticas e das condições do
organismo invadido. Por exemplo, se uma pessoa já está com a energia Yin predominante
e sofre uma invasão de vento, o resultado é um quadro de vento-frio, enquanto um
caso de predominância Yang leva a sintomas de vento-calor, independentemente da
temperatura externa.

É importante ressaltar que os fatores artificiais climáticos criados pelo homem, como
aquecedores, ventiladores, umidificadores e aparelhos de ar-condicionado, também

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Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

podem causar patologias e são causas muito frequentes de quadros clínicos, sendo
fundamental orientar o paciente quanto a essas exposições e indicar mudanças de
comportamento ou mesmo de locais de trabalho (quando, por exemplo, alguém trabalha
diretamente na frente da saída do ar-condicionado).

Os fatores patogênicos externos percorrem um longo caminho pelo nosso corpo,


penetrando o organismo por meio da pele, do nariz ou da boca. Comumente, o calor
entra pela boca e pelo nariz, e o frio, pela pele.

Após a penetração, os fatores patogênicos seguem invadindo o corpo, camada por


camada, até atingir os nossos Zang Fu. Quando falhamos na energia superficial, mas
temos um bom quadro energético interno, a invasão não se completa, mantendo-se
na superfície e causando desequilíbrios leves.

Se a energia está profundamente debilitada, a doença é mais grave. Podemos entender


melhor essa relação pensando em um simples resfriado, que pode evoluir para uma
gripe, debilitando os órgãos, causando infecções de garganta e até pneumonia.

Além das causas internas, caracterizadas pelo descontrole emocional, e externas,


chamadas de fatores ambientais, podemos apresentar outras causas de patologias, como:

a. desequilíbrio emocional;

b. interferência de humor.

Essa é uma característica herdada dos pais, relacionada ao Jing e ao Shen, e depende da
saúde e condição energética no momento da concepção.

A saúde materna durante a gestação também influencia a energia da formação,


nutrindo a essência pré-celestial do feto. A constituição não pode ser alterada,
permitindo algum desenvolvimento muito leve, que não chega a ser compensador,
quando aliada a um estilo de vida bem equilibrado e saudável e exercícios
respiratórios para desenvolver o Qi.

O equilíbrio adequado entre atividade e repouso é fundamental para a manutenção


da saúde, mas a maioria das pessoas acaba se excedendo para um dos extremos, algo
muito associado à implementação na rotina e às pressões sociais. Esse equilíbrio afeta
diretamente o Qi, que é consumido durante a prática de exercícios e reposto durante
o repouso, de forma que, se não há repouso, não há reparo da energia e esta vai faltar
e, no oposto, se não há gasto energético, há excesso de Qi.

83
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

Isso funciona da mesma forma que a sobrecarga de exercícios. Vale ressaltar que, sem
a restauração do Qi, o organismo precisa tirar energias de outras fontes, acessando,
então, o nosso Jing (o que é ainda pior em pessoas que têm a constituição debilitada).

Atividade sexual excessiva

As essências sexuais, tanto masculinas quanto femininas, são manifestações externas do


Jing dos rins. Por esse motivo, o gasto dessas essências reflete diretamente em consumo
de Jing. Em condições normais, essa perda é rapidamente recuperada, de modo que a
atividade sexual normal não provoca patologias (muito pelo contrário, pois, quando
exercida de forma saudável, ajuda muito a manter o equilíbrio em níveis físico e mental).
Da mesma forma que acontece quando há excesso de trabalho ou de atividade física,
o excesso de atividade sexual não permite a recuperação da energia, ressaltando-se,
ainda, que a quantidade disponível para essa atividade depende da constituição e da
fisiologia energética de cada um. Em média, essa quantidade recomendada segue o
quadro a seguir:

Quadro 1. Equilíbrios Físicos

Idade Em boas condições de saúde Em médias condições de saúde


15 2x/dia 1x/dia
20 2x/dia 1x/dia
30 1x/dia A cada dois dias
40 A cada três dias cada quatro dias
50 A cada cinco dias A cada 10 dias
60 A cada 10 dias A cada 20 dias
70+ A cada 30 dias Abstinência

Fonte: adaptado de Cohen, 2014.

Dieta irregular

Essa talvez seja uma das causas mais relevantes de patologias da atualidade. Enquanto
as pesquisas mostram cada vez mais a importância das vitaminas, minerais e outros
nutrientes para o nosso organismo, a sociedade dedica menos tempo à preparação e
à cerimônia das refeições.

A quantidade de alimentos industrializados e de componentes artificiais nas dietas e


o uso crescente de pesticidas e alimentos transgênicos eleva essa preocupação, pois
ainda não podemos dimensionar a repercussão de tudo isso em nossa saúde ao longo
dos anos. A dieta pode ser patológica em quantidade ou qualidade.
84
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

No primeiro caso, a subnutrição e a obesidade formam os extremos, temos dietas


pobres em determinados fatores nutricionais e/ou energéticos. Energeticamente, a má
nutrição causa uma deficiência do Qi e do Xue e debilita o baço, enquanto a alimentação
excessiva enfraquece o baço e o estômago (em casos de alimentação restrita, como o
excesso de alimentos crus e frios, o Yang do baço pode ser afetado).

Traumas físicos

Quando sofremos um trauma físico, como uma pancada, ocorre uma estagnação local
do Qi ou do Xue, dependendo do seu grau de intensidade. Um trauma sempre gera
dor (reflexo direto da estagnação de Qi), edema e hematoma, podendo prolongar os
efeitos de estagnação na área. Um trauma, mesmo sem sintomas, pode enfraquecer
a região e se tornar a causa de futuras patologias, uma vez que a região se mantém
debilitada e suscetível a invasores.

Parasitas e venenos

De caráter obviamente patológico, esses fatores podem ter efeitos facilitados ou


potencializados por deficiências energéticas e/ou outros fatores patogênicos, como a
própria constituição ou a invasão de umidade, que cria um ambiente adequado para
parasitas se instalarem.
Figura 6. Ações e comportamento.

Fonte: https://previews.123rf.com/images/lightwise/lightwise1510/lightwise151000086/47885204-tangled-brain-mental-health-concept-as-
a-rope-twisted-into-a-human-thinking-organ-as-a-medical-neuro.jpg.

Drogas e tratamentos inadequados

Os efeitos colaterais do uso de drogas e medicamentos inadequados (ou mesmo o


uso por tempo prolongado destes em quadros crônicos) são muito conhecidos na

85
Unidade III | Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento

medicina ocidental, levando, inclusive, ao movimento de busca por terapias alternativas.


Nesse sentido, a fitoterapia apresenta riscos semelhantes, mas a acupuntura é muito
segura.

A identificação dos padrões é um processo inicial de descoberta da desarmonia básica


que norteia os sintomas e todas as suas manifestações clínicas, envolvendo a anamnese
e consequente discernimento do padrão básico da desarmonia pela observação do
paciente. O caráter global e holístico da medicina chinesa traz consigo um diagnóstico
muito rico em detalhes e atenção direta ao paciente, envolvendo a identificação
de todos os sinais e sintomas, por menores que sejam, para formar um panorama
individual, na tentativa de identificar os padrões. Enquanto a causa da patologia pode
ser encontrada investigando-se o histórico do paciente, os padrões se encontram nos
sintomas clínicos, no conjunto de todos os sinais, por mais distantes que pareçam,
como sono, humor, libido e urina.

Justamente por relacionarem todos os sintomas, os padrões variam de acordo com


o conjunto apresentado. Dessa forma, o mesmo sintoma adquire um significado
completamente diferente, dependendo do contexto, o que é um grande desafio em
termos clínicos para o terapeuta, mas um grande privilégio ao paciente, pois isso
possibilita que ele receba um tratamento completamente especializado e particular.

Os padrões seguindo os oito princípios estão presentes em todo o texto médico chinês,
incluindo o clássico do Imperador Amarelo, sendo uma das formas diagnósticas mais
antigas.

A identificação pelos oito princípios se dá em quatro categorias, divididas em seus


opostos complementares: Interior/Exterior, Yin/Yang, Calor/Frio, Cheio/Vazio,
sendo conceitos diagnósticos aplicáveis em qualquer patologia.

» Interior/Exterior: essa diferenciação é feita com base na localização da


patologia, não em sua origem. Dessa forma, uma patologia causada por um
fator patogênico exterior, mas que afeta os sistemas internos, é classificada
como interior. Uma patologia exterior afeta a pele, os músculos e os
meridianos, enquanto uma patologia interior afeta os Zang Fu e os ossos.
Aqui, encontra-se um dos erros clínicos mais comuns: a associação da
etiologia ao padrão apresentado, algo que conduz de forma equivocada todo
o tratamento do paciente.
» Yin/Yang: são fatores que estão presentes também nos outros seis critérios,
dado que Calor, Exterior e Cheio têm características Yang, enquanto Frio,

86
Sobrecarga e Resistência ao Adoecimento | Unidade III

Interno e Vazio são Yin. Em um estado extremo, temos o colapso de Yin


e Yang, sendo um estado severo de vazio ou uma separação completa das
duas forças.
» Calor/Frio: essa classificação descreve a natureza do padrão e suas
manifestações clínicas, que dependem diretamente da combinação com
uma condição de cheio ou vazio. Dessa forma, podemos ter Calor-Cheio,
por excesso de Yang no organismo; Calor-Vazio, pela deficiência do Yin,
com excesso relativo de Yang; frio-cheio, por excesso de Yin; e Frio-Vazio,
gerado pela deficiência de Yang. Existem ainda combinações de frio e calor
na mesma patologia, um externo e outro interno, ou ainda um ascendente
e outro descendente.
» Vazio/Cheio: essa distinção é realizada de acordo com a presença ou ausência
de um fator patogênico, em relação à força do Qi do organismo. Sendo assim,
a condição de Cheio se dá pela presença de um fator patogênico que se soma
ao Qi, intacto. O Vazio se dá pela ausência de fator patogênico, com pura
debilidade do Qi. Existem também combinações mais graves, nas quais um
Qi debilitado é invadido por fator patogênico, associação que chamamos de
vazio agravado pela plenitude.

87
ADOECIMENTO
CORPORAL E AS
DOENÇAS QUE UNIDADE IV
AFETAM O CARÁTER

CAPÍTULO 1
A Concepção da Saúde

Os modelos de saúde são as condições nas quais cada indivíduo vive, Determinantes
Sociais em Saúde (DSS) que determinam sua predisposição ou não a adoecer.
Muitos desses determinantes podem ser alterados, para isso, ao longo da história, surgem
tecnologias que possibilitam avanços na qualidade de assistência, de forma preventiva
e/ou curativa. Porém, todos entram em conflito com a questão da sustentabilidade em
saúde, algo que enseja uma reflexão a respeito de como promovê-la de forma sustentável.

Os DSSs podem estar relacionados a fatores sociais, individuais, laborais, econômicos,


étnicos, genéticos, psicológicos e comportamentais. Também podem ser classificados
em individuais ou coletivos. O indivíduo está no centro e, junto a ele, os fatores
individuais. Os coletivos estão na camada mais externa.

Os fatores individuais são relacionados ao estilo de vida, portanto, são mutáveis. Já os


coletivos são situações às quais uma pessoa está exposta e não tem autonomia para
mudá-los sozinha. Por exemplo, um trabalhador de mina só tem essa profissão e, por
causa dela, está exposto a respirar pó de carvão, que pode trazer problemas respiratórios.

Há, também, situações em que, para reduzir o risco de adoecimento, é necessário realizar
ações conjuntas entre o individual e o coletivo, por exemplo. Atitudes educacionais,
preventivas e de cuidado pessoal com a saúde, como campanhas para uso de preservativos
no combate às doenças sexualmente transmissíveis, podem ser estimuladas pelo
governo, mas só o indivíduo pode praticá-las.

As ações para melhoria da saúde pública que se iniciaram com a introdução de


medidas sanitárias de higiene, com o decorrer do progresso da ciência e tecnologia,
transformaram-se no modelo médico assistencial.

Depois da Revolução Sanitária, no início dos anos 1970, a imunização em forma de


vacinas foi de suma importância para o controle de epidemias.
88
Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter | Unidade IV

Apesar de todas as consequências da Segunda Guerra Mundial, foi em função dela


que surgiram avanços na medicina, como a penicilina, cuja produção comercial e em
grande escala ocorreu somente nesse período.

Em função da Segunda Guerra Mundial, também ocorreu a descoberta de anticoagulantes,


que possibilitaram a transfusão sanguínea; posteriormente, durante a corrida espacial nos
anos 1960, as tecnologias e ciências médicas tornaram os tratamentos e procedimentos
médicos mais precisos.

Novas tecnologias e formas de se fazer medicina de maneira menos invasiva continuam


sendo desenvolvidas. Alguns exemplos são os avanços em exames laboratoriais e de
imagem, a descoberta do genoma humano, cirurgias realizadas por vídeo, medicamentos
com menos efeitos colaterais, fecundação artificial e transplante de órgãos.

Os recursos naturais têm sido explorados desenfreadamente; paralelamente, aumentou


a poluição de cidades, terras e águas devido às indústrias e aos meios de transporte.
A população vem adoecendo em função desse mau uso de recursos naturais e surge
a preocupação com o esgotamento de recursos e a alterações climáticas, como o
aquecimento global.

Figura 7. Apoio médico.

Fonte: https://previews.123rf.com/images/fizkes/fizkes1902/fizkes190201860/117788610-american-doctor-psychotherapist-therapist-
counsellor-or-pediatrist-in-white-coat-listens-teen-girl-d.jpg.

Com isso, diversas ações para redução de poluentes industriais são realizadas
atualmente, com objetivo de reduzir o efeito estufa. Porém, não basta essa mudança
de comportamento ocorrer apenas no meio coletivo, em empresas, fábricas e meios
de transporte. É necessário, também, conscientizar a população no sentido de que esta
modifique seu modo de vida para uma forma mais sustentável, com menos desperdício
e mais reaproveitamento. Observe as definições de doenças emergentes e reemergentes.
89
Unidade IV | Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter

Doenças emergentes

Doenças emergentes são tidas como novas, podendo surgir da mutação de outras, de
forma natural ou intencional. Um exemplo são as patologias antes só presentes em
animais, que passaram a se manifestar no homem, como a gripe aviária (COHEN, 2014).

Doenças reemergentes

Doenças reemergentes são antigas, mas voltaram a crescer em incidência e/ou mudaram
seu padrão epidemiológico. Como exemplos, estão o retorno da dengue e da cólera e
a expansão da leishmaniose visceral (COHEN, 2014).

Entre os desafios para redução da incidência dessas doenças, estão as alterações


ambientais, as migrações e urbanizações desorganizadas, as novas tecnologias médicas,
os experimentos científicos sem comprovada biossegurança e a falta de compromisso
em seguir medidas protetivas, como campanhas de vacinação.

Os conceitos em saúde mudam de acordo com o período histórico, cultural e social,


e a qualidade de vida está diretamente relacionada à forma como cada indivíduo
interpreta sua saúde. Sendo assim, esse conceito é variável, portanto, não podemos
julgar o sofrimento do outro a partir de nossas experiências.

A saúde de cada indivíduo está intimamente ligada à do meio ambiente e é um direito


garantido pela Declaração dos Direitos Humanos da ONU e, no Brasil, pela Constituição
Federal de 1988. Esse princípio deu origem ao SUS, e os direitos e deveres do cidadão
brasileiro relacionados à saúde pública estão explicados na Carta dos Direitos dos
Usuários da Saúde. Para assegurar esses direitos, o governo utiliza meios jurídicos,
por intermédio do direito sanitário e de saneamento básico.

Os desafios do século XXI estão relacionados à sustentabilidade, aos avanços científicos


e à prevenção de doenças emergentes e reemergentes.

O SUS visa oferecer acesso universal e gratuito de saúde a toda a população brasileira.
Ao longo de sua existência, houve modificações em sua forma de comando, que,
antes, era verticalizada, passando a ter uma estrutura horizontalizada. Sendo assim, as
responsabilidades nas três esferas do governo são independentes e não hierarquizadas.
Os estados e os municípios, por intermédio de suas respectivas secretarias, criam e
implementam estratégias de saúde em suas áreas, levando em conta toda a diversidade
sociocultural e demográfica existente, para alcançar as metas e os objetivos propostos
pelo Ministério da Saúde.

90
Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter | Unidade IV

Conforme as doutrinas, diretrizes e princípios que norteiam o SUS, a atenção à saúde


é um direito de todos, sem espaço para preconceitos e/ou discriminações. Além disso,
o acesso a ele é diferenciado para as populações que apresentam alguma distinção,
seguindo o princípio da equidade. Por fim, o sistema estimula um atendimento integral
ao indivíduo, que não será visto a partir da patologia, mas sim de acordo com todo o
universo biopsicossocial no qual está envolto.

Confira as diretrizes dessa política a seguir (COHEN, 2014).

» Atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa.

» Promoção do envelhecimento ativo e saudável.

» Estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção.

» Provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde


da pessoa idosa.
» Estímulo à participação e ao fortalecimento do controle social.

» Formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na


área de saúde da pessoa idosa.
» Divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS.
» Promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na
atenção à saúde da pessoa idosa.

91
CAPÍTULO 2
O Adoecimento Corporal nas Obras
de Lowen

Lowen opinou que a psicopatologia decorre de conflitos entre as predisposições inatas


do ser humano e sua necessidade de adaptação à sociedade. Mais especificamente, ele
conceituou neurose como uma consequência do acúmulo de energia sexual, de forma
semelhante às abordagens defendidas por Reich, seu mentor.

De acordo com Lowen, as pessoas tendem a subestimar nossa experiência corporal e


afetiva; pelo contrário, supervalorizamos a cognição e racionalizamos excessivamente.
No entanto, as dimensões psicológicas e físicas da experiência humana estão intimamente
relacionadas, de modo que uma pode causar alterações na outra.

Nesse contexto, a bioenergética pode ser definida como o estudo da personalidade


a partir da análise dos processos energéticos do organismo humano. Em particular,
Lowen propôs que a energia está naturalmente ancorada em dois polos – a cabeça e
os genitais – e flui livremente entre eles; alterações nesse fluxo causam distúrbios.

Lowen não se dedica à temática específica do adoecimento corporal, o que parece


contraditório para um autor que se formou em Medicina e que tem o corpo como
foco de seus estudos. Apesar disso, ele enfatiza o conceito de saúde, apresentando uma
discussão ampla sobre a temática. Para compreender melhor o adoecimento corporal
para Lowen, busca-se traçar os aspectos que compõem a sua concepção de saúde; essa
concepção também não é isolada do contexto histórico em que ele desenvolveu suas
teorias (JÚNIOR, 2016).

Utilizamos esse fragmento para demonstrar que a concepção de saúde é ampla e


influenciada por todas as variáveis exemplificadas. As Teorias de Lowen se constroem
e se desenvolvem juntamente com as intensas mudanças de paradigmas que marcaram
o período em que produziu sua obra. Há um dado histórico importante que diferencia
o período de produção de Lowen e o de seus precursores. No século XX, no período
pós-guerra, a concepção de saúde se modificou. Devido à nova formulação da
Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, a saúde deixou de
ser definida como ausência de doença e passou a ser definida como um completo bem-
estar físico, mental e social. A produção de Freud e de Reich se deu no período em que
a saúde ainda era tratada em sua relação de antítese com a doença. Já Lowen iniciou
sua produção no período em que essa relação já era diferente, o que determinou os
rumos de seus escritos a respeito do tema (JÚNIOR, 2016).

92
Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter | Unidade IV

Entretanto, muitas vezes a doença ainda é tratada por sua relação antitética com a
saúde, ou seja, uma associação do conceito de saúde a um estado de “não doença”.
Nos escritos de Lowen também se percebe esse movimento, principalmente no
começo de sua produção. Isso significa que há uma condição, determinada pelo autor,
a respeito do que é considerado como “saudável”; o que foge a esse padrão é tido
como patológico. Por isso, não é possível discutir doença sem debater sobre saúde e
vice-versa (JÚNIOR, 2016).

A abordagem preventiva e a intervenção precoce são preferíveis às intervenções


curativas, daí a ênfase no envelhecimento ativo. Os idosos são estimulados a perceberem
seu potencial para o bem-estar físico, social e mental, participando ativamente da vida
da sociedade de forma segura.

Observam-se aspectos de alguns tipos de identidade pessoal e social e como elas vão
sendo construídas. O indivíduo possui diversos tipos de identidade durante a vida, por
meio da multiplicidade de relacionamentos que realiza e estes colaboram nos processos
afetivos dentro do grupo.

Logo, a importância da identidade assume várias esferas, desde o aspecto do


reconhecimento e pertencimento do indivíduo a determinado grupo e identificação
com o outro, até do ponto de vista dos estudos da Psicologia, que nos permite refletir
e entender como se organiza e se constrói o ser humano.

E a crise de identidade, o que é? Em certos momentos de nossa vida, podemos questionar


quem somos, o que estamos fazendo, por que estamos agindo de um modo ou de outro?
Podemos, então, entrar em uma crise de identidade, fazendo redimensionamentos
para ratificar ou redefinir o nosso modo de ser no mundo, ou seja, nossa identidade
para nós e para os outros.

Nesse contexto, a adolescência é o período mais exemplificativo desse tipo de crise.


Ela marca a passagem da infância para a juventude e promove muitas mudanças
tanto do ponto de vista biológico como psicossocial. O adolescente se vê, por vezes,
mergulhado em conflitos, buscando a sua identidade. É nessa fase que ocorre o luto
pela perda do corpo infantil e o estranhamento diante do novo corpo que está surgindo
(COHEN, 2014).

Outro conceito que deve ser associado ao estudo da identidade é o de estigma. Ele indica
os atributos sociais de um indivíduo ou de um grupo, que podem ser negativos e
prejudiciais a ele. Em nossa sociedade, observamos uma série de estigmas, como, por
exemplo, o fato de alguém ser homossexual, ser presidiário, ser portador de HIV. Esses
93
Unidade IV | Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter

estigmas podem determinar a exclusão social ou a necessidade de luta por direitos e


oportunidades iguais, além de ser internalizado pelo indivíduo e refletido na autoestima.

O conceito de ideologia é um conjunto de representações e de normas que indicam aos


membros da sociedade como eles devem pensar e agir. No enfoque da crítica de Marx
e Engels, a ideologia serve como forma de mascarar a realidade por meio dessas ideias
que se passam como universais e que, na verdade, fazem parte de um grupo social em
determinado momento histórico.

Vimos que a Psicologia, com a influência do Positivismo, teve o enfoque voltado


para a objetividade e deixou de lado a subjetividade, sem poder explicar o ser
humano em sua totalidade. Adotando o materialismo histórico como pressuposto,
a Psicologia pôde se aproximar da realidade social e concreta do indivíduo e de
suas relações, pois o contextualizou e o inseriu na dinâmica de sua sociedade
para compreendê-lo.

Estudamos que a Psicologia Social caminhou na busca do estudo do ser humano do


ponto de vista histórico e social, com enfoque nas demandas da população.

Também vimos que a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) foi


criada em 1980 com o objetivo de colaborar para a construção de referenciais teóricos.
Estudamos, ainda, sobre a Psicologia Social, que passou a adotar práticas que saíam da
clínica tradicional para atender à grande demanda da população, especialmente onde
não havia acesso aos serviços de Psicologia. Também compreendemos que a Psicologia
passou a fazer parte das políticas públicas de saúde e de educação.

Ainda estudamos que, dentre as categorias fundamentais da Psicologia Social, a identidade


como um conceito é fonte de análise. Ela é compreendida como sendo a forma como
o indivíduo se vê e é visto pela sociedade, dando a ele a ideia de pertencimento e
referência em seu grupo social.

Percebemos que identidade é construída desde o nascimento e durante toda a vida do


ser humano e que é influenciada pelos padrões e normas sociais. O indivíduo vai se
construindo ao longo de sua trajetória, identificando-se com modelos em suas vivências.

Da mesma forma, estudamos que o indivíduo recebe influência da estrutura social,


atuando sobre ela, transformando-a. Por isso, diz-se que o ser humano é um ser em
movimento.

Na construção de sua identidade, o indivíduo receberá influência dos diversos grupos


sociais a que pertence, como família, escola, grupo religioso. Também receberá

94
Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter | Unidade IV

influências culturais dos meios de comunicação, por exemplo, pois estes possuem
conteúdo ideológico que será transferido ao indivíduo. Por fim, compreendemos que
a identidade se torna um fator importante para o ser humano, porque oferece a ele
a capacidade de se reconhecer no mundo, saber sua origem, traçar seus modelos e
padrões de comportamento.

Lewin, psicólogo alemão, nascido em 1890, associou-se a Wertheimer (1880-1943)


e Köhler (1887-1967) para ampliar os estudos relacionados à corrente psicológica
denominada Gestalt (Teoria da Forma). Foi ele quem introduziu a teoria de campo, a
qual exprime a realidade psicológica do indivíduo, o seu comportamento. Lewin definia
o campo como um todo, e por isso, não se pode analisar o comportamento do indivíduo
se não houver a noção de todo o campo onde este está inserido, ou seja, sem relacioná-lo
com ambiente em que ele vive.

A teoria de Kurt Lewin foi aplicada em vários fenômenos psicológicos observados


na adolescência, em dinâmica do processo grupal, em comportamentos e hábitos.
Ele também procurava utilizar a matemática em seus conceitos por meio de representações
de gráficos para fazer uma representação espacial do indivíduo, inserido em um campo,
ultrapassando a realidade interna dele. Ainda levava em consideração a relação total
com o ambiente que cercava o homem, colocando-o dentro de um círculo fechado e
localizado dentro de um universo mais amplo.

Também é importante salientar que ciclo do contato representa a própria Gestalt e


serve como modelo para fazer psicodiagnóstico em várias esferas, tanto de empresas
quanto de grupos ou de pessoas. Isso porque a pessoa deve ser vista na sua totalidade,
dentro do seu espaço vital, e o psicólogo deve conhecer esse universo. No ciclo, está
contida toda a realidade possível que determina o comportamento do indivíduo. O self
(no centro do ciclo) funciona como um sistema que faz o contato do indivíduo com o
meio e possui várias funções, indo desde a busca da satisfação das necessidades vitais,
como sede e fome, até escolhas, tomada de consciência e construção da personalidade
do ser humano.

Demonstra-se como a pessoa é um campo holístico de relações. Podemos observar


que o indivíduo se relaciona com vários sistemas, assim como pode apresentar vários
comportamentos, dependendo do sistema ao qual está conectado. Além disso, ele
está sujeito a interferências de seu ambiente, como a casa, o trabalho, a escola, a
família etc. O campo é dinâmico, múltiplo e não pode ser deixado de lado em razão
da interdependência existente entre o ser humano e suas relações sociais.

95
CAPÍTULO 3
A Relação entre os Tipos de Caráter

Há realmente muito a ser discutido sobre as estruturas de caráter, porém, buscamos realizar
um recorte a partir das categorias de análise estabelecidas. Discutimos, especificamente,
em cada estrutura, a constituição das defesas ao longo do desenvolvimento infantil, o
processo do fluxo energético, a estruturação egoica e sua relação com o corpo (incluindo
as características físicas e psicológicas), a relação entre sexualidade e sentimentos e os
aspectos culturais e sociais que permeiam a constituição da estrutura. É importante
lembrar que foi selecionada a tipologia de Lowen por esta demonstrar ser a mais
sistematizada entre os teóricos das abordagens corporais (JÚNIOR, 2016).
Um país preocupado com a saúde precisa proteger e educar as crianças, de modo que
elas cresçam saudáveis e criem hábitos para a manutenção de sua saúde. Os adolescentes
também necessitam de ações para protegê-los de doenças que podem afetar seu
crescimento e desenvolvimento. Exemplos disso são os transtornos mentais (como
ansiedade, fobias, esquizofrenia), que interferem não apenas em sua saúde, mas, também,
têm impacto em sua vida acadêmica, familiar e social. Além disso, o uso de álcool ou
tabaco, a falta de atividade física, o sexo sem proteção e a violência são os problemas
que podem afetar esse grupo populacional. Confira alguns princípios éticos comuns
a todos os profissionais de saúde:
» Beneficência.

» Fazer o bem.

» Autonomia.

» Poder de cada um tomar as decisões que afetam sua vida.

» Não maleficência.

» Não causar danos intencionais.

» Confidencialidade.

» Manter em segredo as informações sobre o paciente.

» Veracidade.

» Obrigação de dizer a verdade.

» Justiça.

» Distribuição igual dos benefícios, sem discriminação.

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Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter | Unidade IV

Todos esses princípios visam a que se alcance o respeito à dignidade humana, o estímulo
à autonomia e a promoção à justiça e ao bem-estar.

» Podem-se considerar vários domínios ligados à qualidade de vida.

» Físico (ou biológico).

» Ligado às condições de saúde e à presença ou não de doenças, dor, sofrimento


físico etc.
» Psicológico.

» Baseia-se na felicidade pessoal, na forma de encarar os problemas, no


otimismo, na autoestima, na imagem corporal etc.

Análise do caráter
Os eixos estratégicos dessa política são:

» atenção humanizada e qualificada à gestação, ao parto, ao nascimento e aos


recém-nascidos;
» aleitamento materno e alimentação complementar saudável;

» promoção e acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento integral;

» atenção integral a crianças com agravos prevalentes na infância e com


doenças crônicas;
» atenção integral à criança em situação de violência, prevenção de acidentes
e promoção da cultura de paz;
» atenção à saúde de crianças com deficiência ou em situações específicas e
de vulnerabilidade;
» vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno.

No processo de envelhecimento, ocorre diminuição da capacidade funcional, aumento


de demanda de cuidados e maior dependência. Assim, entre os principais problemas
de saúde enfrentados pelos idosos, destacam-se:
» afecções cardiovasculares, em especial doença hipertensiva;

» diabetes e suas complicações;

» déficits sensoriais (auditivo, visual e do sistema de equilíbrio);

97
Unidade IV | Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter

» afecções osteoarticulares (diminuição de massa muscular, da densidade óssea


e da força muscular, rigidez articular e dor);
» déficits cognitivos (dificuldades de adaptação às mudanças, aumento do tempo
de condução nervosa e de reação aos estímulos, diminuição da capacidade
de atenção e memória).

Doenças transmissíveis são uma ameaça à saúde dos indivíduos e das populações.
Embora, de modo geral, sejam preveníveis e tratáveis, o uso de métodos epidemiológicos
em sua investigação e controle ainda é um desafio para profissionais de saúde e
gestores.

As estratégias para a prevenção epidemiológica das doenças transmissíveis incluem


medidas individuais e coletivas. Educação e informação, vacinação, higiene pessoal e
ambiental, saneamento básico e notificação de casos são alguns exemplos.

Em 2011, foi estabelecido um plano de ação estratégica para o enfrentamento dessas


doenças. Confira o que esse plano de ação inclui (COHEN, 2014):

» promoção de saúde;

» atividade física;

» política antitabaco;

» distribuição gratuita de remédios para hipertensão e diabetes;

» exames preventivos para câncer de mama e colo de útero.

O que é necessário para que as pessoas efetivamente mudem seu comportamento,


abandonando hábitos prejudiciais à saúde e incorporando novos, mais saudáveis?

As medidas de prevenção e controle incluem dois níveis. A prevenção primária


visa eliminar ou minimizar os fatores de risco e inclui mudanças no estilo de vida,
educação para a saúde e iniciativas relacionadas à saúde do trabalhador. Já a
prevenção secundária objetiva o diagnóstico precoce e a recuperação da saúde,
com medidas como auto-observação, rastreamento de indivíduos assintomáticos,
exames periódicos e combate ao processo da doença com medicamentos, terapias
e cirurgias.

Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consiste somente
na ausência de uma doença ou enfermidade. Para que se atinja essa meta, é necessário
haver um sistema que conheça as características das populações, as doenças e os fatores

98
Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter | Unidade IV

de riscos a que estão expostas e seu estilo de vida. Com base nesses dados, implantam-se
ações e políticas públicas que visem promover a saúde, prevenir problemas e doenças,
diagnosticá-los precocemente e tratar as enfermidades.

O sistema de Vigilância em Saúde se ocupa dos riscos e perigos à saúde da população


e do controle das doenças transmissíveis e não transmissíveis. Utiliza conhecimento
científico para identificar os agentes causais dos vários agravos, sejam eles biológicos,
ambientais ou comportamentais.

Depois, delimita as populações e/ou áreas de risco e inicia campanhas de prevenção e


orientação, a fim de que haja um esforço conjunto dos gestores, profissionais de saúde
e população com o objetivo de melhorar os indicadores de saúde.

Apesar de vários avanços em algumas áreas de saúde, nos últimos anos, temos visto
o aumento do número de infectados por doenças transmitidas por mosquitos, como
a dengue, a chikungunya e a febra amarela.

As causas disso são as mudanças climáticas e ambientais, que alteram o habitat dos
mosquitos transmissores do vírus, e a falha em adotarmos medidas de prevenção.
Isso demonstra a necessidade de haver informações constantes e acompanhamento
de medidas de prevenção e vigilância.

Para controlar as doenças não transmissíveis, além de informação, é necessário que as


pessoas efetivamente mudem seu comportamento, abandonando hábitos prejudiciais à saúde
e incorporando novos, mais saudáveis. Para isso, é necessário que se promovam políticas
públicas que garantam acesso à alimentação saudável e de qualidade, locais para a prática de
atividades físicas e programas específicos que auxiliem as pessoas a abandonarem os vícios.

Por outro lado, Lewin não deu ênfase aos aspectos da hereditariedade e à maturação em
seus estudos, preferindo focar nos aspectos puramente psicológicos para compreender o
desenvolvimento do ser humano. Ele também trouxe inovação nos estudos do processo
grupal e liderança, para entender a dinâmica de grupo, especialmente a de pequenos
grupos. Além disso, ele é considerado o criador da pesquisa-ação, que se constitui em
uma metodologia de investigação para solução de problemas da realidade (in loco),
sendo o pesquisador participante do problema.

Para a Psicologia Social, o trabalho desenvolvido por Foucault é de extrema importância,


pois possibilitou inovações para construção de práticas na área de organização social,
atuação em políticas públicas e trabalho social, além de ampliar o olhar sobre o campo
do saber da ciência.

99
Unidade IV | Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter

Cabe destacar os trabalhos inúmeros que foram desenvolvidos na área da Psicologia


Social no Brasil nas últimas décadas, ns quais se utilizaram os estudos de Foucault,
uma vez que o profissional psicólogo foi inserido em um novo espaço de atuação, o
público, pois, até então, ocupava o ambiente privado dos consultórios e das clínicas
particulares. Diante das novas políticas públicas do Estado e da assistência ao
cidadão, foi necessário buscar outras respostas para encontrar soluções para
a compreensão da realidade institucional. Foucault surgiu como um pensador
importante nessa questão, porque estudava temas relacionados às relações de
dominação e de poder, às práticas de liberdade e às organizações públicas.

Consciência e alienação, do ponto de vista marxista, convergem para o método dialético,


a chave para a superação da crise da Psicologia Social no Brasil. Foi o período em que
Foucault fez sua viagem histórica pela América Latina para saber o que estava sendo
produzido na área da Psicologia Social no resto do continente, à procura de novas
bases epistemológicas.

Já nos anos 1990, o estudioso quis construir uma metodologia de pesquisa que pudesse
aliar a teoria e a prática, porque observa haver um distanciamento entre as duas
áreas. Começou a fazer uma sistematização teórica sobre o papel da subjetividade
na conscientização do ser humano, no combate à alienação. Também incorporou
ao estudo da ideologia as emoções, os afetos, os sentimentos que dão sustentação às
relações de poder.

Percorremos o caminho acerca da história da Psicologia Social por meio do conhecimento


da trajetória de alguns dos maiores pensadores da área social do século XX. Iniciamos
por G. Allport, que, com sua teoria do traço, influenciou os estudos da personalidade
e da Psicologia Social. Este trouxe inovações se contrapondo ao uso dos modelos das
ciências naturais para o estudo do comportamento do humano, focando nas pesquisas
relacionadas a problemas sociais.

Para ele, o traço era uma tendência determinante para o ser humano responder
a certos estímulos, o que definiria, assim, a construção de sua personalidade.
Tratamos também sobre Kurt Lewin, que surgiu como um nome influente para a
Psicologia Social, pois desenvolveu a teoria de campo para o estudo dos fenômenos
psicológicos, abordando a influência do ambiente no indivíduo. Trabalhou com grupos
sociais e com a pesquisa-ação.

Já Michel Foucault, como filósofo, contribui essencialmente com sua obra sobre o
saber e as relações de poder. Ele discorria sobre a construção do mundo moderno, das
ciências e, principalmente, as ciências humanas e biológicas. Reconstruiu a história

100
Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter | Unidade IV

da clínica, da loucura, dos presídios e refletiu a respeito da sexualidade e de questões


de gênero. Sua produção teórica foi de grande valia para a Psicologia Social Brasileira
e, até hoje, produz muitos frutos como embasamento teórico.

Quando Foucault propôs a sua arqueologia do saber, esta serviu para a Psicologia se
repensar enquanto ciência, como foi constituída ao longo do tempo e como está na
contemporaneidade, da mesma forma como é a sua relação com o indivíduo.

Adentrando na Psicologia Social Brasileira, vimos dois nomes muito importantes:


Aroldo Rodrigues e Silvia Lane. O primeiro tem a influência da Psicologia Social
cognitivista, de base experimental e aborda temas relacionados a mecanismos universais
como percepção social, atração interpessoal, comportamento, atitudes, voltado ao
aspecto experimental e à neutralidade da ciência. Já Silvia Lane acreditava em outro
modelo de Psicologia Social, mais próximo à realidade da América Latina e do Brasil,
voltado à resolução dos problemas sociais. Utilizava-se do materialismo histórico
como pressuposto teórico e da dialética como base para criar um modelo de pesquisa
e forma de atuação. Ela não aceitava a neutralidade da ciência e, por isso, contrapôs-
se ao Positivismo. Silvia Lane entrou no século XXI preocupada com a autonomia do
indivíduo, estudando a criatividade e a imaginação, para pensar em novas formas de
ação e liberdade para o ser humano.

A Biossegurança também abrange os conceitos atuais de nanobiotecnologia, apoio a


indústrias, hospitais, laboratórios públicos e privados, banco de sangue, universidades
e todas as áreas ligadas aos serviços da saúde.

Uma das mais importantes vertentes da Biossegurança é o controle ligado aos riscos
biológicos, físicos, químicos e ergonômicos que se confunde com os requisitos da área
de segurança do trabalho em uma empresa; inclusive, todos os documentos trabalhistas
sempre têm apoio dos técnicos e engenheiros de segurança envolvidos, bem como a
medicina do trabalho, a higiene ocupacional, a área clínica e de infecções.

Todas as áreas e qualificações são importantes para a Biossegurança, para que os


documentos e procedimentos contemplem toda a necessidade de uma área ou prática.

As altas e baixas temperaturas podem ocorrer nos serviços de saúde na refrigeração


de amostras e de medicamentos, e também causam impactos na saúde do trabalhador.
O calor causa desidratação, fadiga, distúrbios cardiocirculatórios e psiconeuróticos,
insolação e câimbras. A mudança de pressão pode romper o tímpano e levar à morte
por liberação de nitrogênio nos tecidos e vasos. A umidade constitui uma situação

101
Unidade IV | Adoecimento Corporal e as Doenças que Afetam o Caráter

insalubre porque causa doenças respiratórias e doenças de pele, principalmente.


Ambientes com alta umidade normalmente são acometidos por enormes quantidades
de fungos filamentosos causadores de doenças respiratórias, como a aspergilose.

102
REFERÊNCIAS

AMARAL, S. A. Estágio categorial. In: MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. de (Orgs.). Henri


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Figura 6. Ações e comportamento. Disponível em: https://previews.123rf.com/images/lightwise/
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Figura 7. Apoio médico. Disponível em: https://previews.123rf.com/images/fizkes/fizkes1902/
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