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Universidade Paulista - UNIP

Disciplina: Estratégias de Intervenção Psicológica


Estágio: Intervenção Psicológica na Queixa Escolar
Professor/Supervisor: Rita
Aluna: Dayane de Morais Aveiro RA: C55278-0
Semestre: 9° Turno:manhã

Referência bibliográfica: SOUZA, Beatriz de Paula. Funcionamentos escolares e a produção do


fracasso escolar e sofrimento. In: Orientação à Queixa Escolar. SOUZA, Beatriz de Paula (org).
São Paulo: Portal de livros abertos da USP, 2020. 1ª. ed. 2007. p.p. 241-278.

Tem sido fundamental para os atendimentos de Orientação à quiexa escolar, o estudo dos
funcionamentos escolares e sua relação com o fracasso escolar e o sofrimento dos estudantes que
chegam aos psicólogos com queixas escolares. Pensar no ambiente escolar é pensar que o Sujeito se
estrutura na relação com o Outro, e que o Outro inclui os ambientes escolares que participou ou
participa.
No entanto, pensarmos sobre tais funcionamentos traz o perigo de avivar algo que tem
atravessado a relação psicólogos e escolas com quais procuram entrar em contato direto: trata-se do
preconceito contra os professores de escolas públicas. Tais profissionais, têm sido vistos como
incompetentes, malformados, egoístas e sem compromisso com seus alunos.
Muitas vezes os psicólogos, atingidos por essa visão dos professores, sustentada por uma
análise superficial das dificuldades dos sistema escolar e pela crença de superioridade do saber
psicológico, propõem ao professores uma relação vertical, recusada por eles. Essa reação dos
professores é concebida como resistência, e com essa dificuldade de interlocução entre os dois
profissionais, muitas queixas escolares que poderiam desenvolver acabam não acontecendo.
A escola, como qualquer outra instituição em geral, é um campo de contradições e
paradoxos, em que atuam forças que tendem a produzir fracasso e sofrimento nas pessoas que
fazem parte dela, como também atuam forças que impulsionam no sentido oposto a esse.
Não podemos deixar de reconhecer que, a um bom tempo, o ensino brasileiro encontra-se
em situação lamentável, com alta taxa de evasão e repetência e com a maioria dos alunos
concentrados na 1ª série (de onde têm dificuldade de sair). Implementada de maneira autoritária
no final da década de 1990, e sem garantir condições mínimas necessária para tornar-se avanço, a
Progressão Continuada, converteu-se em promoção automática.
A partir de 1995, o Ministério da Educação passou a aplicar, bianualmente, avaliações
nacionais (SAEB – Sistema de Avaliação da Eduação Básica) , para verificar os conhecimentos dos
alunos da 4ª e 8ª serie do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio. Essa avaliações têm
informado sobre a eficiência de nossas escolas básicas de ensinar a ler, escrever e contar, além da
transmissão de outros conhecimentos e habilidades.
Os resultados do SAEB de 2003 mostraram um quadro que continua desastroso: menos de
5% dos estudades da 4ª série, por exemplo, estão adequadamente alfabetizados para a série, sendo
quase 19%, são analfabetos.
Na década de 1980, houve uma ruptura temática no campo de pesquisa que investigava as
causas do fracasso escolar, que tradicionalmente, teve como foco as características dos alunos e de
seu meio familiar e social.
A contextualização dos funcionamentos escolares produtores de fracasso escolar e de
sofrimento feita a seguir fomentará um aprofundamento nas camadas de poder da cena escolar, até
chegarmos aos alunos e as suas famílias.

Funcionamentos escolares pordutores de educadores fracassados


A partir dos órgão centrais
Autoritarismo na implementação de políticas públicas na Educação

Quando se trata da implementação de políticas públicas na educação, predomina a ausência


de discussão por parte daqueles que a concretizarão e a desconsideração de seus saberes, suas
possibilidades e opiniões.
Convertidos em meros executores de medidas que não lhe fazem sentido e podem ser
prejudiciais ao ensino, é comum educadores fazerem apropriações superficiais e distorcidas dos
princípios apresentados como sendo os fundamentos das mesmas. Apropriações previsíveis, já que
tais medidas dependem de mudanças paradigmáticas na Educação e não podem ser benéficas se
implantadas dessa maneira.

Mudança de educadores durante o ano letivo.

As mudanças de escola ou classe que os educadores fazem se dão pelos chamados concursos
de remoção e de ingresso.
• Concurso de remoção: os cargos que não estão ocupados por profissionais efetivados de
uma categoria funcional, são colocados a disposição da Secretária de Educação ou instâncias
regionais. A ordem de esolha da fila é montada obedecendo ums escala de pontos intrincada
e questionável, que beneficia tempo de serviço. Isso gera uma complicada “dança das
cadeiras”.
• Consurso de ingresso: tem duração de até quatro anos e os aprovados são chamados a
qualquer época, promovendo novas mudanças, inde do momento do ano escolar.

Além dos concursos de remoção, há outros motivos de mudanças:


➢ Licença por motivos de saúde;
➢ Afastamento do cargo para preenchimento de cargos administrativos;
➢ Remoções pontuais e outros dispositivos de rotatividade profissional;

Cada um desses mecanismos aciona um processo burocrático para ocupar o lugar vago,
temporário ou definitivo. Além da insegurança dos educadores, esse funcionamento promove
rupturas no vínculo entre educadores e suas escolas, alunos, classes.
Classes que passam por trocas de professores durante o ano letivo tendem a ser
desorganizadas e a produzir aquém de seu potencial.
Determinações burocráticas sobrepondo-se o processo pedagógico e diretos dos alunos a
uma educação de qualidade.

Convocações de última hora

Eventos costumam atropelar a organização da rotina e os planejamentos das unidades


escolares. Através dos órgãos centrais, são feitas convoações de última hora, que retiram diretores ,
coordenadores e professores de suas funções na escola. Isso promove a quebra em processos e
tendem a produzir o desânimo e a descrença dos educadores na possi de se trabalhar de maneira
planejada e contínua.
No fim dessa linha de transmissão, a escola aprende e ensina a seus alunos a desorganização.
Assim, quando essa lição é aprendida por alunos e por seus pais, estes são culpabilizados por terem
aprendido.

Baixos salários

Não é possível desconsiderar o peso da questão salarial. Um bom salário não garante
sozinho a qualidade no trabalho. O salário pode funcionar como uma forma de reconhecimento:
uma maneira da pessoa conhecer a si própria.
Baixos salários podem:
• Gerar greves, embora intrumento legítimo de defesa dos trabalhadores;
• Favorecer evasão dos professores, que migram para outras profissões;
• Geram professores que acumulam cargos e excessivos números de aulas por semana;

Internos ás escolas
Ausência de espaços sistemáticos de reflexão
As escolas públicas contam com reuniões semanais em suas grades de horários, que servem
para reuniões e para outros trabalhos individuias dos professores. No entanto, nota-se que nesses
momentos não cumpri-se suas finalidades. Vê-se educadores irem para sala estipulada sem saber o
que vai acontecer, pois não há pauta alguma e cada um se ocupa de maneira diferente.
Há necessidade de espaços de reflexãocoletivos, possibilitando que se tenha realmente um
equipe docente, com projetos e soluções grupais que dêem sentido à escola.

Falta de infra-estrutura de apoio

Além de ser comum os professores não se apoiarem mutuamente, o apoio técnico que
deveria ser oferecido por supervisores de ensino, diretores e coordenadores muitas vezes também
não acontece por motivos diversos. Estamos falando de um fenômeno sistêmico.

Desqualificação dos saberes dos educadores

Estudar, informar-se e manter-se atualizado são práticas implicadas na possibilidade de um


professor ensinar com qualidade. No entanto, é difícil saber que fatores determinam mais
fortemente a ocorrência de aulas de conteúdos pobres, ensinados com técnicas desinteressantes e
atravessados por relações deterioradas entre professores e alunos. Seriam as deficiências da
formação docente ou as condições precárias/hostis de trabalho, que ao longo dos anos vão
sabotando a paixão de ensinar? Condições de trabalho são os fatores de maior peso na produção de
aulas de baixa qualidade. A partir da constituição de espaços de encontro e valorização sistemáticas,
comprometidos e bem estruturados destes profissionais, criam-se estratégias pedagógicas originais e
significativas e a potência destes profissionais se desvela.

Funcionamentos escolares pordutores de alunos fracassados


Estratégia de homegeineização

Formação de classes homogêneas


Bem antes da implantação da Progressão Continuada, era observado com frequência nas
escolas, por parte de muitos educadores, o esforço assumido de formar classes homogêneas,
idealmente formadas por alunos que estariam no mesmo nível de aprendizado e com ritmos
semelhantes. Assim o ensino seria otimizado. Porém a situação "ideal" nunca se produzia, pois ao
longo do ano os alunos iam se diferenciando.
Ao remanejar as salas na tentativa de uma homogeneidade, excluíam-se das decisões e das
informações os personagens atingidos diretamente: alunos e os pais.
Um outro efeito desse processo homogeneizador de formação de classes era a produção de
classes revoltadas e enlouquecedoras para alunos e professores. A evasão era alta e o adoecimento
físico da professora era frequente, gerando faltas, licenças e trocas de mestras. Gerava-se um efeito
“bola de neve”.

Grupos homogêneos interclasse

Este é um modo de lidar com a heterogeneidade da classe que aparece, por exemplo, nas
falas das crianças como "eu sento do lado dos mais fracos na classe". Os efeitos são semelhantes
aos das classes homogêneas, com nuances diferentes, dado o fato de que "fortes" e "fracos" são
marcados em sua localização física da sala.

Abandono dos atrasados

Encontram-se muitos depoimentos reveladores da ausência de estratégias que visem o


progresso escolar dos alunos pedagogicamente defasados. São alunos em situação de abandono no
ambiente escolar, no qual não recebem investimentos pedagógicos ou afetivos. São crianças e
adolescentes de quem se desistiu. Quando esses alunos chegam aos psicólogos, costumam estar em
profundo sofrimento e deterioração da crença em sua capacidade de aprendizagem.

Falta e trocas de professores

As condições difíceis de trabalho dos professores, produzem, entre outros efeitos, um


número excessivo de faltas, licenças, mudanças de escola e desligamentos destes profissionais. Isso
impacta negativamente as crianças, do ponto de vista do rendimento escolar, do vínculo com o
professor e com a aprendizagem escolar e do sofrimento. Resentem-se das mudanças,
desorganizando-se e mesmo regredindo na aprendizagem.
Comumente, não há substitutis suficiente para cobrir todas as faltas simultâneas dos
professores, sendo necessário: juntar duas classes na mesma sala; incubir um professor de cuidar de
duas salas; abrirem “janelas” no horário do dia e os alunos ficam no pátio.

Pedagogia repetitiva e desinteressante

Observações de cadernos escolares mostram, com certe frequência, o predomínio dos


exercícios repititivos e mecânicos, como cópia e séries extensas de contas aritiméticas desprovidas
de sentido. O pensar ocupa pouco espaço e assim tende a se instalar o desinteresse e isso agrava-se
quando o nível de aprendizagem dos alunos é incompatível com os graus de dificuldade das
atividades propostas.

Preconceitos negativos sobre pobres em geral e negros em especial


Ideias disseminadas em nossa sociedade de que pessoas que pertencem ás camadas
dominadas e probres da população em geral e as negras em especial sofrem de carências múltiplas.
Preconceitos negativos, fortes e frequentemente hegemônicos, de que as pessoas das camadas
populares são pouco inteligentes, têm pouca cultura, falam errado, são promíscuas e portam
distúrbios afetivos. Esse discurso tem por função a manutenção da estrutura social desigual e injusta
do capitalismo.
O olhar que descrê da capacidade de aprender tende a produzir sujeitos que não aprendem,
entre outros motivos porque introjetam a imagem que lhe é devolvida pelo olhar do educador.

Humilhações

Gerada pelas questões citadas, há relatos de experiências humilhantes vividas em ambiente


escolar:
As defasagens pedagógicas são expostas e ridicularizadas por colegas e mesmo por
professores, em situações como chamadas irresponsáveis à leitura em voz alta ou tarefas executadas
na lousa.
A organização de festas e formaturas em que, por vezes, a escola decide por cerimônias que
incluem itens que nem todos podem pagar.
Dificuldade em encontra por exemplo, meninso que aceitem formar par com meninas negras
em festas juninas.

Encaminhamento a especialistas

Quando a escola não consegue ensinar, é comum o encaminhamento dos alunos atingidos
pelas dificuldades de seu funcionamento a especialistas. Infelizmemte, a produção de alunos
fracassados ocorre em massa.
Tradicionalemente, psicólogos e outros profissionais têm atendido tais encaminhamentos
como sendo de natureza individual das crianças e a escola acaba sendo isentada de suas
implicações. Perde-se assim a oportunidade de produzir mudanças no cerne das queixas
apresentadas, respondendo a necessidades de professores e escolas.

Funcionamentos escolares produtores de pais fracassados


Preconceitos contra famílias probres
Ao indagarem educadores sobre os motivos de fracasso de seus alunos, as primeiras
respostas recairão sobre suas famílias. Esta percepção lhes traz sofrimento: sentem-se culpados e
incompetentes.
Reuniões na escola

Muitos pais ressentem-se de desenvolverem uma aversão por is à escola, pois associam
essas idas a ouvirem coisas desagradáveis sobre seus filhos e sobre si próprios. Queixam-se de
nunca serem chamados para ouvirem elogios ou relatos de progressos.

Bilhetes nos cadernos

Cadernos de classe utilizados como meio de comuniação entre escola e família revelam
registros de queixas do professor sobre o dono do caderno como: “hoje o Fulano não fez nada”,
“hoje o Cilcano ficou andando pela sala”. Tais registros têm função de resguardar os professores de
acusações de não terem trabalhado dereito em classe.
A presença desses bilhetes nos cadernos de classe pode produzir vínculos negativos das
crianças com os mesmos e irritar e enervar os pais, podendo ser deflagração de violência doméstica
contra crianças e jovens.

Ações gerais, coletivas e políticas são imprescindíveis para uma superação real do quadro de
fracasso e sofrimento escolar que temos hoje na eduação.

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