É comum, hoje em dia, se dizer que as “respostas erradas” têm valor para a
continuidade da ação educativa, mas três pontos, levantados por professoras municipais de
Porto Alegre, ainda geram duvidas sobre o assunto.
1. Em que medida corrigir tarefas ajuda o aluno a compreender seus erros?
2. Como ajudar o aluno a descobrir novos conceitos a partir de suas primeiras hipóteses
(certo ou errado)?
3. Qual o significado (para professores e alunos) do trabalho, tarefa, realizado?
Esse grupo de professoras de Porto Alegre, tentando de responder tais perguntas,
eliminou a atribuição de notas e adotou “relatórios de avaliação bimestral e final” como forma
de avaliação, modificando também o regimento escolar.
Acabaram com as “provas datadas”, realizando tarefas constantes sem a preocupação
com notas, e a analise de aprovação e retenção passou a ser feita a partir do beneficio que
essa decisão trará para a criança, significa o fim dos parâmetros por nota ou comportamento
colaborativo para a aprovação, e colocar o que o aluno aprendeu como critério principal.
Outra grande questão que aflorou ao longo do trabalho foi: “Como corrigir os alunos?”.
A intervenção do professor sobre as tarefas completas ou não dos alunos muitas vezes
incomodava, pois eles não entendiam o motivo de “corrigir”.
Outros questionamentos afloraram, como: “O que a ação de corrigir significa para pais,
alunos e professores?”, “Como trabalhar com os registros observados sem adotar as praticas
tradicionais (qualitativa e quantitativa)?” e “É possível, a partir dessas observações adotar
uma ação mediadora que provoque o aluno a refletir e descobrir melhores soluções sem a
imposição do professor?”.
Não se pode analisar as expectativas de professores, alunos e pais com relação as
disciplinas e metodologias de avaliação de forma separada, excluindo uns e valorizando
outros pontos de vista, já que as expectativas de ambos devem estar inter-relacionadas para
o bom andamento das praticas educacionais.
Sobre a “correção”, quando se utiliza métodos não tradicionais, os pais têm medo dos
filhos receberem “instrução” de baixa qualidade, pois tem a impressão de que a nova
metodologia é menos exigente, já que valoriza mais as manifestações cognitivas da criança
do que as notas obtidas em exames.
A maioria dos pais que não entende esquema de avaliação construtivista, que não
classifica por notas os alunos, pede pela volta do tradicional, e os filhos, que estão entre os
“temores dos pais” e a “postura construtivista da escola”, tem no adulto o modelo de “saber
competente” esperado pela educação, e preocupam-se muito mais em “acertar” do que
“construir”.
Com relação à postura do professor que trabalha com o construtivismo avaliativo a
autora cita dois modelos:
1. Construtivista modinha: Preocupa-se com os rumos da escola e aceita mudanças, mas
carece de estudos aprofundados. Segue metodologias sugeridas pelos coordenadores ou
imita colegas, mas não acredita plenamente no que está fazendo. Desenvolve uma
metodologia tradicional “fantasiada de construtivista”.
2. Construtivista aprofundado: Sofre com grandes obstáculos entre a “teoria e pratica”, o
que gera sentimento de insegurança com o trabalho realizado, resultando no retrocesso ao
tradicional, isso por medo de não saber mensurar ou atingir os objetivos esperados.
A prática de avaliação, ainda hoje, segue um modelo secular, que segundo a autora é
seletivo e excludente, sendo assim são duas posturas opostas, a “classificatória” e a
“mediadora”:
1. Avaliação classificatória: Verificar respostas certas e erradas, tomar decisões sobre o
aproveitamento, aprovar ou reprovar a partir desse aproveitamento (método tradicional de
“certo/errado”).
2. Avaliação mediadora: Analisar as várias manifestações dos alunos em situações de
aprendizagem de forma a exercer uma ação educativa que lhe ajude na descoberta de novas
formas de encontrar soluções (acesso gradativo do aluno ao saber).
Tradicionalmente a escola enaltece os procedimentos competitivos e classificatórios de
avaliação (certo/errado), e nesse modelo dificilmente o professor chama a atenção do aluno
por uma “resposta interessante”, mas sim pelos erros, com as seguintes afirmações, “O que é
isso?”, “Não entendi”, como se o erro, ou a forma diferente de pensar do aluno, como se o
pensar diferente fosse algo absurdo ao seu entendimento de resposta certa.
A visão “Positivista” vai além do tradicional e trata com os “absurdamente certos e
errados”, isso na visão do professor, o que da um forte tom de autoritarismo na pratica
docente, mesmo que o professor acredite não ser autoritário.
Segundo Kamii (1991, p. 23), “Infelizmente, várias escolas tem a tendência de exigir
respostas corretas”, pois isso inferioriza o ponto de vista e a processo de criação de hipóteses
do aluno. A solicitação de certo/errado faz o aluno ter dependência da “palavra final” do
adulto, interiorizando seu trabalho e entendendo a escola como um espaço que está ali para
“classificá-lo”.
O professor que segue esse modelo classificatório de conhecimentos dos alunos arma-
se de critérios, métodos e padrões avaliativos. A avaliação torna-se um meio de comprovar o
juízo final do professor em aprovar ou reprovar o aluno.
Conhecimentos impostos de forma pronta e com a “resposta correta absoluta” tiram do
aluno a possibilidade de criar sua própria metodologia para chegar à resposta certa, e
fortalece o medo de errar.
Ao refazer alguma atividade professor e aluno devem ter em mente que esse processo
esta em busca da compreensão do erro, refazer sem reflexão é insignificante ao
desenvolvimento cognitivo do educando.
Enquanto a perspectiva tradicional das respostas prontas pune o aluno pelos erros, a
construtivista o faz pensar, valorizando o trabalho do aluno. Deve-se considerar a dificuldade
do aluno e criar meios de induzi-lo a compreender o erro e corrigi-lo, sem dar a ele a resposta
esperada logo de cara.
Considerar, valorizar, não significa observar e deixar como está, mas sim refletir
teoricamente e planejar situações provocativas ao aluno.
Certo/Errado: Visão secular de avaliação. Não é fácil para os pais, coordenadores e
professores abandonarem essa visão, ainda mais que a visão construtivista de avaliação
exige confiança de todos para dar certo, e para isso é preciso que a escola envolva a família
nesse processo.
No construtivismo a avaliação está voltada ao sócio-afetivo e ao cognitivo, e não
classificação por notas, isso gera surpresa aos alunos, que precisam mensurar de imediato
seu trabalho, e o método que conhecem é a nota.
Durante os trabalhos escolares os alunos exigem que o professor preste atenção na
sua atividade, comente e escreva algo a respeito. Comentários com caráter de
questionamento valorizam e desafiam o aluno a prosseguir na construção da aprendizagem
(método construtivista).
Diferente da censura do modelo tradicional, que faz o aluno apagar, mudar suas ideias
particulares, o construtivismo aponta seus avanços e encaminham questões que o auxiliam a
encontrar as respostas adequadas.
A avaliação torna-se disciplinadora, punitiva e discriminatória quando utiliza notas,
conceitos e métodos de classificação de alunos (os que não tiram notas tão boas sentem-se
excluídos, inferiorizados).
O sistema exige notas, mas não exige que os professores usem avaliações
classificatórias para mensurar o aproveitamento dos alunos. Essa forma de medir pode
comprometer os progressos escolares dos alunos, pois eles comparam entre si suas notas e
classificam uns aos outros de burros ou inteligentes.
A ação mediadora não pode ser uniforme, já que os erros dos alunos seguem cursos
diversos (não existe um padrão para o erro). É necessária a reflexão teórica sobre cada
resposta do aluno. Não da para desenvolver procedimentos de intervenção que sirvam de
regras gerais (verdades absolutas).
A tentativa de inverter a hierarquia tradicional (resposta certa é valorizada e o erro é
punido) não deve seguir extremos, pois nenhum extremo é válido, mas é preciso trabalhar
para que os alunos entendam que o “erro não é um pecado”, pois isso fará com que eles
fiquem mais confiantes em perguntar e comentar suas tarefas, já que o peso da punição será
inferiorizado.
Deve-se aplicar a ação mediadora entre uma tarefa do aluno e a posterior, analisando
o entendimento dele sobre o assunto trabalhado e criando métodos que favoreçam a criança
na construção de um saber competente, próximo da “verdade cientifica” vigente.
Cada tarefa do aluno é uma etapa de sua evolução cognitiva, e isso não da pra somar,
classificar ou medir por notas. O grande receio da família e da sociedade, que estão
acostumadas com o método tradicional é que o método de registro do professor sobre as
avaliações seja superficial, que não mostre realmente o desenvolvimento real do aluno.
Quando a correção é feita respeitando a criança em suas etapas de desenvolvimento o
professor deixa de analisar friamente o “certo e errado” e analisa o que o aluno “aprendeu e
não aprendeu”, reflete sobre o que ele “ainda” não sabe e o que pode “vir a ser” aprendido.
Autores:
Rafaela Angeloni
Rodrigo Bastos
Thaminne Coutinho
Referência bibliográfica
HOFFMAN, Jussara. Avaliação Mediadora, Uma prática em construção da pré-escola à
universidade. Ed. Mediação. 2012.