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São Luis
2011
0
São Luís
2011
0
Aprovada em ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. Esp. Gersino dos Santos Martins
(Orientador)
______________________________________________
Prof. Ms. José Marcelo do Espírito Santo
______________________________________________
Prof. Ms. Isabel Mota Costa
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AGRADECIMENTOS
(L. Evely)
4
RESUMO
Destaca-se nesse trabalho uma analise sobre a vida e obra do artista maranhense Floriano do
Amaral Teixeira, sua importante contribuição para a arte Nacional, e ainda um estudo sobre a
sua tela A Fundação da Cidade de São Luís, mais especificamente sobre a temática dessa
obra, que versa sobre a fundação francesa da cidade, fato esse, de grande importância para a
sociedade maranhense. Para elaboração desta pesquisa tornou-se de grande valor fazer uma
breve abordagem sobre fatores que de certa forma foram percorridos pelo artista como a
história da fundação da cidade que foi inspiração para a obra e ainda um pouco sobre o
contexto histórico cultural das artes plásticas no Maranhão. Este trabalho tem como objetivo
instigar discussões e aguçar o senso crítico, conhecendo vida e obra do artista Floriano
Teixeira.
Palavras-chave: Floriano Teixeira. Fundação de São Luís. Arte maranhense. São Luís.
5
RÉSUMÉ
Se détache en ce travail une analyse sur la vie et l’oeuvre d’un artiste maranhense Floriano do
Amaral Teixeira, sa plus important contribuition pour l’art nationale, et encore un étude sur
son tableau A Fundação da cidade de São Luis, plus clairement sur la thématique de cette
oeuvre, qui verse sur la fondation française de la ville, cette événement , de très grand
importance pour la société maranhense. Pour l’ élaboration de cette recherche a été de grand
valeur, faire une brève abordage sur l’événements que l’artiste a parcouru avec la histoire de
la fondation de la ville qui a été sa inspiration pour sa oeuvre et enconre un peu sur le contexte
historique et culturel de l’arts plástique au Maranhão. Ce travail a comme objecif de instiguer
des discussions et améliorer le sens critique, a connu la vie et le travail du artiste Floriano
Teixeira.
Mots-clef: Floriano Teixeira. Fondation de São Luis. Art Maranhense. São Luis.
6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
P.
Figura 1 Busto de Daniel de La Touche ............................................................... 14
Figura 2 Retrato de Luís XIII ............................................................................... 15
Figura 3 Palácio dos Leões ................................................................................... 16
Figura 4 Ilustração levantamento da cruz na colônia francesa.............................. 17
Figura 5 Diversidade Cultural Brasileira............................................................... 20
Figura 6 Bumba meu boi, xilogravura................................................................... 21
Figura 7 Capa do catálogo de Artes Plásticas da Semana de Arte Moderna ........ 24
Figura 8 Cacau, óleo sobre tela, Floriano Teixeira ............................................... 28
Figura 9 Floriano Teixeira .................................................................................... 30
Figura 10 Floriano Teixeira, em seu atelier no Rio Vermelho, Salvador – BA ..... 31
Figura 11 Floriano Teixeira e Jorge Amado ........................................................... 33
Figura 12 Ilustração do livro Dona Flor e Seus dois maridos, Floriano Teixeira 35
Figura 13 Ferramentas de Pescador, Floriano Teixeira .......................................... 36
Figura 14 Festa do Divino, Floriano Teixeira ........................................................ 37
Figura 15 Laranjas roubadas, Floriano Teixeira ..................................................... 38
Figura 16 Fundação da Cidade de São Luís (tríptico) ............................................ 39
Figura 17 Detalhe, Fundação da Cidade de São Luís ............................................. 40
Figura 18 A Morte de Marat, Jacques – Louis David ............................................. 42
Figura 19 Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís (tríptico1) ............. 44
Figura 20 Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís (Detalhe tríptico1) 45
Figura 21 Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís (Tríptico 2) ........... 46
Figura 22 Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís (Tríptico 3) ........... 47
9
SUMÁRIO
P.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 10
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 10
2 A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUÍS ...................................... 13
3 PANORAMA DAS ARTES PLÁSTICAS NO MARANHÃO: Breve
contexto histórico cultural ......................................................................... 20
4 FLORIANO TEIXEIRA: O percurso ..................................................... 29
4.1 CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO ............................................. 36
5 A TELA- FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUÍS: Aspectos
plásticos da composição ............................................................................ 39
5.1 A TEMÁTICA ......................................................................................... 40
6 CONCLUSÃO ......................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 52
APÊNDICES ............................................................................................. 54
ANEXOS ................................................................................................... 57
10
1 INTRODUÇÃO
O Maranhão possui uma vasta produção artística, da qual fazem parte artistas que
buscaram retratar em suas obras momentos importantes vividos pelo estado, principalmente a
cultura e ainda fatos históricos e sociais. Alguns desses artistas são pouco reconhecidos, pois
a preferência, na maioria dos trabalhos acadêmicos, são os artistas mais conhecidos dentro e
fora do país, que acabam sendo repetidamente trabalhados, e a população muitas vezes
desconhece seus artistas regionais. Para um melhor entendimento da produção pictórica do
nosso estado é preciso primeiramente entender a nossa formação cultural, social e também
política. Ao propormos um estudo sobre uma produção artística em especial, temos que
posicioná-la e compreendê-la a partir de sua perspectiva histórica, para assim obter uma
melhor compreensão de seu conteúdo, suas influências, tendências e a sua proposta.
Com o intuito de colaborar com os estudos e a apreciação das artes plásticas
maranhenses, o seguinte tema foi escolhido: A idealização visual da história: análise da obra
“Fundação da cidade de São Luis” do artista maranhense Floriano Teixeira, mais
especificamente com enfoque sobre a temática da tela de 1972, que recepciona os visitantes
do Salão de Música do Palácio dos Leões, edifício-sede do Governo do Estado. Tal tema
despertou interesse por ser de grande importância pensar sobre a produção artística local.
A intenção principal deste trabalho é de submeter à referida obra a uma análise
temática tendo como base referências históricas. Neste caso esta pesquisa irá colaborar com o
fortalecimento da cultura local, e tem ainda como objetivo conhecer a atuação, a trajetória da
vida e obra do artista plástico maranhense Floriano Teixeira, suas obras estão presentes em
acervos importantes, públicos e particulares.
Como forma de situar melhor o tema do trabalho foi feita uma abordagem sobre
fatores que de certa forma fizeram parte do caminho percorrido pelo artista, fatos que fazem
parte do contexto histórico e cultural das artes plásticas do Maranhão, como a evolução
artística do estado desde meados da colonização, que certamente influenciou a cultura
maranhense, até a chegada do modernismo, onde as ideias da Semana de Arte Moderna
percorreram um longo caminho até chegarem ao estado.
Floriano Teixeira tentou incorporar as novas tendências no nosso estado, onde a
arte era essencialmente acadêmica, para inovar as artes plásticas maranhenses ao lado de
outros artistas que também tinham o intuito de mudar um pouco o panorama da arte, e foram
alvo de criticas do publico e da mídia.
11
Para que seja possível uma melhor reflexão sobre o assunto abordado na pesquisa,
foi feita uma breve descrição sobre a fundação da cidade de São Luís, momento histórico
importante para o nosso estado, tornando-se relevante colocar em evidência esse fato já que
foi inspiração para a produção do painel tríptico criado por Floriano Teixeira sobre a fundação
francesa da cidade e para que assim possamos ter uma melhor compreensão sobre o tema em
questão.
A breve abordagem discorre sobre os fatos ocorridos no Maranhão na estadia dos
franceses entre 1612 e 1615, como a construção do forte e os atos celebrados no dia 8 de
setembro de 1612 data marcada como a fundação de São Luís. Foi feito ainda um breve
comentário sobre o ensaio da professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix, um estudo que
surgiu mais recentemente sobre a fundação da cidade e que afirma que a fundação francesa
seria uma construção mítica do nosso passado, perpetuado pelas gerações posteriores e
conservado com orgulho pela elite ludovicence.
Como o objetivo principal deste trabalho é produzir um conhecimento sobre a
temática da tela e ainda sobre o artista, inicialmente foi feito um estudo onde se procurou
destacar alguns aspectos mais importantes e significativos sobre o artista, tendo como
propósito também obter um registro que possa servir de fonte de pesquisa para outras pessoas
interessadas na arte maranhense. Foi possível encontrar informações desde o inicio da carreira
do artista, percorrendo sua trajetória, descrevendo momentos importantes, como sua
participação na fundação do Núcleo Eliseu Visconti que tinha como objetivo renovar a
produção artística local.
Nascido em Cajapió (MA) no ano de 1923, Floriano Teixeira foi pintor, escultor,
gravador, cenógrafo, desenhista e ainda ilustrador de livros de grandes nomes da literatura
nacional como Graciliano Ramos, Rubem Braga e Jorge Amado.
Foi um artista de grande importância, não só para a arte maranhense, mas ganhou
espaço e prestígio nacional e internacional. Depois de alguns anos de carreira e ganhou
notório reconhecimento pela sua produção, fazendo muitas exposições. Viveu em Fortaleza
(CE) contribuindo com o surgimento de vários movimentos artísticos locais e foi convidado
pelo reitor Antônio Martins Filho, para fazer parte de sua equipe na Universidade Federal do
Ceará fazendo um importante trabalho nesta instituição.
Alguns anos depois Floriano foi “emprestado” à Universidade Federal da Bahia,
mas acabou permanecendo no estado com a ajuda de amigos como Jorge Amado.
Viveu em Salvador com sua família contribuindo com a arte até o seu
falecimento.
12
amizade pelos Tupinambás que habitavam a ilha. Ao ser confirmada a receptividade indígena,
os franceses foram para a Ilha Grande, a Upaon- Açu dos Tupinambás.
Figura 1: Busto de Daniel de La Touche, em frente ao Palácio La Ravardière, Prefeitura de São Luís
Fonte: http://www.flickr.com/photos/lyssuelcalvet/3701751046/
Escolheram para esse fim uma bonita praça muito própria por ser numa alta
montanha e na ponta de um rochedo inacessível [...] cercada de dois rios profundos e
largos que desembocam no mar ao pé do dito rochedo, onde é o único porto da Ilha
do Maranhão [...] Reconhecendo os índios à necessidade desse forte, por seu e nosso
interesse, principiaram a trabalhar logo nele com muita alegria e sinceridade,
construindo muitas casas para os franceses [...] Em pouco tempo edificaram muitas
casas dessas, de um e dois andares com um grande armazém, onde arrumaram todos
os gêneros que trouxemos, e que eles próprios foram buscar a bordo. Com auxilio
dos franceses, montaram no dito forte, embora muito alto, vinte canhões grandes
para sua defesa. (D’ABEVILLE, 1975, págs. 57 e 58).
Figura 2: Retrato de Luís XIII, Peter Paul Rubens, 1625, Óleo sobre tela, 118.1 × 96.5 cm.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Louis_XIII.jpg
16
Os franceses, então, trataram de marcar o dia para o ato que marcaria a posse
oficial da terra ocupada, tendo escolhido o dia 8 de setembro, como afirma Amaral (2003,
p.42):
[...] trataram os da expedição francesa de marcar dia para a instituição solene da
pequena cidade, ou antes, a posse oficial da terra ocupada em nome de El-Rei
Cristianíssimo, sendo acordado, entre franceses e indígenas, que tal solenidade se
realizaria a 8 de setembro, dia da Natividade da Virgem Santíssima. No dia aprazado
estavam todos, logo bem cedo, com os franceses, e depois de haverem celebrado o
santo sacrifício da missa na capela de São Luís, encaminharam-se todos
processionalmente até o forte.
A partir da procissão, aconteceu o ato importante que até hoje é lembrado pelos
maranhenses como a fundação da cidade de São Luís. Franceses, religiosos e indígenas,
participaram de uma cerimônia memorável, descrita por Claude D’Abbeville em sua “História
da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão” onde os religiosos plantaram e
adoraram uma cruz, benzeram a Ilha ao som de cantos religiosos e tiros de artilharia, “em
sinal de regozijo”, mesma ocasião em que Rasilly deu o nome de Forte de São Luís à fortaleza
improvisada e Porto de Santa Maria ao ancoradouro natural.
A cruz que marcaria aquele momento foi plantada perto do forte. Hoje não se sabe
ao certo o lugar preciso em que foi erguido este monumento histórico. Pela descrição que fez
o padre Claude d’Abeville, é provável que a cruz tenha sido plantada na área em que hoje fica
a Capitania dos Portos, de modo que, pudesse ser vista pelos que chegassem ao porto. Aliás, a
descrição que nos deixou o padre, é extremamente rica em detalhes, apesar de ter
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permanecido no Maranhão apenas quatro meses, tempo que foi suficiente para que ele
adquirisse uma notável soma de conhecimentos sobre a região maranhense.
Figura 4: Ilustração da obra de Claude d'Abbeville, “História da Missão...” (Paris, 1614): levantamento da cruz
na colônia francesa
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a_Equinocial
rios Munim e Anajatuba. A expedição teve como comandante Jerônimo de Albuquerque, que
desembarcou em Guaxenduba, na Baía de São José e construiu o Forte de Santa Maria.
Da expedição também fazia parte Diogo de Campos Moreno, Sargento-Mor do
Brasil. Na batalha acontecida em 19 de novembro de 1614, os franceses estavam em maior
número e mais bem equipados que Jerônimo de Albuquerque, sem falar dos índios
tupinambás que os apoiavam. Mas, os franceses foram derrotados, “[...] apesar de seus sete
navios, quarenta e seis canoas, mais de trezentos franceses e cerca de dois mil selvagens sob o
comando do próprio La Ravardière”, segundo Lacroix ( 2000, p. 28) . Para explicar o
acontecido, a sabedoria popular recorreu para religião, mais precisamente à Virgem Maria, a
dita expedição foi chamada de milagrosa, pois, segundo diz a lenda “a areia foi transformada
em pólvora” pela Santa, para ajudar os portugueses na batalha.
Depois da batalha aconteceu um entendimento entre os comandantes, uma trégua
negociada entre La Ravardière e Diogo de Campos, que esperaram uma decisão de suas
respectivas cortes quanto à posse definitiva do Maranhão. Então foram enviados emissários à
Europa, mas Felipe III não concordou com a discussão do problema.
período colonial”. Por isso, a estrutura social maranhense, até meados do século XVIII, era a
expressão de um conjunto de várias culturas.
Figura 7: Capa do catálogo de Artes Plásticas da Semana de Arte Moderna, Di Cavalcanti, 1922.
Fonte:http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/semana_de_arte
a província melancólica, abatida pela inércia e pela indolência de seus muitos anos
de atraso mental. (CORRÊA. Op. Cit., p 112).
obra chamada Ascenção de Cristo, que causou grande comoção na sociedade que não estava
acostumada com aquele tipo de trabalho, pois neste quadro o artista retrata o momento em que
Jesus sobe aos céus, visto de baixo para cima, a perspectiva revelava Jesus desnudo, alguns
militantes fascistas tentaram, inclusive, acabar com a obra. Mas as inovações de Floriano não
foram restritas apenas ao campo temático, pois o seu traço, já começava a apresentar uma
maneira inovadora, diferente dos rigores acadêmicos, e isso não agradou o público e a crítica
da época. Depois de Floriano outros artistas, como Antônio Almeida, mantiveram o caminho
de mudanças nas artes plásticas. Na década de 70, segundo Teixeira (1994, p. 29):
Uma nova safra de artistas estimulados por [...] nova perspectiva econômica começa
a surgir, todos saídos dos mais inesperados propósitos e das fontes menos prováveis,
inclusive do acaso. Não há diagnóstico exato para identificar suas origens, e quase
todos eclodiram no mesmo instante e fazendo um barulhão dos diabos. Não só pela
verborragia do que discutiam como teoria, questões de contracultura e outros
aspectos da contemporaneidade, quanto pelo que mostravam como produto de seu
talento.
Estas novas perspectivas deram um novo estimulo a arte maranhense, houve, por
exemplo, a criação do Centro de Artes e Comunicações Visuais do Estado – CENARTE,
dirigido inicialmente pelo artista plástico Jesus Santos depois foi transformado no Centro de
Criatividade Odylo Costa Filho.
A partir desse breve panorama é possível perceber um pouco da evolução da arte
maranhense até meados dos anos 70, desde a mistura de várias culturas que influenciaram a
produção artística local, que se manteve por muitos anos tradicional, se guiando nos
princípios do academicismo, até a chegada das ideias modernistas que propagavam uma
renovação cultural e artística, mas sua chegada no Maranhão foi um pouco atrasada e aqueles
que tentavam inserir no contexto artístico maranhense as novas ideias sofreram criticas e
tiveram que enfrentar a resistência daqueles que não queriam, e talvez não entendiam, que era
preciso atualizar os aspectos de nossa arte, sem deixar de lado também a tradição cultural.
Floriano Teixeira foi um dos artistas maranhenses que buscou por introduzir uma
nova estética local, contribuindo muito com a produção artística do nosso estado.
28
Figura 8 – Cacau, óleo sobre tela, Floriano Teixeira, 1968, Salvador, 140 x 200.
Fonte:www.bolsadearte.com/realizados/abril04/067.htm
29
Dessa época é que datam suas primeiras aquarelas, e também precisamente nesse
mesmo período iniciou sua participação nos movimentos artísticos locais. Engajou-se na
imprensa, no jornal “O Democrata”, onde participavam grandes nomes do jornalismo como,
Anníbal Bonavides, Odalves Lima, Aloíso Medeiros, e muitos outros, desenvolvendo
desenhos para histórias em quadrinhos e caricaturas que documentavam festas folclóricas e
religiosas do Maranhão, Floriano era o fiel retrato do jornal, sempre firme suas posições.
Em uma de suas últimas entrevistas, ele declarou que os primeiros passos a
caminho da arte foram dados sem ajuda de ninguém. Os mestres, segundo ele, eram os
próprios olhos e “uma tremenda lembrança da vida no interior, entre carnaubeiras, vacas,
garrotes e cavalos pastando”, como definiu, segundo Santos (O Estado do Maranhão, 2002).
Apesar de ter um contato difícil com outros centros de cultura do país e do
mundo, Floriano sempre esteve ligado ao que acontecia no Rio de Janeiro e em São Paulo,
lugares aonde as novidades sempre chegavam primeiro e ditavam o “figurino” em vários
setores da época, inclusive na arte. Mas havia também uma grande interação entre São Luís e
outros centros de arte no Norte e do Nordeste, principalmente com Fortaleza, onde existiu
uma troca de informações e experiências bastante conveniente.
30
viu pela primeira vez o trabalho de Floriano, quis trazer ele para a Bahia”, relembra a
escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras, Zélia Gattai, esposa do escritor baiano,
em entrevista concedida ao jornal O Estado do Maranhão (SANTOS, 2002). Ao desembarcar
em Salvador, a convite de Jorge Amado o artista chegou a residir na casa do casal de
escritores, até se mudar para o bairro Rio Vermelho, para onde se transferiu, posteriormente,
com a mulher Alice e os filhos.
O carinho que Floriano Teixeira passou a sentir por Salvador deve-se muito à
amizade que ele selou com os principais artistas da época na cidade, a exemplo de Carybé, e o
reconhecimento que o governo dedicou aos artistas que apresentavam trabalhos de grande
qualidade. O artista residiu na Bahia até o dia de seu falecimento e depois de sua morte a
família do artista lançou um álbum composto por 11 gravuras de destaque na obra do pintor.
medieval, ou de persa, anda por dentro de Floriano, nos óleos, em geral de grandes
planos e pinceladas largas; de repente, numa janela, numa porta ou num portaló vê-
se uma cena detalhadíssima, verdadeira miniatura, contando vida de povo, sempre
com uma carga de poesia, uma alegria de cores e outra alegria, a de inventar meios
de expressão, de dar mais e sempre mais, o que leva a pesquisar constantemente.
(…) Decididamente Floriano não é torturado, é um pintor que gosta de seu ofício e
pinta. Pinta rodeado de seus sete filhos e Alice. Num mundo que é seu mundo, cheio
de arraias, de bolas de gude, de risos e broncas dos meninos. E dele.
(Carybé, Catálogo da exposição de Floriano Teixeira na Época – galeria de arte,
Salvador, BA, 1984).
Tem a sutileza do índio, o sangue indígena nas veias e na face, no sorriso entre
tímido e irônico, no humor fino e agudo, na inteligência voltada para a natureza e os
bichos, nos pés andejos. (…) Enriqueceu a humanidade baiana, engrandeceu nossa
arte, deu-lhe a dimensão, o gosto do detalhe — certos quadros seus são trabalhos de
um miniaturista. Esse índio do Maranhão, esse baiano do Rio Vermelho, é um ser
extremamente civilizado, veio da floresta, mas por vezes dá a impressão de ter
chegado da Renascença. (Jorge Amado).
Floriano ilustrou vários livros e foi a partir dos desenhos que ele conquistou seu
espaço no cenário das artes no país, exibindo seus traços simples e marcantes em livros de
grandes escritores nacionais destacando-se entre eles: Dona Flor e seus Dois Maridos, A
Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água, O Menino Grapiúna - todos de Jorge Amado
(1912 - 2001), Obras Completas e A Terra dos Meninos Pelados, de Graciliano Ramos (1892
– 1953), Um pé de milho, de Rubem Braga (1913- 1990), entre outros.
35
Figura 12: Ilustração do livro Dona Flor e Seus dois maridos, Floriano Teixeira,
Fonte: http://www.jorgeamado.dreamhosters.com/
Em 1980, Floriano deixa de trabalhar com tinta óleo e passa a trabalhar só com
acrílico. "Óleo intoxica, acrílica tem melhor estilo e mais durabilidade". Em Dezembro de
1999, a convite da MCR Galeria de Arte, fez uma exposição que reuniu pinturas de 1967 a
1999. Fez ainda mais de dez exposições individuais e mais de quarente coletivas em vários
estados em vários brasileiros e também no exterior, além de possuir exposições individuais
permanentes, como na Casa José de Alencar em Fortaleza onde existe a Sala Floriano
Teixeira, e seu nome batiza uma galeria de arte instalada nos jardins do Museu Histórico e
Artístico do Maranhão.
Um dos seus trabalhos mais representativos é o painel tríptico intitulado Fundação
da cidade de São Luís – de 1972, pertencente ao acervo do Palácio dos Leões de São Luís,
sede o Governo do Estado do Maranhão - a temática versa sobre a Fundação francesa da
cidade, onde o artista revela o encontro dos índios maranhenses com os conquistadores
europeus.
36
Como foi possível observar, no inicio de sua carreira, Floriano Teixeira conheceu
o trabalho de artistas como El Greco, com a deformação de suas figuras alongadas, descobriu
Portinari o qual ficou vivamente encantado com suas obras, e ainda os trabalhos dos artistas
Daumier, Gavarni e Millet. Essas influências iniciais tiveram bastante repercussão em seu
trabalho. Apesar das influências, Floriano foi um artista com formação essencialmente
autodidata, trabalhou muitas vezes com a representação dos valores sociais de maneira
simples, mas com seu traço marcante e pessoal.
37
Floriano, esse desenhista extraordinário, dono de uma força interna que se afirma em
cada traço e inconformado com as cores que quer, sempre, cheias de sol, claras,
iguais àquelas que hoje sabemos que Boticelli usava. (SARNEY, 1952, p.5)
Figura 14: Festa do Divino, Floriano Teixeira, Óleo sobre tela, 1982, 100 x 100 cm.
Fonte: http://www.desenbahia.ba.gov.br/institucional/acervo.asp
38
Figura 15: Laranjas roubadas, Floriano Teixeira, Óleo sobre tela, 1960, 30 x 30 cm.
Fonte:http://www.catalogodasartes.com.br/Avaliacoes2.asp?Pesquisar=1&cboArtista=Floriano
39
Figura 16: Fundação da Cidade de São Luís, (tríptico), 1972, Óleo sobre tela, 218 x 218 cm.
Fonte: Autora do Estudo.
Um dos traços mais fortes de Floriano é o Neocubismo, estilo que teve como
influência os movimentos Cubismo e Expressionismo. A característica principal desse estilo
resume-se sempre em linhas geometrizadas e controladas, formando traços cuja excelência
das linhas curvas e retas parecem ter uma exatidão matemática, na composição e no
equilíbrio, para a construção dos elementos visuais compositivos da obra, sejam eles
figurativos ou abstratos, tudo percebido a partir de uma avaliação visual.
O artista representou no painel Fundação da cidade de São Luís todos os objetos,
e figuras, com as três cenas possuindo planos diferentes nas suas composições. A ideia de
perspectiva é retratada a partir dos elementos em ordem decrescente, a partir do primeiro
40
plano, findando com a linha do horizonte representada entre o céu e o mar ao fundo e também
percebida pela mudança de cores, que dão a idéia de que se trata de superposição de planos.
Na obra há uma gama de cores variadas que são usadas de forma emotiva, o uso
da matiz, do tom e da intensidade dada pelo artista, criou vibrações, passa um pouco de
tranquilidade, e deu um tom lírico, facilmente percebido pelo observador. Não há uso
excessivo do claro-escuro, apenas um degradé das cores utilizado de forma sutil. Como é
possível observar há predominância de cores frias, como azul, verde, marrom e branco, o tom
amarelo é apenas pontual.
Além dos fatos importantes representados, como o contato dos franceses com os
indígenas, o artista deixou também, por toda extensão da obra, um belo registro da fauna e
flora do país, representando vários animais e plantas tipicamente brasileiros num recorte da
ilha do Maranhão.
Figura 17: Detalhe, Fundação da Cidade de São Luís, Floriano Teixeira, 1972, Óleo sobre tela, 218 x 218 cm.
Fonte: Autora do Estudo.
5.1 A Temática
O quadro Fundação da Cidade de São Luís, trata de uma cena história. A pintura
histórica como o próprio nome já especifica se refere àquela que representa fatos históricos,
cenas mitológicas, literárias e ainda da história religiosa. De acordo com Itaú Cultural (2005),
41
a pintura histórica: “Em acepção mais estrita, refere-se ao registro pictórico de eventos da
história política. Batalhas, cenas de guerra, personagens célebres, fatos e feitos de homens
notáveis são descritos em telas de grandes dimensões”.
As pinturas com temática histórica são realizadas, em sua maioria, sob
encomenda, e confirmam um tipo de produção envolvida com a tematização da nação e da
política. Enquanto os acontecimentos domésticos, o cotidiano e os personagens anônimos são
registrados pela pintura de gênero - termo que faz referência às representações da vida
cotidiana, do mundo do trabalho e dos espaços domésticos, que tomaram a pintura holandesa
do século XVII - os grandes atos e seus heróis são contados em grande estilo pela pintura
histórica.
No século XVII, com a criação da Real Academia de Pintura Escultura em Paris,
foi que a pintura histórica conseguiu prestigio nas academias de arte, elevada ao primeiro
nível na classe acadêmica. A partir daí houve uma aproximação da relação da arte com o
poder político. O encanto pela antiguidade e pelo clássico, que são revelados nos temas
mitológicos e históricos e que estão associados à clareza da expressão das figuras e também
ao uso das regras acadêmicas.
O Neoclassicismo que tem como núcleo a França do século XVIII usa
abundantemente os temas históricos. Com a Revolução Francesa, o modelo clássico toma um
sentido ético e moral. A busca de um ideal estético da Antiguidade, acompanha ideias cívicas
e de justiça, como é possível observar nas telas do pintor neoclássico Jacques –Louis David
(1748 – 1825), com uma pintura engajada, representou retratos de mártires da revolução, e
também foi pintor oficial de Napoleão.
42
Figura 18: A Morte de Marat, Jacques – Louis David, 1793, óleo sobre tela, 128 x 165 cm.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Marat_assassinado
Figura 19: Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís, 1972, ( tríptico 1), óleo sobre tela, 218x218 cm.
Fonte: Autora do Estudo.
Figura 20: Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís, (Detalhe tríptico 1), 1972, óleo sobre tela, 218 x
218 cm.
Fonte: Autora do Estudo.
fim, na cena está também retratado o cenário com um pouco da fauna e flora, as moradias e ao
fundo a ilha pequena.
Figura 21: Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís, ( Tríptico 2), 1972, óleo sobre tela, 218 x 218 cm.
Fonte: Autora do Estudo.
(...) o sr. De Rasilly julgou necessário visitar a ilha em companhia de dois de nós e
percorrer todas as aldeias, não só para nos tornar conhecidos dos índios, como para
que lhes fossemos simpáticos e também para que conhecêssemos seus costumes e
modos de viver, a fim de com maior proveito lhes fazermos compreender o objetivo
de nossa vinda. ( D’ABEVILLE, 1975, p.77)
Nesse momento não há presença dos indígenas e aparecem mais dois navios
franceses ao fundo, provavelmente reforços.
Figura 22: Floriano Teixeira, Fundação da cidade de São Luís, (Tríptico 3), 1972, óleo sobre tela, 218 x 218 m.
Fonte: Autora do Estudo.
A pintura de Floriano Teixeira não é apenas uma mera tradução visual do fato
histórico, mas torna-se a verdade visual dos momentos descritos pelo padre capuchinho e
historiador Claude D’Abeville. Diante da tela, o espectador pode, ao observá-la, fazer a
junção do relato histórico sobre a fundação francesa de São Luis, com a obra de arte.
À versão do pintor leva em consideração as características da sua produção
pictórica, respeitando sempre o fato histórico que se propôs a representar. A narrativa de
Floriano estimula uma reflexão, não só pela interpretação que ele fez da fundação, mas
48
6 CONCLUSÃO
sofreu algumas críticas, já que sua pintura e seu desenho traziam propostas totalmente
diferentes ao que a sociedade mais valorizava. Suas obras já apresentavam características do
modernismo e também comunicavam valores sociais, como forma de denúncia social, e
culturais, expressando o regionalismo, a cultura do estado, em algumas obras.
Floriano teve grande reconhecimento no mundo artístico, tendo sua obra
valorizada e sendo considerado um dos melhores artistas de sua época, tendo grande
importância no cenário em que atuava. Além de pintor, gravador, desenhista e cenógrafo
Floriano também ilustrou vários livros de grandes escritores nacionais.
Maranhão, Ceará e Bahia, por onde passou o artista deixou marcas, com seu estilo
peculiar, renovador e lírico de fazer arte, fez sua história e deixou grandes obras, contribuindo
com a arte do país. Floriano rompeu as fronteiras estaduais numa época em que fazer arte aqui
era uma temeridade.
Para a produção do painel tríptico Fundação da cidade de São Luís, Floriano
utilizou seu estilo e técnica, seguindo o tema histórico, tomou como inspiração os relatos do
padre Claude D’Abeville.
A pintura histórica é marcada por representar fatos históricos, cenas mitológicas,
literárias e ainda caracterizada pela idealização. O tríptico dividido em três momentos
importantes, retrata na primeira cena, a chegada dos franceses e a recepção dos índios
tupinambás, a partir dos relatos do padre D’Abeville, Floriano construiu a cena , que idealiza
esse fato. No segundo momento do tríptico, foram retratados os momentos que se seguiram
após os atos solenes que os franceses fizeram. Nessa parte do painel Floriano expôs, com
fidelidade à descrição do capuchinho, o momento do levantamento da cruz. Na terceira parte
do tríptico, o artista colocou em cena momentos que retratam oque se seguiu após os atos
solenes da fundação. Nessa cena fica marcado o estabelecimento e desenvolvimento dos
franceses na região.
Contudo, o artista maranhense Floriano Teixeira com seus aspectos particulares,
conseguiu ganhar grande prestigio no mundo artístico. Seu Painel tríptico, Fundação da
cidade de São Luís, tratando de um tema histórico, é um registro importante de um momento
vivido pela cidade, fato lembrado por todos e que faz parte da identidade cultural dos
maranhenses.
Descobrir as relações entre imagem e palavra permite abordar, conhecer e
entender a complexidade e a importância da imagem artística.
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Por isso, para analisar as imagens de determinada obra, não se pode apenas
discorrer os acontecimentos da imagem. É necessário também captar as informações que se
apresentam nos registros documentais.
Os quadros históricos, ainda hoje, são referenciais importantes da história. Então,
é necessário o exercício da sensibilidade, construindo a partir destas imagens relações que
possuam significados para além de sua visualização direta, criando possibilidades de novos
questionamentos sobre o objeto de estudo.
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REFERÊNCIAS
AMARAL, José Ribeiro do. O Maranhão histórico: artigos de jornal (1911-1912). São Luís,
2003, GEIA.
FRAGA, Myriam. Floriano.O Estado do Maranhão. Pág. 17. São Luís, 31 mai. 1987.
FORTES, Raimunda. A obra escultórica de Newton Sá. São Paulo: Editora Siciliano, 2001.
53
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A fundação francesa de São Luís e seus mitos. São
Luís: EDUFMA, 2000.
NAHUZ, Cecília dos Santos e FERREIRA, Lusimar Silva. Manual para normalização de
monografias. 3. ed. São Luís, 2003.
VIVEIROS, Jerônimo de. História do comércio do Maranhão. São Luís, 1954. Apud: Lima,
Carlos de. História do Maranhão, p.181.
ZANINI, Walter. História geral da arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira
Salles, vol. I, 1983.
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APÊNDICES
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Figura 1: Detalhe ( tríptico 1), Fundação da cidade Figura 2: Detalhe (tríptico 1).
de São Luis, Floriano Teixeira, 1972, 218x218 cm. Fonte: Foto da Autora
Fonte: Foto da autora.
ANEXOS
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Figura 9 : Ilustração Dona Flor e seus dois Figura 10: Ilustração do livro O milagre dos passáros,
maridos, Floriano Teixeira, 1966, aquarela Floriano Teixeira, 1997, Nanquim sobre papel.
e nanquim sobre papel. Fonte: http://www.flickr.com/photos/
Fonte: http://www.flickr.com/photos/
Figura 11 – Ilustração do livro A morte e Figura 12 – Capa do livro vidas secas, Floriano
A morte de Quincas Berro D’água, Teixeira , 1938.
Floriano Teixeira 1967, Nanquim sobre papel. Fonte: www.ufscar.br/rua/site/?p=414
Fonte: http://www.flickr.com/photos/
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Figura 13: Amor proibido, Floriano Teixeira, 55 x 55 cm, óleo sobre tela.
Fonte: http://www.centurysarteeleiloes.com.br/destaques.asp?Num=095&Tipo=6
Figura 14 : Da serie d. flor do romance d. flor e seus dois maridos, Floriano Teixeira, oleo sobre cartão, 1967, 48
x 33.
Fonte: //www.catalogodasartes.com.br/Avaliacoes2.asp?Pesquisar=1&cboArtista=Floriano%20Teixeira%20-
%20Floriano%20de%20Ara%FAjo%20Teixeira%20&sPasta=@Obras&rdTipoObra=
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ANEXO C –A obra: Fundação da Cidade de São Luís do artista maranhense Floriano Teixeira