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BRASÍLIA
2016
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BRASÍLIA 2016
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____________________________________________________
Profª. DrªLêda Gonçalves de Freitas -UCB
Doutora em Psicologia- UNB
_______________________________________________
Prof.ª Msc. Ana Cristina Alencar Bezerra de Oliveira- UCB
Mestre em Ciências Políticas
Brasília
2016
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me conduzir por este caminho e até aqui ter me
ajudado.
Aos meus pais, irmão e marido por terem acreditado em mim e por sempre me
incentivarem a buscar meus sonhos. Com seu apoio cuidando dos meus filhos para que esse
sonho se tornasse realidade
A esta Universidade, seu corpo docente, direção e administração pela construção que
irá me direcionar a um horizonte superior.
Aos amigos e a todos que de algum modo fazem parte da minha formação. Às minhas
amigas, Karollyne Medeiros e Verônica Pacheco que quase deixei doidas comigo, colegas de
graduação que seguiram algumas caminhadas, sempre se fizeram presentes em minha vida por
palavras de encorajamento através de sua experiência e vivência pessoal e acadêmica.
A minha orientadora Lêda Gonçalves de Freitas, que me acompanhou, transmitindo-
me tranquilidade. Quero expressar o meu reconhecimento e admiração pela sua competência
profissional e pela forma humana que conduziu minha orientação.
À Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira, por participar da minha banca
examinadora e pela leitura do meu trabalho, sempre, com sua suavidade e ternura. Agradeço
pela disponibilidade.
E a todos os meus professores que sempre admirei e os vi como verdadeiros mestres.
O meu muito obrigado a todos e a todas que acreditaram em mim e que de alguma
forma contribuíram para que o meu sonho se tornasse realidade!
5
Karl Marx
6
RESUMO
ABSTRACT
Jesus, JN J. Adolescents in conflict with the law and the risk factors for the practice of an
infraction. 2016. Psychology, Catholic University of Brasilia, 2016.
This study aims to investigate the risk factors that lead teenagers to practice the offense. He
sought to understand the adolescent in conflict with the law from the perspective of the risks
involving the physical, social and emotional processes of development in order to understand
the profile of adolescents who commit offenses and the risk factors more prevalent. The study
is theoretical, the teenager, the offense and the risk factors, as they are key elements to
understand, these adolescents, and the place they occupy in the social context. Participated in
this research four teenagers in fulfillment of socio-educational measures. semi-structured
individual interviews were conducted. The results were organized into three categories, which
were systematized based on content analysis proposed by Bardin (2004). The first category
Adolescent and family life reveals that teenagers have a good relationship with their families,
but this way of living, some had losses of its members and moved in with relatives and
siblings. They describe a lot about the strong emotional bond with her mother, bringing the
protective matter that it held about them. But the relationship with his father, emerges on the
emotional absence, the same, the question they knew, but not living with the father figure. In
the second category Teen and drug use, the relationship between drug use, teens brought the
involvement associated with the circle of friends, they said that in the city where they live has
many friends who are crime and using drugs, this He caused them to experience. In a way the
drug appeared due to a matter of curiosity. Teenagers attribute the commission of an offense
to this factor. In the third Teenagers and school, adolescents reported that they stopped
studying due to the use of drugs, the fact that want to use it at the time of the lessons. Another
issue was the fear of dying because of gang wars, reported they are studying within the unit.
Teens prone to drug use tend to select fellow users with features similar to your personality.
Therefore, it is noted that the risk factors that had the most relevance to the offenses were
drug use and relationship between peers, because teenagers attribute the commission of an
offense to them.
Sumário
9
1- INTRODUÇÃO......................................................................................................................9
2-OBJETIVOS..........................................................................................................................10
2.1-OBJETIVO GERAL.......................................................................................................10
2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................10
3- REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................................11
3.1- ADOLESCÊNCIA........................................................................................................11
3.2 - ATOS INFRACIONAIS..............................................................................................12
3.3- FATORES DE RISCOS................................................................................................15
I.I FAMÍLIA.....................................................................................................................16
I-II USO DE DROGAS....................................................................................................17
I-III PROBLEMAS ESCOLARES...................................................................................18
I- IV EXCLUSÃO SOCIAL.............................................................................................19
4-METODOLOGIA..................................................................................................................20
4.1 – PARTICIPANTES:......................................................................................................20
4.2- INSTRUMENTOS:.......................................................................................................21
4.3- PROCEDIMENTO COLETADO DE DADOS:.......................................................21
4.4- ANÁLISE DE DADOS:............................................................................................21
5- RESULTADO E DISCUSSÃO............................................................................................22
5- I.I PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO:.............................................................................22
5.1.1 “ADOLESCENTES E A CONVIVÊNCIA FAMILIAR”...........................................23
5.1.2 DESCRIÇÃO.........................................................................................................23
5.1.3 DISCUSSÃO...........................................................................................................25
5.3 “ADOLESCENTES E O USO DE DROGAS”..............................................................27
5.3.1 DESCRIÇÃO:........................................................................................................27
5.3.2 DISCUSSÃO...........................................................................................................29
5.4 “ADOLESCENTES E A ESCOLA”..............................................................................31
5.4.1 DESCRIÇÃO:........................................................................................................31
5.4.2 DISCUSSÃO...........................................................................................................32
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................34
7- REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO...................................................................................36
ANEXO A.................................................................................................................................40
ROTEIRO PARA ENTREVISTA........................................................................................40
ANEXO B - TCLE...................................................................................................................41
10
1- INTRODUÇÃO
2-OBJETIVOS
2.1-OBJETIVO GERAL
3- REFERENCIAL TEÓRICO
3.1- ADOLESCÊNCIA
I.I FAMÍLIA
18
A família muitas vezes aparece como um fator de risco na vida dos adolescentes em
conflito com a lei. Segundo Celion (2003) evidencia estes adolescentes e suas famílias
geralmente vivenciam uma situação de desestruturação social. Diante disto alguns autores
mencionam que em função desta desestruturação, algumas famílias acabam perdendo sua
função de oferecer proteção, suporte afetivo e regulação social. (CELION et al., 2003;
DOOLEY et al., 1981).
A pesquisa preconiza, segundo Straus (1994), que os adolescentes com vínculos pouco
efetivos com a família têm maior probabilidade de se envolver em infrações do que aqueles
com relações familiares estreitas. Estudos mostram que a disciplina pouco consistente e
ineficiente imposta pelos pais está associada a prática infracional (SILVA, 2000). Os pais de
filhos em conflito com a lei têm maior probabilidade de exercer uma supervisão infundada,
uma disciplina incoerente e inadequada e menor probabilidade de saber onde seus filhos estão
ou com quem eles estão (STRAUS et al., 1994; GOMIDE et al., 2003). Pais que cometem
algum tipo de crime ou contravenção, com o consumo excessivo de álcool e drogas, pais que
maltratam seus filhos ou praticam violência física, psicológica e sexual com os mesmos e/ou
apresentam psicopatologia severa, podem comprometer suas funções parentais no controle, na
disciplina e no envolvimento com os filhos. Os adolescentes internados relataram índices
excessivamente altos de violência física, de abandono, de negligência e punições severas
aplicadas pelos pais (LOEBER; et al 1998; STRAUS et al., 1994).
Uma pesquisa realizada com 41 famílias, de adolescentes em conflito com a lei
revelou altos índices de negligência e abuso físico, demonstrando um ambiente hostil no qual
estes jovens vivem (CARVALHO E GOMIDE, 2005). A vivência desses adolescentes, sobre
condições de violência no âmbito familiar desencadeiam grandes prejuízos ao
desenvolvimento de curto e longo prazo. Devido a isto apresentam uma maior vulnerabilidade
aos maus- tratos, com repercussão na saúde, seja física ou mental (ASSIS, 2006).
O uso de drogas faz com que muitos adolescentes, independente de sua classe social,
cometam o ato infracional como uma forma de sustentar o vício, porém o consumo de drogas
por adolescentes em conflito com a lei, não está somente ligado à causa do ato infracional,
envolve também outros aspectos, no entanto é preciso compreender toda a problemática que é
o uso de entorpecentes.
19
O consumo de drogas por adolescentes é uma realidade em todo mundo, que tem se
ampliado em todas as sociedades, pois é na adolescência que o uso de entorpecentes pode
causar danos por toda sua vida. O uso de drogas por adolescentes se constitui em um
problema psicossocial, problemática que não está inserida apenas em nossa atualidade e sim
vem sendo discutida há algum tempo, sendo necessário refletir sobre esse problema,
objetivando soluções.
I- IV EXCLUSÃO SOCIAL
Os atos de violência contra a sociedade podem ser representados como uma resposta
aos medos e sentimentos de ódio provocados pela não inserção e reconhecimento social. A
desfiliação comunitária, gerada pela situação de vulnerabilidade e a identidade estigmatizada
no decorrer de suas histórias de vida, implicam a real possibilidade de serem seduzidos e
capturados pelo crime organizado (LOUSADA, 2010).
Segundo Catro e Guareschi (2007) apontam, a necessidade de pertença social e o
desejo de alcançar valores e bens materiais pela sociedade de consumo mostram-se mais
eficientes do que a simples imposição de padrões morais de direitos e respeito aos outros. A
prática de infrações e as ações violentas cometidas, podem muitas vezes ser justificadas, no
sentido de que ganhos financeiros e materiais implicam sensação ilusória de importância e
reconhecimento social.
Volpi (2001) salienta que adolescentes em conflito com a lei são meras vítimas de um
sistema social, ou “produto do meio”, e o delito é uma estratégia de sobrevivência ou uma
resposta mecânica a uma sociedade violenta e infratora em relação aos seus direitos. O mesmo
autor afirma que a responsabilização do meio social em relação aos adolescentes, submete a
responsabilidade exclusiva e definitiva pelos atos infracionais cometidos (VOLPI, 2001).
Assim considera-se problemática uma das particularidades da questão social na área
da infância e da juventude, definida por Iamamoto (1998) como o conjunto das expressões das
desigualdades da sociedade capitalista. Para a autora: a questão social expressa, portanto,
desigualdades econômicas, politicas, culturais das classes sociais, mediadas por disparidades
nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em
causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização (IAMAMOTO
2002, p.26).
4-METODOLOGIA
Sendo assim, os dados que advêm das pesquisas qualitativas, precisam ser analisado,
de forma diferente dos dados provenientes de estudos de uma abordagem quantitativa, que se
vale de software, teste de hipóteses, estatísticas descritivas e multivariada. Desse modo,
optou-se pela analise de conteúdo que tem sido difundida e empregada, a fim de analisar os
dados qualitativos. Diante disto, a análise de conteúdo é uma técnica de análise das
comunicações, que irá analisar o que foi dito nas entrevistas ou observado pelo pesquisador.
Na análise do material, buscou-se classificá-los em temas ou categorias que nos auxiliariam
na compreensão do que está por trás dos discursos. O caminho percorrido pela análise de
conteúdo, ao longo dos anos, perpassa diversas fontes de dados, como: notícias de jornais,
discursos políticos, cartas, anúncios publicitários, relatórios oficiais, entrevistas, vídeos,
filmes, fotografias, revistas, relatos autobiográficos, entre outros. O método quantitativo
baseia-se em quantidades de referencias e na frequência das ocorrências.
4.1 – PARTICIPANTES:
4.2- INSTRUMENTOS:
Foi realizado contato com a Juíza das Varas de Medidas Socioeducativas do Distrito
Federal, para a visita e realização da pesquisa na Unidade, explicando-lhe o objetivo da
pesquisa e a importância do presente estudo. A juíza da Vara nos encaminhou a autorização
para a entrada na unidade, foram necessárias duas visitas a unidade, os encontros para a coleta
foram de meia hora e individuais. Deu-se início a investigação com a obtenção do
consentimento livre esclarecido em (Apêndice B). A entrevista ocorreu na sala de
atendimento do psicólogo da unidade, ao e informamos aos participantes que era
completamente sigilosa as informações e que sua identificação não seria revelada, que os
participantes poderiam desistir da pesquisa a qualquer momento senão se sentissem a vontade.
Logo apos serem gravadas, posteriormente foram transcritas.
5- RESULTADO E DISCUSSÃO
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Muitos são os motivos que levam os adolescentes a cometerem o ato infracional, como
o convívio familiar, pobreza, influência dos amigos, a guerra entre adolescentes, o abandono à
escola e o uso de drogas, abordaremos neste tópico as transcrições das categorias extraídas, a
partir da análise das entrevistas. Primeiramente serão descritas as categorias, as quais serão
exemplificadas com as verbalizações dos entrevistados. Feita a descrição da categoria, em
seguida apresentar-se-á a discussão.
5.1.2 DESCRIÇÃO
A maioria dos adolescentes afirma que tem uma boa convivência com seus familiares
pais e irmãos. Eles relatam que uma boa vivência dentro de casa, portanto os relacionamentos
são positivos.
Os adolescentes destacam que amam a mãe e que a relação é bem tranquila. Constatam
que as mães trabalham demais enquanto eles ficavam aprontando.
Mesmo afirmando que a relação com os pais era boa, quanto ao Pai, há indicações de
pouca convivência e de nunca ter conhecido esta figura. Apenas um adolescente afirmou que
conhece o pai. Ademais, um adolescente informou que conheceu o pai, mas que já estava
morto. Portanto, somente um dos adolescentes conhecia e os outros três adolescentes
entrevistados não tem a referência paterna.
Dos quatro adolescentes entrevistados dois já não tem mais a mãe. Um afirma que,
quando perdeu a mãe foi morar na rua, pois não tinha ninguém para protegê-lo. Os demais
adolescentes moravam com a mãe e irmãos antes de cometer o ato infracional.
5.1.3 DISCUSSÃO
Ao que se tratar do desempenho dos pais podemos abordar que muitos pais trabalham
o dia todo, não conseguindo tempo suficiente para supervisionar seus filhos, alguns criam
seus filhos sozinhos, sem o auxilio de um dos genitores, há casos em que a mãe desempodera
a figura do pai e na condição de “mãezona”, acabam exercendo as duas funções e
prejudicando sua função.
Segundo Pereira (2008), os adolescentes descrevem o vínculo com a mãe muito forte,
além disto, apontam a questão protetiva na relação entre eles, revelando e valorizando como o
vínculo mais forte apresentado em sua rede social.
A ausência afetiva do pai de acordo com Pereira (2008), emerge com um sentimento
de frustração pela falta de atenção, em síntese a função paterna fica comprometida fazendo
com que os adolescentes procurem “fora” a autoridade que não encontra “dentro” de casa. O
ato infracional, surge como uma busca pelo pai ausente, da autoridade, de uma lei que seja
capaz de colocar limites, que proíbe o adolescente de agir, mais que favoreça em
contrapartida, algum tipo de aproximação pai e filho (PERREIRA, BULLACIO, OMER et al
2002).
Gomide reafirma que:
5.3.1 DESCRIÇÃO:
29
Os adolescentes relatam que nas cidades onde moravam havia muita gente do crime,
os mesmo dizem que se envolveram com as drogas por conta das amizades com os “muleques
da quebrada”. Um dos adolescentes aponta que a mãe também tinha contato com os
traficantes da cidade onde moravam. Os adolescentes tem reconhecimento de culpa ao usar se
envolver com os amigos do crime, os mesmo sinalizam relatando que foi culpa deles o
envolvimento com a má influência.
Alguns deles falam que a droga apareceu como uma questão de curiosidade. Os
adolescentes atribuem o cometimento da prática infracional, ao uso da droga, pois dizem que
estavam “doidão” na hora de cometer a infração.
“Po depois que perdi minha mãe, não quis ligar pra
nada não”.
“Eu não lembro como foi, porque estava drogado”. “
Estava usando droga! Ah! Nem sei… Estava doidão!“ Quando
cometi o crime, usava rupinol, estava muito doidão”…” Já
havia experimentado, mais depois que minha mãe morreu,
passei a usar mais, em 2013”. Adolescente 02
Todos os adolescentes sinalizam a questão o uso das drogas e contam quais foram as
drogas que usaram ao cometer o ato infracional.
31
Um dos adolescentes fala sobre o prazer que a droga traz “Ah, a droga faz a gente
esquecer dos problemas que acontece dentro de casa”.
“Na hora que o cara esta usando , acha uma sensação boa.”
“Ai! O cara quer estar naquela sensação toda hora” Ah!
Esquecer de tudo. Dos problemas… “Usava para esquecer os
problemas da minha família”“ Mais por causa da minha mãe.”
“ Para esquecer a morte dela”. Adolescente 02
5.3.2 DISCUSSÃO
Nesta categoria foi investigado como os adolescentes, tiveram seu primeiro contato
com as drogas por meio da amizade, os mesmos atribuem as causas do cometimento da
prática infracional ao uso das drogas. O uso de drogas é um fator de risco, geralmente
associado à convivência no grupo de pares. Adolescentes que cometem ato infracional
tendem a procurar amigos do próprio meio infracional.
32
A relação com a drogadição e o ato infracional passa a ser uma nova representação
para eles: usam a droga para cometerem o ato infracional, a mesma aparece como funcional
para a prática infracional. Além disto, a droga pode representar uma justificativa ao ato
infracional. Os adolescentes relatam terem feito o uso de droga ao praticar o ato infracional,
Pereira e Sudback (2008), abordam como uma questão de justificativa dos atos, pois na
verdade o ato infracional teria sido praticado de qualquer forma, estando ou não sobre o efeito
da droga, todavia, os adolescentes denunciam então um mito de que a droga é o grande
responsável pela violência, passando a ser apenas uma forma do adolescente se defender
perante a justiça, perante a família, perante o olhar do outro, eximindo-se das
responsabilidades de seus atos. Os adolescentes apresentam uma estreita relação entre o
contexto do uso de drogas e as práticas infracionais. (PEREIRA E SUDBACK, 2008 P. 156)
Percebe-se que a droga possui sua relação com o ato infracional, facilitando-o, neste
estudo podemos perceber os relatos da prática do ato infracional atribuída a droga Porém, há
mais fatores que também influenciam nessa questão. A fase da adolescência é debilitada de
impulsos e imaturidades, resultando em fragilidades (enfraquecimento dos laços afetivos, falta
de proteção, vulnerabilidade, etc.) que podem ser influenciadas por qualquer um desses
fatores ditos.
5.4.1 DESCRIÇÃO:
Todos os adolescentes relataram que pararam de estudar devido o uso de drogas, pelo
fato de querer usá-la no momento das aulas. Outra questão foi o medo de morrer por causa
das guerras entre gangues. Outros relataram que pararam os estudos por conta da vida que
estavam levando na rua. Um dos adolescentes relata que a mãe cansou de ser chamada
atenção na escola pelo comportamento dele, portanto a mesma o deixou de lado no que se
refere aos estudos, outros relatam que pulavam os muros da escola para poder ir para a rua
usar drogas.
34
Os adolescentes relatam que ao chegar à unidade tiveram que estudar, alguns falam
que se desenvolve bem na unidade, somente um adolescente não esta estudando e não quis
falar sobre esta questão.
5.4.2 DISCUSSÃO
35
A importância do fracasso escolar na vida dos infratores, deve ser vista sob diversos
ângulos. Os jovens com tais problemas familiares tendem a ir mal na escola; o mau
desempenho estimula a ampliação do grupo de amigos, em muitos casos, ligados ao
mundo infracional, e também contribui para o sentimento de fracasso na vida e para
a baixa autoestima, importantes fatores associados à delinquência (2001, p. 75).
Este aspecto também é comentado por Pereira e Sudbrack (2008), que constatam em
muitos adolescentes, “um forte sentimento de insegurança e de não pertencimento à
instituição escolar, em que se sentem fracassados, com baixa autoestima e sem perspectivas
de futuro”.
Nos atendimentos técnicos, costumam relatar que o uso de substâncias psicoativas se
inicia meses antes do abandono escolar, e nos casos em que permanecem na escola, é muitas
vezes com o intuito de comercializar a substância.
36
Quando o jovem está desocupado, sem estudar, fica mais propenso a se envolver em
atividades não exigentes, como o lazer, o uso de drogas e a convivência com o grupo de
colegas. Assim, diante da desmotivação, das necessidades a serem supridas (por exemplo, uso
de droga em virtude da abstinência, a necessidade de alimentação ou dinheiro) e de estímulos
concorrentes com o estudo (como amizades, passeios, aventuras), o adolescente se vê em um
contexto que é possível engajar-se em uma atividade que não requer tanto esforço quanto o
que teria diante da escola (como o roubo) e que terá um resultado mais imediato, que é a
satisfação de suas necessidades, mesmo que com os estudos haja resultados mais satisfatórios
a longo prazo (como um emprego).
Com as atividades delituosas, o adolescente encontra um meio de suprir suas
necessidades sem precisar de esforço para tal (GALLO E WILLIAMS 2005). Faz-se
necessário, salientar que todos os adolescentes privados de liberdade possuem a
obrigatoriedade da frequência escolar, sendo os atos de indisciplina punidos com Medidas
Disciplinares, decididas por um Conselho coletivo, em que participam representantes de todas
as áreas de formação. Segundo a autora, a partir da compreensão do passado de adolescentes
em conflito com a lei, podem-se entender as fragilidades e dificuldades em construir um
projeto de futuro. Esta dificuldade em elaborar um plano de vida, está relacionada às
vulnerabilidades destes adolescentes (Costa & Assis, 2006). Com este estudo podemos
perceber a relação entre a grande evasão escolar por parte dos adolescentes para o uso de
drogas com seu grupo de pertencimento (PARES) e até mesmo a violência entre gangues
rivais.
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
De modo geral, pode-se dizer que esta produção é rica e abrangente no sentido de
possivelmente, compreender os diferentes fatores que justificam a resposta adolescente pelo
cometimento do ato infracional, este conhecimento se torna fundamental para o
enfrentamento do problema. As conclusões dos estudos analisados neste trabalho descrevem
tanto propostas de novas pesquisas quanto de reflexões que possam possibilitar a construção
de programas baseados em achados científicos. Observa-se que vários trabalhos indicam a
necessidade de implementação de programas sociais que visam ao fortalecimento das redes de
apoio (DELL’AGLIO et al., 2005), capazes de identificar fatores de risco e implementar
estratégias preventivas às situações de violência e de vulnerabilidade da criança, do
adolescente e da família (DELL’AGLIO; SANTOS; BORGES, 2004; LARANJEIRA, 2007).
Felizmente, este estudo demonstra que possuímos um conhecimento para a construção
de propostas para o enfrentamento do ato infracional, pois nosso levantamento identificou
vários fatores que contribuem para a compreensão da problemática do adolescente autor de
ato infracional. Diante disto, podemos criar mecanismos de ligações fortes com os pais,
características parentais positivas, suporte familiar e social, crenças nas normas e valores e
comprometimento com a escola.
A solução para os casos de adolescentes em conflito com a lei e, por consequência, a
melhoria de políticas pública que garantem o acesso aos direitos sociais que poderão combater
as condições de vulnerabilidade identificadas nas trajetórias de vida (familiar e comunitária)
desses adolescentes, bem como no engajamento de todos os atores sociais na fiscalização e
cobrança do cumprimento de uma política de referência e cuidado para com a infância e a
juventude, baseada numa doutrina de proteção integral de crianças e adolescentes, garantindo-
se a efetivação dos direitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Faz-se necessário ressaltar algumas dificuldades que tivemos ao desenvolver esta
pesquisa, podemos perceber que quando se refere ao adolescente em conflito com a lei, um
segmento populacional extremamente estigmatizado e rotulado pela sociedade, há uma grande
dificuldade da sociedade, ao receber este adolescente novamente. O estudo foi difícil de ser
desenvolvido no sentido da superação das rotulações com as quais os adolescentes são
identificados, pois as rotulações vêm da própria unidade na qual os adolescentes autores de
atos infracionais estão internados para o cumprimento da medida sócioeducativa.
38
O caminho do trabalho com estes adolescentes é árduo e muitas vezes frustrante, pois
o resultado se apresenta de forma muito lenta e inúmeras vezes esbarra na impotência diante
de uma realidade maior que foge da competência profissional e mesmo institucional. No
entanto, nosso trabalho enquanto psicólogos junto aos adolescentes pode se volta à busca pela
reinserção social, de modo que o profissional desenvolva práticas que privilegiem a
convivência e a dimensão coletiva. Entende-se que a Psicologia é chamada a construir
atuações éticas e de excelência com adolescentes em conflito com a lei, de modo que o
compromisso social da profissão se materialize em práticas democráticas. Não podemos
desistir diante dos desafios que se apresentam, mas nos tornar multiplicadores de ideias e
atitudes na busca por mudanças.
7- REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
39
ASSIS, S. G., Pesce, R. P., & Avanci, J. Q. (2006). Resiliência: Enfatizando a proteção dos
adolescentes. Porto Alegre: Artmed.
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charge. Bulletin de Psychologie, 52(3), 321-328. Bucher, R. (1992). Drogas e drogadição no
Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas
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(coord)- Brasília: Ministério da Saúde.
ERIKSON, Erik Homburger. Identidade, juventude e crise. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1976
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Hoje: Indivíduo, Família E Sociedade. Porto Alegre: Artes Médicas
OSÓRIO, Luiz Carlos. Adolescente Hoje. Porto alegre: Artes Médicas, 1989.
SLUZKI, C. E. (1997). A Rede Social Na Prática Sistêmica. São Paulo: Casa Do Psicólogo
STRAUS, M. B. Violência na vida dos adolescentes. São Paulo: Best Seller. 1994
VOLPI, M. (org.) (1999). O Adolescente E O Ato Infracional. São Paulo: Cortez Editora
ANEXO A
-Escolaridade:
-Com que mora
-Quantas pessoas têm na casa:
-Cidade:
-Quem trabalha na casa/ Renda familiar:
ANEXO B - TCLE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Eu, ______________________________________________________________, estou
sendo convidada a participar de um estudo denominado “Adolescentes em conflito com a lei e
os fatores de riscos para ás práticas do ato infracional”, cujo objetivo é compreender os
fatores de risco que induzem os adolescentes á prática do ato infracional. A pesquisa está sob
responsabilidade da professora Drª. Lêda Gonçalves de Freitas (ledag@ucb.br) e da
pesquisadora Jaqueline Nascimento de Jesus (jaqueline.nascimentodejesus9@gmail.com)
3.A minha participação no referido estudo consiste na realização de uma entrevista que terá
o áudio gravado para uso exclusivo da pesquisadora. O tempo estimado de duração da
entrevista é de 1 horas ou quatro sessões.
4.Fui alertado (a) de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, por
exemplo, no que diz respeito ao campo social, o estudo trará reflexões para uma melhor
compreensão da questão, não deixando de salientar que estas contribuições tratam de um novo
olhar sobre os fatores econômicos, sociais e culturais, sendo assim, poderemos romper
diversos paradigmas e compreender melhor a realidade do adolescente no qual ele vive.
5.Recebi, por outro lado, os esclarecimentos necessários sobre os possíveis desconfortos
e riscos decorrentes do estudo, que são alterações das minhas emoções ou algum
estresse emocional que possam ser gerados ao falar de minhas vivências e experiências
pessoais.
6.Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
outra informação que possa me identificar será mantido em sigilo. Também fui informado
(a) de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu consentimento a
qualquer momento, sem precisar justificar e não sofrerei qualquer prejuízo por conta
disso.
7. É garantido a mim o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre
o estudo e suas consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da
minha participação. Estou ciente de que este estudo será apresentado publicamente e
poderá ser publicado ainda como artigo científico.
8.Esta entrevista foi autorizada pela juíza Titular da Vara de Execuções de Medidas
Socioeducativas do Distrito Federal. Qualquer dúvida ou reclamação em relação a este termo
ou aos direitos dos sujeitos de pesquisa devo ligar o telefone (61) 3356-9784.
9.Enfim, tendo sido orientada quanto ao teor de tudo que aqui foi mencionado e tendo
compreendido a natureza e o objetivo do referido estudo, manifesto meu livre consentimento
em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor econômico, a receber ou
a pagar, por minha participação
10.Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a
outra com a voluntária da pesquisa.
Brasília, _____ de _________2016.