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COORDENAÇÃO NASF

FLUXO PARA LINHA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL E PROCESSO DE


TRABALHO NASF – PSICOLOGIA
2016

COORDENAÇÃO NASF: Clesimary Evangelista Molina Martins e Taísa Belém do Espírito Santo Andrade
I- INTRODUÇÃO

Conforme a PNAB (BRASIL, 2011), os Núcleos de Apoio à Saúde da Família são equipes multiprofissionais, compostas por
profissionais de diferentes profissões ou especialidades, que devem atuar de maneira integrada e apoiando os profissionais das
equipes de Saúde da Família e das equipes de Atenção Básica para populações específicas (Consultórios na Rua, por exemplo),
construindo junto práticas e saberes em saúde com essas equipes de referência, atuando no manejo e/ou resolução de problemas
clínicos e sanitários e agregando práticas, na atenção básica, que ampliem o seu escopo de ofertas.

A Atenção Primária à Saúde trabalha com quatro atributos essenciais:

1)o acesso de primeiro contato do indivíduo com o sistema de saúde,

2) a longitudinalidade,

3) a integralidade da atenção e

4) a coordenação do cuidado dentro do sistema.

De acordo com o Caderno de Atenção Básica NASF, o processo de trabalho dos NASF, nos territórios de sua
responsabilidade, deve ser estruturado priorizando: Ações compartilhadas nos territórios de sua responsabilidade,
desenvolvidas de forma articulada com as equipes de SF e outros setores - projeto de saúde no território, planejamentos,
apoio aos grupos, trabalhos educativos, de inclusão social, enfrentamento da violência, ações junto aos equipamentos públicos
(escolas, creches, igrejas, pastorais etc.); Ações Clínicas compartilhadas para uma intervenção interdisciplinar, gerando
experiência para ambos os profissionais envolvidos - discussão de casos e situações, atendimento conjunto, realização de projeto
terapêutico singular, reuniões, orientações, bem como, apoio por telefone, e-mail, etc.; Intervenções específicas do profissional
do NASF com os usuários e/ou famílias (atendimento individual ou familiar), com discussão e negociação com os
profissionais da equipe de SF co-responsáveis pelo caso, de forma que o atendimento pela SF tenha seguimento complementar e
compatível ao cuidado oferecido pelo NASF diretamente ao usuário, ou à família ou à comunidade.
Diante do amplo campo de ação possível, propõe-se que as intervenções do NASF sejam pautadas por Áreas
Estratégicas, a saber: atividade física/práticas corporais; práticas integrativas e complementares; reabilitação; alimentação e
nutrição; saúde mental; serviço social; saúde da criança/do adolescente e do jovem; saúde da mulher e assistência farmacêutica.
O NASF, nesse contexto, deve atuar em conjunto com os profissionais das equipes de Saúde da Família, compartilhando as
práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade das equipes de SF, colaborando também com as expertises dos seus
vários Núcleos Profissionais.

Focando mais especificamente na contribuição do profissional psicólogo para essas áreas, vimos que suas
competências vão além da área estratégica da saúde mental, todavia, ele é o mais habilitado a contribuir nesse quesito, figurando
como responsável por levantar as problemáticas vividas na Atenção Primária para sua equipe NASF e ESF. É fundamental
trabalhar todas as suas ações na busca de superar a lógica fragmentada da saúde para a construção de redes de atenção e
cuidado de forma co-responsabilizada com a ESF nas questões de Saúde Mental; estabelecer espaços rotineiros de reunião,
levando tema da saúde mental para discussão de casos, planejamento de ações, estabelecimento de contratos, definição de
objetivos, critérios de prioridade, critérios de encaminhamento ou compartilhamento de casos, critérios de avaliação.

No âmbito da Atenção Primária, o Município de Aracaju possui um arranjo especial para o cuidado em Saúde Mental,
ampliando as possibilidades de oferta para essa Área Estratégica para além do NASF, que são as Referências em Saúde Mental,
com seus profissionais, suas definições de fluxo e processo de trabalho em Rede em funcionamento.

“No caso das Referências Ambulatoriais em Saúde Mental de Aracaju-SE, os psicólogos desempenham um papel
protagonista. Primeiro, porque integram uma equipe reduzida, junto ao psiquiatra. Depois, pelo próprio caráter das ações
ofertadas, que extrapolam o modelo clínico tradicional e incorporam uma postura diagnóstica que confere maior espaço a uma
análise psicossocial do sujeito, tendo como um de seus efeitos a descentralização do tratamento medicamentoso. Nessa esteira, o
tratamento psicoterápico, ainda que breve, e a formação de parcerias com outros setores da comunidade também se incluem
como possibilidades de tratamento.” (Guimarães, S. B., Oliveira, I. F., & Yamamoto, O. H., 2013, p. 670). Todavia, os autores
apontam que ainda temos grandes dificuldades na formação de grupos para atendimento, pouca articulação com as equipes de
ESF e falta de estratégias para desafogar as filas de atendimento.
Em virtude disso, a Coordenação NASF trouxe uma sugestão para o alinhamento da oferta de cuidado a ser desempenhada
pelos psicólogos NASF, de modo que não haja quebra na Linha de Cuidado já estabelecida e sim, ampliação do acesso aos
usuários e maior qualidade nas ações desenvolvidas no escopo da Atenção Primária para Saúde Mental.

II - PROCESSO DE TRABALHO DO PSICÓLOGO NASF

De modo geral, seu processo de trabalho obedece às definições aplicadas a todos os profissionais NASF. Todavia, existem
alguns arranjos específicos para o trabalho dessa categoria profissional, principalmente, na delimitação dos atendimentos
individuais em psicologia. Cabendo salientar aqui que o escopo de atuação de tais psicólogos está circunscrito à população
atendida pelas Equipes de Saúde da Família apoiadas por sua Equipe NASF correspondente:

Equipe NASF Região UBS


1 1ª Augusto Franco e Augusto César Leite
2 2ª Humberto Mourão e Geraldo Magela
3 3ª Ministro Costa, Ávila Nabuco e Max Carvalho
4 4ª Joaldo Barbosa, Fernando Sampaio e Edézio Vieira
5 5ª Oswaldo de Souza, Maira do Céu e Dona Jovem
9 Amélia Leite e Cândida Alves
6 6ª José Augusto Barreto e José Machado de Souza
7 7ª João Cardoso e Onésimo Pinto
8 8ª João Oliveira, Carlos Hardmam e Carlos Fernandes

Desse modo, detalharemos as atribuições gerais do psicólogo NASF e, posteriormente, teceremos alguns pontos
fundamentais na delimitação do atendimento individual nesse contexto.
2.1. Atribuição dos Psicólogos no NASF

 Realizar o acompanhamento longitudinal dos usuários atendidos na forma breve, considerando que o enfrentamento do
sujeito diante de perdas funcionais importantes e situações complexas de adoecimento podem demandar acompanhamento
contínuo e integrado das ESF/NASF;
 Realizar o atendimento psicológico, numa perspectiva integral e breve, de casos leves ou moderados de sofrimento
psíquico, que não impliquem em grandes limitações funcionais, mas que necessitam de orientação, apoio psicológico e
acompanhamento integrado das ESF/NASF;

 Acolher e atender usuários referenciados pelas ESF/Referências em Saúde Mental e NASF, na abordagem breve,
considerando as situações em que se evidenciam processos psíquicos, fatores subjetivos e sócio-familiares que permeiam
o não comprometimento ou a recusa do sujeito em relação ao seu tratamento ou processo de reabilitação, utilizando
ferramentas individuais e/ou coletivas com temas específicos da psicologia, visando possibilidades de expressão,
socialização e implicação do sujeito consigo mesmo e com sua saúde;

 Apoiar as equipes de SF na avaliação das práticas de medicalização de situações individuais e sociais comuns à vida
cotidiana, valorizando outras opções de tratamento provenientes da medicina natural e práticas integrativas e
complementares (PIC) já normatizadas pelo Ministério da Saúde, como a homeopatia, fitoterapia, acupuntura;

 Apoiar as equipes de ESF na vigilância do desenvolvimento infantil, identificação de atrasos de desenvolvimento com
estratégias diferenciadas de orientação para a estimulação às mães, pais, responsáveis ou cuidadores; de atendimento às
crianças que apresentem problemas familiares como desemprego, doença grave, transtorno mental, alcoolismo, uso de
drogas, entre outros, ou necessitando de cuidados especiais na articulação do cuidado em Rede;
 Avaliar e atender crianças, individual ou coletivamente, referenciadas pelos profissionais do NASF e ESF/Referências em
saúde Mental, cujos fatores psicológicos estejam associados a prejuízos no desenvolvimento infantil, mas que não tem
diagnóstico psiquiátrico instalado;

 Apoiar as ESF na construção de abordagens dos aspectos psicológicos das famílias de risco por meio de atendimentos
compartilhados, oficinas ou pautas nas reuniões de matriciamento;

 Atender o cuidador e familiares de pessoas em quadro de dependência funcional, individual ou coletivamente;

 Trabalhar em parceria com NASF/ESF em propostas da Reabilitação Cognitiva de usuários com Alzheimer ou Parkinson e
orientar seus familiares;

 Realizar atendimento a pessoas com transtornos alimentares (quadros iniciais), que estejam em acompanhamento pelo
nutricionista do NASF. Encaminhar ou articular com a Saúde Mental o atendimento dos casos que necessitem de
acompanhamento das Referências em Saúde Mental (moderado a grave) ou do Ambulatório Especializado;

 Participar de ações de promoção da saúde e prevenção nas Áreas Estratégicas, junto com ESF e NASF visando maior
envolvimento da população nas ações ligadas à: saúde mental, saúde sexual e reprodutiva; saúde da mulher; alimentação e
nutrição; tabagismo; saúde do homem; prevenção de deficiências e agravos; controle da tuberculose, prevenção de
acidentes e outros temas apontados pelas ESF;

 Planejar, apoiar e realizar ações nos grupos/atividades coletivas conduzidos por outros profissionais das ESF e NASF
(grupos de gestantes, postura, alimentação e nutrição, prevenção de quedas e outros), de acordo com as necessidades
apontadas pelas equipes, levando em consideração o escopo de competências psi;
 Apoiar as equipes de ESF no processo de encaminhamento dos casos de crianças ou adultos para a Referência em Saúde
Mental e CAPS, quando os fatores psicológicos associados já produziram prejuízos importantes à vida de relação, com
diagnóstico psiquiátrico instalado ou quando houver a necessidade de recursos só encontrados naqueles equipamentos
assistenciais;
 Realizar articulações com as demais equipes de Saúde Mental de modo a contribuir na abordagem intersetorial e
interdisciplinar dos portadores de sofrimento mental acompanhados pelas ESF de sua referência e que se encontrem em
dificuldade de acesso, acolhimento, atendimento e continuidade de tratamento;

 Estruturar reuniões de matriciamento para construção coletiva de saberes sobre temas relacionados à psicologia
(desenvolvimento infantil e suas alterações, as várias formas de violência, gravidez na adolescência, aspectos psicológicos
do diabetes, aspectos psicológicos da aprendizagem, situações de luto e perda, mudanças emocionais na gestação,
puericultura e vínculo mãe e bebê, adoecimento e questões contemporâneas e outros), alinhando as estratégias de
condução do Projeto Terapêutico Singular pela equipe, visando a integralidade do cuidado;

 Realizar ações compartilhadas para a mobilização de parceiros locais: escolas, creches, ILPIs, ONGs, grupos religiosos,
cuidadores, CRAS e outros, para um trabalho de parceria no suporte social ao usuário atendido;

 Participar de eventos intersetoriais e da área da saúde, juntamente com ESF/ENASF e outros parceiros locais;

 Realizar visitas domiciliares, sempre que necessário, juntamente com a ESF e equipe multiprofissional do NASF, para
avaliação da situação de saúde e análise e construção de estratégias de cuidado;
 Participar do planejamento e acompanhamento das estratégias de integração ensino-serviço, favorecendo a inserção de
estagiários de psicologia no NASF e execução de ações conjuntas com os mesmos;
 Participar da construção de planejamento – avaliação e monitoramento – das ações das Equipes NASF e também das ESF,
envolvendo projetos terapêuticos singulares, projetos de saúde no território e outros.

2.2 Especificidade do Atendimento individual e Grupal do Psicólogo NASF

O Atendimento Individual consistem em uma escuta especial, personalizada e focada tecnicamente nas necessidades
individuais de cada paciente, a fim de estimular a reflexão no sujeito, dando o apoio para que pense, reveja, evolua, aprofunde as
situações vividas e questões significativas para o processo de desenvolvimento de seu tratamento. Tem indicação para pacientes
que demonstram necessidade de uma escuta individual em decorrência da intensidade e modo de viver seu sofrimento e/ou que
possuam dificuldades de trabalhar algumas questões em grupo em função do perfil. Alguns deles podem ter potencial para
inserção em grupos terapêuticos, posteriormente. Essa avaliação será definida em função da adequação às necessidades do
usuário, devendo ser periodicamente reavaliada, mediante Projeto Terapêutico Singular.

Nesse sentido, o atendimento individual é um dispositivo específico dentro da diversidade de ferramentas possíveis para
realizar o acompanhamento longitudinal dos usuários atendidos pela ESF/NASF, mas não o mais importante.

 Os critérios para atendimento individual, em geral, voltam-se para casos leves de sofrimento, onde os sintomas
psiquiátricos não estão instalados ao ponto de impactar vários aspectos da vida funcional do sujeito; e casos moderados
de sofrimento, que precisam de apoio prioritário e monitoramento maior das Equipes de Saúde da Família/Referência
em Saúde Mental/NASF, na garantia da integralidade do cuidado em Saúde Mental no âmbito da Atenção Primária, usando
os recursos estratégicos do NASF, como: visitas domiciliares em caso de isolamento ainda não admitido pelo CAPS, entre
outros. Nesses casos moderados, os psicólogos, além da oferta de atendimento individual, fornecerão suporte para articular
junto às Equipes a oferta mais adequada ao Projeto Terapêutico Singular daquele sujeito (ver fluxo na p-10).
 Os casos atendidos individualmente ou em grupo psicoterapêutico terão prontuários abertos separadamente para o relato
individual das sessões, obedecendo à normatização do CFP n° 01/2009 sobre o registro documental decorrente da
prestação de serviços psicológicos. Em paralelo, é necessário que seja feita evolução breve no prontuário da Unidade,
informando data em que foi atendido, profissional e informações não sigilosas relevantes para a ESF, a respeito do cuidado
oferecido.
 Os atendimentos individuais serão realizados no enfoque breve, em torno de 9 a 12 sessões (média de três meses).
Caso seja avaliada a necessidade de continuidade no atendimento, em função de agravamento do quadro (grandes
prejuízos nas AVDs, auto e hetero agressividade elevada, baixa projectualidade, desesperança e outros), esse caso será
avaliado conjuntamente com as equipes da Referência em Saúde Mental ou CAPS, para construção do processo gradativo
de transferência de cuidado entre serviços.
 Os atendimentos individuais ou grupais serão agendados a partir de encaminhamento preenchido pelo profissional da
ESF, pelo profissional da Referência em Saúde Mental na AP, CAPS ou NASF, caracterizando o sujeito e descrevendo
minimamente o motivo desse encaminhamento. É interessante que o psicólogo tenha acesso ao caso antes do acolhimento
inicial. Se não for possível fazê-lo pela discussão com o profissional que encaminhou, ele deve buscar informações no
prontuário ou no próprio formulário de encaminhamento.
 O profissional psicólogo deverá deixar definido o turno e horário disponibilizado para o acolhimento desse usuário,
quando ele irá avaliar a demanda e traça a oferta de cuidado adequada ao caso: participação em grupos temáticos, inclusão
em atendimento individual ou grupal, agendamento de visita domiciliar, etc. Posteriormente, o psicólogo deverá realizar a
discussão do caso acolhido com o profissional que encaminhou para compor estratégias integradas.
 É parte do processo de trabalho o estabelecimento de reuniões mensais entre profissionais da Referência, CAPS e
NASF para revisão das listas de encaminhamento e discussão dos casos. A partir desse matriciamento é possível a
abertura de grupos temáticos para atender a demandas da rede, enxugando as filas de espera e evitando agravamento das
situações de sofrimento identificadas.
 O psicólogo NASF assume um papel articulador importante no acompanhamento do usuário em seu fluxo por entre os
serviços da rede de saúde, trabalhando junto com os profissionais da Referência no sentido de refinar um Protocolo que
contemple
Fluxo de Atendimento - Avaliação do sofrimento, incapacitação, morte, dor, deficiência ou perda da
liberdade

TM Comum TM Grave
AD TM Comum
AD AD

LEVE GRAVE
MODERADO

 Não é grave
 Sintomas comprometem  Sintomas comprometem
 Fácil controle
parcialmente a capacidade completamente a capacidade
 Sintomas não comprometem a funcional
funcional
capacidade funcional

Encaminhamento Referência em Encaminhamento para CAPS


ESF + NASF Saúde Mental
Orientação NASF* Monitoramento
Apoio Monitoramento
Atendimento
Monitoramento

* NASF – CASOS PRIORITÁRIOS DEFINIDOS JUNTO COM AS EQUIPES


Guia prático de matriciamento em saúde mental / Dulce Helena Chiaverini (Organizadora) [Brasília, DF]: Ministério da Saúde: Centro de Estudo e Pesquisa em Saúde Coletiva, 2011. 236 p.
HTTP://smharmon.blogspot.com.br/2012/12/o-que-e-o-que-e-leve-moderado-ou-grave.html.
III - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de
Apoio a Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Oficina de qualificação do NASF.
Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo de Apoio à Saúde da
Família. Cadernos de Atenção Básica, n. 39. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
Guimarães, S. B., Oliveira, I. F., & Yamamoto, O. H. (2013). As práticas dos psicólogos em ambulatórios de saúde mental.
Psicologia & Sociedade, 25(3), 664-673.

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