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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE TECNOLOGIA
BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ISABELA SOARES PIRES

CENTRO MÉDICO JAQUELINE GÓES DE JESUS

TERESINA – PI
Novembro, 2021
ISABELA SOARES PIRES

CENTRO MÉDICO JAQUELINE GÓES DE JESUS

Monografia apresentada à Universidade Federal do Piauí


(UFPI) como requisito parcial para a conclusão da
disciplina Trabalho Final de Graduação II, do curso de
Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Prof. MSc. José Ricardo de Freitas Dias

TERESINA – PI
Novembro, 2021
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais, Lílian e Ary, por todo amor, apoio, paciência e
dedicação que tiveram com os filhos, para que eu pudesse chegar o mais longe possível.
Agradeço também ao meu irmão, Arthur, por sempre acreditar em mim. Agradeço ao meu
orientador José Ricardo pela paciência e confiança. Agradeço aos meus avós Maria Dulce,
Antônio, Maria de Fátima e Arimatéia por serem meus alicerces em momentos de incertezas.
Agradeço aos meus tios Leila, Maycon, Julyana e Giovana por todo o apoio e compreensão
nessa jornada; e aos meus primos Giovana, Alice, Felipe, Erick, Sophia e Davi, que mesmo
pequenos me enchem de imensa alegria. Agradeço às minhas amigas Mariana, Marina, Thalia
e Nise por estarem comigo em momentos felizes e difíceis. Agradeço a Ívina por me orientar
mesmo entre inseguranças. E agradeço a Vítor por sempre estar ao meu lado. Muito obrigada.
Lista de Figuras
Figura 1: Exemplo de planta baixa do templo em homenagem a Asclepios........................... 12
Figura 2: Planta baixa das Valetudinárias romanas ................................................................ 13
Figura 3: Planta Baixa do Hospital de Santa Cruz de Barcelona ............................................ 14
Figura 4: Planta baixa do Hospital da Santa Cruz de Toledo ................................................. 15
Figura 5: Planta baixa do Hospital Lariboisiere ...................................................................... 18
Figura 6: Planta Baixa do Hospital De Beaujon ...................................................................... 20
Figura 7: Vista do Hospital De Beaujon ................................................................................. 20
Figura 8: Hospital Herlev ........................................................................................................ 21
Figura 9: Vista aérea do Hospital de Tambacounda ............................................................... 22
Figura 10: Planta original e expansão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo no Sec. XIX
e em 1998 ................................................................................................................................. 23
Figura 11: Hospital da Brigada Militar ................................................................................... 24
Figura 12: Instituto do Câncer ................................................................................................. 25
Figura 13: Vista aérea do Hospital Sarah Kubitschek............................................................. 26
Figura 14: Hospital Gertúlio Vargas ....................................................................................... 27
Figura 15: Hospital São Marcus .............................................................................................. 27
Figura 16: Fachada do Hospital Prontocor .............................................................................. 28
Figura 17: Fachada Hospital Santa Martia .............................................................................. 28
Figura 18: Fachada do Hopital da Unimed ............................................................................. 28
Figura 19: Vista Satélite do Centro de Saúde em Valenzá ..................................................... 35
Figura 20: Vista panorâmica do Centro de Saúde ................................................................... 35
Figura 21: Implantação e delimitação da via de acesso ao lote .............................................. 36
Figura 22: Praças Públicas e Acessos Principais .................................................................... 37
Figura 23: Zoneamento Planta Baixa Pavimento 1 ................................................................. 37
Figura 24: Zoneamento Planta Baixa Pavimento 2 ................................................................. 38
Figura 25: Entrada principal.................................................................................................... 38
Figura 26: Sala de espera ........................................................................................................ 38
Figura 27: Corte do projeto ..................................................................................................... 39
Figura 28: Vista satélite do Edifício Projeto Viver ................................................................. 40
Figura 29: Acessos ao Edifício Projeto Viver ......................................................................... 40
Figura 30: Planta das praças do Edifício ................................................................................. 41
Figura 31: Visão isométrica das plantas baixas ...................................................................... 41
Figura 32: Cortes 1 e 2 da planta baixa ................................................................................... 41
Figura 33: Vista aérea da situação UDI - Leste ...................................................................... 41
Figura 34: Mapa com demarcação dos acessos ....................................................................... 41
Figura 35: Acessos ao lote.......................................................................................................51
Figura 36: Acesso Principal.....................................................................................................51
Figura 37: Acesso para entrega de exame e entrada de funcionários...................................... 41
Figura 38: Setorização da Planta Baixa....................................................................................46
Figura 39: Fachada voltada para a Rua Vereador Luís Vasconcelos ........................................46
Figura 40: Fachada voltada para a Rua Senador Cândido Ferraz..............................................46
Figura 41: Recepção Geral.......................................................................................................47
Figura 42: Sala de Ressonância................................................................................................47
Figura 43: Sala de comando da tomografia...............................................................................48
Figura 44: Sala de Raio-X........................................................................................................48
Figura 45: Cortes AA´ e CC´....................................................................................................49
Figura 46: Corte BB´ e DD´......................................................................................................49
Figura 47: Mapa da cidade de Teresina....................................................................................51
Figura 48: Mapa do bairro Parque Ideal....................................................................................52
Figura 49: Mapa de Acessos.....................................................................................................53
Figura 50: Mapa de Usos..........................................................................................................54
Figura 51: Dimensões físicas do terreno...................................................................................55
Figura 52: Mapa de vegetação.................................................................................................56
Figura 53: Mapa de Insolação e Ventilação..............................................................................57
Figura 54: Implantação do Centro Médico...............................................................................61
Figura 55: Implantação e Acessos ao Centro Médico..............................................................63
Figura 56: Fluxograma da planta baixa.....................................................................................64
Figura 57: Setorização da Planta Baixa.....................................................................................65
Figura 58: Setorização da Recepção Geral...............................................................................66
Figura 59: Setorização da Administração.................................................................................67
Figura 60: Setorização da Área de Consultórios Médicos.........................................................68
Figura 61: Setorização da Área de Exames...............................................................................69
Figura 62: Setorização da Área de Funcionários.......................................................................69
Figura 63: Setorização da Área de Máquinas............................................................................71
Figura 64: Planta da Malha Estrutural.......................................................................................72
Figura 65: Planta da Malha Estrutural na área dos funcionários................................................72
Figura 66: Vista fachadas Norte e Oeste...................................................................................73
Figura 67: Vista fachadas Norte e Leste....................................................................................74
Figura 68: Vista Recepção Geral..............................................................................................74
Figura 69: Vista do Pátio Interno..............................................................................................75
Figura 70: Vista interna da área de espera.....................................................................................76
Lista de Siglas
FMS: Fundação Municipal de Saúde
DAU: Departamento de Arquitetura e Urbanismo
EAS: Espaço de Apoio à Saúde
RDC: Resolução da Diretoria Colegiada
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................8
2. REFERÊNCIA TEÓRICO.................................................................................................11
2.1. Evolução Histórica da arquitetura hospitalar no mundo..............................................11
2.1.1 O conceito de hospital terapêutico....................................................................................15
2.1.2 Hospital Pavilhonar..........................................................................................................17
2.1.3 Hospital Monobloco Vertical............................................................................................18
2.1.4 Hospital Base-Torre..........................................................................................................20
2.1.5 Panorama mundial atual....................................................................................................21
2.2 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no Brasil..................................................22
2.3 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no Piauí...................................................26
3. ASPECTOS GERAIS E LEGISLAÇÃO...........................................................................29
3.1 Índice de Compacidade.....................................................................................................30
3.2 RDC 50 2002.......................................................................................................................30
3.2.1 Organização físico-funcional............................................................................................30
3.3 Circulações Horizontais....................................................................................................31
3.3.1 Corredores........................................................................................................................31
3.3.2 Portas................................................................................................................................31
3.4 Circulações Verticais.........................................................................................................31
3.4.1 Elevadores........................................................................................................................31
3.4.2 Escadas.............................................................................................................................32
3.4.3 Rampas.............................................................................................................................32
4. ESTUDOS DE CASO .........................................................................................................34
4.1 Centro de Saúde em Valenzá.............................................................................................34
4.2 Edifício Projeto Viver........................................................................................................39
4.3 UDI Leste............................................................................................................................42
5. ESTUDO DE TERRENO....................................................................................................50
5.1 Aspectos Gerais do Terreno..............................................................................................51
5.2 Acessos................................................................................................................................52
5.3 Análise do entorno.............................................................................................................53
5.4 Legislação...........................................................................................................................54
5.5 Levantamentos Físicos do terreno....................................................................................55
5.6 Vegetação...........................................................................................................................56
5.7 Insolação e Ventilação.......................................................................................................56
6. MEMORIAL JUSTIFICATIVO........................................................................................58
6.1. Conceito.............................................................................................................................58
6.2. Partido...............................................................................................................................58
6.3 Aspectos Gerais..................................................................................................................59
6.4 Programa de Necessidades e Dimensionamento..............................................................59
6.5 Implantação.......................................................................................................................61
6.6 Soluções Espaço-Funcionais.............................................................................................63
6.6.1 Área Recepção Geral........................................................................................................65
6.6.2 Área Administração..........................................................................................................66
6.6.3 Área Consultas Médicas...................................................................................................67
6.6.4 Área Exames.....................................................................................................................68
6.6.5 Área de Funcionários........................................................................................................69
6.6.6 Área de Máquinas.............................................................................................................70
6.7 Soluções Projetuais e Tecno-Estruturais.........................................................................70
7. VOLUMETRIA...................................................................................................................73
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................77
REFERÊNCIAS......................................................................................................................74
8

1 INTRODUÇÃO
A cidade de Teresina é nacionalmente reconhecida como um dos maiores polos de
saúde do país. De acordo com o IBGE (2018), 300 municípios buscam serviços de saúde de alta
complexidade na cidade, e 95 buscam serviços de baixa e média complexidade.
Com o intuito de demonstrar a distribuição dos serviços de saúde no município, a
Fundação Municipal de Saúde (FMS) afirma que:
Desde a década de 1980, a cidade de Teresina vem se firmando como centro de
referência médico-hospitalar na região Meio Norte, constituída pelos Estados do Piauí
e Maranhão. Tal condição adveio da dimensão da atuação governamental, não
governamental e particular implantado, que é considerado importante em quantidade
e complexidade. Nos últimos anos, principalmente, os estabelecimentos médico-
hospitalar e laboratorial de Teresina evoluíram em dimensão, tecnologia e
credibilidade a tal ponto que, no setor, já se referem à Teresina com o status de Polo
Regional de Saúde. Com efeito, a capital piauiense atende a população estadual,
grande parte da demanda do vizinho, Estado do Maranhão, parte da demanda do Pará,
da região oeste do Ceará e, mais recentemente do Estado do Tocantins. Esse
atendimento à demanda se faz através de uma grande rede de prestação de serviços de
saúde oficial e particular, composta de modernos hospitais, laboratórios, clínicas,
unidades mistas, centro e postos de saúde, atendendo à demanda de massa por serviços
básicos e de rotina, como também, por serviços complexos, altamente especializados,
com diagnósticos imagéticos de última geração, cirurgias cardíacas, neurológicas e
transplante de órgãos. A infraestrutura física de atendimento aos pacientes, segundo
os dados do Ministério da Saúde, referente a setembro/2017, revelam que existiam em
Teresina 1.000 estabelecimentos de saúde”. (TERESINA, 2017, p. 9).

Entretanto, mesmo com expressiva presença como polo de saúde regional, os efeitos
da pandemia do novo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2),
classificado como COVID-19, desde o início do ano de 2020, levaram ao colapso do sistema
de saúde de Teresina, com 94% de ocupação de leitos de UTI em abril de 2021, segundo o
Governo do Estado (PIAUÍ, 2021).
De acordo com o Ministério da Saúde (2020), “Coronavírus é uma família de vírus
que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (nCoV-2019) foi descoberto
em 31/12/19 após casos registrados na China” (BRASIL, 2020). Conforme a Fundação
Municipal de Saúde, até 8 de maio de 2021, Teresina apresenta 88.123 casos confirmados,
3.098 óbitos e 70.005 recuperados (TERESINA, 2021).
Apesar de existir um grande destaque na mídia e na literatura sobre o número de
infectados e mortes diárias, os recuperados de infecções por Covid-19 também precisam de
acompanhamento médico adequado, por conta das sequelas que poderão desenvolver ao longo
da vida. (LOPES et al, 2021)
Para Al-aly et al. (2021, p. 261), as sequelas mais comuns dos denominados sintomas
pós-covid são: comprometimento pulmonar, hipertensão, distúrbios neurológios e de sono,
9

fadiga e dor muscular, distúrbios do metabolismo lipídico, obesidade, arritmia cardíaca e


estresse pós-traumático.
As sequelas dessa doença podem atingir, além da saúde física, também a saúde mental,
como aponta o trabalho elaborado por Gama e Cavalcante (2020), em que foram evidenciados
relatos de acometimento neurológico, que pode ocorrer em qualquer pessoa contaminada,
causando grandes impactos cerebrais e doenças neurológicas graves e mortais.
A repercussão dos sintomas neurológicos e psicológico/psiquiátricos ainda são
expressivos. Segundo Soares (2021, p.1), “a pandemia de COVID-19 causou significativas
repercussões à saúde mental da população, principalmente das pessoas que contraíram o vírus,
causando estresse, ansiedade, medo, raiva, solidão, depressão, tentativas de suicídio e o suicídio
real”.
É importante, também, salientar que as consequências da infecção pela doença poderão
acompanhar os pacientes por um período significativo em sua vida. “Não só doenças, mas o
novo coronavírus gera sequelas envolvendo o sistema nervoso que ainda não se sabe se são
reversíveis ou se continuarão por toda a vida” (MATÍAS-GUIU et al., 2020, p. 178)
Dessa maneira, fica evidente que as consequências decorrentes da Covid-19 atingem
a saúde física e mental dos seus sobreviventes, sendo necessário o acompanhamento
multidisciplinar e integrado durante muitos anos ou até mesmo a vida inteira dessa população,
principalmente da área da psiquiatria, psicologia, cardiologia, pneumologia e fisioterapia.
No entanto, apesar de Teresina possuir um número elevado de estabelecimentos
voltados para a saúde, conforme a Prefeitura Municipal (TERESINA, 2021), a cidade conta
com 24 policlínicas, ou seja, espaços com mais de uma especialidade, o que é um número
considerado baixo diante dos aproximadamente 70 mil pacientes recuperados que podem
apresentar repercussões ao longo da vida, dado informado pela Fundação Municipal de Saúde
(TERESINA, 2021). Este fato faz com que o cidadão teresinense tenha que se deslocar para
diferentes lugares com o objetivo de ter acesso a acompanhamento profissional, o que leva a
segmentação de seu tratamento e dificuldade de acesso à saúde.
Essa segmentação de tratamentos em diferentes estabelecimentos de saúde vai contra
a metodologia de atendimento utilizada atualmente, conhecida como medicina integrativa.
Segundo Otani e Barros (2011), medicina integrativa é a ideia de que o tratamento de um
paciente deve ser feito levando em consideração todos os aspectos de sua vida, desde sua
relação com o ambiente até suas particularidades biológicas, utilizando de diferentes recursos
terapêuticos e com o acompanhamento de diversos profissionais. Nessa integração é muito
importante o contato direto e recorrente dos profissionais envolvidos com os cuidados do
10

enfermo, o que pode ser dificultado se as intervenções de saúde forem realizadas em locais
distintos.
Sendo assim, existe a necessidade no município de um ambiente que ofereça esses
diferentes serviços e tratamentos de uma maneira segura, humanizada e integrada, em que o
paciente possa realizar tanto suas consultas quanto seus exames e tratamentos, de modo
acessível para a população em geral. Esse ambiente, também, deve ser planejado desde seu
princípio em atender medidas sanitárias de controle de vírus, especialmente os de contaminação
por vias aéreas.
A definição de um centro médico pode ser compreendida como um EAS (Espaço de
Apoio à Saúde) que forneça serviços de diferentes especialidades da área de saúde. Esses
serviços vão de consultas com diferentes profissionais de saúde até a possibilidade de exames
e análise laboratorial no mesmo centro.
Neste Trabalho Final de Graduação tem-se como objetivo propor um projeto de
arquitetura de um Centro Médico na cidade de Teresina-PI, que agregue centros de consulta,
exames de imagem e laboratórios e tratamento em um mesmo complexo, voltado para atender
pessoas fragilizadas por uma ou mais sequelas da Covid-19.
O Centro Médico será composto de setor para consultórios, com a previsão de
consultórios cardiológicos, otorrinolaringológico, pneumológicos, psiquiátricos e psicológicos;
sala de fisioterapia; setor de exame de imagens e patologia clínica; apoio administrativo e
logístico.
O empreendimento foi idealizado a partir da teoria da arquitetura humanizada para EAS,
em que o foco do ambiente deixa de ser a doença e passa a ser o próprio paciente. Dessa
maneira, a ergonomia e acessibilidade dos usuários são as principais preocupações do projeto,
possibilitando a esses usuários experimentarem o ambiente em integração do espaço interior
com a natureza.
.
11

2 REFERENCIAL TEÓRICO
As diretrizes atuais que orientam o processo de projeto de Espaço de Apoio a Saúde
(EAS) estão intimamente ligadas com a evolução da noção de tratamento e cura para mazelas
humanas ao longo da história. “Se a evolução da vida está intimamente vinculada aos cuidados
da saúde humana, tais cuidados sempre demandaram abrigos” (BITERNCOURT, 2020 apud
TOLEDO, 2020, p. 9).
Assim, o estudo a seguir procura apresentar a evolução história da arquitetura voltada
para a saúde, seguindo uma linha cronológica desde os primeiros registros encontrados de
ambientes com a função de cura de mazelas, até a denominação do que hoje se entende por
clínica médica.
2.1 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no mundo
Ambientes voltados para receber populações doentes e feridas sempre foram presentes
na história humana. “A palavra hospital vem do latim hospitalis, adjetivo derivado de hospes
(hóspede, estrangeiro, viajante, conviva (GÓES, 2011, p. 25)”. Entretanto, a maneira como as
funções nesse ambiente era desenvolvida mudou muito com o desenvolvimento das sociedades.
“É possível deduzir que o hospital era voltado para acalentar os doentes e pobres, ao invés de
um ambiente que promova a cura e a esperança para seus pacientes” (GÓES, 2017, p. 25).
Carvalho (2014) afirma que o estudo da arquitetura na área de saúde é ligado fortemente pelas
crenças religiosas e culturais que as sociedades humanas carregaram durante sua história, fato
que pode ser observado nos diversos templos e terrenos sagrados onde eram agregadas áreas
para tratamentos de mazelas. Até então, acreditava-se que doenças teriam origem divina, como
forma de castigo, e a sua solução estaria na religião.
De acordo com Toledo (2020, p. 21):
Da Antiguidade à Idade Média, a assistência aos enfermos era prestada, em caráter
oficial, pelos sacerdotes das ordens religiosas, ou informalmente, por leigos, os quais
praticavam o que poderia se chamar de uma medicina popular. Já na medicina oficial,
desenvolvia-se no interior dos templos e dos mosteiros ou em edificações anexas,
sempre como atividade secundária às obrigações de caráter religioso e assistencial,
que constituíam o objetivo principal das ordens religiosas. Nessa época, os edifícios
hospitalares faziam parte de grades conjuntos arquitetônicos. Eles tinham como
finalidade dar assistência aos pobres e conforto aos enfermos, já que neles os
procedimentos de caráter curativo raramente eram praticados.

Góes (2011, p. 25) afirma que “Há documentos históricos que registram a existência
de hospitais na Babilônia e no Egito. Em sua obra History, Heródoto refere-se à medicina dos
povos do vale do rio Nilo e ressalta várias especialidades existentes: olhos, dentes, distúrbios
internos, etc.” Já Miquelin (1992) declara que durante o período pré-helenístico não se pode
afirmar que existia algo que possa ser entendido como espaço para cura de doenças, mas sim
12

templos religiosos em que sacerdotes rezavam pela melhora dos que buscavam tratamento. Um
dos principais templos era o de Deir-El-Bahari, em Thebes, em que pacientes eram consultados
por Imhotep, uma divindade egípcia
Campos (1952, p. 49) descreve: “No oriente, os hospitais geralmente eram construídos
junto às mesquitas, sendo que alguns, como o Hospital El Cairo, tornaram-se famosos pela
qualidade da assistência médica que prestavam, muito superior à que se praticava no mundo
ocidental.”
Conforme Miquelin (1992), na Grécia antiga havia três tipos de edifícios ligados à saúde
pública nos domínios público, privado e religioso: no âmbito público, o prythaneé e o cynosrage
eram ambientes laicos com a função de tratar a saúde dos idosos; já o xenodochium é uma
pousada reservada para estrangeiros de origem tebana. No âmbito privado, aos médicos eram
permitidos estabelecer uma casa para abrigos de seus próprios pacientes, chamada iatreia. No
âmbito religioso, a divindade da medicina, Asclepios, era buscado pela população em templos
erguidos em sua homenagem (Figura 1), entretanto não poderiam servir de abrigo para o
nascimento ou para a morte.
Figura 1: Exemplo de planta baixa do templo em
homenagem a Asclepios

Fonte: Miquelin (1992)


Carvalho (2014) descreve que na sociedade romana, as valetudinárias (Figura 2),
ambientes com a função de prestar suporte aos soldados guerreiros romanos, podem ser
entendidas como espaços hospitalares, com a planta retangular com compartimentos
distribuídos dos dois lados de um corredor interno e um pátio central, onde se situava um
estabelecimento de apoio, possivelmente cozinha ou refeitório (CARVALHO, 2014, p. 13)
13

Figura 2: Planta baixa das Valetudinárias


romanas
Legenda:
1 – Saguão de Entrada
2 – Administração
3 – Acesso
4 – Pátio Interno
5 – Corredor
7 – Sala para enfermos
A – Enfermaria
B – Banheiro
C – Hall
D - Corredor

Fonte: Carvalho (2014)

Com a ascensão do cristianismo, hospitais passaram por uma nova fase de concepção,
na qual a assistência social e a caridade foram tomadas como pilares para a criação desses
espaços. Constantino I, em 313 d.C, estimulou pelos Concílios de Niceia (325 dC) e Cartago
(398 dC), a construção de hospitais em cidades que tivessem catedrais e de hospícios
(albergues) ao lado de igrejas paroquiais, para facilitar a atenção aos pobres, inválidos,
enfermos e viajantes (NEUFELD, 2013).
Com o cristianismo, o nosocomiun passou a ser tido como um lugar para tratar de
doentes, pobres e peregrinos. Para alguns autores, um nosocômio fundado por São Basílio (269
a 372 d.C.), em Cesárea, Capadócia, na segunda metade do século IV, é o primeiro hospital
cristão. Para outros, foi o hospital construído em Roma, no mesmo século. Outro marco
importante na construção de hospitais de inspiração cristã foi o que o imperador Constantino
edificou em Constantinopla sobre os escombros dos templos de Esculápio (335 d.C.) para
atender estrangeiros e peregrinos em viagem a Jerusalém (GÓES, 2011).
Os principais modelos arquitetônicos de hospitais durante a Idade Média, segundo
Carvalho (2014), eram o modelo nave e claustro e o modelo radial. O modelo de nave e claustro
tinham como principais características a não diferenciação de doenças e não limitação do
número de doentes recebidos, o que geravam espaços indiferenciados com pessoas amontoadas,
14

o que agravava o estado em que se encontravam. Um exemplo de modelo nave e claustro seria
a planta do Hospital de Santa Cruz de Barcelona (Figura 3).

Figura 3: Planta Baixa do Hospital de Santa Cruz de


Barcelona

Fonte: Carvalho (2014)

Já o modelo radial, conhecido pelo cruzamento das naves e adoção regular do claustro,
foi bastante utilizado até o final da Idade Média, por conta do aumento no número de
atendimentos a doentes, provocado pelo aumento das cidades europeias. O cruzamento das
naves proporcionava um ponto estratégico para a colocação de altar e vigilância, havendo
diversas variantes do sistema. Tratava-se de solução funcional, mas que já buscava proporcionar
certa separação entre tipologias de doenças. As naves em cruz obedeciam à necessidade de
maior sofisticação do programa hospitalar. Nessa tipologia, certa preocupação com a questão
ambiental também pode ser notada, porém os doentes continuavam dispostos em espaços
grandes e abertos, sem diferenciações. Um exemplo desse modelo seria o Hospital da Santa
Cruz de Toledo (Figura 4), pelo arquiteto Enrique Egas (CARVALHO, 2014).
15

Figura 4: Planta baixa do Hospital da Santa


Cruz de Toledo

Fonte: Carvalho (2014)

2.1.1 O conceito de hospital terapêutico


Ao longo da história da humanidade, ambientes voltados para o tratamento de
enfermidades não possuíam a finalidade de promover cura para seus pacientes, mas sim de
isolar essas pessoas da sociedade e atrelar seu tratamento a funções religiosas.
Porém, após a Idade Média, com o desenvolvimento da medicina humana,
especialmente acerca de conhecimentos sobre doenças infecciosas, e com pesquisas realizadas
na Europa visando estudar hospitais ao redor do continente, mudou a maneira como o
tratamento hospitalar era fornecido para os pacientes, o que influencia em novos conceitos para
planejamento de áreas de apoio à saúde (TOLEDO, 2020; GOÉS, 2011; CARVALHO, 2014).
As descobertas da época acerca de transmissão de doenças infecciosas mudaram a
postura da área médica perante seus pacientes. “A partir do século XVIII, quando graças aos
avanços da medicina a doença deixa de ser considerada um golpe do destino e passa a ser
reconhecida como fato patológico, e formou-se então o conceito de hospital terapêutico”
(MIGNOT, 1983, p. 224).
Costeira (2014, p. 58) afirma que:
A descoberta da transmissão de germes, em 1860, revoluciona a concepção dos
projetos hospitalares, isolando as patologias e os doentes em pavilhões específicos.
Os trabalhos de Louis Pasteur demonstram a necessidade de combater o contágio e a
transmissão de doenças, com a separação de pacientes e a esterilização de utensílios
médicos. Estes princípios de isolamento das patologias acarretam uma verdadeira
revolução nos projetos de unidades de saúde. A disposição e a composição da
16

arquitetura em pavilhões múltiplos facilitam o desenvolvimento das construções e a


integração com o seu espaço de instalação, possibilitando a criação de hospitais do
tamanho de quarteirões, e de implantações assemelhadas a pequenas cidades-jardim.

Conforme Foucault (1989, p. 99), “A noção de que o hospital pode e deve ser um
instrumento destinado a curar aparece claramente em torno de 1780 e é assinalada por uma
nova prática: a visita e a observação sistemática e comparada dos hospitais.”
Os primeiros passos em direção à conceituação de um hospital terapêutico ocorreram
após o incêndio ao Hôtel-Dieu, em 1775, principal hospital de Paris, quando a Academia de
Ciências requereu a John Howard e Jacques-René Tenon pesquisas sistemáticas sobre
ambientes de saúde na época. Os resultados das pesquisas foram correlacionados com o projeto
físico desses ambientes, e a conclusão obtida guiou os arquitetos e engenheiros do período a
adotarem o hospital pavilhonar (TOLEDO, 2020). Carvalho (2014, p. 18) descreve que “com o
incêndio do maior hospital de Paris, o Hôtel-Dieu, teve início um amplo debate na França acerca
da melhor forma de se executar um hospital, procurando no ambiente dos edifícios de saúde a
solução para um problema social e político”
Segundo Foucault (1979), os resultados desses estudos revelaram a precariedade das
unidades hospitalares pesquisadas e, pela primeira vez, chamaram a atenção para a relação entre
as elevadas taxas de mortalidade, os procedimentos médicos e os de enfermagem praticados
nos hospitais e para as características espaciais dessas edificações. As pesquisas, além de
fornecerem um diagnóstico das unidades, invocam novos rumos para o edifício hospitalar,
mediante um programa de reforma e reconstrução, inspirado no que havia de melhor entre os
hospitais pesquisados.
As consequências desses estudos impactaram o rumo do planejamento arquitetônico
hospitalar dos anos seguintes. “Os índices de insucesso ou de cura das unidades hospitalares
são, assim, pela primeira vez, avaliados à luz das questões espaciais, relacionando-se a
contaminação de pacientes à proximidade excessiva de determinadas áreas funcionais”
(TOLEDO, 2020, p. 25). “Tais descrições configuram um novo olhar sobre o hospital
considerado como máquina de curar e que, se produz efeitos patológicos, deve ser corrigido”
(FOUCAULT, 1979, p. 101).
17

2.1.2 Hospital Pavilhonar


O hospital pavilhonar, no final do sec. XIX, foi o modelo de projeto utilizado para
substituir o partido em bloco e cruz, considerando a solução arquitetônica indicada para o
período, em uma época em que os trabalhos de Pasteur, sobre o papel das bactérias como agente
de enfermidades, e os de Koch, sobre os perigos do contágio, recomendavam o afastamento ou
isolamento dos pacientes que sofriam de enfermidades potencialmente contagiosas (TOLEDO,
2020).
As principais caraterísticas do hospital pavilhonar são: o afastamento ou o isolamento
de pacientes com enfermidades potencialmente infecciosas, proporcionado pela segregação do
espaço hospitalar em pavilhões (TOLEDO, 2020), além de blocos de internação dispostos
paralelamente, com grandes janelas ao longo dos dois lados mais longos, para promover a
ventilação natural, e jardins e pátios internos ao longo da construção (CARVALHO, 2014)
Sobre a correlação entre as distâncias proporcionadas no modelo pavilhonar e a
disseminação de doenças, Carvalho (2014, p. 20) descreve:
O modelo em pavilhão vem atender ao predomínio da teoria miasmática, que defendia
ser a transmissão das doenças efetuada por vapores venenosos originados dos
processos de putrefação ou miasmas, que também foi base para importantes reformas
urbanas no ocidente. Ao final do século XIX, com o reconhecimento das bactérias
como causadoras de doenças, intensificou-se a preocupação ambiental e de higiene.
A disposição em pavilhões representava clara modificação organizacional, com
institucionalização da segregação por tipo de doença e sexo, mantendo, no entanto, o
caráter de vigilância e exclusão da sociedade. Ao invés do paradigma miasmático, a
bacteriologia supõe uma mirada fundamentalmente diferente sobre o meio: introduz
uma ameaça não só invisível, mas também inodora. O sistema pavilhonar
representou um claro avanço formal e funcional na história da arquitetura
hospitalar: os hospitais deixam de ser locais para a exclusão e aguardo da
morte, para se transformarem em instrumentos efetivos de recuperação e cura.

Uma importante defensora do modelo pavilhonar foi Florence Nightingale, enfermeira


inglesa cujas notas sobre atendimento médico criaram teorias revolucionárias para a época.
Nightingale acreditava em enfermarias com número máximo de internações, para que o corpo
de apoio não precisasse andar vários metros para atender os pacientes, além de estabelecer
condições de ventilação e separação entre camas. Suas ideias para enfermarias criaram o
conceito da Enfermaria Nightingale, que previa inclusive idealizações de atendimento
humanizado (TOLEDO, 2020).
18

Um exemplo desse modelo pavilhonar pode ser observado no Hospital Lariboisiere


(Figura 5), na França. O projeto é composto por dois grupos de cinco pavilhões, separados por
áreas ajardinadas e ligados por corredores ou galerias a um pátio interno (CARVALHO, 2014).

Figura 5: Planta baixa do Hospital Lariboisiere

Fonte: Carvalho (2014)

2.1.3 Hospital Monobloco Vertical


Na virada do Século XX, alguns pontos importantes na área da ciência e da economia
moldaram um novo sistema projetual de hospitais ao redor do mundo, o que culminou com a
criação do sistema de plantas baixas em monoblocos. Primeiramente, pode-se pontuar a
descoberta de Koch, em 1882, sobre a teoria dos germes, em que foi comprovado que muitas
doenças podem ser explicadas pela multiplicação de seres microscópicos no corpo do paciente,
como vírus, bactérias e protozoários, e sua transmissão pode ser cessada com a melhor assepsia
do paciente e do ambiente em que ele se localiza. Grandes áreas ventiladas, portanto, poderiam
ser substituídas pela ventilação mecânica e higienização química de enfermarias, o que permitia
a diminuição física dos ambientes hospitalares (ROSSINI, 2020).
O aumento do preço nos terrenos, também, foi um fator decisivo para a verticalização
dos hospitais. Projetos que exigiam vastas áreas para serem locados eram cada vez mais
inviáveis, especialmente nas grandes cidades europeias e americanas, como, por exemplo, em
Chicago-EUA, onde já se observava o aumento de arranha-céus. Novas tecnologias, como o
uso de estruturas metálicas e elevadores, tornaram viável a adição de vários andares compactos
aos ambientes hospitalares (COSTEIRA, 2014).
19

O conceito hospitalar monobloco propôs diversas mudanças à idealização da enfermaria


da época, especialmente na América do Norte, tal qual descreve Costeira (2014, p. 60):
No período entre as duas grandes guerras, o hospital monobloco era apenas um
empilhamento de enfermarias “Nightingale”. A sua anatomia típica destinava o
subsolo para os serviços de apoio, o térreo para os consultórios e os serviços de
imagem, os primeiros serviços de Raios-X. No primeiro pavimento ficava a
administração, nos andares intermediários, a internação e no último pavimento, o
então chamado Bloco Operatório. [...] O hospital monobloco trabalha a sua estrutura
física, com a racionalização das funções de assistência e a setorização de serviços,
patologias e complexidade de cuidados, na implantação dos seus pavimentos e
prédios. Durante o desenrolar do século XX, os hospitais atingem conformações
mistas nas estruturas físicas, com plantas concebidas para a ampliação e a
incorporação de novos serviços e usuários, acompanhando o enorme desenvolvimento
da ciência médica e o aumento da clientela, agregando populações que, até então, não
logravam acesso a estas instituições.

Segundo Toledo (2020), o novo partido arquitetônico diminuía de maneira significativa


os custos de construção e operação em hospitais. Com a racionalização de sistemas de
infraestrutura, distribuição de alimentos, serviços de esterilização, lavagem de roupa e nutrição
organizados de maneira nivelada, poderia existir economia com matéria prima de construção e
com mão-de-obra.
Um exemplo de hospital em partido monobloco é o Hospital Beaujon (Figuras 6 e 7),
localizado em Paris, conhecido como o primeiro hospital em monobloco da França. Com 12
andares e cerca de 1.400 unidades de internação, pode ser identificado como um hospital
monobloco repetido. Este hospital foi construído em um terreno de 6 hectares. A policlínica
localizava-se na parte inferior do corpo do hospital, e na maioria unidades de internação
elevadas. Um dos aspectos levantados pela primeira vez no Hospital era a separação das
circulações de pacientes, visitantes e funcionários (CAPARRÓS et al, 2009).
20

Figura 6: Planta Baixa do Hospital De Beaujon

Fonte: Caparrós et al (2009)

Figura 7: Vista do Hospital De Beaujon

Fonte: Caparrós et al (2009)

2.1.4 Hospital Base-Torre


O período após a década de 1950 foi marcado pelo desenvolvimento de um modelo
projetual que segue os moldes de hospitais monobloco, porém tentando retomar o contato do
ambiente físico com a iluminação e ventilação natural e o contato com a natureza, conhecido
como tipologia base-torre. Caparrós et al (2009) afirma que a característica diferenciadora dessa
tipologia em relação às demais é a localização das unidades de internação (com um alto risco
de contaminação) em volume claramente distinto do restante dos serviços de tratamento e
diagnóstico e serviços de apoio de cuidados gerais. Esse restante de serviços estaria localizado
ao longo da base do projeto, de maneira horizontal, o que permitia maior contato com a
natureza.
21

O Hospital Herlev, na Dinamarca (Figura 8), ilustra claramente o partido base-torre.


Projetado por G. Bornebusch, M. Cruel e J. Selehau, e construído em 1975, pode-se observar
uma diferenciação volumétrica entre a zona de internação, localizada na torre do complexo; e
os serviços de tratamento e diagnóstico geral, localizados ao longo da estrutura horizontal
(CAPARRÓS et al, 2009).
Figura 8: Hospital Herlev

Fonte: Caparrós (2020)

2.1.5 Panorama mundial atual


As diretrizes que guiam os projetos hospitalares recentes propõem novos entendimentos
a respeito do uso do ambiente pelos seus usuários, que são em sua maioria populações em estado
de vulnerabilidade e necessitam de acolhimento por parte dos funcionários e do espaço em si.
Araújo e Dantas (2013) afirmam que, nos espaços voltados para a saúde, deve ser utilizado da
neuroarquitetura, denominação da arquitetura voltada para o condicionamento do estado mental
dos seus usuários, para promover um local confortável e receptivo aos pacientes.
Este fato pode ser observado no projeto do Hospital Tambacounda (Figura 9), projetado
pelo escritório Manuel Herz Architects, no Senegal, fundado em 2021. O projeto foi elaborado
com a implantação ao redor de diversas árvores da região, além da utilização de elementos
vazados e parques públicos, que permite ao usuário maior contato com a natureza. Além disso,
foram utilizados elementos construtivos regionais, com a função de favorecer a identificação
cultural dos residentes locais com a edificação (Archdaily, 2021).
22

Figura 9: Vista aérea do Hospital de Tambacounda

Fonte: Archdaily (2021)

2.2 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no Brasil


Os primeiros espaços voltados para a cura de mazelas tiveram início logo após o começo
da colonização do Brasil por Portugal. Na época, o império tinha o hábito de levar para as
colônias seu acervo cultural, com a função de assegurar a imponência da nação aos países
subjugados. E um dos pontos desse acervo era o sistema desenvolvido pela rainha Leonor de
Lencastre (1458-1525), que deu origem às Santas Casas de Misericórdia (GÓES, 2011). As
Santas Casas, antes de serem difundidas pelo Brasil, já eram bastante utilizadas em Portugal, e
tinham como principal característica a independência administrativa e econômica de cada
unidade. Além disso, contribuíram para a expansão da dominação lusitana no território
nacional, se estabelecendo primeiramente nas capitanias hereditárias, e depois para o interior
do país. (TOLEDO, 2020)
Um dos primeiros hospitais fundados no Brasil foi o Hospital Santa Cruz da
Misericórdia de Santos, localizado no atual estado de São Paulo, por Brás Cubas, em 1543. Em
seguida, foi fundada, em 1884, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (Figura 10),
projetado com o modelo pavilhonar, pelo arquiteto italiano Luiz Pucci, influenciado pelos
conceitos arquitetônicos do Hospital Lariboisière (TOLEDO, 2020). Segundo Miquelin (1992,
p. 45), A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo foi “Inaugurada com menos de 150 leitos,
chegou a abrigar mais de 1000 pacientes na década de 70”.
23

Figura 10: Planta original e expansão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo no Sec. XIX e em 1998

Fonte: Miquelin (1992)

Com a independência do país, não houve iniciativas governamentais para o


estabelecimento de normas de construção para Hospitais, até a década de 1930, quando o
governador de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti, incumbiu ao engenheiro Luiz Nunes a
liderança do recém-criado Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU), onde foram
projetados diversos edifícios públicos ao longo da capital pernambucana e interior (GÓES,
2011).
Segundo Góes (2011), o Hospital da Brigada Militar (Figura 11), localizado em Recife-
PE e fundado em 1936, foi um projeto de grande reconhecimento. Estabelecendo um equilíbrio
entre as forças públicas e o governo central, o partido adotado foi o sistema monobloco, já
bastante utilizado na Europa e nos Estados Unidos, por não utilizar a teoria atrasada de
miasmas, que relacionava odores provenientes de matéria orgânica com doenças infecciosas.
Além disso, é o primeiro edifício a incorporar as descobertas da medicina, quanto à
identificação dos vetores de transmissão de diversas doenças contagiosas. O projeto é composto
de três blocos, sendo dois longitudinais com três andares e um latitudinal com seis andares,
estruturado em concreto armado por Joaquim Cardozo.
24

Figura 11: Hospital da Brigada Militar

Fonte: Góes (2011)

O principal partido arquitetônico adotado no Brasil, de acordo com Toledo (2020) foi o
sistema monobloco, e, mais adiante, o sistema base-torre, principalmente durante o período
modernista brasileiro. Rino Levi exemplifica a linha de projeto desses sistemas de maneira clara
no projeto do Instituto do Câncer (Figura 12), em São Paulo.
25

Figura 12: Instituto do Câncer

Fonte: Toledo (2020)

No período arquitetônico brasileiro contemporâneo, um importante arquiteto a ser


comentado é João Filgueiras Lima, o Lelé, cujas obras deixaram uma extensa variedade de
assuntos sobre a área de arquitetura hospitalar:
Para Toledo (2020, p. 38),
A obra de Lelé é considerada uma das maiores atribuições da arquitetura brasileira
contemporânea. [...] Sua produção, voltada para a nova tecnologia do pré-moldado,
ver reveste-se em enorme conteúdo social e adquire um nível de excelência ao tratar
de programas educacionais e as assistências de saúde.

Uma das suas obras mais marcantes para a arquitetura hospitalar brasileira atual foi o
Hospital Sarah Kubitschek (Figura 13), em Salvador, fundado no ano de 1994. Com a função
de servir como espaço de recuperação para pacientes com dificuldades motoras. Lelé utilizou
passarelas amplas e pátios bem localizados em meio ao programa de necessidades do hospital
para garantir o máximo de acessibilidade e independência para seus usuários. O contato com a
mata atlântica local também é bastante presente, seja por meio de corredores externos ou por
pequenas varandas ao longo do projeto. A iluminação e a ventilação naturais são garantidas por
meio do uso de sheds metálicos na cobertura, que dá forma ao projeto (Archdaily, 2012).
26

Figura 13: Vista aérea do Hospital Sarah Kubitschek

Fonte: Archdaily (2012)

2.3 Evolução histórica da arquitetura hospitalar no Piauí


Segundo Bastos (1994), os primeiros EAS do estado do Piauí tiveram seu começo na
antiga capital do estado, Oeiras, onde, em 1849, foi fundado o Hospital da Misericórdia. Mais
tarde, em 1854, um Hospital da Caridade também seria fundado em Teresina, funcionando onde
hoje se situa o Estádio Lindolfo Monteiro.
Entretanto, em 1861, com a mudança da capital do Estado para Teresina, foi extinto o
Hospital da Caridade para o funcionamento da Santa Casa de Misericórdia, próximo a onde
hoje se encontra a praça João Gayoso (SILVA, 2016). A Santa Casa de Misericórdia, no
entanto, localizava-se longe dos perímetros da cidade, seguindo as diretrizes da arquitetura
hospitalar do Sec. XIX, que excluía e isolava os doentes da sociedade em geral. Segundo Silva
(2016, p. 34), “o local onde a Santa Casa estava instalada na cidade de Teresina confirma a
concepção que Michel Foucault (1979) aponta sobre o hospital até o século XVIII na França,
na qual o autor o apresenta como uma instituição de assistência como também de separação e
exclusão”
27

Em 1940, com a população do estado em necessidade de novos EAS, foi fundado o


Hospital Getúlio Vargas (Figura 14), até então o EAS mais complexo e equipado de Teresina
(DIAS, 2006). Seu projeto arquitetônico hoje conta com dois pavimentos, de 2.217m² cada,
onde se encontram raios x, sala de cirurgia e curativos, enfermarias, ambulatórios, pensionato,
pronto-socorro, além de duzentos leitos, administração e diretoria e as sedes do Instituto de
Assistência Hospitalar do Estado e a Associação Piauiense de Medicina (SILVA, 2011).

Figura 14: Hospital Gertúlio Vargas

Fonte: Acervo público (1942)

Em 1978, foi fundado o Hospital do Câncer em Teresina, conhecido atualmente como


Hospital São Marcus (Figura 15), que possuía tecnológicos equipamentos e tratamentos de
radioterapia (DIAS, 2006).

Figura 15: Hospital São Marcus

Fonte: São Marcus (2019)

Na atualidade, é notável em Teresina a existência de um número elevado de


consultórios, clínicas e centros de saúde. Dias (2006) atribui esse fato ao processo de evolução
e capacitação dos profissionais do município, além da grande procura. Os principais hospitais
recentes de Teresina são o Prontocor (Figura 16), especializado em cardiologia; Hospital Santa
Maria (Figura 17) e o Hospital da Unimed (Figura 18).
28

Figura 16: Fachada do Hospital Prontocor

Fonte: Google Street


Figura 17: Fachada Hospital Santa Martia

Fonte: Google Street


Figura 18: Fachada do Hopital da Unimed

Fonte: Google Street


29

3 ASPECTOS GERAIS E LEGISLAÇÃO


De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 1995), Estabelecimentos Assistenciais
de Saúde (EAS) é a denominação dada a qualquer edificação destinada à prestação de
assistência à saúde à população, que demande o acesso de pacientes, em regime de internação
ou não, qualquer que seja o seu nível de complexidade. Os níveis de atendimento à saúde,
segundo a Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação (CIPLAN), podem ser
classificados em nível primário, secundário e terciário.
Góes (2011) descreve esses níveis como o nível primário sendo a atividade caracterizada
por ações de promoção, proteção e recuperação, no nível ambulatorial, por meio de pessoal
elementar médio, clínicas gerais e odontológicos; o nível secundário, em que, além do nível
primário desenvolvem-se atividades das quatro clínicas básicas (clínica médica, cirúrgica,
ginecológica e obstétrica e pediátrica) em nível ambulatorial e são feitos atendimentos com
internações de curta duração, urgências e reabilitação e o apoio ao diagnóstico é composto por
laboratório de patologia clínica e radiodiagnóstico, com a utilização de equipamentos básicos;
e, por último, o nível terciário, em que são tratados os casos mais complexos do sistema,
atenções do nível ambulatorial, urgência e internação.
Na definição do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008), um Centro Médico pode ser
classificado como unidade de saúde para prestação de atendimento ambulatorial em várias
especialidades, incluindo ou não as especialidades básicas, podendo ainda ofertar outras
especialidades não médicas. Pode ser entendido, então, como um EAS de nível primário, porém
contendo área de apoio ao diagnóstico e terapia.
Em relação às normas utilizadas como guia para a elaboração do projeto, deverão ser
utilizadas diversas normas federais e municipais. Entre as que necessitam de uma dissertação
mais extensa para o entendimento do projeto, deve-se destacar a Resolução RDC nº 50, de 21 de
fevereiro de 2002, estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que
regula o todos os aspectos de projeto e desenvolvimento de EAS em território nacional
(BRASIL, 2002). Além disso, a RDC 9050 tem grande importância para determinar os
conceitos e valores que devem ser utilizados para a concepção de um projeto acessível
(BRASIL, 2020).
Por fim, é importante ressaltar a Lei Complementar Nº 4.729, de 10 de Junho de 2015
(TERESINA, 2015), que estabelece as normas, condições, delega competências e regulamenta
os procedimentos administrativos e executivos, e fixa as regras gerais e específicas a serem
obedecidas no projeto, licenciamento, execução, manutenção e utilização de obras, edificações
para o licenciamento e a execução das obras de construção, realizados por agente particular ou
30

público, no município de Teresina. Tem-se, ainda, a Lei Complementar Nº 5.481, de 20 de


dezembro de 2019 – Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), que tem o objetivo
geral de orientar a Política de Desenvolvimento Territorial do Município de Teresina
(TERESINA, 2019).
Além das legislações ressaltadas, também serão seguidas as seguintes resoluções e
normas: RDC nº 306 (BRASIL, 2004); e a Resolução Conama 283 (BRASIL, 2001),
oferecendo bases para gerenciamento de resíduos dos estabelecimentos de saúde; NBR 7256
(BRASIL, 2005), apresenta as exigências em relação aos equipamentos de tratamento de ar nas
instalações; NBR 15220 (BRASIL, 2005), referindo-se às temperaturas internas; NBR 15215
(BRASIL, 2005), abordando soluções para se obter conforto luminoso a partir de fonte natural;
NBR 12179 (BRASIL, 1992), abordando as exigências para o conforto acústico; NBR 13700
(BRASIL, 1996), regulamentando a classificação e controle de contaminação; e a Legislação
do CBMEPI (PIAUÍ, 2020), apresentando do Código de Incêndio do Estado do Piauí.

3.1 Índice de Compacidade


Segundo Góes (2011), o Índice de Compacidade é o método utilizado para estabelecer
e avaliar a relação em porcentagem entre as paredes que envolvem um edifício e sua superfície
horizontal. Para calcular este índice, usa-se a seguinte fórmula:
𝐼𝑐 = (𝑃𝑐 𝑥 100)/𝑃𝑝
Sendo Ic = Indicie de Compacidade, Pc = perímetro de um círculo de área igual ao do
projeto, Pp = perímetro das paredes exteriores, em planta, do projeto. Projetos com índice de
compacidade superior a 88% serão, em princípio, antieconômicos, pois apresentarão formas
com plantas curvas ou ângulo em paredes superiores a 90°. Já os valores de 88% para baixo
serão mais econômicos, pois terão menores custos de construção e menores peras e ganhos
térmicos indesejáveis. (Góes, 2011)

3.2 RDC 50 2002


Com o objetivo de orientar o planejamento, programação, elaboração e avaliação de
projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde, a RDC nº 50, de 21 de fevereiro de
2002 deve ser aplicada a todos os projetos de arquitetura hospitalar. Serão apresentados os
pontos considerados mais importantes para o desenvolvimento do centro médico.
3.2.1 Organização físico-funcional
Segundo a RDC 50 (BRASIL, 2002), as atividades e subatividades de uma EAS podem
ser divididas em:
31

▪ Apoio de regime ambulatorial e de hospital-dia


▪ Atendimento imediato
▪ Atendimento em regime de internação
▪ Apoio ao diagnóstico e terapia
▪ Apoio administrativo
▪ Apoio logístico
▪ Apoio técnico
▪ Ensino e pesquisa
Como em um centro médico não podem ser realizadas cirurgias complexas ou
internações prolongadas, o projeto irá focar nas áreas de apoio ao diagnóstico e terapia, apoio
técnico, apoio administrativo, apoio logístico e a parte de consultórios do apoio de regime
ambulatorial.

3.3 Circulações Horizontais


As circulações dentro do centro médico serão elaboradas e calculadas seguindo as
diretrizes da NBR 9050 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos.
3.3.1 Corredores
Segundo a RDC 50 (BRASIL, 2002), para corredores onde existem a circulação de
pacientes é recomendável inserir corrimãos em pelo menos um lado das paredes laterais com a
altura de 80 a 90 cm, possuindo uma curvatura. Além disso, é estabelecido pela norma a largura
mínima de 2,00m para a passagem de macas, camas e cadeiras de rodas. Em circulações sem o
tráfego de pessoas ou cargas volumosas, é admitido a largura mínima de 1,20m.
3.3.2 Portas
Ainda de acordo com a RDC 50 (BRASIL, 2002), portas em geral devem ter largura
mínima de 80cm, com a exceção das com função de passagem de camas e macas, sendo estas
com largura de 1,10m. Portas para banheiros devem ter maçaneta tipo alavanca e abertura
externa.

3.4 Circulações Verticais


3.4.1 Elevadores
Sobre elevadores em EAS, a legislação afirma que a circulação vertical para
movimentação de pacientes deve atender aos seguintes critérios (BRASIL, 2002):
32

▪ EAS com até dois pavimentos (inferior ou superior), incluindo térreo – fica dispensado
de elevador ou rampa. Neste caso a movimentação de pacientes poderá ser feita através
de escada com equipamentos portáteis ou plataforma mecânica tipo plano inclinado
adaptada à escada, no caso do paciente precisar ser transportado;
3.4.2 Escadas
Em relação as escadas, a legislação afirma que a construção das escadas deve obedecer
aos critérios referentes ao código de obras da localidade e a outras exigências legais
supervenientes, bem como às seguintes especificações adicionais (BRASIL, 2002):
▪ As escadas que, por sua localização, se destinem ao uso de pacientes, têm de ter largura
mínima de 1,50m e serem providas de corrimão com altura de 80 cm a 92 cm do piso, e
com finalização curva. Vide norma ABNT NBR 9050, item 6.6.1;
▪ Nas unidades de internação, a distância entre a escada e a porta do quarto (ou
enfermaria) mais distante não pode ultrapassar de 35,00m;
▪ Escadas destinadas ao uso exclusivo do pessoal têm de ter largura mínima de 1,20m;
▪ O piso de cada degrau tem de ser revestido de material antiderrapante e não ter espelho
vazado;
▪ Os degraus devem possuir altura e largura que satisfaçam, em conjunto, à relação 0,63
= 2H + L = 0,64m, sendo ‘H’ a altura (espelho) e ‘L’ largura (piso) do degrau. Além
disso, a altura máxima será de 0,185m (dezoito centímetros e meio) e a profundidade
mínima de 0,26m (vinte e seis centímetros);
▪ Nenhuma escada pode ter degraus dispostos em leque, nem possuir prolongamento do
▪ patamar além do espelho (bocel);
▪ Nenhum lance de escada pode vencer mais de 2,00m sem patamar intermediário;
▪ O vão de escada não pode ser utilizado para a instalação de elevadores ou monta-cargas;
▪ No pavimento em que se localize a saída do prédio tem de estar nitidamente assinalado
"SAÍDA".

3.4.3 Rampas
Sobre o projeto de rampas, a RDC 50 (BRASIL, 2002) estabelece:
▪ Rampas só podem ser utilizadas como único meio de circulação vertical quando
vencerem no máximo dois pavimentos independentemente do andar onde se localiza.
▪ Admite-se o vencimento de mais um pavimento além dos dois previstos, quando esse
for destinado exclusivamente a serviços, no caso dos EAS que não possuam elevador;
33

▪ A largura mínima será de 1,50m, declividade conforme tabela a seguir e patamares


nivelados no início e no topo. Rampa só para funcionários e serviços pode ter 1,20 m
de largura;
▪ Quando as rampas mudarem de direção, deve haver patamares intermediários
destinados a descanso e segurança. Esses patamares devem possuir largura mínima de
1,20 cm;
▪ As rampas devem ter o piso não escorregadio, corrimão e guarda-corpo;
▪ Não é permitida a abertura de portas sobre a rampa. Em caso de necessidade deve
existir vestíbulo com largura mínima de 1,50 m e comprimento de 1,20 m, mais a
largura da folha da porta;
▪ Em nenhum ponto da rampa o pé-direito poderá ser inferior a 2,00m;
▪ Para rampas curvas, admite-se inclinação máxima de 8,33% e raio mínimo de 3,0 m
medidos no perímetro interno à curva.
34

4 ESTUDOS DE CASO
Os estudos de caso apresentados a seguir têm como objetivo auxiliar na concepção de
um Centro Médico na cidade de Teresina, no Piauí. Foram estudados (incluídos) três tipos de
estudos: um internacional, um nacional e um municipal.
Para critérios de escolha dos estudos de caso apresentados, foram avaliadas, dentre
outros pontos, o programa de necessidades de cada empreendimento de acordo com seu nível
de complexidade e diversificação de serviços; a forma como o EAS em questão se relaciona
com seu entorno; zoneamento e setorização das plantas baixas; e semelhanças sociais entre o
público-alvo.
4.1 Centro de Saúde em Valenzá
O Centro de Saúde em questão, projetado pelo escritório IDOM, localiza-se na região
de Velenzá, em Orense, na Espanha (Figura 19). Foi desenvolvido para o grupo de serviços de
saúde espanhol Galician Healthcare Services e inaugurado no ano de 2017, tem o terreno com
área de 3.666 m² e área construída de 1.952 m², com a proposta de oferecer serviços de saúde
para a comunidade local (IDOM, 2017).
O Centro de Saúde se localiza em uma região de significativo adensamento urbano
(Figura 20), porém com áreas verdes preservadas e topografia acidentada. Em seus arredores é
marcante a presença de edifícios de até quatro pavimentos com térreo destinado a comércios e
centros institucionais, e os demais pavimentos voltados para residências de apartamentos,
juntamente com áreas verdes e praças de convívio (Archdaily, 2017).
O empreendimento dispõe somente de uma via de acesso, a Rua das Burgas (Figura 21),
uma das principais vias da região. O terreno da edificação, entretanto, contém algumas
peculiaridades, como sua dimensão longitudinal e está limitado na parte frontal. Ao Leste, está
limitado por uma via de acesso e um bloco longitudinal de moradias de quatro pavimentos, e
na parte Oeste por um talude de grande dimensão com um desnível superior aos 16-18 metros.
(Archdaily, 2017).
35

Figura 19: Vista Satélite do Centro de Saúde em Valenzá

Fonte: Google Earth (2021).

Figura 20: Vista panorâmica do Centro de Saúde

Fonte: Google Earth (2021).


36

Figura 21: Implantação e delimitação da via de acesso ao lote

Rua das Burgas


Fonte: Google Earth com alterações da autora (2021)
Em relação à implantação do empreendimento, parte da concepção do Centro de Saúde
foi a elaboração espaços públicos em harmonia com as necessidades específicas do
estabelecimento. Dessa maneira, foi projetada uma praça pública vinculada ao acesso principal
e de ambulâncias, e outra praça posterior vinculada às salas de jogos e espera da pediatria e
salas de reuniões (Figura 22). “As praças se qualificam com a presença das árvores, bancos ou
escadas e suaves rampas ou arquibancadas na fachada norte do terreno, minimizando o impacto
do talude nesta área e integrando-o em uma proposta urbana unitária.” (IDOM, 2017). Os
principais acessos ao local também foram localizados nas praças, para promover o contato dos
pacientes com a natureza (IDOM, 2017).
37

Figura 22: Praças Públicas e Acessos Principais

Fonte: Google Earth, adaptação pela autora (2021)

A planta baixa (Figuras 23 e 24) conta com cinco consultórios de medicina geral, cinco
consultórios de enfermaria, sendo um destinado à obstetrícia, uma sala de educação para saúde,
um consultório odontológico, uma sala de exames, uma sala técnica, uma sala polivalente, uma
sala para mulheres, um consultório de urgências, dois consultórios de pediatria, dois
consultórios de enfermaria pediátrica, sala de estar dos funcionários, sala de reuniões e
biblioteca (IDOM, 2017).

Figura 23: Zoneamento Planta Baixa Pavimento 1

Fonte: Ortiz (2017)


38

Figura 24: Zoneamento Planta Baixa Pavimento 2

Fonte: Ortiz (2017)

O projeto procura, em sua forma, proteção contra o calor excessivo da região, além de
explorar o potencial de iluminação e ventilação naturais do ambiente (Figura 25). Com isso,
foram planejadas coberturas em balanço com grandes beirais (Figura 26), e esquadrias com
aberturas para iluminação e ventilação (IDOM, 2017).

Figura 25: Entrada principal

Fonte: Archdaily (2017)

Figura 26: Sala de espera

Fonte: Archdaily (2017)


39

Em relação à topografia e sua conexão com o projeto, o edifício eleva-se levemente em


relação a cota do terreno (Figura 27), se resolvendo como um corpo encaixado em um talude
em seu nível térreo e com um pátio interno em seu nível superior (Archdaily, 2017).

Figura 27: Corte do projeto

Fonte: Archdaily (2017)


A maneira como o estudo influenciou o projeto do Centro Médico Jaqueline Góes de
Jesus foi pela maneira como os ambientes internos se conectam em um pátio central, o que
permite um centro de saúde com bastante iluminação e ventilação naturais, além de contribuir
para um espaço (mais) humanizado.

4.2 Edifício Projeto Viver


O edifício Projeto Viver, construído no ano de 2005 pelo escritório FGMF, para a
instituição Projeto Viver, quem tem o objetivo de promover o acesso à cultura, lazer, saúde e
educação para a população vulnerável da favela Jardim Colombo, na cidade de São Paulo – SP.
A função do edifício, além de apoio médico e psicológico à população local, é também
promover espaços coletivos de qualidade. A área do terreno é de 1500m², utilizada como acesso
à comunidade e como área de convívio, e 400m² de área construída (FGMF, 2005).
O empreendimento se localiza em uma comunidade do bairro do Morumbi, de malha
urbana significativamente adensada, com predominância de habitações residenciais de pouca
infraestrutura e vias de acesso estreitas (Figura 28). Também é perceptível a falta de
equipamentos urbanos públicos, como praças e quadras esportivas, calçadas seguras,
esgotamento sanitário de qualidade, etc (Archdaily, 2014).
40

Figura 28: Vista satélite do Edifício Projeto Viver

Fonte: Google Earth (2021)

Os acessos do empreendimento são a Rua Clemente Brenne e uma estreita rua de


surgimento espontâneo, em que pedestres e veículos dividem o mesmo espaço (Figura 29). O
terreno também era utilizado como principal ponto de acesso à comunidade, o que tornava o
ambiente foco de um grande fluxo de pessoas. O conceito do projeto veio, portanto, da
necessidade da população local de ter espaços públicos de convivência que pudessem oferecer
serviços de qualidade. Desse modo, o partido do projeto foi a criação de diversas praças,
aproveitando a topografia do terreno e os espaços vazios proporcionados pela elevação das salas
de aula (Figura 30) (Archdaily, 2014).

Figura 29: Acessos ao Edifício Projeto Viver

Fonte: Google Earth com alterações da autora (2021)


41

Figura 30: Planta das praças do Edifício

Fonte: FGMT, com alterações da autora (2021)

O programa de necessidades (Figura 31) foi dividido em três pavimentos: o primeiro


pavimento é destinado a implantação das principais praças de convívio, um hall com secretaria,
uma oficina disciplinar, uma sala de reciclagem, a casa do caseiro e um vestiário para material
esportivo. No segundo pavimento estão localizados os consultórios de atendimento clínico e
salas de espera, sala da cooperativa, salas de treinamento e informática, banheiros e
almoxarifado. E no terceiro pavimento estão localizadas a brinquedoteca e o terraço-jardim. As
circulações verticais entre esses pavimentos são feitas através de passarelas e rampas (Figura
32) (FGMF, 2005).
Figura 31: Visão isométrica das plantas baixas
42

Fonte: FGMT (2005)

Figura 32: Cortes 1 e 2 da planta baixa

Fonte: FGMF (2005)

O projeto citado influenciou o Centro Médico por conta do estudo de fluxo bem
planejado realizado ao longo da concepção da planta baixa, que estabelece áreas especificas
para cada atividade desenvolvida (educacional, esporte, atendimento, etc).

4.3 UDI Leste


A policlínica UDI – Leste, localizada em Teresina, no Piauí, foi projetada por Antônio
de Pádua e inaugurada no ano de 2016, na Rua Senador Cândido Ferraz. Foi construída com a
função de servir como sede da empresa de serviços de saúde UDI na zona leste da cidade, em
um terreno de 1597,50m² e de área construída de 919,75m². A policlínica oferece serviços de
diferentes especialidades, como consultórios, exames de imagem e coleta de sangue.
O empreendimento se dispõe no bairro Jóquei, que possui o maior IDH do Piauí
(SEMPLAN, 2020). É uma significativamente adensada (Figura 33), com algumas áreas verdes
disponíveis, e presença de escolas, prédios e condomínios residenciais, restaurantes e bares. O
clima local é marcado por períodos quentes e úmidos no começo do ano, que provocam
enchentes frequentes no local, e quentes e secos no resto do ano.
43

As vias de acesso à policlínica são a Rua Cândido Ferraz e Rua Vereador Luís
Vasconcelos, próximo à Avenida Jóquei Clube (Figura 34). Apesar de serem vias com bastantes
serviços que potencialmente geram impactos no trânsito local, o estacionamento do
estabelecimento serve bem aos clientes, fazendo com que poucos carros tenham que estacionar
longe do espaço. Isso diminui os impactos negativos possivelmente causados na vizinhança.

Figura 33: Vista aérea da situação UDI - Leste

Fonte: Google Earth

Figura 34: Mapa com demarcação dos acessos

Rua Senador Cândido Ferraz

Rua Vereador Luiz Vasconcelos

Fonte: Google Earth

O centro possui 3 acessos (Figura 35): o acesso principal (Figura 36), destinado aos
pacientes em geral, voltado para a Rua Senador Cândido Ferraz; o acesso para recebimento de
exames de imagem (Figura 37), voltado para a Rua Vereador Luís Vasconcelos; e o acesso de
funcionários, também voltado para a Rua Vereador Luís Vasconcelos.
44

Figura 35: Acessos ao lote

Acesso Recebimento de exames

Acesso Principal Acesso de funcionários

Fonte: Google Earth


Figura 36: Acesso Principal

Fonte: Acervo Pessoal

Figura 37: Acesso para entrega de exame e entrada de funcionários

Fonte: Acervo Pessoal


45

Em relação ao programa de necessidades, o centro se divide em diversas áreas (Figura


38), entre elas a área de exame de imagens, contendo seis salas de ultrassonografia, duas salas
de raio-x, uma sala de endoscopia, uma sala de colonoscopia, uma sala de densitometria óssea,
uma sala de tomografia, uma sala de mamografia, uma sala de ECG, e uma sala de ressonância.
Todas as salas de ultrassonografia e mamografia apresentam área de trocadores, e as demais
salas de exames de imagem apresentam banheiros coletivos próximos. Também é oferecido o
serviço de coleta de sangue para análise terceirizado, com recepção (recepção da espera 2), área
de espera, área de coleta e banheiros. Existem 3 salas de consultório médico, sendo uma delas
com paredes em divisórias para separar o ambiente. Para receber os pacientes que fazem esses
exames com conforto e segurança, é apresentado áreas de apoio ao cliente, com 5 recepções
(recepção geral (Figura 42), recepção espera 1, recepção espera 3, recepção espera 4 e recepção
recebimento de exames), café, brinquedoteca, esperas e descanso. A área administrativa e apoio
consiste na sala de administração geral, empacotamento e digitação, copa, sala de laudos e
banheiros. A área de maquinas do ambiente, que controla a geração de energia e funcionamento
dos grandes equipamentos, se divide em casa de força, chiller, gerador, tanque e sala de
maquinas de refrigeração. O fluxo de lixo é realizado nas áreas próximas ao recuo do
estabelecimento, em que se localizam o expurgo e os abrigos externos.

Figura 38: Setorização da Planta Baixa

Figura 35: Fachada voltada para a Rua Vereador Luís Vasconcelos

Fonte: Pádua, com alterações da autora (2021)


46

Os principais materiais construtivos utilizados na obra foram principalmente concreto


armado, com fechamentos em alvenaria, com exceção dos ambientes em que se trabalham
materiais radioativos, como tomografia, raio-x, mamografia, e algumas salas de ultrassom.
Nesses ambientes, as paredes são mais grossas, e revestidas com material isolante. As fachadas
são revestidas principalmente com vidros de reflexo azulado (Figura 39), em contraste com as
cores neuras dos revestimentos em porcelanato da fachada e do piso (Figura 41). A entrada
principal também conta com uma maquize azul em ACM (Figura 40).

Figura 39: Fachada voltada para a Rua Vereador Luís Vasconcelos

Fonte: Acervo Pessoal

Figura 40: Fachada voltada para a Rua Senador


Cândido Ferraz

Fonte: Acervo Pessoal


47

Figura 41: Recepção Geral

Fonte: Acervo Pessoal

Figura 42: Sala de Ressonância

Fonte: Acervo Pessoal

As salas de exame (Figura 42) e imagem contém, em sua quase totalidade, ou espaço
para mesa com computador para laudos e operação das máquinas, área para acompanhantes e
ponto hidrossanitário (Figura 44). Porém, em casos como a tomografia e ressonância (Figura
43), são designadas salas de comando para o desenvolvimento do exame.
48

Figura 43: Sala de comando da tomografia

Fonte: Acervo Pessoal

Figura 44: Sala de Raio-X

Fonte: Acervo Pessoal

A cobertura do Centro é composta por estruturas em tesoura e telhas metálicas, além da


utilização de platibandas para trazer a volumetria modernista ao ambiente. É também utilizada
uma cobertura de policarbonato na área da brinquedoteca (Figura 45 e 46).
49

Figura 45: Cortes AA´ e CC´

Fonte: Pádua (2016)

Figura 46: Corte BB´ e DD´

Fonte: Pádua (2016)

O empreendimento analisado influenciou o Centro Médico de várias maneiras,


principalmente em relação ao estudo de fluxo utilizado na concepção da planta baixa inicial, e
a setorização das atividades realizadas no espaço em: administrativo, área de exames, área de
consultas médicas, área dos funcionários, etc.
50

5 ESTUDO DE TERRENO
A escolha de terreno para a implantação de uma EAS é um dos pontos mais importantes
para a elaboração do projeto. Adiante são trazidos os fatores característicos do espaço que irão
definir a viabilidade e funcionalidade do projeto. Os norteadores da escolha do terreno do
presente estudo foram baseados, portanto, nesses fatores característicos definidos por Carvalho
(2014).
Um fator importante é legislação municipal de Teresina, pois o terreno em que será
realizada a implantação deve estar localizado em zonas de desenvolvimento que permitem
atividades de impacto local, definidas pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial de
Teresina – PDOT (TERESINA, 2019).
O entorno do terreno também deve ser levado em consideração, pois o empreendimento
necessita estar situado próximos de vias de fácil acesso à população em geral, ou seja,
preferencialmente próximo de vias primárias, com pontos de ônibus e ciclovias. Entretanto, a
locação do empreendimento não deve provocar impactos sonoros e de trânsito significativos na
vizinhança. A região a ser considerada requere a topografia relativamente planta, para evitar
problemas no dimensionamento e setorização do EAS, e prover de infraestrutura urbana que
atenda às necessidades do centro médico e seus usuários.
A zona selecionada para a elaboração do centro médico é a Zona Sudeste, por conta da
deficiência que a região apresenta em equipamentos de assistência à saúde. Segundo a
Prefeitura de Teresina (TERESINA, 2021), a região possui somente uma UPA que forneça
possibilidade de exames e consultas a partir de média complexidade para uma população na
zona de 134.119 habitantes em 2010 (IBGE, 2010). Entretanto, a portaria nº 10 de 3 de janeiro
de 2017 no Ministério da Saúde (BRASIL, 2017) determina que a abrangência de uma UPA é
limitada em 100.000 habitantes, o que faz com que os EAS da região se sobrecarreguem e a
população tenha que se deslocar para outras localidades com a função de procurar tratamento.
Este fato não só aumenta o custo do tratamento, mas também expõe pacientes debilitados a
aglomerações e diminui sua qualidade de vida.
51

5.1 Aspectos Gerais do Terreno


O terreno escolhido para a implantação do projeto arquitetônico localiza-se no bairro
Parque Ideal (Figura 47), na zona sudeste de Teresina, no Piauí. Ocupa a metade de uma quadra
(Figura 48), e apresenta 3.849,40 m². Sua fachada norte está voltada para a Rua Dona Amélia
Rubim e mede 65,49 m, sua fachada sul está voltada para a Av. José Francisco de Almeida Neto
e mede 65,03 m, sua fachada leste está voltada para a Rua Pedro Guimarães Mariz e mede 68,33
m, e sua fachada oeste está voltada para a Av. Joaquim Nelson e mede 67,07 m.

Figura 47: Mapa da cidade de Teresina

Fonte: Arquivo DWG com alterações da autora (2021)


52

Figura 48: Mapa do bairro Parque Ideal

Fonte: Google Maps com alterações da autora (2021)

A relação do terreno proposto com seu entorno se destaca pela proximidade com a
Avenida Joaquim Nelson, a mais importante do bairro, por conter os principais
estabelecimentos comerciais e de serviços da região e por ser uma das principais vias de fluxo
de veículos da região sudeste. Desta maneira, pode-se interpretar que o terreno está localizado
em uma região com significativos polos de atração, o que é importante para garantir o fluxo de
pessoas; e também está localizado em uma via de fácil acesso, por conta da Avenida e dos
vários pontos de ônibus locados ao longo de seu percurso. Ademais, é importante ressaltar que
o entorno também possui cobertura das necessidades urbanas básicas, como fornecimento de
energia, água e redes telefónicas e de internet.

5.2 Acessos
As principais vias a serem percorridas para acesso ao terreno seriam a Avenida João
XXIII, Avenida Deputado Paulo Ferraz, e posteriormente a Avenida Joaquim Nelson. Pode-se
também utilizar a Avenida Deputado Paulo Ferraz, a Avenida José Francisco de Almeida Neto,
e em seguida a Avenida Joaquim Nelson (Figura 49).
Quanto aos fluxos de entrada para o centro, o acesso principal de veículos será voltado
para a Rua Dona Amélia Rubim, por ser uma via com o fluxo de carros menos intenso, e a
entrada para pedestres será voltada para a Avenida Joaquim Nelson, para que os clientes que
53

desembarcam pelo ponto de ônibus possam adentrar ao lote sem percorrer grandes distâncias.
Já a entrada de serviço será localizada na Rua Pedro Guimarães Matriz.
Figura 49: Mapa de Acessos

Fonte: Google Earth, com alterações da autora (2021)

5.3 Análise do entorno


Foi realizado um estudo de usos das construções do entorno do terreno, por meio de um
raio de análise 300m a partir do centro do mesmo (Figura 50). Desta maneira, a área de estudo
considerada são os bairros Parque Ideal e Itararé.
A partir da análise desse mapa, pode-se perceber que as construções localizadas
próximas as principais avenidas, como a Avenida Joaquim Nelson e a Avenida José Francisco
de Almeida Neto, são edifícios comerciais de um ou dois pavimentos, devido ao grande fluxo
de pessoas e veículos nessas vias. Já nas vias secundárias e terciárias do bairro, é marcante a
tipologia residencial, o que promove ruas com menos fluxos e mais silenciosas.
54

Figura 50: Mapa de Usos

Fonte: Arquivo DWG com alterações da autora

5.4 Legislação
De acordo com a Lei Complementar Nº 5.481 de dezembro de 2019, denominado “Plano
Diretor De Ordenamento Territorial - PDOT” (TERESINA, 2019), o terreno localiza-se na
Zona de Desenvolvimento de Corredor Sudeste (ZDCSE), de Padrão de Miscigenação 3, dentro
de uma Macrozona de Desenvolvimento. Esta Macrozona da cidade é marcada pela
significativa densidade urbana, grande disponibilidade de infraestrutura e serviços urbanos, e
concentração de serviços públicos e comércio.
Segundo o anexo 9.3 da mesma Lei Complementar (TERESINA, 2019), o centro
médico ocupa a classe de ocupação de comércio e serviço de potencial incômodo local. Ainda
de acordo com a mesma Lei, o anexo 9.4 define como permitida esse tipo de empreendimento
no Padrão De Miscigenação 3, mediante Estudo de Impacto de Vizinhança. O Quadro 1
estabelece os indicadores de ocupação do solo exigidos para a região.
55

Quadro 1: Indicadores de ocupação do solo referente ao terreno proposto

Fonte: Lei Complementar Nº 5.481, de 20 de dezembro de 2019

5.5 Levantamentos físicos do terreno


O terreno em questão é constituído de um pouco mais da metade de uma quadra (Figura
51), que é dividida com uma farmácia, voltada para a Avenida Joaquim Nelson, e algumas casas
residenciais, voltadas para a Rua Pedro Guimarães, formando um retângulo de ângulos quase
retos.
Figura 51: Dimensões físicas do terreno

Fonte: Arquivo DWC com alterações da autora (2021)

O terreno está localizado em uma curva topográfica, dispensando a necessidade de corte


e aterros. As testadas maiores possuem 68,33 e 67,07 metros, e as testadas menores medem
65,49 e 65,03 metros, possuindo o espaço da calçada.
56

5.6 Vegetação
O terreno não possui grandes quantidades de espécies arbóreas, porém é importante
ressaltar a existência de algumas árvores de tamanhos significativos ao centro do espaço (Figura
52). Encontra-se ainda vegetação gramínea ao longo da extensão do terreno.

Figura 52: Mapa de vegetação

Fonte: Arquivo DWC com alterações da autora (2021)

5.7 Insolação e Ventilação


A cidade de Teresina possui a ventilação predominante nos sentidos sudeste e nordeste.
Dessa maneira, por conta do adensamento considerável de construções nos arredores do terreno,
é possível que a ventilação seja prejudicada, por conta das barreias formadas.
Quanto à insolação, as fachadas mais quentes são as voltadas para a Avenida Joaquim
Nelson e para a Rua Pedro Guimarães Mariz. Já as fachadas com menor insolação solar são as
voltadas para a Rua Dona Amélia Rubim e para a Avenida José Francisco de Alencar (Figura
53).
57

Figura 53: Mapa de Insolação e Ventilação

Fonte: Arquivo DWC com alterações da autora (2021)


58

6 MEMORIAL JUSTIFICATIVO
6.1 Conceito
O Centro Médico Jaqueline Góes de Jesus tem como conceito o uso do patrimônio
arquitetônico piauiense residencial como elemento de conexão entre as pessoas que utilizarão
o espaço e o Centro Médico em si. Essa conexão baseia-se na identidade cultural que cada
indivíduo carrega acerca de seu contexto social.
De acordo com Brandão (2015), “identidade se relaciona com a concepção que o
indivíduo tem de si mesmo e do seu pertencimento e sua afiliação a grupos.” Pode-se entender
que elementos culturais característicos de um contexto social faz com que seus indivíduos criem
laços emocionais e tenham a sensação de pertencimento com os mesmos.
Na esfera deste trabalho, é possível afirmar, portanto, que características arquitetônicas
históricas conseguem criar o sentimento de identidade na sua população, e promovem um
ambiente de pertencimento e acolhedor para seus usuários.

6.2 Partido
A partir da análise da relação entre a identidade cultural que os indivíduos têm com o
patrimônio cultural e o sentimento de pertencimento, foi escolhido como partido do projeto a
utilização de características arquitetônicas residenciais históricas de Teresina ao longo da
concepção do projeto, consideradas patrimônio histórico piauiense, para que os pacientes
reconheçam o espaço como um ambiente familiar e possam se sentir acolhidos e pertencidos.
Uma dessas características foi a locação de um pátio aberto, com diversas espécies de
vegetação e bastante iluminação natural, ligado com as áreas de espera dos pacientes. Este pátio
foi projetado com a função de se assemelhar a um quintal de uma casa, que tradicionalmente,
nas casas teresinenses, tem conexão com uma área de convívio, como uma varanda ou uma sala
de estar. Dessa maneira, o pátio promove bastante iluminação e ventilação natural para as áreas
de espera, além de possibilitar novos estímulos aos usuários e quebrar a monotonia que espaços
de espera podem proporcionar.
Outra característica foi a utilização da cobertura de telhado aparente para representar
telhas cerâmicas, muito utilizadas nas residências piauienses ao longo do Sec. XX. Apesar de
ter-se utilizado no projeto telhas termoacústicas tipo sanduíche, o modelo implantado possui a
cor e textura similar à telha cerâmica, o que reforça o conceito do ambiente de resgatar
referências residenciais.
59

A escolha dos revestimentos também foi idealizada para fazer alusões a casas antigas,
como o uso do piso e montantes de janela amadeirados e a utilização de brises amadeirados no
pátio como uma referência as aberturas venezianas antigas.

6.3 Aspectos Gerais do Projeto


O Centro Médico Jaqueline Góes de Jesus constitui-se de um centro de exames e
consultas médicas com o foco na reabilitação de pacientes com sequelas da Covid-19. Trata-se
de uma construção térrea, com 1623,59m², tento como principal diferencial áreas de espera
voltadas para um pátio aberto, que pode ser acessado e vivenciado pelo período que os pacientes
tiverem que passar no espaço.
O ponto de partida do projeto foi a humanização dos espaços de saúde a partir de
elementos de similaridade com o contexto arquitetônico histórico da cidade de Teresina, para
que dessa maneira o usuário tenha a sensação de bem-estar enquanto utilizar o ambiente.
O Centro possuí 5 salas de consultas médicas, sendo elas salas de psicologia, psiquiatria,
pneumologia, cardiologia e otorrinolaringologia; e salas de exames como tomografia,
ressonância, Raio-X, coleta de sangue, sala de exame cardiológico e sala de pilates.

6.4 Programa de Necessidades e Dimensionamento

ÁREA RECEPÇÃO GERAL


ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
Recepção Geral 1 1,2 m² por pessoa 203,62 203,62
BWC Público Femnino 3 3 3,69 11,07
BWC Público Masculino 3 3 3,69 11,07
Lanchonete 1 - 9,1 9,1
Área de espera 1 1,2 m² por pessoa 305,48 305,48
DML 1 - 2,81 2,81

ÁREA ADMINISTRAÇÃO
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
Sala de Reunião 1 2,0 m² por pessoa 17,82 17,82
BWC Adm. Femnino 1 3 3,69 3,69
BWC Adm. Masculino 1 3 3,69 3,69
Sala Administração Geral 1 5,5m² por pessoa 22,18 22,18
60

Sala Teleatendimento 1 - 13,31 13,31


Depósito 1 - 11,34 11,34
Almoxerifado 1 - 7,25 7,25
Arquivo 1 - 15,49 15,49

T.I. 1 - 7,76 m² 7,76 m²


ÁREA CONSULTÓRIOS MÉDICOS
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
Consultório 4 9 13,05 52,2
Área de exame 4 9 13,05 52,2
Sala Psicólogo 1 7,5 26,46 26,46

ÁREA EXAMES
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
BWC Feminino 1 3 4,82 4,82
BWC Masculino 1 3 4,82 4,82
Sala de aplicação de
1 - 80,74 80,74
medicamento e descanso
Sala de Controle 2 6 7,94 15,88
Sala de manipulação de
1 6 12,18 12,18
medicamento
Sala de Computadores 1 - 11,53 11,53
Sala de Ressonância 1 - 31,14 31,14
Sala de Tomografia 1 - 30,92 30,92
Trocador Raio-X 1 - 4,65 4,65
Raio-X 1 - 22,85 22,85
Sala de Laudo 1 6 21,32 21,32
Sala coleta de sangue 1 3,5 25,83 25,83
Sala de exame cardiológico 1 26,46 26,46
8
Sala Pilates 1 - 54,02 54,02

ÁREA FUNCIONÁRIOS
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
BWC Feminino 2 3 3,72 15,06
BWC Masculino 2 3 3,72 15,06
DML 2 - 7,02 15,25
Vestiário Feminino 1 - 11,4 11,4
Vestiário Masculino 1 - 11,4 11,4
61

Depósito 1 - 8,23 8,23


Copa e área de descanso 1 - 23,52 23,52

ÁREA DE MAQUINAS
ÁREA ÁREA
DIMENSÃO
AMBIENTE QUANT. PARCIAL TOTAL
MIN. (m²)
(m²) (m²)
Sala de Maquinas e
1 - 12,81 12,81
Refrigeração
Chiller 1 - 11,7 11,7
Casa de Força 1 - 6 6
Gerador 1 - - -

6.5 Implantação
O principal fator que orientou a implantação do projeto no terreno foi a orientação solar
do local. Logo, com o objetivo de diminuir a incidência solar no empreendimento e, desta
maneira, diminuir a temperatura interna e a necessidade de climatização artificial, as fachadas
principais e de maior concentração de pessoas foram locadas ao Norte e Sul. A fachada Leste,
na qual incide o sol da manhã, é majoritariamente voltada para a área de funcionários e área de
máquinas, e a fachada Oeste foi devidamente protegida contra os raios solares intensos por meio
de brises, cobogós e elementos arbóreos (Figura 54).
62

Figura 54: Implantação do Centro Médico

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021)

Fora a orientação solar, o contato dos usuários do espaço com a natureza foi uma das
principais preocupações na implantação do projeto. Assim sendo, a locação de um pátio com
contato com as áreas de permanência tem como objetivo retomar ao conceito projetual inicial
e remeter à um jardim residencial, para permitir novos estímulos aos pacientes e evitar a
monotonia características de espaços de saúde. Ademais, o paisagismo foi planejado para
favorecer a diminuição da incidência solar no ambiente interno do Centro Médico. Desta
maneira, vegetação de médio e pequeno porte foram locadas ao longo do mural de cobogós na
fachada Oeste, além de árvores de grande porte se locarem ao centro do pátio e ao longo dos
recuos.
O Centro Médico conta com 14 vagas para veículos de acesso ao público, sendo 3 delas
destinadas a grávidas, idosos e PCD. As vagas destinadas a públicos específicos estão locadas
próximas a entrada principal, para que não seja necessário percorrer grandes distâncias até a
entrada do Centro.
63

Os acessos ao estabelecimento foram projetados levando em consideração o fluxo de


veículos nas vias circundantes ao terreno. Logo, as entradas para pacientes e funcionários são
voltadas para as ruas Dona Amélia Rubim e Pedro Guimarães Mariz, por serem vias secundárias
e terciárias, respectivamente, e possuem menor fluxo de veículos e de pessoas, principalmente
fora dos horários de pico de trânsito (8h às 12h e 13h às 18h) (Figura 55).

Figura 55: Implantação e Acessos ao Centro Médico

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021)

6.6 Soluções espaço-funcionais


Para a concepção da planta baixa do Projeto, foi inicialmente elaborado um estudo de
fluxos, no qual os ambientes foram categorizados em setores e divididos a partir de grau de
proximidade, estabelecendo-se conexões entre eles.
64

A função desse estudo foi estabelecer quais acessos seriam abertos ou restritos ao
público em geral, além de diminuir o risco de infecções por agentes externos em ambientes
possivelmente utilizados por pacientes imunossuprimidos e diminuir as distâncias percorridas,
como mostra a figura 56.

Figura 56: Fluxograma da planta baixa

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).


65

Em seguida, foi desenvolvida a setorização da planta baixa, divididos em seis blocos:


Recepção geral, administração, área de funcionários, área de máquinas, área de consultas
médicas e área de exames. Nessa setorização, foram levados em consideração as ruas de acesso
ao Centro Médico, a conexão entre os blocos a partir de seu grau de intimidade (Figura 57).

Figura 57: Setorização da Planta Baixa

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

6.6.1 Área de Recepção Geral


O setor destinado à recepção geral dos pacientes foi locado próximo à Rua Dona Amélia
Rubim, por conta do menor fluxo de veículos da via ao longo do dia, o que permite o embarque
e desembarque seguro de pacientes no estabelecimento e diminuí a probabilidade de
engarrafamentos nas vias circundantes. Além do mais, a locação do setor nesse ponto minimiza
a irradiação solar nas suas áreas de permanência, por conta de sua fachada maior estar locada
para o Norte, o que reduz a necessidade de climatização artificial.
Nesse setor (Figura 58), são locadas a área de espera geral dos pacientes, em que não se
utilizaram longarinas, mas sim sofás e poltronas, para retomar ao conceito inicial do ambiente
remeter à uma casa. Ainda se localizam no espaço uma lanchonete com mesas, banheiros
acessíveis, mesas de atendimento e recebimento de exames.
A área de recepção geral tem conexão com o pátio central do projeto, por meio de
aberturas pivotantes amadeiradas em brises, chamadas no projeto de portas-brise. Essas
66

aberturas têm como função permitir a entrada de iluminação e ventilação natural e o contato
dos usuários do espaço com a natureza ao redor do terreno.
Já o pátio em si constitui-se de uma área aberta que se conecta com as áreas de espera
de pacientes e também com a cidade, por meio de cobogós e elementos arbóreos. No pátio, os
pacientes podem vivenciar o espaço por meio de diferentes estímulos, por conter bancos, sofás,
mesas, etc.
Figura 58: Setorização da Recepção Geral

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

6.6.2 Área Administração


O setor da administração do Centro Médico tem seu acesso voltado para a Rua Pedro
Guimarães Mariz, pois levou-se em consideração o baixo fluxo de veículos da via e a facilidade
de estacionamento na rua para os administradores.
A locação do setor foi projetada para possuir conexão com a área de recepção geral,
para eventuais reuniões, e com a área de funcionários, por conta a localização da sala de
Recursos Humanos.
São encontradas na área ao longo de um corredor de acesso uma sala de reuniões, sala
de administração geral, sala de teleatendimento, depósito, banheiros feminino e masculino,
DML e sala de arquivo (Figura 59).
67

Figura 59: Setorização da Administração

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

6.6.3 Área Consultórios Médicos


Locada logo após a área de recepção geral, de onde o paciente é devidamente
encaminhado para seu atendimento, a área de consultórios médicos possui ligações com pátio
por meio de aberturas em brise e com a área de funcionários por meio de um corredor de serviço
de acesso restrito.
Por possuir sua fachada maior voltada para o Oeste, foram utilizadas diversas soluções
arquitetônicas e paisagísticas para diminuir a irradiação solar para o ambiente, como a limitação
das aberturas dos brises, uso de grandes elementos arbóreos para sombreamento da fachada e
coberturas com extensos beirais.
No setor localizam-se 5 salas de consultórios médicos, sendo uma para atendimento
psicológico, banheiros feminino e masculino, e área de espera de pacientes com mesa de apoio
para funcionários (Figura 60).
68

Figura 60: Setorização da Área de Consultórios Médicos

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

6.6.4 Área Exames


Após a área de consultas médicas, a área de exames localiza-se na parte Sul do projeto,
e possui conexões com o pátio por meio das aberturas em brise amadeiradas. Possui sua fachada
maior voltada para o sul, e a fachada voltada para o Oeste é devidamente protegida com uma
parede verde.
No setor localizam-se a área de ressonância e tomografia, na qual são locadas: área de
aplicação de medicamento e descanso, banheiros feminino e masculino, salas de controle, salas
69

de exame de ressonância e tomografia, sala de computadores e sala de manipulação de


medicamento.
Outras áreas de exame são: raio-X, sala de laudos médicos, sala de coleta de sangue,
sala de exames cardiológicos e sala de pilates. Também estão localizadas no ambiente a área de
espera dos pacientes, banheiros femininos e masculinos e DML (Figura 61).

Figura 61: Setorização da Área de Exames

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

6.6.5 Área de funcionários


A área de funcionários do Centro Médico possui dos acessos principais voltados para a
Rua Pedro Guimarães Mariz, logo após a entrada administrativa. Esta área possui ligação com
o projeto por meio de um hall de serviço junto à área de consultas médicas. Sua fachada maior
está voltada para o Leste, e está devidamente protegido de irradiações solares por conta dos
beirais de sua cobertura.
Na área se localizam os banheiros, os vestiários feminino e masculino, uma copa com
sala de descanso, depósito e DML. Ao longo do corredor de serviço, existem também mais dois
banheiros para funcionários e um DML (Figura 62).
70

Figura 62: Setorização da Área de Funcionários

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

6.6.6 Área de Máquinas


Para o funcionamento ideal do Centro Médico, é necessário a delimitação de áreas
especificas para a locação das máquinas para o funcionamento dos equipamentos médicos.
Essas máquinas devem estar em ambientes de uso restrito, porém com fácil acesso para que os
devidos profissionais possam fazer a manutenção e reparos dos aparelhos.
Portanto, a área de máquinas foi locada logo após a área de funcionários, voltada para a
Rua Pedro Guimarães Mariz, e constitui-se de uma casa de força, chiller, gerador de energia, e
uma sala de refrigeração de uso exclusivo para a tomografia e ressonância (Figura 63). Também
foram locadas casas de lixo, casas de força, central de gás e castelo d'água.
71

Figura 63: Setorização da Área de Máquinas

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

6.7 Soluções Projetuais e Técnico- Estruturais


Durante a concepção do projeto, foi criada uma malha estrutural para guiar a locação de
pilares e vigas no ambiente. Essa malha foi desenvolvida com a função de facilitar eventuais
reformas e ampliações que o Centro possa necessitar no futuro, além de organizar a disposição
e dimensionamento dos espaços e corredores.
A malha estrutural em questão foi dimensionada em vãos de 7,5m, tanto no eixo X
quando no eixo Y, como pode ser observado na figura 64, com exceção da área de funcionários.
O valor do vão foi adotado por conta da flexibilidade que o módulo proporciona em permitir
tanto salas maiores quanto salas menores.
Como sistema construtivo, o projeto foi pensado para que seja concebido por meio da
utilização de um sistema misto, com pilares de concreto armado e vigas em perfis em aço, por
conta dos grandes vãos adotados na malha estrutural, a vedação em alvenaria, e o forro em
drywall.
O pé-direito das áreas maiores e de permanência seriam de 3,30m, para dar a sensação
de amplitude aos usuários. Nas salas de exames, consultas e administrativas esse valor seria de
3,0m, e nos espaços de curta permanência, como banheiros e depósitos, o pé-direito ficaria em
2,50m. Em todos os casos, o espaço entre o forro e a cobertura é suficiente para a passagem de
tubulações e equipamentos climatizadores.
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Figura 64: Planta da Malha Estrutural

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

Já na área dos funcionários, como forma de diminuir os custos com perfis metálicos, foi
adotado o uso de pilares e vigas em concreto armado, o que pede por uma malha estrutural com
módulos menores. Desta maneira, foram utilizados módulos de 5,0m por 5,0m (figura 65).

Figura 65: Planta da Malha Estrutural na área dos funcionários

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).


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7 VOLUMETRIA
Durante do desenvolvimento do projeto arquitetônico do Centro Médico, foi
estabelecido que a forma do espaço não aparentasse a forma tradicional de um EAS, pois os
pacientes poderiam associar estes ambientes a situações dolorosas e desconfortáveis. Por essa
razão, foram escolhidos elementos arquitetônicos que lembram residências como o telhado
aparente (figuras 65), revestimentos amadeirados no piso e nas janelas (figura 67), e cobogós
nas fachadas (figura 66).

Figura 66: Vistas das fachadas Norte e Oeste

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).


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Figura 67: Vistas das fachadas Norte e Leste

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

Figura 68: Vista Recepção Geral

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).


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O pátio interno do Centro Médico (figura 69) foi projetado para remeter a um jardim
residencial, onde pacientes podem esperar seu atendimento ou consulta em um espaço diferente
da área de espera. No pátio foram locados elementos arbóreos médios de grandes, para fornecer
sombreamento e diminuir a irradiação solar.

Figura 69: Vista do Pátio interno

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).

O pátio interno faz conexão com as áreas de espera do projeto por meio de fechamentos
de ripas amadeiradas com aberturas de portas pivotantes (figura 70). Esses fechamentos
possuem uma lâmina de vidro, que garante isolamento térmico das áreas internas, porém
permite a entrada de iluminação natural e o contato dos pacientes com a natureza.
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Figura 70: Vista interna da área de espera

Fonte: Imagem produzida pela autora (2021).


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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto do Centro Médico Jaqueline Góes de Jesus foi desenvolvido a partir de
pesquisas científicas na área da arquitetura e da saúde, em especial em relação ao cenário pós-
covid-19 e sua relação com o espaço, além da revisão de legislações que atuam sob EAS.
Após o levantamento teórico, foram realizadas investigações em campo de estudos de
caso em que foram analisados a rotina, os fluxos, os pontos positivos e as carências de diversos
EAS em nível internacional, nacional e regional, como proposto durante as fases da disciplina
do Trabalho Final de Graduação I e II.
Em seguida à análise de todos os estudos citados, foi possível elencar quais os pontos
principais listados como essenciais para o desenvolvimento do projeto. Logo, o Centro Médico
deve fornecer um ambiente humanizado tanto para os pacientes, quanto para os acompanhantes
e colaboradores.
Para atingir esse objetivo, foram resgatadas diversas características da arquitetura
residencial histórica do Piauí, com a função de promover um espaço de pertencimento e
acolhimento aos seus clientes. Foram também utilizados recursos arquitetônicos para o
aproveitamento máximo da iluminação e ventilação natural, como brises, cobogós e aberturas,
juntamente com a presença do paisagismo e do layout diferenciado ao longo do projeto.
Com isso, é possível alcançar um local onde transmitam o bem-estar e a segurança para
indivíduos já vulneráveis tanto fisica quanto mentalmente, e proporcione resultados
significativos na ajuda do processo de cura e recuperação dos pacientes.
78

REFERÊNCIAS

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edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT 2015.

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estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) – Requisitos para projeto e execução das
instalações. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

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Rio de Janeiro: ABNT 2005

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Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília, 2004.

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de modelo assistencial e financiamento de UPA 24h de Pronto Atendimento como Componente
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