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Prova I Bimestre
Partindo da reportagem Casa Grande & Senzala de Fabiana Morais, pretende-se traçar
um paralelo entre os fatos trazidos na mesma e alguns dos objetos de estudo da psicologia
comunitária, como as relações, representações, nível de consciência e pertinência a grupos
comunitários (Góis, 1993 citado por Campos, 1996a).
A consciência da ideologia por trás das representações não é alcançada por algumas
das meninas que contam suas histórias na reportagem, como Carol e Stephanie. Envolvidas
em relações violentas com os companheiros, elas justificam a agressão afirmando que eles
têm razão por estarem com ciúmes. Ao não questionarem essa representação do ciúme como
algo natural que justifica a violência e ao agirem se submetendo a mesma, defendendo os
companheiros, essas meninas revelam sua alienação, “enquanto processo que envolve,
necessariamente pensamento e ação” (Lane, 1989, p. 41) e que naturaliza construções sociais
como o ciúme.
A representação acima é apenas uma dentre várias do nosso imaginário social que
atravessam a instituição que aqui podemos identificar como “prostituição”, por ser o espaço
Fundamentos da Psicologia Comunitária 2022.1
social onde elementos sociais como o papel da mulher negra e elementos psicológicos como o
desejo de ascender socialmente de Stephanie se articulam (Nasciutti, 1996). Esse sonho
individual não pode ser levado adiante com a forma com a qual ela vive, que é efeito das
relações que estabelece com os demais, estes orientados pelas representações do que seria
esse papel, como, por exemplo, manter relações a um preço muito baixo ou sem preço algum
já que é algo no qual ela “obtém prazer”.
Essa comunidade, bem como a comunidade mais ampla da qual elas fazem parte,
ocupa um território que pelos relatos da reportagem é tomado pelo lixo, pelo que as pessoas
não querem mais e descartam ali. Partindo das ideias de Spengler (1976 citado por
Vasconcelos, 1996) ao apontar que “a arquitetura reflete a organização sócio-espacial de cada
época” (p. 140), podemos interpretar que esse lugar/espaço que é ocupado por essas jovens
reflete aquele que elas ocupam na estrutura social: o do indesejável e descartável. Também
Couchaux (1980 citado por Vasconcelos, 1996) reforça essa ideia ao destacar que nas
sociedades sedentárias o desmembramento do lugar está em estreita relação com o
desmembramento social. Ou seja, a divisão do espaço reflete uma divisão social.
políticas a ela nem aos homens que praticam abusos e reproduzem relações de dominação,
apenas às próprias meninas.
Outra característica dessas políticas é que elas servem apenas para atenuar os
problemas de um público específico, que no caso da reportagem pode-se considerar mais
amplamente as vítimas de exploração e/ou os usuários de drogas já que como ela mesma
destaca não há projetos específicos para as mulheres, mas não os resolvem de todo, até porque
não são de um público específico mas de toda a sociedade como apontado mais acima. Apesar
das várias passagens das meninas pelo Departamento da Polícia da Criança e do Adolescente,
elas continuam a voltar para as ruas. Tal como destaca Silva (2010) os programas de
enfrentamento a pobreza - entendida por ela como uma categoria mais adequada do que
exclusão ao contexto brasileiro, no qual fala-se de pessoas que nunca estiveram incluídas para
serem excluídas - são políticas de inserção ao agirem apenas sobre os efeitos do
disfuncionamento social e não de forma preventiva como as políticas de integração.
Referências
Nasciutti, J.C.R. (1996). A instituição como via de acesso à comunidade. In R.H.F. Campos
(Org.), Psicologia Social Comunitária: da solidariedade à autonomia (pp.100-126).
Petrópolis: Vozes.
Sawaia, B.B. (1996). Comunidade: a apropriação científica de um conceito tão antigo quanto
a humanidade. In R.H.F. Campos (Org.), Psicologia Social Comunitária: da
solidariedade à autonomia (pp. 35-53). Petrópolis: Vozes.
Scaparo, H.B.K, & Guareschi, N.M.F. (2007). Psicologia social comunitária e formação
profissional. Psicologia & Sociedade, 19(Ed.Esp.2), 100-108.