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BJPsych Advances (2023), vol. 29, 254–264 doi: 10.1192/bja.2022.15
ARTIGO
Josephine Broyd é assistente de
pesquisa no High Secure
Research Hub do Broadmoor Hospital,
Crowthorne, Reino Unido. Ela é uma
aspirante a neuropsicóloga clínica
com interesses particulares em
radicalização, autismo e trauma em
ambientes forenses. Lauren Boniface é
estudante assistente de pesquisa no
Broadmoor Hospital, Crowthorne, Reino
Unido. Ela está concluindo o último
ano de sua graduação em psicologia na
Universidade de Cardiff e é uma aspirante
a psicóloga clínica com interesses em
neuropsicologia, psicose e autismo em
ambientes forenses. Damon Parsons
é Trainee do Ano 3 (CT3) em psiquiatria
no Departamento de Psiquiatria, West
London NHS Trust, Londres, Reino
Unido, com um interesse particular em
como a Internet afeta a saúde mental e
as novas formas como esta se expressa.
Ele aspira ajudar a tornar o uso da Internet
um aspecto fundamental da revisão
psiquiátrica. David Murphy é neuropsicólogo
clínico forense e consultor credenciado e
baseado no Broadmoor Hospital,
Crowthorne, Reino Unido. Com
mais de 20 anos de prática clínica, ele tem
experiência de trabalho em diversos
ambientes seguros e comunitários. Ele
é um pesquisador ativo com interesse
particular na avaliação e manejo de
indivíduos com autismo que cometem
crimes. Jonathan D Hafferty é
psiquiatra forense consultor e líder de
pesquisa no High Secure Research Hub
do Broadmoor Hospital, Crowthorne,
Reino Unido. Além da sua formação clínica,
realizou formação académica em
genética psiquiátrica e ciência de
dados na Universidade de Edimburgo.
Está envolvido em pesquisas em
psicopatologia da radicalização, tratamento
psiquiátrico de violência grave e
automutilação e aplicações da ciência
de dados em psiquiatria forense.
Correspondência Dr. Jonathan D
Hafferty. E- mail :
jonathan.hafferty@westlondon.nhs.uk
Recebido pela primeira vez em 12 de novembro de 2021
Aceito em 22 de fevereiro de 2022
Direitos autorais e uso ©
O(s) Autor(es), 2022. Publicado pela
Cambridge University Press em nome do
Royal College of Psychiatrists.
Este é um artigo de acesso aberto,
distribuído sob os termos da licença
Creative Commons Attribution (https://
creativecommons.org/licenses/by/
4.0/ ), que permite reutilização, distribuição
e reprodução irrestritas em qualquer
meio, desde que o trabalho original seja
devidamente citado.
254
https://doi.org/10.1192/bja.2022.15 Publicado on-line pela Cambridge University Press
Incels, violência e transtorno mental: uma
revisão narrativa com
recomendações para melhores práticas
em avaliação de risco e avaliação clínica
intervenção
Josephine Broyd, Lauren Bonifácio , Damon Parsons,
David Murphy e Jonathan D Hafferty
Em 12 de agosto de 2021, em Plymouth, Inglaterra, Jake
RESUMO
Davison, de 22 anos, matou cinco pessoas e feriu mais três
Nos últimos anos, a violência em massa associada a
antes de se suicidar. Posteriormente, foi revelado que ele tinha
homens que se identificam como celibatários involuntários
estado envolvido com uma comunidade online conhecida como
(incels) tem sido motivo de preocupação crescente. Os
incels (celibatários involuntários), onde lamentava a sua
Incels participam numa comunidade online onde
virgindade e expressava ódio às mulheres por lhe negarem
prevalecem a misoginia e o incitamento à violência contra
as mulheres, muitas vezes devido à crença de que as sexo (Townsend 2021) . Além disso, os relatórios indicavam
mulheres lhes negam o “direito” ao sexo. Na verdade, o que ele já era conhecido dos serviços de saúde mental e tinha
inceldom pode ser considerado uma forma de extremismo. Informações divulgadas
diagnóstico de autismo.
sobre os perpetradores da violência associada ao incel
sugere consistentemente que o transtorno mental é um O ataque de Davison não é o primeiro a estar ligado ao
fator que contribui e pode aumentar a capacidade movimento incel: quase 50 incidentes violentos foram
vulnerável de se envolver com a comunidade incel. documentados desde 2014 (Hoffman 2020).
Depressão, autismo e transtorno de personalidade são
No entanto, embora a investigação crescente vise compreender
particularmente relevantes. Até o momento, tem havido
esta comunidade online, tem havido comparativamente pouco
pouca pesquisa sobre a saúde mental dos incels e como,
foco na saúde mental dos incels.
em alguns, isso contribui para a violência. Este artigo
considera as associações entre transtornos mentais
ordem e inceldade, incluindo os factores de risco para
violência relacionada com incel, e faz recomendações Antecedentes do movimento incel Os incels se
para melhores práticas na avaliação de risco e intervenção definem por sua incapacidade de ter relacionamentos sexuais
clínica.
ou românticos, apesar de desejá-los (Preston 2021). O termo
'incel' foi originalmente criado para promover uma comunidade
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
online compassiva para pessoas solitárias de todos os géneros,
Depois de ler este artigo você será capaz de: •
procurando ajudar aqueles que lutam para formar relacionamentos
compreender a literatura atual sobre associações entre
íntimos (van Brunt 2021). No entanto, nos últimos anos, a
incelismo, transtorno mental e violência •
reconhecer as comunidade incel tornou-se indiscutivelmente dominada por
características da comunidade incel e identificar fatores homens heterossexuais com uma visão de mundo sombria e
de risco para violência relacionada ao incel misógina.
• considerar as melhores práticas para avaliação de riscos A subcultura incel emergiu da 'esfera mano', uma coleção
e intervenções clínicas para abordar os aspectos de fóruns online onde prevalecem visões misóginas, incluindo
negativos do inceldom para o bem-estar mental. a crença de que o feminismo arruinou o que eles consideram
ser uma sociedade ideal (Glace 2021) . O direito, a misoginia, o
PALAVRAS-CHAVE
ciúme, o fatalismo e a vitimização foram identificados como
Celibatários involuntários; distúrbio mental;
forças motrizes da subcultura incel (Cottee 2020; van Brunt
avaliação de risco; intervenção clínica;
radicalização online. 2021). Incel
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a filosofia centra-se na compreensão da sociedade
como uma hierarquia, onde o lugar de alguém é
determinado pela aparência. Os Incels percebem-se
presos na base desta hierarquia, enquanto as mulheres
são vistas como 'guardiãs sexuais' que tomam decisões
sobre namoro com base na atratividade, altura, peso,
etnia e riqueza (O'Malley 2020) .
Eles acreditam que os homens mais atraentes e
idealizados ('Chads') atraem as mulheres mais atraentes
('Stacys'), deixando as mulheres menos atraentes para
os homens que residem no meio da hierarquia ('normies')
e nenhuma para os incels ( Hoffmann 2020). Portanto,
os incels culpam as mulheres pela falta de experiência
sexual, fornecendo a base para a sua misoginia.
A ideologia Incel foi descrita como uma crença
extremamente sobrevalorizada, que enfatiza a natureza
partilhada da crença por outros num grupo cultural,
religioso ou subcultural de um indivíduo (Rahman
2021) . Com o tempo, a crença torna-se mais dominante,
refinada e resistente ao desafio e é distinta de uma
obsessão ou ilusão. O comprometimento emocional
intenso com uma crença extremamente supervalorizada
pode resultar em um indivíduo realizar um
comportamento violento em seu nome (Rahman 2021).
Embora o inceldom represente um espectro de
comportamento – alguns homens procuram o consolo
encontrado num grupo que partilha dificuldades mútuas,
outros procuram formas de controlar as mulheres para
atingir os seus objectivos sexuais a curto prazo (van
Brunt 2021) – no extremo mais extremo estão aqueles
que subscrevem à ideologia da “pílula negra”. Os Incels
que tomam a 'pílula negra' aceitam o seu destino niilista
de inferioridade determinado pela genética, tornando-os
menos desejáveis, sem possibilidade de estabelecer
relações sexuais (Hoffman 2020; van Brunt 2021).
Numa formulação extremista do inceldom, ser
'blackpilled' torna-se a expressão máxima da doutrinação
ao inceldom, culminando numa escolha: matar-se a si
próprio e/ou a outros (van Brunt 2021 ).
Incels, violência e doença mental Como o
surgimento desta comunidade é relativamente recente,
grande parte da nossa compreensão dos gráficos de
demonstração do incel é limitada a pesquisas distribuídas
pelos moderadores do fórum. Uma recente sondagem
online em que participaram 665 incels revelou que os
entrevistados eram jovens do sexo masculino, entre os
18 e os 30 anos, que viviam com os pais e não tinham
experiência de intimidade (Liga Anti-Difamação 2020) .
A maioria relatou insatisfação com suas vidas e 95%
consideraram a ideologia da pílula preta um reflexo
preciso de sua realidade. Cerca de 68% dos
entrevistados relataram depressão, 74% experimentaram
ansiedade e 40% relataram um diagnóstico de autismo.
Considerando isto, a doença mental parece ser uma grandepílula negra por sua crescente desesperança.
preocupação
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Incels, violência e transtorno mental
entre a comunidade. Na verdade, um grupo de incels
refere-se a si próprio como 'mentalcels', um tipo de incel
que atribui o seu incel à doença mental (Jaki 2019). Isto
sugere o potencial para subgrupos de incels que têm
diferentes factores que contribuem para o seu incelismo,
mas não há investigação disponível que sugira como a
doença mental influencia a forma como atribuem a
culpa pela sua falta de relações sexuais.
Nos últimos anos, a violência em massa ligada aos
incels tem sido motivo de preocupação crescente e
levanta questões sobre ligações com doenças mentais.
Frequentemente citado neste contexto é o massacre de
Isla Vista em 2014, onde Elliot Rodger, de 22 anos,
matou 6 pessoas, feriu gravemente outras 14 e depois
se suicidou. Ao procurar compreender as motivações
de Rodger, chamou-se a atenção para o seu autismo e
o tratamento prolongado com medicação psiquiátrica (White 2017).
Antes do seu ataque, Rodger lançou um manifesto de
141 páginas intitulado 'My Twisted World', detalhando
as suas queixas contra a sociedade e a sua incapacidade
de atrair as mulheres a quem sentia ter direito (Rodger
2014) . Embora Rodger não tenha se identificado como
um incel, em vez disso se identificando com outro grupo
da manosfera conhecido como 'odiadores de Pick Up
Artist', ele e seu manifesto foram santificados dentro da
subcultura incel.
Rodger tem influenciado os incels violentos
subsequentes que se consideram preparados para
receber pílula preta (Lavin 2018). Um incel blackpilled
disposto a cometer violência poderia ser descrito como
um “verdadeiro crente violento”, alguém comprometido
com um sistema de crenças que promove o homicídio
e o suicídio para promover o seu objectivo (Meloy
2004) . As fixações no seu sistema de crenças
desenvolvem-se até se identificarem como guerreiros
da sua causa e visarem membros do grupo externo
(mulheres e Chads) merecedores de ódio e desprezo
(Meloy 2004) . Em 2015, após afirmar 'aqui estou, 26
anos, sem amigos, sem emprego, sem namorada,
virgem', Chris Harper-Mercer matou nove pessoas,
ferindo outras oito antes de se matar (Lopes 2022) . Em
2018, Nikolas Cruz matou 17 estudantes e feriu mais
17 no Dia dos Namorados, tendo anteriormente
publicado online “Elliot Rodger não será esquecido” e
queixando-se do seu isolamento (Hoffman 2020) .
Seguiu-se o ataque à carrinha de Alek Minassian em
Toronto, em 2018, que resultou na morte de 10 vítimas
do sexo feminino e no ferimento de outras 16 (Williams
2021). Mais tarde, foi revelado que Minassian saudou
Elliot Rodger como seu herói (Speckhard 2021) e
explicou que após o ataque de Rodger ele se sentiu
orgulhoso e radicalizado, afirmando que era 'hora de
agir em vez de apodrecer em sua própria tristeza' (Regehr 2022 ).
Antes do mais recente tiroteio em massa inspirado em
incel em Plymouth, Jake Davison culpou a filosofia da
255
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Broyd e outros
que acabou levando à sua onda de assassinatos (Townsend
2021).
Todos os ataques documentados relacionados ao incel, exceto
Nikolas Cruz, tiveram sucesso ou tentaram
homicídios-suicídios (Hoffman 2020) e muitos de
os incels eram anteriormente conhecidos pela saúde mental
Serviços. No geral, a prevalência de transtornos mentais
na violência relacionada à incel e na taxa de autorrelatos
dificuldades de saúde mental nos fóruns destacam
que o transtorno mental contribui para o incelismo e,
para alguns, o caminho para a violência.
Como a violência incel não é caracteristicamente desencadeada
por motivações políticas, não é formalmente classificado
como terrorismo (Hoffman 2020). No entanto, existe uma
consenso crescente de que a comunidade incel
poderia ser considerado um meio radical, fornecendo
o terreno fértil para aqueles em risco de radicalização
(Brzuszkiewicz 2020). O governo do Reino Unido
A estratégia “Prevent”, um quadro anti-radicalização, reconheceu
os incels como uma categoria dentro da radicalização durante
vários anos (Adams 2021).
A investigação sobre o terrorismo sugere que as interacções
complexas entre o terrorismo e as doenças mentais podem
aumentar a vulnerabilidade ao envolvimento em violência
através do envolvimento com um grupo (Gill 2017).
Além disso, nas circunstâncias psicológicas adequadas, esses
fóruns em linha radicalizantes poderiam
encorajar o extremismo em incels vulneráveis (Ling
2018). Portanto, propomos que uma melhor compreensão da
contribuição da doença mental para a
o risco de violência em incels é necessário.
A literatura atual
Até onde sabemos, nenhum estudo examinou a
literatura atual sobre o impacto que o inceldom tem
sobre saúde mental e risco de violência. Por isso
realizou uma revisão narrativa para: identificar as associações
entre transtorno mental, inceldade e violência; identificar
potenciais factores de risco para a violência relacionada com a
violência para informar a avaliação e a intervenção; e propor
caminhos para pesquisas futuras. Nosso
a metodologia de busca está disponível nos materiais
suplementares disponíveis em https://doi.org/10.
1192/bja.2022.15. Identificamos 17 artigos com
forte ênfase na doença mental e no incelismo.
As seções a seguir exploram alguns de seus
descobertas.
Distúrbio mental
Depressão, desesperança e suicídio
Estudos da literatura incel revelaram que sintomas relacionados
à depressão como humor deprimido, desesperança
e suicídio são temas comuns (Speckhard
2021; van Brunt 2021). Em uma pesquisa on-line com 272
incels autoidentificados de todo o mundo, 64%
relataram apresentar sintomas depressivos, 48%
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relataram ideações suicidas, 60% relataram ansiedade
sintomas e 28% relataram sintomas de transtorno de estresse
pós-traumático (Speckhard 2021).
Notavelmente, também há evidências de que a comunidade
incel reforça a depressão e a tendência suicida naqueles
com vulnerabilidade pré-existente (Speckhard 2021).
Isso se alinha com discussões frequentes em fóruns
atribuindo sentimentos de solidão e suicídio a
inceldom (Glace 2021). Embora a gratidão seja
manifestado à comunidade por fornecer um
ambiente seguro e catártico para indivíduos com ideias
semelhantes (Cottee 2020; Maxwell 2020; O'Malley
2020; Speckhard 2021), isso ocorre ao lado
forte retórica suicida em todos os fóruns
(Hoffman 2020; Maxwell 2020; Glace 2021).
Além disso, 71% dos incels consideraram as suas circunstâncias
como permanentes (Speckhard 2021), sugerindo
essa preocupação com a autodegradação e a
A ideologia da pílula negra contribui ainda mais para a
desesperança experimentada pela maioria dos incels (O'Malley
2020).
A desesperança é um tema comum em assuntos relacionados ao incel
violência e é considerado um fator de risco central
pela violência em massa por incels (van Brunt 2021), com
a maioria dos agressores exibindo ideação suicida
(Williams 2020; van Brunt 2021). No entanto, a desesperança
não é suficiente para desencadear violência extrema
entre aqueles incels que transitam da depressão
e solidão para um plano orientado para a missão
'punir' aqueles que consideram responsáveis pelas suas
frustrações (van Brunt 2021). Desesperança, significativamente
exacerbada por distorções cognitivas, como
generalizações excessivas, pensamento de tudo ou nada
(em vários contextos), atribuições erradas, falta de
empatia, neutralização e posturas de vítima, fornece uma
justificativa para atos subsequentes de extremo
violência (Williams 2020, 2021). Em todos os ataques de
incels, os perpetradores atribuíram culpa erroneamente às mulheres
por frustrações em suas vidas, especificamente por questões sexuais
frustração (Murray 2017; Williams 2020).
Psicose
Encontramos muito pouca discussão sobre a associação
entre psicose e inceldom e nenhuma confirmação
casos de psicose em violência relacionada ao incel.
A análise dos fóruns incel mostra que as crenças são
mais comparável a crenças extremamente supervalorizadas
que são compartilhadas, amplificadas e defendidas pelo
comunidade inteira e não um exemplo de ilusão
(Rahman 2021). Além disso, as competências comunicativas
prejudicadas podem tornar difícil para os indivíduos
sofrendo de um transtorno psicótico para se envolver com
a natureza acelerada de uma comunidade online
(Haker 2005). Uma pesquisa sobre o uso da tecnologia
entre indivíduos com esquizofrenia mostrou que
embora muitos entrevistados usassem tecnologia em
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Incels, violência e transtorno mental

uma forma semelhante e positiva para populações não clínicas,
quase metade relatou que 'raramente' ou 'nunca'
tecnologia usada ao apresentar sintomas
(Gay 2016). Mais pesquisas são necessárias para entender
como um transtorno psicótico pode influenciar o envolvimento
de um indivíduo com a comunidade incel online
e qualquer violência relacionada.
autismo pode aumentar a vulnerabilidade a ser desenhado
na ideologia incel 'baseada em regras' e aumentar
risco de radicalização (Williams 2021). Fatores principais
são provavelmente um estilo cognitivo específico caracterizado
por pensamento e interpretações literais, como
bem como dificuldades com vários aspectos da cognição social,
resultando em ingenuidade social e problemas
formando relacionamentos íntimos (Murphy 2020).

Transtornos alimentares e dismorfia corporal Embora não haja nada na literatura, uma preocupação com o
sexo também pode ser um motivador para
Actualmente não existem dados disponíveis sobre a prevalência
inceldom.
de distúrbios alimentares ou dismorfia corporal dentro
Alguns indivíduos com autismo podem ser particularmente
a comunidade incel. Contudo, tanto os incels quanto os indivíduos
vulnerável à natureza online da comunidade incel devido a
com transtornos alimentares demonstram pensamento
problemas de compreensão dos relacionamentos e dinâmicas
dicotômico. Por exemplo, incels visualizam o
associadas (Williams 2021). Em
mundo através das lentes de 'Chads' e 'Stacys' e
Além disso, condições concomitantes, como depressão
indivíduos com anorexia se fixam em 'gordura' e
e ansiedade estão frequentemente presentes no autismo (White
'magro' (Rahman 2021). Também se poderia argumentar
2017). Embora o autismo não esteja diretamente ligado à
que ambos os grupos mostram fixações extremas em questões físicas
violência (Heeramun 2017), em alguns contextos a combinação
aparência ('lookism'), alimentando sentimentos de inutilidade.
de certas características pode levar a
Há evidências de fóruns tóxicos dentro
explosões e comportamento criminoso (Murphy 2020).
a comunidade incel dedicada a criticar cada
Por exemplo, dificuldades com a regulação emocional
a aparência do outro (O'Malley 2020). Também existem
e fraco controle de impulsos, combinado com
comunidades online para indivíduos com transtornos alimentares
estilos cognitivos associados ao autismo, como
(por exemplo, vários grupos pró-ana; Juarascio 2010)
pensamento literal, pode aumentar a vulnerabilidade a
e embora visem fornecer apoio social
envolver-se em violência.
para pessoas com transtornos alimentares, eles também têm o
Sugere-se que o autismo de Rodger contribuiu para
potencial de dano ao encorajar
as frustrações significativas que ele experimentou e
comportamentos alimentares. Embora seja um transtorno alimentar
forneceu a “base psicobiológica” para o
não alimentaria a violência contra outros, associada
desenvolvimento da sua personalidade defensiva que facilitou a
pensamento distorcido, como imagem corporal inferior em
sua violência em massa (Allely 2017; White 2017).
relação com os outros, poderia contribuir para sentimentos de
No entanto, à medida que as taxas de autismo na comunidade incel
desesperança e alimentam crenças extremamente supervalorizadas.
provém principalmente de auto-relato ou diagnóstico retrospectivo
Além disso, dado que a investigação sugere que mais de 60%
após um homicídio-suicídio, isso deve ser
dos indivíduos com transtorno alimentar relatam automutilação
interpretado com cautela dada a falta de informações válidas
ou pensamentos suicidas (Cliffe 2021), incels
avaliações (Williams 2021). No que diz respeito ao
pode ser mais vulnerável à violência autoinfligida
associação entre ter autismo e vulnerabilidade
se eles têm um distúrbio alimentar. Na verdade, um terço
ao inceldom, é importante não inferir que todos os homens
incels participando de uma pesquisa on-line relataram
com autismo correm risco de inceldom. Pode ser que um
sempre se envolvendo em atos de automutilação e a intensidade
subgrupo específico de indivíduos, em determinadas
desta automutilação está significativamente correlacionada com a sua
circunstâncias, seja mais vulnerável. Mais pesquisas são
acordo que pertencer à comunidade incel
necessária, incluindo avaliação diagnóstica robusta de
os fez querer se machucar (Speckhard
indivíduos.
2021). No entanto, embora existam semelhanças
entre os dois grupos, não há evidências que
sugerem que ter um transtorno alimentar aumenta a Transtorno de personalidade
vulnerabilidade ao incelismo.
Existem poucos artigos abordando transtornos de personalidade
na comunidade incel. Análise de
Autismo
Os escritos de Rodger revelam evidências de grandiosidade,
A literatura sugere que pode haver uma pretensão e direito que é sugerido
relação entre autismo e atividades relacionadas à incel (Williams ser indicativo de transtorno de personalidade narcisista.
2021). Em uma pesquisa on-line, quase um Isto também é destacado por seu extremo ciúme de
um quarto dos incels relataram sintomas de autismo aqueles em relações sexuais (Williams 2021). Isto
(Speckhard 2021) e a análise de sete casos de violência tem sido argumentado que a raiva narcisista era o
relacionados ao incel sugeriram que mais de principal contribuinte para o tiroteio em massa que ele cometeu.
metade apresentava características de autismo (Williams Além disso, a coocorrência do autismo
2021). Algumas das dificuldades associadas e o narcisismo pode ser um fator particularmente explosivo

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Broyd e outros
combinação, aumentando o risco de alguém com
autismo envolvido em comportamento violento (Allely 2017).
Até o momento não há discussão sobre a contribuição
de transtornos de personalidade dissociais, emocionalmente
instáveis ou paranóicos ao incelismo, que podem ser
esperado em casos onde há evidências de violência,
suicídio e dificuldades em formar relacionamentos saudáveis. No
entanto, um estudo com homens de uma população geral dos EUA
população que completou uma medida de 'traço incel'
descobriram que a combinação de traços de personalidade
frequentemente vistos no inceldom (por exemplo, rejeitado, inseguro, que, se fomentada, irá redirecioná-los para longe do
paranóico, ressentido) com queixas sobre gênero
papéis e atitudes hostis em relação às mulheres foi associada
ao aumento de relatos de fantasias sobre
assassinato e estupro (Scaptura 2020). No entanto, estes
'traços' podem ser mais um reflexo de distorções cognitivas e
esquemas mal adaptativos, reforçando a
papel do pensamento distorcido na comunidade incel.
Tais características também apresentam oportunidades para
intervenção. No entanto, a medida 'traço incel'
foi desenvolvido a partir da análise de reportagens da mídia
de violência incel e não houve validação
da medida em populações incel.
Gestão clínica
Avaliação de risco
Embora algumas das dificuldades específicas associadas
com o autismo pode, em certas circunstâncias,
aumentar a vulnerabilidade ao inceldom (Williams 2021),
desesperança e depressão parecem ser centrais
fatores de risco associados à violência incel (van
Brunt 2021). No entanto, esses estados mentais são
comum e o cometimento de violência é raro
evento entre incels. A literatura sugere que um
'tríade de risco' que parece ser exclusiva dos incels é
de especial relevância. Isso consiste em atividades cognitivas
distorções, uma fixação na falta de experiência sexual
e culpando as mulheres por tais frustrações. Mudanças
na intensidade dessas fixações deve ser monitorada,
especialmente quando acompanhada de deterioração
funcionamento social e ocupacional, pois podem
ser uma indicação da crescente preocupação patológica com a
violência contra as mulheres (Rahman
2021). Comportamentos de alerta de um problema relacionado ao incel
ataque será semelhante àqueles relacionados à violência
a qualquer crença extremamente supervalorizada, como um
aumento perceptível na perseverança, opinião estridente,
declarações negativas sobre o(s) alvo(s) pretendido(s),
aumento da ansiedade ou medo em relação ao(s) alvo(s),
interesse em armas e um tom emocional raivoso
(Rahman 2021). A interação entre tais
fatores é exibido na Fig .
Uma ferramenta que mede o grau de doutrinação para
inceldom foi desenvolvido recentemente a partir da análise
de 50 casos de violência incel. van Brunt & Taylor's
Rubrica de Doutrinação Incel (IIR) (citada em van
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Brunt 2021), descreve 20 fatores de risco que indicam
o compromisso de um indivíduo com o movimento
(Fig. 1). Até o momento não há dados disponíveis sobre
validade do IIR e não foi desenvolvido especificamente para a
população incel com transtornos mentais.
Mais pesquisas são necessárias para avaliar como uma pontuação IIR
associaria à violência. No entanto, tal
ferramenta pode ser inestimável para o tratamento psiquiátrico inicial
avaliação de incels com transtornos mentais.
Identificar influências estabilizadoras para incels é vital,
caminho da violência, incentivando a redução de danos
estratégias, aumentando relacionamentos positivos e
reforçar atitudes não violentas (van Brunt 2021).
Exemplos de tais influências incluem
apoio familiar, educação, estabilidade no trabalho e habitação
(van Brunt 2021). A avaliação da presença de fatores de
proteção informará o grau de risco e a
melhores abordagens para mitigar esse risco.
Intervenções clínicas
As intervenções específicas destinadas a abordar as vulnerabilidades incel
permanecem numa fase inicial, uma vez que todas as medidas disponíveis
a informação é teórica. Várias abordagens psicoterapêuticas
foram sugeridas, como
terapia existencial, terapia narrativa, terapia centrada na pessoa
e terapia da realidade (van Brunt
2021). Em geral, as intervenções clínicas devem ter como objetivo
discutir crenças incel com o indivíduo e validar suas experiências
enquanto desmonta a narrativa
das mulheres como a raiz dos seus problemas, o que será
importante na prevenção da radicalização (O'Malley
2020).
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem sido
identificado como uma abordagem útil para reformular o incel
visão de mundo, com foco nas cognições desadaptativas
em torno de sua vitimização, desesperança e
atribuição incorreta (Cottee 2020; Maxwell 2020; van
Brunt 2021). Parece que distorções cognitivas
crenças, em vez de uma certa tipologia de personalidade,
são centrais para o inceldom (Scaptura 2020). As intervenções
da TCC poderiam ajudar os incels a encontrar formas alternativas de
processar o mundo reconhecendo padrões de pensamento
irracionais e astrofizantes e pensando de forma diferente sobre
sua baixa auto-estima e rejeição (van
Brunt 2021).
No entanto, envolver os incels em intervenções terapêuticas
continua a ser um desafio devido a uma desconfiança geral no
sistema de saúde mental entre os incels.
(Speckhard 2021). Apesar da clara ligação entre
inceldade e depressão, apenas metade dos 272
incels respondendo a uma pesquisa on-line relatada alguma vez
tentando terapia; 15 (6%) relataram considerá-lo benéfico.
Aqueles que não tentaram terapia consideraram-na “uma
fraude', 'um desperdício de dinheiro' e incapaz de consertar as
características físicas às quais atribuíram seu inceldom
BJPsych Advances (2023), vol. 29, 254–264 doi: 10.1192/bja.2022.15
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(Speckhard 2021). Além disso, trabalhar com pacientes
com questões tão complexas como as vivenciadas por
alguns incels pode ser um desafio para os terapeutas. A
forte inveja do paciente pelo sucesso percebido do terapeuta
pode interferir na aliança terapêutica, desencadeando
sentimentos de inferioridade (White 2017).
Dada a importância das comunidades online para os incels,
a terapia de grupo pode ser um ambiente de apoio entre
pares para explorar os sentimentos associados ao incels,
e os grupos de TCC baseados na Internet são um caminho
potencial para exploração (Maxwell 2020) .
A melhoria do acesso online a recursos de saúde mental
para homens jovens foi identificada como uma das
recomendações políticas mais importantes para combater
o extremismo incel (Hoffman 2020). Abordar a “masculinidade e a preocupação no contexto de certas características
tóxica” e a desigualdade de género será importante para
encorajar a expressão mais saudável de emoções
relacionadas com a falta de auto-estima e inutilidade nos
rapazes (O'Malley 2020 ). O envolvimento com as redes
sociais pode facilitar e reforçar crenças perigosas que
toleram a violência baseada no género.
Portanto, é crucial visar os jovens que são vulneráveis à
ideologia incel, melhorando a literacia digital e a consciência
crítica ao longo da educação (O'Malley 2020).
Discussão
A grande maioria dos incels não é uma ameaça significativa
para as mulheres. No entanto, os casos crescentes de
violência incel têm sido considerados actos de extremismo
violento (Zimmerman 2018) e há preocupações crescentes
de que a subcultura incel incorpore características de
terrorismo (Speckhard 2021). Portanto, há necessidade de
determinar os fatores de risco entre os incels que levam os
indivíduos a apoiar e a praticar violência. Isto inclui melhorar
a nossa compreensão da saúde mental em geral.
A ideologia Incel baseia-se no facto de o indivíduo ter
uma visão negativa de si mesmo, do mundo e do seu futuro
devido à crença de que a sua aparência física
geneticamente determinada o condena a uma vida de
isolamento, solidão e rejeição pelas mulheres e pela
sociedade (Hoffman 2020) . Esta “tríade negativa” que
influencia a sua visão do mundo é comum em pessoas que
sofrem de depressão (Beck 1979), explicando assim a
elevada prevalência de desesperança na comunidade incel.
No entanto, a combinação de desesperança com a “tríade
de risco” que consiste em (a) fixação na falta de experiência
sexual, (b) distorções cognitivas e (c) culpar as mulheres
pelas suas frustrações parece ser central no agravamento
das dificuldades. associado ao inceldom. Os Incels podem
evoluir para a violência se se sentirem incompreendidos
pela sociedade e considerarem prejudicar a si próprios e/
ou aos outros como a sua única opção (van Brunt 2021).
BJPsych Advances (2023), vol. 29, 254–264 doi: 10.1192/bja.2022.15
https://doi.org/10.1192/bja.2022.15 Publicado on-line pela Cambridge University Press
Incels, violência e transtorno mental
Algumas dificuldades associadas ao autismo podem
aumentar a vulnerabilidade ao desenvolvimento de factores
de risco adicionais que, em última análise, empurram um
indivíduo para o incelismo e para a violência potencial.
Os exemplos incluem dificuldades em navegar nas
interações sociais e aumento da suscetibilidade à
depressão e ansiedade. A pesquisa mostra que quando um
indivíduo com autismo comete violência, muitas vezes há
uma comorbidade, como transtorno de humor, psicose ou
psicopatia (Im 2016). Para uma avaliação de risco
abrangente, é importante que a combinação de dificuldades
associadas ao autismo do indivíduo seja considerada no
contexto das suas circunstâncias pessoais. Por exemplo, a
ingenuidade social, as dificuldades de regulação emocional
cognitivas (como o pensamento rígido e a falta de
consciência das consequências), os défices de
processamento sensorial e a exclusão social têm um
impacto profundo na tomada de decisões e no
comportamento (Murphy 2020). O papel contextual do
autismo será diferente dependendo do indivíduo, e a
formulação de caso individual deve ser usada para
estabelecer os fatores que contribuem para o risco (Al-Attar
2020). Isto também identificará vulnerabilidades associadas
ao autismo que poderão ser cultivadas como pontos fortes
e aumentarão a resiliência do indivíduo ao extremismo (Al-
Attar 2020). Não é apenas o autismo que confere risco,
mas a combinação das dificuldades específicas vivenciadas
pelo indivíduo em determinadas circunstâncias.
Menos claro é o impacto de outros transtornos mentais
do neurodesenvolvimento, uma vez que não houve
pesquisas sobre transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH) ou deficiência intelectual e seus
desafios associados entre grupos incel. Além disso, são
necessárias mais pesquisas para compreender como a
psicose pode contribuir para o abuso e a violência
relacionada, especialmente considerando que o
envolvimento com uma comunidade online pode ser um
desafio para indivíduos com sintomas ativos de psicose (Gay 2016) .
Existem pesquisas emergentes sobre a contribuição do
transtorno de personalidade para a violência incel. O
transtorno de personalidade narcisista parece ser de
particular interesse. Isto é digno de nota dada a complexa
interação observada nos incels entre o seu sentimento de
superioridade masculina em relação às mulheres e os seus
sentimentos de inferioridade desencadeados pela rejeição
percebida ou real por parte das mulheres. Pesquisas que
sugerem padrões cognitivos específicos que levam um
incel a acreditar que algo errado está sendo feito
deliberadamente contra ele pode contribuir para o caminho para a violência (Allely 2017).
No entanto, é necessário esclarecimento para estabelecer
se se trata de “traços de personalidade” aparentes ou,
talvez mais provavelmente, do desenvolvimento de um
conjunto específico de esquemas mal-adaptativos
associados ao aumento do risco de incelismo.
259
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Broyd e outros

Inceldom

Influências estabilizadoras/protetoras (van

Brunt 2021)
Certas dificuldades
associadas ao autismo dentro
Por exemplo, apoio de amigos e familiares,
de um conjunto específico de
educação, estabilidade habitacional, emprego,
circunstâncias (por
empatia, tomada de perspectiva, saídas não
exemplo, ingenuidade
violentas
social, pensamento literal)

Outros fatores contribuintes (por

Alguns sinais de alerta gerais associados ao extremismo (Rahman
exemplo, disfunção executiva)
2021):

Aumento notável na perseverança

Desesperança e Extensão da doutrinação
Opinião estridente Violência
depressão em inceldom
Declarações negativas sobre os alvos pretendidos
Aumento da ansiedade ou medo em relação aos alvos
Interesse em armas/armas
Tom emocional de raiva

Fixação na falta de

experiências sexuais
A Rubrica de Doutrinação Incel destaca 20 fatores que devem ser considerados ao
avaliar o compromisso de um indivíduo com a inceldade: misoginia, racismo, pílula
preta, autoconceito impreciso, busca por fama, raiva, desesperança,
catástrofe, deficiência, abandono, comportamentos de abordagem, uivos,
Tríade suicídio, ataques anteriores, redpill, materiais incel, rejeição, intimidação, falha na
de risco mudança e queda livre (van Brunt 2021).

Distorções cognitivas (por

Culpando as mulheres
exemplo, pensamento de tudo ou
pelas frustrações
nada, generalizações excessivas,
falta de empatia)

FIG 1 Fatores de risco associados ao inceldom.

Recomendações para avaliação de risco e prática clínica para abordar o uso da Internet com um potencial incel pode ser
No contexto da encontrado no Quadro 2.

• Avaliar o histórico de relacionamento do indivíduo, tanto sexual

avaliação de risco clínico, dada a novidade deste fenómeno online,
quanto não sexual. Tente entender seus sentimentos sobre a
os médicos podem não ter a certeza de como abordar a discussão
falta de intimidade. Por exemplo, um incel sentiria vergonha e
com o paciente para determinar se o inceldom é um problema atual.
frustração significativas por sua virgindade e sentiria ciúme de
A realização de entrevistas com incels e a recolha de informações
colegas em relacionamentos sexuais bem-sucedidos. •
colaterais é crucial para formular o que o inceldom significa para
Determinar a presença de misoginia e atitudes antifeministas.
eles e como molda as suas interações com outras pessoas,
Outras atitudes discriminatórias,
especialmente mulheres (Cottee 2020 ). O género do médico deve
ser considerado neste contexto e a forma como o indivíduo pode
reagir a uma avaliadora do sexo feminino. Mais importante ainda, o
clínico deve ter uma compreensão abrangente do incelismo e das

visões de mundo e valores associados.

QUADRO 1 Áreas recomendadas a serem

consideradas ao concluir avaliações de risco
para potenciais incels
Com base na literatura atual, são fornecidas abaixo orientações
iniciais sobre áreas a serem consideradas ao avaliar a presença de Uso da Internet
inceldom e o grau de risco. Este não é de forma alguma um guia
Histórico de relacionamento
exaustivo e, dependendo do contexto da avaliação, nem todas as
Misoginia e outras atitudes discriminatórias
informações serão facilmente acessíveis. Os principais elementos
Frustrações e queixas
deste guia foram resumidos na Caixa 1.
Distorções cognitivas

Doença mental
Autismo

Doutrinação na ideologia incel

Orientação para avaliação de
Glorificação de Elliot Rodger
riscos • A avaliação do uso da Internet pelo indivíduo deve ser
Aceitação da ideologia da pílula negra e do suicídio
priorizada para compreender como as culturas online influenciam
Fixação/acesso a armas
sua visão de mundo e seu envolvimento com a comunidade
incel (Rahman 2021). Fatores estabilizadores

Fóruns de particular interesse e conselhos sobre como

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QUADRO 2 Conselhos para navegar nas conversas sobre o uso da Internet durante as avaliações iniciais
Visitar um site da Internet é semelhante a visitar sites físicos.
Muitas vezes é necessário um ambiente livre de julgamentos e alguma
compreensão básica para que as pessoas se sintam confortáveis.
O médico deve procurar pedir ao indivíduo que explique onde vai na Internet,
em vez de lhe pedir que explique os detalhes de como acede a esses
websites ou o que eles contêm (o que pode fazê-lo sentir-se ainda mais
alienado).
Além de obter informações sobre como o paciente utiliza um site, o
médico deve pesquisar o site após uma reunião inicial para se familiarizar
com o layout e as atitudes gerais, especialmente os fóruns.
É importante descobrir quais fóruns incel o indivíduo usa.
Existem muitos fóruns incel diferentes e eles muitas vezes são expulsos
dos serviços de hospedagem na web por causa de conteúdo ofensivo.
Isso significa que os nomes dos sites mudam com frequência. Se o indivíduo
disser qual site usa, revise o site, se possível, para entender o tipo de
comunidade e conteúdo com o qual está interagindo. Por exemplo, eles
usam um fórum incel no Reddit, onde estarão sujeitos às regras de todo
o site, ou é um fórum específico do incel, como Incels.is? Os URLs mais
recentes podem ser encontrados no Twitter @IncelsCo.
como racismo e homofobia, também são comuns em
incels (van Brunt 2021). • Compreender
as frustrações que os incels experimentam em diferentes
domínios das suas vidas e o peso que atribuem a
cada uma destas áreas. Normalmente, os incels
enfrentam desafios significativos em áreas como
emprego, família e amizades, e sucesso financeiro,
mas a sua fixação está na falta de relacionamentos
íntimos (Williams 2020). • Considere a
presença de distorções cognitivas, como catastrofização,
generalizações excessivas, pensamento de tudo ou
nada, direito e falta de empatia (Williams 2021). Mais
importante ainda, considere a presença de atribuição
errada de culpa, especialmente às mulheres, pelos
seus problemas. • Considere a presença de
doenças mentais, tais como depressão, ansiedade e
transtornos de personalidade, e como isso afetou o
envolvimento do indivíduo com a comunidade incel.
Compreenda suas experiências com serviços de
saúde mental no passado. • Considere um diagnóstico
de autismo e as dificuldades específicas associadas que
o indivíduo vivencia.
Em determinados contextos, algumas dificuldades
associadas ao autismo (tais como a ingenuidade
social, a interpretação dos estados mentais dos
outros e a tomada de perspetivas) podem aumentar a
vulnerabilidade de um indivíduo à
radicalização pelas comunidades online. • Avaliar a
extensão da doutrinação à ideologia incel. Com a
investigação neste campo a crescer continuamente,
ferramentas como o IIR (van Brunt 2021) são vitais. A presença de crenças
julgamento
profissional
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Incels, violência e transtorno mental
Nos fóruns da web em inglês, outros sites que você deve conhecer são:
Stormfront, um site extremamente racista conhecido por promover visões
extremistas e terroristas com alguns cruzamentos com o
comunidade incel
4chan, que é o maior canal (imageboard). Nos últimos anos, o 4chan
tornou-se muito mais racista e propenso à radicalização devido à
política interna. Também é importante estabelecer quais painéis do
4chan o indivíduo usa, já que alguns painéis são mais preocupantes
do que outros (por exemplo, /pol/ e /r9k/).
Parler, que é uma das poucas plataformas de 'liberdade de expressão'
que ainda existe após o ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro
de 2021. Embora não seja específico do incel, é provável que coloque
as pessoas em contato com extremistas de extrema
direita. .net, um site especificamente focado na ideia de como ser
atraente e como ser atraente é a única maneira de encontrar um
interesse romântico. Frequentemente referenciado e usado por incels
devem ser de particular interesse: misoginia, direitos
e ciúme (van Brunt 2021). • Determinar
se há evidências de glorificação de Elliot Rodger e de
outros indivíduos associados à violência incel.
• Avaliar a adopção pelo indivíduo da ideologia da pílula
negra, que é considerada o nível máximo de
doutrinação para a causa incel e contribuirá para o
risco de suicídio e homicídio (van Brunt 2021) . •
Avaliar a
presença de fixação e/ou acesso a armas, especialmente
armas de fogo. A maioria dos ataques incel foram
tiroteios em massa.
Portanto, o envolvimento com a comunidade incel
deve ser considerado ao avaliar a adequação para
licenças de armas. Outras armas potenciais incluem
facas, veneno e ácido. • Avaliar a
presença de fatores estabilizadores e protetores na vida
do indivíduo, como apoio de amigos e familiares,
educação, estabilidade financeira, perspectiva positiva,
acesso limitado a meios letais, empatia pelos outros,
tomada de perspectiva, relacionamentos íntimos,
consciência das consequências, resiliência, resolução
de problemas, saídas não violentas, estabilidade
emocional e autoestima positiva (van Brunt 2021).
Além de uma formulação abrangente da inceldade do
indivíduo, utilizando uma ferramenta estruturada de
centrais
incel
para avaliar o risco de se envolver em
261
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Broyd e outros

o terrorismo de actor solitário seria benéfico. O Protocolo de 2020). São necessárias mais pesquisas para compreender as
Avaliação da Radicalização Terrorista-18 (TRAP-18; Meloy contribuições da psicose, do transtorno de personalidade, do
2018) avalia uma mistura de sinais de alerta proximais uso indevido de substâncias, do TDAH e da deficiência
dinâmicos e estáticos e características distais, concentrando- intelectual para o aumento da violência. Além disso, dado o
se em padrões de comportamento. A ferramenta pode ser elevado nível de fixação observado nesta população, a
usada para alocar recursos, informando quais indivíduos investigação deve centrar-se na influência do funcionamento
requerem atenção prioritária e gestão ativa de casos. cognitivo nos incels, considerando características como
disfunção executiva, perseverança e falta de pensamento flexível.
À medida que adquirimos uma maior compreensão dos
Intervenções clínicas factores que contribuem para o incelismo e a violência
associada, poderemos começar a identificar subgrupos de
Em termos de intervenção clínica, os incels são indivíduos
incels, o que seria benéfico para determinar o apoio e a
complexos e vulneráveis que requerem uma gestão clínica
intervenção apropriados.
complexa e não haverá uma única intervenção que funcione
para todos (Basu 2021). Portanto, uma formulação abrangente
dos problemas do indivíduo será benéfica não só para a Conclusões
avaliação e gestão dos riscos, mas também para orientar
O Inceldom é um movimento online pouco compreendido, mas
intervenções adaptadas às necessidades do indivíduo. Como
significativo, que mostra potencial para o extremismo e a
ideias e crenças distorcidas caracterizam tipicamente estes
violência, especialmente entre aqueles com dificuldades de
indivíduos, não é surpreendente que intervenções psicológicas
saúde mental. Embora a depressão, o autismo e os distúrbios
como a TCC tenham sido apresentadas como o tratamento de
de personalidade não estejam associados à violência em si,
escolha. Fornecer estratégias para reconhecer o seu
podem acelerar ou produzir uma capacidade vulnerável a
pensamento irracional e utilizar abordagens mais racionais é
crenças extremamente sobrevalorizadas, que se refinam com
essencial para evitar que um incel se transforme num
o tempo e se tornam cada vez mais difíceis de desafiar. A
pensamento desadaptativo, independentemente do risco.
investigação neste campo está na sua infância e os
mecanismos por detrás desta associação requerem uma
Incentivar o envolvimento com serviços de saúde mental é
investigação mais aprofundada. Pesquisas futuras devem ter
uma prioridade, dada a prevalência de atitudes suspeitas e
como objetivo trabalhar diretamente com incels para
negativas em relação à terapia entre os incels (Speckhard
determinar como a psicopatologia se desenvolve ao longo do
2021). Além disso, os incels muitas vezes não transmitem seu
tempo e potenciais intervenções terapêuticas para prevenir a
inceldom fora dos fóruns. A terapia on-line baseada em grupo
transição de incels vulneráveis para a violência.
tem sido defendida como uma abordagem para superar essas
barreiras.
Deve-se considerar cuidadosamente a decisão sobre como Material suplementar O material
esses grupos devem ser facilitados. Os incels podem ver os
suplementar está disponível online em https://doi.org/10.1192/bja.2022.15.
conselhos dos não-incels como não solicitados, inúteis e
muitas vezes insultuosos (Maxwell 2020). A terapia de grupo
poderia prevenir o desencadeamento de sentimentos de
inferioridade, aliviando o foco no terapeuta, que pode ser visto Disponibilidade de dados
como um símbolo de sucesso. O uso de abordagens da terapia Todos os artigos citados na revisão são referenciados. A
focada na compaixão pode ser útil para os incels, dada a sua
metodologia de busca está disponível em materiais
eficácia comprovada em populações com alto nível de suplementares. Nenhum outro dado foi utilizado para este artigo.
autocrítica (Leaviss 2015). Mais pesquisas são necessárias
para estabelecer a eficácia de tais intervenções.

Limitações e direções futuras
A compreensão das associações entre inceldade e transtorno
mental é limitada pela falta de avaliações psiquiátricas válidas
usadas para estabelecer diagnósticos.
A literatura atual é teórica ou baseada em pesquisas de
autorrelato on-line, mídia ou análises de conteúdo de fóruns
por não-incels, que podem interpretar mal as nuances da
linguagem incel. É possível recrutar incels para entrevistas e
pesquisas futuras devem se esforçar para trabalhar diretamente
com incels para obter maior conhecimento de suas experiências
(Cottee
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer a assistência da Polícia de West
Yorkshire.
Contribuições do autor
JH e JB conceberam o estudo em conjunto. JB escreveu a
maior parte do texto, com significativo apoio de LB na revisão
narrativa e redação.
DP, DMJH auxiliaram no desenvolvimento do projeto e fizeram
contribuições significativas na edição do texto.

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Financiamento
Esta pesquisa não recebeu financiamento específico de nenhuma agência de
financiamento, do setor comercial ou sem fins lucrativos.
Declaração de interesse
Nenhum.
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wp-content/uploads/2018/09/ Policybrief-Violent-Extremists-Incels.pdf).
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Broyd e outros

MCQs 3 A sugerida 'tríade de fatores de risco' é única 4 Qual das seguintes não é uma das 12 áreas
Selecione a melhor opção para cada pergunta inceldom inclui: recomendadas para cobrir durante a avaliação de
uma fixação na falta de experiência sexual, evidência de risco de um potencial incel? um uso da
1 A ideologia Incel está centrada na crença de que: o distorções cognitivas e autismo b internet

lugar de alguém na hierarquia social é determinado pela
atratividade física e pelo sucesso financeiro
b incels estão no topo da hierarquia social c as
mulheres estão na base da hierarquia social d incels
atraem as mulheres mais atraentes
fixação na falta de experiência sexual, culpando as
mulheres pelas frustrações e pelo autismo
c fixação na falta de experiência sexual, evidência de
distorções cognitivas e culpabilização das mulheres
pelas frustrações
b habilidades
ocupacionais c presença de fatores
estabilizadores d presença de
transtorno mental e extensão da doutrinação à ideologia incel

('Stacys'), deixando as mulheres menos atraentes para d fixação na falta de experiência sexual, fixação em armas 5 Os desafios à implementação de intervenções clínicas
'Chade' e evidência de distorções cognitivas e fixação na falta para abordar o problema incluem:

Os homens são 'guardiões sexuais' de experiência sexual, auto-aversão e fixação em armas. uma desconfiança generalizada nos serviços de saúde
mental dentro da comunidade incel
2 A seguir estão todas as forças motrizes do b identificar candidatos para terapia, já que os incels não
inceldom, exceto para: um divulgam seu inceldom
direito c a ineficácia da terapia cognitivo-comportamental entre
b misoginia c incels db e c
ciúme d
isolamento ea e b.
e fatalismo.

264 BJPsych Advances (2023), vol. 29, 254–264 doi: 10.1192/bja.2022.15

https://doi.org/10.1192/bja.2022.15 Publicado on-line pela Cambridge University Press