Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ABSTRACT
The present article aims to identify which characteristics, within the different types of
functioning and family patterns, considered as psychosomatic, influence the emergence and
maintenance of anorexia nervosa. For this purpose, through the narrative review of
literature, it is sought to analyze diverse aspects that surround the theme, which are
understood by the bias of systemic psychology. Among other observations, the article cites
the influence of the relationship of unsatisfactory family boundaries, the phenomenon of
homeostasis and transgenerationality in the occurrence and maintenance of NA in a family
member. In addition, it is also considered the sociocultural factor, seeing the family as
belonging to a macrosystem and therefore, likely to be influenced by it. The article is then
concluded with a final analysis of its contributions and exposed considerations, considering
the different aspects of AN.
* Graduanda do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. E-mail: bruna.bereta@acad.pucrs.br.
** Graduanda do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. E-mail: marina.griza@acad.pucrs.br.
INTRODUÇÃO
MÉTODO
Considerando o tema e objetivos deste artigo, inicialmente esta pesquisa foi
voltada a uma modalidade exploratória, a qual busca por maiores conhecimentos
sobre o tema, procurando ter maior familiaridade com o assunto, para que
posteriormente fosse delimitado o tema propriamente dito e os problemas a serem
solucionados (MATTAR; OLIVEIRA; MOTTA, 2013).
Sua configuração de forma de abordagem é qualitativa, de modo a interpretar
os fenômenos e atribuir significados, em que os dados obtidos não são
quantificados (RODRIGUES, 2007).
Com relação ao tipo de metodologia, foi utilizada a revisão narrativa de
literatura, esta tem como princípio a avaliação crítica de materiais que já foram
publicados. Nesta modalidade, os autores delimitam seus problemas a partir do
tema e reúnem estudos anteriores para que então, mostre ao leitor o quadro atual
referente ao tema e problema em questão, com a intenção de integrar, organizar e
avaliar os estudos existentes (HOHENDORFF, 2014). É descrita como narrativa
pois não são aplicadas técnicas rígidas e exaustivas de pesquisa, e nem tem-se a
pretensão de consumir todos tipos de fontes de informação, podendo se basear até
mesmo na subjetividade dos autores como base de seleção de estudos e da
interpretação das informações ali inscritas (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO,
2015).
DISCUSSÃO
Tendo como preceito a ideia de que um funcionamento familiar crônico
transforma e mantém a doença cronificada, no caso a anorexia nervosa (AN),
primeiramente será analisado o significado de doença crônica e suas
particularidades. É possível entender que um funcionamento familiar, por ser
natural, se torne crônico ao não perceber sua toxicidade. No entanto, “o
aparecimento de uma doença crônica implica, frequentemente, a modificação dos
hábitos de vida e também a necessidade de recorrer a métodos terapêuticos” (DIAS
et al, 2011, p.206), o que indica que o funcionamento familiar também necessita de
alteração.
Neste contexto, entende-se que o funcionamento crônico se relaciona com o
conceito de homeostase da psicologia sistêmica. Sendo ele um processo de
autorregulação que tem como função manter o equilíbrio do sistema familiar. Se
“trata da capacidade de auto-estabilização ou de automanutenção do sistema”
(GOMES et al., 2014, p.10). Logo, se entendemos que, ao deparar-se com uma
doença crônica, a família precisa modificar hábitos e padrões que colaboram para a
condição, o processo de homeostase é um fator que pode influenciar na
manutenção da mesma.
De acordo com o dicionário Michaelis (1998), o significado de doença consiste
em um “processo de alteração biológica, com sintomas característicos [...]
resultando na deterioração ou enfraquecimento do estado de saúde de um ser
(homem ou animal); enfermidade, moléstia, falta de saúde” (p.670), já a palavra
crônico seria algo que dura muito tempo (p.551). Sendo assim, uma doença crônica
consiste em uma enfermidade de longa duração. A partir destes conceitos é
possível relacionar a psicossomática e sua influência neste contexto no qual rege a
doença crônica.
O termo “psicossomática” foi criado em 1818 pelo psiquiatra alemão J.C.
Heinroth (1773-1843) em um artigo que tratava sobre a influência das paixões sobre
a tuberculose, a epilepsia e o câncer, no qual foi salientada a importância da
associação entre os aspectos físicos e anímicos do adoecer, ou seja, das
expressões orgânicas e daquelas oriundas da alma. Historicamente, René
Descartes (1566-1650), com sua visão dualista e reducionista postulava a total
separação da mente do corpo. No Discurso sobre o Método (1637), Descartes
concebia a fisiologia como estruturada em torno da matéria e do movimento, o qual
considerava o corpo uma máquina a serviço de sua própria função. Contudo,
Descartes evoluiu seu pensamento a partir do seu Tratado das Paixões (1649),
reconhecendo a união da consciência e do corpo, sendo esta totalmente humana,
pois necessita do sentimento para que tal união ocorra, trazendo a experiência
(afetividade) como necessária para o conhecimento dos mecanismos
físico-químicos e fisiológicos. Posteriormente, Freud postulou a relação entre o
psíquico e o somático ao enxergar a histeria como algo divergente à estrutura
anatômica dos órgãos afetados, fundando a Psicanálise de maneira a reconhecer as
relações diretas entre manifestações psíquicas e corporais, e considerando a
subjetividade no processo de adoecimento do corpo (VOLICH, 2000).
Assim sendo, através do modelo da doença psicossomática de Minuchin et al.
(1975 apud VIANA; BARBOSA; GUIMARÃES, 2007), no qual têm-se um
entendimento da família como um sistema que possui influência no funcionamento
do indivíduo através das interações pessoais, percebe-se que as características
interacionais de algumas famílias provocam o surgimento de uma patologia
psicossomática. Esse entendimento é derivado da concepção de funcionamento
familiar da psicologia sistêmica, que preconiza que a família pode ser caracterizada
como um sistema, uma teia complexa de elementos que se encontram de maneira
dinâmica em mútua interação (VALDANHA et al., 2013). Deste modo:
É a interação estabelecida entre os indivíduos que, em geral, explica o
funcionamento individual de cada um dos membros, de modo que qualquer
modificação que afete significativamente algum deles, afeta a todos em
graus variados” (LEONIDAS; SANTOS, 2015, p.1436 ).
CONCLUSÃO
O estudo obteve como contribuição a síntese de materiais previamente
publicados referente ao tema, proporcionando uma maior avaliação crítica e
compreendendo o problema indicado de maneira a mostrar o quadro atual vigente
através de uma integração, organização e avaliação dos estudos existentes.
Sendo assim, o desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise
da influência familiar no surgimento e manutenção da anorexia nervosa.
Discorrendo sobre características que envolvem o tema da AN, como exemplo, a
herança genética, imagem corporal, fatores socioculturais e conceitos da
abordagem sistêmica, se evidenciou o recorte familiar dentre os diversos aspectos
da multifatoriedade da AN.
No decorrer da análise, compreende-se que um funcionamento familiar, ao
deparar-se com a ocorrência da AN em um dos seus membros, precisa modificar
hábitos e padrões, visto que a família tida como um sistema, implica no
entendimento de que o todo sempre influencia na unidade e vice versa. A mudança,
no entanto, não acontece, e os padrões de comportamento, por serem vistos como
naturais pela família, seguem os mesmos, pelo fato de existir um funcionamento
rígido indisponível à resolução de problemas pontuais ou do ciclo vital, podendo
haver a designação de um bode expiatório (portador da AN) como maneira de
desviar o foco do real problema. Nesses casos, se vê ilustrado o fenômeno da
homeostase e então, na tentativa de manter o equilíbrio e retornar ao funcionamento
anterior “normal”, a família adere a um funcionamento crônico, mantendo a AN
também cronificada. O funcionamento descrito é caracterizado como o de uma
família psicossomática, mostrando, então, um aspecto da influência da mesma no
curso da AN.
Com o fenômeno da transmissão transgeracional, os legados são propagados
de geração a geração, elaborando a identidade de dada família e explicando sua
dinamicidade, sendo assim, tal acontecimento influencia diretamente no surgimento
e manutenção da AN, pois dependendo de tal funcionamento e características,
essas podem corroborar para o seu surgimento. Tais características podem ser:
evitação de conflitos, rigidez, intrusividade, perfeccionismo, superproteção,
aglutinação, repressão das emoções e preocupação com peso e dieta. A
aglutinação ou emaranhamento pode ser explicado pela falta de diferenciação de
self, quando o sujeito se mantém fusionado com sua família e não há autonomia.
Portanto, entende-se que a multifatoriedade de causas para a AN demanda um
tratamento multidisciplinar, de maneira a considerar a subjetividade e todos os
fatores aqui citados, assim como outros ainda não compreendidos ou descobertos
como influenciadores. Por esta razão, tal estudo necessita de constantes pesquisas,
com o intuito de conscientizar a influência do funcionamento familiar nas doenças,
para que então se possa fazer o tratamento devido e evitar que a família
proporcione o surgimento e a manutenção deste transtorno alimentar que pode levar
até a morte.
REFERÊNCIAS
BECKER, Daniel. O que é adolescência. 13. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. 104
p.
BENTO, Karine et al. Transtornos Alimentares, Imagem Corporal e Estado
Nutricional em Universitárias de Petrolina-PE. Revista Brasileira de Ciências da
Saúde, Petrolina, v. 20, n. 03, p.197-202, 2016. APESB (Associacao de Apoio a
Pesquisa em Saude Bucal). http://dx.doi.org/10.4034/rbcs.2016.20.03.04. Disponível
em: <http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/rbcs/article/view/26418/15861>.
DIAS, Sandra Cecília Ribeiro Campas. Anorexia Nervosa: Conhecer para intervir.
2017. 27 f. TCC (Graduação) - Curso de Nutrição, Faculdade de Ciências da
Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, Porto, 2017. Disponível em:
<https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/106860/2/207887.pdf>.
CLAUDINO, Angélica de Medeiros; BORGES, Maria Beatriz Ferrari. Critérios
diagnósticos para os transtornos alimentares: conceitos em evolução. Revista
Brasileira de Psiquiatria, [s.l.], v. 24, n. 3, p.07-12, dez. 2002. FapUNIFESP
(SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1516-44462002000700003.
FERNANDES, Maria Helena. Corpo: Clínica Psicanalítica. 2. ed. São Paulo: Caso
do Psicólogo Livraria e Editora Ltda, 2005. 127 p.
FOERDE, Karin et al. Neural mechanisms supporting maladaptive food choices in
anorexia nervosa. Nature Neuroscience, [s.l.], v. 18, n. 11, p.1571-1573, 12 out.
2015. Springer Nature.
SLEMER, Ana Cecília Roza. Influência da mídia sobre a anorexia nervosa. 2014.
80 f. TCC (Graduação) - Curso de Farmácia, Faculdade de Pindamonhangaba,
Pindamonhangaba, 2014. Disponível em:
<http://177.107.89.34:8080/jspui/bitstream/123456789/260/1/AnaSLEMER.pdf>.
VIANA, V.; BARBOSA, M.C.; GUIMARÃES, J.. Doença crónica na criança: factores
familiares e qualidade de vida. Psicologia, Saúde e Doenças, Lisboa, v. 8, n. 1,
p.117-127, jan. 2007. Disponível em:
<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=36280109>.