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Pró- Reitoria de Graduação


Curso de Psicologia
Trabalho de Conclusão

Adolescente em conflito com a lei: Fatores de Risco para a


prática do ato infracional

Autora: Jaqueline Nascimento de Jesus


Orientadora: Drª. Lêda Gonçalves Freitas

BRASÍLIA
2016
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JAQUELINE NASCIMENTO DE JESUS

ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: E OS FATORES DE RISCO PARA


A PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL

Monografia apresentada ao curso de graduação


em Psicologia da Universidade Católica de
Brasília como requisito parcial para obtenção
do Título de Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Prof.ª Drª.Lêda Gonçalves de Freitas

BRASÍLIA 2016
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Trabalho de Conclusão de curso de autoria de Jaqueline Nascimento de Jesus,


intitulado “Adolescentes em conflito com a lei os fatores de risco parra a prática do ato
infracional”, apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau em Bacharel em
Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em 13 de junho de 2016, defendida e
aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

____________________________________________________
Profª. DrªLêda Gonçalves de Freitas -UCB
Doutora em Psicologia- UNB

_______________________________________________
Prof.ª Msc. Ana Cristina Alencar Bezerra de Oliveira- UCB
Mestre em Ciências Políticas

Brasília
2016
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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me conduzir por este caminho e até aqui ter me
ajudado.
Aos meus pais, irmão e marido por terem acreditado em mim e por sempre me
incentivarem a buscar meus sonhos. Com seu apoio cuidando dos meus filhos para que esse
sonho se tornasse realidade
A esta Universidade, seu corpo docente, direção e administração pela construção que
irá me direcionar a um horizonte superior.
Aos amigos e a todos que de algum modo fazem parte da minha formação. Às minhas
amigas, Karollyne Medeiros e Verônica Pacheco que quase deixei doidas comigo, colegas de
graduação que seguiram algumas caminhadas, sempre se fizeram presentes em minha vida por
palavras de encorajamento através de sua experiência e vivência pessoal e acadêmica.
A minha orientadora Lêda Gonçalves de Freitas, que me acompanhou, transmitindo-
me tranquilidade. Quero expressar o meu reconhecimento e admiração pela sua competência
profissional e pela forma humana que conduziu minha orientação.
À Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira, por participar da minha banca
examinadora e pela leitura do meu trabalho, sempre, com sua suavidade e ternura. Agradeço
pela disponibilidade.
E a todos os meus professores que sempre admirei e os vi como verdadeiros mestres.
O meu muito obrigado a todos e a todas que acreditaram em mim e que de alguma
forma contribuíram para que o meu sonho se tornasse realidade!
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"Os homens fazem sua própria história, mas


não a fazem como querem; não a fazem sob
circunstâncias de sua própria escolha e sim sob
aquelas com que se defrontam diretamente,
legadas e transmitidas pelo passado."

Karl Marx
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RESUMO

Jesus, J. N. J. Adolescentes em conflito com a lei e os fatores de risco para a prática do


ato infracional. 2016. Psicologia, Universidade Católica de Brasília, 2016.

Este estudo objetiva investigar os fatores de risco que induzem os adolescentes a


pratica do ato infracional. Buscou-se compreender o adolescente em conflito com a lei a partir
das perspectivas dos riscos que envolvem os processos físicos, sociais e emocionais de seu
desenvolvimento a fim de compreender o perfil dos adolescentes que cometem ato infracional
e os fatores de riscos que mais prevalecem. O estudo tem como referencial teórico, o
adolescente, o ato infracional e os fatores de risco, visto que são elementos primordiais para a
compreensão, desses adolescentes, e do lugar que eles ocupam no contexto social.
Participaram desta pesquisa quatro adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e individuais. Os resultados foram organizados
em três categorias, as quais foram sistematizadas com base na análise de conteúdo proposta
por Bardin (2004). A primeira categoria Adolescente e a convivência familiar revela que os
adolescentes tem uma boa convivência com seus familiares, mas que neste meio de
convivência, alguns tiveram perdas de seus membros e passaram a morar com parentes e
irmãos. Eles descrevem muito sobre o forte vínculo afetivo com a mãe, trazendo a questão
protetiva que a mesma mantinha em relação a eles. Já o relacionamento com o pai, emerge
sobre a ausência afetiva, os mesmos, a questão que conheciam, mas não conviviam com a
figura paterna. Na segunda categoria Adolescente e o uso de drogas, na relação entre o uso de
drogas, os adolescentes trouxeram o envolvimento associada ao círculo de amizades, os
mesmos disseram que na cidade onde moram tem muitos amigos que são do crime e que usam
drogas, isto fez com que eles experimentassem. De certa forma a droga apareceu em função
de uma questão de curiosidade. Os adolescentes atribuem o cometimento do ato infracional a
este fator. Na terceira Adolescentes e a escola, os adolescentes relataram que pararam de
estudar devido ao uso das drogas, pelo fato de querer usá-la no momento das aulas. Outra
questão foi o medo de morrer por causa das guerras entre gangues, relataram que estão
estudando dentro da unidade. Adolescentes com propensão ao uso de drogas tendem a
selecionar colegas usuários com características semelhantes à sua personalidade. Assim
sendo, nota-se que os fatores de risco que obtiveram maior relevância para o ato infracional
foram o uso das drogas e relação entre os pares, pois os adolescentes atribuem o cometimento
do ato infracional aos mesmos.

Palavras-chave: drogas, família, escola.


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ABSTRACT

Jesus, JN J. Adolescents in conflict with the law and the risk factors for the practice of an
infraction. 2016. Psychology, Catholic University of Brasilia, 2016.

This study aims to investigate the risk factors that lead teenagers to practice the offense. He
sought to understand the adolescent in conflict with the law from the perspective of the risks
involving the physical, social and emotional processes of development in order to understand
the profile of adolescents who commit offenses and the risk factors more prevalent. The study
is theoretical, the teenager, the offense and the risk factors, as they are key elements to
understand, these adolescents, and the place they occupy in the social context. Participated in
this research four teenagers in fulfillment of socio-educational measures. semi-structured
individual interviews were conducted. The results were organized into three categories, which
were systematized based on content analysis proposed by Bardin (2004). The first category
Adolescent and family life reveals that teenagers have a good relationship with their families,
but this way of living, some had losses of its members and moved in with relatives and
siblings. They describe a lot about the strong emotional bond with her mother, bringing the
protective matter that it held about them. But the relationship with his father, emerges on the
emotional absence, the same, the question they knew, but not living with the father figure. In
the second category Teen and drug use, the relationship between drug use, teens brought the
involvement associated with the circle of friends, they said that in the city where they live has
many friends who are crime and using drugs, this He caused them to experience. In a way the
drug appeared due to a matter of curiosity. Teenagers attribute the commission of an offense
to this factor. In the third Teenagers and school, adolescents reported that they stopped
studying due to the use of drugs, the fact that want to use it at the time of the lessons. Another
issue was the fear of dying because of gang wars, reported they are studying within the unit.
Teens prone to drug use tend to select fellow users with features similar to your personality.
Therefore, it is noted that the risk factors that had the most relevance to the offenses were
drug use and relationship between peers, because teenagers attribute the commission of an
offense to them.

Keywords: drugs, family, schoo


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Sumário
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1- INTRODUÇÃO......................................................................................................................9
2-OBJETIVOS..........................................................................................................................10
2.1-OBJETIVO GERAL.......................................................................................................10
2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................10
3- REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................................11
3.1- ADOLESCÊNCIA........................................................................................................11
3.2 - ATOS INFRACIONAIS..............................................................................................12
3.3- FATORES DE RISCOS................................................................................................15
I.I FAMÍLIA.....................................................................................................................16
I-II USO DE DROGAS....................................................................................................17
I-III PROBLEMAS ESCOLARES...................................................................................18
I- IV EXCLUSÃO SOCIAL.............................................................................................19
4-METODOLOGIA..................................................................................................................20
4.1 – PARTICIPANTES:......................................................................................................20
4.2- INSTRUMENTOS:.......................................................................................................21
4.3- PROCEDIMENTO COLETADO DE DADOS:.......................................................21
4.4- ANÁLISE DE DADOS:............................................................................................21
5- RESULTADO E DISCUSSÃO............................................................................................22
5- I.I PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO:.............................................................................22
5.1.1 “ADOLESCENTES E A CONVIVÊNCIA FAMILIAR”...........................................23
5.1.2 DESCRIÇÃO.........................................................................................................23
5.1.3 DISCUSSÃO...........................................................................................................25
5.3 “ADOLESCENTES E O USO DE DROGAS”..............................................................27
5.3.1 DESCRIÇÃO:........................................................................................................27
5.3.2 DISCUSSÃO...........................................................................................................29
5.4 “ADOLESCENTES E A ESCOLA”..............................................................................31
5.4.1 DESCRIÇÃO:........................................................................................................31
5.4.2 DISCUSSÃO...........................................................................................................32
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................34
7- REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO...................................................................................36
ANEXO A.................................................................................................................................40
ROTEIRO PARA ENTREVISTA........................................................................................40
ANEXO B - TCLE...................................................................................................................41
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1- INTRODUÇÃO

De acordo com o mais recente Levantamento Nacional de Atendimento


Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei, existem hoje no Brasil 12.041
adolescente cumprindo medidas de internação, o que representa um crescimento de 4,50%,
seguido de 3.934 em internação provisória e 1.728 em cumprimento de semiliberdade, esta
mesma pesquisa coordenada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
Republica, (SHD/PR), mostra que em 2010 houve uma quebra na tendência de queda no
número de internações que vinha ocorrendo desde 2007 com 7,18 adolescentes internado, em
2008 com 2,01%, 2009 com 0,43% e 2010 com 4,50%. Nos dados de proporção entre
adolescentes e adolescentes restritos e privados de liberdade o DF, lidera o ranking de jovens
que se encontram em medidas de restrição de liberdade, com 29,6% de internados para cada
dez mil adolescentes, seguido do Acre com 19,7 e São Paulo com 17,8.
O crescimento nas infrações praticadas por jovens não é um fenômeno isolado e nem
especifico no Brasil. Em diversos países do mundo, com diferença na esfera social e
econômica, é possível constatar a preocupação com o envolvimento de jovens envolvidos com
infrações. As causas apontadas são variadas: econômicas, culturais, politicas e psicológicas.
Revelam a frágil condição da infância e juventude no cenário mundial (ASSIS E
CONSTANTINO, 2005).
Como faz notar os fatores de risco correspondem a toda sorte de eventos negativos de
vida que, quando presentes no seu contexto, aumentam as chances do sujeito apresentar
problemas físicos, psicológicos e sociais (POLLETO E KOLLER, 2006). Não podemos
deixar de salientar que os adolescentes sofrem um processo de construção de identidade e a
responsabilização de novos papéis sociais, perante a família e a sociedade. Assim, o
entendimento da dinâmica de construção da identidade do adolescente num contexto de
violência e criminalidade torna-se pertinente para a compreensão dos casos de adolescentes
em conflito com a lei.
A Constituição de 1988 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei nº 8.069,
de 13 de julho de 1990, constituem as maiores conquistas da sociedade civil organizada
reconhecendo crianças e adolescentes como sujeitos de direito, de protagonismo, e prevendo a
proteção integral por parte da sociedade e do estado, sendo prioridade no uso dos recursos
públicos para a garantia de provimento e efetivação da proteção. Diariamente, milhares de
crianças e adolescentes são vítimas de diversos tipos de violência, tendo os seus direitos
violados e sua vida ameaçada (Ministério da Saúde, 2006).
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A Constituição Federal determina que crianças e adolescentes recebam tratamento


prioritário por parte do Estado e da sociedade em geral. As determinações entre os artigos 112
e 130 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em vigor desde 1990, reafirmam a
necessidade de oferecer atenção diferenciada a essa população quando envolvidas em atos
infracionais. O Estatuto considera ato infracional toda conduta praticada por adolescente
definida como crime ou contravenção pelo Código Penal Brasileiro. O Estatuto da Criança e
do Adolescente retrata uma evolução das leis anteriores de responsabilização do adolescente
quando da prática de um ato infracional.
Esta pesquisa tem como objetivo compreender os fatores de risco que induzem os
adolescentes á prática do ato infracional. No que diz respeito ao campo social o estudo trará
reflexões para uma melhor compreensão da questão, não deixando de salientar que estas
contribuições tratam de um novo olhar sobre os fatores econômicos, sociais e culturais, pois
nos permitiu ir além do senso comum para aprofundar a relação com a sociedade e a cultura.
O adolescente em conflito com a lei que viola normas sociais é exposto a uma série de
fatores de risco pessoais, familiares, sociais, educacionais e biológicos (GALLO E
WILLIAM, 2005).

2-OBJETIVOS

2.1-OBJETIVO GERAL

-Compreender os fatores de risco que induzem os adolescentes à prática do ato


infracional

2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS

-Compreender o adolescente em conflito com a lei a partir da perspectiva dos riscos


que envolvem os processos físico, social e emocional de seu desenvolvimento.

- Compreender o perfil dos adolescentes que cometem ato infracional e quais os


fatores de risco que mais prevalecem.
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3- REFERENCIAL TEÓRICO

3.1- ADOLESCÊNCIA

A temática apresentada tem sido preocupante pela exposição de toda a sociedade a


estes altos índices de violência. A adolescência é um período de mudanças físicas, sociais e
cognitivas, sendo interpretada por Wainer, (2006) como a fase no qual os jovens exploram e
experimentam diversos comportamentos. O mesmo autor afirma que as manifestações
transgressoras marcadas por práticas de rebeldias têm sido consideradas naturais durante este
processo de desenvolvimento da adolescência. Contudo, existem diversas formas de
manifestação da conduta infracional. Essas de acordo com Hein (2004), estão associados a
diversos fatores de riscos, que se formam de variáveis que podem afetar negativamente o
desenvolvimento dos indivíduos.
Segundo Osório (1989), a adolescência é uma etapa distintiva do homem, sendo
marcada por diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, que é influenciada
por fatores sociais e culturais e pode ser definida como:

uma etapa peculiar ao humano. Nela culmina todo o processo maturativo


biopsicossocial do individuo (...) não podemos compreender a adolescência
estudando separadamente os aspectos biológicos e sociais e culturais. Eles são
indissociáveis e é justamente um conjunto de suas características que confere
unidade ao fenômeno da adolescência (OSÓRIO, LUIZ 1989, p.10).

Na adolescência o corpo do jovem passa por intensas alterações físicas e biológicas,


que podem alterar o humor, o comportamento e suas relações, estas mudanças podem abalar a
autoestima e o estado emocional do adolescente. Nesta fase o jovem mostra-se mais
vulnerável ás alterações sociais. A adolescência é marcada por transformações, transição e
ebulição. “... de contradições, confuso, doloroso”. (ABERASTURY, 1980. p. 16). A autora
afirma que existe um conflito básico da adolescência, os jovens deixam de ser criança para
passar por uma condição de maior responsabilidade, a mesma define que, a adolescência
significa a perda definitiva da condição de criança. Por outro lado o adolescente se depara
com muitas pressões e crises, principalmente por ter que definir seu papel na sociedade,
muitos destes adolescentes buscam soluções mágicas para resolverem seus problemas, até
mesmo na criminalidade.
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A crise refere-se a um período crescente de vulnerabilidade e potencialidade e não


uma ideia de desestruturação, a crise surge de uma necessidade de escolhas entre tendências.
(ERIKSON, 1976, p.96),
Segundo Aberastury (1980), a adolescência é uma fase de transição em que há um
constante questionamento dos jovens, estes apresentam incertezas sobre o que escutam e
acabam se rebelando. A autora ressalta que no processo de construção de sua identidade o
jovem busca referências naquele seu convívio, os pares. Por isso, o adolescente tem a
necessidade de um intenso convívio em grupos, que se aproximam por diversos motivos
diferentes, em diversos espaços sociais, devido a diferentes temas e propósitos.
Adolescentes que vivem em um contexto de vulnerabilidade são sujeitos a permearem
a fase da adolescência para apropriar-se de responsabilidades de adultos tornando-se
responsáveis muitas vezes pelo sustento da família. Momentos de crise ocorrem em várias
etapas no amadurecimento e no crescimento do homem. Na adolescência, a crise de
identidade, é revestida de vulnerabilidade, pois as estruturas sociais na concepção do jovem
não estão definidas. Sendo assim, para a constituição da adolescência são decisivas as
relações sociais, históricas, culturais e econômicas.

3.2 - ATOS INFRACIONAIS

No Brasil, país com desigualdades sociais marcantes, os altos índices de ato


infracionais por adolescentes é preocupante: os resultados do estudo de Oliveira e Assis
(1999) revelam que somente na cidade do Rio de Janeiro a taxa de homicídios praticados por
adolescentes de 15 a 19 anos é cerca de duas vezes maior do que a da Colômbia (onde a taxa
de homicídios foi de 50,2 por cem mil habitantes de 15 a 19 anos) e dez vezes a dos Estados
Unidos, que apresentam uma taxa de homicídios de 10,3 por cem mil habitantes entre 15 e 19
anos de idade (SILVA, 2013).
A delinquência juvenil no Brasil é um problema eminentemente estrutural. Os
menores infratores, não importa como sejam rotulados, em sua maior parte, são procedentes
das classes desfavorecidas e praticam, no mais das vezes, delitos contra o patrimônio,
destacando-se entre eles o furto (SILVA, 2013. p 05).
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Segundo Silva (2013), entende-se, que a marginalização do menor é aspecto e


manifestação do processo social que marginaliza certos grupos sociais, que por sua vez,
marginalizam em massa o menor, quando: transferem para este menor as marcas de sua
indigência econômica e financeira; abandonam-no, carente e desassistido, forçando-o à
prática de atividades infracionais.
Silva (2013) apresenta aspectos em que aborda a que a delinquência decorre da
miséria em que vivem milhares de famílias, e que transferem a pobreza às crianças e jovens,
muito cedo compelidos a lutar pela vida. Nas ruas, onde buscam recursos, logo se encontram
submetidos à exploração e a toda sorte de violências, principalmente dos adultos.
Condicionados pelo meio, acabam cometendo atos antissociais de sobrevivência. Existe uma
equivocada política de segurança pública que ao invés de apoiar ações de serviço social,
garantindo o trabalho dos educadores sociais, arbitrariamente retira esses meninos e jovens da
rua, devolvendo-os ao mesmo lugar, mais revoltados e agressivos. Compreender as
motivações que arrastam os jovens para a criminalidade violenta parece ser um dos desafios
mais urgentes para a superação da situação em que eles se encontram (SILVA E ROSSETTI
1999).
A expressão ato infracional foi o termo citado pelos legisladores na elaboração do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Não se refere que o adolescente é autor de um
crime ou contravenção penal, mas o mesmo é autor de ato infracional, para isto o artigo 103
do Estatuto da Criança e do Adolescente defini que: “Art.103 considera-se ato infracional a
conduta descrita como crime ou contravenção penal. O ECA considera autores de infração os
adolescentes entre 12 a 18 anos e os jovens de 18 a 21 anos, nos casos expressos em lei (art.
2º do ECA).
As circunstâncias que levam um adolescente a se tornar um infrator são muitas vezes
complexas e variadas. Quando as relações na adolescência são substanciais, elas protegem a
saúde do adolescente, tanto quanto a saúde do adolescente é capaz de manter a efetividade de
suas relações. Do mesmo modo, quando o adolescente passa a se comunicar por meio de um
sintoma, ele ao mesmo tempo afeta e é afetado negativamente pelo seu sistema relacional
(SLUZKI, 1997).
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Segundo Baumkarten (2001), a adolescência é transposta por momentos de mal-estar


(depressão, sentimentos de perda, de abandono, de angústia, escolha de identidade),
justamente por ser um período de constantes transformações. Os sintomas na adolescência, as
condutas de riscos (suicídio, transgressões, anorexia, bulimia, uso de drogas) surgem em
função da capacidade de se conseguir enfrentar ou não esse mal-estar. Caso o adolescente não
encontre uma forma saudável de enfrentar, o mesmo passara por um sofrimento intenso,
marcado pela impossibilidade de se comunicar, a não ser pela somatização ou passagem ao
ato. Os sintomas dos adolescentes são testemunhas do seu sofrimento, da sua vontade e
simultaneamente da sua impotência para curar os sintomas relacionais (COLLE, 1996/2001, P
196).
As transgressões das normas são encontradas pelo jovem como uma forma de se
comunicar com o outro, de denunciar um sofrimento coletivo, é mais um pedido de ajuda que
uma afirmação de si. Os comportamentos sancionados pela violação das leis marcam a
passagem das atividades derrogatórias ás atividades repreensivas: os atos infracionais
(SELLOSE, 1997). Estamos falando dos “fora da lei”, o qual nega toda troca de
reciprocidade, a lei social passa a ser negada.
Foucault (2000), defini o “infrator” como aquele que infringiu as normas jurídicas
estabelecidas, enquanto a “delinquência” é a condição que o sistema submete o indivíduo,
estigmatizando-o e controlando-o, inclusive após ter cumprido a pena.
As normas deixam de ser percebidas no âmbito da coerção e passam a ser construídas
no âmbito da interdependência. Quando isso não acontece, os jovens podem passar à prática
de atos infracionais, demandando a mediação da interdição. Em busca pela afirmação, eles
tentam provar que seus desejos podem modificar o real instituído (SELOSSE, 1997). Outro
aspecto levantado pelo autor é que quando os adolescentes não conseguem articular seu
desejo com o interdito, utilizam condutas violentas, infratoras, de modo a desconsiderar o
interdito e substitui-lo pela “lei do mais forte”, colocando em jogo o limite da vida: da sua e
do outro.
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Quando observamos o interior das famílias com adolescentes autores de atos


infracionais, percebemos que os mecanismos seguros que protegem e garantem a sua
sobrevivência parecem não funcionar (PRETO 1995). As práticas educativas parentais
ineficazes seriam os primeiros determinantes do comportamento antissocial (PATTERSON et
al., 1992) . Cabe citar Carvalho e Gomide (2005) que apresentam um ponto de vista
semelhante, afirmando que as práticas educativas parentais constituem uma forma propícia de
se analisar a aquisição e a manutenção desse tipo de comportamento adolescente. As autoras
afirmam que as práticas negativas, como negligência e abuso físico, estão relacionadas ao
desenvolvimento do comportamento antissocial em crianças e adolescentes.
Alguns adolescentes autores de ato infracional apresentam comportamento violento
que pode ser explicado pelo padrão de relações estabelecidas dentro de sua família. Esse
padrão construído no ambiente familiar tende a ser transposto para as relações sociais fora de
casa (DE ANTONI E KOLLER, 2002).
De acordo com Garbarino (2009), a violência na adolescência usualmente começa a
partir de uma combinação de dificuldades precoces nos relacionamentos, associadas a uma
combinação de dificuldades temperamentais.

Segundo Sentis (1991 apud CHAUTANT E BLATIER, 1999, p.38) os adolescentes


em conflito com a lei são rejeitados pela escola, pela família, pelo mundo do trabalho e pelas
instituições de um modo geral. Por isso eles criam uma nova realidade, com seu próprio
código que corresponde a vida delinquente. Suas carências afetivas ou seus desvios de
personalidade encontram-se relacionados com a vida que tiveram: seu lugar na família, com
uma mãe ambivalente (ora o supervaloriza, ora o desvaloriza) e um pai ausente ou muito
autoritário, com atos repreensivos, ás vezes imperceptível ou muito forte, mas sempre
inadequados.
É pertinente salientar que, a negligência, tem sido uma forma de violência comumente
encontrada no caso dos autores de atos infracionais, caracterizada pela falta de cuidados, que
envolvem o fornecimento de nutrientes e estímulos emocionais necessários ao bom
desenvolvimento do indivíduo. Uma forma mais grave de negligência é o abandono das
crianças e dos adolescentes pelos pais (DE ANTONI E KOLLER, 2002).
Steinberg (2000) pontuou que os adolescentes que vivem em famílias afetivas
possuem uma probabilidade menor de engajar-se em comportamentos delinquentes.
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Segundo Monteiro (1999), a sequência de perdas e exclusões que os adolescentes


passam aumenta o medo em relação ao bem-estar social e a morte. Colocam-se ora na posição
de vítimas (com relação à discriminação que sofrem), ora na de vitimizadores (intimidado por
todo o bairro). Temem e idolatram ao mesmo tempo os marginais, afrontando a ordem vigente
e se rebelando contra a falta de direitos. Tornam-se violentos para ganharem uma identidade
entre os seus, para serem reconhecidos, combatendo o temor da própria morte (VELHO, et
al.,1996; LEAL,et al., 2001).
Nesse sentido, Oliveira (2001) justifica que a passagem ao ato infracional seria uma
busca de reconhecimento, efetuada em situação onde o reconhecimento simbólico foi
recusado, como é o que o parece ocorrer regulamente nas classes populares.

3.3- FATORES DE RISCOS

Os caminhos que levam os adolescentes a cometerem atos infracionais são


diversos, sendo uma tarefa difícil, apontar ou isolar como se as causas para a delinquência
juvenil fossem fatores isolados. Quando o adolescente em conflito com a lei viola as normas
sociais, o mesmo é exposto a vários fatores de riscos pessoais, familiares, sociais,
educacionais e biológicos (GALLO E WILLIAMS, 2005). Como faz notar, os fatores de
riscos correspondem a toda sorte de eventos negativos de vida que, quando presentes no
contexto do adolescente, aumentam as chances de apresentar problemas físicos, psicológicos e
sociais (POLLETO E KOLER, 2006).
Segundo os autores Assis e Constantino (2005), afirmam é fundamental
conhecer os principais fatores de riscos à infração juvenil. Portanto, aduziremos algumas
pesquisas que discutem sobre os principais fatores apontados por eles como relacionados ao
envolvimento infracional: uso de drogas, o contexto familiar, problemas escolares e o meio
social.

I.I FAMÍLIA
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A família muitas vezes aparece como um fator de risco na vida dos adolescentes em
conflito com a lei. Segundo Celion (2003) evidencia estes adolescentes e suas famílias
geralmente vivenciam uma situação de desestruturação social. Diante disto alguns autores
mencionam que em função desta desestruturação, algumas famílias acabam perdendo sua
função de oferecer proteção, suporte afetivo e regulação social. (CELION et al., 2003;
DOOLEY et al., 1981).
A pesquisa preconiza, segundo Straus (1994), que os adolescentes com vínculos pouco
efetivos com a família têm maior probabilidade de se envolver em infrações do que aqueles
com relações familiares estreitas. Estudos mostram que a disciplina pouco consistente e
ineficiente imposta pelos pais está associada a prática infracional (SILVA, 2000). Os pais de
filhos em conflito com a lei têm maior probabilidade de exercer uma supervisão infundada,
uma disciplina incoerente e inadequada e menor probabilidade de saber onde seus filhos estão
ou com quem eles estão (STRAUS et al., 1994; GOMIDE et al., 2003). Pais que cometem
algum tipo de crime ou contravenção, com o consumo excessivo de álcool e drogas, pais que
maltratam seus filhos ou praticam violência física, psicológica e sexual com os mesmos e/ou
apresentam psicopatologia severa, podem comprometer suas funções parentais no controle, na
disciplina e no envolvimento com os filhos. Os adolescentes internados relataram índices
excessivamente altos de violência física, de abandono, de negligência e punições severas
aplicadas pelos pais (LOEBER; et al 1998; STRAUS et al., 1994).
Uma pesquisa realizada com 41 famílias, de adolescentes em conflito com a lei
revelou altos índices de negligência e abuso físico, demonstrando um ambiente hostil no qual
estes jovens vivem (CARVALHO E GOMIDE, 2005). A vivência desses adolescentes, sobre
condições de violência no âmbito familiar desencadeiam grandes prejuízos ao
desenvolvimento de curto e longo prazo. Devido a isto apresentam uma maior vulnerabilidade
aos maus- tratos, com repercussão na saúde, seja física ou mental (ASSIS, 2006).

I-II USO DE DROGAS

O uso de drogas faz com que muitos adolescentes, independente de sua classe social,
cometam o ato infracional como uma forma de sustentar o vício, porém o consumo de drogas
por adolescentes em conflito com a lei, não está somente ligado à causa do ato infracional,
envolve também outros aspectos, no entanto é preciso compreender toda a problemática que é
o uso de entorpecentes.
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O consumo de drogas por adolescentes é uma realidade em todo mundo, que tem se
ampliado em todas as sociedades, pois é na adolescência que o uso de entorpecentes pode
causar danos por toda sua vida. O uso de drogas por adolescentes se constitui em um
problema psicossocial, problemática que não está inserida apenas em nossa atualidade e sim
vem sendo discutida há algum tempo, sendo necessário refletir sobre esse problema,
objetivando soluções.

De acordo com Rocha:

O abuso de drogas por adolescentes foi reconhecido com um problema sério


somente no século xx, ao final dos anos 50, com os primeiros relatos de solventes.
Nos anos 60, com os movimentos jovens ganhando força, as substancias químicas,
principalmente a maconha e os alucinógenos, começaram a fazer parte de seu
mundo e, desde então, as drogas fazem parte do cenário internacional (Rocha 2005,
p.268).

É expressiva a quantidade de adolescentes usuários de drogas no País, em 2002, 85,6%


faziam uso de drogas antes da apreensão. Adolescentes infratores tendem a procurar amigos
do próprio meio de infração, buscando estímulos e apoio a suas ações ilegais como roubos,
tráficos ou uso de drogas (REIS, 2009).
O uso de drogas faz com que muitos adolescentes, independente de sua classe social,
cometa o ato infracional como uma forma de sustentar o vicio, porém o consumo de drogas
por adolescentes em conflito com a lei, não está somente ligado à causa do ato infracional.
Adolescentes que usam drogas estão vinculados ao crime e a pobreza, evidenciando que
fatores econômicos implicam ao consumo de drogas. O consumo de drogas por adolescentes é
comum por aqueles que se encontra em situação de exclusão social, porém as drogas fazem
parte de todas as classes sociais, o que se diferencia são os tipos de drogas consumidas
(GARCIA, OLIVEIRA 2010).
O envolvimento com a criminalidade na maioria dos casos está relacionado com o
consumo de drogas, a qual designa outros aspectos como a evasão escolar, a violência,
problemas de saúde, conflitos familiares e outros, uma realidade assustadora, que a cada dia
as drogas estão fazendo parte do cenário dos adolescentes (GARCIA, OLIVEIRA 2010).

I-III PROBLEMAS ESCOLARES


20

O abandono escolar é atribuído, segundo Oliveira (2001) à ineficácia dos métodos


educacionais em sua totalidade. As escolas falham no ensino de habilidades acadêmicas
necessárias e também colaboram com a exclusão social por meio de estigmas atribuídos por
colegas e professores. A família também tem sido apontada como responsável pela evasão
escolar de adolescentes, já que muitos pais têm falhado no cumprimento de práticas
educativas adequadas.
Para Pacheco e Hutz (2009), o envolvimento de um familiar com o cometimento de
delitos parece contribuir para a aprendizagem dessa conduta por meio da modelação, assim
como o consumo de drogas também contribui para esta aprendizagem, além de ser
desencadeador de conflitos dentro do contexto familiar.
Na maioria das vezes o adolescente tem uma capacidade verbal baixa e problemas de
aprendizagem que também se associam fortemente a outros fatores que contribuem para a
conduta infracional. Quando estas dificuldades estão presentes, surgem dificuldades na escola
e, por sua vez, podem levar a uma série de problemas escolares, culminando em problemas de
comportamento. Do mesmo modo, as habilidades verbais inadequadas associam-se a uma
multiplicidade de problemas psicossociais (STRAUS, 1994).
Segundo Pereira e Mestriner (1999), a evasão escolar deve-se à ineficácia dos métodos
educacionais em sua totalidade, por falhar em ensinar as habilidades acadêmicas necessárias,
e também à exclusão social por parte dos colegas e professores da escola. Por serem rotulados
como alunos problemáticos, colegas agressivos e outros estereótipos estigmatizantes, os
adolescentes evadem das escolas e preferem assumir a “identidade de delinquente”
(PEREIRA, 1999).

I- IV EXCLUSÃO SOCIAL

Kodato e Silva (2000) analisaram a conduta de jovens infratores e detectaram que as


condições financeiras insuficientes e a carência de figuras representativas, capazes de exercer
um papel de identificação e suporte emocional, podem empurrá-los para alternativas
antissociais. Frente ao descrédito de sua inclusão no consumo e as perspectivas obscuras de
acessão social, resta-lhes apenas o ato infracional e o uso da violência, como exercício de
poder para a existência.
21

Os atos de violência contra a sociedade podem ser representados como uma resposta
aos medos e sentimentos de ódio provocados pela não inserção e reconhecimento social. A
desfiliação comunitária, gerada pela situação de vulnerabilidade e a identidade estigmatizada
no decorrer de suas histórias de vida, implicam a real possibilidade de serem seduzidos e
capturados pelo crime organizado (LOUSADA, 2010).
Segundo Catro e Guareschi (2007) apontam, a necessidade de pertença social e o
desejo de alcançar valores e bens materiais pela sociedade de consumo mostram-se mais
eficientes do que a simples imposição de padrões morais de direitos e respeito aos outros. A
prática de infrações e as ações violentas cometidas, podem muitas vezes ser justificadas, no
sentido de que ganhos financeiros e materiais implicam sensação ilusória de importância e
reconhecimento social.
Volpi (2001) salienta que adolescentes em conflito com a lei são meras vítimas de um
sistema social, ou “produto do meio”, e o delito é uma estratégia de sobrevivência ou uma
resposta mecânica a uma sociedade violenta e infratora em relação aos seus direitos. O mesmo
autor afirma que a responsabilização do meio social em relação aos adolescentes, submete a
responsabilidade exclusiva e definitiva pelos atos infracionais cometidos (VOLPI, 2001).
Assim considera-se problemática uma das particularidades da questão social na área
da infância e da juventude, definida por Iamamoto (1998) como o conjunto das expressões das
desigualdades da sociedade capitalista. Para a autora: a questão social expressa, portanto,
desigualdades econômicas, politicas, culturais das classes sociais, mediadas por disparidades
nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em
causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização (IAMAMOTO
2002, p.26).

4-METODOLOGIA

Nesta pesquisa realizada, optamos pelo uso de metodologia qualitativa, partindo-se do


entendimento de que essa abordagem poderia oferecer melhores recursos à investigação
proposta nos objetivos. Segundo Minayo:

(...) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa,


nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou
seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis. (MINAYO 1995 P.21-22).
22

Sendo assim, os dados que advêm das pesquisas qualitativas, precisam ser analisado,
de forma diferente dos dados provenientes de estudos de uma abordagem quantitativa, que se
vale de software, teste de hipóteses, estatísticas descritivas e multivariada. Desse modo,
optou-se pela analise de conteúdo que tem sido difundida e empregada, a fim de analisar os
dados qualitativos. Diante disto, a análise de conteúdo é uma técnica de análise das
comunicações, que irá analisar o que foi dito nas entrevistas ou observado pelo pesquisador.
Na análise do material, buscou-se classificá-los em temas ou categorias que nos auxiliariam
na compreensão do que está por trás dos discursos. O caminho percorrido pela análise de
conteúdo, ao longo dos anos, perpassa diversas fontes de dados, como: notícias de jornais,
discursos políticos, cartas, anúncios publicitários, relatórios oficiais, entrevistas, vídeos,
filmes, fotografias, revistas, relatos autobiográficos, entre outros. O método quantitativo
baseia-se em quantidades de referencias e na frequência das ocorrências.

4.1 – PARTICIPANTES:

Participaram desta pesquisa quatro adolescentes do sexo masculino que cumprem


medidas sócioeducativa na UNIDADE DE INTERNAÇÃO DE SÃO SEBASTIÃO (UISS), a
idade dos participantes era entre 14 a 18 anos. A escolha da Unidade se deu a partir da faixa
etária dos participantes, tendo em vista, que algumas das unidades não teriam diversificação
na faixa etária, nesta unidade estão internados adolescentes entre 12 a 18 anos. A escolha dos
adolescentes foi feita pela psicóloga da unidade.

4.2- INSTRUMENTOS:

O instrumento utilizado foi uma entrevista semiestruturada (Apêndice A) e gravadas


em formato áudio. Segundo Minayo, a entrevista funciona como forma privilegiada de
interação social, atravessada pela dinâmica das relações existentes na própria sociedade.
Ainda de acordo com essa autora, na entrevista o participante tem a possibilidade de discorrer
sobre o tema proposto de forma livre, utilizando-se de sua própria linguagem, sem respostas
ou condições predeterminadas pelo pesquisador (MINAYO, 2009, P.65).
23

A opção pela técnica de entrevista semiestruturada se deu em função de proporcionar


ao entrevistador melhor entendimento e captação da perspectiva dos entrevistados, pois as
entrevistas livres, ou seja, totalmente sem estrutura, onde os participantes da pesquisa falam
livremente, “resultam num acúmulo de informações difíceis de analisar que, muitas vezes, não
oferecem visão clara da perspectiva do entrevistado” (ROESCH, 1999, p.159).

4.3- PROCEDIMENTO COLETADO DE DADOS:

Foi realizado contato com a Juíza das Varas de Medidas Socioeducativas do Distrito
Federal, para a visita e realização da pesquisa na Unidade, explicando-lhe o objetivo da
pesquisa e a importância do presente estudo. A juíza da Vara nos encaminhou a autorização
para a entrada na unidade, foram necessárias duas visitas a unidade, os encontros para a coleta
foram de meia hora e individuais. Deu-se início a investigação com a obtenção do
consentimento livre esclarecido em (Apêndice B). A entrevista ocorreu na sala de
atendimento do psicólogo da unidade, ao e informamos aos participantes que era
completamente sigilosa as informações e que sua identificação não seria revelada, que os
participantes poderiam desistir da pesquisa a qualquer momento senão se sentissem a vontade.
Logo apos serem gravadas, posteriormente foram transcritas.

4.4- ANÁLISE DE DADOS:

Ao analisar as entrevistas utilizamos a análise de conteúdo (BARDIN, 1977). Esta


técnica aplica-se à análise de textos escritos, orais, imagéticos ou gestuais, permitindo uma
compreensão das comunicações no seu sentido e atribuindo-lhes significados. Os dados
coletados previamente foram analisados, por meio da análise categorial que conforme Bardin
(2010) consiste no desmembramento do texto em categoriais agrupadas analogicamente. A
opção pela análise categorial se respalda no fato de que é a melhor alternativa quando se quer
estudar valores, opiniões, atitudes e crenças, através de dados qualitativos. Portanto, a
interpretação dos dados se deu pelo método análise de conteúdo, respaldada pelas
observações.

5- RESULTADO E DISCUSSÃO
24

Muitos são os motivos que levam os adolescentes a cometerem o ato infracional, como
o convívio familiar, pobreza, influência dos amigos, a guerra entre adolescentes, o abandono à
escola e o uso de drogas, abordaremos neste tópico as transcrições das categorias extraídas, a
partir da análise das entrevistas. Primeiramente serão descritas as categorias, as quais serão
exemplificadas com as verbalizações dos entrevistados. Feita a descrição da categoria, em
seguida apresentar-se-á a discussão.

5- I.I PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO:

Idade: Dois adolescentes têm 15 anos, o outro tem 16 e 17 anos.


Sexo: Todos são do sexo masculino
Com quem moravam antes de serem internados? Três moravam com a mãe, com
exceção de um que morava com a avó e irmãos.
Quantas pessoas moravam com você antes de vir para a unidade?
Adolescente 01- Moravam com a mãe e mais oito irmãos.
Adolescente 02- Moravam com os avós, dois irmãos e uma tia.
Adolescente 03- Moravam com a mãe, dois irmãos e um tio.
Adolescente 04- Morava com a mãe e mais quatro irmãos
Quais cidades moravam? Planaltina, Samambaia, Santa Maria e Ceilândia.
Quem trabalhava na casa/ Renda familiar: Três só se mantem com um salário mínimo,
só um dos adolescentes que a renda seria o dobro, pois tem mais de uma pessoa q trabalha.
Ato infracional: Três por Latrocínio (Roubo seguido de morte) e somente um por
homicídio.
Escolaridade: Dois dos adolescentes pararam na 5ª série, um dos adolescentes na 6ª
série e o outro na 4ª série.
Usavam drogas antes de ir parar na Unidade? Todos faziam uso de drogas
25

Podemos perceber com a descrição sociodemográfica que a maioria dos


adolescentes, não frequentava a escola antes de ingressar na unidade. A maioria dos
adolescentes parou de estudar, entre a quarta e a sexta série, o que demonstra a necessidade de
se adotar no país políticas específicas voltadas ao combate da evasão escolar . Todos os
adolescentes se declaram usuários de drogas, as famílias provem de baixa renda, mantendo
em sua maioria um salario mínimo para sua sobrevivência, as famílias tem uma ampla
extensão familiar, todos moram nas cidades, no qual a vulnerabilidade social é muito grande.

5.1.1 “ADOLESCENTES E A CONVIVÊNCIA FAMILIAR”

5.1.2 DESCRIÇÃO

A maioria dos adolescentes afirma que tem uma boa convivência com seus familiares
pais e irmãos. Eles relatam que uma boa vivência dentro de casa, portanto os relacionamentos
são positivos.

“A vivência dentro de casa era boa”. Adolescente 01


“Era tranquilo”. Adolescentes 03 e 04

Os adolescentes destacam que amam a mãe e que a relação é bem tranquila. Constatam
que as mães trabalham demais enquanto eles ficavam aprontando.

“São oito irmãos, mais alguns fizeram uns barracos la


para morar, dentro do lote”… “ Mais na minha casa só moram
cinco… “Meu relacionamento com minha mãe é de boa, amo
demais minha mãe cê tá doido”. Adolescente 01

“Com a mãe e com o irmão”. “Minha relação com


minha mãe é super tranquila”. “Ela trabalhava demais, para me
da às coisas e eu só aprontava.” Adolescente 03
26

“Morava com minha mãe e meus irmãos”… “Amava


minha mãe ela trabalhava demais para me da o bom e eu só na
rua aprontando”. Adolescente 04

Mesmo afirmando que a relação com os pais era boa, quanto ao Pai, há indicações de
pouca convivência e de nunca ter conhecido esta figura. Apenas um adolescente afirmou que
conhece o pai. Ademais, um adolescente informou que conheceu o pai, mas que já estava
morto. Portanto, somente um dos adolescentes conhecia e os outros três adolescentes
entrevistados não tem a referência paterna.

“Tenho pai. Conheço, mais não vivo com ele”. “Meu


relacionamento com meu pai é de boa” “Eu só o vejo de vez em
quando”. Adolescente 01

“Não sei quem era meu pai”. “Nunca o conheci”.


Adolescente 03

“Não conheci este doido não”. “E também não faço nem


questão, quem sempre cuidou de mim foi minha mãe”.
Adolescente 04

“Meu pai morreu...” “Teve um infarto” “Meu pai era


tranquilo”. Adolescente 02

Dos quatro adolescentes entrevistados dois já não tem mais a mãe. Um afirma que,
quando perdeu a mãe foi morar na rua, pois não tinha ninguém para protegê-lo. Os demais
adolescentes moravam com a mãe e irmãos antes de cometer o ato infracional.

“Porque minha mãe faleceu no acidente de carro e meu


pai morreu em dezembro, agora”.
27

“Minha mãe, me mandou ir morar com minha avó, no


Ceará, porque ela percebeu que estava com más companhia, e
começando a usar drogas”. Ai fiquei nove meses e ela foi me
buscar. Quando estava vindo embora, sofremos o acidente. Ai
ela morreu… Adolescente02

“Minha mãe morreu de morte normal, dentro de casa”


Aí quando minha mãe morreu eu fui morar na rua la no centro
da Ceilândia...” “Eu não tenho parente aqui, só no Pará…
Meus irmão ficaram com a vizinha, ate que o concelho tutelar
mandou eles para minha avó la no Pará.” Adolescente 04

5.1.3 DISCUSSÃO

É evidente que a família possui forte influência na formação do caráter de uma


criança, esta que contribui para um fiel desenvolvimento em sua adolescência e
posteriormente, para a consumação de valores indispensáveis em sua vida adulta. Faz- se
necessário destacar o papel que a família desempenha na vida do adolescente em conflito com
a lei, os jovens estão inseridos em um contexto familiar de vulnerabilidade, ou seja, transposto
pela exclusão social, uso de drogas, histórico infracional, conflito interpessoais, entre outros
aspectos.
Nos resultados presentes na pesquisa, o relacionamento familiar foi relatado como
positivo. Cabe citar Junqueira e Jacoby (2006), de que à instituição familiar compete o papel
de orientar e educar os filhos para o convívio social, buscando o desenvolvimento de suas
potencialidades e a conquista para de autonomia. Segundo as autoras Kalina e Coll (1999), a
ausência de afetividade dentro do sistema familiar, é um fator responsável por fenômenos
como o uso de drogas e práticas infracionais, pois é impossível substituir na vida das pessoas
o amor.
Ramires (2004) considera que o divórcio ou a separação dos pais sempre gera uma
crise para os filhos, pois consequentemente ocasiona mudanças e ajustes no contexto familiar.
Cabe citar os estudos de Dell’Aglioet al. (2005) os quais indicam que o desmembramento
familiar, por morte de um dos pais ou por divórcio entre eles, aumenta de forma considerável
a probabilidade dos filhos se envolverem em diversas formas de violência.
28

Ao que se tratar do desempenho dos pais podemos abordar que muitos pais trabalham
o dia todo, não conseguindo tempo suficiente para supervisionar seus filhos, alguns criam
seus filhos sozinhos, sem o auxilio de um dos genitores, há casos em que a mãe desempodera
a figura do pai e na condição de “mãezona”, acabam exercendo as duas funções e
prejudicando sua função.
Segundo Pereira (2008), os adolescentes descrevem o vínculo com a mãe muito forte,
além disto, apontam a questão protetiva na relação entre eles, revelando e valorizando como o
vínculo mais forte apresentado em sua rede social.
A ausência afetiva do pai de acordo com Pereira (2008), emerge com um sentimento
de frustração pela falta de atenção, em síntese a função paterna fica comprometida fazendo
com que os adolescentes procurem “fora” a autoridade que não encontra “dentro” de casa. O
ato infracional, surge como uma busca pelo pai ausente, da autoridade, de uma lei que seja
capaz de colocar limites, que proíbe o adolescente de agir, mais que favoreça em
contrapartida, algum tipo de aproximação pai e filho (PERREIRA, BULLACIO, OMER et al
2002).
Gomide reafirma que:

“Embora a escola, os clubes, os companheiros e a televisão exerçam grande


influência na formação da criança, os valores morais e os padrões de conduta são
adquiridos essencialmente através do convívio familiar. Quando a família deixa de
transmitir esses valores adequadamente, os demais vínculos formativos ocupam seu
papel.” (GOMIDE, 2004, p. 9).

Neste estudo confirma-se a importância da família na vida dos adolescentes, embora


as falas dos mesmos revelem que a maioria deles possui uma boa convivência com sua
família, há a presença de relatos indicativos da ausência da figura paterna, pois somente um
dos adolescentes conheceu o pai. Portanto, as condições de vulnerabilidade nos vínculos
familiares, podem ser identificadas como fatores que possivelmente tenham contribuído para
o ingresso desses jovens ao mundo infracional.

5.3 “ADOLESCENTES E O USO DE DROGAS”

5.3.1 DESCRIÇÃO:
29

Os adolescentes relatam que nas cidades onde moravam havia muita gente do crime,
os mesmo dizem que se envolveram com as drogas por conta das amizades com os “muleques
da quebrada”. Um dos adolescentes aponta que a mãe também tinha contato com os
traficantes da cidade onde moravam. Os adolescentes tem reconhecimento de culpa ao usar se
envolver com os amigos do crime, os mesmo sinalizam relatando que foi culpa deles o
envolvimento com a má influência.

“Na quebrada tinha muita gente do crime”…


Adolescente 01

“Eu me envolvi com muitas amizades ruins”. “ Creio


que foi mais por causa de amizade”… E culpa minha também…
“Comecei a usar com os muleques da quebrada”. Adolescente
02

“Eu andava com os moleques da quebrada… Tá ligada!


Má influência… “ Tinha rixa com os muleques da quebrada...”
Adolescente 03

“Minha mãe tinha contato com os traficantes da


quebrada… Teve uma vez que houve um homicídio e minha mãe
pegou a arma do cara que morreu e entregou para os traficantes
lá da quebrada.” Eu fiquei só de bico observando… Adolescente
04

Os adolescentes trouxeram muitas questões do envolvimento com a droga associada


ao ciclo de amizades, os mesmos disseram que na cidade onde moram tem muitos amigos que
são do crime e que usam drogas, que são amizades ruins, falaram também sobre as rixas que
havia com outros adolescentes.

“Se envolvi com uns amigos e eles usam drogas”…


Comecei pelo cigarro, depois passei para a maconha, quando
cometi o crime estava drogado, por isto não lembro nada…
Adolescente 01
30

“Os muleques me chamava para usar”. Ate que um dia


resolvi experimentar. Adolescente 02

“Eu usava droga, com os parceiros”“Foi assim que


entrei no mundo do crime” “Vim para aqui por causa de
guerra”. Adolescente 03

Alguns deles falam que a droga apareceu como uma questão de curiosidade. Os
adolescentes atribuem o cometimento da prática infracional, ao uso da droga, pois dizem que
estavam “doidão” na hora de cometer a infração.

“Porque eu não usava esta droga e quando usei esta


droga fiquei doidão”. Adolescente 01

“Po depois que perdi minha mãe, não quis ligar pra
nada não”.
“Eu não lembro como foi, porque estava drogado”. “
Estava usando droga! Ah! Nem sei… Estava doidão!“ Quando
cometi o crime, usava rupinol, estava muito doidão”…” Já
havia experimentado, mais depois que minha mãe morreu,
passei a usar mais, em 2013”. Adolescente 02

“ Então, marcamos e nóis se encontrou para fumar a


maconha… Pronto daí já comecei a usar todos os dias… Depois
passei a usar outras drogas, fui internado, mais nada
adiantou… Porque depois que eu sai comecei a usar todo tipo e
quando fui morar na rua, passei a usar o crack...” Adolescente
04

Todos os adolescentes sinalizam a questão o uso das drogas e contam quais foram as
drogas que usaram ao cometer o ato infracional.
31

“Eu não lembro…” Estava drogado, tinha usado


cocaína”, Adolescente 01

“Eu estava drogado, quando cometi meu crime, tinha


usado Rupinol...” Adolescente 02

“Comecei a usar droga muito cedo, eu tinha dez anos, quando


me envolvi no mundo do crime e a usar drogas com 12 anos...”
“Quando cometi este meu crime de agora eu não estava
drogado, mais os outros crimes eu estava drogado...”
Adolescente 03.

Um dos adolescentes fala sobre o prazer que a droga traz “Ah, a droga faz a gente
esquecer dos problemas que acontece dentro de casa”.

“Na hora que o cara esta usando , acha uma sensação boa.”
“Ai! O cara quer estar naquela sensação toda hora” Ah!
Esquecer de tudo. Dos problemas… “Usava para esquecer os
problemas da minha família”“ Mais por causa da minha mãe.”
“ Para esquecer a morte dela”. Adolescente 02

5.3.2 DISCUSSÃO

Nesta categoria foi investigado como os adolescentes, tiveram seu primeiro contato
com as drogas por meio da amizade, os mesmos atribuem as causas do cometimento da
prática infracional ao uso das drogas. O uso de drogas é um fator de risco, geralmente
associado à convivência no grupo de pares. Adolescentes que cometem ato infracional
tendem a procurar amigos do próprio meio infracional.
32

Na adolescência, notamos a importância da rede de pares na busca de identificação e


autonomia, ao mesmo tempo, em que essa rede se pode se configurar como fatores de risco e
proteção. O envolvimento infracional surge como possibilidade de reconhecimento e
“empoderamento” entre o grupo de amigos. A relação do adolescente com os pares passa por
momentos diferentes em relação ao grupo, o mesmo acredita que grupo lhe dará segurança,
protegendo-o do abandono, da repressão da família, das precariedades econômicas. Por isso,
quando se inicia o consumo de drogas, este pode ocorre em primeira instância, pela pressão
dos pares (Sudbrack 2009).
Segundo Pereira 2008, a necessidade de pertencimento ao grupo é anterior ao uso da
droga, e esta é vista como facilitadora do vínculo, como inserção ao grupo de pares, como
meio para a formação de uma imagem e identidade grupal. Ao mesmo tempo surge como uma
válvula de escape para os conflitos identitários, familiares e sociais. Os grupos de pares
acabam se construindo, marcados pelo consumo, em uma relação de inclusão-exclusão: se não
usa droga, não pertence ao grupo.
Os adolescentes acabam se decepcionando com os pares e percebendo a influência
negativa que o grupo exerce sobre ele. Os adolescentes passam a culpabilizar os pares pelo
seu fracasso e começam a criar uma imagem negativa sobre o mesmo e consequentemente
sobre si. Pereira (2008), afirma que ao mesmo tempo, este sentimento comum de insegurança
estabelece a rede de relações entre eles, mesmo que não seja ideal. Em outro modelo a autora,
aborda que o adolescente se conforma com a situação e percebe a droga e o ato infracional,
como partes do cotidiano. Sendo assim, os adolescentes não conseguem perceber novos
horizontes, não conseguem ver novas possibilidades de resgatar vínculos diferentes: está é sua
realidade e seu contexto.
O adolescente acaba percebendo no mundo da criminalidade sua rede de pertença e
acabam aceitando fazer parte dela, o grupo é ruim, mas é sua única referência de
pertencimento, diante disto, passa a adequar-se ao grupo.
Em contextos de pobreza e exclusão, os problemas enfrentados são diversos,
envolvendo descrença de si mesmo, ausência de esperança de melhores condições de vida.
Com isto, os adolescentes além de desejarem esquecer os problemas e encontrar momentos de
prazer, passam a acreditar que com a droga podem tudo e que a mesma é capaz de oferecer
poder, coragem para desafiar, conquistar e violar (Pereira e Sudbrack, 2008 p.155).
33

A relação com a drogadição e o ato infracional passa a ser uma nova representação
para eles: usam a droga para cometerem o ato infracional, a mesma aparece como funcional
para a prática infracional. Além disto, a droga pode representar uma justificativa ao ato
infracional. Os adolescentes relatam terem feito o uso de droga ao praticar o ato infracional,
Pereira e Sudback (2008), abordam como uma questão de justificativa dos atos, pois na
verdade o ato infracional teria sido praticado de qualquer forma, estando ou não sobre o efeito
da droga, todavia, os adolescentes denunciam então um mito de que a droga é o grande
responsável pela violência, passando a ser apenas uma forma do adolescente se defender
perante a justiça, perante a família, perante o olhar do outro, eximindo-se das
responsabilidades de seus atos. Os adolescentes apresentam uma estreita relação entre o
contexto do uso de drogas e as práticas infracionais. (PEREIRA E SUDBACK, 2008 P. 156)
Percebe-se que a droga possui sua relação com o ato infracional, facilitando-o, neste
estudo podemos perceber os relatos da prática do ato infracional atribuída a droga Porém, há
mais fatores que também influenciam nessa questão. A fase da adolescência é debilitada de
impulsos e imaturidades, resultando em fragilidades (enfraquecimento dos laços afetivos, falta
de proteção, vulnerabilidade, etc.) que podem ser influenciadas por qualquer um desses
fatores ditos.

5.4 “ADOLESCENTES E A ESCOLA”

5.4.1 DESCRIÇÃO:

Todos os adolescentes relataram que pararam de estudar devido o uso de drogas, pelo
fato de querer usá-la no momento das aulas. Outra questão foi o medo de morrer por causa
das guerras entre gangues. Outros relataram que pararam os estudos por conta da vida que
estavam levando na rua. Um dos adolescentes relata que a mãe cansou de ser chamada
atenção na escola pelo comportamento dele, portanto a mesma o deixou de lado no que se
refere aos estudos, outros relatam que pulavam os muros da escola para poder ir para a rua
usar drogas.
34

“Parei de estudar por causa das guerras” “Não fui mais,


fiquei com medo de morrer na porta da escola” “ Eu cometi meu
crime, porque eu estava jurado de morte” “Então para não
morrer eu cometi meu crime”. Matei primeiro”. Adolescente 03

“Eu ia para a escola e matava aula para poder usar


droga”… Ah minha mãe também cansou… Cansou de vê eu ir
para a escola e me ficar matando aula. “O diretor pagou um
sapo pra ela. Ai! Ela desistiu… Ai eu também não fui mais.
Adolescente01

“Comecei a pular o muro da escola para poder fumar


escondido, ate que um dia umas meninas apareceram e
perguntou se eu já tinha usado maconha. Falei que não…”
Adolescente 04

Os adolescentes relatam que ao chegar à unidade tiveram que estudar, alguns falam
que se desenvolve bem na unidade, somente um adolescente não esta estudando e não quis
falar sobre esta questão.

“Já, estou estudando aqui dentro”. Já vou pá 7º série.


Adolescente 01

“Penso em terminar meu estudos”“ Arrumar logo uma


profissão”. “Um emprego, fazer uns curso”. Adolescente 02

“Agora estou estudando aqui, mais me acho muito burro


tem uns cara que são mais rápido no pensamento e eu fico me
perguntando será que eu não dou conta, porque acho que sou
muito lento, mais tamo ai né.” “Vamo vê no que vai da isso
ai”… Adolescente 04

5.4.2 DISCUSSÃO
35

A evasão escolar coincide com o momento de iniciação da prática infracional, e o uso


de substâncias entorpecentes. A escola juntamente com a família é considerada uma
instituição fundamental na vida dos adolescentes, desempenhando importante papel na
socialização, integração e preparação para a vida e o trabalho (Junqueira e Jacoby, 2006 p.
15).
“Cabe “citar Tejada (2005), que evidência a inserção dos adolescentes na escola”
marcada pela defasagem entre idade e escolaridade”, ou seja, os adolescentes tem acesso
inicial à politica de educação, mas não há investimento necessário no que se refere à
manutenção e crescimento na vida escolar. A violência que existe na comunidade é outro fator
que invade o espaço escolar. Além disso, a escola deixa de ser percebida como um local
seguro e de socialização, mesmo que a violência não ocorra dentro da escola a violência passa
a permear o cotidiano do adolescente.
O consumo de drogas e a evasão escolar são aspectos identificados na trajetória de
vida desses adolescentes, segundo Minayo e Deslandes (1998) pontuam, o uso de drogas é
visto como um problema relacionado ao cometimento de atos infracionais. Os adolescentes
deixam de ir à escola para poder usar a drogas e praticar atos infracionais. Assis, completa:

A importância do fracasso escolar na vida dos infratores, deve ser vista sob diversos
ângulos. Os jovens com tais problemas familiares tendem a ir mal na escola; o mau
desempenho estimula a ampliação do grupo de amigos, em muitos casos, ligados ao
mundo infracional, e também contribui para o sentimento de fracasso na vida e para
a baixa autoestima, importantes fatores associados à delinquência (2001, p. 75).

Este aspecto também é comentado por Pereira e Sudbrack (2008), que constatam em
muitos adolescentes, “um forte sentimento de insegurança e de não pertencimento à
instituição escolar, em que se sentem fracassados, com baixa autoestima e sem perspectivas
de futuro”.
Nos atendimentos técnicos, costumam relatar que o uso de substâncias psicoativas se
inicia meses antes do abandono escolar, e nos casos em que permanecem na escola, é muitas
vezes com o intuito de comercializar a substância.
36

Quando o jovem está desocupado, sem estudar, fica mais propenso a se envolver em
atividades não exigentes, como o lazer, o uso de drogas e a convivência com o grupo de
colegas. Assim, diante da desmotivação, das necessidades a serem supridas (por exemplo, uso
de droga em virtude da abstinência, a necessidade de alimentação ou dinheiro) e de estímulos
concorrentes com o estudo (como amizades, passeios, aventuras), o adolescente se vê em um
contexto que é possível engajar-se em uma atividade que não requer tanto esforço quanto o
que teria diante da escola (como o roubo) e que terá um resultado mais imediato, que é a
satisfação de suas necessidades, mesmo que com os estudos haja resultados mais satisfatórios
a longo prazo (como um emprego).
Com as atividades delituosas, o adolescente encontra um meio de suprir suas
necessidades sem precisar de esforço para tal (GALLO E WILLIAMS 2005). Faz-se
necessário, salientar que todos os adolescentes privados de liberdade possuem a
obrigatoriedade da frequência escolar, sendo os atos de indisciplina punidos com Medidas
Disciplinares, decididas por um Conselho coletivo, em que participam representantes de todas
as áreas de formação. Segundo a autora, a partir da compreensão do passado de adolescentes
em conflito com a lei, podem-se entender as fragilidades e dificuldades em construir um
projeto de futuro. Esta dificuldade em elaborar um plano de vida, está relacionada às
vulnerabilidades destes adolescentes (Costa & Assis, 2006). Com este estudo podemos
perceber a relação entre a grande evasão escolar por parte dos adolescentes para o uso de
drogas com seu grupo de pertencimento (PARES) e até mesmo a violência entre gangues
rivais.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo investigou os principais fatores de risco que levam os adolescentes a


prática infracional. Os fatores identificados: família, drogadição, influência dos pares e a
evasão escolar, estão em acordo com a literatura sobre o tema. Podemos observar que estes
fatores atingem o desenvolvimento social, físico e intelectual dos adolescentes.
37

De modo geral, pode-se dizer que esta produção é rica e abrangente no sentido de
possivelmente, compreender os diferentes fatores que justificam a resposta adolescente pelo
cometimento do ato infracional, este conhecimento se torna fundamental para o
enfrentamento do problema. As conclusões dos estudos analisados neste trabalho descrevem
tanto propostas de novas pesquisas quanto de reflexões que possam possibilitar a construção
de programas baseados em achados científicos. Observa-se que vários trabalhos indicam a
necessidade de implementação de programas sociais que visam ao fortalecimento das redes de
apoio (DELL’AGLIO et al., 2005), capazes de identificar fatores de risco e implementar
estratégias preventivas às situações de violência e de vulnerabilidade da criança, do
adolescente e da família (DELL’AGLIO; SANTOS; BORGES, 2004; LARANJEIRA, 2007).
Felizmente, este estudo demonstra que possuímos um conhecimento para a construção
de propostas para o enfrentamento do ato infracional, pois nosso levantamento identificou
vários fatores que contribuem para a compreensão da problemática do adolescente autor de
ato infracional. Diante disto, podemos criar mecanismos de ligações fortes com os pais,
características parentais positivas, suporte familiar e social, crenças nas normas e valores e
comprometimento com a escola.
A solução para os casos de adolescentes em conflito com a lei e, por consequência, a
melhoria de políticas pública que garantem o acesso aos direitos sociais que poderão combater
as condições de vulnerabilidade identificadas nas trajetórias de vida (familiar e comunitária)
desses adolescentes, bem como no engajamento de todos os atores sociais na fiscalização e
cobrança do cumprimento de uma política de referência e cuidado para com a infância e a
juventude, baseada numa doutrina de proteção integral de crianças e adolescentes, garantindo-
se a efetivação dos direitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Faz-se necessário ressaltar algumas dificuldades que tivemos ao desenvolver esta
pesquisa, podemos perceber que quando se refere ao adolescente em conflito com a lei, um
segmento populacional extremamente estigmatizado e rotulado pela sociedade, há uma grande
dificuldade da sociedade, ao receber este adolescente novamente. O estudo foi difícil de ser
desenvolvido no sentido da superação das rotulações com as quais os adolescentes são
identificados, pois as rotulações vêm da própria unidade na qual os adolescentes autores de
atos infracionais estão internados para o cumprimento da medida sócioeducativa.
38

O caminho do trabalho com estes adolescentes é árduo e muitas vezes frustrante, pois
o resultado se apresenta de forma muito lenta e inúmeras vezes esbarra na impotência diante
de uma realidade maior que foge da competência profissional e mesmo institucional. No
entanto, nosso trabalho enquanto psicólogos junto aos adolescentes pode se volta à busca pela
reinserção social, de modo que o profissional desenvolva práticas que privilegiem a
convivência e a dimensão coletiva. Entende-se que a Psicologia é chamada a construir
atuações éticas e de excelência com adolescentes em conflito com a lei, de modo que o
compromisso social da profissão se materialize em práticas democráticas. Não podemos
desistir diante dos desafios que se apresentam, mas nos tornar multiplicadores de ideias e
atitudes na busca por mudanças.

7- REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
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ANEXO A

ROTEIRO PARA ENTREVISTA


I) Identificação:

-Idade (Idade que você tinha quando ocorreu o conflito):


-Sexo:
43

-Escolaridade:
-Com que mora
-Quantas pessoas têm na casa:
-Cidade:
-Quem trabalha na casa/ Renda familiar:

II) Sobre as medidas socioeducativas:

-Qual o ato infracional cometido?


-Em que local esta cumprindo o medido sócio educativo?
-Qual a medida sócio educativo que esta cumprindo?
-Se já cumpriu alguma medida antes ou é a primeira?
-Quando terminar as medidas socioeducativas quais são seus planos para o futuro?
-Relação com a medida socioeducativa e o que pensa sobre o ato infracional cometido.

III) Sobre os conflitos com a lei:

- Conte-me como foi a o ato infracional?


- O que levou a cometer o ato infracional, por causa de que? o que o levou a cometer este ato?

IV) Possíveis fatores determinantes:

- Fale da sua família. (História)


- Você passou necessidade quando criança, o que aconteceu de ruim na infância?
- Com que idade você começou a mexer com o trafico, qual a primeira vez que traficou?
- Se já usou droga? Se já que idade tinha?
- Se vive do comercio da droga?
- Fale da sua escola.
-Gostava de ir à escola?
- Como é seu relacionamento familiar?
-Tem pai? Tem mãe? Irmãos, quantos?
- Como é o relacionamento com os pais?
- Como se sentiu no momento em que estava cometendo o ato infracional (trafico de drogas)
- O que faz durante o dia?
- Essa é a vida que você escolheu para sempre?
44

ANEXO B - TCLE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Eu, ______________________________________________________________, estou
sendo convidada a participar de um estudo denominado “Adolescentes em conflito com a lei e
os fatores de riscos para ás práticas do ato infracional”, cujo objetivo é compreender os
fatores de risco que induzem os adolescentes á prática do ato infracional. A pesquisa está sob
responsabilidade da professora Drª. Lêda Gonçalves de Freitas (ledag@ucb.br) e da
pesquisadora Jaqueline Nascimento de Jesus (jaqueline.nascimentodejesus9@gmail.com)
3.A minha participação no referido estudo consiste na realização de uma entrevista que terá
o áudio gravado para uso exclusivo da pesquisadora. O tempo estimado de duração da
entrevista é de 1 horas ou quatro sessões.
4.Fui alertado (a) de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, por
exemplo, no que diz respeito ao campo social, o estudo trará reflexões para uma melhor
compreensão da questão, não deixando de salientar que estas contribuições tratam de um novo
olhar sobre os fatores econômicos, sociais e culturais, sendo assim, poderemos romper
diversos paradigmas e compreender melhor a realidade do adolescente no qual ele vive.
5.Recebi, por outro lado, os esclarecimentos necessários sobre os possíveis desconfortos
e riscos decorrentes do estudo, que são alterações das minhas emoções ou algum
estresse emocional que possam ser gerados ao falar de minhas vivências e experiências
pessoais.
6.Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
outra informação que possa me identificar será mantido em sigilo. Também fui informado
(a) de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu consentimento a
qualquer momento, sem precisar justificar e não sofrerei qualquer prejuízo por conta
disso.
7. É garantido a mim o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre
o estudo e suas consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da
minha participação. Estou ciente de que este estudo será apresentado publicamente e
poderá ser publicado ainda como artigo científico.
8.Esta entrevista foi autorizada pela juíza Titular da Vara de Execuções de Medidas
Socioeducativas do Distrito Federal. Qualquer dúvida ou reclamação em relação a este termo
ou aos direitos dos sujeitos de pesquisa devo ligar o telefone (61) 3356-9784.
9.Enfim, tendo sido orientada quanto ao teor de tudo que aqui foi mencionado e tendo
compreendido a natureza e o objetivo do referido estudo, manifesto meu livre consentimento
em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor econômico, a receber ou
a pagar, por minha participação
10.Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a
outra com a voluntária da pesquisa.
Brasília, _____ de _________2016.

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