Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
10.37885/210504766
RESUMO
85
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Este estudo adotou como metodologia a revisão de literatura de natureza teórica com o
método de pesquisa bibliográfica e exploratória. Para Gil (2010) e Cervo (2013) a pesquisa
87
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
bibliográfica é elaborada a partir de material já publicado para explicar ou procurar respostas
de um problema ou hipótese, sendo necessário a coleta e análise de material impresso como
livros, dissertações e teses, assim como outros tipos de fonte de material disponibilizado em
sites científicos. A pesquisa exploratória conforme Cervo (2013) define objetivos e busca
mais informações sobre o assunto estudado e realiza descrições precisas da situação para
descobrir as relações existentes entre seus elementos componentes.
Mesmo que sejam utilizados materiais publicados, pode-se chegar a outros entendimen-
tos, uma vez que os questionamentos podem modificar diante da perspectiva do pesquisa-
dor. Para este estudo foram utilizados livros, monografias, dissertações e artigos científicos
disponíveis em bases de dados tais como: Biblioteca virtual em saúde (BV- Saúde), Scientific
Electronic Library Online (Scielo) e Periódicos eletrônicos em Psicologia (Pepsic). Optou-se,
como critérios de inclusão, por obras científicas produzidas entre o período de 2010 a 2020
no idioma português, além de fontes anteriores ao referido período em virtude da literatura
existencial-humanista e fenomenológica estar embasada por autores clássicos. Como critério
temático, serviram de base para a investigação as seguintes palavras-chave: “ansiedade”;
“crise existencial”; “psicologia” e “psicoterapia”. Foram excluídos da análise materiais que
não mencionam o tema foco da pesquisa e aqueles que abordam a ansiedade do ponto de
vista médico-patológico.
Durante a coleta de dados foram selecionados 20 livros, 05 dissertações, 04 mono-
grafias e 16 artigos científicos que se enquadravam nos critérios acima informados. Sendo
que, após análise do material e verificação de sua relevância para o estudo foram utilizados
13 livros, 02 dissertações, 01 monografia e 10 artigos científicos.
A análise dos resultados buscou construir uma argumentação com base científica a
partir da compreensão da ansiedade existencial, considerando as contribuições filosóficas
de autores como Kierkegaard, Martin Heidegger e Jean Paul Sartre, e também a partir de
contribuições da literatura existencial e humanista de teóricos como Carl Rogers, Rollo May e
Viktor Frankl, cujos conteúdos permitiram discutir diferentes pontos de vista sobre a relação
entre o ser no mundo e a ansiedade.
Ressalta-se que, de acordo com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde, esta pesquisa não apresenta riscos por não envolver a manipulação com seres hu-
manos, consequentemente, não foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Quanto aos benefícios, destaca-se a produção de conhecimento científico com
temática relevante dentro da psicologia no que se refere às competências da terapia exis-
tencial-humanista diante do atendimento de clientes com queixas de ansiedade.
88
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A concepção de existir para Kierkegaard (2010) está relacionada às escolhas que cada
um faz, porém, essa sensação de possibilidades diversas, sem orientação prévia ou garan-
tia de concretização do desejado, coloca a pessoa na condição de indecisão por conta da
dificuldade em escolher. Com isso, as relações estabelecidas com o mundo e com outras
pessoas geram a angústia, que representa a incerteza quanto a melhor escolha a ser feita
a cada momento e quais resultados serão produzidos.
Este mesmo autor estrutura seu pensamento nos ideais de liberdade de escolha e busca
de propósito, argumentando que o homem é livre para fazer escolhas e responsável para
dar sentido a elas através de seu próprio julgamento. No entanto, a sensação de liberdade
gera a angústia diante de uma existência solitária, mas que aumenta sua consciência e o
senso de responsabilidade frente ao caminho escolhido. (KIERKEGAARD, 2010)
Compreende-se que é nesse processo de escolha que a existência acontece, quando
a pessoa exerce a própria subjetividade passa a vivenciar a tensão entre a possibilidade
de escolha e o drama de escolher, que implicará necessariamente na renúncia de todas as
outras possibilidades do que poderia ter escolhido, tornando-se responsável pelos caminhos
que trilha em sua existência e pela relação que estabelece com os outros. Nesse sentido,
Por outro lado, a concepção de liberdade descrita na teoria de Martin Heidegger está
relacionada à capacidade de se vivenciar uma existência autêntica, ter autonomia e ser capaz
de não se envolver com possibilidades vazias, como experiências banais ou ser dominado
pelo medo. Essa liberdade tem relação intrínseca com a autonomia, o homem livre tem o
poder de tomar decisões, de agir e deixa de ser escravo do sentimento de morte, que para
este teórico não é um acontecimento, mas um fenômeno a ser compreendido existencial-
mente. (GOMES, 2016)
Ainda de acordo com o pensamento de Martin Heidegger, apesar do ser no mundo
dispor de possibilidades diversas, estas não são infinitas, uma vez que não se escolhe o
local de nascimento nem a época que se deseja viver. Porém, mesmo diante dessa limita-
ção, é justamente nesse espaço e tempo que as experiências são vivenciadas, sendo que, a
89
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
maneira como cada pessoa lida com suas angústias e preocupações define sua existência.
(BERNARDO, 2018)
Constata-se que o ser humano nem sempre consegue transcender plenamente so-
bre o mundo e sobre si mesmo, por estar constantemente diante de uma diversidade de
possibilidades, sobre as quais ele se projeta. Está sempre em tensão entre aquilo que está
sendo e o que virá a se tornar, essa condição gera o sentimento de inquietação. Trata-se
da dimensão fundamental do ser humano, a temporalidade, que o prende ao passado e, ao
mesmo tempo, o lança para o futuro. (CARRASCO, 2019)
Quando Sartre (1997) afirma que toda pessoa está condenada a ser livre, o ideal de
liberdade deixa de ser a possibilidade de escolhas e passa a ser uma condição da própria
existência humana. Neste sentido, não há como escolher ser ou não livre, pois a liberdade
está na essência humana, mesmo quando se opta pela “não escolha” acaba sendo também
uma escolha. Neste sentido, a possibilidade de escolha torna a liberdade um fardo, como se
fosse a própria morte, pois escolher significa renunciar algo que custa deixar.
Observa-se que diante de tal liberdade, o ser passa a experimentar a angústia, uma
necessidade de escolher uma opção a todo momento, diante de todas as possibilidades que
surgem e que se abrem em sua frente, porém sem saber qual delas será a melhor opção.
Uma maneira de tentar evitar esse sentimento é quando o sujeito coloca a responsabilidade
de sua escolha em algo que esteja fora dele, eximindo-se de responsabilidades, é o que
Sartre chama de ‘má-fé’. (CARRASCO, 2019)
Neste contexto, verifica-se que qualquer possibilidade que o sujeito escolher encon-
trará dificuldades. Há um equívoco em acreditar que se tivesse escolhido outro caminho
não seria exposto às tristezas, tão somente às alegrias. Na verdade a pessoa viveria outras
adversidades, afinal, somente se vive a realidade que escolheu.
CONCLUSÃO
94
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
e projetos, mas também ajudá-lo a questionar o seu projeto existencial e a assumi-lo de
forma mais livre e autêntica. (TEIXEIRA, 2012)
Outro aspecto importante observado nos resultados está relacionado às concepções
filosóficas analisadas, que consideram a liberdade de escolha como condição da própria
existência humana. Diante dessa perspectiva, a autonomia individual, mesmo proporcionando
a vivência de uma existência autêntica, pode desencadear sintomas de ansiedade diante do
protagonismo que o sujeito assume na formação de suas configurações pessoais.
Neste sentido, a questão-problema da pesquisa foi respondida, os objetivos foram
contemplados pois, o entendimento de ansiedade do ponto de vista do referencial existen-
cial-humanista está diretamente relacionado à forma como cada pessoa exerce sua subje-
tividade, o que pode resultar em uma tensão constante entre as diversas possibilidades de
existir e o drama da responsabilidade pelo caminho escolhido.
Não obstante a este cenário, compreende-se que os métodos e técnicas próprios da
psicoterapia existencial-humanista contribuem significativamente para a diminuição dos
sintomas de ansiedade, que além de intervirem sobre demandas significativas e não resol-
vidas do cliente, facilitam um encontro do sujeito consigo mesmo de modo que compreenda
seu projeto existencial e seja capaz de tomar suas decisões. Esse entendimento confirma
a hipótese inicialmente levantada.
Constatou-se durante a coleta de dados a escassez de produções científicas que
abordam a ansiedade tendo por base teórica o referencial existencial-humanista, o que
acabou limitando o aprofundamento das discussões em torno da temática proposta. Vale
destacar que não foram considerados para esta pesquisa os episódios de ansiedade de-
sencadeados pelo cenário atual de pandemia do Coronavirus, sendo relevante que seja
objeto de estudos e debates futuros no ambiente acadêmico, bem como no meio científico
com ampliação deste estudo.
Por fim, destaca-se a importância de discutir de forma reflexiva e crítica o processo de
adoecimento existencial provocado pela ansiedade, o que poderá contribuir não somente
com a responsabilidade social e acadêmica da psicologia, mais também com a prática clíni-
ca de profissionais que tenham o compromisso de proporcionar ao seu cliente uma melhor
qualidade de vida.
95
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas
REFERÊNCIAS
1. AMATUZZI, M. M. Por uma Psicologia Humana. Alínea editora. 2019.
6. DSM-5. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5.ed. Porto Alegre: Art-
med, 2014.
10. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
13. IAMIN, S. C. S. Carl Rogers: Revisitando Conceitos, Curitiba. Ed. do Autor, 2016.
17. MAY, R. A Descoberta do Ser: Estudos sobre a Psicologia Existencial. Rio de Janeiro:
96
Rocco. 1988.
19. OLIVEIRA, B. A. S., OLIVEIRA FILHO, J.B. Psicoterapia existencial humanista: a desco-
berta de si mesmo. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em <http://scholar.googleusercontent.
com/scholar?q=cache:-9l8jKhxvw8J:scholar.google.com/ &hl=pt-BR&as_sdt=0,5&scioq=an-
siedade+existencial+humanista>. Acesso em 30 ago. 2020.
20. OMS, Organização Mundial da Saúde. Atlas de Saúde Mental. 2017. Disponível em:<http://
portalods.com.br/publicacoes/atlas-de-saude-mental-2017/>. Acesso em 11 Set 2020.
22. PONTE, C. R. S. Reflexões sobre a angústia em Rollo May. Rev.NUFEN vol.5, no.1.
São Paulo, 2013. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S2175-25912013000100007>. Acesso em 10 Abr 2021.
97
Psicologia: abordagens teóricas e empíricas