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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Campus Poços de Caldas


Curso de psicologia

PSICOLOGIA E O LUTO POR SUICÍDIO: analise da literatura

Poços de Caldas
2020
Leidy Dayana Novais da Cruz

PSICOLOGIA E O LUTO POR SUICÍDIO: analise da literatura

Projeto de pesquisa apresentado à disciplina


Pesquisa e Prática em Psicologia: Projeto, do Curso
de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, Campus Poços de Caldas como
critério parcial de avaliação.

Docente responsável: Francisco Rogério de Oliveira


Bonatto

Poços de Caldas

2020
1. INTRODUÇÃO

O suicídio é um grave problema de saúde pública de cunho não biológico,


ocupando o segundo lugar no mundo nas causas de morte entre jovens com
idade de 19 a 29 anos. De acordo com dados coletados pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 800 mil pessoas morrem por
suicídio todos os anos, sendo que a cada 40 segundos uma pessoa tira a
própria vida (LUZ et al. 2017).
O suicídio é um fenômeno recorrente na atualidade e que envolve outras
pessoas além do próprio suicida, sendo milhares de famílias, amigos e colegas
que passam ou já passaram pela experiência de luto perante o suicídio. O tema
suicídio se caracteriza por ser alvo de abordagens e compreensões distintas
tanto pelas ciências quanto pela filosofia e pelas religiões. Segundo Ireland
(2011), o suicídio é um fato que se manifesta em formas distintas e é
multifacetado pelas abordagens e compreensões que o exploram como objeto.
É um tema carregado de impacto e sobressalto e que comporta situações de
dor e de sofrimento.
Dessa forma, o suicídio torna-se objeto de questionamentos e afirmações
que o definem, existindo várias tentativas de entender essa prática
relacionadas a diferentes áreas do conhecimento, como por exemplo através
da psiquiatria e pela abordagem sobre as práticas preventivas propostas pela
OMS.
Os efeitos causados pela consumação do suicídio, atingem de maneira
geral todas as pessoas que possuíam algum tipo de vínculo com o suicida, isto
inclui, família, amigos, colegas de trabalho, entre outros. Por ser uma morte
violenta, repentina e que pode provocar culpa e autoacusação, a elaboração do
luto perante o suicídio demanda muita energia psíquica (FUKUMITSU;
KOVÁCS, 2016).
Segundo Michel e Freitas (2019), O diagnóstico de luto complicado ou,
como apresentado no DSM-5 Transtorno do Luto Complexo Persistente,
caracteriza-se por uma série de sintomas de caráter melancólico que inclui:
“uma saudade persistente do falecido, que pode estar associada a intenso
pesar e choros frequentes ou preocupação com o falecido, e que se apresenta
persistente por mais de 12 meses entre adultos e por mais de seis em crianças
Para Marinho, Marinoni e Rodrigues (2007), a temática do luto abre vários
caminhos para possíveis reflexões e estudos, como por exemplo para a
Psiquiatria, Psicanalise, para as ciências do comportamento e biológicas, na
tentativa de melhor compreender este fenômeno e também de diminuir o
sofrimento humano.
Um dos temas mais estudados pela psicologia de acordo com Candido e
Tavares (2011), é o processo de luto. Este tema sempre esteve em debate
entre os pesquisadores e cientistas, sendo analisado a fundo por Sigmund
Freud dando origem ao livro Luto e Melancolia (1917/1996). Atualmente o tema
se atualizou, surgindo novas noções que percebem o luto enquanto um
processo de transição psicossocial e de reconstrução de significado
(CANDIDO; TAVARES, 2011).
Portanto percebe-se que existem diversos modelos explicativos da
psicologia em relação ao luto, mas quais as contribuições existentes da
psicologia para a compreensão do processo de luto por suicídio?
Neste sentido, o presente estudo possui como temática a compreensão do
luto por suicídio através de diferentes abordagens teóricas da psicologia. O
principal objetivo é analisar através da literatura, quais as contribuições de
diferentes abordagens teóricas da psicologia na compreensão do luto por
suicídio. Para tanto foram estabelecidos três objetivos específicos: identificar os
diferentes tipos de luto; definir como ocorre o processo de luto por suicídio; e
especificar quais os processos que a psicologia apresenta para a superação do
luto por suicídio.
Segundo Silva e Marinho (2017), o processo de luto é necessário, visto
que o enlutado vivencia intensos aspectos reacionais pós-morte, necessitando
expressá-los para processar a perda. Neste sentido é de grande relevância
compreender através da literatura como a psicologia vem estudando o
processo de luto por suicídio.
A partir da revisão da literatura sobre luto por suicídio, a presente pesquisa
pode auxiliar de forma teórica e pratica a comunidade acadêmica a aprofundar
os estudos sobre a temática e ter uma base teórica para possíveis atuações
em casos de luto por suicídio. Também pode beneficiar a população que está
passando ou tem probabilidade de passar pela situação de luto por suicídio,
podendo servir como base informativa para as pessoas enlutadas ao
demonstrar que essa situação é vivenciada por outras pessoas e que existem
estudos que buscam compreender os sentimentos e vivências pelas quais elas
estão passando e que facilitam o processo de luto por suicídio.

2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização da pesquisa é a da pesquisa


bibliográfica, pois permiti um estudo exploratório e descritivo sobre o processo
do luto perante o suicídio, a partir da aproximação do objeto estudado através
de fontes bibliográficas já existes. Segundo Gil sitado por Lima e Mioto (2007),
a pesquisa bibliográfica possibilita um amplo alcance de informações, além de
permitir a utilização de dados dispersos em inúmeras publicações, auxiliando
também na construção, ou na melhor definição do quadro conceitual que
envolve o objeto de estudo proposto.
A pesquisa será realizada por etapas, afim de melhor organizar sua
construção e também utilizar as técnicas que fazem parte da pesquisa
bibliográfica. Em um primeiro momento será realizada a coleta da
documentação. Este momento será dividido em levantamento da bibliografia
em bases de dados de artigos científicos, através de palavras chaves como
luto, suicídio, luto por suicídio, suicido e sobreviventes, também serão
utilizados materiais primários, como livros. Posteriormente será feito um
levantamento das informações contidas na bibliografia, um estudo dos dados e
das informações presentes no material bibliográfico que se enquadrem na
temática proposta. Neste primeiro momento será utilizado as técnicas de leitura
exploratória e seletiva, que permitem verificar se as informações e os dados
selecionados interessam de fato para o estudo e determinar o material que de
fato interessa, aqueles que se relacionam diretamente aos objetivos da
pesquisa (Lima; MIOTO, 2007).
Para a segunda etapa será realizada uma análise da documentação,
priorizando o conteúdo das afirmações. De acordo com Lima e Mioto (2007),
esta fase não está mais ligada à exploração do material pertinente ao estudo; é
construída sob a capacidade crítica do pesquisador para explicar ou justificar
os dados e informações contidas no material selecionado. Para tanto, será feita
uma leitura reflexiva e crítica do material escolhido com a finalidade de
organizar as informações contidas no material. Nesta etapa se pretende
responder aos objetivos da pesquisa.
No terceiro e último momento irá se realizar uma síntese integradora, que
consiste no produto final do processo de investigação, resultante da análise e
reflexão dos documentos. Neste momento pretende-se dar uma solução ao
problema levantado. Para isso será feita uma leitura interpretativa do material
coletado, com o objetivo de relacionar as ideias expressas na obra com o
problema que busca responder. Este momento corresponde na interpretação
das ideias do autor, acompanhada de uma inter-relação destas com o propósito
do pesquisador. Então este momento será constituído pela análise e
interpretação dos dados coletados a respeito do tema proposto, para
apresentar uma reflexão realizada a partir do referencial teórico e dos dados
obtidos com o intuito de realizar uma aproximação crítica acerca de como a
literatura em psicologia compreende o processo de luto frente ao suicídio.

3. REVISÃO HISTÓRICA E DEFINIÇÃO SOBRE OS ESTUDOS


REFERENTE AO LUTO

O luto pode ser definido, em uma perspectiva mais abrangente, como o


momento posterior a morte de um ente querido. Porém, ele não se restringe
apenas à perda por morte, podendo estar associado a outros tipos de perda,
como um divórcio, demissão de um emprego, mudanças de ambiente e perda
de objetos significativos (RAMOS, 2016). Tudo aquilo em que há um
investimento psíquico e envolve afeto, ao haver uma separação, perda ou
modificação na relação criada, há a possibilidade de passar por um processo
de luto. Neste estudo, será abordada definições de luto perante a morte, visto
que o principal objetivo é apresentar teorizações em relação ao luto por
suicídio.
Para entender melhor em quais condições o luto passa a ser objeto de
estudo, é importante compreender como a questão da finitude foi pensada ao
longo da história e das diferentes culturas. Ariés citado por Basso e Wainer
(2011), afirma que nas antigas culturas da Idade Média a morte era
considerada natural ao ser humano, vivenciada de maneira tranquila e
resignada. Eram vividas no âmbito familiar e ocorriam rituais em cerimônias
públicas permitindo a participação e expressão de sentimentos pela perda de
todas as pessoas que eram do círculo de convivência do morto.
Na idade Média, apesar da morte ser vivenciada cotidianamente ela
passa ser compreendida como um fracasso do ser humano perante a vida e a
finitude passa a ser uma questão relaciona a uma vontade divina. Com isso a
entrada no paraíso estava diretamente ligada com a fé, a devoção e ações
realizadas. Um outro aspecto importante encontrado na antiguidade, é a
percepção da morte relacionada a um certo romantismo, que de certa forma,
através das poesias, das músicas e expressões artísticas em geral, permitiu a
liberação das fantasias, do imaginário e emoções em relação ao desconhecido,
e ao irracional em relação a morte (BASSO; WAINER, 2011).
Com o avanço da ciência e da industrialização a morte começa a ser
interpretada como um inconformismo em relação a perda do outro e também a
própria finitude. Essas mudanças sociais vão provocando o afastamento da
morte no cotidiano. Após esse momento, com a continuação do avanço
cientifico a morte é desvinculada da religião e a ciência passa a revelar suas
causas através das doenças o que provoca um abalo no credo religioso
(BASSO; WAINER, 2011).
Ver responsabilidade do Estado com relação ao controle da natalidade,
das doenças e da morte (estatísticas). Estado Moderno em relação ao controle
da morte.
Atualmente a morte é vista como um tabu, cercada por mistérios e
crenças, muitas vezes sendo negada por ser um tema obscuro. As pessoas se
encontram despreparadas para lidar com as questões da finitude humana,
dificultando a aceitação do encerramento do ciclo de vida. Esse medo perante
a morte e dificuldades de aceitação podem gerar muitas dores físicas,
emocionais e psicológicas nas pessoas. Este momento pode favorecer o
sentimento de fragilidade nas pessoas que estão em um estado terminal e
também nos familiares e amigos que acompanham essa pessoa. Portanto a
morte é um momento difícil de ser enfrentado, e a elaboração dessa perda é o
que se define como o processo de luto (BASSO; WAINER, 2011).
Atualmente o conceito de luto está associado a um processo normal e
esperado em consequência de um rompimento de vinculo, mas nem sempre o
luto foi compreendido desta maneira. Nas primeiras tentativas de definição
desse processo, ele era entendido como algo que provocava um adoecimento
físico ou mental (FRANCO, 2014). Primeiramente o luto começa a ser estudado
e associado à melancolia, que tinha como principal sintoma o pesar. Segundo
Parkes citado por Franco (2014), um estudioso da história da evolução dos
estudos sobre o luto, essa primeira aproximação com o luto foi realizada no
ano de 1621, pelo médico Robert Burton, que publicou o livro The Anatomy of
Melancholie. Nos séculos 17 e 18 o luto era considerado como causa de morte,
por tanto se prescreviam medicamentos para o que denominavam luto
patológico.
Uma outra obra destacada por Parkes e que trata sobre as questões do
luto é denominada ´´The Expression of Emotions in Man and Animals``, de
Charles Darwin em 1872. Nesta obra Darwim apresenta evidências de que
muitas espécies animais choram quando perdem ou se separam daqueles
pelos quais estão vinculadas. Neste sentido, o comportamento de luto está
presente nas possibilidades de experiência e expressão do ser humano e de
outras espécies já a partir de um ponto de vista etológico (FRANCO, 2014).
Em 1917 Freud publica a obra Luto e Melancolia influenciado pelo
contexto da I Guerra Mundial, ele aponta a partir de suas observações clinicas
as diferenças entre o pesar e a melancolia, e considerou que o luto tido como
causa de depressão é resultado de relações ambivalentes (FRANCO, 2014).
Segundo Freud luto é a ``reação à perda de um ente querido, à perda de
alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a
liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante” (FREUD apud SOUSA;
PONTES, 2016). Isso significa que as experiências dos afetos geradas pelo
luto surgem como um sentimento profundo, de doloroso abatimento, perda de
interesse pelo mundo externo e da capacidade de eleger um novo objeto de
amor. Neste sentido para a psicanálise o luto possui um caráter singular,
podendo ser vivenciado de várias maneiras, envolvendo perdas relacionadas à
morte propriamente dita, ou perdas subjetivas (SOUSA; PONTES, 2016, p. 70).
Segundo Franco (2014), a partir da II Guerra Mundial novos estudos e
definições sobre o luto começam a surgir. Em 1941, na obra Traumatic
Neuroses of War, o estudioso Kardiner expõe a vivência do sofrimento
daquelas pessoas que eram expostas cotidianamente ao risco de morte, e suas
consequências para a saúde. Em 1944, após um incêndio em uma discoteca,
uma situação de luto agudo é descrita por Lindemann citado por Franco (2014)
em que ele define o que considerava normal no luto e destaca os efeitos
indesejáveis quando há a repressão do luto. Lindemann também descreveu em
seus estudos sobre o luto antecipatório, através da experiência de esposas de
soldados convocados para a guerra. Em 1949, há a definição de luto crónico,
por Anderson, sendo entendido como um distúrbio psiquiátrico muito comum,
acompanhado por estados ansioso e de depressão maníaca (FRANCO, 2014).
A partir do exposto até o momento, percebe-se que os estudos e
definições em relação ao luto se referem a reações emocionais fisiológicas que
poderiam ser comparadas a uma doença, se buscava definir o que era
patológico ou não no processo de superação do luto. De acordo com Franco
(2014), a parti da descrição do luto como uma doença e fácil identificação de
sua sintomatologia, os profissionais da saúde passaram a adotar este modelo.
Com o tempo, este campo de estudo foi sendo ampliado e novas formulações
sobre o luto foram surgindo, como aquelas que buscam identificar a existência
de fases para sua experiência (FRANCO, 2014).
Uma outra importante teorização e mais recente são os estágios de reação
a perda descritos por Elizabeth Kubler-Ross (2005). Nesta teorização, no
primeiro estágio a negação e o isolamento servem como um mecanismo de
defesa temporário para aliviar o impacto da notícia, há uma recusa ao enfrentar
a situação. A raiva se caracteriza como o segundo estágio e é o momento em
que a pessoa externaliza a revolta que está sentindo. Neste momento há
também a procura por culpados e surgem questionamentos. O terceiro estágio
é a barganha, em que há uma tentativa de negociar ou adiar os temores diante
da situação. A depressão é o quarto estágio e é dividida em preparatória e
reativa. A preparatória é o momento em que a aceitação está mais próxima,
nesse momento a pessoa fica mais quieta, repensando e processando o que a
vida fez com ela e o que ela fez com a vida. Já a depressão reativa ocorre
quando há mais perdas devido a perda do morto, como por exemplo, a perda
do emprego e perda de papéis no âmbito familiar. O último estágio de reação a
perda e o de aceitação, em que a pessoa se encontra mais serena frente ao
fato de morrer, conseguindo expressar de forma mais clara seus sentimentos,
emoções, frustrações e dificuldades que a circundam (BASSO; WAINER,
2011).
O luto também pode ser entendido do ponto de vista psicossocial, como
afirma Parkes citado por Ramos (2016). Para ele o luto é uma transição
psicossocial, um processo de emoção que conduz a pessoa em relação a algo
ou a alguém que lhe faz falta. Segundo o autor cada pessoa vivencia o luto de
forma única, através de duas vertentes, perdas e ganhos. Ramos (2016, p. 5)
afirma que as mudanças bruscas que ocorrem ao longo da vida geram uma
reestruturação das conexões que as pessoas possuem acerca do mundo,
ocorrendo as transições psicossociais.
A partir do exposto fica evidente que o estudo sobre o luto não se
restringe apenas a um campo do saber, sendo estudado pela Psiquiatria,
Psicanalise, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Etologia, entre outros. O luto
reflete as representações sociais do ser humano em relação a vida e a morte,
podendo desta forma ser trabalhado a partir de múltiplas referencias, como a
experiência de transição psicossocial, experiência de crescimento, doença,
crise, fim, experiência simbólica, parte inerente da vida moderna (FRANCO,
2014). Neste sentido, torna-se importante conhecer os conceitos e evolução da
história dos estudos sobre o luto para que posteriormente possa se estabelecer
relações com os objetivos deste trabalho.

3. 1 Aspectos psicossociais do luto por suicídio

Assim como a morte pode ser compreendida como o fim da história de um


indivíduo, também pode significar um evento marcante na vida de outras
pessoas que eram próximas a esse indivíduo. De modo proporcional ao
crescimento de mortes provocadas por suicídio, está o crescimento do número
de pessoas em que as vidas são abaladas, emocional, social, e
economicamente a cada ano (CANDIDO; 2011). Segundo dados emitidos pela
OMS (2000, apud CANDIDO 2011), estima-se que para cada morte causada
por suicídio, de cinco a dez pessoas do círculo de contato próximo da vítima
sofrerão com o impacto da perda. Nos Estados Unidos, por exemplo, este
número pode chegar a uma população de 300.000 novos enlutados por suicídio
ao ano. Este número pode ser bem maior se levar em consideração os casos
que não são registrados como suicídio, isso devido ao fato do estigma que gira
em torno do suicídio, fazendo com que muitas vezes os familiares não se
sintam à vontade para registrar a real causa da morte do ente querido.
De acordo com Candido (2011), existem estatísticas menos
conservadoras que a da OMS e que estimam que para cada suicídio cerca de
28 pessoas diferentes podem ser impactadas pelo ato. Esta estatística foi
desenvolvida pela pesquisadora Doris Bland do Baton Roug Crises Intervention
Center (BRCI), que identificou dentre 214 indivíduos que procuraram
espontaneamente os serviços de apoio do BRCI, uma grande variedade de
graus de parentesco e outras modalidades de relação com o falecido, como:
pais, irmãos, amigos próximos, igreja, alunos e colegas de trabalho (CANDIDO;
2011).
Pesquisas comprovam que o luto por suicídio pode se desenvolver com
complicações psicológicas. Dentre essas complicações alguns afetos são
considerados como exclusivos ou mais intensos neste processo de luto, como
sentimento de culpa, vergonha, raiva, sensação de angústia ou falta de sentido
existencial, sentimento de estigmatização, de falta de apoio ou compreensão
dos outros, assim como uma maior tendência ao isolamento (CÂNDIDO, 2011).
Os enlutados por suicídio também são mais propensos a apresentar
transtornos ansiosos e depressivos, assim como tendência a ideações e ao
comportamento suicida. Outra dimensão que também pode ser afetada é o
sistema familiar que se encontra inserido no contexto suicida, que passam a
apresentar mais dificuldades psicossociais antes do falecimento. Estas famílias
apresentariam maior incidência de conflitos interpessoais, transtornos mentais
e uso de substâncias (GOULD, KRAMER, 2003; MOURA, 2006; ADAM, 1981;
SÉGUIN, LESAGE, KIELY, 1995, CITADO POR ELLENBOGEN, GRATTON,
2001 apud CÂNDIDO, 2011).
A morte por suicídio na maioria das vezes é sentida como algo
inesperado e absurdo, mesmo havendo vários sinais que antecedem ao ato.
De acordo com Cândido (2011), os sobreviventes de suicídio relatam que, a
despeito da existência de diversos sinais antecipatórios, não haviam pensado
na concretização do ato como uma possibilidade real. Quando a morte se
concretiza, muitos reagem com a mesma surpresa e descrença que se percebe
em mortes acidentais. Após a surpresa do suicídio, os enlutados entram em
estado quase que obsessivo de questionamentos a respeito dos significados
das circunstâncias que levaram o indivíduo ao ato suicida. Geralmente esses
questionamentos e pensamentos são acompanhados por reações emocionais
intensas como angústia e raiva (BOLWBY, 1985; ELLENOGEN, GATTON,
2001, MOURA, 2006 apud CÂNDIDO, 2011). Geralmente os suicídios
acontecem dentro ou nas cercanias da casa, com isso os familiares são os
primeiros a presenciarem a cena do corpo. Portanto é frequente, entre os
sobreviventes, a presença de quadros sintomáticos associados ao Transtorno
de Estresse Pós-traumático (TEPT).
Segundo Cândido (2011), os sobreviventes de suicídio mostram níveis
mais altos de culpa, acusação e responsabilização que outros enlutados.
Enlutados por suicídio se perguntam com muita frequência porque não fizeram
nada para evitar a morte do ente querido. É comum que se sintam os
responsáveis diretos pelo suicídio, por não terem oferecido atenção suficiente
aos sinais que anunciavam o ato, ou por terem abandonado a pessoa nos
momentos próximos à morte. Portanto se acusam por não terem antecipado ou
prevenido o ato suicida (CLEIREN, 1993; DEMI, 1984; KOVARSKY, 1989;
MCNIEL, HATCHER, REUBIN, 1988; MILES, DEMI, 1991–1992; REED,
GREENWALD, 1991; SILVERMAN ET AL., 1994–1995, citado por JORDAN,
2001 apud CÂNDIDO, 2011).
Um tipo de questionamento comum entre os sobreviventes é - Como ele
pode ter feito isso comigo? Ou mesmo ― O que eu fiz para merecer que ele
fizesse isso comigo? Esses questionamentos levam os enlutados a
experimentarem intensos sentimento de rejeição e abandono e com isso
tendem a viver uma grande raiva do falecido e de si mesmos. (BARRETT,
SCOTT, 1990; REED, 1998; REED, GREENWALD, 1991; SILVERMAN ET AL.,
1994–1995; VAN DER WAL, 1989–1990,citado por JORDAN, 2001 apud
CÂNDIDO, 2011). Cândido (2011) destaca que crianças que se tornam órfãs
em decorrência do suicídio, são mais vulneráveis ao sentimento de culpa e
abandono. Elas são particularmente propensas a interpretar o suicídio como
uma rejeição, associando este ato à ideia de que são, de algum modo,
culpadas, não foram boas, ou não se comportaram o suficiente para merecer o
amor de seus pais. Essas crenças, mesmo que fantasiosas, podem gerar
consequências duradouras no desenvolvimento de sua autoestima.
Outro ponto a ser abordado quando se trata de morte por suicídio é a
forma com que a sociedade julga tanto quem se matou como seus familiares.
Existem estudos que sugerem que os enlutados por suicídio são de fato
representados de um modo mais negativo pelos que lhe rodeiam. Segundo
Jordan citado por Cândido (2011), as representações sociais negativas que são
associadas aos suicidas na maior parte das culturas acabam afetando as
pessoas próximas, afetando sobremaneira, as pessoas de seu grupo familiar.
Mas isso não significa, porém, que as atitudes negativas frente ao suicídio
venham necessariamente a se traduzir numa falta ou insuficiência de suporte
aos enlutados. Muitas pessoas da comunidade parecem genuinamente
interessadas em ajudá-los. Cândido (2011), explica que a estigmatização
acaba por se expressar numa espécie de incomodo, na medida em que as
pessoas acreditam não saber como oferecer ajuda adequada aos
sobreviventes. É bem provável que este incômodo seja percebido pelos
enlutados, que o sentem como uma espécie de rejeição e auto-estigmatização.
De acordo com pesquisas realizadas por Range e Calhoun (1990 apud
CÂNDIDO, 2011), os enlutados por suicídio sentem-se mais pressionados que
os outros enlutados a mentir ou omitir as reais causas da morte, o que
comprova a existência da auto-estigmatização entre os sobreviventes.
Tomadas em conjunto, as pesquisas sugerem que as interações sociais e a
qualidade do suporte social aos enlutados por suicídio é mais problemática do
que aquela oferecida aos enlutados por outros modos de morte.
Alguns estudos sugerem que as famílias enlutadas por suicídio possuem
uma maior chance de desenvolver a forma de luto complicado devido ao fato
de existirem padrões de interação disfuncional já existentes antes mesmo do
ato suicida. Alguns desses padrões disfuncionais citados por Cândido (2011),
são: relações conflituosas entre os familiares, histórico de problemas mentais,
adição em álcool e outras drogas, tentativas de suicídio, históricos de abuso
sexual, abandono e perdas parentais precoce. Esses padrões disfuncionais de
relações nos sistemas familiares podem atuar tanto na origem e no
desenvolvimento das vulnerabilidades psicossociais que desencadeiam o
suicídio, como podem exercer um papel relevante como motivador no momento
da morte em si. As famílias de sobreviventes de suicídio tendem a apresentar
uma série de dificuldades e riscos psicossociais mais severos que antecedem e
mesmo condicionam a morte. Portanto, é esperado que essas famílias
continuem a apresentar as mesmas dinâmicas disfuncionais, ou mesmo, que
passem a apresentar dificuldades e riscos psicossociais ainda maiores após a
morte.
Mas mesmo em famílias que não possuem um sistema de relações
disfuncionais, o suicídio pode contribuir para o surgimento de diferentes formas
de adoecimentos psiquiátricos. Cândido (2011) indica duas possíveis
explicações para esse fato. A primeira diz respeito ao fato de que qualquer tipo
de rompimento de laço afetivo, sendo ele por morte ou não, já é um fator que
alimenta o risco de suicídio. E a segunda hipótese se refere ao fator genético e
ambiental que podem contribuir para uma predisposição maior no risco de
suicídio para o sistema familiar. Há evidências de que transtornos psiquiátricos,
claramente associados ao aumento do risco de suicídio, como os transtornos
de humor, tenham uma causa genética cuja herança possa ser compartilhada
entre vários indivíduos de um mesmo grupo familiar (KETY, 1990; MOSICKI,
1995, citado por JORDAN, 2001 apud CÂNDIDO, 2011). Uma questão
importante a se destacar é que a morte por suicídio pode introduzir no contexto
familiar a noção de que os problemas podem ser resolvidos através do suicídio,
o que pode facilitar processos psicológicos como a imitação. Este processo tem
como pano de fundo a identificação entre uma vítima em potencial e a pessoa
que faleceu e parece mais comum entre as crianças e os jovens e entre os
adultos expostos precocemente ao suicídio de seus irmãos mais velhos ou pais
(JORDAN, 2001 apud CÂNDIDO, 2011).
Em relação a coesão familiar pós suicídio, Candido (2011), demonstra
que muitos dos enlutados entrevistados em estudos sobre o tema, afirmam ter
percebido um distanciamento significativo na comunicação entre os familiares e
amigos após o suicídio do ente querido. Em contrapartida uma outra
quantidade de enlutados afirmaram ter percebido uma maior aproximação entre
os membros familiares após o ocorrido. Estas informações corroboram com a
percepção de que, famílias podem reagir de maneiras diferentes frente a uma
morte traumática de um de seus membros. Algumas se orientam no sentido de
preservação da unidade familiar, enfrentando a crise inicial com uma atitude de
afirmação da coesão grupal. Já outras famílias, podem enfrentar a crise se
desfazendo, ocorrendo a separação total ou parcial do grupo, o que se justifica
pelo fato da morte traumática colocar o grupo familiar diante de uma situação
em que o clima de raiva, culpa e acusações mutuas se perpetua (JORDAN,
KRAUS, WARE apud CÂNDIDO 2011, pg. 109-110).
Bowlby citado por Cândido (2011), explica que a pessoa morta pode ser
responsabilizada por ter abandonado os sobreviventes ou então a culpa pela
morte pode recair sobre um ou mais parentes, dando a entender que estes
podem ter sido responsáveis pela indução da tomada de decisão da pessoa
que faleceu. A culpa pode ser depositada em parentes próximos, como
cônjuges, pais e filhos. Geralmente quem faz as acusações são parentes mais
distantes do ciclo de convivência do falecido, vizinhos e em alguns casos o
próprio cônjuge se acusa por talvez não ter feito o bastante para impedir o
suicídio.
Em relação a uma boa recuperação familiar após o suicídio, pesquisas
indicam que famílias que se abrem para um diálogo sincero sobre suas
emoções e concepções sobre a respeito da perda, possuem um resultado mais
satisfatório no processo de luto em relação àquelas famílias que possuem um
padrão disfuncional de interação. Segundo Jordan, Kraus e Ware (apud
CÂNDIDO 2011, p. 111), famílias que possuem padrão de enfrentamento
disfuncional, tendem a sufocar a livre expressão dos sentimentos dos seus
membros, isolando a comunicação entre eles. Este comportamento se associa
a modo de mortes que levam consigo elementos que a caracterizam como um
tema tabu, o que faz com que os membros familiares se sintam proibidos de
compartilhar ou confrontar sentimentos relevantes. Com isso é estabelecido um
clima de repressão que acaba sendo internalizado na vida emocional da
família, tornando-se um legado indesejável para as futuras gerações (JORDAN,
KRAUS, WARE apud CÂNDIDO 2011).

4. CONTRIBUIÇÕES DAS DIFERENTES ARBODAGENS DA


PSICOLOGIA PARA O ENTENDIMENTO DO PROCESSO DE LUTO
POR SUICÍDIO

4. 1 Psicologia Fenomenológica-Existencial e o luto por suicídio

De acordo com Gomes e Sousa (2017), para o filósofo Merleau-Ponty, a


fenomenologia é o estudo das essências, uma filosofia que recoloca as
essências na existência, reconstituindo a relação entre homem e mundo.
Explica que a intersubjetividade (relação eu-tu) é uma estrutura da vida
intencional que revela o ser em situação. É na presença do outro que o sujeito
torna visível a si mesmo, onde a intercorporeidade, relação entre ``eu e o
outro`` através da experiência do corpo, é a troca primeira. Sendo com o outro
um campo relacional, a coexistência em um mesmo mundo funda, por meio da
intercorporeidade, as relações e as experiências subjetivas. A
intersubjetividade é, portanto, a articulação da experiência, tornando-a possível
na dinâmica da intercoporiedade (FREITAS, 2013).
Levando em consideração que o outro é co-presença, sua desaparição
quanto mortal produz uma modificação do campo existencial do eu, do mundo
vivido, exigindo da pessoa novas formas de ser-no-mundo. É neste campo que
o ser humano experiência o luto, um campo que exige novos sentidos de uma
forma de ser-no-mundo, de ressignificação da relação vivida com o ente
perdido. Diante de uma situação de morte de um ente querido e o processo de
luto vivido, o “tu” não desaparece necessariamente, mas desaparece antes
uma maneira de ser “eu” diante do “tu”, pois o outro é uma experiência de
abertura para o mundo (FREITAS, 2013).
O processo de luto é necessário, visto que o enlutado vivencia intensos
aspectos reacionais pós-morte e, portanto, precisa expressá-los para processar
a perda. O tempo necessário para passar pelo processo de luto depende de
como cada pessoa enfrenta a situação de perda e suas estratégias para
supera-la. No entanto, a principal característica no luto é o sentimento de
solidão (FUKUMITSU; KOVÁCS, 2016). De acordo com Kovács citado por
Fukumitsu e Kovács (2016, p.4), existem alguns fatores que podem influenciar
no processo de luto: ``a) a relação com a pessoa perdida; (b) natureza da
ligação: (intensidade, segurança, ambivalência ou conflitos) (c) forma da morte:
repentina e violenta; (d) antecedentes históricos e (e) variáveis de
personalidade e sociais``.

Neste sentido, o luto é um processo dinâmico que varia de pessoa para


pessoa, e desperta diferentes sentimentos e sensações como dor, frustração,
culpa, dificuldade de encontrar sentido nas coisas, tristeza, raiva, choque,
negação e entorpecimento. Ao se pensar no luto quando há uma perda de
forma violenta e abrupta, como ocorre no suicídio, os efeitos desse tipo de
morte atingem de modo geral todas as pessoas que possuíam algum tipo de
vínculo com o falecido, principalmente os familiares que possuíam uma maior
convivência com ele.

Segundo Tavares (2013), emoções muito poderosas podem surgir quando


se tem consumação do suicídio, emoções como: medo, culpa, raiva, tristeza,
ansiedade, vergonha e saudade. Mas além dessas emoções, os enlutados
podem ser afetados também por outras decorrências dessas emoções
intensas, como a “negação, depressão, isolamento, não aceitação daquela
ausência, problemas de ajustamento, dificuldades de estabelecer novas
relações, sensação de desespero, queda de produtividade, desenvolvimento de
transtornos mentais, aumento do uso de drogas ou álcool e desinvestimento
em sua própria vida”.

Segundo Silva e Marinho (2017), no processo de luto por suicídio pode


aparecer alguns sintomas físicos, como dormência, alteração do apetite, perda
de interesse por atividades cotidianas, cansaço, anestesia emocional, e
desprendimento da realidade. Os enlutados podem apresentar sensações de
alivio e sentimentos contraditórios, isso devido ao fato de a família já vir lidando
com o sofrimento da pessoa, ligado a falta de perspectiva de vida, problemas
referentes a transtorno mental, dependência de drogas e comportamento auto
lesivos. Esse sentimento de alivio não se refere a morte em si, mas ao
desgaste, estresse e rompimento de dinâmicas que a situação desencadeia na
vivência com o suicida.
Estudos demonstram que os sobreviventes, termo utilizado para nomear
familiares, companheiros, colegas e amigos de alguém que morreu por
suicídio, possuem propensão a desenvolverem sintomatologia psicopatológica
e transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, além de
desenvolverem altos níveis de ideação suicida. O suicídio de um ente querido
também pode provocar nos sobreviventes o luto complicado, em que há uma
grande dificuldade em aceitar a perda, o que interfere no estado emocional e
causa impactos significativos em diversos âmbitos da vida do indivíduo. A
pessoa não consegue se desligar e desvincular o pensamento ao ato, é como
se uma parte da pessoa morresse junto com o ente, devido ao tipo de interação
e vínculo criado (SILVA; MARINHO, 2017).
Parkes citado por Silva e Marinho (2017), descreve alguns fatores que
caracterizam o luto complicado. São eles: o foco extremo na perda;
permanência de lembranças da pessoa; intenso desejo ou receio de encontrá-
la, assim como a dificuldade para realizar atividades do cotidiano; estado de
humor permanentemente alterado; comportamento antissocial; ideação suicida
e comportamentos autodestrutivos. O autor afirma que é possível este tipo de
sintomatologia se apresentar no luto normal, porém quando não há evolução
ou melhoras dos sintomas com o decorrer do tempo, isso indica um luto
complicado.
A necessidade de reconstruir as condições, os significados e as
motivações do ato suicida, são condições comuns entre os sobreviventes do
suicídio, já que esse ato compromete a estabilidade dos membros da família e
promove dificuldades ao lidar com sentimentos ambíguos. Neste sentido torna-
se importante que os sobreviventes eternizem o tempo vivido com o ente que
se foi sem o esquecer, ou seja, é preciso lembrar da pessoa que se foi não
apenas como um suicida, mas como alguém que teve construções
significativas durante sua vida, o que faz dessa etapa uma forma de adaptação
e uma maneira de aliviar o sofrimento para continuar vivendo.
Para Fukumitsu e Kovács (2016), o luto oscila entre dois estressores: a
``orientação para a perda``, e a ``orientação para a restauração``. Com isso
espera-se que a pessoa encontre significados para a perda por suicídio e
possa viver dialeticamente seu processo de luto. Então, além de ter que lidar
com a morte e suas repercussões o enlutado precisa aprender a lidar com a
ausência. Com isso pode surgir o desejo de resgatar o vínculo com o morto
(orientação para a perda), por conseguinte começa-se a buscar a
reestruturação da vida. O suicídio não significa apenas matar a si mesmo, este
é um ato que engloba outras pessoas provocando sofrimento aos que ficaram e
vivenciaram o seu impacto.
Para Silva e Marinho (2017), os familiares e amigos do suicida precisam
receber apoio para que não se instale a responsabilização pelo ato. No que diz
respeito à clínica psicológica, é preciso identificar e monitorar a dinâmica
psíquica, assim como os pensamentos e comportamentos que direcionam ao
patológico. Neste sentido as intervenções devem incluir o suporte,
aconselhamento, e psicoterapia, visto que se trata de uma população que corre
o risco de ocorrer novos suicídios e o desenvolvimento de transtornos mentais.
Segundo Luz et al (2017), pensar na morte por suicídio pode significar
muitos tabus e preconceitos, o que faz com que as pessoas mais próximas ao
suicida fiquem em uma condição de profundo desamparo e vergonha. Essa
morte impacta, escandaliza, causa desordem e um misto de intensos
sentimentos. Uma das dificuldades em amparar e acolher o enlutado por
suicídio está relacionada a própria dificuldade em compreender e significar tal
ato.
Em uma pesquisa realiza do por Fukumitsu e Kovács (2016), sobre as
especificidades que diferenciam o processo do luto após o suicídio dos outros
tipos de luto causado por outras mortes, ao entrevistarem filhos de pais que se
suicidaram foi possível extrair algumas unidades de significados que
caracterizam o processo de luto dos filhos perante o suicido dos pais. Em uma
dessas unidades se discute a importância de se prestar uma atenção maior
para os enlutados que passaram pelo impacto de encontrar o corpo do ente
querido. A imagem do corpo morto e da morte personificada na pessoa amada
fica registrada na mente, e por mais que o enlutado tente se afastar dessa
visão, ele não consegue. Com a violência da cena, os participantes relataram
se sentir anestesiados, em choque, e em um momento posterior passaram a
demonstrar interesse por histórias de pessoas que passaram pela mesma
situação. O acolhimento dessas pessoas enlutadas deve ser feito respeitando a
singularidade e as limitações de cada um. O suicídio é um acontecimento que
demanda do sobrevivente reconstruir novos sentidos para dar continuidade a
sua vida (FUKUMITSU E KOVÁCS, 2016).
A pesquisa também abrange uma unidade de significado que diz sobre a
transferência psíquica transgeracional, que é conhecida como contexto familiar
suicidogênico. Surge no enlutado uma fantasia imitativa do suicídio, um medo
de que por seu ente querido ter morrido por suicídio, seu destino será o
mesmo. A morte por suicídio pode não ter seu sentido compreendido e em
algumas situações o enlutado não consegue dar sentido as suas aflições
(FUKUMITSU E KOVÁCS, 2016). Alguns enlutados precisam reconstruir ou
construir uma história vívida com a pessoa que se matou para assim tentar se
conectar com a própria história. Segundo Fukumitsu e Kovács (2016, p.8) as
``famílias inseridas no contexto da crise suicida precisam de auxílio e amparo
para que possam ressignificar comportamentos autodestrutivos``. Precisam
rever suas vivências e se reconstruir como um sistema de apoio e proteção.
No que se refere a intervenções destinadas ao suporte das pessoas
enlutadas por suicídio, pode- se destacar o desenvolvimento do serviço de
``Pósvenção``. Este termo foi cunhado por Shneidman e é um serviço ainda
pouco conhecido, sua finalidade é a recuperação psicológica pós-
acontecimento, ao incluir também a prevenção de possíveis comportamentos
autodestrutivos àqueles que ficaram em vida em um estado de vulnerabilidade
e condições de risco. Essas intervenções são realizadas através de
informação, apoio, assistência e acompanhamento, considerando o fator de
risco presente nos enlutados (SILVA; MARINHO, 2017). Segundo Miranda
(2014), a intervenção após o suicídio visa amenizar as sequelas psicológicas
decorrentes da perda por suicídio e também possui a finalidade de prevenir de
futuros suicídios, desenvolvimento de transtornos mentais e luto complicado
podendo colaborar para reduzir o trauma na vida das pessoas enlutadas, a fim
de que elas tenham uma vida mais produtiva e menos estressante.
Fremouw citado por Miranda (2014), aponta algumas características do
trabalho em intervenção após o suicídio que podem ser realizadas pelo
terapeuta. São elas: estimular que o paciente fale sobre seus sentimentos,
medos, ansiedades, solidão, oferecer suporte espiritual, ajudar que o enlutado
entenda o processo e o tempo que leva para aceitar o choque e o trauma do
evento. É importante também a oferta de grupos de apoio e o monitoramento
das condições psicológicas e médicas dos sobreviventes.
Diante do exposto é possível compreender que a morte por suicídio
modifica de maneira agressiva e abrupta a relação intersubjetiva entre o
sobrevivente e a pessoa que se foi. A morte não significa necessariamente o
fim da relação intersubjetiva entre o falecido e os que ficaram em vida, mas
pode significar que a partir do momento da morte a relação entre ``eu-tu`` será
modificada, não existindo mais a co-presença do outro, mas ficando as
vivências, aprendizados e lembranças que foram construídas durante a vida.
Como o suicídio é um ato carregado por estigmas e também que provoca
reações negativas aos sobreviventes, como culpa e raiava, o adequado seria
que ao longo do processo de luto o sobrevivente encontrasse formas de
reelaborar e ressignificar sua vivência com a pessoa que se foi, para que assim
possa dar continuidade a sua vida e encontrar um novo sentido e significado
para continuar vivendo.
Para Fukumitsu e Kovács (2016, p. 10), ``a morte por suicídio é vivida de
maneira consciente, por isso, sua elaboração é possível e necessária para
enfrentar o desequilíbrio, a desorganização do sistema familiar, a dor solitária,
o processo longo e sofrido e a busca constante da força para continuar a
viver``. E se pensando na atuação do psicólogo na situação de luto por
suicídio, de acordo com Silva e Marinho (2017), o papel do terapeuta é o de
estimular a potência do sujeito para que ele perceba que está no controle de
suas responsabilidades existenciais, o impulsionando para ressignificar o
acontecimento através da ampliação de maneiras mais positivas de se
enfrentar o sofrimento causado pelo impacto da morte por suicídio.

4.2 Luto por suicídio na Psicanálise: relacionando teoria e prática

A seguir será explorado o conceito de luto e seus processos na visão


psicanalítica, para tanto será utilizado o conceito de luto e melancolia
desenvolvido por Freud. Em seguida será exposta uma inter-relação entre a
teoria de estágios de reação ao luto de John Bowlby e um estudo realizado por
Candido com pessoas que vivenciaram a perda de um ente querido por
suicídio. O objetivo não é aprofundar nos conceitos e teorias psicanalíticas
acerca do luto, mas utilizar os conhecimentos desta abordagem para pensar
como pode ocorrer o processo de luto quando a causa da morte é o suicídio.

No livro `` Introdução ao Narcisismo, ensaios de metapsicologia e outros


textos``, de 1914 – 1916, Freud faz uma importante diferenciação entre o
processo de luto, tido como normal, e a melancolia. O luto seria a reação a
perda de uma pessoa ou de uma abstração que ocuparia seu lugar, como
pátria, liberdade ou um ideal (FREUD, 1914 -1916). Este processo pode ser
interpretado como natural do organismo quando existe a perda de algo que
seja importante para a existência dele. Já a melancolia é entendida como
processo patológico em termos psíquicos, pois nela haverá um doloroso
abatimento, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, há a perda da
capacidade de amar, uma inibição de toda atividade e diminuição marcante da
autoestima (FREUD, 1914 -1916). Portando pode-se pensar que a melancolia
seria uma forma de luto complicado, em que fera diversos prejuízo na vida do
sujeito, o impedindo de retornar ao seu estado normal de saúde e
recomposição de sua vida. A característica que diferencia o luto da melancolia
é a diminuição da autoestima, no luto não existe esse prejuízo.

Segundo Freud (1914 -1916), o funcionamento do luto se dá através da


percepção de que o objeto de amor não existe mais, então a realidade desse
fato faz com que toda libido que era investida no objeto seja retirada dele.
Geralmente o ser humano não gosta de abandonar uma posição libidinal,
mesmo que já exista algo para substituir essa posição, então com isso surge
uma oposição intensa que faz com que haja um afastamento da realidade e um
apego ao objeto mediante uma psicose de desejo alucinatória. O normal é que
aos poucos, com aplicação de tempo e energia de investimento, a pessoa vai
voltando a realidade e o objeto de amor vai sendo desinvestido e dando lugar a
outro. ``Cada uma das lembranças e expectativas em que a libido se achava
ligada ao objeto é enfocada e superinvestida, e em cada uma sucede o
desligamento da libido`` (FREUD, 1914 -1916, p. 129). Esse processo é longo e
leva tempo, mas após a consumação do trabalho do luto, o Eu fica novamente
Livre e desimpedido.

Em muitos casos a melancolia também pode ser uma reação à perda de um


objeto amado, assim como no luto, mas há ocasiões em que a perda se dá em
um nível mais ideal, em que a morte do objeto não é concreta mas houve a
perda do amor pelo objeto. Existe também, em alguns casos, o reconhecimento
de que se perdeu algo, mas não se sabe ao certo o que foi perdido, o doente
não reconhece conscientemente o que se perdeu. Ou então a pessoa sabe que
perdeu, mas não reconhece o que perdeu nesse alguém. Portanto, segundo
Freud (1914 -1916, p. 130), na melancolia há uma perda subtraída à
consciência; diferente do luto, em que nada é inconsciente na perda. Com isso,
na melancolia também há um trabalho interior parecido com o do luto, porém
não se sabe ao certo o que tanto absorve a energia do doente. Na melancolia
há também o rebaixamento acentuado da autoestima, o que a diferencia do
luto normal. O Eu se empobrece, diferente do luto em eu o que se torna pobre
e vazio é o mundo.

O melancólico descreve seu Eu como indigno, incapaz e desprezível;


recrimina e insulta a si mesmo, espera rejeição e castigo. Degrada-se diante os
outros e tem pena de seus familiares por conviver com alguém tão indigno
(FREUD, 1914 -1916, p. 130). Fazendo uma ligação desse modo de pensar do
melancólico com sobreviventes de suicídio, pode-se notar algumas
semelhanças no modo de reação a perda. Alguns enlutados por suicídio,
tendem a se auto incriminarem, sentem vergonha de si mesmos por não terem
percebido sinais, se isolam, e em algumas situações chegam a perder o
sentido da própria vida. Uma possível análise, seria que algumas pessoas que
vivenciam o suicídio de um ente querido, além de terem a perda concreta da
pessoa amada, haveria também uma perda subjetiva na relação, a perda do
ideal de que a vida deve ser vivida da sua melhor forma e não ser retirada pela
própria pessoa. Na melancolia, além desse autojulgamento há também a
predominância de insônia, recusa de alimentação e uma perda do intestino de
apego a vida (Freud, 1914 -1916). Tudo isso também pode ser notado em
pessoas que enlutadas por suicídio.

Segundo Freud (1914 -1916), não é correto contradizer o paciente que faz
acusações ao próprio Eu, pois de algum modo ele tem razão, descreve algo da
forma queele sente que é. A pessoa realmente se sente sem interesse,
incapaz para o amor e para realizar coisas, tal como diz. Mas é preciso ter em
mente que isso é secundário, é consequência de um trabalho interno
desconhecido que consome seu Eu. Com isso de uma maneira resumida, para
Freud o luto tido como normal consiste em um trabalho psíquico necessário,
enquanto a melancolia se caracteriza por um doloroso abatimento psíquico,
havendo perda de interesse pelo mundo externo e da capacidade de amar,
havendo uma diminuição da auto- estima o que diferencia o luto da melancolia.
Ao considerar o luto como um processo de elaboração e que com o tempo ele
é naturalmente superado, Freud afirma que o luto não deve ser entendido
como uma patologia e, portanto, não é necessário indicar tratamento para ele,
diferente da melancolia que é uma reação patológica à perda, neste caso
sendo necessário um tratamento. (SOUSA; PONTES, 2016).
Em relação ao trabalho de luto, John Bowlby descreve quatro fases pelas
quais as pessoas enlutadas passam até a sua superação. A primeira consiste
no entorpecimento (fase de choque e negação da realidade); a segunda fase
se caracteriza pelo anseio (desejo de recuperar o ente querido); a terceira pela
desorganização e o desespero (há sentimentos de raiva e tristeza, a pessoa se
sente abandonada pelo morto e não há o que ser feito); e na quarta e última
fase há a reorganização (mesmo com a saudade e o processo de adaptação a
perda, a pessoa começa a retornar as suas atividades). Após a experiência
dessas quatro fases do luto, passando por sentimentos de raiva, desespero,
tristeza e entorpecimento a pessoa começa a dar novos significados a sua
relação com o falecido e se encontra apta a retomar suas atividades cotidianas,
fechando assim o ciclo do luto (BASSO; WAINER, 2011). Estas fases não são
vividas de maneira linear, tudo depende dos meios de enfrentamento da
pessoa e da sua capacidade de recuperação diante de crises.

Em uma entrevista realizada por Cândido (2011), é possível perceber a


passagem dessas fases pelos sobreviventes. Foram entrevistados 8 indivíduos
adultos que vivenciaram a perda de um ente querido por suicídio. Nesta
entrevista as pessoas descreveram suas percepções em relação as reações e
emoções do início do luto até sua superação e ressignificação de vida. No
momento inicial do luto, através da entrevista, foi possível perceber três
reações diferentes entre os entrevistados. Alguns se sentiram em um estado de
negação, não acreditando à notícia quando recebida e em alguns casos sendo
necessário a visualização do corpo para que a morte pudesse se materializar.
Uma grande maioria dos enlutados afirmou terem vivenciado um estado de
entorpecimento e confusão, como se a realidade tivesse se transmutado e o
momento é sentido como se fosse um sonho ou algo que não está
acontecendo verdadeiramente. Uma terceira reação relatada pelos
participantes do estudo, foi o sentimento de fortes dores físicas após a notícia
da morte. Uma das entrevistadas, relatou sentir fortes dores no estomago ao
receber a notícia de que seu irmão havia cometido suicídio. Apenas um
entrevistado afirmou não ter vivenciado nenhuma das reações iniciais do luto
citadas acima. Uma provável explicação seria o fato do participante não fazer
parte diretamente da família da vítima.
Segundo os relatos dos entrevistados, ainda no primeiro dia, a negação
e o entorpecimento foram diminuindo e no lugar ia surgindo outras reações
intensas, particularmente sentimentos de hostilidade em relação ao falecido.
Algumas pessoas relataram sentimentos de desespero, tristeza, impotência,
pena. Mas a grande maioria dos sobreviventes relataram vivenciar um intenso
e duradouro sentimento de raiva. Se questionavam como o falecido foi capaz
de cometer tal ato sem ao menos pensar que poderia magoar ou de certa
forma ferir seus familiares. Três dos entrevistados, ainda relataram que a
intensa raiva que sentiam do falecido só se igualava a um profundo desejo de
reaver a pessoa perdida, um desejo quase infantil de reverter os efeitos da
morte. Assim como a raiva a impossibilidade de reaver a presença da pessoa
perdida são sentimentos persistentes, que podem continuar presentes, mesmo
depois de vários anos após a morte (CÂNDIDO 2011).
Outros sentimentos que também ganharam destaque nas falas dos
entrevistados foram a culpa e a acusação. Segundo Cândido (2011, p. 146), a
natureza traumática e o fato do suicídio ser associado a conflitos interpessoais
tornam a culpa e a acusação elementos pertinentes para a compreensão das
vivências dos enlutados. Os enlutados culparam a si mesmos por motivos
diversos, como não ter percebido os sinais do risco de suicídio, não ter
intervindo a tempo, não ter sido atenciosos ou carinhosos com a vítima.
Também acusaram e foram acusados por terceiros, na maioria das vezes por
terem entrado em conflito com a vítima momentos antes do suicídio, dando a
entender que foi o que motivou o ato suicida.
Esses sentimentos de desespero, culpa, raiva, e insegurança acabam se
refletindo em questionamentos de natureza religiosa ou existencial. E por ser
uma morte de escolha própria, a morte por suicídio parece trazer preocupações
mais intensas com o destino da vítima. Sete dos oito entrevistados por Cândido
(2011), afirmaram sentir alguma espécie de preocupação com o destino
espiritual da vítima após o suicídio. Isso devido ao fato de a maior parte das
religiões condenar o suicídio como um pecado mortal ou uma falta grave.
Portanto é importante considerar o universo de crenças e o importante papel de
suporte psicossocial exercido pela comunidade religiosa. Segundo os
entrevistados, os membros de igrejas e conselheiros espirituais tiveram uma
importante participação no suporte psicossocial oferecido a eles e suas famílias
(CÂNDIDO 2011).
A ambivalência entre o desejo de evitar e o desejo de recompor as
memórias do falecido e dos eventos associados a morte, foi uma das atitudes
que apareceram com mais frequência nos relatos dos entrevistados. Segundo
Cândido (2011), todos os entrevistados afirmaram que a capacidade de falar
abertamente sobre sua perda e tolerar a angustia invocada por este ato, foi
algo alcançado um tempo depois do ocorrido. Supõe-se que passado algum
tempo após a morte, os enlutados que aceitam falar sobre suas vivencias se
deslocam afetivamente da necessidade de evitar as lembranças ansiogênicas e
se aproximarem da necessidade de recompor as memórias e o significado
pessoal da perda.
Para Cândido (2011), a percepção desta ambivalência é fundamental
para o sucesso do suporte psicológico oferecido aos enlutados. Independente
da abordagem psicoterapêutica é necessário o devido balanço entre uma
postura observadora e afastada, que permita ao paciente reter informações
angustiantes, e uma postura encorajadora e gentil, que o ajude a reconstruir
um quadro completo do seu trauma. Falar sobre a morte e sobre os eventos
relacionados só é terapêutico na medida em que o enlutado esteja confiante
em faze-lo, cada pessoa possui um tempo diferente para passar pelo processo
de luto (CÂNDIDO 2011, p. 152).
Com o passar de um determinado tempo os enlutados passam a orientar
suas preocupações para o restabelecimento do curso de sua própria vida.
Diante da realidade que se apresenta e da impossibilidade irreversível da
morte, o enlutado vai se dando conta de que é preciso seguir com sua vida
mesmo sem a presença do ente que se foi. Isso não significa necessariamente
que há o esquecimento da pessoa falecida, mas significa que o enlutado está
se distanciando do desejo de revê-la na medida que se impõe o interesse ou a
necessidade de recompor a própria vida (Cândido 2011).
Esta fase de reestabelecimento da vida pode ser caracterizada também
como um momento de abertura dos enlutados para novas trocas afetivas. Os
enlutados podem encontrar novos vínculos afetivos significativos que de certa
forma ajudam a suprir, em parte, a falta da pessoa que se foi. Este momento se
torna importante pois demonstra para o enlutado que é possível encontrar em
novas relações experiências igualmente gratificantes e significativas. No estudo
que Cândido (2011) realizou, ele destaca que com a continuidade da vida os
enlutados passaram a lembrar dos falecidos em momentos especiais, como em
aniversários e datas comemorativas. Também afirma que o sentimento de
saudade só passou a se expressar depois que eles conseguiram lembrar do
falecido sem raiva ou angustia. E é somente quando os enlutados toleram a
angustia, a raiva e a tristeza é que eles se tornam capazes de acessar o total
significado e importância da pessoa que se perdeu.
Após a passagem pelo processo de luto e sua elaboração, os
sobreviventes relatam mudanças definitivas na visão de mundo de si mesmos.
Segundo Cândido (2011), no luto por suicídio os enlutados se veem lançados
em um universo de experiências novas e desafiadoras, o que acaba resultando
no desenvolvimento de um novo conjunto de representações sobre si mesmo e
sobre o mundo. Pelas mudanças repentinas e indesejáveis que a perda impõe,
os sobreviventes são quase que obrigados a mudar de planos, a rever uma
série de conceitos sedimentados e mesmo a assumir novas identidades.
Os participantes da entrevista revelaram que várias mudanças
ocorreram após o processo de luto, principalmente mudanças relacionadas a
relações interpessoais e familiares e o valor conferido a própria vida. De acordo
com Cândido (2011), a partir do momento em que os enlutados puderam
avaliar melhor o conjunto de motivações e condições que culminaram na morte
de seus parentes e amigos, muitos passaram a assumir uma postura mais
flexível e compreensiva frente as pessoas que recorrem ao suicídio. Um ponto
importante a se destacar é que alguns dos entrevistados revelaram que após a
morte do ente querido, passaram a ter ideações suicidas, mas que ao final da
crise o resultado foi o abandono da ideação, principalmente quando houve um
apoio adequado. A oportunidade de sentir na própria pele o choque provocado
pela perda, fez com que algumas pessoas avaliassem mais cuidadosamente a
gravidade do impacto do suicídio (CÂNDIDO 2011, p.158).
No estudo realizado por Cândido (2011), os enlutados relataram
algumas das estratégias de enfrentamento utilizadas por eles e também
comentaram sobre o suporte psicossocial oferecido. A partir das informações
coletadas foi possível perceber que uma pequena parcela dos enlutados
recorreram a ajuda de profissionais especializados para o devido manejo do
luto. Muitos alegaram desconhecer o potencial benefício de procurarem ajuda
profissional de um psicólogo. Alguns dos entrevistados relaram que entre os
familiares e amigos que buscaram acompanhamento profissional, optaram pelo
psiquiatra, sobretudo para o tratamento de sintomas persistentes de ansiedade
ou depressão.
Os entrevistados relataram algumas características em comum
percebidas nos integrantes da rede de apoio para que pudesse ser construída
uma relação de ajuda. Entre essas características estão atitudes sensíveis de
altruísmo, postura genuinamente atenciosa e preocupada, fala positiva,
capacidade de transmitir esperança, de assegurar o caráter passageiro da dor
e do desespero, postura flexível e isenta de julgamento, atitude naturalmente
calma e capacidade de avaliar os fatos sem julgar e ou emitir culpa (CÂNDIDO
2011, p. 161).
Assim como existe atitudes que favorecem o estabelecimento de vinculo
no apoio dos enlutados, também existem atitudes negativas que acabam não
contribuindo para o processo de superação da crise. Algumas dessas atitudes
são o negativismo, atitudes excessivamente dramáticas e o desrespeito às
necessidades de isolamento do enlutado. De acordo com Cândido (2011),
vencer o preconceito e angustia e encontrar um espaço ou pessoas com quem
se possa falar é um importante passo para superação do luto. É importante que
as pessoas se mostrem disponíveis a ajudar e escutar, mas que respeitem o
espaço e limites do enlutado no seu enfrentamento das dificuldades. Os
participantes da entrevista, relataram que falar sobre a perda é uma ferramenta
poderosa que possibilita os enlutados a expandir sua compreensão dos
motivos e condições relacionados ao ato suicida.

4.3 Terapia Cognitivo-comportamental e o manejo do luto por suicídio

Segundo Cescon (2019), na terapia cognitivo-comportamental existem


protocolos de intervenção para o manejo do luto e se pensando em luto
decorrente de uma morte por suicido estes protocolos necessitam ser
remanejados tomando um maior cuidado para algumas questões especificas
que envolve este tipo de situação. No atendimento a uma pessoa enlutada por
mortes que não envolvem suicídio, o terapeuta cognitivo-comportamental deve
possibilitar que a pessoa enlutada receba informações sobre o curso normal do
luto. É importante também que haja o aprendizado de novas habilidades
cognitivas e comportamentais para que a readaptação ao ciclo de vida do
sujeito seja facilitada. Os sobreviventes do suicídio, devido às peculiaridades
do ato, precisam reconstruir suas vidas a partir das dúvidas que o suicida
deixou, refazer planos que o incluía, se reestruturar por dentro. É preciso
resiliência para que haja a ressignificação dos sentimentos que o suicida
deixou como herança (CESCON, 2019).
Clark citado por Cescon (2019), afirma que a escuta atenta aos
sobreviventes de suicídio é muito importante, estimulando a manifestação de
sentimentos, principalmente aqueles negativos como a culpa e a raiva. Neste
sentido o atendimento psicoterapêutico individual e a participação em grupos
de apoio são atividades com grande potencial de ajuda nos casos de luto por
suicídio. De acordo com Silva (apud CESCON, 2019), na psicoterapia com
enlutados por suicídio é de extrema importância incentivar a expressão de
sentimentos silenciados por meio de uma escuta qualificada, trabalhar com a
psicoeducação sobre as especificidades do luto por suicídio, identificar e
clarear experiências, crenças e distorções e auxiliar o paciente a encontrar
suas próprias respostas.
O apoio tanto dentro quanto fora do núcleo familiar é uma da estratégia
que ajudam na redução dos possíveis prejuízos causados no luto por suicídio.
Entre outras estratégias de ajuda estão os grupos de apoio como os do
Instituto Vita Alere e do CASS (Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio,
do CVV- Centro de Valorização da Vida). Cescon (2019), destaca a importância
de os sobreviventes serem educados sobre as psicodinâmicas do luto; após o
suicídio os sobreviventes devem ser contatados pessoalmente; e deve haver
maior conscientização dos profissionais sobre as necessidades específicas dos
sobreviventes enlutados.
Para Silva citado por Cescon (2019), os grupos de apoio para os
sobreviventes por suicídio são ótimos locais que facilitam a elaboração do luto,
são espaços que permitem o compartilhamento do luto, possibilitam a
superação dos estigmas e da vergonha, são ambientes seguros para dividir a
dor e reforçar a autoestima, ensinam as pessoas a lidarem
com o que poderia ter sido evitado, a chorarem e expressarem
sentimentos. Uma questão importante a se destacar é que o manejo aos
sobreviventes deve sempre levar em consideração o monitoramento de riscos
para transtornos psiquiátricos e possíveis tendências suicidas, se atentando
também para outros fatores de proteção que cada enlutado possui.
Cescon (2019), apresenta os princípios básicos de atenção as pessoas
enlutadas por suicídio, ele se baseia no documento `` Os Direitos dos
Sobreviventes de Suicídio``, publicado em 2002. Os sobreviventes enlutados
possuem o direito de vivenciar o luto à sua maneira e durante o tempo que for
preciso; de serem informados sobre a verdadeira causa da morte, no caso o
suicídio, de ver o corpo da vítima e organizar o funeral de acordo com suas
crenças e ritos; de receberem informações que os permitam compreender o
suicídio como sendo resultado de vários fatores inter-relacionados que
provocaram uma dor insuportável e que portanto o suicídio não foi uma
escolha; possuem o direito de viver da melhor forma possível após o
falecimento do ente querido, livre de estigmas ou julgamentos; de respeitar a
própria privacidade assim como a do falecido; de serem apoiados pelos
parentes, colegas e sobreviventes, assim como ter ajuda do profissionais que
possuem conhecimento a respeito da dinâmica do processo de luto, dos fatores
de risco potenciais e das consequências práticas do ato suicida; de ser
contatado ou entrar em contato com o profissional que estava tratando o
falecido; de não serem tratados como pacientes potencialmente suicidas ou
com problemas de saúde mental; de se colocarem a disposição para prestarem
ajuda a outros sobreviventes, caso desejarem; e de não serem cobrados ou
não exigirem se si mesmos que voltem a ser como eram antes do suicídio do
ente querido (ANDRIESSEN apud Cescon, 2019, tradução e adaptação do
Instituto Vita Alere).
Em relação ao luto dos profissionais de saúde que perderam algum
paciente por suicídio, Silva (apud Cescon, 2019) afirma que muitas vezes esse
luto não é reconhecido e a sociedade passa a não permitir que esses
profissionais se enlutem, e ainda podem ser responsabilizados pela morte do
paciente. Porém esses profissionais também podem sentir culpa por não terem
conseguido impedir o suicídio, se sentindo fracassado, tanto pessoalmente
quanto profissionalmente, além de terem outros sentimentos que são
esperados por esse tipo de morte e que podem não serem expressos. O
suicídio de um paciente pode ser considerado com um dos acontecimentos
mais estressantes na vida e carreira profissional de um clínico. A depender do
vínculo criado com o paciente e da amplitude do estresse causado, o
profissional pode desenvolver transtorno de estresse pós-traumático
(RATKOWSKA ET AL apud Cescon 2019). Um ponto importante a ser
destacado é que nem sempre o enlutado por suicídio irá necessitar de
acolhimento especializado, já que o ideal é que o sobrevivente encontre seus
próprios meios de lidar com a situação e caso ache necessário procure ajuda.
Cescon (2019), apresenta algumas técnicas utilizadas por terapeutas
cognitivo-comportamentais no atendimento e manejo do luto por suicídio.
Algumas dessas técnicas podem ser utilizadas e adaptadas as outras
abordagens dentro da psicologia. Uma intervenção muito utilizada na terapia
cognitivo-comportamental é a tarefa (atividades que fazem ligação entre as
sessões e mantem a terapia focada nas questões chave), o terapeuta pode
instruir o paciente a registrar seus pensamentos e emoções em torno do
suicídio, o que ajuda na redução de aspectos negativos específicos desse tipo
de processo de luto. A identificação das distorções cognitivas, sob efeito de
distorções emocionais, elaboração de calendário de atividades para
organização do paciente, a escolha de uma pessoa de confiança para fornecer
suporte nos momentos difíceis e a elaboração de rituais de despedida também
são estratégias para que se possa auxiliar os sobreviventes no manejo do luto
(CESCON, 2019).
Brown e Beck (apud Cescon, 2019), propôs uma técnica a ser utilizada
com pacientes com comportamento suicida, essa técnica consiste na
construção de um Kit da esperança ou caixa de primeiros socorros emocionais.
Ela é construída juntamente com o paciente, funcionando como um auxílio para
a memória. Em uma caixa são colocados itens significativos que fazem com
que o paciente se lembre das razões que existem para viver. Podem ser
armazenados itens como fotografias, cartas, poemas, versos religiosos dentre
outros objetos (WENZEL, BROWN, BECK apud CESCON 2019). É importante
que os objetos escolhidos tenham uma carga afetiva significativa, para que o
paciente possa visualizar aspectos positivos de sua vida presente ou de
projetos futuros. Levando esta técnica para o contexto dos sobreviventes de
suicídio, os familiares podem enlutados podem construir juntamente um livro de
memórias com histórias sobre os momentos vividos com o ente querido, com
cartas, fotos ou desenhos dedicados a ele. Dentre outras técnicas que podem
ser utilizadas para facilitar o processo de luto está a escrita de cartas ou diários
para se despedir do falecido ou registrar a experiência de luto; pedir para o
paciente, principalmente crianças, que expressem suas emoções através de
desenhos; e existe também a técnica das imagens dirigidas, que consistem em
visualizar, com o apoio do terapeuta, o ente querido em uma cadeira vazia e
expressar o que precisa ser dito, sentimentos que não puderam ser expressos
antes do ente querido falecer o que surgiram durante o processo de luto
( CESCON 2019).
Para Worden (apud Cescon 2019), o terapeuta deve ajudar o paciente
em processo de ludo decorrente de um suicídio a identificar pensamentos
encobertos e desajustados e conduzi-lo em um teste de realidade acerca
desses pensamentos avaliando sua validade ou generalização, com isso o
terapeuta pode ajudar a diminuir os sentimentos disfóricos do paciente que são
acionados por crenças disfuncionais. Outra dica importante para o tratamento
de pacientes sobreviventes do suicídio, é a utilização de palavras claras que
façam com que eles se atenham à realidade da perda como por exemplo: ´´ se
matou`` ou ´´se enforcou``. Desta forma os enlutados tendem a aceitar melhor
a realidade do suicido e então se tornam mais capazes de trata-lo. Também é
importante corrigir distorções e redefinir imagens do falecido, para que se
possa traze-las mais próximas da realidade. Isso pode ser feito através de
explorações de fantasias acerca do falecido (se ele é uma pessoa totalmente
má ou não), e fantasias de futuro (como a morte afetara o sobrevivente no
futuro. E se houver dados de realidade a partir desses questionamentos, é
recomendado que se explore meios de lidar com essa realidade (WORDEN
apud CESCON, 2019).
De maneira geral, para que seja realizado um processo terapêutico
satisfatório com uma pessoa enlutada por suicídio é preciso que o terapeuta
respeite e se adapte ao funcionamento do processo de luto do sobrevivente;
tenha empatia e evite confrontar de forma direta as crenças do paciente. De
início é imprescindível que o terapeuta ofereça suporte e acolhimento ao
paciente, para que assim se forme um vínculo empático entre eles. O terapeuta
deve facilitar a expressão dos sentimentos advindos da perda que sofreu,
observando suas implicações na vida do paciente, se atentando para as
crenças e pensamentos disfuncionais que o sobrevivente possui acerca morte
(CESCON, 2019).
Para Cescon (2019), os serviços de apoio aos sobreviventes
devem ofertar oportunidades de aprendizados sobre o suicídio, ampliando a
perspectiva sobre a morte. Isso pode ser feito através de exposições
psicoeducacionais, materiais de leitura e discussões com profissionais de
saúde mental e outros sobreviventes, além de ser possível a discussão de
habilidades específicas de enfrentamento e estratégias interpessoais para lidar
com o estigma e a vergonha que cercam o assunto suicídio. Essas
intervenções também devem sempre que possível serem incluídas na rede
social mais ampla, como nas comunidades por exemplo. Ruckert (2019),
acredita que as estratégias de posvenção podem ser operacionalizadas tanto
em uma perspectiva clínica como também na perspectiva da saúde pública,
através do desenvolvimento de políticas e estratégias gerais para a população.
Um exemplo de estratégia de posvenção e prevenção do suicídio no
âmbito público é o Plano de Ação de Prevenção ao Suicídio da Nova Zelândia.
Neste plano são ofertados serviços de posvenção que incluem assistência
prática imediata; conselhos de autocuidado; informações sobre perda e
tristeza; informações sobre requisitos policiais e legais; encaminhamento e
ligação com outros serviços de aconselhamento, prestadores de cuidados de
saúde primários e outros serviços apropriados (RUCKERT, 2019). Um outro
tipo de apoio especializado que também é ofertado nesta região é o da equipe
da área de saúde. Elas são compostas por psicólogos, enfermeiros, assistentes
sociais e assessores, que atuam nas comunidades durante um ano após o
suicídio, prevenindo e assessorando os sobreviventes. Estas equipes também
trabalham junto às escolas que vivenciaram o suicídio de alunos ou
funcionários. Outro exemplo de serviços prestados à população é o programa
StandBy Response Service na Austrália. É um programa de prevenção ativa
que promove assistência para quatro grupos distintos, e dentre eles as pessoas
enlutadas por suicídio. Seu objetivo é melhorar a produtividade, a saúde mental
e as habilidades sociais dos sobreviventes através da conscientização sobre
questões importante sobre o luto, à perda, à gestão de crise, ao controle de
traumas, entre outros (UNITED SYNERGIES apud RUCKERT, 2019).
No Brasil, algumas das ações de posvenção são coordenadas pelo CVV
(Centro de Valorização da Vida) que por meio do CVV Comunidade são
disponibilizados diversos serviços para a sociedade, como os Grupos de Apoio
aos Sobreviventes de Suicídio (GASS). O CVV GASS possui pontos de
atendimentos em São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Novo Hamburgo (RS),
Curitiba (PR) e Cuiabá (MT), onde são realizadas reuniões mensais para que
se possa debater e esclarecer questionamentos que os sobreviventes
possuem, objetivando oferecer apoio emocional e trocas de experiência.
Atualmente, devido ao contexto da pandemia do novo Corona Vírus (COVID-
19), as atividades presenciais ofertadas pela CVV estão suspensas, mas ações
ainda estão sendo realizadas de forma virtual. Essas ações podem ser
acompanhadas através da página https://www.facebook.com/CVV-Comunidade-
Brasil ou pelo contato através do e-mail cvvcomunidade@cvv.org.br .( CVV, 2021).
Outro grupo que possui o foco na prevenção e posvenção do suicídio é o do
Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, inaugurado em
agosto de 2013. Seu objetivo é diminuir o número de suicídios, acolher os
sobreviventes e habilitar os profissionais para o manejo nessa área. Os grupos
ocorrem mensalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro de forma
gratuita e sem necessidade de inscrição prévia. Seu intuito é ofertar um local
de escuta e acolhimento, trocar experiências e construir uma rede de
conectividade entre pessoas que passaram pela mesma experiência. Também
devido à pandemia, os grupos presenciais foram suspensos, mas as atividades
continuam sendo realizadas de forma online. Os interessados devem fazer sua
inscrição no site https://bit.ly/grupoluto, ou entrar em contato para mais
informações através do e-mail contato@vitaalere.com.br (VITA ALERE, 2021).
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