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doi.org/10.51891/rease.v9i8.11046
1 INTRODUÇÃO
Reabilitação Neuropsicológica, Terapia Ocupacional na Saúde Mental, Psicologia Positiva Terapia Familiar; Docente no curso
de Psicologia.
4 Psicóloga Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e em Gestão Estratégica de Recursos Humanos.
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daquele sujeito, que são mantidas e desenvolvidas pelo relacionamento interpessoal dos
mesmos. Os autores ainda afirmam que os esquemas constroem-se nas fases iniciais dos
indivíduos, e podem ser caracterizados como adaptativos e desadaptativos, no entanto, também
podem ser formados em outros momentos posteriores.
Tendo isso em vista, pode-se destacar que os esquemas adquiridos através de um evento
traumático durante a fase inicial da vida, têm grandes chances de estar no centro dos transtornos
de personalidade. Para Halperin e Carneiro (2016, p. 41), “Os EIDs são padrões emocionais,
cognitivos e emocionais relacionados à representação de si e dos outros que se desenvolvem
cedo na vida e se repete ao longo dela, causando sofrimento e prejuízo em diversos contextos”.
Sendo assim, no que tange os EIDs, é possível observar o quanto são destrutivos e em como na
maioria das vezes são causados por experiências repetitivas traumáticas que aconteceram na
infância/adolescência.
Diante disso, é de suma importância relatar que o Transtorno de Personalidade
Borderline (TPB) é caracterizado por padrões instáveis nas relações interpessoais de afeto do
indivíduo, além de constituir também comportamentos impulsivos. O TPB configura-se como
um transtorno que surge no fim da adolescência e início da idade adulta, sendo tratado
geralmente por psicofármacos e psicoterapia. No tratamento por psicoterapia, existem2209
abordagens teóricas diferentes utilizadas, no entanto, no vigente artigo, o objetivo é avaliar a
utilização e a eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento do Transtorno de
Personalidade Borderline.
Com isso, visou-se elencar os protocolos utilizados pela Terapia Cognitivo-
Comportamental, através de uma revisão bibliográfica, em adultos com Transtorno de
Personalidade Borderline, descrevendo as características deste transtorno e sua sintomatologia,
além de verificar os principais autores que contribuem para o tratamento da temática, por meio
da Terapia Cognitivo-Comportamental, avaliando a eficácia da TCC para o seu tratamento.
Desta maneira, para a construção deste artigo seis passos foram seguidos, sendo eles:
identificação do tema, determinação dos critérios para escolha e descarte de artigos, delimitação
das informações mais necessárias e importantes; avaliação da literatura em sua totalidade,
interpretação dos resultados obtidos com a pesquisa e, conclusão.
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2 METODOLOGIA
O presente artigo adotou como metodologia uma revisão narrativa de literatura, com
objetivo de descrever a interação entre a terapia cognitivo-comportamental atrelada ao
Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). A pesquisa foi elaborada por meio de fontes de
buscas específicas. As pesquisas selecionadas para compor o trabalho, obedeceram aos critérios
de: terem sido publicadas nos últimos cinco anos e retratar a definição de Transtorno de
Personaldiade Borderline e como a Terapia Cognitivo-Comportamental utiliza de seus
protocolocos para seu tratamento.
Conforme Botelho, Cunha e Macedo (2011), a revisão narrativa é utilizada para
apresentar um assunto específico sob o ponto de vista contextual. Assim, esta forma de pesquisa
é composta por uma revisão da literatura e parte de uma interpretação crítica do pesquisador.
Dessa forma, a revisão narrativa não utiliza técnicas exaustivas de pesquisa, a escolha dos
estudos e a interpretação das informações colhidas ficam a critério da subjetividade dos autores.
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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[...] um constructo composto que representa a soma total das ações, dos processos de
pensamento, das reações emocionais, e das necessidades motivacionais da pessoa,
através dos quais ela, como organismo biológico geneticamente programado, interage
com seu ambiente, influenciando-o e sendo influenciada por ele [...] (BECK;
ALFORD, 2000, p. 34).
As estratégias comportamentais utilizadas pelos indivíduos em predominância
estão relacionadas aos padrões cognitivos que também estão relacionados às crenças que
resultam no comportamento, isto é, a personalidade (Beck; Freeman; Davis, 2005).
Em resumo, a teoria de Beck relata que a personalidade é a forma predominante
2211
de pensar, agir, sentir e perceber de cada indivíduo, incluindo as atitudes, crenças, emoções,
sensações e o comportamento (Feist et al., 2015).
O Manual Diagnóstico e Estático dos Transtornos Mentais (DSM-V), define
que os traços de personalidade são padrões predominantes de percepções, relacionamentos,
pensamentos sobre si, o ambiente e o mundo a sua volta, dentro de variados contextos sociais e
interpessoais. Assim, os aspectos da personalidade apresentam o transtorno de personalidade
quando são inflexíveis e desadaptativos, gerando em prejuízos funcionais e sofrimentos graves.
(American Psychiatric Association, 2014).
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1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. [...] 2.Um padrão
de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela
alternância entre extremos de idealização e desvalorização. 3. Perturbação da
identidade: instabilidade acentuada epersistente da autoimagem ou da percepção de si
mesmo. 4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente
autodestrutivas [...] 5.Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças
suicidas ou de comportamento automutilante. 6. Instabilidade afetiva devida
a umaacentuada reatividade de humor [...]. 7. Sentimentos crônicos de vazio. 8.Raiva
intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la [...] 9. Ideação paranoide
transitória associada a estresse ou sintomas dissociativosintensos. (APA, 2014,
p. 663).
Sabe-se que o Transtorno de Personalidade Borderline é acarretado por uma junção de
fatores, sendo multicausal. Rebeschini (2017) afirma que um dos fatores de risco que causam o
Borderline, é a exposição a traumas, ainda na infância e adolescência, podendo ser abuso físico,
sexual, psicológico. Figueiredo e Marques (2017, p.4) destacam ainda que “famílias
desestruturadas e abusivas, traumas na infância e contextos socioeconômicos desfavoráveis não
só contribuem para a formação de personalidades vulneráveis, como também podem
potencializar o transtorno”.
Algo comum e recorrente na clínica para Transtorno de Personalidade Borderline, são
os casos de automutilação e ideações ou tentativas de suicídio, principalmente na adolescência
e início da fase adulta. De acordo com Macedo et al., (2017) comportamentos autodestrutivos
2214
podem ser desde leves arranhões e queimaduras de cigarro, até overdoses e cortes profundos.
Assim, aqueles diagnosticados com TPB geralmente possuem relacionamentos
amorosos instáveis. Além disso, o ciúme excessivo é considerado patológico que vem
acompanhado pelo medo do abandono ou rejeição. Em decorrência desta instabilidade no
quesito afetivo, é comum que agressões físicas e verbais aconteçam. (Santagelo et al., 2018).
Estes sintomas são mais frequentes no início da fase adulta, uma vez que a impulsidade decai
com o envelhecimento. (Santagelo et al., 2018).
Estima-se que o TPB atinja a 1,6% da população geral, podendo chegar a 5,9% (APA,
2014). Além disso, estudos demonstram que este transtorno acomete mais as mulheres do que
os homens, porém, “[...] essa diferença pode ser resultado de tendência de amostragem (i.e. mais
mulheres procuram tratamento), porque nenhuma distinção de gênero na prevalência foi
encontrada [...]” (Skodol, Gunderson, 2012, p. 875)
Diversos fatores são levantados quando trata-se da origem deste transtorno. Pesquisas
demonstram que além do grande fator genético, o desenvolvimento neurobiológico e
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experiência traumáticas na infância, podem contribuir para que este transtorno se manifeste.
(Skodol, Gunderson, 2012). Nos estudos de Pastore e Lisboa (2014) foi constatado que 81% dos
indivíduos diagnosticados com TPB foram vítimas de abusos físicos e sexuais na infância. Com
isso, os autores consideram que as perdas na infância são de extrema importância na
determinação do TPB. Além disso, cerca de 20% a 40% dos pacientes diagnosticado, vivenciam
uma separação traumática dos pais.
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Simões & Santos, (2020) automutilações, ideações suicidas tiveram diminuição significativa,
concluindo estatisticamente que a DBT é mais eficaz do que outras intervenções psicoterápicas.
No tratamento do TPB, a regulação emocional está no ponto chave para eficácia desta
terapia, pois, pacientes com este diagnóstico tendem a ter emoções instáveis (Schmahl et al.,
2014 apud Guimarães, Simões & Santos, 2020). Em um estudo realizado por Barnicot et al. (2017)
apud Guimarães, Simões & Santos, (2020), os pacientes tratados com DBT, obtiveram mais
facilidade em regular suas emoções do que o grupo controle, conseguindo apresentar mais
facilidade em seus relacionamentos interpessoais.
As prioridades do tratamento do TPB, dentro da perspectiva da DBT, serão: a relação
terapêutica, englobando diversas estratégias voltadas para técnicas de aceitação; os conceitos da
terapia comportamental e outros métodos, como mindfulness (McMain, Korman & Dimeff,
2001). A dialética fundamental desta estratégia e abordagem é a validação e a aceitação dos
pacientes como de fato são, fazendo uma junção de como eles são e o que se tornaram. O objetivo
principal é o auxílio na regulação emocional bem como o desenvolvimento de estratégias
ensinadas através da terapia. A relação terapêutica tem total atenção dentro da DBT, pois
considera particularidades do TPB (Melo & Fava, 2012). Uma das metas primárias para o
tratamento para TPB por esse viés se dá através da mudança de comportamentos do paciente2217
que possam de alguma forma interferir na terapia (Linehan, 2010).
Os clientes borderlines possuem um déficit quando diz respeito ao aprendizado de
emoções, esse sendo decorrente de um ambiente invalidante presente na infância do paciente
(Lynch, Trost, Salsman & Linehan, 2007). Com isso, os pacientes tendem a negar e expressar
suas emoções, interpretando suas experiências emocionais de forma equivocada. Muitas vezes
não estão abertos a aprender, entender ou regular suas respostas emocionais. Pacientes
borderlines tendem a oscilar entre inibir suas emoções e a extrema habilidade emocional
(Crowell, Beauchaine & Linehan, 2009).
Assim, o terapeuta encontra um indivíduo em sua extrema vulnerabilidade, onde pode
não confiar em seus próprios sentimentos, fazendo com que eles invalidem suas percepções
(Melo, 2014). Por conta desta instabilidade e desregulação emocional, pacientes borderlines
podem se considerar pessoas más por sentirem raiva ou se sentirem fracos por sentirem medo
(Melo, 2014).
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Desta forma, a DBT retrata que o terapeuta precisa ser empático e validar os sentimentos
do paciente, demonstrando compreensão e que está ali para ajudá-lo a entender melhor suas
respostas, suas interpretações e suas emoções (McMain et al., 2001). No entanto, é importante
ressaltar que validar as emoções do paciente borderline não significa uma aprovação ao
comportamento dele (Melo, 2014).
O termo, “Dialética” está relacionado ao equilíbrio (Linehan, 2010). Assim, validação
(estratégias de aceitação) e mudanças (estratégias de resolução de problemas) devem estar
alinhadas no processo de tratamento da pessoa borderline.
Com isso, para que o terapeuta tenha sucesso no estabelecimento de um plano
terapêutico adequado para o cliente, é preciso que antes tenha a sensibilidade de entender o
sofrimento do mesmo, através da empatia com seus sentimentos, principalmente aqueles
sentimentos que foram negligenciados na infância (Linehan, 2010).
Outro fator importante e imprescindível para o tratamento do TPB, é a flexibilidade e a
versatilidade do ambiente, para se debater e resolver impasses que possam surgir ao decorrer do
tratamento (Linehan, 2010). Desta forma, cabe ao terapeuta através da DBT, trabalhar com
flexibilidade de modo que consiga manejar as situações a fim de que consiga mostrar para o
paciente que entende suas dificuldades, e, ao mesmo, tempo o ajuda com estratégias de mudança2218
(Trupin, Steward, Beach & Boesky, 2002).
A DBT fornece uma estrutura para o tratamento, através da qual os objetivos são bem
delimitados e isso contribui para a efetividade do tratamento do TPB (Melo, 2014). É importante
que o terapeuta e o paciente estejam alinhados aos objetivos do tratamento e concordem com as
possíveis dificuldades do cliente e a forma de tratamento que será usada. Ambos devem estar
comprometidos com o tratamento, para que tenha sucesso. A DBT coloca a relação terapêutica,
como dito anteriormente, como sua principal estratégia de tratamento. Sem o vínculo
terapêutico bem trabalhado, os demais objetivos do tratamento terapêutico ficarão
comprometidos e com dificuldades para serem atingidos (Melo, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
constatado um transtorno complexo e de difícil manejo, foi possível observar que a Terapia
Cognitivo-Comportamental possui estratégias psicoterápicas que possibilitam um tratamento
eficaz e preciso.
Com isso, foi possível perceber que a interação entre as terapias cognitivas foram de
extrema relevância para o desenvolvimento de estudos que suprissem as demandas
apresentadas pelo TPB. Assim, com o desenvolvimento da terapia do esquema (TE) e da DBT
atravessadas pela teoria de Beck, possibilitou o sucesso no tratamento do TPB.
Desta maneira, a presente revisão bibliográfica permitiu elucidar a eficácia da DBT para
o tratamento do TPB. De acordo com os estudos supracitados, a DBT parece ter maior
efetividade do que outras abordagens, incluindo a TCC, Terapia do Esquema e terapia de
mentalização. Contudo, mediante a intensidade dos sintomas do TPB, em alguns casos o
tratamento medicamentoso em conjunto com a intervenção psicoterapêutica é essencial.
O avanço eficaz no tratamento do TPB se deu a partir do desenvolvimento da TE e da
DBT. Sendo que a TE tem seu enfoque na investigação de sintomas e origens infantis,
identificando a trajetória percorrida dos esquemas desde a infância até aquele momento,
enfatizando os relacionamentos interpessoais. Já a DBT busca promover a eficácia interpessoal,
regulação de emoções, autocontrole, entre outros. 2219
Além disso, a relação terapêutica é considerada uma das principais estratégia de
tratamento, isso porque, sem o vínculo terapêutico as demais estratégias terapêuticas ficam
comprometidas e com mais dificuldades de serem colocadas em prática.
É visível que a DBT possibilita ao paciente uma melhor compreensão positiva de seu
funcionamento, possibilitando visualizar que mesmo sendo um tratamento complexo e um
transtorno difícil, o tratamento é eficaz.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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in bipolar disorder and comorbid borderline personality disorder: an open-label uncontrolled
study. Int Clin Psychopharmacol., 33(3), 121-130.
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BECK, A. T.; ALFORD, B. A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul. 2000. Disponível em:
BOTELHO LLR, CUNHA CCA, MACEDO M. O método da revisão integrativa nos estudos
organizacionais. Gest Soc. 2011 ago;5(11):121-36.
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treatment of emotion dysregulation. Journal of Clinical Psychology, 57(2), 183–196.
SWALES, M. A. & HEARD, H. L. Diatectical behavior therapy. New York: Routledge, 2009.
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