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CENTRO DE TECNOLOGIA
BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
TERESINA – PI
Novembro, 2021
ISABELA SOARES PIRES
TERESINA – PI
Novembro, 2021
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais, Lílian e Ary, por todo amor, apoio, paciência e
dedicação que tiveram com os filhos, para que eu pudesse chegar o mais longe possível.
Agradeço também ao meu irmão, Arthur, por sempre acreditar em mim. Agradeço ao meu
orientador José Ricardo pela paciência e confiança. Agradeço aos meus avós Maria Dulce,
Antônio, Maria de Fátima e Arimatéia por serem meus alicerces em momentos de incertezas.
Agradeço aos meus tios Leila, Maycon, Julyana e Giovana por todo o apoio e compreensão
nessa jornada; e aos meus primos Giovana, Alice, Felipe, Erick, Sophia e Davi, que mesmo
pequenos me enchem de imensa alegria. Agradeço às minhas amigas Mariana, Marina, Thalia
e Nise por estarem comigo em momentos felizes e difíceis. Agradeço a Ívina por me orientar
mesmo entre inseguranças. E agradeço a Vítor por sempre estar ao meu lado. Muito obrigada.
Lista de Figuras
Figura 1: Exemplo de planta baixa do templo em homenagem a Asclepios........................... 12
Figura 2: Planta baixa das Valetudinárias romanas ................................................................ 13
Figura 3: Planta Baixa do Hospital de Santa Cruz de Barcelona ............................................ 14
Figura 4: Planta baixa do Hospital da Santa Cruz de Toledo ................................................. 15
Figura 5: Planta baixa do Hospital Lariboisiere ...................................................................... 18
Figura 6: Planta Baixa do Hospital De Beaujon ...................................................................... 20
Figura 7: Vista do Hospital De Beaujon ................................................................................. 20
Figura 8: Hospital Herlev ........................................................................................................ 21
Figura 9: Vista aérea do Hospital de Tambacounda ............................................................... 22
Figura 10: Planta original e expansão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo no Sec. XIX
e em 1998 ................................................................................................................................. 23
Figura 11: Hospital da Brigada Militar ................................................................................... 24
Figura 12: Instituto do Câncer ................................................................................................. 25
Figura 13: Vista aérea do Hospital Sarah Kubitschek............................................................. 26
Figura 14: Hospital Gertúlio Vargas ....................................................................................... 27
Figura 15: Hospital São Marcus .............................................................................................. 27
Figura 16: Fachada do Hospital Prontocor .............................................................................. 28
Figura 17: Fachada Hospital Santa Martia .............................................................................. 28
Figura 18: Fachada do Hopital da Unimed ............................................................................. 28
Figura 19: Vista Satélite do Centro de Saúde em Valenzá ..................................................... 35
Figura 20: Vista panorâmica do Centro de Saúde ................................................................... 35
Figura 21: Implantação e delimitação da via de acesso ao lote .............................................. 36
Figura 22: Praças Públicas e Acessos Principais .................................................................... 37
Figura 23: Zoneamento Planta Baixa Pavimento 1 ................................................................. 37
Figura 24: Zoneamento Planta Baixa Pavimento 2 ................................................................. 38
Figura 25: Entrada principal.................................................................................................... 38
Figura 26: Sala de espera ........................................................................................................ 38
Figura 27: Corte do projeto ..................................................................................................... 39
Figura 28: Vista satélite do Edifício Projeto Viver ................................................................. 40
Figura 29: Acessos ao Edifício Projeto Viver ......................................................................... 40
Figura 30: Planta das praças do Edifício ................................................................................. 41
Figura 31: Visão isométrica das plantas baixas ...................................................................... 41
Figura 32: Cortes 1 e 2 da planta baixa ................................................................................... 41
Figura 33: Vista aérea da situação UDI - Leste ...................................................................... 41
Figura 34: Mapa com demarcação dos acessos ....................................................................... 41
Figura 35: Acessos ao lote.......................................................................................................51
Figura 36: Acesso Principal.....................................................................................................51
Figura 37: Acesso para entrega de exame e entrada de funcionários...................................... 41
Figura 38: Setorização da Planta Baixa....................................................................................46
Figura 39: Fachada voltada para a Rua Vereador Luís Vasconcelos ........................................46
Figura 40: Fachada voltada para a Rua Senador Cândido Ferraz..............................................46
Figura 41: Recepção Geral.......................................................................................................47
Figura 42: Sala de Ressonância................................................................................................47
Figura 43: Sala de comando da tomografia...............................................................................48
Figura 44: Sala de Raio-X........................................................................................................48
Figura 45: Cortes AA´ e CC´....................................................................................................49
Figura 46: Corte BB´ e DD´......................................................................................................49
Figura 47: Mapa da cidade de Teresina....................................................................................51
Figura 48: Mapa do bairro Parque Ideal....................................................................................52
Figura 49: Mapa de Acessos.....................................................................................................53
Figura 50: Mapa de Usos..........................................................................................................54
Figura 51: Dimensões físicas do terreno...................................................................................55
Figura 52: Mapa de vegetação.................................................................................................56
Figura 53: Mapa de Insolação e Ventilação..............................................................................57
Figura 54: Implantação do Centro Médico...............................................................................61
Figura 55: Implantação e Acessos ao Centro Médico..............................................................63
Figura 56: Fluxograma da planta baixa.....................................................................................64
Figura 57: Setorização da Planta Baixa.....................................................................................65
Figura 58: Setorização da Recepção Geral...............................................................................66
Figura 59: Setorização da Administração.................................................................................67
Figura 60: Setorização da Área de Consultórios Médicos.........................................................68
Figura 61: Setorização da Área de Exames...............................................................................69
Figura 62: Setorização da Área de Funcionários.......................................................................69
Figura 63: Setorização da Área de Máquinas............................................................................71
Figura 64: Planta da Malha Estrutural.......................................................................................72
Figura 65: Planta da Malha Estrutural na área dos funcionários................................................72
Figura 66: Vista fachadas Norte e Oeste...................................................................................73
Figura 67: Vista fachadas Norte e Leste....................................................................................74
Figura 68: Vista Recepção Geral..............................................................................................74
Figura 69: Vista do Pátio Interno..............................................................................................75
Figura 70: Vista interna da área de espera.....................................................................................76
Lista de Siglas
FMS: Fundação Municipal de Saúde
DAU: Departamento de Arquitetura e Urbanismo
EAS: Espaço de Apoio à Saúde
RDC: Resolução da Diretoria Colegiada
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................8
2. REFERÊNCIA TEÓRICO.................................................................................................11
2.1. Evolução Histórica da arquitetura hospitalar no mundo..............................................11
2.1.1 O conceito de hospital terapêutico....................................................................................15
2.1.2 Hospital Pavilhonar..........................................................................................................17
2.1.3 Hospital Monobloco Vertical............................................................................................18
2.1.4 Hospital Base-Torre..........................................................................................................20
2.1.5 Panorama mundial atual....................................................................................................21
2.2 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no Brasil..................................................22
2.3 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no Piauí...................................................26
3. ASPECTOS GERAIS E LEGISLAÇÃO...........................................................................29
3.1 Índice de Compacidade.....................................................................................................30
3.2 RDC 50 2002.......................................................................................................................30
3.2.1 Organização físico-funcional............................................................................................30
3.3 Circulações Horizontais....................................................................................................31
3.3.1 Corredores........................................................................................................................31
3.3.2 Portas................................................................................................................................31
3.4 Circulações Verticais.........................................................................................................31
3.4.1 Elevadores........................................................................................................................31
3.4.2 Escadas.............................................................................................................................32
3.4.3 Rampas.............................................................................................................................32
4. ESTUDOS DE CASO .........................................................................................................34
4.1 Centro de Saúde em Valenzá.............................................................................................34
4.2 Edifício Projeto Viver........................................................................................................39
4.3 UDI Leste............................................................................................................................42
5. ESTUDO DE TERRENO....................................................................................................50
5.1 Aspectos Gerais do Terreno..............................................................................................51
5.2 Acessos................................................................................................................................52
5.3 Análise do entorno.............................................................................................................53
5.4 Legislação...........................................................................................................................54
5.5 Levantamentos Físicos do terreno....................................................................................55
5.6 Vegetação...........................................................................................................................56
5.7 Insolação e Ventilação.......................................................................................................56
6. MEMORIAL JUSTIFICATIVO........................................................................................58
6.1. Conceito.............................................................................................................................58
6.2. Partido...............................................................................................................................58
6.3 Aspectos Gerais..................................................................................................................59
6.4 Programa de Necessidades e Dimensionamento..............................................................59
6.5 Implantação.......................................................................................................................61
6.6 Soluções Espaço-Funcionais.............................................................................................63
6.6.1 Área Recepção Geral........................................................................................................65
6.6.2 Área Administração..........................................................................................................66
6.6.3 Área Consultas Médicas...................................................................................................67
6.6.4 Área Exames.....................................................................................................................68
6.6.5 Área de Funcionários........................................................................................................69
6.6.6 Área de Máquinas.............................................................................................................70
6.7 Soluções Projetuais e Tecno-Estruturais.........................................................................70
7. VOLUMETRIA...................................................................................................................73
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................77
REFERÊNCIAS......................................................................................................................74
8
1 INTRODUÇÃO
A cidade de Teresina é nacionalmente reconhecida como um dos maiores polos de
saúde do país. De acordo com o IBGE (2018), 300 municípios buscam serviços de saúde de alta
complexidade na cidade, e 95 buscam serviços de baixa e média complexidade.
Com o intuito de demonstrar a distribuição dos serviços de saúde no município, a
Fundação Municipal de Saúde (FMS) afirma que:
Desde a década de 1980, a cidade de Teresina vem se firmando como centro de
referência médico-hospitalar na região Meio Norte, constituída pelos Estados do Piauí
e Maranhão. Tal condição adveio da dimensão da atuação governamental, não
governamental e particular implantado, que é considerado importante em quantidade
e complexidade. Nos últimos anos, principalmente, os estabelecimentos médico-
hospitalar e laboratorial de Teresina evoluíram em dimensão, tecnologia e
credibilidade a tal ponto que, no setor, já se referem à Teresina com o status de Polo
Regional de Saúde. Com efeito, a capital piauiense atende a população estadual,
grande parte da demanda do vizinho, Estado do Maranhão, parte da demanda do Pará,
da região oeste do Ceará e, mais recentemente do Estado do Tocantins. Esse
atendimento à demanda se faz através de uma grande rede de prestação de serviços de
saúde oficial e particular, composta de modernos hospitais, laboratórios, clínicas,
unidades mistas, centro e postos de saúde, atendendo à demanda de massa por serviços
básicos e de rotina, como também, por serviços complexos, altamente especializados,
com diagnósticos imagéticos de última geração, cirurgias cardíacas, neurológicas e
transplante de órgãos. A infraestrutura física de atendimento aos pacientes, segundo
os dados do Ministério da Saúde, referente a setembro/2017, revelam que existiam em
Teresina 1.000 estabelecimentos de saúde”. (TERESINA, 2017, p. 9).
Entretanto, mesmo com expressiva presença como polo de saúde regional, os efeitos
da pandemia do novo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2),
classificado como COVID-19, desde o início do ano de 2020, levaram ao colapso do sistema
de saúde de Teresina, com 94% de ocupação de leitos de UTI em abril de 2021, segundo o
Governo do Estado (PIAUÍ, 2021).
De acordo com o Ministério da Saúde (2020), “Coronavírus é uma família de vírus
que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (nCoV-2019) foi descoberto
em 31/12/19 após casos registrados na China” (BRASIL, 2020). Conforme a Fundação
Municipal de Saúde, até 8 de maio de 2021, Teresina apresenta 88.123 casos confirmados,
3.098 óbitos e 70.005 recuperados (TERESINA, 2021).
Apesar de existir um grande destaque na mídia e na literatura sobre o número de
infectados e mortes diárias, os recuperados de infecções por Covid-19 também precisam de
acompanhamento médico adequado, por conta das sequelas que poderão desenvolver ao longo
da vida. (LOPES et al, 2021)
Para Al-aly et al. (2021, p. 261), as sequelas mais comuns dos denominados sintomas
pós-covid são: comprometimento pulmonar, hipertensão, distúrbios neurológios e de sono,
9
enfermo, o que pode ser dificultado se as intervenções de saúde forem realizadas em locais
distintos.
Sendo assim, existe a necessidade no município de um ambiente que ofereça esses
diferentes serviços e tratamentos de uma maneira segura, humanizada e integrada, em que o
paciente possa realizar tanto suas consultas quanto seus exames e tratamentos, de modo
acessível para a população em geral. Esse ambiente, também, deve ser planejado desde seu
princípio em atender medidas sanitárias de controle de vírus, especialmente os de contaminação
por vias aéreas.
A definição de um centro médico pode ser compreendida como um EAS (Espaço de
Apoio à Saúde) que forneça serviços de diferentes especialidades da área de saúde. Esses
serviços vão de consultas com diferentes profissionais de saúde até a possibilidade de exames
e análise laboratorial no mesmo centro.
Neste Trabalho Final de Graduação tem-se como objetivo propor um projeto de
arquitetura de um Centro Médico na cidade de Teresina-PI, que agregue centros de consulta,
exames de imagem e laboratórios e tratamento em um mesmo complexo, voltado para atender
pessoas fragilizadas por uma ou mais sequelas da Covid-19.
O Centro Médico será composto de setor para consultórios, com a previsão de
consultórios cardiológicos, otorrinolaringológico, pneumológicos, psiquiátricos e psicológicos;
sala de fisioterapia; setor de exame de imagens e patologia clínica; apoio administrativo e
logístico.
O empreendimento foi idealizado a partir da teoria da arquitetura humanizada para EAS,
em que o foco do ambiente deixa de ser a doença e passa a ser o próprio paciente. Dessa
maneira, a ergonomia e acessibilidade dos usuários são as principais preocupações do projeto,
possibilitando a esses usuários experimentarem o ambiente em integração do espaço interior
com a natureza.
.
11
2 REFERENCIAL TEÓRICO
As diretrizes atuais que orientam o processo de projeto de Espaço de Apoio a Saúde
(EAS) estão intimamente ligadas com a evolução da noção de tratamento e cura para mazelas
humanas ao longo da história. “Se a evolução da vida está intimamente vinculada aos cuidados
da saúde humana, tais cuidados sempre demandaram abrigos” (BITERNCOURT, 2020 apud
TOLEDO, 2020, p. 9).
Assim, o estudo a seguir procura apresentar a evolução história da arquitetura voltada
para a saúde, seguindo uma linha cronológica desde os primeiros registros encontrados de
ambientes com a função de cura de mazelas, até a denominação do que hoje se entende por
clínica médica.
2.1 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no mundo
Ambientes voltados para receber populações doentes e feridas sempre foram presentes
na história humana. “A palavra hospital vem do latim hospitalis, adjetivo derivado de hospes
(hóspede, estrangeiro, viajante, conviva (GÓES, 2011, p. 25)”. Entretanto, a maneira como as
funções nesse ambiente era desenvolvida mudou muito com o desenvolvimento das sociedades.
“É possível deduzir que o hospital era voltado para acalentar os doentes e pobres, ao invés de
um ambiente que promova a cura e a esperança para seus pacientes” (GÓES, 2017, p. 25).
Carvalho (2014) afirma que o estudo da arquitetura na área de saúde é ligado fortemente pelas
crenças religiosas e culturais que as sociedades humanas carregaram durante sua história, fato
que pode ser observado nos diversos templos e terrenos sagrados onde eram agregadas áreas
para tratamentos de mazelas. Até então, acreditava-se que doenças teriam origem divina, como
forma de castigo, e a sua solução estaria na religião.
De acordo com Toledo (2020, p. 21):
Da Antiguidade à Idade Média, a assistência aos enfermos era prestada, em caráter
oficial, pelos sacerdotes das ordens religiosas, ou informalmente, por leigos, os quais
praticavam o que poderia se chamar de uma medicina popular. Já na medicina oficial,
desenvolvia-se no interior dos templos e dos mosteiros ou em edificações anexas,
sempre como atividade secundária às obrigações de caráter religioso e assistencial,
que constituíam o objetivo principal das ordens religiosas. Nessa época, os edifícios
hospitalares faziam parte de grades conjuntos arquitetônicos. Eles tinham como
finalidade dar assistência aos pobres e conforto aos enfermos, já que neles os
procedimentos de caráter curativo raramente eram praticados.
Góes (2011, p. 25) afirma que “Há documentos históricos que registram a existência
de hospitais na Babilônia e no Egito. Em sua obra History, Heródoto refere-se à medicina dos
povos do vale do rio Nilo e ressalta várias especialidades existentes: olhos, dentes, distúrbios
internos, etc.” Já Miquelin (1992) declara que durante o período pré-helenístico não se pode
afirmar que existia algo que possa ser entendido como espaço para cura de doenças, mas sim
12
templos religiosos em que sacerdotes rezavam pela melhora dos que buscavam tratamento. Um
dos principais templos era o de Deir-El-Bahari, em Thebes, em que pacientes eram consultados
por Imhotep, uma divindade egípcia
Campos (1952, p. 49) descreve: “No oriente, os hospitais geralmente eram construídos
junto às mesquitas, sendo que alguns, como o Hospital El Cairo, tornaram-se famosos pela
qualidade da assistência médica que prestavam, muito superior à que se praticava no mundo
ocidental.”
Conforme Miquelin (1992), na Grécia antiga havia três tipos de edifícios ligados à saúde
pública nos domínios público, privado e religioso: no âmbito público, o prythaneé e o cynosrage
eram ambientes laicos com a função de tratar a saúde dos idosos; já o xenodochium é uma
pousada reservada para estrangeiros de origem tebana. No âmbito privado, aos médicos eram
permitidos estabelecer uma casa para abrigos de seus próprios pacientes, chamada iatreia. No
âmbito religioso, a divindade da medicina, Asclepios, era buscado pela população em templos
erguidos em sua homenagem (Figura 1), entretanto não poderiam servir de abrigo para o
nascimento ou para a morte.
Figura 1: Exemplo de planta baixa do templo em
homenagem a Asclepios
Com a ascensão do cristianismo, hospitais passaram por uma nova fase de concepção,
na qual a assistência social e a caridade foram tomadas como pilares para a criação desses
espaços. Constantino I, em 313 d.C, estimulou pelos Concílios de Niceia (325 dC) e Cartago
(398 dC), a construção de hospitais em cidades que tivessem catedrais e de hospícios
(albergues) ao lado de igrejas paroquiais, para facilitar a atenção aos pobres, inválidos,
enfermos e viajantes (NEUFELD, 2013).
Com o cristianismo, o nosocomiun passou a ser tido como um lugar para tratar de
doentes, pobres e peregrinos. Para alguns autores, um nosocômio fundado por São Basílio (269
a 372 d.C.), em Cesárea, Capadócia, na segunda metade do século IV, é o primeiro hospital
cristão. Para outros, foi o hospital construído em Roma, no mesmo século. Outro marco
importante na construção de hospitais de inspiração cristã foi o que o imperador Constantino
edificou em Constantinopla sobre os escombros dos templos de Esculápio (335 d.C.) para
atender estrangeiros e peregrinos em viagem a Jerusalém (GÓES, 2011).
Os principais modelos arquitetônicos de hospitais durante a Idade Média, segundo
Carvalho (2014), eram o modelo nave e claustro e o modelo radial. O modelo de nave e claustro
tinham como principais características a não diferenciação de doenças e não limitação do
número de doentes recebidos, o que geravam espaços indiferenciados com pessoas amontoadas,
14
o que agravava o estado em que se encontravam. Um exemplo de modelo nave e claustro seria
a planta do Hospital de Santa Cruz de Barcelona (Figura 3).
Já o modelo radial, conhecido pelo cruzamento das naves e adoção regular do claustro,
foi bastante utilizado até o final da Idade Média, por conta do aumento no número de
atendimentos a doentes, provocado pelo aumento das cidades europeias. O cruzamento das
naves proporcionava um ponto estratégico para a colocação de altar e vigilância, havendo
diversas variantes do sistema. Tratava-se de solução funcional, mas que já buscava proporcionar
certa separação entre tipologias de doenças. As naves em cruz obedeciam à necessidade de
maior sofisticação do programa hospitalar. Nessa tipologia, certa preocupação com a questão
ambiental também pode ser notada, porém os doentes continuavam dispostos em espaços
grandes e abertos, sem diferenciações. Um exemplo desse modelo seria o Hospital da Santa
Cruz de Toledo (Figura 4), pelo arquiteto Enrique Egas (CARVALHO, 2014).
15
Conforme Foucault (1989, p. 99), “A noção de que o hospital pode e deve ser um
instrumento destinado a curar aparece claramente em torno de 1780 e é assinalada por uma
nova prática: a visita e a observação sistemática e comparada dos hospitais.”
Os primeiros passos em direção à conceituação de um hospital terapêutico ocorreram
após o incêndio ao Hôtel-Dieu, em 1775, principal hospital de Paris, quando a Academia de
Ciências requereu a John Howard e Jacques-René Tenon pesquisas sistemáticas sobre
ambientes de saúde na época. Os resultados das pesquisas foram correlacionados com o projeto
físico desses ambientes, e a conclusão obtida guiou os arquitetos e engenheiros do período a
adotarem o hospital pavilhonar (TOLEDO, 2020). Carvalho (2014, p. 18) descreve que “com o
incêndio do maior hospital de Paris, o Hôtel-Dieu, teve início um amplo debate na França acerca
da melhor forma de se executar um hospital, procurando no ambiente dos edifícios de saúde a
solução para um problema social e político”
Segundo Foucault (1979), os resultados desses estudos revelaram a precariedade das
unidades hospitalares pesquisadas e, pela primeira vez, chamaram a atenção para a relação entre
as elevadas taxas de mortalidade, os procedimentos médicos e os de enfermagem praticados
nos hospitais e para as características espaciais dessas edificações. As pesquisas, além de
fornecerem um diagnóstico das unidades, invocam novos rumos para o edifício hospitalar,
mediante um programa de reforma e reconstrução, inspirado no que havia de melhor entre os
hospitais pesquisados.
As consequências desses estudos impactaram o rumo do planejamento arquitetônico
hospitalar dos anos seguintes. “Os índices de insucesso ou de cura das unidades hospitalares
são, assim, pela primeira vez, avaliados à luz das questões espaciais, relacionando-se a
contaminação de pacientes à proximidade excessiva de determinadas áreas funcionais”
(TOLEDO, 2020, p. 25). “Tais descrições configuram um novo olhar sobre o hospital
considerado como máquina de curar e que, se produz efeitos patológicos, deve ser corrigido”
(FOUCAULT, 1979, p. 101).
17
Figura 10: Planta original e expansão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo no Sec. XIX e em 1998
O principal partido arquitetônico adotado no Brasil, de acordo com Toledo (2020) foi o
sistema monobloco, e, mais adiante, o sistema base-torre, principalmente durante o período
modernista brasileiro. Rino Levi exemplifica a linha de projeto desses sistemas de maneira clara
no projeto do Instituto do Câncer (Figura 12), em São Paulo.
25
Uma das suas obras mais marcantes para a arquitetura hospitalar brasileira atual foi o
Hospital Sarah Kubitschek (Figura 13), em Salvador, fundado no ano de 1994. Com a função
de servir como espaço de recuperação para pacientes com dificuldades motoras. Lelé utilizou
passarelas amplas e pátios bem localizados em meio ao programa de necessidades do hospital
para garantir o máximo de acessibilidade e independência para seus usuários. O contato com a
mata atlântica local também é bastante presente, seja por meio de corredores externos ou por
pequenas varandas ao longo do projeto. A iluminação e a ventilação naturais são garantidas por
meio do uso de sheds metálicos na cobertura, que dá forma ao projeto (Archdaily, 2012).
26
▪ EAS com até dois pavimentos (inferior ou superior), incluindo térreo – fica dispensado
de elevador ou rampa. Neste caso a movimentação de pacientes poderá ser feita através
de escada com equipamentos portáteis ou plataforma mecânica tipo plano inclinado
adaptada à escada, no caso do paciente precisar ser transportado;
3.4.2 Escadas
Em relação as escadas, a legislação afirma que a construção das escadas deve obedecer
aos critérios referentes ao código de obras da localidade e a outras exigências legais
supervenientes, bem como às seguintes especificações adicionais (BRASIL, 2002):
▪ As escadas que, por sua localização, se destinem ao uso de pacientes, têm de ter largura
mínima de 1,50m e serem providas de corrimão com altura de 80 cm a 92 cm do piso, e
com finalização curva. Vide norma ABNT NBR 9050, item 6.6.1;
▪ Nas unidades de internação, a distância entre a escada e a porta do quarto (ou
enfermaria) mais distante não pode ultrapassar de 35,00m;
▪ Escadas destinadas ao uso exclusivo do pessoal têm de ter largura mínima de 1,20m;
▪ O piso de cada degrau tem de ser revestido de material antiderrapante e não ter espelho
vazado;
▪ Os degraus devem possuir altura e largura que satisfaçam, em conjunto, à relação 0,63
= 2H + L = 0,64m, sendo ‘H’ a altura (espelho) e ‘L’ largura (piso) do degrau. Além
disso, a altura máxima será de 0,185m (dezoito centímetros e meio) e a profundidade
mínima de 0,26m (vinte e seis centímetros);
▪ Nenhuma escada pode ter degraus dispostos em leque, nem possuir prolongamento do
▪ patamar além do espelho (bocel);
▪ Nenhum lance de escada pode vencer mais de 2,00m sem patamar intermediário;
▪ O vão de escada não pode ser utilizado para a instalação de elevadores ou monta-cargas;
▪ No pavimento em que se localize a saída do prédio tem de estar nitidamente assinalado
"SAÍDA".
3.4.3 Rampas
Sobre o projeto de rampas, a RDC 50 (BRASIL, 2002) estabelece:
▪ Rampas só podem ser utilizadas como único meio de circulação vertical quando
vencerem no máximo dois pavimentos independentemente do andar onde se localiza.
▪ Admite-se o vencimento de mais um pavimento além dos dois previstos, quando esse
for destinado exclusivamente a serviços, no caso dos EAS que não possuam elevador;
33
4 ESTUDOS DE CASO
Os estudos de caso apresentados a seguir têm como objetivo auxiliar na concepção de
um Centro Médico na cidade de Teresina, no Piauí. Foram estudados (incluídos) três tipos de
estudos: um internacional, um nacional e um municipal.
Para critérios de escolha dos estudos de caso apresentados, foram avaliadas, dentre
outros pontos, o programa de necessidades de cada empreendimento de acordo com seu nível
de complexidade e diversificação de serviços; a forma como o EAS em questão se relaciona
com seu entorno; zoneamento e setorização das plantas baixas; e semelhanças sociais entre o
público-alvo.
4.1 Centro de Saúde em Valenzá
O Centro de Saúde em questão, projetado pelo escritório IDOM, localiza-se na região
de Velenzá, em Orense, na Espanha (Figura 19). Foi desenvolvido para o grupo de serviços de
saúde espanhol Galician Healthcare Services e inaugurado no ano de 2017, tem o terreno com
área de 3.666 m² e área construída de 1.952 m², com a proposta de oferecer serviços de saúde
para a comunidade local (IDOM, 2017).
O Centro de Saúde se localiza em uma região de significativo adensamento urbano
(Figura 20), porém com áreas verdes preservadas e topografia acidentada. Em seus arredores é
marcante a presença de edifícios de até quatro pavimentos com térreo destinado a comércios e
centros institucionais, e os demais pavimentos voltados para residências de apartamentos,
juntamente com áreas verdes e praças de convívio (Archdaily, 2017).
O empreendimento dispõe somente de uma via de acesso, a Rua das Burgas (Figura 21),
uma das principais vias da região. O terreno da edificação, entretanto, contém algumas
peculiaridades, como sua dimensão longitudinal e está limitado na parte frontal. Ao Leste, está
limitado por uma via de acesso e um bloco longitudinal de moradias de quatro pavimentos, e
na parte Oeste por um talude de grande dimensão com um desnível superior aos 16-18 metros.
(Archdaily, 2017).
35
A planta baixa (Figuras 23 e 24) conta com cinco consultórios de medicina geral, cinco
consultórios de enfermaria, sendo um destinado à obstetrícia, uma sala de educação para saúde,
um consultório odontológico, uma sala de exames, uma sala técnica, uma sala polivalente, uma
sala para mulheres, um consultório de urgências, dois consultórios de pediatria, dois
consultórios de enfermaria pediátrica, sala de estar dos funcionários, sala de reuniões e
biblioteca (IDOM, 2017).
O projeto procura, em sua forma, proteção contra o calor excessivo da região, além de
explorar o potencial de iluminação e ventilação naturais do ambiente (Figura 25). Com isso,
foram planejadas coberturas em balanço com grandes beirais (Figura 26), e esquadrias com
aberturas para iluminação e ventilação (IDOM, 2017).
O projeto citado influenciou o Centro Médico por conta do estudo de fluxo bem
planejado realizado ao longo da concepção da planta baixa, que estabelece áreas especificas
para cada atividade desenvolvida (educacional, esporte, atendimento, etc).
As vias de acesso à policlínica são a Rua Cândido Ferraz e Rua Vereador Luís
Vasconcelos, próximo à Avenida Jóquei Clube (Figura 34). Apesar de serem vias com bastantes
serviços que potencialmente geram impactos no trânsito local, o estacionamento do
estabelecimento serve bem aos clientes, fazendo com que poucos carros tenham que estacionar
longe do espaço. Isso diminui os impactos negativos possivelmente causados na vizinhança.
O centro possui 3 acessos (Figura 35): o acesso principal (Figura 36), destinado aos
pacientes em geral, voltado para a Rua Senador Cândido Ferraz; o acesso para recebimento de
exames de imagem (Figura 37), voltado para a Rua Vereador Luís Vasconcelos; e o acesso de
funcionários, também voltado para a Rua Vereador Luís Vasconcelos.
44
As salas de exame (Figura 42) e imagem contém, em sua quase totalidade, ou espaço
para mesa com computador para laudos e operação das máquinas, área para acompanhantes e
ponto hidrossanitário (Figura 44). Porém, em casos como a tomografia e ressonância (Figura
43), são designadas salas de comando para o desenvolvimento do exame.
48
5 ESTUDO DE TERRENO
A escolha de terreno para a implantação de uma EAS é um dos pontos mais importantes
para a elaboração do projeto. Adiante são trazidos os fatores característicos do espaço que irão
definir a viabilidade e funcionalidade do projeto. Os norteadores da escolha do terreno do
presente estudo foram baseados, portanto, nesses fatores característicos definidos por Carvalho
(2014).
Um fator importante é legislação municipal de Teresina, pois o terreno em que será
realizada a implantação deve estar localizado em zonas de desenvolvimento que permitem
atividades de impacto local, definidas pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial de
Teresina – PDOT (TERESINA, 2019).
O entorno do terreno também deve ser levado em consideração, pois o empreendimento
necessita estar situado próximos de vias de fácil acesso à população em geral, ou seja,
preferencialmente próximo de vias primárias, com pontos de ônibus e ciclovias. Entretanto, a
locação do empreendimento não deve provocar impactos sonoros e de trânsito significativos na
vizinhança. A região a ser considerada requere a topografia relativamente planta, para evitar
problemas no dimensionamento e setorização do EAS, e prover de infraestrutura urbana que
atenda às necessidades do centro médico e seus usuários.
A zona selecionada para a elaboração do centro médico é a Zona Sudeste, por conta da
deficiência que a região apresenta em equipamentos de assistência à saúde. Segundo a
Prefeitura de Teresina (TERESINA, 2021), a região possui somente uma UPA que forneça
possibilidade de exames e consultas a partir de média complexidade para uma população na
zona de 134.119 habitantes em 2010 (IBGE, 2010). Entretanto, a portaria nº 10 de 3 de janeiro
de 2017 no Ministério da Saúde (BRASIL, 2017) determina que a abrangência de uma UPA é
limitada em 100.000 habitantes, o que faz com que os EAS da região se sobrecarreguem e a
população tenha que se deslocar para outras localidades com a função de procurar tratamento.
Este fato não só aumenta o custo do tratamento, mas também expõe pacientes debilitados a
aglomerações e diminui sua qualidade de vida.
51
A relação do terreno proposto com seu entorno se destaca pela proximidade com a
Avenida Joaquim Nelson, a mais importante do bairro, por conter os principais
estabelecimentos comerciais e de serviços da região e por ser uma das principais vias de fluxo
de veículos da região sudeste. Desta maneira, pode-se interpretar que o terreno está localizado
em uma região com significativos polos de atração, o que é importante para garantir o fluxo de
pessoas; e também está localizado em uma via de fácil acesso, por conta da Avenida e dos
vários pontos de ônibus locados ao longo de seu percurso. Ademais, é importante ressaltar que
o entorno também possui cobertura das necessidades urbanas básicas, como fornecimento de
energia, água e redes telefónicas e de internet.
5.2 Acessos
As principais vias a serem percorridas para acesso ao terreno seriam a Avenida João
XXIII, Avenida Deputado Paulo Ferraz, e posteriormente a Avenida Joaquim Nelson. Pode-se
também utilizar a Avenida Deputado Paulo Ferraz, a Avenida José Francisco de Almeida Neto,
e em seguida a Avenida Joaquim Nelson (Figura 49).
Quanto aos fluxos de entrada para o centro, o acesso principal de veículos será voltado
para a Rua Dona Amélia Rubim, por ser uma via com o fluxo de carros menos intenso, e a
entrada para pedestres será voltada para a Avenida Joaquim Nelson, para que os clientes que
53
desembarcam pelo ponto de ônibus possam adentrar ao lote sem percorrer grandes distâncias.
Já a entrada de serviço será localizada na Rua Pedro Guimarães Matriz.
Figura 49: Mapa de Acessos
5.4 Legislação
De acordo com a Lei Complementar Nº 5.481 de dezembro de 2019, denominado “Plano
Diretor De Ordenamento Territorial - PDOT” (TERESINA, 2019), o terreno localiza-se na
Zona de Desenvolvimento de Corredor Sudeste (ZDCSE), de Padrão de Miscigenação 3, dentro
de uma Macrozona de Desenvolvimento. Esta Macrozona da cidade é marcada pela
significativa densidade urbana, grande disponibilidade de infraestrutura e serviços urbanos, e
concentração de serviços públicos e comércio.
Segundo o anexo 9.3 da mesma Lei Complementar (TERESINA, 2019), o centro
médico ocupa a classe de ocupação de comércio e serviço de potencial incômodo local. Ainda
de acordo com a mesma Lei, o anexo 9.4 define como permitida esse tipo de empreendimento
no Padrão De Miscigenação 3, mediante Estudo de Impacto de Vizinhança. O Quadro 1
estabelece os indicadores de ocupação do solo exigidos para a região.
55
5.6 Vegetação
O terreno não possui grandes quantidades de espécies arbóreas, porém é importante
ressaltar a existência de algumas árvores de tamanhos significativos ao centro do espaço (Figura
52). Encontra-se ainda vegetação gramínea ao longo da extensão do terreno.
6 MEMORIAL JUSTIFICATIVO
6.1 Conceito
O Centro Médico Jaqueline Góes de Jesus tem como conceito o uso do patrimônio
arquitetônico piauiense residencial como elemento de conexão entre as pessoas que utilizarão
o espaço e o Centro Médico em si. Essa conexão baseia-se na identidade cultural que cada
indivíduo carrega acerca de seu contexto social.
De acordo com Brandão (2015), “identidade se relaciona com a concepção que o
indivíduo tem de si mesmo e do seu pertencimento e sua afiliação a grupos.” Pode-se entender
que elementos culturais característicos de um contexto social faz com que seus indivíduos criem
laços emocionais e tenham a sensação de pertencimento com os mesmos.
Na esfera deste trabalho, é possível afirmar, portanto, que características arquitetônicas
históricas conseguem criar o sentimento de identidade na sua população, e promovem um
ambiente de pertencimento e acolhedor para seus usuários.
6.2 Partido
A partir da análise da relação entre a identidade cultural que os indivíduos têm com o
patrimônio cultural e o sentimento de pertencimento, foi escolhido como partido do projeto a
utilização de características arquitetônicas residenciais históricas de Teresina ao longo da
concepção do projeto, consideradas patrimônio histórico piauiense, para que os pacientes
reconheçam o espaço como um ambiente familiar e possam se sentir acolhidos e pertencidos.
Uma dessas características foi a locação de um pátio aberto, com diversas espécies de
vegetação e bastante iluminação natural, ligado com as áreas de espera dos pacientes. Este pátio
foi projetado com a função de se assemelhar a um quintal de uma casa, que tradicionalmente,
nas casas teresinenses, tem conexão com uma área de convívio, como uma varanda ou uma sala
de estar. Dessa maneira, o pátio promove bastante iluminação e ventilação natural para as áreas
de espera, além de possibilitar novos estímulos aos usuários e quebrar a monotonia que espaços
de espera podem proporcionar.
Outra característica foi a utilização da cobertura de telhado aparente para representar
telhas cerâmicas, muito utilizadas nas residências piauienses ao longo do Sec. XX. Apesar de
ter-se utilizado no projeto telhas termoacústicas tipo sanduíche, o modelo implantado possui a
cor e textura similar à telha cerâmica, o que reforça o conceito do ambiente de resgatar
referências residenciais.
59
A escolha dos revestimentos também foi idealizada para fazer alusões a casas antigas,
como o uso do piso e montantes de janela amadeirados e a utilização de brises amadeirados no
pátio como uma referência as aberturas venezianas antigas.
ÁREA ADMINISTRAÇÃO
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
Sala de Reunião 1 2,0 m² por pessoa 17,82 17,82
BWC Adm. Femnino 1 3 3,69 3,69
BWC Adm. Masculino 1 3 3,69 3,69
Sala Administração Geral 1 5,5m² por pessoa 22,18 22,18
60
ÁREA EXAMES
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
BWC Feminino 1 3 4,82 4,82
BWC Masculino 1 3 4,82 4,82
Sala de aplicação de
1 - 80,74 80,74
medicamento e descanso
Sala de Controle 2 6 7,94 15,88
Sala de manipulação de
1 6 12,18 12,18
medicamento
Sala de Computadores 1 - 11,53 11,53
Sala de Ressonância 1 - 31,14 31,14
Sala de Tomografia 1 - 30,92 30,92
Trocador Raio-X 1 - 4,65 4,65
Raio-X 1 - 22,85 22,85
Sala de Laudo 1 6 21,32 21,32
Sala coleta de sangue 1 3,5 25,83 25,83
Sala de exame cardiológico 1 26,46 26,46
8
Sala Pilates 1 - 54,02 54,02
ÁREA FUNCIONÁRIOS
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
BWC Feminino 2 3 3,72 15,06
BWC Masculino 2 3 3,72 15,06
DML 2 - 7,02 15,25
Vestiário Feminino 1 - 11,4 11,4
Vestiário Masculino 1 - 11,4 11,4
61
ÁREA DE MAQUINAS
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
Sala de Maquinas e
1 - 12,81 12,81
Refrigeração
Chiller 1 - 11,7 11,7
Casa de Força 1 - 6 6
Gerador 1 - - -
6.5 Implantação
O principal fator que orientou a implantação do projeto no terreno foi a orientação solar
do local. Logo, com o objetivo de diminuir a incidência solar no empreendimento e, desta
maneira, diminuir a temperatura interna e a necessidade de climatização artificial, as fachadas
principais e de maior concentração de pessoas foram locadas ao Norte e Sul. A fachada Leste,
na qual incide o sol da manhã, é majoritariamente voltada para a área de funcionários e área de
máquinas, e a fachada Oeste foi devidamente protegida contra os raios solares intensos por meio
de brises, cobogós e elementos arbóreos (Figura 54).
62
Fora a orientação solar, o contato dos usuários do espaço com a natureza foi uma das
principais preocupações na implantação do projeto. Assim sendo, a locação de um pátio com
contato com as áreas de permanência tem como objetivo retomar ao conceito projetual inicial
e remeter à um jardim residencial, para permitir novos estímulos aos pacientes e evitar a
monotonia características de espaços de saúde. Ademais, o paisagismo foi planejado para
favorecer a diminuição da incidência solar no ambiente interno do Centro Médico. Desta
maneira, vegetação de médio e pequeno porte foram locadas ao longo do mural de cobogós na
fachada Oeste, além de árvores de grande porte se locarem ao centro do pátio e ao longo dos
recuos.
O Centro Médico conta com 14 vagas para veículos de acesso ao público, sendo 3 delas
destinadas a grávidas, idosos e PCD. As vagas destinadas a públicos específicos estão locadas
próximas a entrada principal, para que não seja necessário percorrer grandes distâncias até a
entrada do Centro.
63
A função desse estudo foi estabelecer quais acessos seriam abertos ou restritos ao
público em geral, além de diminuir o risco de infecções por agentes externos em ambientes
possivelmente utilizados por pacientes imunossuprimidos e diminuir as distâncias percorridas,
como mostra a figura 56.
aberturas têm como função permitir a entrada de iluminação e ventilação natural e o contato
dos usuários do espaço com a natureza ao redor do terreno.
Já o pátio em si constitui-se de uma área aberta que se conecta com as áreas de espera
de pacientes e também com a cidade, por meio de cobogós e elementos arbóreos. No pátio, os
pacientes podem vivenciar o espaço por meio de diferentes estímulos, por conter bancos, sofás,
mesas, etc.
Figura 58: Setorização da Recepção Geral
Já na área dos funcionários, como forma de diminuir os custos com perfis metálicos, foi
adotado o uso de pilares e vigas em concreto armado, o que pede por uma malha estrutural com
módulos menores. Desta maneira, foram utilizados módulos de 5,0m por 5,0m (figura 65).
7 VOLUMETRIA
Durante do desenvolvimento do projeto arquitetônico do Centro Médico, foi
estabelecido que a forma do espaço não aparentasse a forma tradicional de um EAS, pois os
pacientes poderiam associar estes ambientes a situações dolorosas e desconfortáveis. Por essa
razão, foram escolhidos elementos arquitetônicos que lembram residências como o telhado
aparente (figuras 65), revestimentos amadeirados no piso e nas janelas (figura 67), e cobogós
nas fachadas (figura 66).
O pátio interno do Centro Médico (figura 69) foi projetado para remeter a um jardim
residencial, onde pacientes podem esperar seu atendimento ou consulta em um espaço diferente
da área de espera. No pátio foram locados elementos arbóreos médios de grandes, para fornecer
sombreamento e diminuir a irradiação solar.
O pátio interno faz conexão com as áreas de espera do projeto por meio de fechamentos
de ripas amadeiradas com aberturas de portas pivotantes (figura 70). Esses fechamentos
possuem uma lâmina de vidro, que garante isolamento térmico das áreas internas, porém
permite a entrada de iluminação natural e o contato dos pacientes com a natureza.
76
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto do Centro Médico Jaqueline Góes de Jesus foi desenvolvido a partir de
pesquisas científicas na área da arquitetura e da saúde, em especial em relação ao cenário pós-
covid-19 e sua relação com o espaço, além da revisão de legislações que atuam sob EAS.
Após o levantamento teórico, foram realizadas investigações em campo de estudos de
caso em que foram analisados a rotina, os fluxos, os pontos positivos e as carências de diversos
EAS em nível internacional, nacional e regional, como proposto durante as fases da disciplina
do Trabalho Final de Graduação I e II.
Em seguida à análise de todos os estudos citados, foi possível elencar quais os pontos
principais listados como essenciais para o desenvolvimento do projeto. Logo, o Centro Médico
deve fornecer um ambiente humanizado tanto para os pacientes, quanto para os acompanhantes
e colaboradores.
Para atingir esse objetivo, foram resgatadas diversas características da arquitetura
residencial histórica do Piauí, com a função de promover um espaço de pertencimento e
acolhimento aos seus clientes. Foram também utilizados recursos arquitetônicos para o
aproveitamento máximo da iluminação e ventilação natural, como brises, cobogós e aberturas,
juntamente com a presença do paisagismo e do layout diferenciado ao longo do projeto.
Com isso, é possível alcançar um local onde transmitam o bem-estar e a segurança para
indivíduos já vulneráveis tanto fisica quanto mentalmente, e proporcione resultados
significativos na ajuda do processo de cura e recuperação dos pacientes.
78
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